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DIREITOS HUMANOS
E DIVERSIDADE
Introdução
A desigualdade sempre existiu na sociedade brasileira. Na atualidade, ela
ainda se mantém muito presente e expressiva. Além disso, se configura
como algo multidimensional, transversal e durável. Como você sabe, a
desigualdade se manifesta de diversas formas. Uma delas é no acesso
aos direitos. Nos últimos anos, muito se evoluiu em termos de garantias
asseguradas constitucionalmente. No entanto, considerando a baixa apli-
cabilidade dos direitos, legislações complementares foram criadas a fim de
preencher a lacuna entre o que está no papel e o que acontece na prática.
Neste capítulo, você vai estudar a desigualdade vivenciada no Brasil e
o acesso aos direitos. Também vai ver as conquistas de direitos realizadas
por diferentes grupos populacionais e as conquistas e retrocessos no
acesso aos direitos relacionados a etnia, gênero e orientação sexual.
2 Desigualdade, diversidade e direitos no Brasil contemporâneo
[...] sabemos que a desigualdade não é um fato natural, mas sim uma construção
social. Ela depende de circunstâncias e é, em grande parte, o resultado das
escolhas políticas feitas ao longo da história de cada sociedade. Mas também
sabemos que todas as sociedades experimentam desigualdades e que estas
se apresentam de diversas formas: como prestígio, poder, renda, entre outras
— e suas origens são tão variadas quanto suas manifestações. O desafio não
é apenas descrever os fatores e componentes das desigualdades sociais, mas
Desigualdade, diversidade e direitos no Brasil contemporâneo 3
Scalon (2011) também diz que, no caso do Brasil, chama a atenção o fato de
a desigualdade resistir ao tempo e ao processo de modernização da sociedade. A
autora ainda esclarece que é preciso considerar a desigualdade como um problema
político que mantém relação direta com a democracia, a justiça social e a igualdade
de oportunidades. Nesse sentido, não haverá democracia se não houver uma atenção
mais focalizada para o problema das desigualdades sociais. Afinal, “[...] a igualdade
pode ser considerada um dos atributos básicos da cidadania, considerada em seu
sentido mais amplo como acesso a direitos” (SCALON, 2011, p. 51).
A igualdade está assegurada na Constituição Federal de 1988, entretanto “[...]
a lei só pode ser garantida de maneira eficiente quando sustentada pela igualdade
nas chances de vida, que assegura tanto a possibilidade como a liberdade de
escolha e a utilização plena das capacidades dos atores sociais” (SCALON,
2011). A grande questão é que isso não acontece de fato, dada a dimensão que
as desigualdades sociais assumem no Brasil, impactando questões essenciais,
como a efetivação da democracia e da justiça social, e transitando por aspectos
relacionados à ética e à moral.
Faleiros (2014) destaca que, na sociedade capitalista, as demandas por
serviços sociais demonstram as desigualdades econômicas, as situações de
inclusões ou exclusões. Para o autor, essas:
[...] são demandas complexas tanto pela efetivação de direitos como por cui-
dados específicos que exigem dos profissionais a análise das relações gerais
e particulares dessas condições e do poder de enfrentá-las, o que implica
trabalhar a correlação de forças (FALEIROS, 2014, p. 708).
Até aqui, você viu um breve panorama de como os direitos humanos foram se
desenvolvendo ao longo do tempo. É importante você ter em mente, no entanto,
que a evolução dos direitos é algo que acontece lentamente e de forma gradual.
Os direitos não são pensados e construídos de uma única vez. Eles ganham
forma conforme a sociedade humana vai se desenvolvendo e suas necessida-
des, surgindo. Assim, para compreender o significado que os direitos têm na
atualidade, é essencial verificar como foram observados em épocas passadas.
Isso posto, considere agora a evolução da legislação brasileira, tomando
como ponto de partida a Constituição Federal de 1988, que apresenta os
direitos e deveres dos cidadãos e pauta-se em valores de equidade e direitos
universais. Além disso, a Constituição reafirma conquistas transformadas em
direitos sociais nas áreas de saúde, assistência social, educação, previdência,
trabalho, entre outras (PIANA, 2009). Conhecida como Constituição Cidadã,
recebeu essa denominação:
Criticada por uns, pelo detalhismo de suas disposições, justifica-se essa sua
característica pela tradição de alto grau de descumprimento da legislação
ordinária no país, a exemplo do que ocorre com a legislação trabalhista criada
nas décadas de 1930 e 1940 e inscrita na Consolidação das Leis do Trabalho —
CLT —, cujo cumprimento ainda é motivo de frequentes demandas judiciais
por parte dos trabalhadores (OLIVEIRA, 2011, p. 6).
Isso evidencia que o País possui um aparato legal muito completo e deta-
lhado. No entanto, boa parte das leis ainda não são aplicadas como deveriam
e como está expresso na Carta Magna. Por isso, tem-se verificado, nos últimos
tempos, a necessidade de estabelecer leis complementares para garantir direitos
já previstos na Constituição. Os avanços na legislação somente foram possíveis
graças à organização e à mobilização de vários segmentos da sociedade, desde
a década de 1970 (OLIVEIRA, 2011).
Vários grupos mereceram atenção na legislação posterior à Constituição
Federal de 1988, mas destaca-se aqui a situação dos trabalhadores. Para esse
grupo, foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho (BRASIL, 1943) e outros
direitos sociais assegurados constitucionalmente. É o caso do direito contra
Desigualdade, diversidade e direitos no Brasil contemporâneo 7
[...] aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras
pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015, documento on-line).
8 Desigualdade, diversidade e direitos no Brasil contemporâneo
Como você viu, os direitos vão evoluindo ao longo do tempo. Isso ocorre con-
forme surgem as necessidades e mediante a mobilização dos grupos interessados.
Você pode fazer a seguinte reflexão: se os direitos fossem efetivados na prática
tal como propostos na Carta Magna, talvez não fossem necessárias legislações
complementares para resguardar o direito de determinados grupos, não é?
maioria dos direitos dessa população não possui legislação específica. Assim,
as pessoas interessadas precisam recorrer ao Poder Judiciário para que as
solicitações sejam avaliadas caso a caso.
www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaempauta/article/viewFile/190/213>.
Acesso em: 11 nov. 2018.
OLIVEIRA, C. R. Direitos sociais na constituição cidadã: um balanço de 21 anos. Serviço
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em: 11 nov. 2018.
PIANA, M. C. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional. São Paulo:
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SCALON, C. Desigualdade, pobreza e políticas públicas: notas para um debate. Contem-
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VIEIRA, B. M. C. O serviço social ante as desigualdades sociais advindas da discriminação
racial no Brasil. Libertas, v. 13, nº. 1, p. 147-159, jan./jun. 2013. Disponível em: <https://
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nov. 2018.
Leituras recomendadas
IAMAMOTO, M. V. O Brasil das desigualdades: “questão social”, trabalho e relações
sociais. SER Social, v. 15, nº. 33, p- 261-384, 2013. Disponível em: <http://www.cressrn.
org.br/files/arquivos/FaPa1Oy8kQ65voJ4T345.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2018.
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