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ESCOLA ESTADUAL JOSÉ MODESTO ÁVILA – ENSINO MÉDIO

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Trabalho: cenário atual, avanços e retrocessos


A partir dos anos 1990, pode-se observar uma série de mudanças nos países industrializados, que
levaram a uma nova configuração do mercado de trabalho: o processo de liberalização da economia (que
ampliou o domínio do setor privado em segmentos antes controlados pelo Estado, como serviços de
telefonia e de transportes); o incremento da tecnologia (como a robótica); e a renovação das relações de
trabalho (novas relações de trabalho, como a terceirização e o trabalho temporário).
A liberalização econômica e o incremento tecnológico ocasionaram o fenômeno conhecido como
desemprego estrutural. Essa modalidade de desemprego é resultado de profundas transformações na
estrutura do mercado laboral, que o impedem de absorver a mão de obra disponível por longos períodos,
fato que o diferencia do desemprego conjuntural, provocado por fases pontuais de recessão do ciclo
econômico. Assim, tanto os trabalhadores qualificados (que perderam funções na indústria) quanto os mais
jovens – por ainda não terem qualificação – são atingidos por esse fenômeno.
Nesse sentido, o crescimento do trabalho em tempo parcial, intermitente, subcontratado, terceirizado
e vinculado à economia informal, mesmo nos países industrializados ricos, parece confirmar a tese de que
o trabalho está sofrendo uma degradação ou precarização.

Precariado: nova classe ou velho proletariado?


O que se observa é a contínua degradação das condições de trabalho em todas as regiões do globo.
O mundo do trabalho passa a ser flexível, e as condições de trabalho se reorganizam sob o signo da
precariedade. Mesmo nos setores mais modernos de produção, nota-se que a cadeia produtiva global pode
conter, ao mesmo tempo, trabalhos altamente remunerados, trabalhos precariamente protegidos por leis e
trabalhos em situação análoga à escravidão.
Com esse cenário, alguns estudiosos têm observado que a precariedade não é apenas uma nova
condição do trabalho para todos os trabalhadores. Com a globalização, reorganiza-se a estrutura de classes
em âmbito global, o que leva ao surgimento de uma nova classe: o precariado. Isso é o que o sociólogo
inglês Guy Standing afirma em sua obra Precariado: a nova classe perigosa. Ele analisa um grupo de pessoas
em trabalhos altamente instáveis e com salários muito baixos, que emergem como uma nova classe social,
diferente do assalariado protegido legalmente e pertencente à classe média.
No Brasil, a ideia de precariado tem ganhado força, principalmente em decorrência dos escritos dos
sociólogos brasileiros Ruy Braga e Giovanni Alves. Eles criticam a visão europeia sobre os trabalhadores
precários, pois entendem que eles formam uma parcela do proletariado, não estando fora das relações
sociais capitalistas assalariadas. Para Ruy Braga, o precariado pode ser descrito como o conjunto de
trabalhadores inseridos no mundo do trabalho capitalista, porém, sem acesso a trabalhos seguros e mais
bem remunerados, dos quais muitos trabalhadores assalariados puderam usufruir durante o Estado de bem-
estar social.
Estratificação e desigualdades sociais
O conceito refere-se, em linhas gerais, à privação de direitos ou de acesso a recursos para uma
pessoa ou um grupo, o que cria distinções entre os indivíduos. Há várias formas de desigualdade:
econômica, de gênero, racial, digital etc. Por isso, nas ciências sociais, fala-se em desigualdades sociais,
no plural. Essas diferentes possibilidades de privação de direitos geralmente não se apresentam isoladas.
Ao contrário, em muitos casos estão relacionadas entre si e se reforçam mutuamente. O combate a uma
desigualdade passa pela reflexão sobre as diversas formas pelas quais ela pode ganhar expressão.
Para estudar as desigualdades sociais, é importante estar atento a três elementos centrais: a
estrutura, a estratificação e a mobilidade social.
A estrutura social é determinada pelo modo como se organizam os aspectos econômico, cultural,
social, político e histórico de uma sociedade. A sociedade brasileira, por exemplo, fundou-se sobre as bases
do trabalho escravo, do patrimonialismo e do patriarcalismo. Esses três elementos estruturais influenciam
o cenário da sociedade brasileira contemporânea e comprometem as possibilidades, por exemplo, de negros,
indígenas e mulheres terem acesso a bens e a direitos, dificultando a ascensão social dessas e de outras
parcelas da população.
O termo estratificação diz respeito ao modo como cada sociedade está dividida. No caso, trata-se
das camadas sociais que se sobrepõem umas às outras. Essa divisão costuma ocorrer de acordo com
diferentes critérios sociais e históricos, que estabelecem uma espécie de hierarquia. Conforme a posição
que um indivíduo ocupa nessa hierarquia, ele terá mais ou menos acesso a direitos e recursos. Além disso,
a posição na qual se encontram os indivíduos determinará seu poder ou sua influência. Assim, a
desigualdade social também é fruto das relações de poder, o que implica dominação e exploração de alguns
grupos por outros.
O terceiro conceito fundamental que possibilita a compreensão da desigualdade é a mobilidade
social, isto é, a possibilidade de um indivíduo mudar de posição na hierarquia social. No passado, houve,
em algumas sociedades, uma estrutura de estratificação excessivamente rígida, que não permitia aos
indivíduos deixar de pertencer a um estrato social ou passar a pertencer a ele. Nos tempos atuais, em quase
todas as sociedades, existe a possibilidade formal ou jurídica de ocorrer mobilidade, mas a ascensão social
não costuma ser fácil, pois as camadas de baixa renda, em boa parte das vezes, enfrentam restrições de
acesso aos diversos tipos de recursos (financeiros, informacionais, políticos, jurídicos etc.), justamente o
que acaba por distingui-las das demais classes.
Quando identificamos esses conceitos na realidade, passamos a reconhecer as causas e a
diagnosticar as consequências das desigualdades sociais. Compreender um problema é fundamental para
superá-lo.

Desigualdade digital
Um olhar atento sobre o mundo atual permite perceber um novo tipo de desigualdade: a digital. A
revolução digital trouxe para o cotidiano a presença impositiva de novas tecnologias. Telefones celulares,
computadores pessoais, internet e redes sociais são algumas das muitas maneiras de utilizar a tecnologia
como ferramenta de estudo e de trabalho e, principalmente, como meio de comunicação.
O acesso ao mundo digital, no entanto, não é igualitário. As diferenças econômicas, geralmente
acompanhadas da desigualdade de escolaridade, fazem com que alguns se tornem consumidores de toda e
qualquer tecnologia disponível, enquanto muitos outros continuam dependendo das iniciativas de governos
ou de organizações não governamentais (ONGs), ou, ainda, de locais que disponibilizem o acesso à internet
mediante pagamento por hora para conseguir utilizar essas tecnologias.
A diferença de escolaridade contribui para a desigualdade digital na medida em que pessoas com
dificuldades de leitura e de escrita podem ter maior dificuldade de se apropriar dos novos recursos
tecnológicos. Ao mesmo tempo, a diferença do acesso digital acaba reforçando outras formas de
desigualdade social, pois o domínio da tecnologia facilita o acesso a bons empregos.

Classes e desigualdades sociais


A estratificação nas sociedades capitalistas está organizada em torno do trabalho assalariado e
estruturada em classes sociais. As classes sociais podem ser entendidas como agrupamentos de pessoas que
ocorrem em razão das desigualdades sociais.
Uma característica do sistema de classes é a existência da mobilidade social, que pode ser de dois
tipos: vertical e horizontal. No primeiro caso, altera-se a classe social, o que pode acontecer de modo
ascendente (de uma classe baixa para outra superior) ou de modo descendente (de uma classe alta para outra
inferior). No outro caso, a mobilidade social opera-se dentro da mesma “camada”, como a provocada por
fatores geracionais ou profissionais. A sociologia costuma privilegiar as abordagens concebidas por Karl
Marx e Max Weber sobre as classes sociais.

Conceito de classe para Marx


Os trabalhos de Karl Marx representam a primeira grande teoria sociológica da estratificação social.
Valendo-se do conceito de classe social, o autor criticou de modo contundente a ideia de igualdade política
e jurídica proclamada pelos liberais, entendidos como aqueles que, orientados por interesses burgueses,
defendem a democracia representativa e o livre mercado. Para Marx, os direitos inalienáveis de liberdade
e justiça – propostos pelos liberais – não resistem às evidências das desigualdades sociais promovidas pelas
relações de produção capitalistas, que dividem os indivíduos em proprietários e não proprietários dos meios
de produção, como vimos anteriormente. Essas duas classes têm interesses em constante conflito.
Por exemplo, durante uma greve, os trabalhadores lutam por melhores condições de trabalho e de
remuneração, enquanto os patrões têm interesse em atingir o maior lucro possível, o que só pode ser obtido
com a extensão da jornada de trabalho ou com a substituição de trabalhadores por máquinas que produzem
mais em menos tempo. E o atendimento das reivindicações dos trabalhadores pode levar à diminuição do
lucro dos patrões. Essa situação demonstra a oposição entre os interesses de classe.

Conceito de classe para Weber


Max Weber afirmou que a estratificação social decorre das diferentes maneiras de distribuição de
poder em uma sociedade. Para ele, a estratificação decorrente dessa diferença de poder acontece de acordo
com pelo menos três dimensões: econômica, política e social. Portanto, a estratificação da ordem social
organiza-se em termos de distribuição de poder político e de prestígio. Por isso, além da classe, a divisão
da sociedade pode ser observada em outros fenômenos de distribuição de poder, como o partido e o status.
Weber descreveu as classes sociais como um conjunto de posições dos indivíduos na sociedade
definidas por três dimensões: propriedade de bens, status e destino pessoal. Uma classe se forma por
interesses e oportunidades. Contudo, o autor não acreditava que um critério único (por exemplo, possuir
propriedade) determinasse a classe: esta seria definida pela “situação de mercado” da pessoa, o que incluiria
não somente a posse de bens, mas também outros fatores, como o nível de escolaridade e o grau de
habilidade técnica.
Expandindo sua teoria da estratificação, Weber afirmou que a classe social é apenas uma forma de
distribuição dos indivíduos na sociedade. Ainda teríamos status e partido. Status refere-se às diferenças de
prestígio ou honra social e ao estilo de vida. Por exemplo, os “novos-ricos”, mesmo tendo conquistado
riqueza igual ou até superior à de outros grupos privilegiados, são vistos com certo desprezo pelos “ricos
tradicionais”.
Já os partidos, na terminologia de Weber, não são apenas grupos que disputam eleições, mas, sim,
organizações que procuram impor sua vontade aos outros. O controle de partidos, em especial de grandes
organizações burocráticas, não depende apenas de riqueza ou de outro critério de classe: alguém pode dirigir
uma burocracia militar, científica ou de outro tipo e não ser rico, da mesma maneira que é possível ser rico
e ter pouco prestígio.

Conteúdo complementar:
Documentário: Vidas Entregues (2019). https://youtu.be/cT5iAJZ853c?si=FogrUAP3qm3vzsOz
Estratificação e Desigualdade Social : https://youtu.be/d7BeCopGqP4?si=B1MpLNT6v9uuhzed
Classe Social em Karl Marx: https://youtu.be/3CJtxoh33Ek?si=mfkfs2TjAjztDyiK
Classe Social em Max Weber: https://youtu.be/0VuiM2Ts_Bk?si=0lQFkFrkibSK7deO

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