Você está na página 1de 5

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Departamento de História
Disciplina: História do Brasil l
Turno: vespertino
Docente: Margareth de Almeida Gonçalves
Discente: Danielle Miranda de Santanna, Maria Eduarda
Campos Silva e Thiago de Oliveira Reis
Ano / semestre: 2021 - 1

Relatório sobre o texto de Luiz Felipe de Alencastro “O trato dos viventes: formação do
Brasil no Atlântico Sul” e a palestra do autor “Brasil e África no Atlântico Sul”

Luiz Felipe de Alencastro tem uma ampla carreira de lecionação e pesquisa na França,
o autor saiu do Brasil no contexto da ditadura militar e da participação na militância
política da década de 60 após o golpe de 1964. Diante desse cenário vivenciado em sua
trajetória, é um autor, escritor e historiador que tem a particularidade tanto do ponto de
vista de sua vida como cidadão por ter vivido numa época forte da interferência do
ambiente político quanto pela sua longa passagem na universidade da França. Nesse
sentido, podemos analisar como essa capacidade de lidar com uma variedade de
historiografias são extremamente importantes para a escrita do trato dos viventes. 

A abordagem presente no texto é o destaque aos dois modelos que predominaram que
são associados a dinâmicas do reino de português na expansão marítima, ou seja, na
relação do reino c as conquistas.

O primeiro modelo, do ponto de vista cronológico, de expansão marítima, é o sistema


asiático que se configura como uma dinâmica que busca dar sustentação as redes
comerciais, sendo formado por um conjunto de fortalezas de feitorias e por regiões com
um domínio territorial. A dinâmica vai ter início com a ocupação do norte da África,
iniciada por esse padrão de conquistas que se configuram também como praças militares
e de atuação de uma nobreza militarizada em busca de fortalecimento de estatutos
sociais da nobreza.

O sistema atlântico vai se configurar por um modelo de sustentação a partir da


manutenção de atividades agrícolas em fixação de população, no eixo do atlântico a
partir das ilhas do atlântico que vai combinar a cultura da cana de açúcar e a mão de
obra de escravizados. Nesse mapeamento, nota-se tanto uma história política quanto
econômica no âmbito do império português, com um crescimento e consolidação desse
padrão. Luiz Felipe Alencastro desenvolve todo uma argumentação em torno do sistema
atlântico que articula duas partes sendo uma a base territorial da atividade agrícola e
outra que fornece força de trabalho, essa é a ligação do atlântico

A análise do Alencastro apresenta várias influências historiográficas que dão


sustentação podendo ser citadas: Caio Prado Júnior - Formação do Brasil
contemporâneo, Fernando Novais - Brasil na crise do antigo sistema colonial, Vitorino
Magalhães - A economia dos descobrimentos Henriquinos e os descobrimentos e a
economia mundial, Charles Boxer - O império colônia português e Salvador de Sá. A
luta pelo Brasil e Angola e por último Fernand Braudel e Pierre Verger.

Caio Prado Júnior em “Formação do Brasil Contemporâneo” introduz esse sentido


comercial da colonização de fornecer produtos ao mercado europeu e a participação da
colônia no que podemos designar um capital mercantil, estabelecendo uma
subordinação entre metrópole e colônia. Caio é um introdutor de uma perspectiva
Marxista no entendimento do processo histórico no Brasil, de uma colônia que tem o
seu ritmo estabelecido pela dinâmica metropolitana.  

Fernando novais em “Brasil na crise do antigo sistema colonial” reforça o caráter


mercantil da colonização introduzindo o termo do pacto colonial que estabelece esse
mecanismo do exclusivo metropolitano e o papel extremamente relevante do tráfico
negreiro nessa dinâmica do antigo sistema colonial, elementos fundamentais da
engenharia do pacto e das escravidões coloniais.

Os dois livros de Vitorino Magalhães “A economia dos descobrimentos Henriquinos”


e “Os descobrimentos e a economia mundial” percebe-se a influência de criar uma linha
de raciocínio a partir dessa categoria de economia mundo caracterizada pelas
articulações entre parte distintas do globo por meio do Mediterrâneo ou da Europa.
Nesse contexto, a visão de pacto colonial é ampliada por inserir as dinâmicas de
comércio colonial de Portugal nessas mais globais de uma economia mundo.

O historiador inglês Charles Boxer introduz uma categoria império, o período da


pressão da companhia holandesa tanto das índias orientais quanto ocidentais são
fundamentais. A ocupação holandesa do atlântico consolida o reconhecimento da
articulação no completo cafeeiro dessas duas bases de produção, ou seja, a base da
América portuguesa de fundamentação agrícola das propriedades do plantio da cana de
açúcar e dos engenhos e a parte fornecedora de mão de obra. A partir da segunda
metade do século 16 de ocupação territorial com cultivo e de fixação de população em
uso de mão de obra escravizados na costa africana esse projeto é abortado e como
dissertado por Alencastro só será reformado no século 19 com a alternativa dos portos
africanos como fornecedores de força de trabalho de escravizados sendo consolidado a
mão de obra escrava com ganhos advindos do tráfico.

Fernand Braudel e Pierre Verger teve um vínculo extenso com a Bahia que faz a
referência a essa economia bipolar que vai conectar a Bahia a Costa da mina através do
fluxo e refluxo.

Alencastro estende a análise do mercantilismo da colonização e incorpora mecanismo


do pacto colonial e a engrenagem tráfico negreiro em sua abordagem que são
fundamentais para a explicação do sistema colonial.

O capítulo do livro é importante porque vai mostrar onde essa combinação de


dominação colonial e exploração colonial vai descarrilhar e onde terá êxito.  O
aprendizado da colonização tanto pra metrópole quanto pra os colonos devem condizer
com o aprendizado do mercado, ou seja, a combinação da dominação colonial com a
exploração colonial. A finalidade era mostrar que o Brasil e Angola são uma economia
bipolar, onde uma é a zona da produção com mão de obras escravas advindas do
mercado da outra, criando um complemento entra ambas, ou seja, as trocas mercantis
eram ligadas ao tráfico negreiro.

No caminho dos colonos percebe-se uma alteração a essa força inicial que é detida
pelos colonos e essa subordinação que ele chama de governo indireto que é realizado
pelos colonos a ação direta da coroa. Essa mudança ocorre por causa da produção das
minas de prata subordinando os colonos a ação da coroa. A Prata de Potosí reorienta o
fluxo de trocas americanas e permeabiliza o Peru a penetração comercial metropolitana.

O autor começa o capítulo com o Peru porque ele se coloca como modelo de como a
metrópole efetivamente é exitosa na capturação do excedente econômico. Na Angola,
uma tentativa de alinhar essa combinação de fixação e população, desenvolvimento de
atividade agrícola e uso de força de trabalho de escravizados. No Índico, no caso de Goa
nota-se o incentivo a tentativa de aliança entre as elites coloniais e locais e em
Moçambique implementado os prazos da coroa aproveitando por parte dos agentes
coloniais de um uso de uma transmissão da terra por prazos cedidas pelos nativos em
troca de algum pagamento ao agente de poder local. E, no caso do Brasil vamos ter o
extraio excedente presente através do tráfico negreiro.

O autor aponta o exclusivo colonial e sua fixação a partir de 1580, com aprendizado
do mercado coincidindo com o aprendizado da colonização.
Analisando diferentes agentes e dos conflitos que emergem entre colonos o clero e
ordem regulares como os jesuítas e a questão da inquisição, o padroado régio é um
direito concedidas aos governantes reis ibéricos de prover os processos e evangelização
e cristianização fora da Europa. Então, é por meio desse membro religioso e da coroa de
Portugal a diretriz de uma política de fixação tanto do clero regular como do secular,
sendo a coroa responsável financeiramente pela a sustentação dos religiosos nos espaços
de conquistas. Apesar das diferenças do clero regular para o secular, o importante é
entender os religiosos como nessa perspectiva de correia de transmissão do poder
metropolitano.

O tráfico entra no financiamento, virando uma questão econômica, passando a


financiar a produção dos mercados nos lavadouros de cana dos senhores de engenho,
dinamizando o comércio da colônia. A relevância do tráfico é primordial a economia
metropolitana a partir do momento em que se torna inevitável um Brasil sem africanos
devido a sua mão de obra escrava. Salvador de Sá e Benevides lembra da consolidação
do complexo atlântico e o reconhecimento da importância de Angola e do tráfico logo
após a restauração da independência de Portugal de Espanha. Do ponto de vista do
Alencastro, terra e trabalho não são dados independentes, mas como variáveis que são
resultantes das forças do capitalismo comercial, e por sua vez, essa força de trabalho por
vim de Angola cria-se essa dependência.

O Brasil só teve um clico econômico chamado escravidão negra porque o escravismo


africano na visão portuguesa era primordial, por que ao analisar sem Angola não era
possível produzir as riquezas do Brasil devido à falta de mão de obra escrava. A
caracterização do tráfico negreiro brasileiro é bilateral porque 95% dos navios que
entraram nos portos brasileiros saíram dele, exemplificando de acordo com a palestra,
para cada português que entrou no Brasil entrou 6 africanos e meio. Portanto, somos
uma colonização luso africana os africanos também eram estrangeiros por isso temos a
maior população de origem africana fora da África.

A América portuguesa deve ser vista como Brasil, desde o começo foi implementada
uma ideia de nação como se o Brasil tivesse sido descoberto com fronteiras e estados,
ou seja, uma geografia já existente. Entretanto, a realidade do Brasil não era essa porque
havia apenas espaços enclaves coloniais no litoral, ou seja, pessoas espalhadas pelo
denominado território brasileiro atual existindo uma proximidade muito grande c
Angola e em contraposto uma longura da Europa. 
Os indígenas também foram vítimas do tráfico negreiro porque na medida que esse
fluxo contínuo de africanos chegava, sobretudo, depois da retomada de Angola por
Salvador de Sá quando Portugal e os colonos retomam o controle de Angola e surge
Luanda como o maior porto negreiro da África e o Rio de Janeiro o maior das Américas
a intenção de africanos no Brasil passou a tornar a mão de obra indígena mesmo sendo
escrava dispensável, com isso houve o extermínio por atrapalharem a expansão do gado.

Em suma, o historiador e sua historiografia fogem da tradição historiográfica


eurocêntrica diante disso nota-se a formação do Brasil e seu hemisfério sul no mundo
atlântico de uma perspectiva de um Brasil formado por um modelo mercantil com mão
de obra escrava.

Você também pode gostar