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REPÚBLICA DE ANGOLA

GOVERNO DA PROVINCIA DE LUANDA


ADMINISTRAÇÃO DO DISTRITO URBANO DO SEQUELE
LICEU-4073 Pe. INÁCIO TAMBU

Apontamentos de História
11ª Classe
Breves Considerações Sobre a Disciplina

O desenvolvimento da humanidade gravita sobre três elementos fundamentais;


homem, espaço e tempo, tais elementos exercem sua influência em várias dimensões da
vida social, a reflexão do passado na esfera do presente tem seu enfoque na projecção
do futuro com poucas margens de erros do passado, é nessa ordem de ideia que
materializamos a emergência do estudo da história no campo das ciências humanas. O
Estudo da história tem o seu enfoque nas acções do homem no tempo e no espaço no
estudo do passado.

A hermenêutica em volta da ciência história, congrega uma estrutura


tridimensional de conceitos confluídos entre sí, o primeiro repousa na historiografia “o
conjunto de técnicas e métodos utilizados para descrever os feitos históricos”; o
segundo basea-se na historiologia “as explicações, os métodos e as teorias sobre como,
por quê, e em que medida acontecem os feitos históricos” e o terceiro olha para própria
história, com foco nos eventos que realmente acontecem. A história é apresentada de
diferentes formas, do simples registro à análise científica dadas em:

 História científica: olha para os factos, verdades, com método, análise crítica de
causas e consequências, tempo e espaço;
 História narrativa: o narrador apresenta os acontecimentos sem preocupar-se
com a veracidade da história, ele conta somente o que viu, ou ouviu o que
desejar transmitir;
 História pragmática: é a forma de expressar os acontecimentos com uma
preocupação visível da didática;
 História em quadradinhos: narra a história por meio de imagens sequenciada,
usando o texto da fala das personagens através de balões.

Em seu turno, história investiga os feitos, invenções, acções, pensamentos e


sentimentos do passado da humanidade e seu processo evolutivo, tendo como referência
um lugar, uma época, um povo ou individuo específico. Sua importância repousa no
auxílio da compreensão de tudo quanto o homem construiu ao longo de sua existência e
o que as sociedades legaram em termos intelectuais, culturais e materiais.

Passagens anteriores
Ao facto da realidade histórica ser humana, referindo-se a sua evolução desde o
passado e o facto de em Angola se pretender a formação de uma consciência histórica,
na dimensão da sua identidade cultural, política, económica, social e espiritual, numa
perspectiva em que o homem desponta como a sua riqueza. Relativamente à sua função
social, a História é apontada como um dos recursos para se viabilizar a união e a
reconciliação, bem como para contribuir para a edificação de uma sociedade angolana
democrática, unida e próspera, para a construção de uma nova consciência nacional.

As migrações bantu, as suas causas e a distribuição etnolinguística dos povos de


Angola foram outros desenvolvimentos.

A influência portuguesa no litoral atlântico para o desvio do comércio


transariano. Fez-se aqui uma caracterização geral das civilizações do Sudão Ocidental
relativamente à situação geográfica, organização social, comércio e consolidação e
organização destes Estados. A génese do tráfico de escravos, as suas rotas e as
consequências diretas para as sociedades africanas, os produtos transacionados; o tráfico
de escravos e o comércio triangular Europa, África e América, as rotas do Magrebe, dos
Grandes Lagos e da Costa Oriental de África. Particularizou-se a rota do Cabo, do
Oceano Indico e do Extremo Oriente.

O reforço da influência portuguesa é apontado, no quadro da solução das crises


internas do Congo, provocadas não só pela presença missionária, como também pelas
invasões dos Jagas, também tidos como imbangala. A evolução dos contactos com o
Ndongo de que se faz a sua caracterização, a primeira e a segunda viagem de Paulo Dias
de Novais e a fundação da colónia de Luanda em 1575, falando-se igualmente da
origem dos Imbangala e a sua influência na desestabilização do Ndongo e morte de
Ngola Mbandi, foram aspectos discutidos na época anterior.

Quanto ao novo contexto político e militar e a reacção dos povos africanos, é


ainda caracterizado pelo avanço do tráfico de escravos até ao século XVII, tendo em
conta os avanços da industrialização da Europa. o conflito entre a colónia de Angola e o
Congo em virtude do mercantilismo do tráfico de escravos, relata-se depois a crise de
sucessão no Congo depois da morte de Álvaro Iº Nimi-a-Lukeni Lua Mbemba e a
adopção de títulos portugueses e de padrões culturais vários. Tais discrepâncias sociais
e políticas apontam-se como a causa para o declínio do Congo, que, nessa fase, se
consumou com a derrota deste na Batalha de Ambuila, em 1665.
Do real significado da abolição do tráfico de escravos em Angola, apontam-se a
reformulação jurídica que se foi adoptando em relação ao uso de mão-de-obra barata,
terminando em 1858 com um decreto que o abolia em toda a monarquia nos vinte anos
subsequentes. Finalmente, a evolução da abolição no quadro das potências europeias e a
apetência de algumas em relação às possessões de outras é demonstrada com a criação
da Comissão Luso-Britanica, não só para prevenir o facto, mas sobretudo em relação a
outros interesses de defesa que se impunham.

Lição nº2

TEMA 1. DO TRÁFICO DE ESCRAVOS AO COMÉRCIO “LÍCITO” (1822-


1880)

Introdução

O tráfico de escravos era um negócio muito lucrativo para os negreiros europeus,


desde o século XV, as sociedades capitalistas da época assim como os europeus não
ponderavam a promoção de outro tipo de comércio com a África dada a sua natureza
lucrativa.

A independência do Brasil, data à 7 de Setembro de 1822, é o ponto de partida


da formação do Império africano de Portugal e, com ele o fim do Imperio Luso-
Brasileiro. A partir daqui os esforços de Portugal concentram-se nos pequenos núcleos
coloniais que existiam na costa atlântica e no Índico.

No quadro desse esforço e influenciado pela Revolução Liberal, que permitiu a


ascensão de Sá da Bandeira, este exarou um decreto a 10 de Dezembro de 1836 que
mandava abolir o tráfico legal de escravos nas possessões portuguesas. Mas esse decreto
resultou também da pressão internacional, mais concretamente da Grã-Bretanha e da
necessidade de um novo suporte para o Império Português devido ao vazio surgido com
a independência do Brasil.

Com a independência do Brasil e a abolição do tráfico de escravos começa o


período da reconversão da economia. Esta vai encaminhar-se em dois grandes eixos: o
do comércio lícito e o ilícito. O chamado comércio ilícito aparece como resultado da
resistência dos traficantes à abolição do comércio negreiro, feito também com a
participação de alguns chefes africanos. Essa actividade comercial passou a fazer-se de
maneira clandestina, com a abertura de novos portos de embarque, como Benguela e
Moçâmedes. Alguns historiadores, como Valentim Alexandre e Jill Dias, consideram
que o comércio clandestino de escravos se cifrou em 35.000 em 1840.

Mas com a aprovação da Lei Eusébio de Queiroz, a 4 de Setembro de 1850, o


comércio ilícito conheceu um abrandamento, na medida em que essa lei encerrava os
portos brasileiros ao comércio de escravos e a armada brasileira foi encarregue de
apreender todas as embarcações com escravos. Estas medidas, do lado brasileiro, deram
mais força às autoridades portuguesas no sentido de obrigar os traficantes a mudarem de
actividade. Foi assim que os escravos começaram a ser substituídos gradualmente por
outros bens de troca, nomeadamente agrícolas e de caça, como o algodão. o café, o
tabaco, amendoim, óleo de palma, borracha, cera e marfim.

O comércio lícito influenciou o desenvolvimento dos transportes, nomeadamente


a navegação a vapor ao longo do rio Kwanza e a utilização mais intensa das rotas dos
antigos caravaneiros no comércio a longa distância entre o litoral e o interior. Isto
permitiu a Portugal controlar as terras férteis das sociedades africanas, incentivando as
campanhas militares de ocupação e eliminar os intermediários africanos no comércio
com o interior de Angola. Perante o cenário de empresas portuguesas a tomarem conta
das terras férteis e a obterem o monopólio houve a necessidade de meios expeditos para
o transporte das mercadorias. Nasceu a ideia da construção de uma linha férrea que
ligasse Luanda ao interior.

Os trabalhos de construção começaram em Outubro de 1886 e dois anos mais


tarde estavam concluídos os primeiros 45 km, ligando Luanda a Funda. Esta linha férrea
passou a chamar-se Caminho-de-ferro de Ambaca, que chegou a Malange em 1906. Em
1914, o caminho-de-ferro foi nacionalizado pelo governo português e passou a chamar-
se Caminho-de-ferro de Luanda. É a primeira linha-férrea a ser construída em Angola.
Seguiram-se a construção do Caminho-de-ferro de Benguela (1903-1929), o Caminho-
de-ferro de Moçâmedes (1905-1961) e o Caminho-de-ferro de Amboim (1923-1941).

1.1 O contexto histórico da abolição do tráfico de escravos negros

O fim do tráfico de escravos africanos teve como principais razões as questões


económicas, humanitárias e religiosas. No decorrer do século XIX várias nações
europeias proibiram o tráfico de escravos e aboliram a escravidão nas suas colônias
devido a mudança de mentalidade e do modo de produção. Os factores que contribuíram
para o sucesso do fim da escravidão forma justamente os que desencadearam o seu
início.

 Motivos religiosos; as igrejas e a sociedade passam a se organizar promovendo


eventos e abaixo-assinados que pediam pelo fim da escravidão. A narrativa de
ex-escravos sobre a condição de mercadorias humanas contribuíram para
insuflar os movimentos abolicionistas na Europa. Destaca-se a igreja anglicana e
protestante nesse processo.
 Motivos económicos; as nações europeias, como a Inglaterra, identificaram no
continente africano uma nova fonte profícua de riqueza. A manutenção do
sistema de comércio de pessoas era inviável para a exploração dos recursos
naturais do continente.
 Combate ao comércio; o processo de abolição da escravidão será particular em
cada um dos países que o utilizavam, todos começavam a abolir o transporte de
escravizados para as suas colônias, afim de diminuir a população de escravos.

A luta aberta contra o tráfico de escravos teve início no século XV, na época
das Luzes. Foram os filósofos, correntes religiosas (Quacres e Metodismo) e escritores
do mesmo século que tomaram a peito e decididamente o movimento antiescravista.
Onde são destacados os seguintes mentores: Voltaire, Montesquieu, Bernardin de Saint
Pierre, Elarkson e Deputado Wilberforce (Sociedade para a Abolição do Tráfico de
Escravos-1788). Estes despertaram a sociedade contra o grande genocídio (o tráfico de
escravos e a escravatura).

Em França foi fundada a Sociedade dos amigos dos negros, em Setembro de 1788,
com a influência de Mirabeau, Condorcet e La Fayette. No dia 4 de Fevereiro de 1794,
foi aprovada a convenção sobre a Liberdade dos Negros pela Assembleia Constituinte
Francesa.

A Inglaterra, como necessitava de substituir a agricultura doméstica pela indústria


comercial e ainda com o surgimento de correntes humanitárias, levaram em 1772
proibir a escravatura no seu território.

Em 1807 proibia o tráfico negreiro nas suas colónias. De 1811 - 1834, dava
liberdade aos escravos do seu império. Relativamente as outras potências, a Dinamarca
aboliu o tráfico em 1769, Os Estados Unidos da América (EUA) em 1808 e os
Holandeses em 1814, a França decretou a abolição em 1848. Esses eventos geraram
consequências tanto no continente africano quanto para as américas. Sendo assim foram
lançadas leis abolicionistas:

 Lei de Eusébio de Queirós (1850), que pôs fim ao tráfico de escravos


transportados nos navios negreiros;
 Lei do Ventre Livre (1871), a qual libertou, a partir daquele ano, as crianças
nascidas de mães escravas;
 Lei dos Sexagenários (1885), que beneficiou os escravos com mais de 65 anos;
 Lei Áurea de 13 de Maio de 1888, pôs fim a forma desumana de exploração do
trabalho, e declara extinta a escravidão no Brasil.

De meados à finais do século XIX e princípios do XX surge no centro do


imperialismo. É o período da acumulação no centro a partir da periferia. O centro é
constituído por alguns locais da Europa que foram acumulando capital a partir das
trocas dos seus produtos por via pacífica ou por coerção.

A alta produtividade provocou, em contrapartida, o aumento da densidade


populacional e na Europa, esse favorecimento de trocas comerciais criava condições
para o aparecimento da burguesia comercial, nas cidade cada vez mais exigente.
Paralelamente, cresceu a indústria têxtil e outras, tais como a vinícola, companhias de
navegação, bancos, etc., que procuravam espaços, não só para vender os seus produtos,
como também para oferecer os seus serviços.

A melhor maneira para conseguir a realização desse projecto foi, precisamente,


reservar as possessões de cada potência como mercado privilegiado para a recepção de
produtos saídos de suas fábricas e a instalação de diversas instituições que garantissem
tal sucesso. Assim, a apropriação das riquezas naturais ou a utilização das condições
locais favoráveis à obtenção de superlucros permitiu a mais brutal exploração das
populações negras, agravando o carácter artificial e com a necessidade de melhorar
organização da economia dos territórios dominados, desse jeito Portugal intensificou a
exploração a fim de assegurar, ao capital monopolista português e internacional,
superlucros fáceis e crescentes.

Desta forma, a Europa fazia a exportação de mercadorias e do seu capital para as


possessões e destas mercadorias, acumulando assim mais lucros e juros. Num contexto
como este, era efectivamente necessário que entre as potências em franco
desenvolvimento, se procurasse por fim ao tráfico que, em última instância, os
prejudicaria.

Lição nº 03

1.2 O fim do ciclo em Angola

A história de Angola foi, até ao século XIX, inteiramente dominada pelo tráfico.
enquanto as tentativas de desenvolvimento agrícola ou mineiro se saldavam em
fracassos.

Em que data terminou a escravidão em Angola? A resposta não é simples, já que


a escravidão, enquanto pratica social, manifestou-se, ao longo dos tempos, de diferentes
formas e modalidades e certas situações tradicionais de servidão ainda eram conhecidas
mesmo no século XX.

Do ponto de vista das instituições europeias, incluindo as áreas coloniais, o


estatuto de escravidão estava juridicamente suprimido no final do seculo XIX.
Entretanto, tal como no fim do século XVI, Portugal foi obrigado a enfrentar uma das
maiores crises da sua história, provocada pela inadaptação à nova ordem de «liberdade
dos mares», que substituíra a partilha arbitrária do mundo entre duas nações; não estava
preparado, na alvorada do século XIX, para enfrentar a nova ordem económica, ditada
pela Inglaterra, que abolira o tráfico negreiro nas suas possessões a partir de 25 de
Março de 1807 e se baseava agora na livre troca.

Por isso, tendo em conta a capacidade económica e militar da Grã-Bretanha, o


tráfico negreiro, como meio de recrutamento de mão-de-obra, estava condenado a
desaparecer a curto ou longo prazo. Isto foi compreendido pelos plantadores e pelos
negreiros, de tal forma que o recrudescimento do tráfico foi espetacular.

Datam dos anos 50 do século XIX as primeiras medidas legislativas que


visavam, a longo termo, a extinção da escravatura nas colónias portuguesas, goradas
que foram as tentativas de Sá da Bandeira para fazer passar nas Câmaras alguns
projectos de lei nesse sentido, ainda na década de 40.

Para além de disposições de menor importância, promulgam-se então dois


decretos de alcance geral: o de 14 de Dezembro de 1854, que manda fazer o registo dos
escravos existentes, passando todos os negros de futuro «resgatados» (comprados) no
interior à categoria de «libertos» (indivíduos juridicamente livres, mas obrigados a
servir os seus senhores por dez anos a título de indemnização pelo «resgate», sendo
esses serviços transmissíveis por compra e venda); e o de 29 de Abril de 1858,
determinando a abolição completa da escravatura nas colónias portuguesas, num prazo
máximo de vinte anos.

Conjugadas as suas disposições, estes dois diplomas legais deveriam permitir a


extinção progressiva do esclavagismo à medida que fossem morrendo os escravos
registados em 1854; esperava-se que, passados os vinte anos do prazo, fosse muito
reduzido o número dos que restassem, o que facilitaria a sua remição.

O esquema dos decretos de 1854 e 1858 não funcionou. Por um lado, os


escravos registados iam sendo substituídos por outros, com a conivência das
autoridades, à medida que faleciam ou fugiam; por outro lado, e mais fundamentalmente
a condição de libertos não existia na prática, sendo assimilados aos escravos os negros
comprados no interior após 1854. Na realidade, a mão-de-obra escrava tendia a
aumentar em vez de diminuir: em finais da década de 60 o problema permanecia
intacto.

Tornava-se urgente, no entanto, dar-lhe uma solução Portugal era além de


Espanha, o único pais europeu que mantinha o regime esclavagista nas suas possessões:
prolongá-lo seria enfraquecer a posição colonial portuguesa numa altura em que
aumentava o interesse das potências pela Africa. Por outro lado, abolição da escravatura
tinha a vantagem de retirar formalmente ao transporte dos negros necessários às
plantações de S. Tome o seu carácter de tráfico de escravos, contribuindo assim para
eliminar uma fonte de querelas com a Grã-Bretanha.

Por isso, um novo decreto, de 25 de Fevereiro de 1869, extinguia a escravidão,


sendo, porém, os ex-escravos obrigados a servir os seus senhores até 1878, na qualidade
de «libertos».

A explicação para tal facto reside nas características da economia colonial e nos
pressupostos ideológicos que justificavam as formas particulares da exploração dos
trabalhadores africanos. Desde as últimas décadas do século XIX que o
desenvolvimento das plantações de S. Tomé arrastou milhares dos chamados
«serviçais» angolanos, em condições de recrutamento e de trabalho que pouco ou nada
diferiam das dos escravos. No próprio território de Angola, o transporte de mercadorias
dependeu, a muito tarde, de carregadores na colónia de Angola.

Lição nº 04

1.2.1 O impacto da independência do Brasil (1822-1825)

Desde muito cedo, Portugal teve o Brasil como a sua jóia da coroa e para lá se
produziram todas as políticas no sentido de fazer desse território uma fonte e uma
reserva para a sua economia. E o comércio de escravos que marca profundamente
Portugal - como potência colonizadora -, o Brasil e Angola, este último que, nesse
projecto, é a maior vítima.

Vários autores, entre eles Joel Serrão e Jofre Amaral Nogueira, apontavam os
efeitos desse comércio na economia angolana e só depois dos primeiros passos da
abolição do tráfico aparecem algumas ideias para o desenvolvimento económico da
província, com a exploração de novas † fontes de riqueza e a conquista de uma real
independência relativamente ao Brasil.

Num contexto em que a potência colonizadora dependia em diversos domínios,


mas sobretudo os económicos, de uma colónia, estavam criadas as premissas para a
proclamação da independência do Brasil. De facto, esta foi decretada em 1822,
amputando Portugal das forças vivas da sua base económica. Assim, uma vez realizada
a liberalização comercial, o Brasil deixara de ter necessidade da metrópole. Apenas a
África lhe era indispensável para manter as suas plantações, bem como as minas onde
era necessária a mão-de-obra barata.

Nestas condições, estamos perante duas situações em que Angola passa a ser o
principal alvo das atenções de dois países territorialmente distantes:

 Portugal, que tinha de reconstituir a sua economia, já que perdera o Brasil.


Devia, por isso, refazer a sua política em relação a outras colónias,
particularmente Angola, que oferecia ímpares condições - humanas, materiais,
climáticas, etc. Isto passa a estar bem mais evidente depois de 1836, com o
decreto de Sá da Bandeira, que facilita um maior desenvolvimento económico
de Angola consubstanciado na exploração de novas fontes de riqueza, o que tem
como consequência a independência relativamente ao Brasil.
 O Brasil, que desde fins do século XVIII tinha intermediários, em geral
mestiços, que se haviam estabelecido ao longo da costa e se relacionavam
estreitamente com os chefes das sociedades africanas, ao mesmo tempo que
conservavam as suas ligações comerciais com o Brasil e Cuba.

No seu conjunto, têm um importante papel na organização das formas


clandestinas do tráfico e contribuem para a sua persistência até à década de 60; todavia,
a pouco e pouco, alguns deles foram aproveitando a antiga organização comercial
negreira para a troca de novos produtos, utilizando os próprios escravos como
carregadores ou como mão-de-obra em plantações que foram criando.

Não há dúvidas de que esta evolução, já bem marcada em fins dos anos 40, foi
ainda impulsionada quer pelo encerramento do mercado negreiro no Brasil (1850), quer
pela intervenção britânica directa na vida política interna das sociedades africanas. Na
década de 50, o comércio lícito ganha foro de actividade dominante, estimulado pelo
contínuo aumento de preços do óleo de palma, desde começos do século.

Podia Angola, pelas circunstâncias descritas, passar para um colonialismo


moderno? Não, devido à debilidade do capitalismo português oitocentista, pois no
Portugal do século XIX não existia uma burguesia industrial suficientemente forte para
se constituir em suporte de uma burguesia colonial, bem como à resistência das
estruturas cimentadas durante o regime, que tinha por base a exportação de mão-de-obra
escrava.

Outro factor impeditivo era o poder dos negreiros, que resistiam à penetração
externa e se opunham à transição para o comércio «lícito», além de que, por outro lado,
procuravam controlar essa transição a seu favor. Esta foi uma das causas por que
esbarravam em Angola as iniciativas que foram surgindo desde os anos vinte.

Entretanto, outros setores da sociedade portuguesa procuraram igualmente, nas


possessões, mercados ou campos de acção: a indústria têxtil algodoeira renova nos anos
50 as suas tentativas de exportação para África. Em Angola, a alta finança obtém
grandes concessões de terrenos. Nos períodos de sobre-produção vinícola, os setores do
comércio e da produção de vinhos vêem nas colónias uma possível tábua de salvação e,
entre outros factores, todos esses interesses convergem, possibilitando o esforço de
organização das campanhas de ocupação.
Todos os relatórios oficiais e escritos particulares vindos de Angola,
Moçambique e mesmo da Guiné, eram unânimes em assinalar as perspectivas de
formação de «novos Brasís» a curto prazo. Bastaria explorar directamente, e segundo
processos modernos, os recursos mineiros de que havia notícia; bastaria fomentar o
cultivo dos géneros coloniais, aproveitando a abundância de mão-de-obra e o seu baixo
preço, o que permitiria fazer concorrência ao Brasil, onde ela era rara e cara.

Lição nº 05

1.2.2 A repressão ao tráfico

Depois da independência do Brasil, o tráfico de escravos passou a conhecer


características diferentes:

 O primeiro período a considerar é o de 1830, que corresponde ao começo da


acção da frota britânica na repressão do tráfico ao sul do equador, conhecendo
assim uma cessação temporária, renascendo depois com formas mais rígidas de
organização;
 É no mesmo ano que nas colónias portuguesas se deixa de cobrar direitos sobre a
expor tação de escravos, o que fez diminuir profunda e drasticamente os
rendimentos públicos e reduzir consideravelmente a margem de manobra das
autoridades portuguesas;
 Em 1839 os cruzadores britânicos foram unilateralmente autorizados a visitar e
apresar navios portugueses empregues no tráfico;
 Esse bloqueio efetuado pela marinha inglesa aos principais portos das colónias
portuguesas em África - sobretudo Luanda, Benguela e Ilha de Moçambique
provocou uma nova alteração das zonas de embarque;
 1850 é a data fundamental, porque marca o encerramento do Brasil como
principal mercado para a mão-de-obra escrava.

O tráfico não termina de imediato, nem se reduz, desde logo, a uma actividade
esporádica e sem significado; sofre uma alteração qualitativa e vai gradualmente
cedendo à troca de mercadorias o lugar dominante na vida colonial.

1.2.3 A diversidade das rotas comerciais


É das trocas comerciais feitas em feiras ou mercados que resultam grande parte
das cidades ou vilas existentes hoje pelo mundo inteiro. Ainda estão por aprofundar e
conhecer as várias fases das rotas comerciais do passado longínquo dos antigos reinos
que integram hoje o território de Angola.

A dinâmica sócio-económica das sociedades africanas desta região permitiu a


abertura de rotas comerciais importantes que estabeleceram a ligação entre os povos das
diversas regiões, sejam as mais próximas ou as mais afastadas. Rotas essas que vão ser
retomadas pelos novos parceiros comerciais com a intervenção dos portugueses no
Congo que, chegados no último quartel do século XV, via Atlântico, as foram
progressivamente influenciando e de maneira diferente, conforme as áreas

Não há dúvidas quanto à possibilidade de existência de recursos e à capacidade


desses povos de explorá-los para a criação de espaços próprios para a organização do
comércio. A produção local supria as necessidades das comunidades, permitindo o
abastecimento regular dos mercados na maioria dos povoados.

As fontes minerais (sal, ferro), os níveis de produção provenientes da agricultura


e da pas-torícia, ou ainda de uma pequena indústria local (cerâmica, por exemplo),
foram suficientes para fazer movimentar homens e mercadorias e fomentar uma
complexa rede de comércio, primeiro para os mercados locais que supriam as
necessidades mais prementes das populações locais e áreas vizinhas, ou para as grandes
feiras onde a amplitude das transações comerciais exigia outros recursos, sendo que os
seus concorrentes eram provenientes de paragens mais longínquas.

A diversidade de unidades de troca nestas transações explica por si a


complexidade destes circuitos comerciais. Com efeito, existia uma diversificada rede
comercial luso-africana, que ligava, por exemplo, o Ndongo aos mercados de Mbata,
Soyo, Loango, Maiombe e outros. Do Norte importavam-se principalmente tecidos de
ráfia que serviam, em Angola, como moeda. Outros bens especialmente apreciados nos
mercados locais eram, por exemplo, penas de papagaio, caudas de elefante e madeira
vermelha (tacula).

Podemos mencionar também os Mobiri Vili, ao sul do rio Dande os quais


provavelmente, já nessa altura, faziam negócios com mercadorias holandesas. Maior
procura tinha, além dos tecidos, armas e munições cuja venda a africanos a coroa
interditava aos portugueses. Este intercâmbio comercial de produtos africanos e
portugueses atingiu o seu apogeu em meados do século XIX, permitindo às elites locais
exercerem controlo sobre os recursos da terra e sobre a mão-de-obra. Estávamos assim
em presença de dois tipos de comércio: o de mantimentos e o de escravos.

Por um lado, vendem-se os mantimentos como resultado da acumulação da


produção excedentária local e, por outro, os escravos, a mão-de-obra, que já nesta altura
era bastante solicitada para as plantações da cana sacarina em S. Tomé e no Brasil. Os
empresários brancos e os seus principais agentes constituíam, em termos de organi-
zação, o motor desse comércio e conferiam um enorme poder de atração aos centros ou
«ilhas» de comércio.

Todavia, no interior não eram geralmente os europeus que desenvolviam os


processos por eles impulsionados e as feiras não eram igualmente criação europeia. Elas
já existiam para responder às solicitações do consumo interno. Quer isso dizer, que o
comércio de longa distância já existia antes da intervenção europeia. O aspecto novo
nessa interação seria a ligação transatlântica das mercadorias africanas que passaram a
chegar a outros mundos. Notícias e informações de toda a espécie difundiram-se, assim,
por áreas de centenas de quilómetros.

Concluindo, não é possível enunciar cada uma das numerosas rotas e cada um
dos variados produtos do comércio a longa distância. Os principais produtos de
importação do litoral incluíam diversos tipos de têxteis, armas de fogo e missangas e os
do interior consistiam sobretudo em escravos, sal, ferro, cobre e gado bovino. Os
principais produtos de exportação para o litoral ou para o seu interland incluíam,
dependendo da altura e do local, escravos, cera, marfim, borracha, bem como os belos
tecidos mobela feitos de fibra de ráfia.

Lição nº 06

1.3 Os avanços na ocupação territorial e os ensaios de uma nova colonização

São relativamente bem conhecidas, em linhas gerais, as mudanças económicas,


políticas e ideológicas no espaço colonial português nas últimas décadas do século XIX
e princípios do século XX, tendo como pano do fundo a concorrência de outros países
europeus na ocupação territorial e económica da Africa e, também, a agitada transição
portuguesa da Monarquia à República.
Houve muitas correntes de opinião sobre o destino a dar às colónias ou sobre os
modos da sua exploração e ainda a rivalidade entre setores económicos ou partidos
políticos metropolitanos, republicanos ou monárquicos e a existência de consensos
dominantes quanto à conquista e efectiva ocupação dos territórios africanos.

Um princípio fundamental das políticas coloniais portuguesas, durante cinco


séculos, foi o de que a melhor maneira de garantir a soberania portuguesa de «civilizar»
as populações indígenas e de desenvolver as economias coloniais consistia no
estabelecimento de agricultores de Portugal nos territórios interiores do império
português. Em Angola, a incapacidade dos sucessivos regimes portugueses em atrair um
número suficiente de agricultores brancos livres originou uma série de tentativas para
utilizar os degredados e colonizar o interior angolano.

À data da Independência, a maioria dos povos de Angola não tinha atingido um


século de domínio colonial, apesar de o início da conquista portuguesa remontar a
quatrocentos anos atrás (Luanda, 1575). Recuando a 1861, a colónia era formada pelos
«distritos» litorais de Luanda, Benguela, Moçâmedes (Namibe), fundada na década de
1840, e Ambriz (ocupado apenas em 1855) e o «distrito» interior do Golungo Alto. Era
a máxima extensão que se podia atribuir à colónia portuguesa, embora a sua faixa litoral
não estivesse toda controlada (provava-o o tráfico clandestino de escravos para Cuba) e
muitos pontos no interior da colónia de completo isolamento uns dos outros.

Em Angola, o período de 1880 a meados da década de 1920 foi, portanto, aquele


em que se desenhou o mapa do país, com intensa actividade militar. As campanhas de
ocupação do poder português foram impondo o seu domínio, tanto a antigos Estados
africanos como a chefias políticas menos centralizadas, mas persistentes na resistência
armada (Dembos, Tucokwe...) ou ainda a regiões revoltadas de Estados já antes
subjugados (Bailundo em 1902, Humbe 1905, Congo 1913, entre outros). A essa
expansão territorial da colónia correspondeu a instalação de um aparelho político-
administrativo, cujo impacto nas populações africanas se fez sentir, através do imposto
de cubata (implementado a partir de 1907) e do trabalho forçado.

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