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A DINÂMICA DO CAPITALISMO

Discente: Gabriel Moreira Gomes Cavalcanti


Disciplina GF129A
2021

Obra:
BRAUDEL, Fernand. A dinâmica do capitalismo.
tradução Álvaro Cabral. – Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

O livro sob análise desenvolve um estudo acerca do fenômeno do capitalismo,


partindo de um estudo historiográfico de diferentes épocas e civilizações. O Autor,
Fernand Braudel, nasceu na França, em 1902, e foi um renomado historiador, integrante
da chamada “escola dos Annales”, movimento historiográfico do seu país de origem que
incorporava métodos das Ciências Sociais ao estudo da disciplina da História.
O texto foi escrito em três capítulos: o capítulo I (Repensando a vida espiritual
e a vida econômica) apresenta conceitos básicos que são abordados em toda a obra e
traça uma análise histórica dos séculos XV ao XVIII para explicar as diferentes facetas
do desenvolvimento econômico na Europa e no mundo; o capítulo II (Os jogos da troca)
avança nas explicações da distinção entre economia de mercado e economia capitalista,
abordando os seus efeitos na sociedade (acumulação de capital e concentração de
poder); capítulo III (O tempo do mundo) sintetiza o livro para mostra como o
capitalismo atingiu o seu ápice e se tornou o que é hoje.
No primeiro capítulo, faz-se menção a diversos conceitos que serão trabalhados
no livro e que buscam elucidar as principais questões em torno do tema principal: o
desenvolvimento histórico do capitalismo no mundo. Logo de início, o autor afirma ser
“evidente que a economia, em si, é coisa que não existe”, contrapondo a esse conceito a
ideia de “vida material”, que seria a realidade cotidiana, rotineira e habitual, a qual
descreve como “vida ativa”, onde “tudo é técnica”.
Seguindo esse caminhar, procede com uma detalhada história econômica, mas
chamando atenção para a coexistência de diferentes realidades em um mesmo período
histórico (em várias oportunidades, camponeses e indústrias dividem mesmos espaços,
por exemplo). Traçando essa trajetória da “economia da troca” explica como a moeda
facilitou o desenvolvimento para uma economia de mercado que organiza a produção e
controla o consumo.
Remonta, então, à evolução do capitalismo no Ocidente: no XV com a
retomada dos mercados nas cidades; no séc. XVI com o surgimento das grandes feiras
internacionais; no séc. XVII, em uma época de estagnação econômica, marcado pelo
comércio marítimo no Atlântico pela Holanda; no séc. XVIII com a circulação livre de
crédito e o aparecimento do contramercado, como fuga da regulamentação oficial; e,
finalmente, analisa também as práticas de troca nos países do Oriente, comparando com
a realidade europeia.
Nessa linha histórica que é criada, identifica os diversos agentes que integram a
economia de mercado: negociantes, consumidores, mercadores. Esses atores podem
integrar aquilo que chama de “registro superior” (formado pelas grandes feiras e bolsas)
ou o “registro inferior” (mercados locais, lojas artesãs e camelôs). Essa hierarquia é,
segundo o historiador francês, essencial para entender onde o capitalismo obteve mais
êxito.
Avançando ao capítulo II, é feita uma distinção entre a economia de mercado e
o capitalismo, dois setores que não se confundem. Para explicar sua tese, o historiador
justifica que, até meados do séc. XVIII, predominava o domínio da vida material, ou
seja, das práticas cotidianas desvinculadas de economicidade ou de constantes trocas de
capital.
Esse processo, contudo, foi sendo alterado aos poucos pela intensificação da
economia de mercado, caracterizada pela relação entre produção e consumo. Isso
passou a ditar a vida cotidiana e enraizou-se no dia a dia das pessoas. Só assim seria
possível entender como surgiu o capitalismo. Este último aproxima-se bastante da
economia de mercado, porém existe em uma esfera de circulação diferente, pois o
capitalismo “difere das condições normais do mercado coletivo por transações
individuais cujos termos variam arbitrariamente segundo a situação respectiva dos
interessados”.
Nessa toada, haveria uma acumulação de capital e concentração de poder em
poucos negociantes, sendo esta uma característica essencial do capitalismo, fato que cria
a hierarquia do mundo das trocas. Ademais, é salientada a capacidade de adaptação e
reconversão do capitalismo, que varia a depender da conjuntura social, como por
exemplo com o “deslocamento do centro de gravidade da economia mundial por razões
econômicas” de Amsterdam para Veneza inicialmente, depois para Londres quando da I
Revolução Industrial e, em tempos mais próximos, a Nova Iorque.
No terceiro e último capítulo, o autor propõe-se a vincular o capitalismo a
“uma história geral de mundo”. Para tanto, difere uma “economia mundial” de uma
“economia-mundo”. A primeira compreende todo o mundo enquanto universalidade
espacial. O segundo refere-se a apenas uma porção do planeta. Essa porção
independente forma um “mundo em si mesmo”: ocupa um espaço geográfico dado;
aceita um polo central1; e se reparte em zonas sucessivas. Essa “economia-mundo” cria
uma espécia de sociedade hierarquizada, com zonas intermediárias em torno do núcleo
central. Aquelas dependentes deste.
Segundo o texto, o capitalismo persiste através dessa uma “sobreposição
regular: as zonas externas alimentam as zonas medianas e, sobretudo, as centrais”. Esse
centro exerce todo o poder sobre a periferia, que torna-se dependente daquele, formando
a superestrutura capitalista.
A dominação que é exercida foi, inicialmente, de uma cidade-estado
(dominação urbana do mundo) e, após a Revolução Industrial Inglesa, passou a ser uma
dominação nacional do mundo. Isso graças ao surgimento do capitalismo industrial, que
só foi possível em razão de fatores conjunturais e estruturais internos e externos à
Inglaterra, que permitiram a emancipação do poderio nesse novo centro.
Em suma, essa diferenciação marcante do livro entre vida material, economia
de mercado, economia capitalista é fundamental para entender toda a crítica que o autor
faz daquilo que considera as características do capitalismo: exploração de recursos;
monopólios de direito e de fato; e restrição uma parte da economia. Para que o
capitalismo tenha persistido, foi preciso uma complacência internacional, que deu-lhe
segurança para avançar e mostrar seu principal efeito: a construção de fortes hierarquias
sociais.

1 No caso da Europa e das zonas que ela anexa, operou-se uma centragem na década de 1380, em
benefício de Veneza. Por volta de 1500, houve um salto brusco e gigantesco de Veneza para
Antuérpia, depois, em 1550-1560, um retorno ao Mediterrâneo, mas desta vez em favor de Gênova;
enfim, por volta de 1590-1610, uma transferência para Amsterdam, onde o centro econômico da zona
européia se estabilizará por quase dois séculos. Entre 1790 e 1815 deslocar-se-á para Londres. Em
1929, atravessa o Atlântico e situase em Nova Iorque. [Pág. 56]

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