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Angola por ser uma economia ainda em via de desenvolvimento, com várias regiões
de ocupação recente, nos permite identificar alguns fenômenos de modo mais claro, como a
migração e a criação de cidades nas áreas de fronteira, que ocorrem a partir de mecanismos
de propulsão de oferta na busca de oportunidades de exploração de recursos naturais,
gerando mecanismos de indução de demanda via melhoria de acesso a mercados mais
desenvolvidos. Além disso, é a existência de uma base de dados longitudinal, como por
exemplo o Censo Demográfico Angola-2014 com informações para indivíduos,
representativa para municípios, que viabiliza a implementação dos exercícios empíricos.
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pesquisa que suscitou distintas interpretações e concepções sobre a origem e os fundamentos
da desigualdade.
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1. NOÇÕES DE DESIGUALDADE
A desigualdade social é uma ideia mais ampla que geralmente engloba diferentes
fatores: acesso à educação, serviços de saúde, empregos bem remunerados, etc. Existem
pessoas que, devido ao seu local de nascimento, acham muito difícil progredir
materialmente, pois não possuem escolaridade, tiveram que trabalhar desde cedo e morar em
casas precárias. Outras, por outro lado, têm vantagens devido às suas origens familiares
(educação de qualidade, conforto para estudar e viver, contactos no mundo do trabalho, etc.).
Há, portanto, uma acentuada desigualdade social que condiciona o alcance das metas ou
objectivos de políticas macroeconómicas.
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O desenvolvimento humano avalia a qualidade de vida de uma população em nível
nacional, estadual e municipal que requer estudos e cruzamentos de dados estatísticos. Isso
pode ser realizado por vários órgãos públicos ou privados, dependendo do interesse ou
abordagem, embora o órgão oficial brasileiro seja o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), sendo em Angola o INE (Instituto Nacional de Estatística). O primeiro passo é
colectar os dados através do censo nacional e, a partir daí, pode-se estabelecer comparações
entre os estados.
Desigualdade social: é a diferença entre classes sociais. Para entender esse conceito,
precisamos levar em consideração que uma classe social é um grupo de pessoas com estatuto
social similar, sendo que esse estatuto pode ser definido por distintas variáveis que abarcam
aspectos econômicos, educacionais, culturais, de gênero, raça e crença. Assim, a
desigualdade social está diretamente relacionada a fatores que tornam alguns indivíduos
menos favorecidos do que outros dentro de uma sociedade hierarquizada. Isso dá origem
também à desigualdade econômica, de gênero e racial.
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científicas e sociológicas desenvolvidas no país procuraram afirmar que uma raça era melhor
que a outra. Mesmo com a ciência avançando e destruindo tais argumentos e com o
estabelecimento de políticas de ações afirmativas, a desigualdade racial ainda impera, sendo
os negros e indígenas menos favorecidos.
Rousseau deixou bem claro citando: “O primeiro que, tendo cercado um terreno, se
lembrou de dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bastantes simples para o acreditar, foi o
verdadeiro fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e
horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou
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tapando os buracos, tivesse gritado aos seus semelhantes: “Livrai-vos de escutar esse
impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos, e a terra de
ninguém!”. Parece, porém, que as coisas já tinham chegado ao ponto de não mais poder
ficar como estavam: porque essa idéia de propriedade, dependendo muito de ideias
anteriores que só puderam nascer sucessivamente, não se formou de repente no espírito
humano: foi 3 preciso fazer muitos progressos, adquirir muita indústria e luzes, transmiti-
las e aumentá-las de idade em idade, antes de chegar a esse último termo do estado de
natureza. (Rousseau, 2001: 91)”
Como aponta Rousseau, o Contrato Social fez com que o homem renegasse sua
liberdade individual em detrimento da vontade coletiva, vendo, assim, a legitimação da
desigualdade patrimonial fundada na propriedade privada. O Contrato Social representa a
alienação da liberdade individual, característica da condição natural humana, e a
configuração de uma liberdade coletiva relacionada à vida em sociedade, o que legitimaria a
desigualdade fundada na propriedade privada. Segundo Rousseau (2001), essa alienação
define que a comunidade, ao aceitar a existência dos bens de outras pessoas, os legitima sem
reconhecer a usurpação, o direito e o gozo, pelo simples fato de possuir um determinado
bem.
A teoria desenvolvida por Marx também contribui para a definição dos fundamentos
e das formas que assume a desigualdade no processo de reprodução social. A visão de Marx
aponta que toda produção é uma forma de apropriação e, por isso, não se trata de “se a
riqueza se desenvolve melhor sob esta ou aquela forma de propriedade. Mas é uma pura
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tautologia afirmar que não pode haver produção, nem tão pouco sociedade, quando não
existe nenhuma forma de propriedade.
Há, por outro lado, teorias que acreditam que a desigualdade é inevitável e alegam
que posições superiores exigem mais treinamento e, assim, devem receber mais
recompensas. São essas teorias que levam, por exemplo, à ideia de meritocracia, que é
baseada na capacidade: um indivíduo alcança determinada conquista/posição por mérito, isto
é, devido ao seu esforço, talento e capacidade para tal. Esse conceito, no entanto, ignora o
fato das oportunidades serem injustamente desiguais entre as classes sociais. Em suma, as
teorias mais relevantes sobre as origens da desigualdade concordam que há um longo e lento
processo social, histórico e político que resulta na divisão de classes e na consequente
desigualdade social que traz consequências diversas.
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A hierarquia económica-que define a “classe” em sentido restrito. A
estratificação social concebida por Max Weber, é configurada como estando
apoiada num tipo concreto de poder. Deste modo, a formação da “classe”
baseia-se num “poder económico”, exercitado no mercado;
A hierarquia social propriamente dita, que forma os “grupos de status”. Os
grupos de estatuto alicerçaram-se num denominado “poder social”, que por
sua vez surge associado a avaliação que a sociedade faz dos atributos sociais
de um indivíduo, concedendo-lhe um certo grau (positivo ou negativo) de
honra;
A hierarquia política, que origina a formação de “partidos”, aqui entendidos
como um grupo de indivíduos associados com vista a alcançar ou manter a
liderança política. Por fim os partidos formam-se em função de uma desigual
distribuição de poder político, opondo dominantes e dominados.
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5. EVIDÊNCIAS ESTATÍSTICAS
Nesse contexto, um estudo mostrou que crianças com uma escrivaninha e um lugar
tranquilo para estudar têm melhor desempenho na escola. Durante a pandemia da COVID-
19, por exemplo, esses indivíduos foram ainda mais afetados.
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Ampliar processos de restauração dos ecossistemas também contribuiria para reduzir
outros pontos da desigualdade social, como a insegurança alimentar, hídrica e energética,
além de assegurar direitos de povos indígenas.
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localização económica, em que mais de 77% das empresas em actividade estão em Luanda,
Benguela, Kwanza Sul, Cabinda e Namibe.
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sobre a desertificação humana do interior do país, e a localização das grandes obras de
reconstrução/modernização das infraestruturas. Os movimentos migratórios internos
continuam muito intensos, a concentração urbana acelerou-se, a preferência dos
investimentos por Luanda, Benguela e Huíla domina as decisões empresariais e o processo
de descentralização administrativa e financeira ainda é incipiente para provocar uma
inversão fundamental e urgente sobre as rotas de circulação e instalação das aplicações
privadas de capital.
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centro sul do país, com 10 059 909 habitantes, correspondente a dois quintos da população
do país (39%).
A província de Luanda é a mais populosa com 6 945 386 pessoas, o que representa
pouco mais de um quarto (27%) da população do país. Seguem-se as províncias da Huíla,
Benguela e Huambo com mais de 2 milhões de residentes, com 2 497 422 (10%), 2 231 385
(9%) e 2 019 555 (8%), respectivamente.
Com menos de 2 milhões cada aparecem as províncias do Cuanza Sul (1 881 873),
Uíge (1 483 118) e Bié (1 455 255).
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A maior proximidade dos futuros grandes eixos nacionais de transportes;
O posicionamento geográfico-estratégico das províncias – por exemplo,
Malanje e Huambo apresentam nítidas vantagens para desempenharem uma
função de placas giratórias de fomento do desenvolvimento, a primeira entre
Luanda, as Lundas e o Moxico e o Norte-Leste de Angola e a segunda
província entre o litoral Centro- Sul e o Moxico e o Cuando Cubango;
A disponibilidade de recursos humanos (para o que contribuem a densidade
populacional, a capacidade de retenção de força de trabalho qualificada e
especializada, a descentralização e o desenvolvimento do sistema de ensino
técnico-profissional, superior e universitário e a valorização estratégica das
tradições, enquanto factor de fixação da população e de ligação ao seu meio
geográfico e cultural de origem);
A capacidade política de mobilização dos governantes e dirigentes
provinciais, traduzida na concessão de determinadas facilidades de instalação
das actividades económicas privadas;
A comparticipação e o envolvimento da comunidade internacional, do que
poderá resultar a criação de determinadas externalidades fundamentais para a
actividade privada nacional;
As preferências do investimento privado, em particular do investimento
directo estrangeiro;
A oferta de infraestruturas provinciais/regionais, que depende da capacidade
de gestão dos programas de investimento público41 e da aptidão de promover
as parcerias público-privadas.
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Gráfico 2 - Taxa de actividade por província, 2014
A província de Cuanza Sul apresenta a taxa de emprego mais elevada sendo que a
província de Lunda Sul apresentou uma taxa de emprego mais baixa. Contudo, a taxa de
emprego nacional é de aproximadamente 39%.
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7.3. POPULAÇÃO DESEMPREGADA
São considerados desempregados todas as pessoas com 15 ou mais anos de idade que
no período de referência se encontravam simultaneamente nas situações seguintes:
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8. DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO, INTEGRAÇÃO
COMERCIAL E DESIGUALDADE REGIONAIS: ANGOLA NO
CONTEXTO DA ÁFRICA AUSTRAL
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9. POBREZA URBANA E DESIGUALDADE EM LUANDA
Luanda é uma das cidades mais dramáticas do continente africano, no que diz
respeito à sua história, densidade populacional e desigualdade, estando presentemente a
cidade a atravessar o que a população chama “a crise”, situação relacionada com a recente
queda abrupta das receitas petrolíferas e com a má governação e com repercussões
particulares para os pobres.
As principais razões para a baixa incidência da pobreza urbana que emergem dos
dados existentes, são os níveis mais elevados de educação e o melhor acesso ao emprego e
aos serviços públicos. Este argumento é, em parte, suportado pelos dados de publicações
internacionais, tais como o “Relatório de Desenvolvimento Humano” do PNUD
(posicionando Angola em 149.º lugar entre 188 países) e o “Relatório sobre o
Desenvolvimento Mundial” do Banco Mundial (com Angola na 112.ª posição entre 181
países) – embora com as entradas de Angola, também aqui, caraterizadas por lacunas nos
marcadores-chave de pobreza.
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9.1. COMUNIDADES
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bem organizada, com casas de tijolo e quintas; escolas e instituições de saúde (a maioria das
quais são privadas); uma série de pequenas lojas ou cantinas; oficinas de todo o tipo ofícios
artesanais; bem como algumas lojas maiores que acabam por definir as fronteiras do bairro
ao longo das estradas principais.
Há, também, o contraste das “bolsas” contendo moradias de dois ou três andares,
maiores e luxuosas, que abrigam os mais ricos, e casas precárias feitas com blocos de
papelão e chapas de zinco, que abrigam os mais pobres. Durante o dia, o bairro está
relativamente vazio, o que é uma indicação de que muitas pessoas estão trabalhando ou
procurando emprego noutras partes da cidade.
O Bairro do Paraíso dá uma primeira impressão diferente. No final dos anos 1990, o
bairro era um acampamento para refugiados e soldados desmobilizados originários do Sul,
tendo-se tornado numa comunidade com cerca de 120.000 pessoas de várias partes do país.
O bairro situa-se numa colina rodeada por áreas húmidas/pântanos e lixeiras, havendo
apenas um ponto de entrada para carros, o qual se torna intransponível durante os períodos
de fortes chuvas. As casas são geralmente precárias e sem muros à volta (sinal de pobreza no
contexto de Luanda). Identificámos relativamente poucas instituições escolares e de saúde
pública e cantinas, e as lojas quase não se vêm – até aprendermos que elas estão construídas
para serem “invisíveis” a fim de se reduzir o risco de furto e roubo.
Talvez a principal caraterística do Paraíso seja o colapso quase total das instituições
do Estado, incluindo escolas e clínicas (substituídas por alternativas privadas),
abastecimento de água, eletricidade e policiamento – tornando-o um terreno fértil para os
preços excessivos e a corrupção. A segurança individual e imprevisibilidade são os
principais desafios e as pessoas geralmente parecem ainda mais pobres e mais necessitadas
do que em Wenji Maka II. Aqui, a Comissão de Moradores parece mais preocupada no
controlo político da população do bairro do que contribuir para o desenvolvimento da
comunidade.
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A falta de emprego e de rendimento necessário para atender às necessidades
básicas;
Uma sensação de impotência e de não ter voz ativa face às instituições da
sociedade e do Estado;
Vulnerabilidade a choques adversos associados à capacidade de lidar com
eles através de relações sociais e instituições legais.
Quando questionadas para definir o que é a “pobreza” significava para eles, a falta de
condições (educação ou ensino, emprego ou trabalho assalariado, água, energia, laser e
saneamento básico) que afetam negativamente as suas vidas e as opções que orientam o que
eles designam por “uma vida digna”, num contexto urbano. «Os pobres não têm forno nem
colchões, eles não têm televisão nem geladeira – Eles só comem uma ou duas vezes por dia,
eles só comem arroz branco, funge com jimboa ou caboenha, pão com chá, etc. Eles não
conseguem pagar a escola dos seus filhos, e os seus filhos jogam no lixo para encontrar algo
para comer. Quando eles ficam doentes eles nem sequer têm dinheiro para comprar
paracetamol. As crianças têm roupas rasgadas. Pode-se ver pela aparência, pelo aspeto que
as pessoas são pobres».
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“pobre-pobre” ou katikiamputu e o “pobre normal” ou ohukui) e de riqueza – separando o
“Número Um”, que eles nomeiam como Isabel (filha do Presidente José Eduardo dos
Santos); os super-ricos ou ricaços e os ricos ou bassongas.
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CONCLUSÕES
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Muitos dos nossos interlocutores expressaram frustração e raiva contra o que
consideravam ser uma dramática deterioração das suas condições de vida, muitas vezes
dirigidas contra “o governo” ou “o partido”, mas também contra as pessoas da sua
comunidade que não comportam-se bem (marginais ou gatunos). Há, também, um sentido
de fatalismo (“só Deus sabe”). Ao mesmo tempo, a riqueza e mobilidade social ascendente
são vistas como sendo para as pessoas com educação, emprego e com os contatos certos e
que vivem noutras partes da cidade. Enquanto Luanda oferece oportunidades para quem está
em posição de a explorar, a cidade atualmente parece oferecer apenas miséria às pessoas dos
bairros pobres.
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RECOMENDAÇÕES
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Rousseau, J. J., 1978 Do Contrato Social. Trad. Lourdes Santos Machado. São Paulo:
Abril Cultural, Coleção Os Pensadores, 1978
https//: www.Googleacadêmico.com
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