Neste capítulo do livro, os autores destacam os dois principais processos que caracterizam o
período da Idade Moderna no âmbito econômico. Tais processos são: as transformações
estruturais durante a longa transição do feudalismo para o capitalismo e a expansão mercantil; eles mostram ainda que, apesar de distintos, estes encontram-se estreitamente relacionados. Em relação ao primeiro processo, entende-se pela caracterização da fase final do feudalismo (XVI-XVIII), um período marcado por variados acontecimentos históricos, que no decorrer dessa transição, não apresentam uniformidade. A crise desse sistema se inicia com a desestruturação das relações feudais juntamente de inúmeros conflitos sociais durante os séculos XIV e XV, seguido de uma retomada do crescimento demográfico e uma expansão econômica, acompanhados de mudanças culturais e religiosas diretamente ligadas ao Humanismo, ao Renascimento e às Reformas. Há ainda a posterior crise do século XVII, e as diversas revoluções econômicas em meados do século XVIII, que foram decisivas para o triunfo das relações capitalistas. Em suma, a etapa final do feudalismo é representada pela coexistência de práticas e características típicas do feudalismo em processo de desintegração, e de outras capitalistas, em ascensão. No que diz respeito à expansão mercantil, os autores buscam inicialmente explicar os principais antecedentes do processo de maneira a entendermos o contexto político, social e cultural da época, assim como também o impacto dessas transformações para as diversas nações europeias que fizeram parte desse processo. Tanto a expansão demográfica quanto a introdução e aperfeiçoamento de novas técnicas agrícolas foram importantes para impulsionar a expansão econômica, visto que desencadearam alterações nas relações feudais entre senhores e servos, processo conhecido como liberação da mão de obra camponesa, segundo alguns historiadores. Essas mudanças, somadas ao surto comercial e ao crescimento urbano da época levaram ao aumento das transações comerciais entre campo e cidade, o que foi extremamente importante para o início de uma economia mercantil e monetária. Futuramente, as rotas mercantis se expandiram, levando à acumulação de capital e ao desenvolvimento de novos métodos comerciais. Com relação às grandes rotas e trocas comerciais, a formação e a expansão dos circuitos intraeuropeu e o extraeuropeu foram dois fatores que tiveram grande influência no desenvolvimento do capital comercial. O primeiro circuito, predominante até meados de 1750, compreendia uma pequena quantia de exportações e um crescente volume de importações. Já o segundo, cujo auge ocorreu no século XVIII, incluíam três grandes áreas, sendo estas a América, Índias e China. Os circuitos extraeuropeus relacionam-se aos efeitos das grandes navegações e descobrimentos durante os séculos XV e XVI, que impactaram fortemente na expansão econômica dos países europeus, devido ao afluxo de metais preciosos, às inovações em setores produtivos, a introdução de novas técnicas agrícolas e o investimento na produção de mercadorias para exportação como alguns dos exemplos que na época fortaleceram o capital comercial. Outro efeito das grandes navegações e da colonização de terras na época do mercantilismo destacado pelo capítulo, foi a formação das hegemonias mercantis, desde a expansão ibérica à expansão holandesa e anglo-francesa, assim como o declínio de cada uma, que resultaram posteriormente na crise do antigo sistema colonial. Todos os fenômenos anteriormente citados fizeram parte do processo chamado mercantilismo, nome que surgiu mais tarde e cujo conceito não é consensual até hoje. Do ponto de vista dos autores “o mercantilismo deve ser entendido como um conjunto de ideias e práticas político- econômicas que caracterizam a história europeia e, principalmente, a política econômica dos Estados modernos europeus entre os séculos XV/XVI e XVIII”, tendo como ideia esclarecedora a definição proposta por Maurici e Dobb (1965). De fato, a política mercantilista buscou garantir objetivos econômicos e sociais, assim como político-sociais que foi construída conforme consideramos épocas e lugares distintos, e cujas ideias e práticas transformaram-se bastante ao longo do período de transição feudal-capitalista. Relacionando as mudanças citadas ao advento da sociedade capitalista, destaca-se aquelas que constituem as condições históricas que levaram ao surgimento de alguns elementos como: capital, trabalho, maquinismo e mercado mundial, sendo os dois primeiros sublinhados neste capítulo, tendo em vista a maneira pela qual o capital concentrou-se em poucas mãos e passou a ser empregado na aquisição de força de trabalho. Em síntese, os autores ressaltam que tanto o processo de acumulação primitiva de capital, quanto a formação do proletariado, assumiram características diferenciadas se levarmos em consideração suas manifestações no decorrer do tempo e espaço, assim como do setor econômico que se tenha em vista.