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Apresentação
Na década de 1980, a ideia de “aldeia global” permeava as discussões políticas, as interpretações
sobre os rumos da economia e das interações comerciais, mas, especialmente, estava presente nas
interações culturais. A noção de que o globo era uma “aldeia” era fomentada pela globalização,
pelos estreitamentos de relações comerciais, políticas e pela maior proporção nas interações
culturais entre diferentes sociedades, possibilitadas — e até mesmo pressionadas — pelas práticas
da produção capitalista global.
A ideia era confirmada pela rapidez no transporte, pelo diálogo multidirecionado entre as nações e
pela explosão das telecomunicações e pelo aparecimento da internet. No entanto, as soberanias
nacionais, com suas particularidades sociais, culturais, históricas, geográficas e até climáticas
permaneciam. As relações políticas e comerciais imprimiam a necessidade orientada de um modelo
homogêneo de produção e interação, mas tal homogeneidade leva a falhas na execução da
cidadania como composição conjunta dos direitos sociais, civis e políticos nas nações.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá como se forma e qual é o conceito de globalização a
partir do reconhecimento da trajetória histórica das interações econômico-produtivas no
capitalismo. Verá ainda que tal trajetória influencia a formação dos Estados-nação e sua relação
com o povo, na criação do conceito de cidadania, reconhecendo a premissa da igualdade do
conceito e a consequente perspectiva de justiça social. Por fim, verá que a globalização leva a
alguns desafios na definição das estratégias para a justiça social e o resguardo dos direitos
componentes da cidadania.
Bons estudos.
• Definir globalização.
• Relacionar justiça social e cidadania.
• Avaliar os desafios da justiça social e da cidadania diante da globalização.
Desafio
Alguns dos efeitos observáveis nos processos de interação entre diferentes sociedades na
globalização acontecem sobre a cultura, geralmente das nações mais dependentes
economicamente, menos desenvolvidas ou em desenvolvimento. Nesse sentido, as atividades
econômicas globalizadas podem levar à formação de novos tipos de imperialismos e imperialismos
regionais contemporâneos, em que a nação dominante exerce um processo de aculturação ou
inicia-se na comunidade local e na assimilação cultural.
Neste Infográfico, você verá a composição da noção de cidadania a partir dos direitos sociais, civis
e políticos.
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Conteúdo do livro
A globalização pode ser compreendida como um processo que estreita as relações entre diferentes
soberanias e povos em três pontos principais: a economia, as relações políticas e as interações
culturais. Essa aproximação foi progressivamente impulsionada pelas transformações observadas
com o advento do capitalismo: as sociedades industriais aproximadas pelo transporte a vapor, no
século XX, que possibilitou o trânsito cultural e a aceleração na troca de mercadorias; as sociedades
pós-industriais em meados do século XX, que implementavam modelos já prontos de produção e
organização política; e as sociedades a partir da Quarta Revolução Industrial, orientadas pelas
comunicações imediatas permitidas pelas telecomunicações.
No capítulo Globalização, justiça social e cidadania, base teórica desta Unidade de Aprendizagem,
você poderá vincular a globalização à trajetoria histórica das relações comerciais capitalistas,
definindo o conceito. Poderá relacionar as ideias de cidadania e justiça social, identificando como
cada conceito emerge e onde é aplicado. Poderá ainda avaliar os desafios contemporâneos da
justiça social e da cidadania diante da globalização.
Boa leitura.
SOCIEDADE E
CULTURA
Globalização, justiça
social e cidadania
Aline Michele Nascimento Augustinho
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A globalização pode ser definida como um processo orientado pelas práticas
econômico-produtivas no capitalismo: o sistema necessita de mercados amplos,
que apoiem a progressão de produção, acumulação e lucro que permitem sua
estabilidade. Na medida em que os Estados se formaram orientados para essas
dinâmicas, a partir do século XVIII e especialmente do século XIX, as interações
comerciais entre os países levam à reprodução de modelos produtivos, de orga-
nização social, políticos e até mesmo de estruturação das instituições do Estado.
No processo de organização e estruturação dos novos Estados, o reconheci-
mento do poder e da necessidade de participação do povo nas democracias faz
emergir o conceito de cidadania, conjunto de direitos elementares que conduz e
explica as relações entre sujeito, sociedade e Estado e torna iguais em direitos
todos os cidadãos. Essa conjuntura que torna relativamente homogêneas as
práticas econômicas e produtivas tem efeitos significativos sobre a cultura e
as formas de organização das sociedades nesses Estados. Tais efeitos, porém,
são diferentes e não homogêneos, porque são influenciados pela configuração
histórica, social, geográfica e climática de cada região. Nesse sentido, os benefí-
2 Globalização, justiça social e cidadania
Sem esquecer que essas utopias, que no limite se dissolvem em uma só, inspiram
a prática e o discurso, a publicidade e a retórica, as diretrizes e as exigências, de
uns e outros situados nas organizações, corporações, estruturas e blocos de poder
que administram as linhas básicas da globalização do mundo pelo alto.
A partir das teorias de Ianni (1998), Weffort (1990) e Santos (2000), é possível
entender que a busca pelo desenvolvimento nas relações econômico-políticas
globalizadas nem sempre mostra resultados positivos nos países periféricos,
e então as instabilidades sociais e políticas emergem. Essa configuração foi
um dos fatores que possibilitou a emergência dos conflitos bélicos e dos
regimes autoritários, especialmente na América Latina, na Ásia e na África a
partir da década de 1950. Ela acarretou, ainda, a polarização ideológica entre
comunismo/socialismo e capitalismo/democracia promovida pela Guerra Fria,
conflito indireto entre Estados Unidos e União Soviética que utilizou campos
externos de apresentação de poder e hostilidade, como a Guerra das Coreias
e a Guerra do Vietnã.
Globalização, justiça social e cidadania 9
[...] (a) cada pessoa tem o mesmo direito irrevogável a um esquema plenamente
adequado de liberdades básicas iguais que seja compatível com o mesmo esque-
ma de liberdades para todos; e (b) as desigualdades sociais e econômicas devem
satisfazer duas condições: primeiro, devem estar vinculadas a cargos e posições
acessíveis a todos em condições de igualdade equitativa de oportunidades; e, em
segundo lugar, têm de beneficiar ao máximo os membros menos favorecidos da
sociedade (o princípio de diferença).
Só na medida em que esta deixa de parecer-lhes uma realidade densa que os en-
volve, algo mais ou menos nublado em que e sob que se acham, um beco sem saída
que os angustia e a captam como situação objetivo-problemática em que estão, é
que existe o engajamento. Da imersão em que se achavam, emergem, capacitando-
-se para inserir-se na realidade que se vai desvelando (FREIRE, 1987, p. 58).
Fraser (2002, p. 8) aponta que, no bojo da busca pelos direitos que fomen-
tam a cidadania, é a luta pelo reconhecimento social das múltiplas identidades
e grupos sociais que impulsiona a busca pela justiça social:
Referências
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Leituras recomendadas
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em: 16 jun. 2022.
Nesta Dica do Professor, você verá uma situação que espelha esse processo: a formação do
Uruguai, produto da disputa por mercado e trânsito de mercadorias entre potências coloniais que
lutavam pela manutenção do poder e as novas potências capitalistas que atuavam de forma
diplomática para fomentar o poder político vinculado à produção.
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Exercícios
1) Embora tenha sido foco das reflexões sobre as relações internacionais nas décadas de 1980
e 1990, a globalização é um processo longo, que remonta aos movimentos de organização e
reorganização dos Estados a partir do século XX. As interações observadas nas décadas
finais do século XX são ainda produtos de ajustes não lineares que sofreram diferentes
influências e intercorrências ao longo do século.
E) Isolamento das soberanias com limitação das interações entre diferentes Estados.
A) I e II.
B) II e III.
C) I e III.
D) II e IV.
E) I e IV.
A) A igualdade social é alcançada quando são observadas as políticas orientadas para o princípio
da equidade.
B) As políticas públicas devem ser as mesmas para cada cidadão, independentemente de raça,
gênero, origem.
C) A cidadania está ligada ao sistema capitalista, inexistindo em Estados com diferentes modelos
produtivos.
4) A ideia de contrato social e transferência de poder entre povo e Estado na construção dos
Estados liberais contemporâneos é o que fundamenta a premissa de responsabilização do
Estado pela manutenção e proteção dos direitos que fomentam a cidadania. Esses direitos
devem alcançar e ser efetivos, ou seja, funcionais, para toda a população, sem restrições,
uma vez que um dos princípios da cidadania é a igualdade.
A) justiça social.
B) injustiça social.
D) responsabilização do Estado.
5) A premissa elementar da noção de justiça social busca nos fundamentos do Estado, em seu
aporte jurídico, como a constituição, os elementos que descrevem e justificam a
responsabilidade do Estado na promoção do bem-estar social como condição da qualidade
de vida, especialmente nas nações democrático-capitalistas.
A) F, V, F, V.
B) V, F, V, F.
C) V, V, F, F.
D) F, F, V, V.
E) F, V, V, F.
Na prática
A premissa da justiça social é equalizar contextos e oportunidades para a diminuição das
desigualdades, promovendo ações, ferramentas e plataformas que auxiliem pessoas ou grupos
sociais que de alguma forma não têm seus direitos elementares sociais, políticos e civis efetivados
pelo Estado.
Nesse contexto, quando há desigualdade (social, política, econômica) que gere processos de perdas,
violência, marginalização ou exclusão social, é responsabilidade do Estado promover políticas
públicas que observem tais desigualdades, identificando quando e porque a efetividade dos direitos
torna-se um privilégio que somente uma parcela da sociedade civil tem acesso.
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Ética e cidadania
A globalização promoveu a expansão do conceito de cidadania, levando-o a diferentes Estados e
sociedades. No entanto, a premissa da efetividade nem sempre é cumprida. Leia o capítulo
"Cidadania e desigualdade social" para aprofundar-se na composição histórica e teórica do conceito
de cidadania e identificar a globalização como uma das razões para os casos de inefetividade
gerados pela desigualdade social.
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