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4 The Yao, tradução inglesa
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Achegas para o estudo das biografias de autores de fontes narrrativas e outros documentos da História de
Moçambique: Yohana Barnaba Abdallah (ca. 1870-1924) e a Missão de Unango in «Arquivo, nº 3, 1988»
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O Brado Africano, 24 de Janeiro e 5 de Junho de 1920
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Arquivo Histórico de Moçmbique (AHM). Sec. XIX, Governo-Geral, códice 11.400, fls. 26, do secretário-
-geral para o governador de Quelimane, 11 de Abril de 1881
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Capela, Conflitos Sociais
O jornal «O AFRICANO»
Resumo
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Publicado in Fátima Ribeiro e António Sopa (coordenadores), 140 Anos de Imprensa em Moçambique:
Estudos e Relatos, Associação Moçambicana da Língua Portuguesa, Maputo, 1996
A imprensa operária
A imprensa católica
jornal, uma autêntica onda de revolta que acabaria, mais tarde, com a
remoção do próprio bispo.
A 1 de Setembro de 1969, o Diário de Moçambique passou a ser con-
trolado pelo engenheiro Jardim que, a 15 de Março de 1971, o encerrou.
O verdadeiro significado do encerramento do jornal ficou expresso em
muitos órgãos de informação. Quem mais dramaticamente terá represen-
tado o alcance profundo do que se passava foi um modesto funcionário da
empresa que escreveu: desde o dia 1 todos nós estamos como órfãos de pai
e mãe ... neste momento, é para meditar tudo o que se passou com o Diário,
o que era o «Diário de Moçambique»!...
O aparecimento de um jornal, mais do que isso, de um jornal diário,
na segunda cidade da então Província de Moçambique, propriedade da
nova diocese governada por um bispo jovem, desencadeou um processo
de emulação que levou o cardeal arcebispo de Lourenço Marques, Dom
Teodósio Clemente de Gouveia, a adquirir o The Lourenço Marques Guar-
dian. Este jornal, de grande prestígio no meio, publicava-se desde 1905,
na capital de Moçambique, em português e inglês. A transacção, a favor
do Arcebispado de Lourenço Marques, tem a data de 19 de Março de 1952.
No dia seguinte, o jornal, com o novo título Diário de Lourenço Marques
Guardian, iniciou a sua publicação sob nova direcção e totalmente redigido
em português. Em 1955 alterou o título para Diário de Lourenço Marques
e, ainda no mesmo ano, reduziu-o para Diário. O seu último número foi
publicado a 9 de Setembro de 1974. Estava suspenso, havia tempos, devido
a perturbações internas na sequência da situação criada pelo 25 de Abril.
Reapareceu, naquela data, a apoiar o Movimento Moçambique Livre que
se opunha à forma como estava a ser conduzido o processo de indepen-
dência de Moçambique. O seu fim não foi propriamente honroso e um
alinhamento sistemático do jornal com a política colonial portuguesa de 159
então retirou ao jornal autoridade editorial sem ter, de qualquer maneira,
contribuído para uma boa imagem da Igreja. Como não se dedicava à
difusão da mensagem evangélica, enquanto tal, nem insinuava, especial-
mente a mundividência cristã dos acontecimentos, não se perceberia a
razão de ser de um jornal diário na posse da Igreja se não fora o caso de
também se saber como a facção eclesiástica preponderante no jornal, a
começar pelos arcebispos que governaram a arquidiocese no decurso da
A Voz Africana
Pleiteando pro domo mea. O jornal Voz Africana nem sequer pode integrar-
-se, com propriedade, entre a imprensa católica. Também não pode
considerar-se, nesta fase da sua vida, um jornal genuinamente africano.
Se aqui o situo é porque de harmonia com um acordo celebrado com o
Centro Africano de Manica e Sofala, proprietário do jornal, foi este integrado
no conjunto de publicações do então Centro Social Lda245, empresa em cujo
capital era maioritária a Diocese da Beira, e que editava, então, o Diário
de Moçambique (viria a publicar outro semanário, Voz da Zambézia, e a
revista mensal Economia de Moçambique). A publicação semanal de Voz
Africana reiniciou-se em 2 de Junho de 1962, por minha iniciativa. De
harmonia com o acordo celebrado, o título permanecia propriedade do
Centro Africano de Manica e Sofala que, na altura, e desde havia muito,
não dispunha de meios para o editar.
Na redacção do Diário de Moçambique tínhamos chegado à conclusão
160 da impossibilidade de fazer deste um jornal africano. Por outro lado,
admitíamos que não deixava de ter um lugar próprio naquele momento
histórico do país, interessando, embora, primariamente a europeus. Foi
assim que vi, como do maior interesse e alguma viabilidade, um jornal
que se voltasse para a realidade africana de Moçambique tal como se nos
apresentava: um povo constituído por algumas camadas subproletarizadas
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Mais tarde transformada em sociedade anónima sob a designação de Companhia Editora de Moçambi-
que S.A.R.L.
ada, isso mesmo e por contraste, pôs em evidência a prática dessa mesma
discriminação ao sul do Zambeze cuja graduação se ficou a dever, em
grande parte, à influência das colónias inglesas vizinhas. O que se tornou
flagrante na área de jurisdição da majestática Companhia de Moçambique.
O local onde, em 1892, se instalou o núcleo inicial dos seus colonos, mais
tarde a cidade da Beira, era um pântano e uma zona despovoada. Esses pio-
neiros recuperaram a área pantanosa sobre a qual se fixaram, ali passando
então, e só então, a acorrer população africana, meramente serventuária,
proveniente, a norte, do vale do Zambeze (Assena) e, a sul, das terras de
entre o Save e o Púnguè (Shona). População esta, na sua nova situação,
privada de qualquer estrutura social própria e insusceptível de integração
no aglomerado alienígena, este senhor absoluto daquele espaço físico e
daquele universo social. Era esse um senhoreamento de território devoluto
e os intrusos desembarcavam ao abrigo de uma estrutura majestática
juridicamente estabelecida na Europa e para ali exportada.
A Beira de 1955 era uma cidade com uma população de cerca de trinta
mil habitantes, dos quais dez mil de origem europeia. Entre eles alguns
reivindicando a ascendência directa dos pioneiros. Ainda ali prevaleciam
marcas institucionais da Companhia Majestática, tais como a subsidiária
Beira Works e a Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira designação
actualizada da antiga Beira Railways adquirida e «nacionalizada» pelo
governo português. Foi ao meio social, assim perfunctoriamente apre-
sentado, que acedi, nos começos desse ano de 1955, a convite de Dom
Sebastião Soares de Resende, o primeiro bispo da Beira. É ao seu teste-
munho qualificado que particularmente recorro para caucionar o matiz
que adopto em mera descrição factual do que foi, social e politicamente,
esse curto período vivido em Moçambique de 1955 a 1968. Seria a sua
164 atitude, ao longo de relativamente curto pontificado, que viria a inspirar
e tutelar acções subsequentes da parte de responsáveis eclesiásticos face
não apenas às vicissitudes que antecederam o fim do Império como à
natureza ôntica da colonização.
Criada que fora a Diocese em 4 de Setembro de 1940, Dom Sebastião
de Resende tomou posse do seu governo em 8 de Dezembro de 1943.
Quando cheguei à Beira a pregação, que incluía a utilização frequente da
Rádio, assim como os seus escritos, estavam a problematizar circunstâncias
Moçambique tem os seus direitos, e uma vez que isso seja possível deve
tornar-se independente. Com negros e brancos a governar».
A transformação das Colónias em Províncias, desprovida da atribui-
ção de qualquer grau de verdadeira autonomia política, era cosmética e
morfológica.
Entretanto, face nomeadamente à evidência da injustiça social sub-
sistente e logo a seguir à independência do Congo, surgiram grupos de
cidadãos conscientes, dispostos a problematizar a situação. Entre eles os
que, mais tarde, sob a designação Democratas de Moçambique, viriam a
apoiar a FRELIMO. Deles surgiu uma representação em que, entre outras,
ressaltavam as reivindicações de uma administração política própria para
Moçambique e, desde logo, a atribuição da cidadania aos ainda «indíge-
nas». Dois dos promotores da iniciativa, Francisco Barreto e Nunes de
Carvalho, foram presos na Beira e encarcerados em Lourenço Marques. O
que provocou manifestação espontânea de europeus nas ruas da cidade,
atitude inimaginável, de tal maneira inusitada que muitos se interrogavam
se não seria um mau exemplo para os pretos!…
A iminência da acção bélica da FRELIMO não só não foi precavida
informativamente junto da população, ao contrário, foi preventivamente e
expressamente proibida aos meios de comunicação. Aliás a mesma direc-
tiva foi drasticamene aplicada relativamente a todas as independências
africanas.
Se a independência de Congo-Kinshaza com todas as vicissitudes que
a acompanharam deliberadamente e empoladamente divulgadas na Beira,
criou uma situação de instabilidade junto dos colonos de origem europeia,
os acontecimentos de 1961, em Angola, apresentados pelo governo de
Lisboa como genocídio dos negros contra os brancos, dos africanos contra
os europeus, só podia contribuir para acentuar a crispação. 167
Seria nesta atmosfera social de crispação que atitudes individuais e
colectivas de eclesiásticos vieram a tomar uma projecção sem paralelo.
O que, historicamente e em grande parte, se ficava a dever à conjunção
secular da cruz e da espada revivalizada pelo Acordo Missionário de
1940. É certo que um período de conflitualidade entre a Igreja e o Estado
se havia estabelecido com a implantação da República. Mas o recurso
do Estado à colaboração da Igreja na acção colonizadora manteve-se
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