Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Segundo Bloco
Tráfico negreiro
O tráfico negreiro trazia forçadamente africanos para serem escravizados no Brasil e, ao longo de
300 anos dessa prática, quase cinco milhões de africanos desembarcaram aqui.
Isso porque o envolvimento de Portugal com o tráfico de africanos, com o intuito de escravizá
los, era um negócio que existia desde meados do século XV. Os portugueses possuíam uma série
de feitorias na costa africana e nela compravam africanos para enviá-los como escravos para
trabalharem nos engenhos instalados nas ilhas atlânticas.
Concluindo, o entendimento dos historiadores, atualmente, a respeito desse assunto é que a
escassez da mão de obra indígena e a instalação de um negócio que tinha alta demanda por
escravos – a produção de açúcar – gerou uma demanda por outra mão de obra, e os comerciantes
portugueses, identificando essa necessidade, ampliaram o tráfico negreiro a dimensões
gigantescas.
Nesses portos, os africanos prisioneiros eram trocados por alguma mercadoria valiosa, que
poderia ser tabaco, cachaça, pólvora, entre outros. Depois de vendidos para algum comerciante
europeu, os africanos embarcavam no navio que os transportaria para a América ou Europa. Esse
navio era chamado de tumbeiro, pelo fato de ser um local onde muitos dos escravos embarcados
morriam.
Representação dos porões que abrigavam os africanos escravizados nos navios negreiros.
Os navios negreiros, em geral, comportavam, em média, de 300 a 500 africanos que ficavam
presos nos porões em uma viagem que se estendia durante semanas. Partindo de Luanda, a viagem
para Recife durava 35 dias, para Salvador durava 40 dias e para o Rio de Janeiro durava de 50 a
60 dias.
As condições de viagem eram extremamente desumanas, e os poucos relatos que existem da forma
como os africanos eram trazidos para as Américas reforçam isso. O local no qual os africanos
eram aprisionados (o porão) era geralmente tão baixo que os africanos não conseguiam ficar em
pé e o espaço era tão apertado que muitos tinham que ficar na mesma posição durante um longo
período.
A alimentação era escassa e era resumida a uma refeição por dia. O historiador Jaime Rodrigues
aponta que no começo das viagens (quando a possibilidade de revolta dos africanos era maior),
os traficantes de escravos davam uma quantidade de alimentos menor ainda, para evitar que eles
se rebelassem.
A água também quase nunca era potável e os alimentos disponibilizados eram feijão, farinha,
arroz e carne-seca. A má alimentação, principalmente pela falta de uma dieta rica em vitaminas,
fazia com que doenças, como o escorbuto (causada pela falta de vitamina C), fossem proliferadas.
Outras doenças também se espalhavam pela sujeira dos locais que abrigavam os africanos. Os
porões eram escuros, sujos e abarrotados de gente, de tal maneira que até respirar era difícil.
Outras doenças que grassavam nos navios negreiros eram varíola, sarampo e doenças
gastrointestinais. A mortalidade média era de ¼ de todos os africanos embarcados. Claro que
poderia haver variações nas taxas de mortalidade, com algumas viagens tendo menor número de
mortes e outras tendo um grande número de mortos.
Os relatos resgatados pelos historiadores já sugerem a motivação racista dos europeus no tráfico
negreiro. Um exemplo foi trazido pelo historiador Thomas Skidmore com o relato de Duarte
Pacheco, um navegante português que chamava os africanos de “gente com cara de cão, dentes
de cão, sátiros, selvagens e canibais.
Os africanos eram vendidos e informações como idade, sexo e origem eram importantes na hora
de vendê-los.
O tráfico negreiro para o Brasil foi iniciado por volta da década de 1550, pelos motivos explicados
anteriormente. O comércio ultramarino de escravos no Brasil estendeu-se por três séculos e
encerrou-se somente em 1850, quando foi decretada a Lei Eusébio de Queirós. Na década de
1580, o tráfico negreiro já era uma atividade bem estabelecida no Brasil e teve sua atuação
aumentada no período minerador.
Depois que o Brasil conquistou a sua independência, em 1822, o tráfico de africanos foi
intensificado até a sua proibição definitiva, e, durante todo o período de existência desse
negócio, o Brasil foi o país que mais recebeu africanos para a escravização no mundo. A
quantidade de africanos trazidos para o Brasil e para a América é alvo de intenso estudo de
historiadores.
O historiador Boris Fausto afirmou que cerca de 4 milhões de africanos foram trazidos
forçadamente para o Brasil. Thomas Skidmore, apresentando dados de Philip B. Curtin, fala que
o total de africanos trazidos foram de 3,65 milhões. A revisão desses números levou os
historiadores à conclusão de que o total de escravos trazidos aproximou-se dos 5 milhões.
As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling afirmaram que o número de africanos trazidos
para cá foi de 4,9 milhões. Já Felipe Alencastro afirma que esse número foi de 4,8 milhões. Essas
duas últimas estatísticas mencionadas são as mais recentes dentro da produção historiográfica.
Estima-se que entre 11-12 milhões de africanos foram trazidos para a América.
Ruínas do Cais do Valongo, local onde milhões de africanos foram desembarcados no Rio de
Janeiro.
As regiões das quais a maior quantidade de africanos foi trazida para o Brasil
foram Senegâmbia (Guiné), durante o século XVI, Angola e Congo, durante o século XVII,
e Costa da Mina e Benin, durante o século XVIII. Durante o século XIX, os ingleses proibiram
o Brasil de traficar africanos de locais acima da linha do Equador.
Ao todo, Angola correspondeu a 75% do total de desembarques de africanos no Brasil, e na
primeira metade do século XIX, um grande número dos africanos enviados ao Brasil eram
de Moçambique. Os povos dos quais os africanos vieram foram variados, destaque
para bantos, nagôs, hauçás, jejes etc.
Os colonos tinham preferência por escravos de diferentes povos, pois isso dificultava a
possibilidade desses de se organizarem e de se rebelarem contra a escravidão. Os locais que mais
recebiam desembarque de africanos escravizados foram Rio de Janeiro, Salvador e Recife, e
depois poderiam ser comprados e enviados para diferentes locais do Brasil, como Fortaleza e
Belém, por exemplo.
O escravo era um item com um preço bastante elevado, e o historiador Boris Fausto informou que
um colono levava de 13 a 16 meses para recuperar o valor que era gasto. Depois que iniciou o
ciclo de mineração, o preço do escravo subiu e passaram a ser necessários cerca de 30 meses de
trabalho para que o valor gasto fosse recuperado.
Os traficantes pagavam impostos na alfândega instalada nos portos por cada africano que tivesse
idade superior a três anos e na venda do africano. Informações como sexo, idade e origem eram
relevantes. Os africanos escravizados eram comprados para trabalhar na lavoura, engenhos ou
mesmo em trabalhos domésticos. Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, um grande volume
de africanos foram enviados para trabalhar nas minas.
O tráfico negreiro existiu no Brasil até 1850, após um longo período, e a proibição desse negócio
só aconteceu pela pressão dos ingleses e pela ameaça de guerra contra a Inglaterra por conta
do Bill Aberdeen. Essa lei inglesa de 1845, permitia às embarcações britânicas invadir as águas
territoriais do Brasil para caçar navios negreiros.
A proibição do tráfico negreiro aconteceu por meio da Lei Eusébio de Queirós, aprovada no ano
de 1850, e com ela o governo iniciou uma forte repressão ao tráfico, fazendo com que essa prática
acabasse rapidamente. Após a aprovação da lei, cerca de 6900 escravos foram desembarcados no
Brasil até 1856 e depois disso a atividade acabou definitivamente.
5
Resumo
● O tráfico negreiro iniciou-se no Brasil pela necessidade contínua de mão de obra escrava
e foi resultado direto da diminuição do número de escravos indígenas.
● O tráfico negreiro era uma atividade extremamente lucrativa e atendia aos interesses da
Coroa, portugueses e colonos.
● Os africanos vinham nos tumbeiros aprisionados em péssimas condições nos porões dos
navios em viagens que se estendiam de 1 a 2 meses.
● O tráfico no Brasil só foi proibido por pressões inglesas que resultaram na aprovação da
Lei Eusébio de Queirós, em 1850.
Os escravos eram obtidos na África por meio dos traficantes que compravam prisioneiros de
guerra ou sequestravam africanos.
6
Roteiro de perguntas sobre tráfico negreiro e comércio de escravos
Uma das teorias raciais que circulavam na época afirmava que o leite da mulher negra era mais
forte e abundante (essa tese caiu por terra ao longo do século XX). Por isso, nas fazendas, uma
escravizada que tinha acabado de parir era transferida para a casa de seu senhor para amamentar
o recém-nascido branco e tomar conta da criança em tempo integral. Seu próprio filho
dificilmente tinha acesso ao leite materno e era cuidado por outras escravizadas que o
alimentavam com uma papa de mandioca ou com leite animal não pasteurizado, o que
contribuía para o grande número de óbitos.
Nas cidades, as chamadas mães pretas não trabalhavam apenas para seus senhores.
Quando não havia em suas propriedades uma cativa que tinha acabado de se tornar mãe, as
famílias ricas recorriam ao aluguel de escravas lactantes. Essas mulheres trabalhavam como
amas de leite para mais de uma família ao mesmo tempo. Seus filhos, quando proibidos de
morar com a mãe, eram vendidos, doados, abandonados na rua ou na Roda dos Expostos.
Depois da abolição da escravidão, mulheres negras grávidas ou que tinham parido recentemente
eram muito valorizadas no tráfico interno. A reprodução era estimulada por ser rentável para o
mercado de escravos, mas o direito à maternidade para essas mulheres era negado.
Quando não eram alugadas, as puérperas continuavam a trabalhar com seus filhos amarrados ao
corpo. Passavam o seio por cima do ombro ou por baixo do braço para que pudessem amamentar
sem interromper suas funções.
No final do século XIX, a maternidade passou a ser valorizada pela aristocracia, e o aleitamento
materno, incentivado. Ao mesmo tempo, surgiram estudos sobre os riscos da amamentação
cruzada (quando uma mulher amamenta o filho de outra). O problema é que esse novo discurso
circulou pela sociedade carregado de preconceito já que grupos de médicos responsabilizaram as
amas de leite pela transmissão de doenças. Essas mulheres, que antes eram imprescindíveis nas
famílias ricas, passaram a ser condenadas e perseguidas.
Hoje, a amamentação ainda é tabu. E esse tipo de prática do século XIX pode ter contribuído
para a existência de mitos sobre leite forte ou fraco e a atribuição do aleitamento como atividade
exclusiva para pessoas de baixa renda. Vale lembrar que o Ministério da Saúde e a Organização
Mundial de Saúde (OMS) contraindicam a amamentação cruzada por conta do risco de
transmissão de doenças, mas nada disso tem a ver com a cor da pele ou com a situação social das
lactantes. Além disso, no Brasil, o aleitamento materno é recomendado até o bebê completar dois
anos de idade.