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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Centro de Filosofia e Ciências Humanas - CFH


Departamento de História
Curso de História

Relatório de Leitura

Gabriela Santana Alves1

1. APRESENTAÇÃO
O relatório a seguir tem como objetivo a análise e a comparação de quatro textos, que
foram lidos durante a Unidade 1 da disciplina de América Portuguesa. A unidade busca, de
forma geral, a compreensão da economia do Brasil Colônia. Para isto, os textos usados
foram: O capítulo A crise no Antigo Sistema Colonial do livro Portugal e Brasil na crise do
Antigo Sistema Colonial (1777-1808) de Fernando Novais, publicado em 1986; Os capítulos
Introdução e A integração do Rio de Janeiro no Sistema Atlântico Português, do livro O
arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma
economia colonial tardia de Manolo Florentino e João Fragoso, publicado em 1998; Os
capítulos Prefácio, O aprendizado da colonização e Conclusão – singularidade do Brasil do
livro O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul de Luiz Felipe de Alencastro,
publicado em 2000; E o artigo de revista O crédito no Brasil no período colonial: Uma
revisão historiográfica de Angelo Alves Carrara, publicado em 2020.
Novais, Florentino, Fragoso e Alencastro são autores consagrados nos estudos do
Brasil Colônia. Fazem uma análise estrutural da economia do Brasil Colonial, com teses
diferentes entre si. Já o texto de Carrara. diferentemente dos textos anteriores, não faz uma
análise estrutural da economia do Brasil Colonial, mas de um aspecto específico: do crédito
no Brasil Colônia.

1
Graduanda, matrícula 21200813, em História.
Trabalho redigido na disciplina HST7303 - História da América Portuguesa, semestre 2022.1, com instruções do
Prof. Dr. Tiago Kramer de Oliveira.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808) -
Fernando Novais
Fernando Novais é um historiador, escritor e professor brasileiro. É doutor pela
Universidade de São Paulo (USP), tornando-se professor desta mesmo antes da conclusão de
seu doutorado. Posteriormente, foi professor do Instituto de Economia da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP) e ao deixar esta universidade, foi professor da Faculdade
de Campinas (FACAMP). Sua tese de doutorado originou o livro lido nesta unidade, que
consagrou Novais como um dos mais importantes historiadores do Brasil. Sua contribuição
para a historiografia do Brasil Colonial foi enorme, e por isso, é influente para as gerações
seguintes de historiadores, em especial, historiadores paulistas.
O livro busca explicar a crise do Brasil Colônia considerando o colonialismo como
sistema. Para isto, o autor usa um recorte temporal que vai do fim do período pombalino
(1777) até a abertura dos portos, com a chegada da família real no Brasil em 1808. O recorte
cobre o período de crise mais intenso da colônia, que culminou na independência do Brasil,
em 1822. O recorte temporal perpassa pela América e a Europa, considerando a ideia de
totalidade do marxismo. O autor busca compreender o Brasil durante o desenvolvimento do
capitalismo na Europa. A documentação usada passou por fontes manuscritas, legislações do
período colonial, balanças comerciais, além de todo um aporte teórico de autores
consolidados.
Um autor que muito influenciou Fernando Novais foi Caio Prado Júnior, o qual se
considera um discípulo. A análise de Novais para a Colonização segue a mesma linha de
Prado Júnior, porém de maneira mais aprofundada. Novais é igualmente influenciado por
Karl Marx, que é a base econômica de seu texto, e por Fernand Braudel, que é utilizado pelo
autor para formar as noções de estrutura e tempo de sua tese.
Em princípio, Novais define o Sistema Colonial como “o conjunto das relações entre
as metrópoles e suas respectivas colônias”.2 Nos Tempos Modernos, o mercantilismo se fez
presente nessas relações, embora nem toda relação colonial seja mercantilista. Dessa forma,
em nível econômico, o sistema foi uma fonte de acumulação primitiva de capital aos países
europeus. A acumulação era imprescindível na transição entre o feudalismo e o capitalismo,
onde se estruturaria as condições necessárias para a construção do capitalismo. A exploração

2
NOVAIS, Fernando A. “A crise do Antigo Sistema Colonial”. In NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na
crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1986, p. 57.
deliberada de territórios dominados acelera a construção destas condições, já que eram
atividades muito lucrativas para a metrópole. Condições estas “que as formas de organização
empresarial da Idade Média estavam longe de prover”. 3 No nível político, o Sistema Colonial
fortaleceu um Estado absolutista, ainda nos moldes da sociedade estamental medieval, mas
agora com o sistema mercantil incorporado.
“Absolutismo, sociedade estamental, capitalismo comercial, política mercantilista,
expansão ultramarina e colonial são, portanto, partes de um todo, inter-agem
reversivamente nesse complexo que se poderia chamar, mantendo um termo de
tradição, Antigo Regime”. 4

Para o autor, o exclusivo metropolitano era essencial para a acumulação. Este garantia
a exclusividade do comércio no Atlântico para as metrópoles europeias, em forma de reserva
de mercado. A colônia comercializa somente com sua metrópole, em uma relação gerava a
transferência de renda para a Europa. Logo, toda a produção feita nas colônias, assim, tinha
como objetivo a exportação e as necessidades do Velho Mundo.
Outro eixo central do texto de Novais é a escravidão. A exploração do trabalho
escravo, para ele, é elemento essencial da exploração na colônia. Enquanto que nas
metrópoles, a ascensão do Mercantilismo provocava o fim da servidão, nas colônias o
Mercantilismo provocava o uso de trabalho compulsório.
“Produzir para o mercado europeu nos quadros do comércio colonial tendentes a
promover a acumulação primitiva de capital nas economias européias exigia formas
compulsórias de trabalho, pois do contrário, ou não se produziria para o mercado
europeu (os colonos povoadores desenvolveriam uma economia voltada para o
próprio consumo), ou se se imaginasse uma produção exportadora organizada por
empresários que assalariassem trabalho, os custos da produção seriam tais que
impediriam a exploração colonial. (...)” 5

Além disso, o tráfico negreiro se constituía como um mercado lucrativo para as


metrópoles, tornando-se um novo setor da economia colonial. Os lucros fluíam para
metrópole, contrariamente a escravidão de indigenas, que se realizava internamente dentro da
colônias.
2.2. O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite
mercantil em uma economia colonial tardia - Manolo Florentino e João
Fragoso
Manolo Florentino e João Fragoso são professores da Universidade Federal do Rio
Janeiro e são referências importantes para os estudos do Brasil Colônia. São doutores pela
Universidade Federal Fluminense e tiveram sua tese orientada por Ciro Flamarion Cardoso,

3
Ibidem, p. 65.
4
Ibidem, p. 66.
5
Ibidem, p. 103.
crítico de Caio Prado Júnior e Fernando Novais, o que influenciou suas obras. A tese de
Fragoso chama-se Homens de grossa aventura e de Florentino chama-se Em costas negras:
uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). O
livro lido nesta unidade é uma junção destas teses. Escrito a quatro mãos, se opõem à
perspectiva de Novais e apresenta novas perspectivas para os estudos da Economia Colonial.
A documentação usada para a construção do trabalho da dupla é bastante vasta. Os
autores analisam inventários e documentação de cartórios do Rio de Janeiro, em busca de
demonstrar as movimentações do comércio interno e externo e da elite colonial
Diferentemente de Novais, que tem como centro de suas ideias a formação do
capitalismo e o eixo Inglaterra-França, Fragoso e Florentino tem como tema central o sistema
atlântico português e a elite mercantil, em uma visão mais interna do que externa. Definem o
sistema atlântico português como espaço de análise, com atenção ao Rio de Janeiro e suas
relações comerciais com a África. O recorte temporal é de 1790 a 1840, período em que “a
economia fluminense esteve amplamente atrelada a algumas das características estruturais
destacadas por nossos clássicos”.6 Logo, este período seria uma boa representação das
características usualmente destacadas. Ao falar do recorte, definem:
“(...) um período de consolidação de novas formas de acumulação econômica do
Sudeste-Sul escravista, formas essas coincidentes com o domínio do capital
mercantil e, pois, com a hegemonia de um nova elite econômica. A elite, nesse caso,
seria constituída pela comunidade de comerciantes de grosso trato residente na
praça mercantil do Rio de Janeiro”.7

Ao longo do livro, os autores formulam a tese que a economia colonial era formada
por uma elite que possuía valores arcaicos e que buscava manter uma hierarquia social
excludente. Para os autores, “os próprios mecanismos de ascensão social implicavam recriar
o padrão excludente”.8 A elite não investia em processos que geravam mais riquezas, mas sim
em luxos, a fim de diferenciá-los do resto da sociedade. Os valores arcaicos desta elite
provém da colonização portuguesa, que para os autores, é diferente das demais e não pode ser
definida usando os mesmos paradigmas. A apropriação do excedente das colônias, em
Portugal, teria sido usado para manter estruturas do Antigo Regime. Assim, procurava-se
manter o mesmo padrão excludente.

6
FLORENTINO, Manolo e FRAGOSO, João. O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e
elite mercantil em uma economia colonial tardia: Rio de Janeiro, c. 1790- c. 1840. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2001, p. 86.
7
Ibidem, p. 84.
8
Ibidem, p. 19.
Outro fator importante na teoria de Florentino e Fragoso é a ideia do controle interno
da terra, comida e pessoas escravizadas. Tais setores, para os autores, seriam não-capitalistas,
e assim, não regidas pelo mercado. Dentro do comércio interno da colônia, que era também
não-capitalista, a apropriação desses setores permitia uma acumulação endógena. Dessa
forma, mesmo que a economia internacional estivesse passando por uma recessão, o Brasil
continuaria estável pois teria autonomia em relação ao capital mercantil. Ao explicar a
economia do Rio de Janeiro no período de 1790 a 1830, a tese dos autores fica mais clara.
Fragoso e Florentino apresentam que neste período, a economia internacional estava em
queda, porém a economia do Rio de Janeiro estava em amplo crescimento. Os engenhos se
multiplicaram com o passar das décadas, a população cresceu e a exportação de café esteve
em ascensão. Além disso, os autores observaram um amplo crescimento das plantations no
Rio de Janeiro. Se antes elas possuíam metade dos escravos, passaram a ter cerca de ¾ dos
escravos do território fluminense. Cresceram também espacialmente, concentrando cada vez
mais território. É também importante mencionar o crescimento do tráfico de almas no Rio de
Janeiro deste período. De acordo com os autores, ⅕ dos desembarques de pessoas
escravizadas do Brasil se deu em território carioca durante o período estudado. Foram mais
de 700 mil pessoas trazidas da África.
“Eis aqui o grande paradoxo: uma economia capaz de enfrentar com êxito qualquer
conjuntura exterior mas que, ao mesmo tempo, sofria uma contínua esterilização de
riqueza produtiva, promovida por seu próprio capital mercantil”. 9

2.3. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul


Luiz Felipe de Alencastro é um historiador e cientista político catarinense muito
respeitado. Sua formação, diferentemente dos autores já citados, se deu fora do Brasil. Ainda
durante sua graduação na Universidade de Brasília, Alencastro foi intimado diversas vezes
por agentes da ditadura e assim, ao ganhar uma bolsa de estudos, resolveu estudar na
Universidade de Sorbonne em Paris. Formou-se na graduação em Sorbonne e fez seu
doutorado na Universidade Paris Nanterre, posteriormente tornando-se professor em diversas
universidades francesas, bem como na UNICAMP. Atualmente leciona na Escola de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV). As primeiras ideias de O trato dos viventes
vem durante seu doutorado, as quais o historiador amadurece e incorpora ao longo de sua
docência na UNICAMP, publicando o livro aqui lido em 2000.10

9
Ibidem, p. 162.
10
MOURA, Mariluce. Luiz Felipe de Alencastro: O observador do Brasil no Atlântico Sul: historiador propõe
que formação do país se deu fora de seu território, modulada por relações econômicas com a áfrica. Pesquisa:
FAPESP, São Paulo, v. 188, p. 10-17, out. 2011.
Quanto à documentação usada pelo autor, é uma documentação bastante diversa, o
que torna o discurso do texto igualmente variado. Alencastro trabalha com análise de
crônicas, poemas, cartas jesuíticas, entre outros textos. Assim o autor perpassa por diversos
assuntos, de forma bastante agradável.
Influenciado por Fernand Braudel, Alencastro baseia sua tese no conceito de
Economia-mundo, um espaço econômico autônomo com uma dinâmica própria. Entende seu
recorte espacial, o Atlântico Sul, como uma zona de Economia-Mundo. Dessa forma,
Alencastro busca demonstrar a dependência do Brasil para com a Angola, e da Angola para
com o Brasil, em uma relação Sul-Sul. Para ele, se trata de “mostrar como essas duas partes
unidas pelo oceano se completam num só sistema colonial”.11. Seu recorte temporal são os
séculos XVI e XVII, com enfoque principal no século XVII, quando Portugal se estabelece
em Angola e passa a gerenciar o Atlântico-Sul.
Alencastro defende que a colonização não era um processo dado, mas resultado do
aprendizado dos colonos. Defende que domínio e exploração não necessariamente ocorrem
juntos no caso brasileiro. Afirma que:
“o excedente econômico ultramarino escapava a Metrópole quando caia em
circuitos avessos a malha portuguesa (...), onde o produto do trabalho extorquido
aos nativos era consumido pelos colonos ou vazava pelo ralo do comércio
regional”.12

Para o autor, a colonização portuguesa se configura diferentemente das outras, em sua


própria realidade sul-atlântica. A parte Sul do Brasil estaria mais próxima economicamente
de Angola, do que do Norte do Brasil. Tal condição se materializa com a criação do Estado
do Grão-Pará e Maranhão, que possuía um governo diferente do Estado do Brasil. Por essas
condições de aproximação, para ele, a formação do Brasil se dá no Atlântico Sul. Essas
aproximações só mudam com o fim do tráfico negreiro, em 1850.
Dessa forma, o tráfico negreiro não seria apenas econômico, mas muito mais que isso.
O tráfico molda o “conjunto da economia, da demografia, da sociedade e da política da
América Portuguesa”.13
2.4. O crédito no Brasil no período colonial: Uma revisão historiográfica
Angelo Alves Carrara é um historiador brasileiro, especialista em História
Econômica, contribuindo também para a história agrária de Minas Gerais. É doutor em
História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e atualmente leciona na Universidade

11
ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Cia das
Letras, 2000, p. 9.
12
Ibidem, p. 19.
13
Ibidem, p. 29.
Federal de Juiz de Fora. O artigo lido é um trabalho relevante de sua produção historiográfica
que busca discutir a questão do crédito no Brasil entre XVII e XVIII, tema já tratado pelo
autor em seu livro À vista ou a prazo: comércio e crédito nas Minas setecentista, publicado
em 2010, entre outras produções.
Carrara continua o movimento de Florentino e Fragoso ao focar no mercado interno, e
não no domínio mercantil, entretanto, discorda dos autores em alguns pontos, como veremos
a seguir. Para apresentar a discussão sobre o crédito, Carrara evoca diversos autores e os
relaciona, demonstrando as aproximações e divergências.
De início, Carrara cita autores como Francisco José Oliveira Viana, José Gabriel
Lemos Brito, Roberto Simonsen, Caio Prado Júnior, entre outros, que construíram a ideia de
que a moeda era escassa no Brasil Colônia. Carrara explica:
“As ênfases podiam diferir quanto a suas causas, em especial a natureza da
economia, como a interpretaram Amaro Cavalcanti, Roberto Simonsen, Pinto de
Aguiar e Frédéric Mauro. Ou, então, quanto a suas consequências: diante da penúria
de numerário, era indispensável o recurso ao crédito, independentemente de os
empréstimos estarem assegurados pelo sentimento de probidade dos grandes
senhores, como pretendia Oliveira Viana e Roberto Simonsen, ou, ao contrário,
destinarem-se a satisfazer o luxo e a pompa desses mesmos senhores, como
asseverava Lemos Brito e Caio Prado Júnior. Outra consequência era a
subordinação dos grandes produtores rurais aos comerciantes, como salientara João
Lúcio de Azevedo, Caio Prado Júnior, Manuel Pinto de Aguiar e Maria Bárbara
Levi”. 14

Ocorre uma mudança quanto à análise de crédito com Rae Flory, a partir de 1978.
Flory utiliza uma documentação mais coerente, com análise de dados quantitativos e com
documentos que não haviam sido utilizados pela historiografia. Ao analisar 300 escrituras de
empréstimo, Flory constatou que 45,3% dos empréstimos em Salvador durante 1698 e 1715
haviam tido como credores instituições religiosas. Homens de negócio representavam 24,8%
dos credores. Entre os devedores, 35% eram senhores de engenho e 16,8% eram lavradores
de cana. Tal constatação representou uma virada de chave na historiografia pois acreditava-se
em uma cadeia de endividamento que envolvia uma subordinação dos senhores de engenho
para com os comerciantes.
Os estudos de Rae Flory influenciam historiadores como Stuart Schwartz e João Luís
Ribeiro Fragoso, um dos autores anteriormente citados. Fragoso analisa o crédito e as cadeias
de endividamento em um capítulo de sua tese de doutorado, onde diz que os empréstimos que
tinham como credores as instituições religiosas seriam uma prova de uma relativa autonomia

14
CARRARA, Angelo Alves. “O crédito no Brasil no período colonial: Uma revisão historiográfica”. Varia
Historia [online]. 2020, v. 36, n. 70, p. 22.
do Brasil para com a metrópole. Fragoso influencia outra série de historiadores brasileiros,
que tem concordâncias e discordâncias entre si.
Na conclusão de seu artigo, Carrara afirma que o estudo de fontes quantitativas e mais
consistentes colocou à luz personagens que até então, não haviam sido destacados. Pequenos
comerciantes, forros, oficiais mecânicos e escravos aparecem como credores e devedores nos
documentos, diferentemente da historiografia anterior que estudava apenas a relação dos
grandes produtores rurais com comerciantes. Mesmo com os avanços da historiografia,
Carrara defende que ainda são necessárias muitas mudanças. Sobre a análise de inventários e
escrituras de empréstimo, o autor afirma que “é imprescindível aprofundar análises destes
registros enquanto instrumentos jurídicos de proteção às operações creditícias”.15 Além disso,
defende que é necessário que as análises aumentem sua proporção espacial e se dediquem
também à análise do crédito no Atlântico.

3. Considerações finais
Dado o conteúdo apresentado, é possível pensar pontos em comum e divergências
entre os quatro autores lidos nessa unidade.
Sobre o Sentido da Colonização, a obra de Novais e a obra de Fragoso e Florentino
tem perspectivas bastante diferentes. Enquanto em Novais pensa-se o Sistema Colonial como
parte da acumulação primitiva de capital dos países europeus para a transição ao capitalismo,
na segunda obra pensa-se o Sentido da Colonização como sendo a forma de perpetuar uma
hierarquia social excludente, a fim de manter a elite colonial no poder. Fragoso e Florentino
pensam o sistema de forma bastante diferente, e não acreditam em uma acumulação primitiva
de capital em Portugal, pela sua natureza arcaica. Além disso, acreditam em uma
independência da Colônia para com a Metrópole. O pensamento de Alencastro encontra-se
mais próximo de Novais, pois não nega a metrópole no controle do sistema. Entretanto, por
motivos diferentes de Novais: Enquanto que para o historiador uspiano, a Metrópole articula
o exclusivo metropolitano, para Alencastro, a economia-mundo se expande e assim, a
Metrópole quer obter lucro desta expansão. Da mesma forma, Alencastro via as relações de
comércio do Brasil Colônia como capitalistas, diferentemente de Fragoso e Florentino.
Outro fator importante é a questão do mercado interno e mercado externo. Em
Novais, pensa-se o mercado interno como diretamente ligado com o mercado externo, pois o
primeiro existiria em função do segundo. A produção na colônia seria pensada para a

15
Ibidem, p. 43.
exportação. Em Fragoso e Florentino, o foco da análise é o mercado interno e considera-se a
autonomia do Brasil Colônia já citada anteriormente. Alencastro também considera o
mercado interno, se localizando entre os pensamentos de Novais e Fragoso e Florentino nesse
quesito. Carrara, assim como Fragoso e Florentino, tem o foco de sua análise no mercado
interno, apesar de acreditar que era preciso explorar as relações de crédito também no
Atlântico.

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