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Globalização, justiça social e cidadania

Apresentação
Na década de 1980, a ideia de “aldeia global” permeava as discussões políticas, as interpretações
sobre os rumos da economia e das interações comerciais, mas, especialmente, estava presente nas
interações culturais. A noção de que o globo era uma “aldeia” era fomentada pela globalização,
pelos estreitamentos de relações comerciais, políticas e pela maior proporção nas interações
culturais entre diferentes sociedades, possibilitadas — e até mesmo pressionadas — pelas práticas
da produção capitalista global.

A ideia era confirmada pela rapidez no transporte, pelo diálogo multidirecionado entre as nações e
pela explosão das telecomunicações e pelo aparecimento da internet. No entanto, as soberanias
nacionais, com suas particularidades sociais, culturais, históricas, geográficas e até climáticas
permaneciam. As relações políticas e comerciais imprimiam a necessidade orientada de um modelo
homogêneo de produção e interação, mas tal homogeneidade leva a falhas na execução da
cidadania como composição conjunta dos direitos sociais, civis e políticos nas nações.

Na contemporaneidade, há um processo lento de retomada de práticas nacionalistas, mas que não


exclui de todas as práticas globalizatórias, especialmente porque o capital é globalizado. Assim, na
observância da igualdade social promovida pela cidadania, surge a necessidade de identificar
sistemas de privilégio e marginalização promovidos ou acentuados pelas interações econômicas
locais e globais, definindo estratégias para a justiça social.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá como se forma e qual é o conceito de globalização a
partir do reconhecimento da trajetória histórica das interações econômico-produtivas no
capitalismo. Verá ainda que tal trajetória influencia a formação dos Estados-nação e sua relação
com o povo, na criação do conceito de cidadania, reconhecendo a premissa da igualdade do
conceito e a consequente perspectiva de justiça social. Por fim, verá que a globalização leva a
alguns desafios na definição das estratégias para a justiça social e o resguardo dos direitos
componentes da cidadania.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Definir globalização.
• Relacionar justiça social e cidadania.
• Avaliar os desafios da justiça social e da cidadania diante da globalização.
Desafio
Alguns dos efeitos observáveis nos processos de interação entre diferentes sociedades na
globalização acontecem sobre a cultura, geralmente das nações mais dependentes
economicamente, menos desenvolvidas ou em desenvolvimento. Nesse sentido, as atividades
econômicas globalizadas podem levar à formação de novos tipos de imperialismos e imperialismos
regionais contemporâneos, em que a nação dominante exerce um processo de aculturação ou
inicia-se na comunidade local e na assimilação cultural.

Aculturação é o processo de anulação da cultura local, normalmente de maneira forçada em


processos violentos de ocupação, mas é possível que aconteça também diante de processos
socioeconômicos locais.

A assimilação é o processo de adaptação de elementos da cultura da nação dominante na cultura


local como parte integrante, mas que é facilmente percebida como de origem externa, como, por
exemplo, a inserção de palavras de outro idioma mesmo que tenham tradução no idioma local.
Nessa conjuntura, os processos de interação cultural desiguais podem afetar as políticas de
promoção de justiça social e, por outro lado, acentuar as desigualdades sociais.

Considerando essa perspectiva, analise a conjuntura a seguir.


A partir desse contexto, defina duas práticas que protejam a cultura dos povos nativos, inclusive
dos não brasileiros, de forma a promover a justiça social pelo reconhecimento da multiplicidade de
raça, origem e identidades culturais.
Infográfico
Considerando a formação dos Estados-nação a partir do século XIX, a cidadania é a contrapartida
do Estado pela transferência de poder do povo na constituição das estruturas e instituições de
poder: os cidadãos são protegidos e têm direitos e deveres que o Estado deve efetivar, resguardar
e proteger, a fim de manter os cidadãos seguros e a ordem social.

Neste Infográfico, você verá a composição da noção de cidadania a partir dos direitos sociais, civis
e políticos.
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Conteúdo do livro
A globalização pode ser compreendida como um processo que estreita as relações entre diferentes
soberanias e povos em três pontos principais: a economia, as relações políticas e as interações
culturais. Essa aproximação foi progressivamente impulsionada pelas transformações observadas
com o advento do capitalismo: as sociedades industriais aproximadas pelo transporte a vapor, no
século XX, que possibilitou o trânsito cultural e a aceleração na troca de mercadorias; as sociedades
pós-industriais em meados do século XX, que implementavam modelos já prontos de produção e
organização política; e as sociedades a partir da Quarta Revolução Industrial, orientadas pelas
comunicações imediatas permitidas pelas telecomunicações.

Todas essas transformações possibilitam a ideia de “proximidade” e de “conectividade” entre


diferentes espaços, regiões, culturas e sociedades, mas é preciso manter a atenção ao fato de que
as soberanias territoriais não deixaram de existir, nem as particularidades socioculturais e históricas.
A inobservância desses elementos é fator que pode contribuir na construção de modelos
produtivos desiguais, em que há grupos de cidadãos privilegiados e outros à margem dos direitos e
dos itens de bem-estar social, levando a falhas na efetividade da cidadania e fazendo emergir a
necessidade de desenvolvimento de políticas públicas orientadas à justiça social.

No capítulo Globalização, justiça social e cidadania, base teórica desta Unidade de Aprendizagem,
você poderá vincular a globalização à trajetoria histórica das relações comerciais capitalistas,
definindo o conceito. Poderá relacionar as ideias de cidadania e justiça social, identificando como
cada conceito emerge e onde é aplicado. Poderá ainda avaliar os desafios contemporâneos da
justiça social e da cidadania diante da globalização.

Boa leitura.
SOCIEDADE E
CULTURA
Globalização, justiça
social e cidadania
Aline Michele Nascimento Augustinho

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Definir globalização.


> Relacionar justiça social e cidadania.
> Avaliar os desafios da justiça social e da cidadania diante da globalização.

Introdução
A globalização pode ser definida como um processo orientado pelas práticas
econômico-produtivas no capitalismo: o sistema necessita de mercados amplos,
que apoiem a progressão de produção, acumulação e lucro que permitem sua
estabilidade. Na medida em que os Estados se formaram orientados para essas
dinâmicas, a partir do século XVIII e especialmente do século XIX, as interações
comerciais entre os países levam à reprodução de modelos produtivos, de orga-
nização social, políticos e até mesmo de estruturação das instituições do Estado.
No processo de organização e estruturação dos novos Estados, o reconheci-
mento do poder e da necessidade de participação do povo nas democracias faz
emergir o conceito de cidadania, conjunto de direitos elementares que conduz e
explica as relações entre sujeito, sociedade e Estado e torna iguais em direitos
todos os cidadãos. Essa conjuntura que torna relativamente homogêneas as
práticas econômicas e produtivas tem efeitos significativos sobre a cultura e
as formas de organização das sociedades nesses Estados. Tais efeitos, porém,
são diferentes e não homogêneos, porque são influenciados pela configuração
histórica, social, geográfica e climática de cada região. Nesse sentido, os benefí-
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cios que o capitalismo poderia proporcionar às sociedades se tornam diversos,


acarretando a formação de grupos sociais privilegiados ou elites privilegiadas.
Assim, os direitos elementares podem não ser assegurados, levando à ideia de
falha na premissa de igualdade e, assim, de injustiça social.
Neste capítulo, você vai conhecer o conceito de globalização e poderá com-
preender as bases históricas para esse processo. Veremos, ainda, que a ideia de
cidadania se relaciona intimamente com a de justiça social, por meio do reco-
nhecimento da igualdade com que os direitos deveriam ser efetivados. Por fim,
veremos que a globalização insere desafios importantes e específicos na busca
pela justiça social e para a efetividade da cidadania.

Globalização, seus sentidos e efeitos


Você certamente conhece o termo “globalização”, mas talvez não saiba que
ele é definido de diferentes formas. Para Ianni (1998, p. 27), o conceito de
globalização está vinculado a práticas neoliberais que reorientariam as
dinâmicas entre Estado, economia e sociedades a partir da década de 1970,
intensificadas nas décadas de 1980 e 1990:

O que predomina, na época em que se dá a globalização, é a visão neoliberal do


mundo. Em todos os países, as práticas e as ideias neoliberais estão presentes
e ativas. É claro que elas não se difundem de modo homogêneo; ao contrário,
concretizam-se irregular e contraditoriamente.

A reflexão de Ianni (1998) aponta uma “visão neoliberal de mundo”, ou


seja, que excede as práticas econômicas e atinge as formas de organização
social e política. Essa visão é disseminada de maneira ampla, mas é imple-
mentada de modo irregular. Tal irregularidade teria uma razão — a diferença
cultural, política, social e histórica de cada conjunto social, de modo que as
premissas globalizatórias:

[...] defrontam-se com realidades sedimentadas, no que se refere seja às atividades,


organizações e diretrizes econômicas, políticas e sociais, seja às tradições culturais,
compreendendo instituições, modos de vida e trabalho, formas de sociabilidade
e outras características próprias de cada povo, coletividade, tribo, nação e nacio-
nalidade (IANNI, 1998, p. 27).

A partir da explicação de Ianni (1998), você pode entender que a globaliza-


ção é um processo de homogeneização das práticas de mercado, das formas
de produção e organização do consumo, o que permitiu que as relações
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comerciais se tornassem mais orientadas pelas dinâmicas de um mercado


visto como global do que pelas regras específicas das nações.
A leitura de Ianni (1998) integra o conjunto de reflexões que formam as
teorias da dependência, de que fazem parte pensadores como Caio Prado
Júnior e Celso Furtado. De acordo com a corrente teórica que formula a teoria
da dependência, a compreensão da produção e do consumo como movimentos
político-econômicos descolados de seus contextos regionais, culturais e his-
tóricos traz consequências para as sociedades, especialmente se as relações
comerciais estabelecidas se dão entre dois potenciais econômicos opostos,
como um país em desenvolvimento e um país desenvolvido (CARDOSO, 1993).
Assim, para a teoria da dependência, a globalização pode ser descrita como
um processo econômico-produtivo capitalista que homogeneíza práticas de
produção e consumo em nível global. Por um lado, isso facilita as relações
comerciais, mas, por outro, promove efeitos culturais diversos, já que tais
dinâmicas não consideram as especificidades sócio-históricas, culturais,
políticas e econômicas de cada país ou região (CARDOSO, 1993).
Os pensadores que defendem a teoria dos sistemas-mundo, como Gio-
vanni Arrighi (1996), também consideram as dinâmicas de dependência entre
países com formações e poderes econômicos desiguais, mas promovem uma
análise mais extensa do processo que dá origem à globalização. De acordo
com Arrighi (1996), o processo de globalização como o conhecemos no século
XXI tem conexões estreitas com dois contextos importantes do século XX: a
produção em escala após a Segunda Guerra Mundial; e a Terceira Revolução
Industrial, isto é, a revolução da informação por meio das telecomunicações
ocorrida a partir da década de 1970.
Outra linha de análise sobre a globalização retoma a teoria do imperia-
lismo. De acordo com Sakellaropoulos (2009), a partir dessa teoria é possível
recorrer a dois pontos estratégicos historicamente mais distantes: as grandes
navegações do século XV e a Primeira Revolução Industrial, ocorrida no século
XIX, que foram molas propulsoras do imperialismo capitalista.
A abordagem sobre os imperialismos aponta que as grandes navegações
teriam iniciado o processo de leitura de mercados globais, já que há o trânsito
da interpretação de diversos mercados conhecidos para o fluxo de compra,
venda e troca orientado pela exploração e dominação territorial por países
europeus expansionistas. Nesse caso, havia o interesse não de criar trocas
com outros territórios, mas de ocupá-los para que fizessem parte de seu
próprio sistema econômico (SAKELLAROPOULOS, 2009).
Quanto à Revolução Industrial, há em primeiro plano o exponencial
aumento da produtividade fabril proporcionado pelos maquinários — em
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comparação com a produção manufaturada (SAKELLAROPOULOS, 2009). Essa


produção rapidamente satura os mercados locais e é escoada no continente
pela grande revolução proporcionada pelos trens a vapor, que diminuem
consideravelmente o tempo de deslocamento por terra, tornando-o mais
barato, e conectam os territórios europeus, facilitando as trocas no conti-
nente. Em pouco tempo, conforme a produção industrial avança pelos países
europeus, esse mercado também se torna pequeno para o escoamento da
produção, e o chamado “novo mundo” passa a ser o foco da venda desses
produtos (WENT, 2002).
Para tanto, a condição de territórios de exploração/domínio precisava ser
revertida, a fim de que se pudessem manter relações comerciais e houvesse
sujeitos que pudessem consumir nesses territórios (WEFFORT, 1990). A cons-
tituição dos Estados-nação a partir do século XIX — como o Brasil, que se
torna um império independente em 1822 — fomenta um mercado global, em
que as regras nacionais são importantes, mas há orientação das dinâmicas
com prevalência das nações com produção industrial (CHESNAIS, 1996).
Assim, tanto as análises sobre a constituição do capitalismo quanto as
sobre as interações econômicas globais (como a teoria da dependência e a
teoria das economias-mundo) apontam para o entendimento de que a traje-
tória de constituição da produção capitalista transforma a ordem produtiva
e influencia a organização social e a estrutura política e administrativa dos
Estados até o alvorecer do século XX (ARRIGHI, 1996; CHESNAIS, 1996; IANNI,
1998). Nas primeiras décadas desse século, há a prevalência do naciona-
lismo, como resposta ao movimento de constituição dos Estados-nação e
do reconhecimento da soberania sobre os territórios nacionais, de modo
que as relações internacionais se tornariam “secundárias” (IANNI, 1998). O
nacionalismo, produto desse esforço de defesa das soberanias e de seus
territórios, influencia a emergência de regimes autoritários e totalitários,
levando às duas guerras mundiais (ARENDT, 1989).
E é justamente esse o ponto de inflexão que transforma as relações políti-
cas, de consumo, de produção e culturais nesse século. No panorama político,
a composição nacionalista, quando mal-orientada, poderia culminar no ultra-
nacionalismo, chegando a ideologias racistas, excludentes e exploratórias,
como o nazismo e o fascismo, e levando aos múltiplos governos autoritários
que emergem na Europa (ARENDT, 1989; HARVEY, 1993).
Globalização, justiça social e cidadania 5

A primeira formalização de uma gestão global aparece com as chamadas


“organizações funcionais” (OFs) — organizações supranacionais que orientam
práticas comerciais e dinâmicas políticas e diplomáticas. A primeira grande
OF é a Liga das Nações, que pretendia ser uma entidade regulatória e ho-
mogeneizante que pudesse interferir nos Estados (HERZ; HOFFMANN, 2004;
MORGENTHAU, 2003). A recusa da ampla maioria a esse modelo fez com que
se alterasse a proposta, culminando na formação da Organização das Nações
Unidas (ONU) (MORGENTHAU, 2003). Essa OF tem por objetivo normatizar
dinâmicas a partir da compreensão da dignidade humana, termo relativo ao
seu documento de maior expressão, a Declaração Internacional dos Direitos
Humanos. É a partir desse documento que se orientarão as ações internas
nos Estados capitalistas e externas nas relações comerciais, no desenvolvi-
mento de políticas públicas que levem à qualidade de vida e ao bem-estar
(HERZ; HOFFMANN, 2004). No entanto, é importante atentar para o fato de
que essa busca se baseia na intenção não de beneficiar as civilizações, mas
de promover um modelo de vida que os protagonistas políticos propunham
nesse momento: o capitalismo como modelo econômico, e a democracia
como modelo político (CHOSSUDOVSKY, 1999).

A produção orientada após a Segunda Guerra


Mundial
As análise sobre as interações políticas e econômicas no século XX precisam
considerar dois eventos importantes: a Primeira (1914–1918) e a Segunda Guerra
Mundial (1939–1944). As guerras mundiais, em especial a segunda, geraram
necessidades produtivas especiais, como a rapidez no processo produtivo.
Essas alterações aparecem com a remodelação da organização produtiva, a
partir dos sistemas de produção em massa, como o fordismo, o taylorismo
e o toyotismo (HARVEY, 1993).
A otimização produtiva foi a chave do restabelecimento industrial dos
Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e se tornou modelo de
expansão produtiva e de acumulação no pós-guerra, já que os mercados
estariam ainda mais vinculados, alargando as possibilidades de consumo
(HARVEY, 1993). De acordo com a teoria de Harvey (1993) sobre a otimização
produtiva, esse ajuste prima pela melhoria da produção com o menor inves-
timento possível, a partir de ajustes para aproveitamento máximo do tempo
e limitação do desperdício.
6 Globalização, justiça social e cidadania

Otimização produtiva e a globalização

O taylorismo e o fordismo promovem a produção em massa, o primeiro modelo


com o controle de tempo com a rígida padronização da produção. O toyotismo
atua na leitura da demanda e no controle dos estoques, para que não haja
excedentes que baixem o valor do produto. Essas táticas produtivas permitiram
a disseminação do consumo de bens duráveis, como automóveis, no pós-guerra.
A normatização produtiva é uma característica da globalização e excedeu o
contexto do pós-guerra: na atualidade, estudiosos apontam que o trabalho de
transporte e entrega via aplicativos tem o mesmo princípio básico de repetição
e exploração do trabalho apresentado pelos modelos de produção em massa —
justamente porque inserem um modelo de oferta de serviço em massa.
Para saber mais sobre esses modelos e suas relações, recomendamos o artigo
“Modos de produção industrial e organização do trabalho: taylorismo, fordismo,
Toyotismo, volvismo e o nascer do ‘uberismo’” (OLIVEIRA, 2020).

A otimização produtiva indicada por Harvey (1993) ocorrida após a Segunda


Guerra Mundial leva a uma reorientação na busca por mercado consumidor,
já que a produção de bens duráveis havia se expandido exponencialmente.
Porém, o mercado formado por países não protagonistas do capitalismo não
contava com consumidores capazes de pagar por produtos tão caros. Essa
perspectiva ajuda em um processo importante da premissa da globalização: o
Estado de bem-estar social (Welfare State), que associa a produção capitalista
e o regime político democrático — espelhos do maior protagonista capitalista,
os Estados Unidos — na busca pela qualidade de vida (ESPING-ANDERSEN, 1991).
Weffort (1990) produz uma análise dos impactos do ajuste produtivo e da
ideia geral do Estado de bem-estar social, considerando em especial os países
periféricos, como o Brasil, e as relações de dependência na inserção do Estado
nas dinâmicas econômicas e políticas globalizadas. De acordo com o autor, a
ideia de qualidade de vida e de bem-estar seria utilizada como uma espécie
de propaganda das economias capitalistas democráticas desenvolvidas e,
a partir de então, empregada como modelo global para a organização das
economias periféricas, incluindo-se aí requisitos para a formação de acordos
e/ou alianças comerciais com as nações centrais.
A indústria do entretenimento, especialmente a norte-americana, reforçava
a ideia do Estado de bem-estar social associada às liberdades democráticas
e à qualidade de vida pretensamente igualitária do capitalismo. Isso levou
à globalização de aspectos culturais específicos e originou, como resultado,
processos de assimilação e aculturação (DUPAS, 1998).
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Dispostos os panoramas de integração na produção capitalista do meio


do século XX, é preciso compreender como o mercado livre chega ao cenário
de competição global na segunda metade do século. Ao passo que as nações
periféricas lutam com a importação de modelos produtivos que desconsideram
suas características locais baseando-se no sucesso das nações protagonistas,
estas saturam a produção industrial a partir da década de 1960 (CHESNAIS,
1996; DUPAS, 1998; IANNI, 1998; WEFFORT, 1990). Há, segundo Chesnais (1996),
a migração do processo capitalista da produção para a virtualização, fomen-
tando o capitalismo especulativo, que possibilita o desmantelamento dos
direitos sociais e da estabilidade democrática:

A mundialização é o resultado de dois movimentos conjuntos [...] O primeiro pode


ser caracterizado como a mais longa fase de acumulação ininterrupta do capital
[...] desde 1914. O segundo diz respeito às políticas de liberalização, de privatização,
de desregulação e de desmantelamento de conquistas sociais e democráticas, que
foram aplicadas desde o início década de 1980 (CHESNAIS, 1996, p. 34).

Assim, ao passo que as nações em desenvolvimento ainda corriam para


desenvolver seus parques industriais (como o Brasil e boa parte da América
Latina, com programas de aceleração de desenvolvimento nas décadas de
1960 e 1970), as nações centrais passavam a desenvolver e exportar tecno-
logias baseadas na comunicação integrada (telefonia e, mais tarde, internet)
(FUKUYAMA, 1995; IANNI, 1998; HARVEY, 1993; HUNTINGTON, 1994).
Diante dessas tensões, há a retomada de perspectivas nacionalistas, e os
ajustes econômicos e políticos promovidos por essa retomada culminam na
formação dos blocos econômicos regionais. Tais blocos visam à integração
social, cultural e linguística, bem como a similaridades históricas, políticas
e geográficas (FUKUYAMA, 1995; GIDDENS, 1991; HUNTINGTON, 1994).
De acordo com Coutinho, Hoffmann e Kfuri (2007), os blocos econômicos
poderiam oferecer a livre circulação de pessoas e o livre comércio, condições
específicas para o fortalecimento de dois princípios:

1. as relações sociais, políticas e econômicas dos países integrantes;


2. a criação de bolhas econômicas, afastadas ou com influência limitada
do mercado global — a União Europeia (UE), o Acordo de Livre Comércio
da América do Norte (Nafta), o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a
Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e a Cooperação Econô-
mica Ásia-Pacífico (Apec).
8 Globalização, justiça social e cidadania

A onda dos blocos econômicos varreu o planeta entre as décadas de 1970


e 1990, sendo eles fortalecidos pela perspectiva neoliberal nesta última
década, com propostas de releitura a partir da década de 1990, com a alte-
ração do pêndulo de poder dos Estados Unidos para a China (ARRIGHI, 1996;
SANTOS, 2002). De acordo com o sociólogo português Boaventura de Sousa
Santos (2002), os efeitos mais nocivos da teoria da globalização parecem
emergir a partir dos processos de reestruturação neoliberal na década de
1990, influenciados especialmente pela queda do Muro de Berlim, pela ideia
de integração global e pelo fim das fronteiras com o término da Guerra Fria
e da polarização ideológica. Sobre tal integração, Ianni (1998, p. 32) salienta,
entretanto, que se trata de produtos da dissolução das ideologias alternativas
ao capitalismo:

Sem esquecer que essas utopias, que no limite se dissolvem em uma só, inspiram
a prática e o discurso, a publicidade e a retórica, as diretrizes e as exigências, de
uns e outros situados nas organizações, corporações, estruturas e blocos de poder
que administram as linhas básicas da globalização do mundo pelo alto.

Ianni (1998) retoma a ideia de dissolução de fronteiras na constituição


de uma “nova ordem internacional” como uma falácia do neoliberalismo, já
que as disparidades em seus múltiplos níveis — de poder político, de poder
econômico, de efetividade democrática e de igualdade social — é que atuariam
no sentido de manter as relações desiguais entre as nações:

No bojo da ideologia neoliberal, florescem várias utopias muito evidentes e cor-


rentes. Expressões como “aldeia global”, “mundo sem fronteiras”, “nova ordem
econômica mundial”, “fim da geografia” e “fim da história”, entre outras, são muito
indicativas das expectativas e ilusões que o neoliberalismo apresenta como ideais
a serem realizados (IANNI, 1998, p. 32).

A partir das teorias de Ianni (1998), Weffort (1990) e Santos (2000), é possível
entender que a busca pelo desenvolvimento nas relações econômico-políticas
globalizadas nem sempre mostra resultados positivos nos países periféricos,
e então as instabilidades sociais e políticas emergem. Essa configuração foi
um dos fatores que possibilitou a emergência dos conflitos bélicos e dos
regimes autoritários, especialmente na América Latina, na Ásia e na África a
partir da década de 1950. Ela acarretou, ainda, a polarização ideológica entre
comunismo/socialismo e capitalismo/democracia promovida pela Guerra Fria,
conflito indireto entre Estados Unidos e União Soviética que utilizou campos
externos de apresentação de poder e hostilidade, como a Guerra das Coreias
e a Guerra do Vietnã.
Globalização, justiça social e cidadania 9

Nesta seção, você conheceu o conceito de globalização e a trajetória his-


tórica das dinâmicas políticas e econômicas que levaram à globalização,
considerando as práticas produtivas do capitalismo e o aparecimento dos
Estados-nação, que configuram a relação dos sujeitos com o Estado pelo
viés da cidadania. Na próxima seção, veremos que, quando os direitos que
compõem a cidadania são inefetivos, há a composição desigual na sociedade.
As ações para sanar ou diminuir a desigualdade, na busca pela equalização das
oportunidades de se alcançar o bem-estar social, são chamadas “justiça social”.

Ajustando o acesso aos direitos: cidadania e


justiça social
De acordo com Giddens (1991), o processo de globalização envolve múltiplas
dimensões, entre as quais estão a comercial, nas relações entre as nações;
a produtiva, nas formas de organização da produção; a política, nas formas
de organização dos regimes políticos e suas dinâmicas com a dimensão
comercial e produtiva; e a social, que envolve a interação dos sujeitos com o
próprio Estado e com o mercado, bem como as dinâmicas entre os sujeitos
e as múltiplas esferas numa mesma sociedade.
Na seção anterior, vimos que a produção capitalista e o comércio em
escala global influenciaram a formação dos Estados-nação, a disseminação
da democracia como regime político participativo e a premissa associada às
democracias capitalistas de bem-estar social. Na formação dos Estados-nação
democráticos, a ideia de formação do Estado por transferência de poder, ou
seja, pelo contrato social, requer em contrapartida a execução de respon-
sabilidades por essa estrutura de poder com relação aos sujeitos sociais: os
direitos associados às ideias de vinculação, pertencimento e nacionalidade,
que culminam na noção de cidadania (WEFFORT, 1990).
Conforme Sen (2000), a cidadania, segundo a perspectiva democrática, é
formada pelo conjunto de direitos sociais, civis e políticos, que são garantidos
pelo Estado a cada cidadão. Para o autor, o instrumento jurídico que estru-
tura o Estado de direito, as constituições, determina quais são os direitos
que compõem a cidadania e quem pode ser considerado cidadão, e, assim,
a efetividade da cidadania é verificada a partir da execução real e plena dos
direitos que compõem o conceito, segundo o Estado de direito.
As democracias, por sua vez, asseguram a igualdade entre todos os cida-
dãos (HUNTINGTON, 1994). Desse modo, os problemas na efetividade da cida-
dania podem gerar situações de desigualdade. Considerando, ainda, o padrão
10 Globalização, justiça social e cidadania

de bem-estar social difundido pelas democracias capitalistas protagonistas,


como nos apontaram Ianni (1998) e Weffort (1990), o não acesso ou acesso
deficiente/restrito dos cidadãos aos itens que favoreçam ou possibilitem o
bem-estar social pode ser considerado um problema grave. Da busca pela
efetividade universal da cidadania, surge o conceito de justiça social: todos
os cidadãos, iguais perante a lei e perante o Estado, devem ter acesso às
mesmas possibilidades para o bem-estar social e para a qualidade de vida,
o que engloba desde elementos de infraestrutura social, como transporte,
educação, saúde e habitação, até manejos mais amplos, como segurança e
proteção ambiental (SANTOS, 2002; SEN, 2000).
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 assegura a universalidade da
cidadania, baseando (mas não limitando) os direitos políticos e civis à partici-
pação democrática universal (como no pleito eleitoral e na articulação política
social) e vinculando os direitos sociais à premissa da dignidade da pessoa
humana, presente já na Declaração Internacional dos Direitos Humanos da ONU
(BRASIL, 1988). Se a ideia de justiça social emerge como fator de convergência
e verificação de sistemas e situações em que há inefetividade da cidadania,
é preciso refletir sobre os contextos nos quais as injustiças acontecem (SEN,
2000). Para Santos (2000), considerando o Brasil, por exemplo, no panorama
da globalização, a reestruturação neoliberal iniciada na década de 1990 foi
um dos fatores importantes para a configuração de situações amplas de
inefetividade da cidadania e injustiça social.
Segundo Antunes (2001), teórico dos ajustes no mundo do trabalho para a
adaptação ao neoliberalismo no Brasil, a reestruturação neoliberal significa
o afastamento do Estado como provedor principal do bem-estar social,
indicando a diminuição de recursos destinados à infraestrutura que possi-
bilita a qualidade de vida, na busca pelo distanciamento do Estado de ações
regulatórias sobre o mercado — inclusive sobre as relações trabalhistas. No
Brasil, esse processo iniciou como possibilidade de controle da hiperinflação
que assolou o país na década de 1980 e criou abismos sociais, com extrema
concentração de renda e aumento significativo da pobreza (ANTUNES, 2001;
ESPING-ANDERSEN, 1991).
O enxugamento da máquina Estatal, por um lado, funcionou para a saúde
dos cofres públicos, que foram pouco a pouco se restabelecendo ao longo da
década de 1990 (ANTUNES, 2001). Por outro lado, levou a sociedade a situações
de desgaste intenso, tendo o seu bem-estar fundamentado nas práticas eco-
nômicas e na possibilidade de trabalho a partir de ajustes que fomentavam a
precarização do trabalho, acarretando o subemprego e a informalidade, sem
perspectivas de auxílios sociais eficientes por parte do Estado:
Globalização, justiça social e cidadania 11

O Estado-nação latino-americano faliu, tornou-se poroso, incapaz de estabelecer


uma normatização comum, garantir os processos de legitimação, assegurando
limites toleráveis de desigualdades. Há perda de eficácia na capacidade de geren-
ciamento político, social, econômico, jurídico e cultural, em virtude do processo
de globalização (OLIVEIRA, 2004, p. 471).

O desgaste promovido pelo neoliberalismo na década de 1990 e citado por


Oliveira (2004) e Antunes (2001) foi produto da corrida desenvolvimentista das
décadas anteriores, fundamentada na globalização. A premissa da cópia de
modelos de produção bem-sucedidos que desconsideram a realidade local
levou ao desenvolvimento falho, condicionado aos grandes empréstimos
e investimentos do capital estrangeiro que aumentavam o poder externo
sobre os países latino-americanos, deixando-os à mercê das movimentações
globais da economia, sem que se pudessem promover ações particulares e
mais rígidas de controle:

As medidas impostas pelo FMI e credores, aos governos do Brasil, da Argentina


e do México, exigiram reformas das constituições desses países, que levaram a
cortes na educação, saúde e desenvolvimento regional; rápida privatização das
empresas públicas, [...] destruição de programas sociais e gradual extinção da
Previdência Social (OLIVEIRA, 2004, p. 471).

Concentração de renda, pobreza e desigualdade social foram alguns dos


fatores preponderantes para a composição das falhas da efetividade da ci-
dadania nos países latino-americanos como resultado das medidas de ajuste
produtivo promovidas pela globalização capitalista (ANTUNES, 2001; OLIVEIRA,
2004; SANTOS, 2002; SEN, 2000). A ideia de justiça social, nesse contexto, emerge
como o princípio de retomada da responsabilidade do Estado na definição dos
direitos com base na dignidade da pessoa e em sua possibilidade de autono-
mia — haja vista que o poder do Estado, segundo a premissa contratualista
dos Estados-nação democráticos, se constitui da transferência do poder que
emana. Assim, a responsabilidade do Estado é retomada (SEN, 2000).
Essa responsabilidade pode ser instrumentalizada principalmente por meio
de políticas públicas que considerem tanto os direitos anexos ao conceito
de cidadania quanto os fatores macroeconômicos e políticos que afetam tal
execução. Parte dessas políticas públicas derivam de políticas de Estado
(SANTOS, 2000, 2002; SEN, 2000). Por exemplo, no Brasil a saúde é um direito
universal — gratuito e irrestrito, estendido a todas as pessoas que estejam
em território nacional, brasileiras ou não. Esse direito do sujeito, obrigação
do Estado, é assegurando no art. 196 da Constituição Federal de 1988, que
aponta o acesso igualitário e universal aos serviços de saúde (BRASIL, 1988).
12 Globalização, justiça social e cidadania

Se no Brasil a saúde é direito universal e dever do Estado e há conjunturas


econômico-políticas que configuram padrões de desigualdade social, qual é
a forma de execução da justiça social nesse caso? Considerando esse quadro,
a forma está nas ações anexas à configuração da seguridade social pautadas
na noção de equidade social — a observação de demandas e necessidades
de grupos sociais e sujeitos, que são diversas, para que sejam atendidas e
proporcionem acesso igualitário aos bens sociais e ao bem-estar.

No Brasil, a seguridade social, que promove o bem-estar social,


se baseia em três pilares: a saúde (universal), a previdência social
(condicional, depende da contribuição do sujeito) e a assistência social (para
quem dela necessite, segundo análise das demandas). Cada um dos elementos
desse tripé fundamenta as responsabilidades do Estado (na dimensão da saúde
e da assistência social), bem como a vinculação com a sociedade civil e com o
sistema produtivo (na dimensão da previdência). Em cada um deles, políticas
públicas são desenvolvidas segundo a observação da equidade social: a obser-
vação das diferenças para a possibilidade do acesso igualitário.
O tripé da seguridade social é uma ação do Estado baseada na responsa-
bilidade pela promoção da efetividade da cidadania, utilizando como exemplo
a Constituição Federal brasileira de 1988. Esses instrumentos procuram atuar
onde há déficits causados pelo Estado ou pelo mercado e que influenciam a
inefetividade da cidadania, como, por exemplo, na assistência social a pessoas
que não conseguem manter-se de forma autônoma. Essa impossibilidade não
recai sobre a pessoa, mas se reconhecem as inconsistências e as deficiências
do mercado e das ações econômicas do Estado.

A assistência social, assim, pode ser vista como um exemplo de ação


para a justiça social, mas não pode ser o único viés de orientação para esse
tipo de ação. É preciso que o Estado se coloque de forma a permitir, de ma-
neira equitativa, que os sujeitos sejam inseridos no mercado de trabalho e
mantenham-se de modo autônomo, na premissa capitalista.

Cidadania e justiça social nos processos de


globalização
Na seção anterior, vimos que as desigualdades no acesso aos bens e aos
direitos promovidos pelo conceito de cidadania podem ser causadas pelas
condições econômicas e de mercado e pelo seu vínculo com o Estado nos
processos de globalização — como, por exemplo, a precarização do trabalho,
que leva à necessidade de assistência social. Para compreender as possibili-
dades de ação e desenvolvimento de estratégias para a execução da justiça
Globalização, justiça social e cidadania 13

social e a efetividade da cidadania nos contextos de globalização do século


XXI, é preciso retomar o conceito de equidade.
De acordo com Rawls (2003), está no reconhecimento da heterogeneidade
do tecido social uma das portas de ajuste para a justiça social: pensar em
igualdade de direitos, mas não em igualdade de ações, já que cada sujeito
ou grupo social é afetado de maneiras distintas pela configuração política
e econômica da globalização contemporânea. Assim, a noção de equidade,
segundo Rawls (2003, p. 60), deve considerar os seguintes pontos:

[...] (a) cada pessoa tem o mesmo direito irrevogável a um esquema plenamente
adequado de liberdades básicas iguais que seja compatível com o mesmo esque-
ma de liberdades para todos; e (b) as desigualdades sociais e econômicas devem
satisfazer duas condições: primeiro, devem estar vinculadas a cargos e posições
acessíveis a todos em condições de igualdade equitativa de oportunidades; e, em
segundo lugar, têm de beneficiar ao máximo os membros menos favorecidos da
sociedade (o princípio de diferença).

A noção de igualdade equitativa de oportunidades apresentado por


Rawls (2003) se concentra na consideração das particularidades dos grupos
sociais no acesso às mesmas oportunidades. Como exemplo, pensemos
nas relações de gênero no contexto brasileiro. O Brasil é uma democra-
cia representativa-participativa, o que significa que o povo escolhe seus
representantes no poder. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral
(BRASIL, 2018), pouco mais de 51% do eleitorado brasileiro é composto
por mulheres, mas, no Poder Legislativo, essa proporção está distorcida:
elas alcançaram 34,8% no pleito de 2020 (um aumento de mais de 7% com
relação ao pleito de 2018).

Até o século XXI, o plenário brasileiro não tinha um banheiro feminino.


Esse fato pode levar a duas reflexões: a adequação da democracia
representativa brasileira às questões de gênero e a importância da presença
de mulheres nos espaços de poder (ALEGRETTI, 2016).

Se a equidade está na consideração das particularidades dos grupos


sociais, é preciso considerar a multiplicidade de características que com-
põem sua identidade. Essa consideração multifacetada compõe olhares
transversais sobre os sujeitos, e, por isso, também as ações para a equidade
devem ser transversais. Tendo em conta o exemplo das relações de gênero
na representatividade da democracia brasileira, a equidade nas ações de
justiça social deve considerar também as perspectivas transversais e o fato
14 Globalização, justiça social e cidadania

de que o conjunto social formado pelas mulheres não é homogêneo: há


particularidades raciais, de origem, etárias, etc. (ALMEIDA, 2000).
Por exemplo, as necessidades de uma mulher branca cisgênero (cuja
identidade reflete seu sexo biológico) são diferentes das de uma mulher
preta cisgênero, que são diferentes das de uma mulher indígena transgênero
(cuja identidade é diversa daquela expressa pelo sexo biológico), que, por sua
vez, são diferentes das de uma mulher branca transgênero com deficiência
(ALMEIDA, 2000). Considerando as mulheres com deficiência, uma pessoa
surda e uma cadeirante têm necessidades distintas. No entanto, as ações
para justiça social que acolhem uma mulher cadeirante preta, indígena ou
branca podem acolher também um homem cadeirante preto, indígena ou
branco. Assim, as ações transversais para a equidade têm o potencial de, na
observância das particularidades de um grupo social específico, beneficiar
outros cujas demandas possam assemelhar-se, mesmo se tratando de grupos
sociais distintos (ALMEIDA, 2000; SEN, 2000).
É por meio do reconhecimento das particularidades e da multiplicidade de
características que formam as identidades dos cidadãos que as ações para a
equidade social proporcionam uma aproximação aos panoramas da igualdade
(ALMEIDA, 2000). Contudo, é preciso salientar que se trata de proporcionar
acesso ao bem-estar e à possibilidade de participação, empoderamento e
autonomia, e não de tornar homogêneas as políticas sociais (RAWLS, 2003;
SEN, 2000).
De acordo com Freire (1987), a justiça social parte de um olhar crítico
sobre as dinâmicas sociais, mas também sobre os projetos políticos que têm
impactos sobre a formação dos sujeitos. Nesse sentido, a justiça social bene-
ficia a sociedade como um todo, já que os sujeitos são “seres ‘em situação’,
se encontram enraizados em condições tempo-espaço que os marcam e a
que eles igualmente marcam” (FREIRE, 1987, p. 58). A percepção da realidade
também possibilitaria a transformação social, por meio do engajamento:

Só na medida em que esta deixa de parecer-lhes uma realidade densa que os en-
volve, algo mais ou menos nublado em que e sob que se acham, um beco sem saída
que os angustia e a captam como situação objetivo-problemática em que estão, é
que existe o engajamento. Da imersão em que se achavam, emergem, capacitando-
-se para inserir-se na realidade que se vai desvelando (FREIRE, 1987, p. 58).

Para Fraser (2002), os desafios contemporâneos para a justiça social são


múltiplos, desde o reconhecimento social (especialmente por parte dos in-
tegrantes de grupos privilegiados) da necessidade das políticas transversais
que promovem a equidade até sua expressão nas instituições representativas:
Globalização, justiça social e cidadania 15

[...] um outro traço que define a globalização é a politização generalizada da cul-


tura, especialmente nas lutas pela identidade e diferença — ou, como passarei
a designá-las, as lutas pelo reconhecimento — que explodiram nos últimos anos
(FRASER, 2002, p. 8).

Fraser (2002, p. 8) aponta que, no bojo da busca pelos direitos que fomen-
tam a cidadania, é a luta pelo reconhecimento social das múltiplas identidades
e grupos sociais que impulsiona a busca pela justiça social:

[...] reivindicação de reconhecimento é a força impulsionadora de muitos conflitos


sociais, desde batalhas sobre o multiculturalismo a lutas sobre as relações sociais
de sexo e a sexualidade, desde campanhas pela soberania nacional e autonomia
subnacional a esforços para construir organizações políticas transnacionais, desde
a jihad fundamentalista aos revivescentes movimentos internacionais de direitos
humanos.

Neste capítulo, apresentamos o conceito de globalização e refletimos


sobre o modo como ele afeta as relações econômicas, políticas e até mesmo
as interações entre sujeitos e Estado na definição do conceito de cidadania.
Considerando este último conceito, vimos que os panoramas de produção
econômica alinhados aos modelos na globalização produziram quadros de
inefetividade da cidadania. Como possibilidade de ajuste, o conceito de
justiça social se baseia nas políticas públicas para a promoção do acesso ao
bem-estar social e à autonomia, valorizando o protagonismo dos sujeitos.
Tal protagonismo é possível quando se desloca o conceito de igualdade para
o de equidade social.
A equidade depende de ações orientadas pelo Estado, mas assimiladas pela
sociedade civil. No entanto, ela pode ser profundamente influenciada pelas
dinâmicas comerciais, produtivas e políticas globalizadas. Nesse contexto, um
dos desafios para a execução da justiça social está nas incertezas causadas
pelo deslocamento desse pêndulo de poder, que permaneceu por quase meio
século sobre os Estados Unidos e seus aliados políticos e econômicos. Contudo,
a retomada de práticas nacionalistas já apresenta um produto perigoso e
difícil para o mundo: a ofensiva russa sobre a Ucrânia, que revela também
um desafio aos aliançados da Organização do Tratado do Atlântico Norte
(Otan), bloco de aliança militar. Os efeitos dessas transformações intensas
num planeta permeado por relações globalizadas — cujo capital também o
é — ainda não estão claros. No entanto, é possível que os países considerados
periféricos, caso não atuem no desenvolvimento social e econômico internos,
sejam os que mais sofram os efeitos negativos.
16 Globalização, justiça social e cidadania

Referências
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Leituras recomendadas
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-do-senado-tera-banheiro-feminino-55-anos-apos-inauguracao.html. Acesso em: 16
jun. 2022.
GORENDER, J. Globalização, tecnologia e relações de trabalho. Estudos Avançados, v.
11, n. 29, p. 311-361, 1997 Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/8TW9fXgDfpK3n
37KyjDnpQb/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 16 jun. 2022.
HARVEY, D. A justiça social e a cidade. São Paulo: Hucitec, 1980.
OLIVEIRA, E. A. Modos de produção industrial e organização do trabalho: Taylorismo, For-
dismo, Toyotismo, Volvismo e o nascer do “Uberismo”. Brasil 247, 4 set. 2020. Disponível
em: https://www.brasil247.com/blog/modos-de-producao-industrial-e-organizacao-
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UNITED NATIONS. Global FDI flows down 42% IN 2020: further weakness expected in
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https://unctad.org/system/files/official-document/diaeiainf2021d1_en.pdf. Acesso
em: 16 jun. 2022.

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Dica do professor
A formação dos Estados-nação a partir do século XIX tem íntima relação com a formação do
mercado capitalista global que inicia os processos de globalização. A formação de um Estado
independente ocorre diante da necessidade de formação de mercados consumidores após a
transição da exploração colonial para a produção industrial.

Nesta Dica do Professor, você verá uma situação que espelha esse processo: a formação do
Uruguai, produto da disputa por mercado e trânsito de mercadorias entre potências coloniais que
lutavam pela manutenção do poder e as novas potências capitalistas que atuavam de forma
diplomática para fomentar o poder político vinculado à produção.

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Exercícios

1) Embora tenha sido foco das reflexões sobre as relações internacionais nas décadas de 1980
e 1990, a globalização é um processo longo, que remonta aos movimentos de organização e
reorganização dos Estados a partir do século XX. As interações observadas nas décadas
finais do século XX são ainda produtos de ajustes não lineares que sofreram diferentes
influências e intercorrências ao longo do século.

Considerando essas informações, como a globalização pode ser descrita?

A) Processo de exacerbação dos nacionalismos.

B) Procura pela homogeneização das relações econômicas e políticas.

C) Resultado dos ajustes nas economias conservadoras do século XX.

D) Compensação das perdas dos Estados a partir da ruptura com o Absolutismo.

E) Isolamento das soberanias com limitação das interações entre diferentes Estados.

2) Uma das críticas possíveis ao processo de globalização, que incide diretamente na


possibilidade de efetividade dos direitos que compõem a cidadania nas democracias liberais,
é a não observância das características locais, como a cultura, a história, a organização social
e até o clima, na definição das práticas econômicas que tenham por modelo casos de sucesso
em nações com altos índices de desenvolvimento industrial.

Considerando essas informações sobre as críticas à globalização, analise as afirmativas a


seguir.

I. A globalização tem um movimento identificado dos países protagonistas, que atingiram o


maior desenvolvimento industrial, sobre os países em desenvolvimento, o que leva à
importação de modelos já desenvolvidos.

II. Ao conectar diferentes culturas, a globalização permite que se reconheça o valor da


pluralidade cultural, social e política, fazendo emergir novos modelos de organização
produtiva.

III. A ideia de economia globalizada remonta à necessidade capitalista de expansão do


mercado consumidor, para o manejo da progressão produtiva e de acumulação do sistema.
IV. A globalização tem como desafio a dificuldade em extrapolar fronteiras, dada a
inflexibilidade do nacionalismo emergente com os estados liberais no século XIX.

Está correto o que se afirma em:

A) I e II.

B) II e III.

C) I e III.

D) II e IV.

E) I e IV.

3) Assim como as práticas produtivas, a cidadania é um conceito que se torna globalizado,


atingindo diferentes tipos e formas de Estado a partir do século XIX, mas, especialmente, os
Estados-nação organizados como democracias capitalistas liberais. O conceito que se baseia
na constituição de uma série de direitos elementares também fomenta a premissa de
igualdade entre os sujeitos.

Considerando a premissa da igualdade correlata à cidadania, marque a alternativa correta.

A) A igualdade social é alcançada quando são observadas as políticas orientadas para o princípio
da equidade.

B) As políticas públicas devem ser as mesmas para cada cidadão, independentemente de raça,
gênero, origem.

C) A cidadania está ligada ao sistema capitalista, inexistindo em Estados com diferentes modelos
produtivos.

D) A cidadania se constitui a partir das demandas sociais e da exposição do que é importante


para cada sujeito.

E) A igualdade social se baseia no princípio da homogeneidade social, ou seja, da composição da


sociedade por pessoas com as mesmas características.

4) A ideia de contrato social e transferência de poder entre povo e Estado na construção dos
Estados liberais contemporâneos é o que fundamenta a premissa de responsabilização do
Estado pela manutenção e proteção dos direitos que fomentam a cidadania. Esses direitos
devem alcançar e ser efetivos, ou seja, funcionais, para toda a população, sem restrições,
uma vez que um dos princípios da cidadania é a igualdade.

A observação da desigualdade na efetividade da cidadania, relativa à atuação e


responsabilidade do Estado na promoção do bem-estar social, está também relacionada a
padrões de:

A) justiça social.

B) injustiça social.

C) igualdade entre os povos.

D) responsabilização do Estado.

E) indiferença da população pelos direitos.

5) A premissa elementar da noção de justiça social busca nos fundamentos do Estado, em seu
aporte jurídico, como a constituição, os elementos que descrevem e justificam a
responsabilidade do Estado na promoção do bem-estar social como condição da qualidade
de vida, especialmente nas nações democrático-capitalistas.

Considerando essas informações, analise as afirmativas a seguir, assinalando V (verdadeiro)


ou F (falso).

I. ( ) A justiça social se observa na desigualdade entre as pessoas.

II. ( ) As políticas contemporâneas para a justiça social devem observar as necessidades


particulares de pessoas e povos.

III. ( ) As políticas públicas que beneficiam grupos sociais específicos promovem a


desigualdade social, aumentando os privilégios.

IV. ( ) A efetividade da cidadania depende da observância da pluralidade do tecido social.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) F, V, F, V.

B) V, F, V, F.

C) V, V, F, F.

D) F, F, V, V.
E) F, V, V, F.
Na prática
A premissa da justiça social é equalizar contextos e oportunidades para a diminuição das
desigualdades, promovendo ações, ferramentas e plataformas que auxiliem pessoas ou grupos
sociais que de alguma forma não têm seus direitos elementares sociais, políticos e civis efetivados
pelo Estado.

Nesse contexto, quando há desigualdade (social, política, econômica) que gere processos de perdas,
violência, marginalização ou exclusão social, é responsabilidade do Estado promover políticas
públicas que observem tais desigualdades, identificando quando e porque a efetividade dos direitos
torna-se um privilégio que somente uma parcela da sociedade civil tem acesso.

Acompanhe, neste Na prática, uma situação em que é possível — e necessário — observar as


diferenças e dificuldades dos grupos sociais de forma a implentar ações para a equidade,
oportunizando assim acessos igualitários às mesmas oportunidades.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos


Os direitos humanos são considerados os direitos elementares da pessoa e conferem a dignidade
que excede a premissa principal do direito à vida. Nesse conjunto de direitos elementares se
baseiam os apoios nucleares dos direitos civis, sociais e políticos que compõem a cidadania. Neste
material, confira o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos do Brasil.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Globalização, desglobalização e o Brasil


Você já ouviu falar em "desglobalização"? Após a disseminação global dos ajustes neoliberais, entre
as décadas de 1980 e 2000, é possível observar uma retomada do nacionalismo político e
econômico, com ações protecionistas e de fortalecimento das fronteiras físicas e
virtuais/simbólicas. No entanto, muitas práticas que permitiram a conexão global permanecem
ativas. Para saber identificar o contexto e os desafios específicos para o Brasil, confira este
material.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Justiça social: uma trajetória conceitual


As práticas de justiça social são associadas à inserção de pessoas que sofrem marginalização nos
contextos sociais, mas vão muito além disso. É no aporte jurídico que fundamenta o Estado e na
composição do poder de suas estruturas que repousa a justificativa para a emergência do conceito
de justiça social.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

Ética e cidadania
A globalização promoveu a expansão do conceito de cidadania, levando-o a diferentes Estados e
sociedades. No entanto, a premissa da efetividade nem sempre é cumprida. Leia o capítulo
"Cidadania e desigualdade social" para aprofundar-se na composição histórica e teórica do conceito
de cidadania e identificar a globalização como uma das razões para os casos de inefetividade
gerados pela desigualdade social.

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