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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa científica foi levada a cabo com vista a alcançar
o título de licenciatura em ciências de educação, especialidade de História. Antes
de indagarmos no tema que nos propusemos (a tomada de consciência
nacionalista africana), começamos por apresentar as características gerais do
continente berço.

A África apresenta 30.230.000 km² de extensão territorial (sendo o terceiro


continente mais extenso após a Ásia e a América), cobrindo 20,3% da área total
da terra firme do planeta, distribuídos em 55 países, sendo a Nigéria o mais
populoso. O maior país de África é a Argélia, enquanto as ilhas Seychelles o país
mais pequeno. O ponto mais alto da África é o Kilimanjaro (5895 m). O Lago
Assal em Djibuti é o mais baixo (155 m abaixo do nível do mar). É o segundo
continente com mais população do mundo nela existem diversidades culturais e
de recursos naturais e são estes recursos que irão aliciar o interesse das
potências após a sua descoberta aquando da procura de uma via alternativa que
os levasse até a Índia.

Foi assim que, o século XV testemunhou a descoberta não premeditada de África


pelos europeus, mas após terem se apercebido de que o que para eles constituía
via alternativa para Índia, seria na verdade o palco das mais variadas riquezas por
eles almejada, começaram a desenvolver uma série de acções que irão mudar a
História dos dois continentes e do mundo.

Com efeito, em 1482, após a tripulação de Diogo Cão ter atracado na foz do rio
Zaire, os tempos a seguir foram de relações diplomáticas e amigáveis. Nesta
altura, em África já existiam grandes Estados e Impérios como o Ghana, Mali,
Songhay, Monomotapa e outros (Ki-Zerbo, 2002).

Desde os primeiros contactos entre os europeus e africanos e as primeiras


tendências de conquista (dos territórios africanos pelos europeus), os africanos
jamais ficaram de braços cruzados. E esta informação torna-se oficial, ao
lembrarmo-nos das grandes revoltas que os africanos levavam a cabo, muito
antes das duas grandes guerras mundiais (por um lado). Por outro se
associarmos as palavras proferidas por Menelique II da Etiópia ao dizer que «Não

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tenho a intenção de assistir de braços cruzados a chegada das potências de
além-mar com intenção de dividirem entre si a África» (Ki-Zerbo, 2002; p: 62).

São todas estas acções que quando bem analisadas, podem ser consideradas
como exemplos de nacionalismo africano no período que antecede as duas
grandes guerras mundiais. Este nacionalismo que irá passar por várias fases para
o seu aprimoramento como se circunscrevem no âmago da temática em epígrafe.

Aproveita-se inferir que a relação entre o colono e o colonizado, constituiu um


ingrediente extremamente fundamental para se justificar o nacionalismo africano,
se termos em conta que os africanos viviam opressos dos seus direitos em sua
própria pátria.

Assim, após séculos de colonização de África, os africanos ofegantes dos maus-


tratos que de forma subsequente recebiam dos colonizadores, começam a
compreender que a independência jamais seria um presente do colonizador (Ki-
Zerbo, 2002). Não obstante haja um interesse exacerbado por parte das
potências europeias ao afirmar que as independências africanas se solidificou
graças a boa vontade dos colonos, a realidade está muito aquém deste teorato
que visa apagar a determinação dos africanos e o espírito nacionalista com que
arquitectaram as suas independências (ibidem).

Assim sendo no primeiro capítulo abordaremos genericamente sobre a forma


como foi processada a tomada de Consciência Nacionalista Africana, que não
teve um único padrão em todo o continente, sendo que para alguns territórios foi
mais rápido e para outros mais lentos, (ibidem).

Uma vez que, falar da tomada de consciência nacionalista africana é de interesse


de todos os africanos que se preocupam em saber do percurso histórico do
continente berço e esta abordagem fornece igualmente instrumentos para
contrapor algumas teorias eurocêntricas que visam denegrir o bom nome do
continente africano. Actualmente são comuns os debates intrínsecos e
extrinsecamente relacionados a origem do nacionalismo africano, mas, porém,
notou-se uma certa debilidade no tratamento da temática relacionada a tomada
de consciência nacionalista em África no “Colégio 2 de Março”, pelo que;
Mediante esta situação problemática levantou-se o seguinte problema científico:

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 Como tem sido abordado a tomada de consciência nacionalista em África,
no programa da 9ª Classe, caso Colégio 2 de Março?

Face ao problema ora levantado elaborou-se as seguintes questões de


investigação:

1) Quais são os pressupostos teóricos da tomada de consciência nacionalista


em África?
2) Qual é o estado actual dos alunos e professores do Colégio 2 de Março do
Sumbe, quanto ao tratamento da tomada de consciência nacionalista em
África?

À luz das questões de investigação, na prossecução do presente trabalho fomos


guiados pelo seguinte objectivo geral:

 Analisar o modo de tratamento da temática relacionada a tomada de


consciência nacionalista em África no processo de ensino e aprendizagem
de História aos alunos da 9ª Classe, Caso “Colégio 2 De Março do
Sumbe”.

De modo a encontrar respostas as questões acima levantadas, fez-se o recurso


aos objectivos específicos substanciados a seguir:

1. Fundamentar os pressupostos teóricos da tomada de consciência


nacionalista em África.
2. Diagnosticar o nível de tratamento da tomada de consciência nacionalista
em África no Colégio 2 De Março do Sumbe.

Nessa panorâmica, o tema justifica-se uma vez que, no processo de ensino e


aprendizagem da disciplina de história da 9ª Classe do Colégio 2 De Março do
Sumbe, constatou-se a necessidade de se aprofundar o conhecimento sobre a
tomada de consciência nacionalista em África em virtude das divergências de
ideias que surgem ao abordar o presente tema.

O tema em performance, reveste-se de grande importância, sendo que, em


primeiro lugar fornece aos estudantes, professores e não só, uma nova visão
relativamente a tomada de consciência nacionalista africana; em segundo lugar,
pelo facto de que, os conteúdos nele contidos servirão de suporte aos
professores, alunos da 9ª Classe e não só. Em terceiro lugar, porque, esta

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pesquisa foi desenvolvida subjectivamente para que todos os africanos tenham
argumentos de defesa face as tendências eurocêntricas que procuram
incansavelmente denegrir o heroísmo dos africanos na libertação de África.

Pois, é de salientar que o trabalho não é um produto acabado devido a escassez


de fontes que abordam profundamente a tomada de consciência nacionalista em
África no período em destaque, apesar de estarmos ciente que a África é um
continente muito rico em informações desde aos primórdios da humanidade.
Porém, foi possível elaborar o trabalho através de consultas bibliográficas.

Desta forma, no que confere a estrutura do trabalho, este dispõe de três capítulos,
em que, primeiramente apresenta-se a introdução, onde será descrito o contexto
do problema, a problemática do estudo, a relevância deste trabalho, as questões
de investigação, o objectivo geral e específicos e a estrutura do trabalho.

No primeiro capítulo circunscreve-se Marco Teórico ou Revisão Bibliográfica, no


qual, são referidos e analisados aspectos teóricos sobre os diferentes autores que
abordaram sobre a tomada da consciência nacionalista africana.

No segundo capítulo apresenta-se a descrição dos aspectos metodológicos da


presente investigação ligado às opções metodológicas, ao desenho do estudo,
aos instrumentos de recolha de dados utilizados.

No terceiro capítulo fez-se constar os resultados mais relevantes bem como a sua
interpretação, com base no que foi definido na revisão bibliográfica, com a
finalidade de responder às perguntas de investigação. Por fim expôs-se as
conclusões com base na pesquisa feita, as respectivas sugestões, referências
bibliográficas, os apêndices e anexos.

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CAPÍTULO I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.2. Definição dos Termos e Conceitos

Tomada de Consciência: é o resultado da reflexão em torno de um problema ou


situação, ou seja, corresponde a acção de compreensão de um determinado
acontecimento ou situação (o partidismo resultante da análise de uma
determinada questão).

Nacionalista, é a pessoa que pratica o nacionalismo, sendo o nacionalismo uma


ideologia segundo a qual o indivíduo deve lealdade e devoção ao Estado
nacional, compreendido como um conjunto de pessoas unidas num mesmo
território por tradições, língua, cultura, religião ou interesses comuns, que constitui
uma individualidade política com direito de se autodeterminar (Andrade, 1997).

Durante a idade moderna, foi um movimento que preconizava a criação do Estado


Nacional como indispensável para realizar as aspirações sociais, culturais de um
povo. O nacionalismo prolonga-se ao conceito de Estado Nação, já constituído
com a deslocação do eixo prioritário para a defesa da independência e da
afirmação da sua grandeza. O fundo ideológico comum organiza-se em torno de
quatro temas principais: Soberania, Unidade, Passado Histórico e Pretensão à
Universalidade (Alexandre. 2007).

Segundo Maxime Rodinson, citado por Mário Pinto de Andrade (1997), o termo
nacionalismo aplica-se quer a “ideologia de estado-nação, de tipo
contemporâneo, quer aos desenvolvimentos ideológicos mais teóricos, mais
agressivos, mais libertos, emanando dos diversos grupos étnicos.

África, alguns historiadores afirmam que o termo «África» viria do nomede um


povo berbere que se fixaram perto de Cartago (fundada em 825 a. C, ).
Denominaram-no «Afrig», de onde se teria obtido «Afriga» ou «Afrika» (como o
habitat de todos afrigs). Com tempo o termo passou a ser utilizado à todo o
continente, ultrapassando o seu sentido inicial. O seu nome é geralmente
relacionado com os fenícios como afar, que significa “poeira”, embora uma teoria
de 1981 tenha afirmado que o nome também deriva de uma palavra berberes, ifri,
palavra que significa caverna, em referência à gruta onde residiam. Massey
(1881), afirma que o nome deriva do egípcio af-rui-ka, que significa “para virar em

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direcção a abertura do ka.” O ka é o dobro energético de cada pessoa e a
abertura do ka, remete para o útero ou berço. África seria para os egípcios “o
berço”. Segundo Leão O Africano (1488-1554), a palavra África é de origem grega
«aphrike», que significa “sem frio (Keita, 2009: p. 13).

Subsídio: trata-se de um reforço, ou ainda algo que se acresce ao já existente.

Programa: um mapa no qual se encontram descritas as actividades a serem


realizadas em conformidade com o elemento cronológico, ou seja, a distribuição
sistemática das actividades a serem desenvolvidas consoante o tempo.

História: segundo Marco Túlio Cícero, é «a mestra da vida, a luz da verdade, a


testemunha dos dias que não voltarão».

Classe: refere-se a uma categoria social ou profissional, ou a divisão de um


determinado grupo, mas neste contexto, classe refere-se a um nível de ensino.

Colégio 2 de Março: é uma instituição de ensino primário e secundário, uma vez


que, na mesma lecciona-se também as classes correspondentes ao primeiro
ciclo, a mesma existe há mais de 40 anos, no Bairro do Chingo, município do
Sumbe.

Sumbe: é um dos doze municípios da província do Cuanza Sul e


concomitantemente a capital da referida província. O termo Sumbe deriva do
dialecto dos povos autóctones que para designar as trocas comerciais, exprimiam
com bastante frequência “Kussumba”. Devido a influência do português, o termo
evoluiu até chegar a palavra Sumbe que é a designação oficial da cidade.

1.3. A Tomada de Consciência Nacionalista Em África

É bastante vulgar e credível, a ideia, por haver sido extensivamente difundida pela
literatura colonialista, que a África era uma espécie de vazio político onde tinha
livre curso, a anarquia, a selvajaria sangrenta e gratuita, a escravidão, a
ignorância bruta e a miséria. Os agentes da civilização europeia, eram
considerados unicamente como cavaleiros da civilização e do progresso.

Outra ideia falsa, proclama a ausência total de sentimento nacional entre os


africanos. Mas contrapõe-se a esta infâmia afirmação uma vez que, depois das
primeiras tentativas de penetração, o nacionalismo africano, sob formas múltiplas,

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por vezes desajeitadas, por vezes ambíguas, sempre se exprimiu sem interrupção
até a reconquista da independência ou seja, sob as cinzas do colonialismo,
dormia um fogo vivo e revela-se de tempos a tempos com intensidade (KI-Zerbo,
2002: p.5).

A atitude dos africanos quando da chegada dos europeus no século XV, foi muito
variada. Na verdade, durante séculos, tinha chegado aos recantos mais afastado
do continente rumores contando que homens brancos (Nassaras, Outubabus,
Mzungus), chegavam por vezes, vindos da grande água. Jamais estes negreiros
penetraram muito no interior, salvo por intermédio dos pombeiros na África
Central. A primeira reacção dos negros em face destes brancos raramente foi de
hostilidade. A hostilidade pode provir, entre outras coisas, das circunstâncias de o
tráfico de escravos haver atingido sobretudo as pequenas tribos desorganizadas e
destas terem tendências para ver qualquer expedição conduzida por estrangeiro
como prelúdio ao comércio negreiro (Ki-Zerbo, 2002: p.5).

As resistências dos africanos contra a ocupação dos territórios, começaram desde


a chegada dos primeiros europeus em África. Os africanos nunca aceitaram a
ocupação das suas terras pelos colonialistas, nem a exportação das suas
riquezas. Sempre resistiram à escravatura, às culturas obrigatórias e ao trabalho
forçado (Nsiangengo & Santana, 2012: p. 68).

Os povos africanos, nunca aceitaram a dominação colonial, por isso, as suas


revoltas foram crescendo dia após dia. As resistências dos africanos, assumiu
diversas formas, tais como: a recusa ao pagamento de imposto, a destruição de
máquinas e outros instrumentos de trabalho, greves e formação de pequenos
grupos para fazer frente ao colonialismo (ibidem).

Esgotada após séculos do tráfico negreiro, a África estava no entanto, longe de se


haver tornado uma terra colonizável sem resistência. E o século XIX vai ver surgir,
imediatamente antes ou no momento preciso da conquista europeia, chefes de
envergadura excepcional, que vão procurar virar o curso implacável do destino
(mesmo quando disto não estavam explicitamente conscientes) e criar de novo
grandes conjuntos políticos supra-tribais, tais como eles existiam durante
«grandes séculos». É este o sentido da epopeia de Chaka Zulu. Será esta a linha
de uma plêiade de africanos que se manifestou em todas as regiões da África

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Negra: Chaka, Usman da Fodio, El Hadj Omar, Samouri, Madi e Menelique II (da
Etíopia) (KI-Zerbo, 2002: p.5).

Em toda a extensão do continente africano, os exércitos europeus tiveram


algumas derrotas no campo de batalha. Essas vitórias militares dos africanos,
embora poucas, foram muito significativas. A vasta bibliografia sobre a matéria
ilustra o grau de preparação dos africanos e a sua capacidade de organização.
Os objectivos dessa luta são claros: a manutenção da independência e das
soberanias nacionais. Isso é patente em todas as regiões da África (Lopes, &
Capumba, 2006: p.42).

O nacionalismo africano não deve ser assimilado aos sentimentos chauvinistas


que em numerosos estados europeus conquistaram correntes inteiras da opinião
pública e se manifestaram por medidas económicas (autarcias e proteccionismo
aduaneiro de Bismark ou de Méline em França), por decisões político-militares
que vão até ao imperialismo (pangermanismo, fascismos, etc.), até por tiradas de
desforra nacional como, as de Déroulède (Ki-Zerbo, 2002).

Segundo Domenach, citado por Ki-Zerbo «o nacionalismo só é justificável quando


um povo se encontra oprimido. Ele concentra-se então numa aspiração bruta nas
diversas forças sociais, igualmente humilhadas e que vivem na esperança. Mas
uma vez libertados, esse povo, já não pode o nacionalismo fornecer respostas
sérias aos problemas reais, não passa de excitações estéreis e de contradições
indefinidas, torna-se o álibi dos privilegiados que recorrem ao mito da totalidade
nacional, para fazer esquecer as desigualdades reais.»

Trata-se na verdade, de um despertar nacional, do risorgimento de uma


personalidade que tenta afirmar-se, opondo-se ao puder estabelecido. Neste
sentido, o nacionalismo africano, principiou com os primeiros antagonismos com
os estrangeiros e nunca desapareceu por completo. O período colonial constituiu
no entanto, uma fase histórica durante a qual este nacionalismo domesticado ou
esmagado, só se podia exprimir sob a forma de revolta. Novas circunstâncias
históricas vão-lhe conferir a estatura de revolução (ibidem).

À luz da minha percepção, considero que «antes das duas guerras mundiais já
existia no seio dos africanos o espírito nacionalista e o mesmo era manifestado
através de revoltas, greves e negação a pagamento de imposto».

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A autodeterminação dos povos é um direito que as populações habitantes de um
determinado território que compõe ou não um estado-nação (tríade Estado, Povo,
Território) têm de afirmarem perante todas as outras populações sua capacidade
de se auto-governarem, manterem a criação cultural e tradições próprias, e terem
soberania, e de constituírem as suas próprias leis (Lopes & Capumba, 2006).

Em razão de que um facto histórico não se dá por acaso ou de forma súbdita e


sem precedentes, entende-se que, a tomada de consciência nacionalista africana,
foi um processo mais ou menos longo de acordo com as circunstâncias concretas
de cada país colonizador. Iniciada com a I Guerra Mundial em 1914, confirmada
pelos congressos Pan-Africanistas, acelerada pela II Guerra Mundial e culminará
com a independência da maioria dos Estados africanos (Ki-Zerbo, 2002).

Assim sendo, em seguida, elucidamos os principais acontecimentos que


contribuíram para o surgimento e a propagação do nacionalismo africano:

1.3.1. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

A Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que envolveu as potências coloniais,


exerceu profundas influências no continente africano. Muitos negros africanos
tinham atravessado o atlântico para ajudar as potências europeias envolvidas no
conflito (com a excepção da Alemanha), o que desenvolveu no seu seio um novo
tipo de consciência sobre as desigualdades da sua posição em relação aos
soldados brancos muitas vezes com capacidades inferiores que às dos seus
compatriotas negros (Nsiangengo & Kianzowa, 2012; p:44).

O aspecto mais importante da experiencia que os africanos descobriram na


Europa, foi o tratamento amigável que os negros receberam na Inglaterra e na
França, tendo chegado a conclusão de que afinal o branco não era racista por
natureza. No decorrer da guerra, os africanos, ficaram a conhecer a imperfeição
do branco, pelas fraquezas que foram apresentando. Ao ocuparem Ruhr,
província Alemã, esta acção aumentou veementemente a auto-estima dos
africanos. Os soldados africanos que participaram da I Guerra Mundial, ao
regressarem da Europa, vão estimular uma série de agitações. Os europeus que
estavam a viver fora da Europa, em África e, especialmente na América, podiam
viver sem racismo se quisessem (Ki-Zerbo, 2002).

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Constatando a harmonia racial que eles experimentaram na Europa, quando
começaram a voltar para a África e para a América, constituíram uma das forças
que contribuiu grandemente para a obtenção das independências em seus
respectivos países (Nsiangengo & Kianzowa, 2011, pag.44).

Ora, no desenrolar da I Guerra Mundial, algumas potências colonizadoras


recrutavam soldados africanos, em que na primeira fase, foi de forma voluntária e
mais tarde de forma obrigatória. No caso da França, em 1912 mobiliza mais de
16.000 homens e, em 1915 a 1916, mais de 50.000 homens. A Inglaterra, na
primeira fase da Guerra utilizou os africanos como forças locais. Em 1915, após a
aprovação do decreto da autorização das tropas africanas para ajudar os
britânicos, abrindo por conseguinte o cenário da inserção integral dos africanos
nos exércitos das potências coloniais (Ki-Zerbo, 2002).

Em África, com a inclusão de soldados negros nos seus exércitos, considerando


os seus interesses económicos, foram obrigados a encontrarem métodos que
diminuíssem a resistência dos povos nas suas colónias, sobretudo através de leis
que atenuassem as reivindicações espontaneamente surgidas. Assim aboliram o
indigenato e o trabalho forçado. Os africanos inseridos nos exércitos das
potências coloniais, esperavam portanto que, fossem promovidos socialmente,
boas considerações por parte dos brancos, direitos sociais, honra, medalhas, bem
como as suas liberdades. Mas tiveram esperanças frustradas no final da I Guerra,
tendo causado fracasso económico, político, transformações nas sociedades,
assim como o despovoamento. “A guerra modificou as relações entre os europeus
e africanos, alterando radicalmente a imagem do branco” (Nsiangengo &
Kianzowa, 2001, p.44).

Assim, na minha visão, apesar de esta guerra ter tido como principal palco o
continente europeu, não deixou de contar com a participação directa ou indirecta
de várias nações do mundo, pois, as colónias africanas não estiveram de fora.
Com efeito, a participação de alguns africanos neste magno, sangrento e
inolvidável acontecimento, contribuiu para o desabrochar do nacionalismo
africano.

1.3.2. Os Congressos Pan-Africanistas

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O pan-africanismo teve uma importância vital para o surgimento do nacionalismo
africano, bem como para a formação da “Organização da Unidade Africana” e de
sua sucessora, a “União Africana”. Esse movimento foi crucial na constituição da
identidade negra, tendo sido um instrumento de unidade de luta destes por
reconhecimento, direitos humanos, igualdade racial e depois como elemento
agregador na luta pela independência (nacionalismo) através de seus congressos,
e também como componente aglutinador para formação de uma instituição
continental que também tinha como um dos seus objectivos a descolonização de
todo território africano (De Almeida, 2007).

A concepção de unidade dos africanos no período de formação da OUA foi


fomentada, pelo pensamento pan-americanista. O pan-americanismo surge como
um movimento que tinha como objectivo “fazer com que os próprios negros se
entendessem como um povo”. Ou seja, o pan-americanismo tinha como conceito
central a ideia de raça, a ideia de que uma vez que uma pessoa tenha a cor da
pele negra ela faz parte de um povo negro. Mas do que um pensamento o pan-
americanismo se constituiu num “movimento político-ideológico centrado na
noção de raça, noção que se torna primordial para unir aqueles que a despeito de
suas especificidades históricas são assemelhados por sua origem humana e
negra” (ibidem).

O pan-americanismo enquanto movimento político e ideológico organizado surge


na verdade fora da África, ele ganha força com os negros da diáspora que se
unem contra a discriminação e subjugação a que eram sujeitos nas colónias
americanas e isso ainda no século XIX (ibidem).

Podemos citar como antecedentes desse movimento na África intelectuais


negros, na sua maioria provenientes da África Ocidental sob domínio colonial
inglês. Devido ao intenso intercâmbio entre esses estudantes africanos ocidentais
e pensadores do pan-africanismo, especialmente nos EUA, os líderes dessa
região foram fortemente influenciados, implicando assim num diferencial em
relação as lideranças das outras colónias. Outro aspecto importante do
movimento pan-africano nessa região foi o papel desempenhado pela imprensa
que se incumbiu de difundir as condições sob - humanas impostas pelo regime
colonial aos negros (ibidem)

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Dessa forma, o movimento pan-africano logo no seu surgimento era composto por
um selecto grupo de africanos com formação no ensino superior nas metrópoles
europeias e nos EUA. Sua manifestação se deu de diferentes formas sendo as
principais as conferências e congressos, publicações em jornais, discursos, livros
e formação de associações (ibidem).

A fundamentação teórica do pan-africanismo é iniciada por Alexander Cromwell


que tem no cerne de seu pensamento o conceito de raça que por sua vez será a
directriz de sua visão para os negros e para a África. Para ele a África é a pátria
da raça negra e que ele como negro tinha direito de falar, agir e programar o
futuro desse continente como seu legítimo representante. Para ele a ideia da
África enquanto uma unidade decorria do fato dela ser a pátria dos negros. Esse
pensamento de Cromwell manifestado em seus textos inaugurou o discurso do
pan-africanismo, pois ele traduz exactamente a ideia da existência de um povo
negro que por sua vez constituía uma unidade que teria no continente africano o
seu lugar. Ele tinha a concepção, que vai se perpetuar no século XIX, da
existência de uma unidade política natural, ou seja, uma vez que se tenha um
único povo reunido num mesmo lugar consequentemente se tem uma unidade
política. Nesse sentido Cromwell também foi considerado um dos pais do
nacionalismo africano. Além disso, ele defendia a adopção da língua inglesa
como a língua a ser empregada na construção de um estado negro africano
(Nsiangengo & Kianzoa, 2011).

Com essa atitude estava resgatando ou simplesmente reproduzindo o espírito do


nacionalismo europeu que previa a utilização de uma única língua a fim de
promover a unidade nacional. No caso da África existia muitas línguas e essas
por sua vez não poderiam suprir essa necessidade, segundo Cromwell, de um
único idioma para proporcionar a unidade da África Ocidental, logo o melhor
caminho, na concepção de Cromwell, era a adopção da língua inglesa, que na
verdade, também segundo o mesmo era superior e por isso a “melhor opção”.

A trajectória do pan-africanismo está entrelaçada com a trajectória do


nacionalismo africano, dessa forma assim como o pan-africanismo tem como eixo
de sua formação o conceito de raça o mesmo acontece na construção do
nacionalismo na África (ibidem).

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Embora falemos do conceito de raça como fundamental componente do
movimento Pan-Africanistas e sua influência no nacionalismo africano. Entende-
se por raça um conceito diferenciador dos homens que por sua vez, a partir de
critérios físicos ou morais determina a diferença entre os mesmos. Derivado
desse termo surgiu a palavra racismo, este termo está associado a um
comportamento moral de não somente diferenciação a partir do critério de raça,
mas a partir do estabelecimento de uma hierarquia sobre as mesmas onde há a
implicação de que algumas raças seriam inferiores ou superiores as outras
resultando num tratamento diferenciado das mesmas (De Almeida, 2007).

Como já afirmamos o pan-africanismo teve a sua fundamentação teórica a partir


do conceito de raça, dessa forma traz consigo o pressuposto da aceitação dessa
diferenciação e dessa hierarquia. No entanto, vamos continuar esclarecendo os
termos referentes a raça. Kwame Anthony Apiah descreve que existe uma
diferença entre os termos frequentemente utilizados nos assuntos concernentes a
raça, ele diferencia racialismo e racismo. Para este autor o racialismo seria a
visão de que existem características hereditárias, possuídas por membros de
nossa espécie, que nos permitem dividi-lo num pequeno conjunto de raças, de tal
modo que todos os membros dessas raças compartilhem entre si certos traços e
tendências que eles não têm em comum com membros de nenhuma outra raça.
Esses traços e tendências característicos de uma raça constituem, segundo a
visão racialista, uma espécie de essência racial; e faz parte do teor do racialismo
que as características hereditárias essenciais das “Raças do Homem” respondam
mais do que características morfológicas visíveis com base nas quais formulamos
nossas classificações informais. (Appiah, pág. 33)

O racialismo em si, não seria um conceito que contemplaria um problema moral e


sim cognitivo, pois se trata de entender um mundo em que existam diferenças,
mas um mundo em que essas diferenças podem ser respeitadas, ou seja, as
diferenças não dão lugar a uma hierarquia moral das diferentes raças, mas cada
uma teria o seu espaço e também a sua contribuição. A partir desse conceito
foram formuladas outras doutrinas denominadas de “racismo”, essas por sua vez
já resultaram em questões morais e até mesmo criminosas ao longo da história
(Wolfgang, 2002).

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Cromwellse apropriou de uma concepção moderna de raça para justificar a sua
visão, a concepção de hereditariedade biológica e também de “uma nova
compreensão do povo como nação, e do papel da cultura na vida das nações”.
Para Appiah, Cromwell era racialista e racista e, embora, segundo ele, não se
possa ter certeza quanto a qual tipo de racismo ele manifestava, afirma que
quanto ao pan-africanismo, esse era, supostamente, embasado num racismo
intrínseco. E isso significa que o pan-africanismo se apoiava no fato de uma
solidariedade racial onde aqueles que se enxergavam como negros deveriam ser
solidários entre si, dando preferência ao que fossem de sua própria raça (Ki-
Zerbo, 2002).

Assim como Crummell, Edward Wilmont Blyden, também tinha a raça como
conceito norteador de seu pensamento e defende a existência de uma civilização
negra - africana. Isso significa que ele condena o racismo extrínseco contra os
africanos, afirmando que os mesmos não eram inferiores, mas possuíam uma
própria história e “elementos constitutivos na construção de uma personalidade
africana”. Explicava as diferenças entre africanos e ocidentais devidas as
diferentes circunstâncias que vivenciaram, se opondo a ideia de que as diferenças
seriam resultado de uma inaptidão intrínseca ao povo africano (Wolfgang, 2002).

Blyden defendeu em 1884, numa declaração em Freetow, a recolonização da


África a partir da Libéria afirmando que “só em África a raça negra pode realizar o
seu destino”. Para ele a Libéria seria o primeiro estado africano independente
construído por negros e a partir daí construiriam uma grande nação negra.
Demonstrando, assim, um carácter anticolonialista, que só vai influenciar mais
incisivamente o movimento pan -africano após a Segunda Guerra Mundial
(Decranene, 1962).

Outro importante pensador e difusor do movimento pan - africano foi William


Edward Du Bois, para ele a raça é um conceito associado à construção histórica
comum e ao factor biológico, no entanto considera o primeiro elemento ainda
mais importante. E que cada raça contribui de forma diferente para a humanidade,
negando assim a inferioridade da “raça negra”, tendo a função de apresentar a
humanidade algo que só ela tem a oferecer. Admite a diferença, mas nega a
existência de superiores e inferiores, defende a ideia de complementaridade. Para

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ele a contribuição negra ao mundo não é só diferente, mas única e valiosa
(ibidem).

William Du Bois foi na verdade a primeira figura a lançar bases teóricas mais
organizadas e práticas para o movimento pan - africano. Estabelecendo
sistematicamente as suas intenções que além de defender uma igualdade racial,
incluía a luta “pela autodeterminação nacional, pela liberdade individual e por um
socialismo democrático.” Opunha-se radicalmente a ideia utópica de repatriação
dos negros dos EUA para retornar a África, ideia essa fomentada por Blyden e
defendida por outro ícone do movimento pan - africano, o jamaicano Marcus
Garvey (ibidem).

Este foi responsável pela criação da Associação Universal para o Aprimoramento


do Negro (UNIA) e caracterizado como líder carismático de um movimento que se
propôs a promover a emigração de negros de volta para a África, elegendo,
então, a Libéria como a pátria ideal para início da constituição de uma nação
negra. Segundo Ki-Zerbo “Não hesitou em colaborar com os racistas do Ku Klux
Klan, que como ele, mas por razões inversas, preconizavam que os Negros
americanos fossem mandados para a África” (ibidem).

O conceito de unidade racial da UNIA envolvia um projecto político e defendia a


ideia de uma “federação imperial geopoliticamente determinada” sendo possível
de ser alcançada pela “unidade imperial entre a Grã-Bretanha e suas colónias”.
Percebemos que até então não existiam no discurso pan - africanista uma
perspectiva anti-colonial e que a ideia de unidade se restringia basicamente a
África Ocidental de colonização britânica, pelo menos como ponto de partida para
o restante do continente (ibidem).

Embora pressionado quanto à oposição ao movimento e também problemas na


administração da UNIA, Garvey juntamente com Du Bois representou um papel
fundamental na divulgação da luta dos negros por reconhecimento enquanto uma
cultura negra, não somente nos Estados Unidos da América e Antilhas, mas
também na Europa e na África (ibidem).

O pan-africanismo na África de colonização francesa apresentava uma


abordagem diferenciada quanto àquela desenvolvida pelo pan-africanismo de
vertente anglófona, tinha duas principais preocupações: a construção de uma

15
identidade que fizesse frente às mazelas do colonialismo e a fundamentação
intelectual e política que viabilizasse futuramente a “emancipação política”.

O pan-africanismo da África francófona difere da de colonização britânica em três


aspectos, primeiramente o pan-africanismo nessa região foi elaborado mais
tardiamente em relação ao outro, sendo este no período entre guerras. Além de
permanecerem apenas mais contundentemente em Paris do que propriamente no
continente africano e finalmente ficou mais restrito a um selecto grupo de
intelectuais, artistas e políticos africanos com formação europeia (Appiah, 1999:
p.44).

Podemos destacar desta vertente a participação fundamental da obra literária


como difusora das realidades da actuação colonial francesa em África, se
tornando assim um instrumento de denúncia na Europa bem representados na
figura de René Maran e André Gide (op cit, p. 46).

A maior expressão de um movimento pan - africano da África colonial francesa foi


o movimento denominado de negritude. Movimento literário que vem resgatar as
tradições culturais do continente africano. Encontrando em Leopold Seghor e
Aimé Césaire seus principais representantes. A principal ideia desse movimento é
a de que “todos os povos de ascendência africana tinham um património cultural
comum”. Dessa forma, esse movimento também tem sua centralidade na noção
de raça (ibidem).

Assim como houve uma diferença no processo de colonização das colónias


britânicas e das colónias francesas, houve também uma diferença na forma que
se desenvolveu o pan-africanismo nessas duas vertentes o que também vai
delinear o perfil político continental desses dois blocos que vão ter seus papéis
mais definidos no período que antecedeu as suas independências. No entanto, o
movimento pan - africano passou a se manifestar de forma mais prática quando
iniciou a realização de uma série de congressos, se tornando um dos principais
instrumentos para expansão do movimento (ibidem).

As realizações desses congressos manifestam o carácter da primeira etapa do


movimento pan - africano que ainda se encontrava mais restrito aos EUA, Caribe
e Europa, e ainda a uma tímida participação dos negros africanos. Prova disso é
que nenhum dos congressos desse período foi realizado na África e apenas no

16
último é que foram iniciados discursos anticoloniais, antes disso os congressos
basicamente promoviam a reunião para reivindicar direitos civis dos negros e
igualdade racial. A primeira Conferência pan - africana ocorreu em 1900 em
Londres e com o intervalo de 19 anos deu-se início a uma série de realizações de
Congressos pan - africano, cinco ao todo começando em Paris, 1919 e findando
após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, esse realizado em Manchester. Todos
organizados por Du Bois (ibidem).

A participação nos congressos foi aumentando a medida que os mesmos foram


conquistando a atenção dos negros e de suas lideranças tanto nas colónias
americanas e caribenhas como no próprio continente africano. O primeiro contou
com a participação de “57 delegados negros dos territórios africanos sob
colonização francesa e britânica, das Antilhas e dos EUA.” No quarto já contava
com a maior participação até então em congressos, 208 delegados provenientes
de 22 Estados americanos e de uma dezena de países europeus (ibidem).

As principais reivindicações realizadas nesses congressos foram a adopção de


um “código de protecção internacional dos indígenas da África; o direito à terra, à
educação e ao trabalho livre; e a abolição dos castigos corporais nas colónias; a
“Declaração ao Mundo” que em sua essência, reclamava para os negros iguais
direitos aos dos brancos; a assinatura de um manifesto final com um “Apelo ao
Mundo” pela igualdade e cooperação de todas as raças e pela justiça e
solidariedade universal e a criação da “Associação Internacional Africana”; um
manifesto que formulava reivindicações para o tratamento dos negros como
homens, caminho condutor para a paz e para o progresso, e também se referia ao
desarmamento mundial e à organização do comércio e indústria, já assumindo
assim uma visão global do mundo. E ainda “a representação e participação dos
negros nos governos que os representam, a justiça adaptada às condições locais,
a extensão do ensino primário gratuito e um desenvolvimento do ensino técnico”
(ibidem).

Após esse período houve um intervalo extenso na realização dos congressos que
só vai voltar a se realizar com o término da Segunda Guerra Mundial. Nessa
ocasião muitos africanos lutaram pela liberdade, ironicamente, de suas
metrópoles e a partir de então as ideias independentistas foram se tornando cada

17
vez mais concretas. Durante esse período de permanência dos negros africanos
na Europa eles se aperceberam que além de ter em comum o anseio pela
independência da Europa eram vistos como uma unidade, um povo, os africanos.
Esse momento então representou uma maior identificação com o movimento pan-
africano que até então era um movimento de solidariedade racial mais
especificamente fora da África, contra a discriminação sofrida nas colónias
americanas e no Caribe. Agora passa a ser um instrumento na luta anticolonial e
pela emancipação (Ki-Zerbo, 2002).

Podemos dizer que a vontade de realizar a independência das colónias europeias


na África fortaleceu a ideia de uma identidade africana, de uma unidade do povo
negro que agora luta por um objectivo comum, a descolonização. Esse aspecto
fortalece no movimento pan - africano o espírito de unir forças para alcançar os
objectivos. Verificamos, então, que o conceito de raça foi um “princípio
organizador central” nesse período de aspiração pela descolonização da África,
princípio este que se manifestou tanto no pan-africanismo caracteristicamente
afro-americano e caribenho como no francófono tendo a negritude como seu
maior expoente (ibidem).

Cabe aqui ressaltar o quinto Congresso pan - africano que já será realizado em
1945, após a guerra, quando já se estava configurando um outro cenário no
contexto internacional, as potências europeias enfraquecidas, a formação de uma
bipolaridade política, económico e ideológica e também a organização e
fortalecimentos de movimentos de resistências anticoloniais (De Almeida, 2007).

O Congresso pan - africano de Manchester já pode contar com a presença de


“políticos, sindicalistas e estudantes, basicamente representantes das colónias
inglesas e a independência imediata e incondicional foi enfatizada como a maior
de todas as reivindicações”, destacando a presença de lideranças africanas como
Francis Kwame Nkrumah, Wallace Johnson, da Serra Leoa, e Jomo Kenyatta
(ibidem).

Pela primeira vez há uma manifestação objectiva e clara anticolonialista e anti-


imperialista, sendo reivindicada a independência nacional e já um
direccionamento, um alinhamento junto ao socialismo ou socialismo-marxista.
George Padmore “propõea adopção de um manifesto em que se opunha à

18
discriminação racial e condenava o apartheid na África do Sul além de afirmar que
os africanos estavam resolvidos a serem livres, conclamando a unir-se contra o
colonialismo”. Nesse ponto percebemos nas palavras de Padmore o componente
de unidade racial característico do pan-africanismo. Ele conclama o povo negro, o
povo africano, para se unir contra um inimigo comum, o colonialismo (KI-ZERBO,
2002).

E ainda nesse congresso a Resolução Final “assumiu a condenação global do


capitalismo europeu nos territórios africanos.” Adoptando claramente uma postura
de influência marxista que vai influenciar inúmeros intelectuais e líderes políticos
africanos tanto nesse período como pós-independência (ibidem).

A partir do Congresso de Manchester foi dado um novo impulso ao pan-


africanismo, que agora passa a ter uma participação africana mais directa, o pan-
africanismo passa a ser um instrumento significativo para os africanos que
passam a utilizar a concepção de solidariedade racial para promover a luta pela
independência do continente africano (De Almeida, 2007).

Da realização do V Congresso pan - Africano houve um intervalo de mais de 10


anos para a realização de uma série de conferências e congressos que vão
acabar resultando na constituição da OUA, nesse intervalo ocorreu um importante
encontro que foi a Conferência de Bandung. O movimento Pan-Africanistas vai se
tornar mais actuante, especialmente no continente africano, após a realização
dessa conferência que embora não fosse um encontro estritamente de interesse
das colónias africanas tem directa relação ao continente africano por representar
“o marco do aparecimento formal do Terceiro Mundo como uma unidade
ideológica” (ibidem).

1.3.3. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

A Segunda Guerra mundial, como postulam alguns historiadores, foi, de certa


forma, uma continuação da Primeira, haja vista que alguns dos motivos eram
similares, como o desejo de expansão imperialista da Alemanha, que, sob o jugo
de Hitler, declarou-se como o III Reich (terceiro império). Porém, a devastação e o
morticínio dessa guerra foram inigualáveis, sem contar as atrocidades que foram
cometidas fora da zona de combate, como o holocausto nazista e os gulags

19
soviéticos, já que tanto nazistas quanto comunistas desejam levar a cabo a
construção de um império global, como diz o historiador Timothy Snider, em seu
livro Terras de Sangue – A Europa entre Hitler e Stalin (Ki-Zerbo, 2002).

Assim, a guerra, que acabava pela revelação apocalíptica da energia nuclear


sobre a Hiroshima e Nagasaqui (1945), representava uma viragem decisiva na
História universal e em particular na História de África. Centenas de milhares de
negros participaram nela em teatros de operações tão variados como a Líbia, a
Itália, a Normandia, a Alemanha, o Médio Oriente, a Indochina, a Birmânia, etc..
as reservas do Banco de França haviam , de resto, sido retiradas e guardadas em
Kyes (Mali), muito mais do que durante a primeira guerra mundial, entrava a
África Negra em contacto de maneira decisiva com o mundo inteiro, num contexto
de estremecimento geral (ibidem).

Quinhentos e vinte mil soldados coloniais tinham participado na guerra de 1914-


1918. Em 1940, havia 127 mil e 320 atiradores da África Ocidental Francesa
(AOF), 15 mil e 500 da África Equatorial Francesa e 34 mil de Madagáscar. A
quando do armistício, falavam 24271 (senegaleses) e 4350 (malgaxes) (ibidem).

A partir de 3 de Setembro de 1939, quando a Grã-Bretanha e a França


declararam guerra à Alemanha. Os Aliados recrutaram nas suas colónias cerca
de meio milhão de soldados e operários. Soldados coloniais de toda a África
subsaariana e do norte do continente tiveram de lutar contra as tropas alemãs e
italianas no norte de África e na Europa durante a guerra. Mais tarde também
combateram contra os japoneses na Ásia e no Pacífico ((Cornevin, 1979).

No dia 1° de Setembro de 1939, as forças armadas da Alemanha atacaram a


Polónia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados
poloneses. No dia 3 de Setembro, França e Grã-Bretanha, que eram aliadas da
Polónia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram no conflito (Ki-
Zerbo, 2002).

Em 1939, o exército francês recrutou cerca de 100 mil africanos ocidentais para
combates na França, na Alemanha e em Itália. O que é certo é que os soldados
africanos acabaram por ter contacto com soldados europeus e com a vida na
Europa. Isso teve um impacto na sua consciencialização e, consequentemente,
também na sua acção política nos países de origem (ibidem).

20
Foi essa, para centenas de milhares de negros a ocasião de uma descoberta
brutal do homem branco, na sua verdade, sem máscara imperial, nem ouropéis
proconsulares (Nsiangengo & Kianzoa, 2011).

À semelhança da I Guerra Mundial, a II Guerra Mundial contribuiu grandemente


para o fomento da consciência nacionalista em África, pois neste evento aumenta
o número de africanos negros inseridos nos exércitos europeus, pelo que, esta
inserção fá-los-á conhecer a verdadeira identidade do homem branco. Pois os
negros voltaram a observar melhor que os brancos também temiam o medo,
traiam-se uns aos outros, sentiam-se também atormentados pela fome e pela
sede, havia heróis, como também cobardes, Os brancos trabalhavam com as
suas mãos. Suavam. Tinham relações carnais os que torturavam, os que traíam e
os que matavam-se uns aos outros com raiva. Tudo o que viram, fê-los lembrar a
célebre frase proferida no século XIX por David Livingstone:

“os negros não são melhores, nem piores que os


homens de outras regiões do globo” (Ki-Zerbo,
2002; p: 158).

Esta simples frase revolucionará no século XIX, tomava em 1942, um sentido


límpido e cru para milhões de africanos. Os brancos confundidos em África na
dominação e na superioridade colonial, revelavam-se assim, verdadeiros lobos
uns para com os outros. E no desprezo bestial em que Adolfo Hitler englobava os
brancos não - germânicos e os negros descobriam subitamente o seu próprio
valor e atingiam ao mesmo tempo a estatura e o estatuto dos cavaleiros de uma
causa que traçava a verdadeira linha de demarcação entre os homens: a linha da
dignidade humana (Ki-Zerbo, 2002).

Os soldados africanos foram grandes artesãos da emancipação africana. Tanto


aqueles que foram tragados pela tormenta, como aqueles que regressaram
mutilados ou não, alguns dos quais tomaram partem activa nos movimentos
políticos mais avançados dos seus países. Muitos infelizmente, haviam deixado
os ossos nas terras frias do Norte (ibidem).

Segundo o jornalista alemão Karl Rössel, citado por Cornevin (1979), «essas
experiências tiveram consequências vastas. "O facto de os soldados coloniais
terem testemunhado, pela primeira vez, que a chamada 'raça superior' sofreu e

21
morreu, na lama e na imundice, mostrou-lhes que não há diferenças entre as
pessoas". "Isso fez com que muitos apoiassem os movimentos independentistas
nos seus países"» (ibidem).

Após a Segunda Guerra Mundial as revoltas e reivindicações vão merecer grande


importância, pois que, nesta altura já se contava com a intervenção de intelectuais
nos momentos do seu planeamento. Estes intelectuais eram aquelas pessoas que
receberam as suas formações no exterior especificamente nos países de cada
potência colonizadora ou em cidades que já eram desenvolvidas como os EUA
(ibidem).

Assim no âmbito do planeamento das suas revoltas, os movimentos


revolucionários, mas com maior destaque aos intelectuais, já haviam percebido o
caminho que os levaria para a liberdade. Uma vez que a tomada da consciência
nacionalista dependeu das políticas aplicadas pelas potências colonizadora, os
caminhos para as independências, dependerá de igual maneira das
circunstâncias concretas de cada colónia. Com efeito, para as colónias inglesas,
as independências foram progenitas pela via diplomática e, foram igualmente
paridas pela mesma via. Para as demais colónias, como é o caso das que
pertenciam a França, Portugal, foi preciso a coercibilidade para a gestação das
mesmas e consequentemente coercibilidade para pari-las (Ki-Zerbo, 2002).

Mas tanto a independência alcançada por vias diplomáticas como as que foram
conquistadas através do uso da força, não se aceita a intenção maliciosa de que
elas foram outorgadas pela boa-fé das potências colonizadoras. Vemos desta
maneira que o nacionalismo africano manifestou-se nas lutas levadas a cabo
pelos africanos para a emancipação das suas independências (ibidem).

Neste processo, destacamos também a magna actuação da figura dos líderes


intelectuais Francis Kwame-Krumah do Gana, Sekou Touré da Guiné Konakry,
Patrice Lumumba do Congo Leopoldiville (ibidem).

Neste diapasão, importa inferir que, após a guerra, a Europa estava totalmente
debilitada, tanto do ponto de vista de perdas matérias, quanto humanas,
endividada com a África, a Europa dominava ainda o mundo durante a primeira
metade do século XX, a partir daí cede lugar aos grandes: os Estados Unidos da

22
América EUA e A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas URSS, cujo
poderio industrial crescera de maneira prodigiosa por causa da própria guerra.

Ora estes dois colossos, por razões diferentes, apregoavam um anticolonialismo


sem equívocos findas as hostilidades (ibidem).

1.3.4. A Política dos Estados Unidos da América

Os Estados Unidos da América, que tinham deitado os olhos sobre a América


Latina e sobre as Ilhas do Pacífico até ao Japão, confiado ao procônsul Mac
Arthur, encaravam então os problemas africanos com uma atitude liberal, que era
o resultado, em primeiro lugar da tradição anticolonial e democrática das suas
próprias origens politicas, além disso, como sublinhava R. G. Woolbert, «OS EUA,
têm interesses evidentes em pedir a manutenção da porta aberta, tanto na Etiópia
como nos outros territórios africanos» (Ki-Zerbo, 2002: p. 159).

Muitos autores americanos, prossegue ele, encaram a noção de


internacionalização como razoável. Na verdade torna-se necessário cobrir o vazio
relativo que a cedência europeia iria criar em África em matérias de
investimentos. Tanto mais que – e este terceiro motivo do anticolonialismo
americano – surgia os riscos de os russos se adiantarem se fossem eles os
únicos a tomarem a defesa da África. Em resumo, os EUA, abandonavam de
forma definitiva a política do esplêndido isolamento que fizera da África da Europa
(ibidem).

Após a primeira guerra mundial, tendo a Alemanha sido considerada indigna de


conservar as suas colónias, havia o presidente Wilson, na linha da sua política
idealista e generosa do direito dos povos a disporem de si mesmo, proposto a
administração dessas colónias por um organismo internacional até à
independência. Esta fórmula julgada impraticável, foi corrigida para dar lugar ao
princípio do mandato internacional. Os territórios assim definidos (Togo,
Camarões, Sudoeste Africano, Tanganica), eram administrados por uma potência
mandatária sob controlo da Sociedade da Nações (SDN) (op cit.: p. 160).

Na conferência de Moscovo (Outubro de 1943), a delegação americana,


apresentou na mesma a tradição, uma proposta de largo alcance. Devia não
somente ser restituída a independência aos países que a haviam perdido por

23
causa de uma agressão, mas também, garantir a possibilidade prática de se
tornarem independentes os povos que aspirassem a tal (ibidem).

Esta proposta bem acolhida pelo URSS, ficou adiada por causa da Grã-Bretanha.
Desenrolou-se então uma controvérsia activa nos Estados Unidos, opondo, por
exemplo, Summer Welles a Walter LIppmann. O primeiro, num artigo de 23 de
Março de 1945 em New York herard tribune, não hesitava em escrever: «em
qualquer parte onde governos estrangeiros controlam povos submetidos que não
estão ainda preparados para a autonomia, deveriam, os governos em causa
provar à trustee ship internacional que administram essas regiões em proveito dos
indígenas e que preparam seus protegidos para a autonomia ou a
independência». Retomava em suma, a ideia de Wilson. Mas, no mesmo jornal,
Walter Lippmann, lançava um apelo ao realismo (ibidem).

Assim, portanto, o texto da conferência de São Francisco (Maio de 1945), ao


elaborar-se o regime de tutela internacional (trust Ship), falará de «favorecer
igualmente a sua evolução progressiva para a capacidade de se administrarem (a
si mesmos) ou para a independência, tendo em conta as condições particulares
de cada território», etc. Visará isto assegurar a igualdade de tratamento no campo
económico, social e comercial à todos os membros da organização e aos seus
cidadãos. A trust ship consagrava, portanto, o regime da porta aberta no sentido
da igualdade económica das nações ricas perante certos mercados africanos
(ibidem).

Os homens de negócios americanos verificavam com efeito, que 25% a 75% das
matérias-primas essências para as suas indústrias, se encontravam nas
possessões coloniais das outras grandes potências. «Temos interesses precisos
nestas regiões coloniais, escrevia Ernest Lindley em Washington post de 15 de
Janeiro de 1945, « na medida em que ela constituem fontes de matérias-primas e
possíveis mercados. Eis uma das grandes razões pelas quais os americanos
propuseram e defenderam a trust ship e o seu indispensável complemento, o
regime de igualdade económica.» a política americana em África oscilará sempre
entre estas aspirações liberais e estas atitudes ditadas por interesses económicos
preciosos (ibidem).

24
A particular atenção dedicada à África, será precipitada de certos altos
funcionários como Georges C. Mc Guee. O empenhamento americano nesta
matéria será activado pela aceleração da emancipação africana a partir de 1957.
A viagem espectacular do vice-presidente R. Nixon à África, inscreve-se assim no
quadro guerra fria, na obsessão de que o vazio criado pela retirada europeia
viesse a criar uma zona de baixas pressões que atraísse o vento do Leste
(ibidem).

1.3.5. A Política da URSS

A política anticolonial da URSS, assenta em bases ideológicas mais sólidas: já


Karl Marx, fazendo-se eco dos doutrinários da convenção francesa, havia
declarado que «um povo que oprime outros povos, não se pode considerar livre».
Já Lenine, definia o imperialismo como sendo «uma fase histórica particular do
capitalismo», fase essa que qualifica de «monopolista, parasitária e agonizante».
E prossegue: «a partilha territorial do mundo (das colónias) terminou. Começou a
partilha económica do mundo pelos cartéis internacionais». A revolução Soviética
de Outubro, constituiu uma data importante para a História dos povos colonizados
(Ki-Zerbo, 2002:p. 161).

Estaline, em o Marxismo e a Questão Nacional e Colonial, depois de ter fustigado


o chauvinismo metropolitano dos socialistas das nações dominantes que não
querem combater os seus governos imperialistas nem apoiar a luta dos povos
oprimidos das suas colónias, preconiza uma acção anti-imperialista com base no
internacionalismo proletário. Mas, na prática, é sobretudo na Ásia que se vai
exercer a acção da URSS (ibidem).

Em África, a influência comunista exerce-se essencialmente, de início, por


intermédio dos partidos comunistas dos países colonizadores e dos sindicatos e
associações de obediência Marxista. Com a emancipação política, a presença
Soviética, afirmou-se por vezes de maneira muito nítida, seja deitando a espada
na balança, como em 1956, aquando do desembarque franco-britânico após a
nacionalização do canal de Suez por Nasser, seja ocupando o vazio deixado pela
retirada voluntária ou forçada do país colonizador (ibidem).

O anticolonialismo soviético é apresentado não apenas como tarefa de libertação


mais também como uma contribuição para a paz mundial. Estaline, num texto que

25
deixa entrever que a defesa da paz está de resto forçosamente ligada aos
interesses da URSS, já declarava em 1946: «Se, se tivesse pedido proceder
periodicamente a novas partilhas das matérias-primas e dos mercados entre os
países consoante o seu peso económico e de harmonia com pacíficas decisões
tomadas de comum acordo, poderia talvez ter sido evitada esta guerra, mas isso
é impossível nas condições capitalistas actuais da economia mundial» (ibidem).

1.3.6. A Acção da ONU

A Organização das Nações Unidas (ONU), criada na Conferência de São


Francisco em Maio de 1945, devia desempenhar também um papel
preponderante no desenrolar do nacionalismo africano. A organização tinha, com
efeito, inscrito no artigo I da sua carta, entre os objectivos, o seu ideal de
«desenvolver entre as nações relações amigáveis, baseadas no respeito do
princípio da igualdade de direito dos povos e do seu direito a disporem de
disporem de si próprios» (Ki-Zerbo, 2002: p. 162).

Muito depressa, se tornará a ONU, uma tribuna mundial para os porta-vozes dos
povos colonizados, começando pelos naturais dos países sob tutela e isso no
quadro da comissão de Tutela da organização internacional. Caixa de
ressonância sem precedentes para atingir a opinião pública inteiro, o edifício da
organização tornar-se-á numa espécie de altifalante que amplificava a voz dos
fracos. Muito mais do que isto, ainda, a ONU, ultrapassando nesse ponto as
veleidades da Sociedade das Nações (SDN) (ibidem).

A ONU, pela sua abertura ao mundo proporciona aos africanos, pelas missões de
inquéritos que pode introduzir até no antro Sul-Africano do racismo, pelas suas
múltiplas comissões ad hoc e pelas instituições especializadas como a UNESCO,
através do mar de discursos e das montanhas de relatórios, trabalha no sentido
do despertar nacional africano (ibidem).

A Conferência de Bandung

A Conferência de Bandung, realizada na Indonésia. Entre os dias 18 a 24 de Abril


de 1955, foi organizada pelos países asiáticos e contou com apoio de países
africanos como a Etiópia, Líbia, Libéria e Egipto. Teve como líderes Sukarno (da

26
Indonésia), Chu En-Lai (da China) e Nasser (do Egipto). A Conferência se
propunha a promover uma cooperação económica e cultural afro-asiática, com o
objectivo de formar uma base sólida de oposição ao que era considerado
colonialismo ou neocolonialismo. Pela primeira vez em uma conferência o racismo
e o imperialismo são denunciados como crime e também nessa mesma
conferência o não-alinhamento é estabelecido como um posicionamento político a
ser adoptado em oposição aos mesmos. Apesar do não-alinhamento todos os
países declararam que eram socialistas, mas não iriam se alinhar ou sofrer
influência Soviética (Nsiangengo & Kianzoa, 2011).

Durante o encerramento da Conferência de Bandung ficou previsto a realização


de uma outra conferência a ser realizada no Cairo entre 26 de Dezembro de 1957
a 1 de Janeiro de 1958. O neutralismo assume um papel importante nesse
momento, pois irá se traduzir numa aproximação com a URSS que a partir da
Conferência do Cairo exercerá uma maior influência comparada a Bandung nas
colónias e ex-colónias africanas já dando inicio a um posicionamento claramente
estratégico da Guerra Fria. E ainda afirma as intenções de Nasser então
presidente do Egipto, na conquista de uma liderança na África do Norte com uma
perspectiva pan – arabista (Ki-Zerbo, 2002).

O Cairo ocorre uma modificação na denominação dos encontros que deixam de


se chamar conferência entre estados passando a ser conhecido como
“Conferências dos Povos”. O objectivo aqui era possibilitar “a mobilização das
forças revolucionárias contra as soberanias” e mobilizar um maior número de
pessoas ou grupos contra o colonialismo, era uma luta “contra a raça branca”
prioridade que transcendia o princípio nacionalista (ibidem).

Baseando-se no princípio da autodeterminação, o movimento afro-asiático


articula-se com o sentimento anticolonialista, procurando encaminhar para a
emancipação imediata todos os povos ainda colonizados. No entanto, esse
pensamento não é hegemónico no continente africano, embora todos os estados
africanos estivessem ávidos pela descolonização, para muitos o nacionalismo era
uma prioridade e a formação de uma unidade nacional baseada naquilo que os
unia era fundamental, logo a autodeterminação dos povos se tornará um ponto de

27
discussão entre os grupos que irão se desenhar nesse momento para traçar os
rumos nesse novo contexto do continente (Nsiangengo & Kianzoa, 2011).

Foram realizadas três Conferências dos Povos Africanos, a primeira em Acra, em


1958, em que estiveram no cerne das questões a conquista da liberdade e da
independência, consolidação e criação de uma unidade africana que viabilizasse
a constituição de uma comunidade dos “Estados livres de África” e ainda investir
na reestruturação económica social deste continente. Foi criado um secretariado
permanente que tinha como principal função “acelerar a libertação de África” e
“desenvolver um sentimento de solidariedade pan-africano”. As bases da futura
Organização de Unidade Africana foram assim lançadas (ibidem).

A segunda ocorre em Tunes (Tunísia) em 1960 e a terceira ocorreu em Março de


1961 no Cairo já no contexto de definição de dois grupos antagónicos o grupo de
Casablanca e o grupo de Brazzaville. Estes grupos já começaram a ser definidos
a partir do congresso de Manchester, quando foram classificados,
respectivamente, de maximalistas e minimalistas. O maximalismo, com uma
postura definida como mais radical defendia a superação das fronteiras que
haviam sido definidas pela Conferência de Berlim. E ainda propunha a formação
de uns «Estados Unidos da África» e esteve representado pela liderança de
Francis Kwame-Nukrumah. Já a concepção minimalista ou moderada não
questionava a divisão de fronteiras estabelecidas na Conferência de Berlim e
defendia a constituição de Estados Nacionais com soberanias internas e externas
(ibidem).

Em Abril de 1958 foi realizada em Acra outra Conferência de Estados Africanos


Independentes (CEAI) sob a liderança de Nkrumah e de George Padmore,
contando com representantes tanto da África do Norte como da Subsaariana. Já
nessa conferência aparece na ordem do dia “a criação de um organismo pan-
africano “permanente” entre outros itens “a discriminação racial, (...), a
colaboração económica e técnico - cultural entre os países independentes do
continente negro, a manutenção da paz mundial”. Ainda em Acra foram
estabelecidas directrizes importantes para o movimento anticolonialista com
destaque para a reafirmação da não adesão a nenhum bloco político-ideológico
(Hernandez, 2002).

28
Já em Julho, ainda no mesmo ano, ocorreu o Congresso de Cotonou (Benim)
reafirmando um carácter essencialmente pan-africano e anticolonialista esse
congresso tinha “a intenção de constituir o Partido do Reagrupamento Africano”.
Foram deixados bem claro suas pretensões de uma “independência imediata” e a
formação dos “ Estados Unidos de África” e ainda “a supressão de todas as
fronteiras estabelecidas após a Conferência de Berlim de 1885, para que os
povos africanos pudessem unir as suas complementaridades e manifestaram
vontade de concretizar a união do Cairo a Joanesburgo” (ibidem).

Em 1960 foi realizada a 2ª Conferência de Estados Africanos Independentes em


Adis Abeba (Etiópia) em que a proposta de unidade africana antes defendida foi
negada pela delegação da Nigéria que só acatou e concordou com a proposta de
criação de dois bancos inter - africanos. Outro aspecto importante foi a aprovação
do embargo à África do Sul incluindo boicotes comerciais e diplomáticos pela sua
prática racial segregacionista, embora essas decisões não tenham chegado a ser
colocadas em prática efectivamente. Será realizada ainda uma terceira CEAI em
1962 já no ano anterior a formação da OUA (ibidem).

As Conferências dos Povos Africanos de 1961, realizada no Cairo, promovida


pelo grupo de Casablanca vão ressaltar Palrice Lumumba como herói africano e
revelar duas vertentes dentro do Congo: os congueses os quais apoiavam
Kasavubu e Tchombé de imperialistas (grupo associado aos interesses coloniais)
e os lumumbistas (grupo que nega a continuação das relações com os interesses
coloniais e defende os interesses nacionais), liderados por Gizenga de
nacionalistas africanos. Esse é um aspecto importante, pois a questão do Congo
foi um dos pontos de discordância entres os dois grupos já mencionados,
maximalistas e minimalistas (ibidem).

O Congo belga se tornou um importante componente nesse período que


antecedeu a formação da OUA. Colonizado pela Bélgica numa orquestração
magistral de Leopoldo II o Congo tem uma história muito particular no continente
africano e o processo de sua independência se tornou marcante na história do
continente. Na década de 1950 por concessão da Bélgica puderam ser formados
os primeiros partidos políticos na colónia e inúmeros movimentos separatistas
foram criados. Nesse mesmo contexto foi criado o Movimento Nacional Congolês

29
na liderança de Patrice Lumumba que se opunham as tendências separatistas,
defendia o unitarismo, Estado Centralizado, e principalmente lutava pela
independência. Inúmeros conflitos ocorreram no período que antecedeu a
independência dessa colónia e como resultado para acalmar os ânimos foram
convocadas eleições em 1960 que elegeram Lumumba como primeiro-ministro e,
seu opositor, o federalista Kasavubu como presidente da República (Hernandez,
2002).

Em Julho de 1959, em Sanniquellé (Libéria), foi criada a “Comunidade dos


Estados Africanos Independentes” uma união realizada por Gana, Guiné e Libéria
(maximalistas) que não terá vida longa. Já nessa ocasião vai ficando cada vez
mais claro as dificuldades de manter uma postura radical, quanto a uma ideologia
Pan-Africanistas militante dos maximalistas devido às dificuldades dos próprios
estados recém-independentes e a Libéria, por exemplo, ainda bem ligada aos
Estados Unidos. Não havia por parte desses estados estrutura suficiente para dar
suporte a essa empreitada. Além do grupo resistente a essa concepção que foi
crescendo e criando bases mais fortes de oposição (ibidem).

Uma evidência dessa afirmação é a realização no ano seguinte da Conferência de


Brazaville, de 15 a 19 de Dezembro, encontro esse de inicialmente doze estados
conservadores recém-independentes da França (Congo-Brazzaville, Senegal,
Chade, República Centro-Africana, Costa do Marfim, Níger, Alto Volta, Mauritânia,
Gabão, Benin, Camarões e Madagáscar) que fundaram a União Africana e
Malgaxe (UAM) (ibidem).

Esta se propunha procurar uma espécie de paz africana. Tal paz - declarava os
Estados da UAM - só podia assentar na não ingerência nos assuntos internos dos
Estados, na cooperação económica e cultural numa base de igualdade e, enfim,
numa 'diplomacia concertada. No entanto, a postura adoptada por esse grupo de
zelar por manter relações pacíficas e de cooperação comas suas antigas colónias
não foi bem aceitos por demais estados africanos e como chega a afirmar Ki-
Zerbo “Tratava-se, portanto, na verdade, de um bloco político que só reunia
países francófonos e que a Guiné e o Mali não tardaram a denunciar como sendo
uma “sobrevivência do colonialismo” (Ki-Zerbo, 1972).

30
O isolamento das posições pan-africano radicais, junto com o encaminhamento
dos conflitos na Argélia e no Congo e uma mudança na política do Ocidente
acerca da secessão de Katanga, contribuiu para uma reconciliação de diversos
Estados, culminando na formação da Organização da Unidade Africana (OUA) em
1963. (Wolfgang, 2002, p. 9).

A formação da Organização da Unidade Africana vai afirmar basicamente a


postura do Grupo de Monróvia. A conferência que deu origem a instituição abriu
oportunidades para ambos os grupos colocarem suas propostas, sendo vencedor
os minimalistas que defendiam arduamente a não - ingerência nos estados
africanos independentes e a não revisão das fronteiras herdadas do período
colonial. Abaixo se segue uma parte do discurso de “inauguração” da OUA,
palavra do imperador Halie Salassie (Etiópia), figura única do continente africano
e governante do país que se tornou sede da organização,

"Reunimo-nos para reforçar o nosso papel na condução dos


assuntos do mundo e para cumprir o nosso dever para com este
grande continente... O conhecimento da nossa história é
indispensável para estabelecer a nossa personalidade e a nossa
identidade de africanos. Proclamamos hoje aqui que a nossa maior
tarefa consiste na libertação definitiva de todos os nossos irmãos
africanos que se encontram ainda sob o jugo da exploração e do
domínio estrangeiro... Sejamos isentos de recriminação e de
rancor... Que a nossa acção (SIC) se coadune com a dignidade que
reclamamos para nós próprios como africanos orgulhosos das
nossas qualidades próprias, das nossas características e das
nossas capacidades. Temos de evitar, antes de tudo, cair nas
ciladas do tribalismo. Se nos dividirmos entre nós numa base tribal,
isso constitui um convite à intervenção estrangeira, com todas as
consequências nefastas que daí advém. “Reconhecendo que o
futuro deste continente reside em última instância, numa reunião
política, devemos reconhecer também que são numerosos e difíceis
os obstáculos a vencer para lá chegar”. “Por consequência, é
inevitável um período de transição”... Certas organizações regionais
devem assumir funções e satisfizer necessidades que não
poderiam ser satisfeitas de outra maneira. Mas o que existe de

31
diferente aqui é que reconhecemos estas situações no seu justo
valor, isto é, como sucedâneos e expedientes temporários de que
nos servimos até o dia em que tivermos atingido as condições que
tornem possível a unidade africana total ao nosso alcance... Esta
conferência não pode terminar sem a adopção de uma carta
africana única. Não nos podemos separar sem criar uma
organização africana una que reúna os atributos que descrevemos.
A carta africana de que falamos deve ficar de harmonia com a das
Nações Unidas." (Ki-Zerbo, 1972).

1.3.7. O Exemplo da Ásia

A emancipação da Ásia desempenhará um papel muito mais directo ainda neste


campo. Depressa, com efeito, se instaurou uma solidariedade natural entre os
dois continentes habitados por povos de cor, subdesenvolvido, por povos
colonizados. A derrota do Japão consagrava o recuo da Ásia imperialista. Ora, ao
evacuar as suas aquisições de guerra, e +ara semear ratoeiras debaixo dos pés
dos ex-colonizadores europeus, o Japão considera a independência à todos os
povos que controlava. Operou-se nestes países uma descolonização mais ou
menos sangrenta (sendo os dois casos extremos a Birmânia e a Indochina
Francesa). No Vietname, a derrota francesa de Dien Bien Phu (1954), teve
profunda repercussão em África, quanto mais não fosse porque havia ali lutado
contra os vietnamizes, sob controlo francês, umas boas dezenas de milhares de
Negros (Ki-Zerbo, 2002).

Os dois gigantes da Ásia, cujo peso demográfico constitui um terço da


humanidade (a Índia e a China), vão também exercer um papel de primeiro plano
no nacionalismo negro-africano. A independência da Índia (1947), apesar das
circunstâncias deploráveis que a rodearam e das chacinas da sua divisão, irá
influenciar fortemente os africanos, sobretudo os anglófonos. A personalidade do
Maatma Gandhi, cuja força moral fez ceder o leão britânico popularizou nos
tópicos as técnicas da luta política não violenta. A China de Mao Tsé-Tun, pelo
contrario reinterpretando a teoria de Marx para mobilizar o mais espantoso
formigueiro humano, e a reeditar numa escala superior o milagre económico
alcançada no Japão por vias capitalistas

32
1.3.8. O Exemplo da África do Norte

No norte de África, há que se considerar algumas figuras como: o coronel Gamal


Abd el-Nasser (do Egipto), destacado pela nacionalização da Companhia do
Canal de Suez, Bourguiba (da Tunísia), Mohammed Bem Yussef, que
encabeçaram diversas lutas no protectorado do Magrebe(em Marrocos) (Ki-Zerbo,
2002: p. 164).

Em minha opinião, após estes proclamarem suas independências, vão se


solidarizar com o resto do continente que ainda se encontrava sob julgo colonial,
facto que irá fomentar o nacionalismo noutros cantos do continente.

1.3.9. As Contradições Internas do Colonialismo

Assim, os próprios princípios coloniais, inculcados pela educação e prática


administrativa, iriam conduzir a reivindicação anti-colonialista. Por exemplo: os
franceses diziam, em suma, aos africanos: «somos todos iguais». Os
nacionalistas negros ao exigirem esta igualdade até ao fim revelavam o absurdo
desta posição. Também os negros anglófonos pegaram, por assim dizer, nas
próprias palavras dos ingleses, propondo-lhes: «pois que vós quereis que
sejamos diferentes, vamos até ao fim. Queremos ser diferentes mesmo
politicamente» (Ki-Zerbo, 2002).

As duas atitudes conduziram à secessão. Portanto, directa ou indirectamente, por


meio tanto da prática com da teoria colonial, a colonização ia conduzir ao
anticolonialismo e negava-se nele (ibidem).

Thomas Hodgkin, «salientou as contradições impulsionadoras que existiam entre


os princípios e a prática nos actos dos países colonizadores, por exemplo, entre o
princípio da indirect rule, utilizando as instituições locais e as necessidades de ter
em conta as classes médias de africanos destribalizados, assim, como entre o
principio francês da igualdade sem restrições raciais e, por outro lado, a
necessidade de conservar para a França a sua identidade e o seu poder de
direcção. Não esqueçamos também, que os países colonizadores não
apresentavam uma frente homogénea a este respeito (ibidem).

33
Desde a origem das colónias, sempre se houve europeus que se insurgiam contra
os crimes da colonização ou mesmo contra a própria colonização. E, justamente
ao acabar a guerra, os países da Europa Ocidental, vêm chegar ao poder partidos
da esquerda, tradicionalmente anticolonialistas (partido trabalhista em Inglaterra,
governo de colonização em França). Estes partidos não podiam preconizar nos
seus países, um programa social ousado (voto das mulheres, segurança social,
nacionalização, etc.) (ibidem).

1.3.10. Os Sindicatos Africanos

Em África, certas categorias sociais mais sensibilizadas aos problemas gerais,


vão tornar-se intérpretes naturais e catalisadores das aspirações difusas das
massas: são os sindicatos e os intelectuais.

O movimento sindical, conheceu um desenvolvimento tardio na África Negra. A


maturação económica que é a condição prévia e indispensável, encontrava-se em
atraso, pois a industrialização era praticamente interdita pela essência do «pacto
colonial». Somente por volta de 1930, reconhecerá a Grã-Bretanha, o direito
sindical no seu império (Ki-Zerbo, 2002).

Não será demasiado sublinhar o papel destes sindicatos no crescimento do


nacionalismo africano. A mínima análise do fenómeno colonial, no seu aspecto de
dominação económica, conduziu aos sindicatos a não se limitarem às
reivindicações superficiais relativas às condições de trabalho, mas a porem em
causa «a raiz profunda» de todos os seus males: o próprio regime colonial. Com
efeito, os militantes sindicalistas eram com frequência os melhores quadros dos
partidos políticos. Além disso, pelo menos na África francófona, as centrais eram
apoiadas pelos partidos políticos que na metrópole ajudavam as confederações-
mães. Estes partidos mobilizavam-se por vezes, como no caso do código do
trabalho, para sensibilizarem a opinião e fazerem com que as leis sindicais
passassem no parlamento (semana de quarenta horas, férias pagas, subsídios de
famílias) (ibidem).

Por outro lado, tendo os sindicatos de fazer frente a um patronato europeu e a


uma concorrência europeia no emprego, cedo ou tarde, se viam forçados a dar às
suas reivindicações sociais um caris nacionalista, seja porque, nos territórios

34
franceses, insistiam, antes de mais nada, no princípio «trabalho igual, salário
igual» (e daí a segunda lei, Lamine Gueye, em 1950), seja porque, nos países
anglófonos, era dada primazia aos direitos dos trabalhadores africanos, sobretudo
como africanos, como aconteceu, por exemplo, nos países da África Central,
onde reinava a descriminação (Quénia e Rodésia) (ibidem).

Nos dois casos, aviva-se a consciência nacional. Não é de admirar que os


partidos políticos, tenham encontrado nos sindicatos aliados naturais para as lutas
anticolonialistas. Não é de admirar também que os dirigentes operários tenham
sofrido as mais duras repreensões, sob a forma de manutenção arbitrárias,
despedimentos, detenções, etc.

1.3.11. A Acção dos Intelectuais

Enquanto os empregados e os operários africanos alcançavam a consciência


nacionalista em grande parte através da dura experiencia das relações do
trabalho, os intelectuais, chegavam lá, também, pelas experiencias da alienação
cultural. Nesse campo, vão os africanos encontrar-se com os escritores antilhanos
e malgaxes numa caravana espiritual em marcha para a Terra da Promissão. Já
em 1930, o poeta martiniquês Etienne Léro, fundava um jornal literário intitulado
Legitime Défense, no qual, pela análise marxista e pela expressão surrealista,
pensava poder escapar ao esmagamento plurissecular da sua raça. Depois dele,
exprimiu-se uma plêiade de escritores que deram eco, de maneira brilhante, ao
grande canto negro de Aimé Césaire no Cahier d’un retour au pays natal (Ki-
Zerbo, 2002).

Importa salientar que, nesta época, um dos aspectos fundamentais da negritude é


a afirmação de si, após uma longa noite de alienação, como aquele que sai de um
pesadelo e apalpa ao corpo todo para se reconhecer a si próprio, como prisioneiro
libertado que exclama bem alto «estou livre!», embora ninguém lhe perguntasse.
A consciência do «eu negro», provinha também da confrontação com o mundo
branco, com as suas leis, a sua ética, os seus ritos e mitos. A assimilação, a
redução a outrem, tolerada ou aceite até aí, revela-se uma mistificação e o ser
sociológico do negro reivindica a sua autenticidade como uma exigência vital
ibidem).

35
1.3.12. Os Movimentos dos Estudantes

Mas os poetas da negritude contribuirão sobretudo para revelar a alma e a


situação africana a meios europeus que até aí não suspeitavam absolutamente
nada da sua existência. Os estudantes negros, em geral, desempenhavam o
mesmo papel mas com mais vigor ainda. Nos melhores dentre eles a
reivindicação do seu próprio eu devia tomar corpo num desígnio histórico
colectivo, todavia político preciso. Sob este aspecto, os estudantes aproximavam-
se muito mais das ideias Pan-Africanistas espalhadas na intelligentsiados países
africanos anglófonos numerosos entre eles eram, de resto membro da secção
universitária de tal ou tal partido nacionalista africano ou participavam em círculo
de estudos com militantes de partidos ou movimentos europeus progressistas
(Bureau Fabien, partido comunista francês, etc.) (Ki-Zerbo, 2002).

A Grã-Bretanha foi primeira a escolher um grande número de universitários


africanos, muito dos quais estudavam a expensas das suas famílias. Já em 1926,
quando nasceu em Londres ao West Africa Studant´s Union (W.A.S.U), existiam
quatro associações. Em 1951 as colónias africanas tinham 2747 estudantes na
Grã-Bretanha, sendo 2158 da África Ocidental e 589 da África Oriental. Os três
motivos principais dados pelos estudantes para explicar a sua adesão à W.A.S.U.
foram os seguintes: desejo de fugir ao isolamento, desejo de evitar o paternalismo
por uma associação autónoma, desejo de se preparem para as futuras tarefas
políticas. Na realidade, entre os dirigentes africanos de vanguarda, contam-se
muito mais antigos estudantes na África anglófona que na francófona. Em França,
a Fédération dos Estudiants d’Afrique Noire en France (F.E.A.N.F.), fundada em
1952, colocava logo na primeira linha do combate nacionalismo africano. Aqui, a
grande maioria dos estudantes eram bolseiros dos territórios nacionais (ibidem).

Em 1950, encontravam-se nos EUA, cerca de 700 estudantes africanos.


Numerosos deles experimentaram aí directamente o racismo, que feriu de
maneira bem viva a sua africanidade as ideias nacionalistas que inflamavam
estas cabeças jovens, já de se a arder, expostas a todos os ventos do espírito,
vão afirmar-se com solenidade em Setembro de 1956, naquela Sorbonne, que um
dos cadinhos mais prestigiosos do pensamento mais substancial do Ocidente
(ibidem).

36
1.3.1.3. Os Movimentos Religiosos

Mas na própria religião cristã, importada, no entanto, da Europa e dos Estados


Unidos, exprimia-se o nacionalismo por meio da fé. Ora, a maior parte dos
colonos daquela época, não eram de modo nenhum, exemplos de caridade cristã
e o racismo instalava-se em certos edifícios do culto sob a forma de uma
segregação anti-envangélica entre Brancos e Negros. Surgia então o profetismo e
o messianismo propriamente africanos para anunciarem tempos novos (Ki-Zerbo,
2002: p.172).

De resto, tanto o cristianismo, quanto o islamismo, substituíam o animismo por


uma ideologia religiosa mais dinâmica, pois criavam uma comunidade muito mais
vasta. Os «Deuses» da aldeia ou da família, com carácter territorialmente
limitado, cediam o seu lugar a uma igreja universal, introduzindo entre os próprios
africanos um imenso princípio de integração. Uma vez mais, porém, a realidade
se sobrepunha ao facto colonial. Já a African Orthodox Church, fundada pelo
jamaicano Marcus Garvey, ensinava que “os anjos são negros e os demónios
brancos”. A ideia espalhar-se-á pela África, onde os movimentos nacionalistas, no
seio das igrejas se apresentarão sob uma dupla forma: autonomista e profético:

 A primeira exprime-se, por exemplo, nesta réplica do pastor negro E: J.


Nemapare da Rodésia do Sul, que havia lançado um cisma africano na
igreja metodista e que era acusado de desmembrar o corpo de Cristo.
Numerosas igrejas do tipo «etíope ou sionista», seguiram esta via
autonomista. Com frequência, o conteúdo da fé será então reformado num
sentido nacionalista.
 A segunda alega que, à porta do paraíso, por exemplo, deve-se
apresentar… uma alma bem negra! E o profeta Zulu Isaie Shembe, está
ele próprio à entrada do céu para não deixar passar os brancos, pois estes,
sendo ricos, já tiveram sua parte de felicidade na terra…

Na África Equatorial e Central, nas zonas onde a exploração colonialista era mais
dura e no período de recrudescência da opressão, como durante a crise
económica de 1930 e escassez de géneros do tempo da guerra em 1940,
germinava naturalmente o profetismo como compensação mística à terrível

37
realidade. Simon Kimbangu, filho de um feiticeiro de grande reputação, havendo
se feito catequista protestante, pregou uma fé nova que se espalhou em todo
baixo Congo como um rastilho (ibidem).

Kimbangu prescrevia a destruição dos manipansos e a abolição da poligamia. Pôs


o nome de Jerusalém à sua residência de Nkamba. Rodeou-se de doze
apóstolos. Ao contrario, porém, do «dai a César o que de César», proibiu aos
seus discípulos o pagamento de impostos e o cultivo de milho. Os seus
seguidores acreditavam que no dia 21 de Outubro de 1921, seria o fim do mundo,
com um fogo celeste que viria pulverizar os brancos. Seguiram-se sabotagens.
Preso e condenado a morte, Kimbangu viu a sua pena comutada em detenção
perpétua e morreu em Elisathville em 1951, ao cabo de trinta anos de prisão.
André Matswa, oriundo do Congo Francês e cuja doutrina era também de
combate, foi deportado para o Chade em 1930 e acabou por morrer na prisão em
1942. Em 1952, estavam detidos 3818 africanos por pertencerem a seitas
consideradas perigosas. Mulowozi Wa Yezu (mandatário de Jesus) e Aleluia,
chefe da seita Kitawala, foram enforcados em 1944 no distrito de Stanleyville (Ki-
Zerbo, 2002: p.173)

Pondo em causa a ordem colonial, e baseando-se no sentimento religioso


difundido pela própria contribuição europeia, estes dirigentes negros saídos das
massas, apareciam às autoridades coloniais como mais perigosos ainda, do que
os próprios políticos (ibidem).

Assim, à luz do meu conhecimento, os movimentos religiosos contribuíram


bastante para a tomada da consciência nacionalista africana, pelo facto de que,
os seus líderes nas suas pregações, procuravam criar nos seus fiéis o sentimento
de repúdio à dominação colonial. De entre os quais destaco: o Murudismo e o
Hamalismo no Senegal, que pregavam o colectivismo revolucionário, tal como o
Kimbanguismo, no Congo Belga (19221), ou Matswanismo de André Matswa, no
Congo Francês (1926). Essas organizações semi-religiosas, obtiveram as vezes,
uma grande audiência, sem conseguir contudo indicar o verdadeiro caminho para
uma emancipação real (ibidem).

38
1.3.14. Os Partidos Políticos

Organismos variados vão, portanto, dar um tom ao movimento nacionalista na


África Negra. Mas o factor específico da luta neste campo, o verdadeiro
empreender, é o partido político. Vão proliferar na África Negra centenas de
partidos, legais ou não, a seguir a 1945. Impossível definirmos todos aqui ou
sequer enumerá-los. Os partidos políticos africanos não surgiram do nada, mas
sim de um conjunto de encadeamentos históricos bem determinados. É por isso
que o seu conteúdo e as suas estruturas são função de factores pré-coloniais e
coloniais. Os partidos e as entidades oficiais exploraram em muitos casos
dispositivos da autoridade tradicional para as suas campanhas eleitorais e as
suas propagandas. Durante muito tempo, para o povo, a única convocação
autêntica era a do chefe. Muito naturalmente, certos partidos procuraram o
patrocínio das autoridades tradicionais (Ki-Zerbo, 2002: p.174).

Em minha opinião, os partidos políticos constituíram a prova substancial do


nacionalismo, visto que, nos mesmos integravam entidades de distintas esferas
sociais. Serão igualmente os partidos políticos que irão arquitectar de forma as
independências dos estados africanos. São os partidos políticos que irão definir
as vias para a liberdade do continente berço, e esta afirmação ganha crédito se
nos apegarmos ao facto de que as independências foram solenemente
proclamadas pelos partidos políticos (ibidem).

1.3.15. Os Movimentos de Reabilitação Cultural

A reabilitação cultural do homem negro, também foi influenciada pelos elementos


da Revista “Legitime Defence” e L´Etudiante Noir. Estas revistas não se limitavam
em produzir algumas obras-primas, os seus autores exigiam também através dela
implicitamente as suas independências. Portanto, veremos que Legitime Defense
deu o seu primeiro grito de revolta escrito na língua do colonizador, exprime-se
contra assimilação e a exploração cada vez mais intoleráveis da colonização.
L´Etudiante faziam reclamações públicas (ibidem).

39
CAPÍTULO II - METODOLOGIAS DE ESTUDO

Segundo Pedron (2001), «método é o caminho percorrido para alcançar um certo


fim, ou seja, é o conjunto de métodos e técnicas aplicadas para se atingir os
objectivos». O estudo é de carácter exploratório, uma vez que fez-se poucas
abordagens sobre o mesmo, tornando-se difícil formular hipóteses precisas (Gil,
2010, p. 27).

Assim, a etapa inicial da pesquisa, envolve o levantamento bibliográfico em que


foram consultados livros e artigos, literatura académica sobre o tema
seleccionado. O levantamento bibliográfico visará o esclarecimento de conceitos
sobre o tema ou problemas estudados.

A pesquisa tem abordagem quantitativa e qualitativa (CRESWELL, 20010). Na


abordagem quantitativa procurou-se analisar estaticamente os dados que
caracterizam a população. Por sua vez, a abordagem qualitativa, permitiu analisar
os aspectos subjectivos que qualificam o problema. Os instrumentos de colheitas
de dados utilizados foram a entrevista e questionários estruturados. Assim, o
levantamento de dados decorreu em concomitância com o corpo directivo,
professores e alunos do estabelecimento do ensino.

No âmbito da prossecução desta investigação fez-se igualmente o recurso a


metodologia de diferentes níveis como há-de se ver em seguida:

2.1. Nível Teórico:

 Método Histórico - Lógico: permitiu estudar a tomada de consciência


nacionalista em África, relações causais, seus efeitos e consequências do
uso das fontes históricas na investigação e ensino da História.
 Método de Análise - Síntese: permitiu fazer operações de pensamento
lógico, a fim de definir os conceitos, fundamentar teorias, leis, categorias,
regularidades, princípios e, chegar a um fundamentos teóricos, no qual,
mediante a síntese, se afilia a um determinado critério e assume uma
posição e se valoriza o fenómeno a investigar.
 Indutivo - Dedutivo: permitiu construir fundamentos teóricos sobre o tema
especificamente a tomada de consciência nacionalista em África.

40
2.2. Metodologias de Nível Prático:

 Método Descritivo; permitiu descrever a realidade do fenómeno a


investigar, estudar o seu campo e o seu objecto sistematicamente por meio
de:
 Entrevista: Para determinar o estado de tratamento dos directores e
professores do Colégio “2 de Março do Sumbe”, sobre a tomada de
consciência nacionalista africana;
 Inquéritos: dirigido aos alunos, este método foi aplicado com o objectivo de
obter informações sobre a problemática da tomada de consciência
nacionalista africana no processo de ensino e aprendizagem da História
nos alunos da 9ª do Colégio “2 de Março do Sumbe”;
 Método Estatístico: foi utilizado para o processamento, classificação,
comparação, quantificação e qualificação dos dados do estado actual do
problema a investigar.

2.3. Modelo de pesquisa

A presente investigação consubstancia-se num estudo descritivo utilizando uma


metodologia qualitativa que permite analisar a problemática sobre o ponto de
partida para a tomada de consciência nacionalista africana no processo de ensino
e aprendizagem da História nos alunos da 9ª do Colégio “2 de Março do Sumbe”.

2.4. Caracterização do Campo de Pesquisa

Esta pesquisa teve lugar no Colégio “2 de Março do Sumbe”, situada no Bairro do


Chingo, zona suburbana, na cidade do Sumbe, província do Cuanza Sul acerca
de 350 metros da estrada nacional nº 100.

Segundo dados da direcção do Colégio, o mesmo foi inaugurado a 2 de Março de


1979 (dia da Mulher Angolana) pelo então Governador do Cuanza-Sul Armando
Fandamo Dembo que dirigiu a nossa Província no período de 1978-1982.

Passados quase 4 décadas, a infra-estrutura com 19 salas de aulas, sofreu várias


obras de ampliação e reparação, mas mesmo assim apresenta um elevado
estado de degradação.

41
Inicialmente era uma escola Primária e foi evoluindo até atingir o I Ciclo do Ensino
secundário leccionando actualmente da 7ª a 9ª classe.

A nível físico, o edifício é de construção definitiva e conta com 24 salas, sendo


que maioritariamente apresentam péssimas condições, um (1) gabinete do
director, um (1) gabinete do subdirector pedagógico, um (1) gabinete do chefe do
turno, uma sala de professores, uma secretaria-geral, uma cantina escolar, um (1)
salão para a prática de exercícios físicos, mas em condições lastimáveis. A nível
orgânico a escola conta com um director, um (1) subdirector pedagógico, um (1)
chefe de turno, um (1) chefe de secretaria, cento e trinta professores (130), dos
quais oito (8) coordenadores de disciplina, nove (9) professores que leccionam a
disciplina de História, dos quais dois 2 trabalham com a 9ª Classe, oito (8)
funcionários administrativos e tem a capacidade de acolher 3240 alunos por ano
distribuídos em períodos regular e pós regular, mas dada as circunstancias, tem
vindo a exceder.

2.5. População e amostra

Para esta investigação, usamos dois tipos de amostragem ambos sustentados por
Lakatos e Marconi (2010), sendo que o primeiro foi a amostragem intencional
para as entrevistas, por considerarmos que os seleccionados estavam em
condições de nos prestar as informações desejadas e o segundo foi a
amostragem não probabilística usada para os inquéritos, através de um
procedimento de selecção informal, em que a escolha dos sujeitos não dependeu
da probabilidade de que todos podiam ser escolhidos, mas sim da decisão do
pesquisador.

Assim sendo, Trabalhou-se com dois (2) directores num universo de três (3), dois
(2) professores no universo de dois (2) e noventa (90) alunos no universo de
cento e sessenta (160), conforme o quadro abaixam.

42
Tabela nº 01

DESCRIÇÃO POPULAÇÃO AMOSTRA PERCENTAGEM

Directores 2 2 100%

Professores 2 2 100%

Alunos 160 90 56%

Total 164 93 57%

2.6. Contributo prático

Tornou-se importante a escolha do tema visto que, nos últimos dias tem-se
verificado discrepâncias ideológicas relativamente a tomada de consciência
nacionalista em África, devido a falta de conhecimento sobre a forma como foi
processado o nacionalismo africano.

O estudo deste tema permitiu conhecer o ponto de partida para a tomada de


consciência nacionalista em África através de uma monografia cujo objectivo
estava centrado na busca da origem do nacionalismo africano.

Permitiu aos alunos e não só, saberem da forma como foi processada a tomada
de consciência nacionalista em África, para posteriormente chegar-se a um
consenso ao se abordar o presente tema. Pois de forma genérica, foram
realizadas poucas pesquisas sobre a tomada de consciência nacionalista africana
e, esta porém é a primeira a realizar-se neste contexto social bem como nível de
ensino.

2.7. Instrumentos de Colheita de Dados.

Foram realizados dois tipos de instrumentos de colheita de dados, sendo o


inquérito por questionário e a entrevista estruturada, como se descreve a seguir: o
questionário é um instrumento de colheita de dados, composto por um conjunto
de perguntas que visam obter informações sobre um grupo de indivíduos. Trata-
se de uma técnica de investigação que busca levantar dados e características que

43
definam uma determinada população (Gil, 2010), os métodos de entrevista, pelas
suas características de proximidade entre o entrevistados e o investigador,
permite a obtenção de informações e elementos de reflexão muito mais ricos do
que com o uso do método por questionário.

A entrevista é um método que decorre frente a frente e a conversa pode ser


conduzida e orientada pelo investigador, facilitando o investigador exprimir
percepções, relatar os acontecimentos e experiências e, que investigador possa
centrar os seus esforços nas hipóteses do trabalho. Assim, o conteúdo da
entrevista foi objecto de uma análise de conteúdo sistemático, destinado a testar
as hipóteses de trabalho (Kuvy e Campenhoudt, 1995, p.192).

Os instrumentos de colecta de dados foram elaborados da seguinte forma:

 Questionário: foram utilizados para entender a percepção dos alunos sobre


a temática. Estava composta por questões fechadas e de múltiplas
escolhas. Essa escala avalia o grau de concordância ou discordância dos
respondentes em relação as opiniões apresentadas através dos
enunciados (Gil, 2010).
 Entrevista: foi um diálogo orientado com propósito de obter informações
sobre a temática e como esta se insere na proposta pedagógica da escola.
O instrumento consta cinco questões abertas.

2.8. Colheita e processamento de dados

A colheita de dados, foi realizada através de questionário dirigido ao corpo de


professores e alunos da escola. Os instrumentos foram aplicados nos dias
constantes no cronograma das etapas da execução do projecto. Os
processamentos de dados ocorreram por meio do Microsoft Office Excel 2010,
que resultarão em tabelas e gráficos.

44
CAPÍTULO III - APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS

Neste capítulo fez-se a descrição dos resultados obtidos através do diagnóstico


feito ao corpo directivo, professores e alunos do Colégio 2 de Março do Sumbe,
com o tema: A Tomada de Consciência Nacionalista Africana, Um Subsídio ao
Programa de História da 9ª Classe, Caso Colégio 2de Março do Sumbe.

Foram aplicados os questionários que permitiram obter informações com as quais


podemos revisar, classificar, quantificar e comparar os dados entre si.

3.1 – Análise e discussão dos dados com base ao questionário aplicado ao corpo
directivo.

O questionário dirigido ao corpo directivo teve como objectivo principal a obtenção


de dados sobre o estudo sobre a tomada de consciência nacionalista em África,
um subsídio ao programa de História da 9ª classe, caso do Colégio 2 de Março do
Sumbe.

1 – Qual é o seu nível académico?

Quanto a esta questão, os dois elementos do corpo directivo inquiridos possuem


o nível de escolaridade aceitável, isto é, os dois são licenciados. Este nível de
escolaridade é aceitável, o que permite melhor acompanhamento dos professores
e a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Em minha opinião o nível de
escolaridade que os dois membros de direcção possuem é bastante satisfatório
de tal forma que abona a melhoria na gestão da mesma instituição e no
melhoramento dos processos metodológicos, ajudando assim para a qualidade de
ensino de que se pretende alcançar.

2– Como encara a realidade sobre o conhecimento da tomada da consciência


nacionalista em África?

Com esta pergunta, pretendia-se saber da parte do corpo directivo se qual era o
seu grau de conhecimento acerca do tema em análise. No entanto as respostas
foram díspares de acordo com as respostas que constam dos instrumentos
aplicados, pelo que; um respondeu que a realidade sobre o conhecimento da

45
tomada da consciência nacionalista em África é boa, o que corresponde a um
conhecimento parcial, enquanto, o outro respondeu que possui um nível médio
acerca do conhecimento da tomada da consciência nacionalista em África.

Porém, sustento a ideia de que, pelo facto de sermos africanos, é extremamente


importante que conheçamos bem a nossa História, pois, em minha opinião, os
directores deviam ter conhecimentos abrangentes sobre a tomada da consciência
nacionalista em África, visto que, somente assim incentivariam os professores a
munir nos alunos ideias que os permitam contrapor os princípios contraditórios
eurocêntricos segundo qual a África era uma espécie de vazio político.

3 – Tem assistido as aulas de História nas turmas da 9ª classe?

Esta pergunta foi aplicada com a finalidade de saber se o corpo directivo tem
acompanhado a evolução ou as dificuldades que os professores têm passado ao
longo do processo de ensino-aprendizagem. Como resposta os dois inquiridos
disseram não, o que corresponde a 100%. Como é evidente as respostas são
convergentes o que nos leva a pensar que os membros da direcção não
conhecem as dificuldades que os alunos e professores têm encontrado no
decorrer das aulas, principalmente ao abordar este tema.

À luz da minha percepção, o director funciona como primeiro inspector no


processo de ensino e aprendizagem escolar. Em consonância com o facto, não
deve abdicar-se de assistir às aulas (algumas vezes), tendo em vista de que, esta
pratica ajudaria a identificar algumas insuficiência, dificuldades, bem como, as
fortalezas dos docentes. Com efeito, elucidamos os dados ora referidos na tabela
abaixo e no gráfico respectivamente.

Tabela nº 02

Categoria Frequência Percentagem

Sim 0 0%

Não 2 100%

Total 2 100%

46
2 2
2
100% 100%
0 0%
0
Sim Não Total
Frequência Percentagem

3.1 – Com que frequência?

Nesta pergunta procurou-se saber dos inquiridos a frequência com que têm
assistido as aulas nas turmas da 9ª classes, mas dada a resposta negativa da
pergunta anterior, nesta também os dois inquiridos das opções colocadas
assinalaram a opção Nunca, para significar que nunca assistiram aulas de
História nas turmas da 9ª classe.

4 – Depois de assistir as aulas dos professores, têm dado algumas sugestões


metodológicas para a melhoria da prática docente?

Quanto as sugestões metodológicas após a assistência das aulas, o corpo


directivo inquirido decidiu não responder por causa das respostas anteriores e por
isso a pergunta ficou em branco como ilustra a tabela e o gráfico abaixo. Desta
feita podemos concluir que a direcção não tem mostrado interesse em contribuir
para a melhoria da metodologia e do próprio processo de ensino-aprendizagem.

Tabela nº 03

Categoria Frequências Percentagem

Sim 0 0%

Não 0 0%

Total 0 0%

47
1

0 0% 0 0% 0 0%
0
Sim Não Total
Frequência Percentagem

5 – Nas aulas que tem assistido, o professor tem falado da tomada da consciência
nacionalista em África?

Quanto a esta pergunta os dois membros do corpo directivo foram unânimes em


não responder a questão já que segundo eles nunca assistiram as aulas nestas
turmas. Portanto os resultados indicam-nos que o corpo directivo não acompanha
o progresso docente - educativo desta disciplina que seria o maior vector para a
auto-aceitação do próprio aluno como africano que é.

Tabela nº 04

Categorias Frequências Percentagem

Sim 0 0%

Não 0 0%

Total 0 0%

0 0% 0 0% 0 0%
0
Sim Não Total
Frequência Percentagem

48
6 – Quais são as dificuldades que os professores têm encontrado para enquadrar
este assunto no seu programa?

Quanto as dificuldades que os professores têm encontrado para enquadrar o


assunto que aborda acerca da tomada da consciência nacionalista em África no
programa da 9ª classe, dos dois membros inquiridos, apenas uma resposta. Este
aponta a falta de flexibilidade do programa para adaptar este assunto e o outro
decidiu deixar a questão em branco alegando que a questão não lhe competia.
Isto leva-nos a entender que os directores estão mais preocupados em cumprir
com os objectivos traçados ao nível nacional, e que os programas estão tão
apertados que não permitem nenhuma inovação interna. No entanto, através
desta resposta concluímos que o corpo directivo está apenas interessado em
cumprir com aquilo que está estabelecido no programa e não na adaptação de
conteúdos relacionados às vivencias dos alunos.

7 – Acha importante que os alunos tenham conhecimentos sobre a tomada da


consciência nacionalista em África?

Ao longo da pesquisa que nos propusemos, procuramos de igual modo saber dos
membros da direcção se é de carácter importante que os alunos obtenham
conhecimentos acerca do assunto em causa. Neste sentido os membros da
direcção inquiridos foram unânimes em responder que sim, o que corresponde a
100%. Pois, de acordo com os membros da direcção, «o conhecimento deste
assunto por parte dos alunos da 9ª classe é de capital importância visto que ajuda
o aluno a valorizar-se como africano, que, é e a compreender que é igual a
qualquer outro ser que habita em outros continentes. Mas acrescentou que, o que
lhes tem pesado é, portanto, a falta de flexibilidade dos programas para se
enquadrar esses assuntos». A tabela e gráfico abaixo demonstram a realidade
das respostas obtidas.

49
Tabela nº 05

Categorias Frequências Percentagem

Sim 2 100%

Não 0 0%

Total 2 100%

2 2
2 100% 100%
0 0%
0
Sim Não Total
Frequência Percentagem

8 - Na escola se tem realizado palestras sobre a tomada da consciência


nacionalista em África?

Esta questão foi fundamental para esta investigação porque permitiu-nos saber
se, se tem realizado palestras onde se tem abordado sobre o nacionalismo
africano. E é extremamente importante que se realizem actividades como estas
para cobrir a falta de flexibilidade do programa (por eles apontados), de modos
que os alunos tomem nota de tudo um pouco no quesito da tomada da
consciência nacionalista em África.

No entanto as respostas dos membros inquiridos é completamente divergente e


contraditório na medida em que 1 (um) respondeu sim, o que corresponde a 50%
e 1 (um) respondeu não, o que corresponde a 50% igualmente, perfazendo um
total de 100%. Pareceu aqui alguma falta de acompanhamento ou comunicação
por parte dos membros quanto as actividades que se realizam na instituição,
porque um não tem conhecimento da actividade realizada por outro.

50
Tabela nº 06

Categorias Frequências Percentagem

Sim 1 50%

Não 1 50%

Total 2 100%

2
2
1 1 100%
50% 50%

0
Sim Não Total
Frequência Percentagem

8.1 – Com que frequência?

Quanto a frequência com que se tem realizado palestras. Neste caso, das opções
colocadas (sempre, quase sempre e nunca) os elementos inquiridos foram
divergentes quanto as respostas, na medida em que um respondeu “Nunca”e o
outro absteve-se deixando a pergunta em branco. Soubemos a partir do
questionário dirigido ao director da escola, que nunca se realizou na instituição,
palestras que abordam sobre o nacionalismo africano. Em minha opinião
considero ser negativo, visto que pode maximizar a insuficiência do conhecimento
sobre a tomada de consciência nacionalista africana aos alunos da 9ª Classe do
Colégio 2 de Março do Sumbe.

9 – O que entendes por tomada de consciência nacionalista?

Esta é uma pergunta de causa, isto é, não visa apenas assinalar nas opções mas
sim permite que o inquirido redija de forma resumida os aspectos principais que
conhece acerca do assunto. Neste caso os elementos do corpo directivo

51
inquiridos tiveram opiniões convergentes quanto a esta questão: para ambos
«tomada de consciência nacionalista: é o resultado da reflexão em torno de um
problema ou situação, ou seja, indivíduo começa a perceber que deve lealdade e
devoção ao Estado nacional».

Se termos em conta o postulado de Domenanch, citado por Ki-Zerbo (2002),


segundo o qual “o nacionalismo só é justificável quando um povo se encontra em
estado de opressão”. Percebe-se claramente que a tomada de consciência
nacionalista surge desde o momento que o indivíduo faz uma reflexão geral em
torno da situação em que se encontra, ao percebe que mesmo sendo cidadão
nacional, tem menos privilégios que os estrangeiros.

3.2 – Análise e discussão dos dados do questionário dirigido aos professores de


História.

Com vista a alcançar os objectivos preconizados, elaborou-se igualmente uma


entrevista por questionário dirigido aos professores da 9ª classe do Colégio 2 de
Março, no intuito de obter informações acerca do estudo sobre a tomada da
consciência nacionalista africana. Contudo, sete professores foram seleccionados
para prestarem estas informações que sem as quais não seria possível a
realização da mesma investigação.

1 – Qual é o seu nível de escolaridade?

De acordo com as fichas recebidas dos professores inquiridos, pode-se constatar


que, ambos são licenciados (em História). Portanto podemos concluir que o corpo
docente possui um nível de escolaridade adequado que permite melhor
acompanhamento dos alunos e do aprimoramento dos processos metodológicos
com vista a melhorar a prática docente - educativa da disciplina de História.

No entanto, isto revela-nos que os professores desta cadeira ou disciplina, estão


dotados de conhecimentos que possam trazer uma mais-valia a qualidade do
ensino nesse subsistema de ensino. O facto de serem licenciados ilustra-nos que
tenham bases suficientes quer metodológicas quer morais que possam contribuir
para o ensino integral dos alunos.

52
2– Há quanto tempo trabalha com a disciplina de História da 9ª classe?

Os dois professores entrevistados, estão a menos de quatro anos a trabalhar com


a disciplina da História da 9ª classe. O tempo é outro elemento muito importante
na aquisição das experiências, como se tem dito na gíria “a prática faz o mestre”.
Neste sentido podemos concluir que os professores inquiridos têm pouco tempo
de experiência pedagógica suficiente para começarem a produzir inovações nos
seus programas.

3 – Tem conhecimento sobre a tomada de consciência nacionalista africana?

Face a esta questão, os dois professores entrevistados foram claramente


convergentes ao afirmarem que sim, possuem conhecimentos acerca do assunto,
o que corresponde a 100%. Quanto a esta questão é mais do que evidente que o
conhecimento não tem faltado aos professores, mas a grande questão que nos
colocamos é “o que tem faltado afinal para transmitirem os mesmos aos seus
alunos?” A tabela e o gráfico abaixo ilustram as informações obtidas.

Tabela nº 07

Categorias Frequência Percentagem

Sim 2 100%

Não 0 0%

Total 2 100%

2 2
2
100% 100%
0 0%
0
Sim Não Total
Frequência Percentagem

53
4 – Acha importante que os alunos da 9ª classe tenham conhecimentos sobre
este assunto?

Quanto a esta questão e como era de se esperar, os dois entrevistados


responderam positivamente, o que corresponde a 100%. Deste modo através das
respostas ou informações dadas pelos professores inquiridos podemos constatar
que os mesmos valorizam e dão importância a tomada de consciência
nacionalista africana. Em minha opinião, a transmissão destes conhecimentos às
gerações mais jovens é fundamental uma vez que visa muni-los de
conhecimentos que os servirá de escudo de defesa, face aos insultos dos teóricos
eurocêntricos e como é salutar que os jovens saibam a verdade sobre o seu
passado.

Tabela nº 08

Categorias Frequência Percentagem

Sim 2 100%

Não 0 0%

Total 2 100%

2 2
2
100% 100%
0 0%
0
Sim Não Total
Frequência Percentagem

5 – Dentro das tuas actividades tem organizado as turmas em grupo para


abordarem acerca da tomada de consciência nacionalista africana?

54
Quanto a organização das turmas em grupo a fim de orientar trabalhos em grupo
abordando sobre a tomada da consciência nacionalista em África, os professores
entrevistados afirmam negativamente à luz da orientação de algum trabalho que
fale da tomada de consciência nacionalista africana, o que corresponde a 100%.
Face a esta resposta seria óbvio sugerirmos que se faça trabalhos abordando
acerca da tomada de consciência nacionalista africana, através de um método
muito simples que é “método de trabalho em grupo ou independente”, a fim de
permitir que desde cedo, os alunos tomem conta da necessidade de saber um
pouco mais acerca do seu passado. A tabela e o gráfico abaixo ajudam na
percepção desta questão.

Tabela nº 09

Categorias Frequência Percentagem

Sim 0 0%

Não 2 100%

Total 2 100%

2 2
2
100% 100%

0 0%
0
Sim Não Total

Frequência Percentagem

6 – Na escola se tem realizado seminários e palestras acerca da tomada de


consciência nacionalista africana?

De acordo com o questionário feito, os dois inquiridos responderam não o que


representa 100% da informação obtida. Mas, uma contradição foi verificada na

55
medida em que no questionário dirigido para o corpo directivo, nesta questão um
deles respondeu que sim, facto que não se verifica com os professores onde os
sete afirmam não ter havido sido realizado palestra acerca do mesmo assunto.
Portanto podemos concluir que ou os professores não acompanham as
actividades que se realizam na escola ou o membro do corpo directivo terá dado
falsas informações.

Tabela nº 10

Categorias Frequências Percentagem

Sim 0 0%

Não 2 100%

Total 2 100%

2 2
2
100% 100%

0 0%
0
Sim Não Total

Frequência Percentagem

7 – Quais são as dificuldades que tem encontrado no enquadramento deste


assunto no seu programa?

Esta questão fez dividir as opiniões dos dois professores inquiridos. Das opções
colocadas (falta de preparação metodológica, incumprimento do programa, falta
de interesse dos professores e falta de flexibilidade do programa), um assinalou
para o incumprimento do programa, o que significa dizer que se enquadrar estes
assuntos poderá ser demasiado dispendioso o que levará ao incumprimento dos

56
objectivos traçados a nível nacional. Enquanto o outro apontou como dificuldade a
falta de flexibilidade do programa.

Mais uma vez volta-se a questão da flexibilidade do programa, quando na


verdade quem deve flexibilizar o mesmo é a própria direcção da escola
juntamente com os professores sem ferir em demasia os objectivos traçados a
nível nacional. De facto, as intenções estão mais viradas para o cumprimento do
programa do que propriamente o ensino de conteúdos relacionados ao próprio
aluno.

8 – Como avalia o estado actual do conhecimento sobre a tomada de consciência


nacionalista africana?

A questão levantada visa diagnosticar o grau de conhecimento dos professores


no que se refere a tomada de consciência nacionalista africana. Portanto, os
professores entrevistados divergem quanto as respostas na medida em que um
aponta como sendo bom, enquanto o outro considera como sendo mau.

9 – O que entendes por tomada de consciência nacionalista?

Face a esta questão, apesar de que cada um dos entrevistado ter apresentado o
seu parecer, verificou-se alguma ideia comum de entre os conceitos
apresentados. A mesma consiste no facto de que para eles, de forma genérica,
«a tomada de consciência nacionalista é a percepção que surge de uma reflexão
minuciosa diante de uma opressão. O indivíduo começa a perceber que é o
momento para fazer alguma coisa de modo a ganhar a liberdade».

Neste caso, verificamos alguma similitude em relação aos dados fornecidos pelo
corpo directivo.

10 – Que importância teve a primeira guerra mundial na tomada de consciência


nacionalista em África?

Quanto a esta questão, obteve-se respostas distintas, mas todos caminharam


nesta linha de pensamento: «a primeira guerra mundial teve uma importância
extremamente fulcral na tomada de consciência nacionalista africana por ter
aproximado mais o colonizado ao colonizador, se nos atermos as relações entre

57
ambos nos campos de batalha, o que irá desenvolver no seio dos africanos o
espírito de auto-confiança e perceber que o branco que é bastante temido, não
era tão diferente dele. Com efeito, os africanos que participaram nesta guerra, ao
regressarem para as suas terras, irão procurar sensibilizar os demais para
aderirem aos movimentos de libertação que irão conduzir a libertação dos seus
respectivos países».

Em linhas gerais, a primeira guerra mundial fez cair a máscara do colonizador.

11 – O que é o pan-africanismo?

Quanto a esta questão as respostas foram divergentes. Para um de forma


resumida salienta que «O pan-africanismo é uma ideologia que propõe a união de
todos os povos da África como forma de potencializar a voz do continente no
contexto internacional».

Todavia para o outro, de forma mais detalhada descreve o seguinte: «o pan-


africanismo é um movimento político, filosófico e social que promove a defesa dos
direitos do povo africano e da unidade do continente africano no âmbito de um
único Estado soberano, para todos os africanos, tanto na África como
em diáspora.».

Certamente, o pan-africanismo é um movimento político, filosófico e social que


inicialmente os seus fundamentos estavam ligados a noção de raça.

12- Que importância tiveram os congressos Pan-Africanistas na tomada de


consciência nacionalista em África?

Diante desta questão, ambos os entrevistados afirmaram categoricamente que «o


pan-africanismo teve uma importância crucial na constituição da identidade negra,
tendo sido um instrumento de unidade. O pan-africanismo, permitiu a união dos
próprios negros enquanto uma raça.

13- Que importância teve a segunda guerra mundial na tomada de consciência


nacionalista em África?

58
Ao se confrontarem com esta pergunta, ambos os entrevistados responderam
com unanimidade de que mais do que a primeira guerra mundial, a segunda teve
um impacto considerável na tomada de consciência nacionalista africana, uma
vez que, permitiu aos africanos conhecer as principais debilidades do homem
branco. E a inserção dos africanos nos exércitos fez com que estes percebessem
de que os brancos que em África são adorados como deuses, também temiam o
medo, a fome e a sede, choravam e morriam. Isto fará com que estes africanos
ao regressarem as suas terras de origem se tornassem grandes animadores dos
movimentos políticos que irão lutar para as suas independências.

14- Considera a tomada de consciência nacionalista africana como um processo?

Diante desta questão, constatou-se alguma divergencia que circunscreve-se no


seguinte: dos dois entrevistados, um disse que não, o que corresponde aa 50%, e
o outro disse que sim, o que corresponde a 50% igualmente. Assim,a tabela e o
gráfico abaixo, ajudarão na compreensão dos dados:

Tabela nº 11

Categorias Frequências Percentagem

Sim 1 50%

Não 1 50%

Total 2 100%

2
2
1 1 100%
50% 50%

0
Sim Não Total

Frequência Percentagem

59
14.1- Mencione os acontecimentos que marcaram o processo da tomada de
consciência nacionalista em África?

Nesta questão, as ideias divergiam, uma vez que dos dois entrevistados
respondeu que “não considerava a tomada de consciência nacionalista em África
como um processo”. O que considera como sendo um processo, mencionou os
acontecimentos que marcaram o mesmo processo e segundo ele,
consubstanciam-se na circunscrição seguinte: A primeira e a segunda guerra
mundial e os congressos Pan-Africanistas.

3.3 – Análise e discussão dos dados através do questionário aplicado aos alunos.

Este inquérito foi elaborado com finalidade de tirarmos algumas ilações acerca do
estudo sobre a tomada de consciência nacionalista africana. Este questionário
permitiu a justificação e a pertinência do tema porque de acordo com as respostas
recebidas através do inquérito podemos constatar que o nível de conhecimento
acerca do tema é muito baixo por parte dos alunos o que nos motivou ainda mais
a continuar com a pesquisa.

No entanto, dos 160 alunos da 9ª Classe da referida escola, trabalhou-se com 90,
o que corresponde a 56%, dos quais 40 são do género masculino o que
corresponde a 44%, 48 são do sexo feminino o que corresponde a 53% e apenas
2 questionários não foram preenchidos o que corresponde a 2%.

1 – Gosta da disciplina de História?

Esta questão foi feita com a finalidade de sabermos o grau de afectividade que os
alunos têm para com a disciplina de História, porque pensamos que seja a
primeira condição para estimular o estudo ou conhecimento do passado. De
acordo com as respostas do questionário 88 alunos responderam sim o que
corresponde a 98% e apenas 2 alunos abstiveram-se por não terem respondido
nem sim, nem não, tornando o inquérito nulo ao que corresponde a 2%. Logo
podemos observar que a maioria gosta da disciplina, o que nos faz entender que
também gostariam de estudar acerca da tomada de consciência nacionalista
africana. A tabela e o gráfico abaixo falam por si.

60
Tabela nº 12

Categorias Frequência Percentagem

Sim 88 98%

Não 0 0%

Nulo 2 2%

Total 90 100%

88 90
100

98% 0 0% 2 2% 100%
0
Sim Não Nulo Total
Frequência Percentagem

2 – Como avalia o teu conhecimento na disciplina de História?

No que diz respeito a avaliação do conhecimento na disciplina de História por


parte dos alunos, as respostas foram satisfatórias. Neste sentido, dos 90 alunos
inquiridos 40 responderam muito bom, o que corresponde a 44%, 26
responderam bom, o que corresponde a 29%, 22 responderam regular, o que
corresponde a 24%, e apenas 2 abstiveram-se, tornando o inquérito nulo, o que
corresponde a 2%. Todavia é lógico constatarmos segundo as declarações feitas
por alunos, que têm tido um bom desempenho e que têm se empenhado bastante
no que se refere a aquisição de conhecimentos da disciplina de História.

3 – Para ti é importante conhecer a tomada de consciência nacionalista africana?

Em relação a esta pergunta, dos 90 alunos que foram inqueridos 88 responderam


Sim, o que corresponde a 98% e apenas 2 abstiveram-se, tornando o inquérito
nulo, o que corresponde a 2%. Logo, de acordo com o questionário é óbvio

61
concluirmos que, maioritariamente, os alunos inquiridos acham importante
conhecer a tomada da consciência nacionalista africana. Mas é preciso que haja
maior incentivo para que os alunos saibam que ao estudarmos a nossa história
estaríamos nos encontrar a nós próprios e a saber de que maneira foi processada
a tomada de consciência nacionalista africana.

Tabela nº 13

Categorias Frequências Percentagem

Sim 88 98%

Não 0 0%

Nulo 2 2%

Total 90 100%

88 90
100

50
98% 0 0% 2 2% 100%
0
Sim Não Nulo Total

Frequência Percentagem

3.1 Porquê?

Esta é uma pergunta de causa na qual elaboramos com a finalidade de obter


informações que justifiquem a resposta anterior. Na sequência, 88 alunos dos 90
inquiridos responderam positivamente a questão, o que corresponde a 98% e
apenas 2 alunos abstiveram-se, tornando o inquérito nulo. Importa lembrar que os
dois alunos que abstiveram-se, são aqueles que não preencheram inquérito.

62
4 – Nas aulas de história o professor tem falado sobre a tomada de consciência
nacionalista?

De acordo com o inquérito aplicado aos alunos, 30 responderam “Sim” o que


corresponde a 33%, 58 alunos responderam “Não” o que corresponde a 64% e 2
não preencheram o inquérito tornando-o nulo, o que corresponde a 2%. Portanto,
através do questionário podemos constatar que houve uma novidade acerca
desta questão na medida em que a mesma foi aplicada também aos professores
os quais responderam que “Não” contrariando assim as respostas dadas pelos 30
alunos.

Tabela nº14

Categoria Frequência Percentagem

Sim 30 33%

Não 58 64%

Nulo 2 2%

Total 100 100%

90
100
58
30
33% 64% 2 2% 100%
0
Sim Não Nulo Total

Frequência Percentagem

5 – Ao longo deste lectivo o professor orientou a turma para investigarem sobre a


tomada da consciência nacionalista africana?

63
De igual modo esta questão também consta do inquérito aplicado aos professores
e de facto obtivemos como a resposta “Não” mas de acordo com o inquérito feito
aos alunos, 88 dos 90 inquiridos responderam “não” o que corresponde a 98%, 2
alunos abstiveram-se, tornando o inquérito nulo, correspondendo a 2%.

Tabela nº15

Categoria Frequência Percentagem

Sim 0 0%

Não 88 98%

Nulo 2 2%

Total 100 100%

88 90
100

0 0% 98% 2 2% 100%
0
Sim Não Nulo Total
Frequência Percentagem

6 – Ao longo deste lectivo a escola realizou uma palestra onde falaram sobre a
tomada de consciência nacionalista africana?

Quanto a esta questão também consta do questionário aplicado ao corpo


directivo, aos professores, a fim de se apurar a versão real. No entanto de acordo
com os mesmos, as respostas obtidas apontam para negativa. Todavia há uma
contradição na medida em que dos 90 alunos inquiridos 0 responderam “Sim” o
que corresponde a 0%, 2 abstiveram-se, perfazendo 2% de inquéritos nulos.
Quanto a esta questão, podemos dizer que o membro do corpo directivo que
nesta questão respondeu não, ganhou testemunhas na mesma questão mas feita
aos alunos já que, a maior parte respondeu sim.

64
Tabela nº16

Categoria Frequência Percentagem

Sim 0 0%

Não 88 98%

Nulo 2 2%

Total 100 100%

88 90
100

0 0% 98% 2 2% 100%
0
Sim Não Nulo Total
Frequência Percentagem

7- Considera a tomada de consciência nacionalista em África como um processo?

Face a esta questão, dos 90 alunos inqueridos, 56 responderam sim, 32


responderam não e 2 abstiveram-se

Tabela nº17

Categoria Frequência Percentagem

Sim 56 62%

Não 32 36%

Nulo 2 2%

Total 100 100%

65
90
100
56
32
62% 36% 2 2% 100%
0
Sim Não Nulo Total
Frequência Percentagem

7.1- Mencione os acontecimentos que marcaram este processo?

Diante desta questão, tomou-se nota de que, não obstante maioritariamente,


alunos consideram a tomada de consciência nacionalista como sendo um
processo, não estão habilitados a responder os acontecimentos que marcaram
este mesmo processo. Com efeito, julga-se que, porém, os alunos em causa não
detêm de conhecimentos sólidos sobre a tomada de consciência nacionalista em
África, pelo que; há muito por se fazer e o enquadramento deste subsídio no
programa de História da 9ª Classe do Colégio 2 de Março do Sumbe, poderia
mitigar este problema.

66
CONCLUSÕES

Após termos transcorridos na tomada da consciência nacionalista africana que


processou-se a partir da I guerra mundial, passando pelos congressos Pan-
Africanistas até ao culmino da II guerra mundial, compreendeu-se que sempre
houve espírito nacionalista no seio dos africanos, mas foi preciso muito tempo e
uma série de eventos para que o mesmo nacionalismo de carácter quase que
tradicionalista se desenvolvesse na consciência dos africanos.

Importa igualmente sublinhar que os congressos Pan-Africanistas contribuíram


preponderantemente para a tomada de consciência nacionalista africana. Os
negros lúcidos da época procuravam reunir-se para traçar metas com vista a
resolução dos problemas negro-africano.

Contudo, a partir da pesquisa realizada e das actividades feitas com o corpo


directivo, professores e alunos, pudemos constatar que há um determinado grau
de deficiência quanto ao conhecimento a tomada da consciência nacionalista
africana. Através dos questionários pudemos observar que há pouca ligação entre
o conhecimento e os alunos. Os alunos sabem pouco sobre o tema. As respostas
dos alunos quanto a importância do tema foi de acordo a estatística decisiva na
medida em que a grande maioria ressalta que é muito importante o estudo da
tomada de consciência nacionalista em África, para o seu próprio benefício e
saber como foi a tomada de consciência nacionalista africana.

Os professores têm um domínio parcial do assunto em causa, mas não têm


passado esses conhecimentos aos seus alunos por alegadas falta de
incumprimento do programa e a falta de flexibilidade do programa. Nas suas
respostas foram claros em dizer que não têm orientado as turmas em grupo para
um trabalho de pesquisa em grupo acerca da tomada de consciência nacionalista
em África.

Os professores em particular os de História, são chamados a reflectir sobre a te


para isso é necessário que se tomada de consciência nacionalista em África, criar
condições metodológicas para que possa permitir o enquadramento de assuntos
do género nas actividades docente - educativas. O corpo directivo não assiste as
aulas de história e não realiza palestras, não faz o controlo nas salas, não sugere

67
metodologias diferentes para o melhoramento das actividades dos professores.
Estão mais apegados nos programas delineados pelo ministério e não há
adaptação do programa ao meio em que se vai aplicar.

Ainda assim, foi notória a preocupação da direcção da escola, dos professores, e


dos alunos quanto a necessidade da transmissão dos conhecimentos
relacionados com a tomada de consciência nacionalista em África, o que permitirá
com que cada membro inquerido seja por si só um elemento catalisador de outras
entidades que intervêm no processo, com vista a se fazer o enquadramento deste
subsídio, ao programa de História da 9ª Classe, da referida escola.

Este trabalho de pesquisa surge e como está bem patente na visão dos membros
da direcção, não só para servir de consulta para pesquisas posteriores mas
principalmente para despertar os directores, professores, alunos e outros
fazedores do conhecimento, a tomarem nota e introduzirem nos seus programas
assuntos que dizem respeito ao nacionalismo africano.

Com efeito, acreditamos que, conhecendo o passado histórico do continente


africano, estaremos em condições para fazer frente, não só as teorias
eurocêntricas que visam denegrir o bom nome do continente africano, como
também, aos desafios que se impões na actualidade; em conformidade com o
facto de que “devemos conhecer o passado, para melhor viver o presente e
perspectivar um furo sadio”.

68
RECOMENDAÇÕES

Durante a pesquisa feita no Colégio 2 de Março do Sumbe, foi notória a


deficiência por parte dos inqueridos principalmente aos alunos no quesito da
tomada de consciência nacionalista em África. Cremos que cabe ao Estado,
representações políticas da sociedade, elaborar programas e introduzir padrões
culturais para as transformações sociais. Neste sentido recomendamos que:

 O corpo directivo em conjunto com os professores de História reúna com


vista a procurar soluções para adaptar estes assuntos no programa;
 Que a escola aproveite ocasiões como feriados históricos para palestrar
assuntos que dizem respeito ao nacionalismo africano;
 Que os professores orientem as turmas em grupos para efectuarem
pesquisa de campo acerca do nacionalismo africano;
 Que os membros de direcção assistam uma vez ou outra as aulas de
história, de forma a anotar as debilidades e as fortalezas dos professores e
alunos e, desta forma contribuir para a melhoria do processo de ensino-
aprendizagem;
 Esperamos finalmente que este trabalho seja um subsídio ao leitor na
perspectiva de revolucionar a revisão e postura da juventude, que as
independências africanas não se deram por acaso, mas sim, pelos
esforços de vários africanos que tiveram que lutar em defesa do nosso
continente, desde a chegada dos europeus em África;
 Que a escola crie condições para melhorar a higiene nas WC e que haja
uma requalificação no salão de prática de exercícios físicos;
 Que se faça mais pesquisas sobre o tema, uma vez que esta obra não se
encontra totalmente acabada.

69
BIBLIOGRAFIA

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