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Tema: II - Cultura e Sociedade

Nota introdutora

Os processos sociais, culturais e políticos angolanos, entre a segunda


metade do século XX ao inicio do século XXI – (2002), quando do termino do
conflito armado, tem sido estudados e analisados por alguns especialistas, em
particular, pelo sociólogo angolano Victor Kajibanga, tem servido de elemento
para identificarmos a existência de um pensamento sociológico nos nossos
dias. Isto pressupõe, historicamente falando, a existência de um período Pré e
Proto – Sociológico, o período do pensamento social e sociológico entre a
década de 50 d século XX aos nossos dias.

Por essa razão neste micro trabalho de apoio aos professores e alunos
dos cursos das áreas das Ciências Económicas e Jurídicas, Ciências Humanas
e Artes Visuais. De forma a enriquecer os conteúdos do currículo, abordando o
existente dentro de três prismas que caracterizam o estudo sobre a sociologia
angolana: a sociologia Colonial, entre a década de 50 á 1974, para que os
alunos compreendam melhor a formação do pensamento sociológico angolano;
entre 1975 á 1991, á ausência da sociologia em Angola; e de 1992 aos nossos
dias com a reinstituição no sistema de ensino em Angola.
Subtema 1 – A sociologia em Angola

1.1 – Epistemologia do surgimento do conhecimento sociológico em Angola –


(1870-1940)

O conhecimento científico moldado pela escrita, do latim ao português, é


uma herança do processo colonial. Foi graça o sistema colonial, que se
desenrolou em Angola, um sistema “cientifico-ideologico”, a partir do qual, fez
surgir o empirismo cientifico e a etnologia da ciência num quadro da
interdisciplinaridade das ciências sociais e humanas, durante o processo
colonial.

O processo colonial, desenrolou-se por etapas, cada uma das etapas


mais complexas que a outra, funcionava graças o sistema “cientifico-ideologico”
que garantia o funcionamento do processo colonial em si. Para o nosso
trabalho, concluiu-se que o sistema ideológico-cientifico que sustentava o
empirismo colonial português e a ciência etnológico do processo colonial, entre
1482-1974, como hipótese, obedeceu três fazes:

A primeira fase, considerada de “Conquista e ocupação”, que tem inicio


com a chegada dos portugueses na foz do rio Zaire, vai até 1870, ano da
proibição legal do trafico legal em Angola. As relações sócias eram
caracterizadas com exclusividade, por intermédio da violência e agressão, o
“colonizador «coisificava» o colonizado”, sociologicamente, o homem negro
deixa de ser, ser – humano, torna-se escravo, para ser facilmente utilizável,
equivalendo a produto comerciável ou objecto de trabalho. A sociologia e o
conhecimento sociológico, consideram o período, entre 1482-1870, o período
da Coisificação Social, por transformar o homem angolano em facilmente
utilizável (objecto ou coisa).

A segunda fase, considerada como a passagem do “Comercio ilícito para


o Lícito, entre 1870 aos nãos 40 do século XX. Entre 1870 à 1885, instalam em
Angola as sociedades religiosas protestantes – (Sociedade Missionaria Batista,
originaria da Inglaterra; os Congregacionistas, vindo dos EUA e Canada; e os
Metodismo, vindo dos EUA). Faziam-se acompanhar de instituições de ensino
e de artes de ofícios.

Em resposta, o sistema colonial português, em1845, institucionaliza o


ensino em Angola, para tal, assina com a Santa Sé, através da Igreja Católica,
a institucionalização do Ensino Rudimentar, exclusivamente para os filhos dos
indígenas e o Ensino Elementar para os brancos, descendentes e alguns pretos
assimilados. O sistema ideológico-cientifico colonial, dá inicio a um processo de
transplantação de uma ordem “socioeconómica” para Angola – “de tornar
Angola terras de brancos”, cujo o processo de implantação e organização do
sistema colonial angolano, impunha, o desenraizamento cultural das
populações angolanas para a fisionomia cultural portuguesa (a partir das suas
crenças, instituições e modelo de comportamento). A colonização se
transforma num fenómeno cultural, a sociologia e os sociólogos consideram-na
como a fase do “assimilacionismo-social”, por se transformar num período de
imposição da cultura europeia em relação a negro-africana-angolna;

A terceira fase, é considerada como á da construção do nacionalismo e


da resistência ao sistema colonial. Nasce o fenómeno do Ultra-colonialismo,
sociedade angolana se transforma em província ultra-marina de Portugal. Dos
anos 40 á 1974, legitima-se e intensifica-se o trabalho esforçados aos nativos,
aumenta-se a presença da população europeia e colonização branca. O
processo de assimilação da cultura europeia – portuguesa (ou
assimilacionismo-social), intelectualmente, é difundido a partir do
“multirracialismo” e do “luso-tropicalismo” como ideologias dominantes. Angola
se transforma em património económico e estratégico do ocidente, segundo o
historiador Pedro Pezarat Correia “ A Jóia da Coroa do Império Português”.

1.2 – As Ciências sócias e Humanas, e a Sociologia em Angola

1.2.1 – A Sociedade até aos anos 30 do século XX

Ate 1974, a sociedade angolana era consideradas província ultra-marina


de Portugal. A Edaficológia e o corredor afluente do rio Bengo, entre o Oceano
Atlântico e o rio Kwanza, fez desta zona eleita pelos europeus para a produção
agro-alimentar e criação de gado, onde a Sanzala de Mutemu se transformou
em epicentro político - económico – administrativo - comercial, entre os séculos
XVII, XIX e XX.

Povos do reino do Lwangu, com sede no Kazwa Ngongo, Conselho do


Ikolo e Mbengu, Distritu do Kwanza Norte, com a capital no Ndondo, servido
pelo rio Mbengu, navegável pelo rio Mbengu, permitindo com que se navegasse
para as terras de Mbaka, sudoeste (Kwanza Su) e o planalto do Bie;

Para Mutemu, deslocaram-se investidores e comerciantes brancos,


vindo de Lisboa, Brasil e Holanda. A rede agrícola e comercial estendeu-se das
margens do rio Mbengu ao Rio Kwanza. dentre os o empórios agro – industrial e
comercial, destacam-se, “Grande companhia agrícola e comercial de Chibela,
igualmente, as plantadoras dos vastos campos de canavais e palmar de
Kaxitu, do bom Jesus, o arrozal da Makunga, e do palmar, com fabrica de
produção de óleo de Palma da Kimiñya”. (ver Chicoadão, 2007,47);

Mutemu, transformou-se em de excelências que servia de estudos para


experimentos agropecuárias para região e para Portugal, a proveito dos
brancos. para aproveitar melhor a região, instalou-se a missão católica, a
escola primaria rural e o seminário, transformando-a, no grande centro
comercial branco e escolar indígena, entre o final do século XVII, XIX e primeira
metade do século XX.
Entre as famílias que evoluíram a partir das escolas rurais e dos
seminários, destacam-se as clãs: “Pereira Africano; Gouveia Leite; Vieira Dias;
Contreiras da Costa; Veríssimo da Costa; Luís Paulino dos Santos Van-Dúnen –
(patriarca do clã Eduardo dos Santos, seu filho Eduardo Paulino dos Santos,
em 1922, tinha sido recambiado pelas autoridades coloniais para Kalomboloca
logo após a revolta de Katete, é o pai do ex-presidente de Angola, José
Eduardo dos Santos); Azevedo – (Azevedo Neto e Ventura de Azevedo); Dias
dos Santos; Moreira Bastos; Saturnino de Oliveira; Pereira da Gama; Vaz
Contreiras; Mateus Torres; Baldo Isidro; Bernardo Gonçalves; Fialho da Costa;
Van-Dúnen; Leite de Miranda; Marcelino; Fontes Pereiras; Paixão Franco;
Necessidades Castelbranco; Pinto de Andrade; Bessa Victor; José Bernardo;
Aleixo de Palma”; e outros.

Este investimento e desenvolvimento da actividade agro-pecuária,


obrigou o governo português abrir o ramal dos caminhos-de-ferro de Luanda,
do Kwanza Sul, do Lobito e do Namibe, bem como a construção de um
imaginário por parte dos indígenas na época sobre liberdade, igualdade,
direitos, identidade cultural e nacional.

Entre 1860 á 1900, em Angola, propriamente em Luanda, publicavam-se


e circulavam varios jornais, entre os quais: “ A Civilização da África Portuguesa
(1886), o Comercio de Luanda (1867), Echo de Angola (1881), O Futuro de
Angola (1882), O Pharol do Povo (1883), O Arauto Africano (1889), O Muen`exi
(1889), O Desastre (1889), O Policia Africano (1890), O Mercantil (1870), O
Cruzeiro do Sul (1873), O Meteoro Correspondência de Angola, Jornal de
Loanda (1878)” e outros. (ver: Kajibanga, 2009). Grande parte destes,
processavam ideias libérias republicanas de países ocidentais, disseminadas
por intelectuais ocidentais, entre muitos, François Fénelon (1651-1715),
François-Marie Arouet Voltaire (1694-1778), Jean-Jaques Rousseau (1712-
1778), Charles de Montesquieu (1689-1775) e outros (Pacheco, 1999, Soares,
2009 in Kajibanga)

Em 1922,com a Revolta de Katete, a missão foi encerrada e as escolas


primarias para indigenana destruídas. Nos finais dos anos 30 do século XX, as
famílias esclarecidas e sobreviventes dispersaram-se para outras zonas dos
pais, luana e Benguela eram as cidades onde mais disseminavam-se as ideias
dos pensadores ocidentais, serviram de farol que iluminou a geração de
Agostinho Neto, Holdem Roberto, Mario Pinto de Andrade, Dom Alexandre do
Nascimento, Janotão Xingunji, Jonas Savimbi, Viriato Francisco Clemente da
Cruz, Mário António Fernandes de Oliveira, Ilídio Machado e outros. A ida de
muitos para o exterior, permitiu melhor penetrar no seio do colonialismo e
desmonta-lo com ideias novas, hoje conhecidas como pensamento sociológico
angolano.
1.2.2 - Consequências socioculturais e o debate sociológico na realidade

O processo colonial deu lugar a sociedade a angolana dual de


desenvolvimento desigual, cujas características essencial
“portuguesa/angolana, branco/ mestiço-preto, assimilado/indígenas,
civilizado/selvagens e baxia/musseque”. O Empirismo colonial (ou a ciência da
colonização), definia os povos que constituíam a sociedade angolana de
“inferires, selvagens, grotescos, feiticistas, animistas, exóticos, pré – lógicos”
que os portugueses teriam que civiliza-los.

Para dar resposta sobre a necessidade investigativa e científica, Portugal


cria a Junta das Missões Geográfica e de Investigação do Ultramar. A
investigação cientifica nos campos da Etnologia e sociologia, no que concerne
a sociedade angolana, era realizada por ela, em beneficio de Portugal, como
instrumento ideológico da ciência etnológica do sistema cientifico - ideológico
do EMPIRISMO COLONIAL.

Em 1936, por intermédio do Decreto nº 26.180, de 07 de Janeiro,


propõem-se a reorganização e remodelação da Junta das Missões Geográfica
e de Investigação do Ultramar. Em 1945. Com base ao Decreto nº35.395, de
26 de Dezembro de 1945, cria-se o Instituto de Investigação cientifica, sob
égide da Junta das Missões em Portugal. Foi neste âmbito, que em 1955, por
causa da importância de Angola para Portugal, cria-se o Instituto de
Investigação Cientifica de Angola.

O ISTITUTO DE INVESTIGAÇAO CIENTIFICA DE ANGOLA, foi criado com


objectivo de desenvolver conhecimento sobre a cultura dos povos de Angola e
da ciência. A nível da ciência, o seu domínio era nas áreas da Geografia,
Historia Natural, Ciências Humanas e Sociais. O conhecimento sobre a
realidade angolana era feito no quadro interdisciplinaridade e
multidisciplinaridade, no seio da geografia humana, história natural e humana e
das ciências Humanas e sociais;

O quer dizer, á semelhança do que aconteceu com aparecimento da


sociologia como ciência, os filósofos Augusto, Emil Durkhein e Karl Marx
emprestaram o seu saber para o aparecimento e desenvolvimento da
sociologia. Em Angola o conhecimento sociológico sobre a realidade angolana
começou a ser desenvolvido por historiadores, geógrafos, antropólogos e de
outras especialidades das áreas da ciências sociais e humanas;

Os primeiros estudos sociológicos sobre os povos de Angola, os


investigadores basearam-se em relatos de viajantes, missionários e
comerciantes. Esses estudos ignoravam os aspectos fundamentais da
realidade, nãos tinha um perfeito esclarecimento. O aspecto relevante destes
relatos consiste no facto dos mesmos defenderem que Angola era constituída
por diversidades de grupos étnicos, situação que ate nos nossos dias prova-se;
Com o aparecimento do ISTITUTO DE INVESTIGAÇAO CIENTIFICA DE
ANGOLA, em 1955, a Sociologia começa-se a interessar-se pela sociedade
angolana nas temáticas ligada ao trabalho, dos aspectos de relações sócio-
coloniais – (tom de pele, racismo, escolaridade, trabalho esforçado, a
consolidação do aparelho de estado colonial), e outros.

As primeiros fundamentos sociológicos sobre a situação colonial nos


países africanos de expressão portuguesa foram desenvolvidos no CEA –
(Centro de Estudos Africanos), em estavam filiados figuras da intelectualidade
África dos países de língua portuguesas, residentes em Portugal, entre os
quais, José Tenreiro (1921-1963), Amílcar Cabral (1924-1973), Agostinho Neto
(1922-1979), Mário Coelho Pinto de Andrade (1928-1990).

Observando a historia e os acontecimentos, analisando o texto do


sociólogo angolano Victor Kajibanga, em 2010, e a obra “... AINDA O MEU
SONHO – (discursos sobre a Cultura Nacional)”, de Agostinho Neto. Na
segunda metade do século XX, três grandes figuras representam de forma
significativa a vida intelectual e o pensamento social angolano - Mário Coelho
Pinto de Andrade (1928-1990), Mário António Fernandes de Oliveira (1934-
1989) e António Agostinho Neto (1922-1979).

1.2.2.1 – Pensamento social e sociológico angolano – (Se. XX)

1.2.2.1. 1 - “As correntes do pensamento clássico da sociologia


angolana” – (1944-1990)
1.2.2.1.1 - O “Paradigma da Sociologia do Saber Endógeno” de Mário
Coelho Pinto de Andrade – (1928-1990)

Mário Pinto de Andrade, nasceu no Gulungo Alto (província do Kwanza Norte),


a 21 de Agosto de 1928 e faleceu a 26 de Agosto de 1990 em Londres. Foi o
primeiro angolano a estudar Sociologia (na década de 50 em França), num
período em que não constava o estudo da sociologia no programa curricular na
metrópole e nas colónias portuguesa;

O seu pensamento foi moldado pela escola francesa de sociologia,


fundamentalmente, por Georges Gurvitchi (1894-1965), Roger Bastide (1898-
1974) e Georges Balandier (1920); pela dimensão humanista do senegalês
Aliune Diop (1907-1980) e dos estudos histórico-culturais do senegalês Cheik
Anta Diop (1923-1986).

Os seus principais trabalhos sociológico são “As Origens do


Nacionalismo Africano”, [1997]; “Entrevista dada a Michel Labon, [1997]; “As
Ordens do Discurso do `Clamor Africano´ ”, [1990]; “Consciência, Identidade e
Ideologia na Formação da Nação”, [1989]; “Liberation nationale et ideologie”,
[1983]; “Qu`est que e`este le Luso-tropicalisme”, [1955]; “Do Preconceito racial
e do Miscigenado”, [1952].
1.2.2.1.1.1 - O Pensamento sociológico de Mário de Andrade – (1950-
1990).

Os seus estudos sociológicos basearam-se nas noções de cultura,


civilização, comunidades, consciência colectiva e angolanidade. Os seus
fundamentos metodológicos e a visão sobre cultura, forma formulados em
Março de 1952, numa palestra sobre o tema “Do Preconceito racial e da
miscigenação”;

Segundo ele, cultura compreende-se

“tudo o que é socialmente herdado ou transmitido, no seu domínio engloba


uma serie de factos dos mais diferentes: crenças, conhecimentos literatura
(muitas vezes tão rica, então sob forma oral, entre os povos sem escrita) são
elementos culturais do mesmo modo linguagem ou qualquer outro sistema de
símbolos (emblemas religiosos, por exemplo) que é o seu veículo, regras de
parentesco, sistema de educação, formas de governos e de todos os modos
segundo os quais ordenam relações sociais são igualmente culturais; gestos
atitudes do corpo, ate mesmo expressões no rosto, provem da cultura, sendo
em larga escala coisas socialmente adquiridas, por via da educação ou
imitação; tipos de habitação ou de vestuário, instrumentos de trabalho, objectos
de trabalho, objectos fabricados e objectos de arte, sempre tradicionais, pelo
menos em algum grau – representam, entre outros elementos, a cultura sob o
seu objecto material” (ver: Andrade in Kajibanga, 2008).

Para ele, a cultura desempenha o papel central a nível dos factos ou


acções dos sujeitos a nível de qualquer sociedade. Segundo ele, “é preciso
fazer da cultura a tradução mais acabada do grau de maturidade do ser”,
porque é a partir da cultura que os diferentes autores atingem a maturidade de
exigir direito e os deveres de reflectir, criticar e procurar os meios para sua
sobrevivência e evoluir. Depreende-se, que cultura é sinónimo de
conhecimento e que não importa ser ela com escrita ou sem, toda sociedade
tem cultura.

Estes argumentos levaram a criticar a teoria da crioulidade de Mário


António Fernandes de Oliveira, uma variável do Luso-tropicalismo de Gilberto
Freire (1900-1987), que defendia que colonização é o génio criador da língua
portuguesa e da cultura europeia no continente africano, a medica que criou
“mobilidade” – contribuiu na escassez do homem branco no continente; por
outra, a “imiscibilidade”, a medida que a população mista contribuiu par o
aumento da qualidade na população africana; por último, a “ bio-
continentalidade”, o aumento da população mestiça, permitiu a aproximação
entre Portugal e a África do Magreb.

Para Mário Pinto, a teoria enaltece a superioridade cultural e racial,


desta forma considera-a de ambígua e insegura. Porque a sociedade angolana
constrói-se na sua identidade secular, forjado na sua miscigenação linguística e
geográfica, quando se evoca a cor e a raça como elemento de identidade para
Angola desaparece o cenário que o caracteriza. Por essa razão ele defende,
que a teoria do luso-tropicalismo é racista e pré-conceituoso por enaltecer a
superioridade.

1.2.2.1.2 - O “Paradigma da Sociologia do Saber Exógeno ou da crioulidade” de


Mário A. Fernandes de Oliveira – (1934-1989)

Nasceu em Maquela do Zombo, província do Uige, em 5 de Abril de


1934, faleceu em Lisboa, no hospital de Santa Maria, a 7 de Fevereiro de 1989.
Conhecido como Poeta, Escritor, Historiador e professore universitário.

O seu pensamento emergiu da sua tese de Doutoramento cujo os


argumentos a aludida de “Sociologia da Colonização Portuguesa”, esgrimidos
em “O Mundo que o Português Criou”, onde Gilberto Freire exaltava “ A
COLONIZAÇAO Portuguesa e generalização do humanismo português” aos
territórios ocupados por Portugal.

Dentre as obras publicadas, destacam-se, “ A Sociedade Angolana do


Fim do Século XX e um seu Escritor” - (Luanda, 1961); “Colaborações
Angolanas no `Almanaque de Lembranças 1851-1900´ -(Porto, 1961); “Luanda
Ilha Crioula” – (Lisboa, 1968); “O Primeiro Livro de Poemas Publicado na África
Portuguesa” – (Lisboa, 1970); “ Para uma Perspectiva Crioula da Literatura
Angolana: `O Repositório das Coisas Angolenses´ de J.D. Cordeiro da Mata ” –
(Guimarães, 1974); “Alguns Aspectos da Administração de Angola de Época de
Reforma” – `1834-1851´” – (Lisboa, 1981); “A Formação da Literatura Angolana -
`1850-1950´, tese de Doutoramento” – (Lisboa, 1987); “ Reler África -
`Apresentação, Revisão e Nota Bibliográfica de Heitor Gomes Teixeira ´”
(Coimbra, 1987).

1.2.2.1.2.1 - O Pensamento sociológico de Mário de António Fernandes


de Oliveira – (1960-1989).

O “Paradigma da Sociologia da crioulidade”, as suas premissas fora


lançado a partir da obra “ A Sociedade Angolana do Fim do Século XIX e um
seu Escritor”, publicada em Luanda, em 1961, pela Editorial Nós. Segundo
Victor Kajibanga (2008), este texto viera ser reeditado com o título “Um
intelectual angolense do século XX”, inserido como peça chave da construção
intelectual da obra “Luanda Ilha Crioula (ver: Oliveira, 1968, in Kajibanga);

No texto em referência, “Um intelectual angolense do século XX”,


defende que na sociedade angolana luandense, benguelense e em alguns
presídios do litoral, existe um “Lusotropicalismo”, de uma sociedade
lusotropicalista ainda por se estudar no seu aspecto africano;

Na obra “Luanda Ilha Crioula”, Mário António, defende “Entre nos, crioulo
tem uma conotação sentimental que não podemos por de lado. Denota,
porventura, o tipo melhor da analogia bio-social que os portugueses realizaram
nos trópicos. Dai ser esse termo corrente aplicado aos arquipélagos Atlântico
de Cabo Verde e S. Tome e Príncipe” (ver: Oliveira, 1968, in Kajibanga).

A obra “ Luanda Ilha Crioula”, não é um ensaio homogéneo, é uma obra


vários artigos distintos escritos durante a década de 60, cuja referencia
construtiva da abordagem esta em «Arquipélago Sul - Atlântico Português». O
texto que da titulo ao livro, é uma comunicação publicada em 1965, onde p
autor procura localizar a “crioulidade” na “crioulização”.

Para a análise da estrutura da sociedade angolana, estudou a


conotação racial e o funcionamento da estrutura angolana, para tal, estudou
essencialmente a noção de raça social e a formação bio-psico-social do crioulo
na sociedade angolana. Foi ao encontro dos conceitos de raça do português
Lima de Carvalho e do Americano Charles Wagley. Foi com base ao
conhecimento destes autores que ele definiu crioulo “denota o tipo mais
acabado da amálgama bio-cultural que portugueses realizaram nos trópicos”,
transformando “facto crioulo” na literatura lusófona estudos para fenómenos
culturais, políticos, económicos, administrativos de dimensão sociocultural com
incidência aos estudos sociológicos sobre mobilidade social e mobilidade
cultural.

Segundo o autor, foi a “miscigenação bio-cultural” ou a relação entre o


“biológico e o social”, criou e aprofundou a chamadas ilhas crioulas nas cidades
de Luanda e Benguela, que por sua vês veio formar as culturas crioulas, cuja
mesma “tem sido a orientação de todos os artistas que querem ser artistas
angolanos”, transformado a cultura crioula como o valor superior na sociedade
angolana;

O que quer dizer, antes da chegada dos portugueses não havia cultura
em Angola, a chegada, permitiu:

- A mobilidade, a medida que contribuiu para escassez do homem


branco no continente africano (o verdadeiro capital homem) que havia no
continente;

- Miscigenação, com o surgimento da população mestiça, aumentou a


população qualitativa em quantidade;

- A bio-continentalidade, o aumento da população mestiça, aproximou


Portugal aos países da África do Magrebe.
1.2.2.1.3 - “Paradigma da Sociologia do Saber Internacional ou da sociologia
da integração sociocultural de António Agostinho Neto – (1922-1979)

Nasceu na aldeia de IKole Mbengo, em Kaxikane , província do


Bengo, actualmente pertence a província de Luanda, em 17 de Setembro de
1922, faleceu em Moscovo (ex-URSS), a 10 de Setembro de 1979. Conhecido
como Poeta, Escritor, politico e homem de cultura.

As primeiras ideias hoje conhecidas como de matriz sociológica sobre a


realidade angolana, tinha como propósito desafiar a “missão civilizadora”
portuguesa em Angola, visando construir uma visão da realidade africana, foi
publicado no “Jornal Farolim”, em Janeiro de 1946, um artigo que chama
atenção da juventude para os problemas da terra e critica a tendência para o
“euro – tropismo”;

Na altura filiado na Casa dos Estudantes do Império – (C.E.I) EM Lisboa,


onde passaram Francisco José Tenreiro (1921-1963) e Mário Coelho Pinto de
Andrade (1928-1990). Estas ideias levaram a criar o “Movimento Democrático
das Colónias Portuguesas”, com sigla (MDCP), em 1954 e a participar no 5º
Assembleia-geral de delegados do MUD-Juvenil, onde fora eleito como
membro do Comité Central, em 1955.

Entre as obras públicas, destacam-se, “Náusea”, (1952); “Quatro


Poemas de Agostinho Neto”, (1957); “Com Olhos Secos”, (1963); “Sagrada
Esperança”, (1974) e a obra “Ainda Meu Sonho”, publicada a título apostemos,
em 1980, que resulta da sua intervenção sobre a cultura angolana, na sua
intervenção no dia 08 de Janeiro de 1979, dia da cultura nacional.

1.2.2.1.3.1 - O Pensamento sociológico de António Agostinho Neto – (1960-


1989).

O “Paradigma da Sociologia do Saber Integracional ou da sociologia da


integração sociocultural”, teve os seus lampejos entre as décadas 40 e 50, do
século passado, confundias entre uma corrente negritúdica evoluída e o Pana-
fricanismo;

Nos anos 60, seu pensamento estabeleceu uma ruptura absoluta com a
negritude, adoptando a postura dos escritores da “ Voz de Angola Clamando no
Deserto”, (1889-1901), associado a António de Assis Júnior (1917-1918), José
de Fontes Pereira (1823-1891) e os integrantes do Partido Nacional Africano
(PNA) que lutavam por harmonia racial, defendendo identidade especial para
os africanos.

Não somos apenas portugueses. Antes de sermos portugueses, somos


africanos. Somos portugueses da raça negra. Temos orgulho na nossa dupla
qualidade. Mas possuímos, acima de tudo, o orgulho racial... tem orgulho em
ser pretos... Devemos cooperar com brancos. (ver: SIC in Wheeler, in Vidal,
2006,89).
Na tentativa de construir uma visão comodista reformista sobre a
consciência nacionalista angolana. Na base deste pensamento estavam
intelectuais oitocentistas que através da imprensa avultam discursos
reformistas;
Dentre os Jornais, destacam-se “Echo de Angola”, (1881-1882); “O
Futuro de Angola”, (1882-1891); “ A Verdade”, (1882-1888); “O Pharol do
Povo”, (1883-1885); “Muen´ exi – na língua Kimbundo significa senhor da Terra –
(1889) e o Kamba Dya Ngola (1898). (ver: Lope e Capumba, 2006, 26);
Na base das publicações estavam a esperança de que as
autoridades portuguesas compreendessem a posição dos africanos, através do
entendimento inter-racial.
O pensamento sociológico do Poeta, Escritor e homem de cultura
António Agostinho Neto, emergiu sobre o princincipio da inter –recialidade e
multi-culturalidade da sociedade angolana. O seu pensamento firmou-se na
segunda metade da década de 70 do século XX, na sua tese sobre “ a cultura
angolana”, no dia 08 de Janeiro de 1979, exposta na sua publicada a título
apostemos, em 1980.
Para ele, todas as manifestações culturais “evolui com condições
matérias e em cada etapa” que “correspondendo uma forma de expressão e de
concretização de actos culturais”, porque a “cultura resulta da situação material
e do estado do desenvolvimento social” de dada sociedade (ver: Neto,
1980,44).
Para ele, independentemente do processo de submissão histórica da
Angola, falar da cultura angolana deve-se abster do “chauvinismo cultural” –
(nacionalismo exagerado e mesmo fanático), que tende a menosprezar de
forma sistemática todo que é estrangeiro;
Deve-se recorrer como ela é. Segundo ele a cultura Angola hoje “ é
constituída por pedaços que vão desde as áreas urbanas assimiladas ás rurais
apenas levemente tocadas pela assimilação cultural europei a” (pg45).
Depreende-se, que para Neto a cultura angolana é um complexo
sociocultural que resulta da fusão entre a cultura africana secular e da
influência da cultura europeia, que promoveu a inter-racialidade e cultural idade
entre os valores africanos e europeus;
Consiste na “Abrangência da Africanidade” (ver: Caley, 2006), superar a
genuidade e a autenticidade africana defendida pelo Mário de Andrade, bem
como a superioridade defendida pelo paradigma da crioulidade de Fernando de
Oliveira;
A “Abrangência da Africanidade”, pressupõe a endogeinidade
integracionista, com pluralismo de ideias sem descriminação de raça e cultura,
cuja africanidade não pertence a ideologia nenhuma, constrói a sua identidade,
resultante da circunstancia á que deriva a sua estrutura. “Abrangência da
Africanidade” é sinónimo de ausência “Chauvinismo cultural”.
1.3 – Periodização da sociologia em Angola

1.3.1 - Primeiro, entre os anos 50 á 1974 – Narrativa da Pré e Proto –


Sociologia Angolana
- Neste período emerge o pensamento sociológico clássico, num
contexto de difusão do multirracialismo e Luso-tropicalismo, para dar sustento o
paradigma da «Crioulidade», partindo do pressuposto, que existia em Angola
uma sociedade «Bioculturalmente mestiça», o que quer dizer, «a Sociedade
Crioula». As teses deste fundamento tem origem no Sociólogo brasileiro
Gilberto Freyre (1900-1987), foi trazido para racionalidade sociológica
angolana, pelo ensaísta e sociólogo, Mário António Fernandes de Oliveira
(1934-1989), subentendido como, a “corrente sociológica da crioulidade nos
estudos sociais e literários angolanos”. Entre as controversas e
complementaridade, emergiu Mário Coelho Pinto de Andrade (1928-1990), cujo
esforço intelectual impõe-se domínio da Sociologia económica, da cultura, da
literatura, da situação colonial, da etnicidade e das repleções raciais e outras
dimensões por se estudar (ver: Kajibanga,2000). E António Agostinho Neto
(1922-1979), entre 1975-79, analisada numa perspectiva da corrente
integradora para os estudos da realidade social e sociológica angolana.

1.3.2 – Segundo, entre 1975-1991 - A Sociologia «non grata» ou


ausência da Sociologia em Angola

O maior entrave da ausência da Sociologia em Angola, entre 1975-1991, foi o


factor político e ideológico. Como consequência do apoio da EX- URSS ao
MPLA durante a luta de libertação (1961-1975) e na transição papa
independência (1974/75); aliado ao facto de ser o MPLA a proclamar a
independência, a 11 de Novembro de 1975, adoptou o modelo politico -
ideológico do aliado (EX – URSS).
A sociedade definia-se pelo socialismo, o marxismo-leninismo constituía-
se como elemento cultural para sociedade. A sociedade angolana que tinha
sido colonizada durante século, cuja experiencia colonial havia
consubstanciado na identidade das comunidades angolanas, com o marxismo-
leninismo, instaurou-se uma crise de identidade nacional, bem como no
crescimento e aplicação da ciência;
A ciência passou a ser apresentada com exclusividade como a soma de
conhecimento sobre o entendimento do marxismo-leninismo para a construção
de uma sociedade socialista, coexistindo em cinco tipos de economia:
Os estudos sociológicos defendem os condicionantes políticos, científico
e cultural como condição da ausência de conhecimento científico e sociológico,
entre 1975-1991;
Existiram quatro condicionantes que determinam a ausência da
sociologia em Angola, no período em causa:
1º Condicionante Institucional – “Exclusão da Sociologia da
Institucionalização do saber geral e científico”;
- A Sociologia fora excluída em todo sistema de ensino em Angola.
2º Condicionalismo político – “Influencia da ciência importada: a filosofia
marxista-leninista para sociedade angolana”;
- A visão do mondo angolano, era oferecido pelo marxismo-leninismo,
como elemento da consolidar a independência, superar a influencia do
colonialismo e projectar o desenvolvimento para Angola.
3º Condicionante científico – “Ausência de Investigação científica”;
- As ciências sociais e humanas, foram superadas pelo materialismo
histórico de Marx, aprofundando a partir do marxismo-leninismo. Aprofundou o
derrubo da pequena burguesia angolana, mais não aprofundou a cultura e a
experiencia da realidade social angolana. Houve ausência de conhecimento
científico, quanto a sociologia, foi reduzida uma disciplina que fazia parte do
quadro curricular na formação dos políticos do partido governante.
4º Condicionante Cultural – “testemunho social do facto literário e
artístico”;
- A ausência de investigação científica nas áreas das ciências sociais e
humanas, com realce para áreas da sociologia, foram compensados por
testemunhos literários, reflectiram sobre o contexto da realidade angolana.
Sobre este aspecto, há que realçar algumas obras de importância sociológica “
os Discursos do «Mestre» Tamoda”, de Uanhenha Xitu; “Sagrada Esperança”,
de Agostinho Neto; “Dizanga dia Muenhu”, de Boaventura Cardoso; “Quem me
dera ser Onda”, de Manuel Rui Monteiro; “Mayombe”, Pepetela; “Baixa e
Musiques”, de António Cardoso e “Uanga”, de Oscar Ribas.

1.3.3 – Terceiro, – entre 1992- Nossos dias, fase que demonstram o


ressurgimento da Sociologia em Angola.
Neste período podemos demonstrar factos de uma larga visão mais
política e administrativa que cientifica propriamente dita. O aparecimento da
sociologia, independente da intenção o contexto não permita ir para alem de
uma estrutura politicamente concebida. A abordagem formar dominava a
existência da sociologia.
Três acontecimentos marcam o nível céptico da existência do
conhecimento sociológico entre 1992-2002.
Primeiros, “A constituição de Angola em um Estado democrático de
direito”;
- O pluralismo partidário, aliado a liberdade de expressão, quer a nível
institucional como individual, promoveram o debate sobre a sociedade,
ajudando na necessidade da formação de sociólogos na realidade angolana.
Segundo, “ A institucionalização do curso superior de Sociologia, com
realce para a área das ciências da educação ISCED - Luanda, em 1995”
- A formação de professores de nível superior em Ciências da Educação
de opção sociologia, permitiu a inserção do conhecimento sociológico no
Segundo Ciclo do Ensino Secundário, permitindo a sociedade angolana
conhecer e valorizar o conhecimento do sociólogo.
Terceiro, “A proclamação da Associação de Antropólogos e Sociólogo de
Angola – (AASA) ”.
- O mérito desta instituição resulta do facto desta associação ser
formada por professores responsáveis a abertura do curso ao ISCED – Luanda,
leccionarem disciplinas de especialidades e curricular ao curso de Sociologia,
cuja experiencia os permitiu criar a “Revista de Estudos Sociais”, a revista
“NGOLA”, a partir da qual, permitiu dar a conhecer a visão da sociologia sobre
as transformações ocorridas na realidade angolana do período colonial ao
nossos dias. Sobre este aspecto, é de salientar o artigo “A Sociologia em
Angola: Posições e Proposições”, de Luís J. Manuel da Costa, entre as paginas
72 à 126, para alem dos argumentos esgrimidos sobre o tema, esta a
bibliografia riquíssima, entre as paginas 121à 126, maioritariamente, a luz da
história e da literatura, fornecem-nos respectivas intelectuais e sociológicas no
estudo sobre a realidade social angolana.

1.3.3.1 – A guerra e o cepticismo na sociologia angolana – (1992-2202)


A guerra consubstanciava-se no principal obstáculo para afirmação da
sociologia como ciência na sua existência como tal. Por outra, se a solução do
conflito passava pela reorganização da sociedade com base ao principio
negritúidico:
«Ninguém está a dizer que os crioulos não deveriam ter a sua própria cultura,
que os crioulos não deveriam viver da forma como eles vivem. Tudo que nós
estamos a dizer é que nós não somos crioulos. Tudo o que queremos dizer é
que nós pertencemos à origem Bantu e que somos africanos. Nós não
podemos abdicar e não podemos fazer concessões em defesa destes valores...
Lanço aqui um apelo geral a todas as forças armadas da UNITA, onde quer que
estejam, para que se concentrem nas suas antigas áreas. Temos uniforme,
armas, munições, bombas e comidas. Venham, mas não sigam para os pontos
de acantonamento. Devem partir para as antigas áreas e nós vamos organizar-
nos imediatamente para apanhar-vos. Vamos imediatamente ordenar a
reorganização das vossas unidades para continuarmos às batalhas com fins de
trazerem a dignidade ao povo Bantu e a sua terra de origem. Venham
depressa. Sei que vão confiar na minha palavra» (Ver: Savimbi inPatrício,
1997:119).
Depreendia-se também, negação da “abrangeria da africanidade”, com
causa das divergências que opunham os dois beligerantes, recorrendo ao
chauvinismo cultural, a origem cultural e racial, se transformou num entrave a
afirmação de determinados indivíduos em determinadas forças politicas,
aumentado desde já a crise.
1.3.3.2 - 2.2.2.2 – Desenvolvimento da sociologia –
(tendências dominantes na sociologia angolana actual)

É uma narrativa construída vista por dentro sobre as diferentes


conferenciam, palestras e jornadas académicas, entre 2003-2010, realizadas
no ISCED – Luanda, Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Faculdade de
Ciências Sociais e Auditório Maria do Carmo Medina na Faculdade de Direito
da Universidade Agostinho Neto;
Cujos trabalhos os autores mais representativos na comunicação,
estudam-se nas revistas cientificas, como é o caso da “Revista de Ciências da
Educação e Estudos Multidisciplinares” – (Kulonga), do Instituto Superior de
Ciências da Educação; a “A Revista Angolana de Ciências Sociais” – (Mulemba)
e a “ Revista Angolana de Sociologia” – (RAS), da Sociedade Angolana de
Sociologia - (a SASO).
O balanço feito a partir dos temas dominantes, permitiu construir uma
lógica epistemológica sobre as tendências actuais da sociologia angolana,
sustentado por pensamento ideológico que sustenta uma critica para o
pensamento sociológico actual.

2.2.2.1.1 – Arlindo Barbeito (n.1940), em “Portugal e Angola:


representações de si e de outrem ou o jogo equivoco das identidades ” [2006], o
autor fala da construção e desconstrução social do outro, ao longo da história
colonial, através de duma falsa representação de identidade social e cultural
entre angolanos e portugueses.
Para o autor, a colonização foi a tentativa de construir a identidade
portuguesa fora da Europa, consequentemente, a destruição da identidade
cultural dos africanos. Para ele, é falso afirmar que existe uma identidade social
e cultural entre angolanos e portugueses. Depreende-se, independentemente
da aproximação pela língua e não so, deu lugar a uma outra cultura, equivale a
“abrangeria da africanidade”.
2.2.2.1.2 – Victor Kajibanga “Sociology in Angola: Classical Paradigmas
and modern Trenls, em 2009, a sua narrativa sobre “pré e proto – sociologia
angolana”, “A Situação colonial e a emergência das principais correntes da
sociologia clássica angolana” os “paradigmas da sociologia angolana” e sobre
as “tendências actuais da sociologia angolana”;
Consagra-os como o patrono nos estudos sobre sociologia da histórica,
história da sociologia, história do pensamento sociológico e da hermenêutica no
estudo sobre o conhecimento sociológico angolano.
Os seus estudos sociológicos consagram-se no âmbito da cultura e da
ciência:
Sobre cultura, versou o seu pensamento sobre “Alma Ensaística sobre a
obra de Mário Pinto de Andrade”, tornando-se defensor do pensamento
endógeno;
Sobre a ciência, desenvolveu estudos sobre a sociologia da história e da
história da sociologia, versando os cânones da sociologia angolana pré-
colonial, colonial e pós-colonial.
2.2.2.1.3 – Lucas Ngonda e André de Oliveira João Sango (n.1959),
ambos autores centram suas abordagens sobre as “relações poder político,
elites e relações étnicas”, como um triplo debate estruturado na sociologia
angolana desde a década de 90 do século passado.
Para ambos autores, não se pode falar sobre a construção da nação,
formação das elites, na governação e na construção do estado em Angola sem
se ter em conta a representatividade étnica;
Para eles, as elites no poder ou fora dele estão consubstanciados numa
base cultural a que são originários, em qualquer dimensão estrutural e
funcional tendem manter a sua estrutura original.

2.2.2.1.4 – Laurindo Vieira e o Althussenismo sociológico (n.1964),


professor do ISCED – Luanda; lecciona as disciplinas de Sociologia da
Educação, Sociologia da Cultura, Sociologia da Ciência e Psicologia Social.
Notabilizou-se no texto na revista “Kulonga” onde analisa o texto sobre a
“Ideologia e Educação em Angola”, onde radica o seu pensamento no francês
Luis Althusser (1918-1990).
Animado pelo althussenismo, construiu o seu conhecimento teórico e
pratico em educação, tornando-o numa figura incontornável sobre sociologia da
educação em Angola, cujas bases levaram a publicar a obra “A Dimensão
Ideológica da Educação” – (1975 -1992) ”, publicada pela Nzila, em 2007.
Na sua construção epistemológica sobre educação, faz um paralelismo
entre a Psicologia e a sociologia, para tal, busca em Emil Durkhein a
construção do mérito no papel da educação. Para ele, a educação é o meio,
pelo qual, o individuo garante a mobilidade.

O marxismo na perspectiva sociológica sobre “Estrutura Económica e


Classes Sociais” na sociedade angolana colonial em Henrique Guerra (1988).
Henrique Guerra na sua o obra “ANGOLA – Estrutura e Classes Sociais”,
publicada em 1988, trás consigo a abordagem de Marx, em termos de
distribuição dos recursos materiais, tais como, “dinheiro, propriedade e meios
de produção”, que permitiu o autor introduzir do termo “classe”.
Para Marx, as sociedades capitalistas se divide em duas classes: a
burguesia e o proletariado, cujos dois são definidos pela sua relação com os
meios de produção. Para Henriques Guerras, do ponto de vista económico, a
estrutura social angolana na sociedade colonial, a sua estrutura apresentava as
seguintes características:
“Toda actividade económica dependia da actividade produtora de
matéria-prima destinada a exportação;
Para se processar essa produção de matéria-prima, importam capitais e
material pesado dos países industrializados, isto é, dos mesmos países para os
quais exportam as matérias-primas;
Os lucros gerados pelo capital vindo de fora são exportados e não
regressam mais para os territórios onde são gerados;” (ver: pg 13)
Isto deu lugar ao aparecimento de um capitalismo subdesenvolvido,
fundamentalmente cuja dependência do imperialismo industrial das potencias
inglesa, americana, francesa, holandesas, japonesas e germânica.
Sector das (maquinaria é também importada) que produz
essencialmente os bens de consumo mais necessário à manutenção dos
assalariados e patrões envolvido na actividade económica (alimentos, roupas,
alojamentos etc.) e os bens de equipamentos mais simples e de desgastes
rápido (baterias, pneus, correias de transmissão, alguns matérias de
Construção etc.) – é o sector de produção para o mercado interno.
A relação entre o capitalismo internacional e o capitalismo metropolitano
português mo mercado interno angolano, deu lugar ao desenvolvimento de três
sectores de actividade:
1º “Sector de produção de matéria-prima para exportação”, que
determinavam o avanço e recuo-o da economia na sociedade angolana
colonial, tenham a maioria das fábricas e grandes parcelas de terras. Sobre
este “Capitalismo internacional (imperialismo) ” é de realçar as empresas
“Companhia dos Diamantes de Angola, S.A.R.L. – Diamang; Companhia
Mineral de Angola, S.AR.L.; Cabinda Goulf Oil Company e outros” ; (pg 13, 28-
29)

2º “O sector de importações de capitais, de material pesado e bens de


equipamentos”, o seu núcleo central era formado por bancos e comércio de
importação, este “capitalismo português metropolitano”, instalou-se na
sociedade angolana dos anos 50, destruíram a “pequena burguesia
portuguesa” que detenha a exportações de bens de consumo para as colónia,
com realce para os Grupos Guf onde estava filiados (a INDUVE, SIGA,
SOREFAME, IFA, SUT, SITAL, FTU, CACEX, SOMINTER, PÃO DE AÇÚCAR
e outros); Grupo Espírito Santo, Grupo Champalimaud, Banco Português do
Atlântico (BPA), Grupo do Banco de Angola, Banco de Fomento Nacional,
Grupo Borges & Irmão, Grupo Fonsecas & Burnay e o Grupo Intercontinental
Português (pg 39-46). Assim como no primeiro, os restantes dos grupos
estavam filiadas varias empresas.
O “Capitalismo internacional (imperialismo) ” e o “capitalismo português
metropolitano”, por serem os possuidores primários dos meios de produção e
do capital, para tornar as suas actividades funcionáveis agrupavam no seu seio
a “Camada Superior da Burguesia Colonial”, filiadas nas sociedades anónimas
por terem ligações com o poder político; o “Camada Inferior da Burguesia
Colonial”, filiada nas sociedades por quotas; os “Produtores Africanos”,
considerados semi-proletariado rural ou campesina to burguês, que produz
grande parte do auto-consumo interno no mercado e o “Estado”, o estado para
realizar certas despesas, precisa de ter receitas, para tal, se apodera de certos
sectores da economia que lhe são favorável ao lucro para custear a
administração publica.
3º “Sector das pessoas que vivem em geral da agricultura, pascigo de
animais e artesanato, com nível técnico de produção baixíssimas e produzem
em grande parte para auto consumo”, conhecido como a área ou sector
tradicional com fortes ligações a classe dos “produtores africanos”, foi
considerado como a classe do “Proletariado”, por não possuírem meios de
produção, a diversificação levou o autor a classifica-los:

- Proletariado agrícola
- Proletariado das minas
- Proletariado da construção civil
- Proletários dos transportes
- Proletariado das pescas
- Proletariado industrial
Embora as ênfases sobre posição não foi tido como importantes na
estratificação na sociedade angolana colonial, tem importância e esta
implicitamente nas suas abordagens. Foi em Marx sobre a diferença existente
entre a burguesia e proletariado que o autor foi a busca de argumentos para
clarificar a estrutura da sociedade angolana colonial.
Nota conclusiva 1

De encontro a cronologia dos factos e acontecimentos estudados e


analisados e estampados neste pequeno estudo sociológico sobre a sociologia
angolana, pode-se inferir, em jeito de conclusão, que a Casa dos Estudantes do
Império – (CEI), fundada em 1944, em Lisboa, entre os muitos filados,
destacam-se Fernando José Tenreiro, Mário Pinto de Andrade e, Amílcar
Cabral e António Agostinho Neto, este ultimo viera ser o primeiro presidente de
Angola;

Surgiram as primeiras ideias sociológicas dos países africanos de língua


portuguesa, em particular para Angola, o aparecimento das correntes dos anos
50, o desenvolvimento do pensamento sociológico entre as décadas de 60 e
70, transbordando para literatura entre 1980-1991, estudado hoje como o
pensamento clássico da sociologia angolana.

É neste contexto hoje, sobre a imergência do pensamento clássico da


sociologia angolana. A partir de trabalhos de historiadores, sociólogos,
psicólogos, Antropólogos, homens de letras e ensaístas, constituem a grelha
metodológica, ainda hoje, que influenciam reflexões teóricas em estudiosos
angolanos para compreensão da realidade angolana.

O que “Implica um conhecimento diferente e qualificável sobre a cultura”


Subtema 2: Sociedade e cultura
2.1 – Conceito e compreensão: Sociedade e cultura
A sociedade, e o conjunto de instituições existente numa
estrutura social, orientáveis por leis, normas e valores desenvolvido nela
e a cultura é o conjunto de normas valore, padrões de comportamento e
todo outros elementos que conduzem a realização matéria e moral na
organização de e orientação do individuo no funcionamento da
estrutura social. Nela o elemento comum é o homem, porque o homem é
produtor, orientador e transformador da própria cultura;

Etimologicamente, cultura tem origem da palavra Kultur na língua


alemã no século XVIII, com o empréstimo da língua francesa ganha a
etimologia “culture”, e com empréstimo do latim ganha o nome de
cultura.

Evolução histórica e compreensão do termo cultura - (entre o


séculos V-XX)

Antes do século XIII, termo cultura era usado para designar


cuidados prestados ao campo ou ao gado;

Durante o século XIII servia para designar parcelas de terras


cultivadas;
durante o século XVI faculdade ou o facto de se trabalhar com vista
o seu desenvolvimento;

No século XVII reconhece-se academicamente o conceito; durante o


século XVII terno ganha um sentido de acção intelectual o termo surge
acompanhado de outros termos que a determina: fala-se de cultura das
artes, cultura das letras, cultura das ciências etc.

(ver: Coche, 1999, 13-14).


Com investidura intelectual de Jean Jaques Rousseau e Voltarem,
traves de uma ideia progressista, o termo cultura passa estar ligado ao
termo civilização;

Em 1787. O etnólogo e antropólogo Alexandre Chavanes define o


termo cultura como “ a historia dos povos a caminho da civilização”(15),
abrindo portas para o debate cientifico sobre cultura entre o séculos XIX
e XX;

Entre a segunda metade do século XX ao inicio do século XXI,


depreendia-se como sendo um “ sistema complexo de códigos e
padrões partilhados por uma sociedade ou grupo social, que se
manifesta-se nas crenças, valores, criações e instituições que
fazem parte da vida individual e colectiva de uma sociedade ou
grupo” (ver: Dicionario LELO, 2015);

Esta repreensão, compreende-se em três dimensões:

Primeiro, no quadro da formação especializada, entende-se como


sendo o “ desenvolvimento dos conhecimentos e das capacidades
intelectuais num domínio particular (literário, artísticos, matemáticos.
Filosófico)” e outros;

Segundo, a nível físico, consiste no “desenvolvimento metódico do


corpo humano através de exercícios adequados”, numa compilação,
mente sã e corpo sã;

Terceiro, no seu quadro geral, é o “desenvolvimento dos


conhecimentos e das capacidades em domínios considerados necessários
para todos”. Neste particular, o conhecimento considerados necessários
para todos? É o científico! Considerado civilizacional.

Estes campos de análise levou a sociologia considerarem o


conceito de cultura de sinónimo á educação. Segundo Emil Durkhein, a
medida que o treinamento e o talento requeridos pelos elemento
civilizados, são adquiridos e transformados a partir da sala de aulas,
numa dicotomia sociedade-escola e vice-versa.
2.2 - O debate franco-alemão – (entre os séculos XIX e XX)

O sucesso para o debate sociológico sobre cultura deveu-se ao


historiador e sociólogo Norbert Elias (1939), que ajudou a destrinçar a
relação existente entre a classe intelectual na Alemanha e francesa no
desenvolvimento do rebate científico sobre cultura;

Permitindo com que no século XX a visão integradora dos


elementos materiais e espirituais na abordagem sobre cultura. Na
pratica, permitiu associar cultura e desenvolvimento, um debate que
hoje para cada analise sobre cultura constrói-se um novo campo
epistemológico e metodológico por se estudar o fenómeno cultura.

2.2.1 – O debate sobre cultura na Alemanha

A burguesia intelectual (ou classe media) que opunha a


aristocracia e a corte, encontravam-se ligados por causas das benesses.
MEDIA BURGUESIA (OU CLASSE MEDIA), acusavam a burguesia, a
nobreza da corte de não interessar-se das artes e da literatura, e de
consagrarem o esforço maior em actividade cerimonial da corte que
esforçavam em imitar as maneiras civilizadas da corte francesa.

Fez da inteligência da burguesia e a nobreza da corte, uma


inteligência superficial. Ao contrario da burguesia intelectual (classe
media), que para além de cultivares actos civilizacional (o tempo
cerimonial da corte) cultiva a literatura e as arte.

Para os intelectuais alemãs, civilização são “manifestações


cerimoniais como honras, cortesias, etiquetas etc”. ao passo que cultura
tem haver com “conhecimento cientifico e intelectual que envolve arte e
literatura”.

Depreende-se, que a burguesia intelectual domina a civilização e


a cultura, ao passo que a burguesia e a nobreza domina a civilização,
assim, a diferença entre aos intelectual e a burguesia e a corte são
superficial.
Para a burguesia alemã, “Cultura tem a ver com o poder das
honras riqueza e luxo”. Para burguesia e a nobreza, a classe média por
estar próximo aos modos de vida deles tem elementos da cultura e que
as diferenças são substanciais;

Para a classe média, “cultura é sinónimo de civilização” e que


civilização tem a ver com honras e cortesias, ao passo que “cultura tem
a ver com o domínio científico que inclui as artes e literatura”. Para eles, a
“burguesia tem civilização mais não cultura”, ao passo que a classe
trabalhadora não tem civilização nem cultura. Assim, cultura para os
alemães estratifica e gera desigualdade.

2.2.2 – O debate sobre cultura na Franca,

os intelectuais não manterão laços de cumplicidade entre com a


burguesia e a nobreza. Burguesia vê-se afastada dos intelectuais,
permitindo a burguesia e a corte não participar na vida política.

A filosofia francesa que origem na época das luzes dominada pelo


filósofo Herder. Tinha como objectivo “devolver o orgulho ao povo e tinha
que começar pelo povo através de uma cultura própria que tinha que
começar pelo próprio povo”,

Os intelectuais franceses introduziram o conceito de cultura


universal. “Os intelectuais não admitiam antes de mais a relação cultura
e bens económicos e matérias, para ligar ao conceito de cultura ao
sentimento de superioridade e inferioridade”. Para os franceses cultura é
sinónimo de civilização (sistema de valores) ligado ao conhecimento que
deve começar no povo com o conhecimento escolar virado a revolução. A
ligação a classe média ao conceito tem haver ao conhecimento e não aos
bens materiais.

Para os franceses, a noção de cultura surge como “o conjunto de


conquistas artísticas no âmbito do conhecimento e da ciência”; no âmbito
intelectual cujo conceito determina: cultura das letras, cultura da arte e
da ciência. Como património de toda a sociedade e que todos tem acesso
a ela.

Essa perspectiva depois da revolução francesa, influenciou o


conceito alemão de cultura, segundo a qual, cultura tem a ver com
conhecimento e civilização. Para os alemães, As honras que estão na
sociedade e que cultura enquanto sinónimo de civilização, somente tem
cultura que domina e vive das honras da aristocracia e da burguesia.

Durante o final do século XIX e inicio do século XX, sobretudo


durante a primeira e a segunda guerra mundial com fim do império
austro-húngaro, o conceito de cultura na Alemanha liga-se ao conceito
de nação. Segundo Domont (1984) cultura revela a alma do génio de um
povo, cujo termo génio, de reflecte criatividade e iniciativa que
determina os conceitos de cultura da arte, cultura das letras, cultura
intelectual, cultura da ciência etc. (ver: Cuche, 1999, 34).

2.3 - Conceito científico de cultura – séculos XIX/ XX

Neste período a etnologia firma-se como conhecimento científico o


problema da raça e da diferença racial vai permitir procurar dar
respostas a exploração sobre a correspondência entre raça e cultura.
Por um lado.

Por outro, a generalização da cultura do método e a emancipação


do método comparativo por parte dos etnólogos e antropólogos, dão
lugar a noção do conceito de cultura original (o primitivo) da
humanidade, como sendo a primeira fase da evolução cultural.

A discussão sobre cultura, cingia-se fases pelas quais teria


necessariamente o homem passado a cultura para os povos civilizados
(40). Por essa razão escolhemos estes dois pensadores para o debate
científico sobre cultura:
2.3.1 - Primeiro Edward B. Tylor (1871) a partir da sua obra “
Cultura Primitiva”, foi o primeiro a formular o conceito de cultura.
Segundo ele, os estudos das culturas singulares não podia fazer-se sem
estabelecerem comparações entre elas, uma vez que se ligavam umas ás
outras segundo um mesmo movimento do progresso cultural. O que quer
dizer não existe cultura singular, existe sim, um movimento de
progresso cultural no processo da evolução das sociedades humanas a
caminho da civilização; assim sendo, cultura é sinónima de civilização e
civilização o estagio superior de cultura.

Para ele, civilização é o tipo de sociedade cuja luta pela


sobrevivência torna o indivíduo mais complexo em relação cultura e
estrutura social. As suas características incluem “comunidade e
residências fixas, organização política em forma de estado, haja divisão
social do trabalho que são reguladas por lei; negocio e comércio em
economia, instituições religiosas formais, arte e literatura, música e
outras formas de evolução científica”. Assim sendo, as sociedades
civilizadas diferenciam das sociedades de caçadores colectores e da
sociedade hortelã.

Tylor (1871), defende que “todos os ser humanos são seres de


cultura; entre o primitivo e o civilizado não existe diferença na sua
natureza, o que há, é o grau de avanço a caminho da cultura. Todo o ser
sai do primitivo ao civilizado, aqueles que ainda não atingiram a
civilização iram chegar, é uma questão de tempo”. Lógica, encontram
num estágio inferior há caminho da civilização;

Segunda lógica, apesar de ser um processo universal, por essa


razão há uma cultura universal que reconhece o ser primitivo e os seres
das demais sociedades como humanos. Assim sendo a diferença de
estágios (entre o primitivo e o civilizado), nasce uma lógica que qualquer
um de nos ao fazer essa leitura, constrói-se novas razões e
fundamentos.
Para ele a diferença entre os seres não é de natureza biológica,
mais sim cultural a caminho da civilização, por essa razão ele defende
que “ cultura” segundo Kahn (1975), é aquele complexo que inclui o
conhecimento, as crenças, a arte, a moral a lei, os costumes e todos
outros hábitos aptidões adquiridas pelo homem como membro da
sociedade (ver: Lakato, 2009, 131). Assim para ele todo o ser é um ser
de cultura, aqueles que ainda não chegaram a civilização, iram chegar,
é uma questão de tempo, definindo o conceito universal de cultura.

2.3.2 - Segundo Franz Boas (1938) e o conceito particularista de


cultura.

Fez estudos superiores em várias universidades, primeiro em


física, depois em matemática e por último em Geografia (física humana).
Estudou as sociedades dos esquimós na Europa para compreende o
efeito do meio físico na organização social das sociedades;

Em 1886 foi para América do norte para estudar os índios da


costa do nordeste: entre 1886 a 1899 os índios da Colômbia britânica e
em 1887 os Chinook e os Tsimshian (Cuche, 1999,41) a traves de
trabalho de campo etnográficos através da observação participante.

Concluo, que a diferença entre os grupos humanos é de ordem


cultura e não racial porque possuem a mesma formação física e
antropológica. Para ele, “raça é o conjunto permanente de traços físicos
específicos de um grupo humano; a partir do momento que todos têm a
mesma possibilidade de desenvolverem socialmente, independente da cor
da pele, todos podem chegar a civilização”; concluiu, que cultura é
sinónimo de civilização.

Ao observar as diferenças entre povos durante as manifestações


culturais aos pormenores, refiro-me essencialmente, “alimentação,
musica, vestuário, marcas de carros, língua etc”. Concluiu, “que por mais
que as sociedades chegam a civilização haverá elementos particulares
em relação ao todo” ao todo universal civilizado. Por essa razão afirmou,
existem “culturas e não cultura” como afirmara Edward Tylor, dando
conta da diversidade humana.

Para ele, por mais que as sociedades humanas evoluam e atinjam


a civilização haverá sempre diferença, “a técnica poderia pautar na
unidade da civilização, mais qualquer retrato sistemático comportaria
uma parte de especulação mesmo fazendo parte de um todo no coerente
funcional do sistema cultural”, assim sendo, não existe uma cultura
universal, mais sim culturas, que fazem o universo cultural da
humanidade

2.4 - Componentes da cultura e suas abstracções

Na prática, cultura é o conjunto acumulado de símbolos, ideias


associada a produtos materiais de um sistema social, seja ela um pais,
província, município, comuna constituindo-se como o principal
elemento sistema social (ver: Johnson, 1997, 59);

Sistema social, é o conjunto de interdependência (ou relações


obrigatórias) entre os elementos culturais e estruturais de uma dada
sociedade, que podem ser chamada as partes que constituem todo o
sistema de valores sociais (208-9). Ele varia do mais simples ao mais
complexo.

2.4.1 - Os componentes culturais variam entre os componentes


matérias e os componentes não-material

Componentes materiais, inclui todas as transformações reais e


tangíveis que fazem parte de uma realidade social colectiva: paisagem
de jardins, preparação de alimentos, a actividade agrícola, a produção
de computadores, produção de imputes agrícola;

Componentes não-material, inclui as questões simbólicas


(qualquer coisa usada para representar mais do que si mesmo), um
conjunto de marcas, as palavras (notas musicais), as ideias que
modelam a vida na sociedade que formam as atitudes, as crenças, os
valores e as normas.
As abstracções culturais, são os elementos que espelham o
funcionamento dos aspectos no sistema sociocultural e permite
identificar os conflitos, a aproximação e as mudanças no seio do
sistema estrutural do funcionamento da sociedade; os mais comuns
são: as Ideologias, padrões culturais, valores culturais, relativismo
cultural, etnocentrismo cultural, contracultura e aculturação,
subcultura etc.

Uma ideologia é o conjunto de crenças, valores e atitudes


culturais que servem de base para justificar ate que ponto torna
legítimo os elementos das manifestações sociocultural como
status, papéis ou movimentos individuais ou colectivos para
estimula-lo ou mudar. Segundo Max Weber é uma abstracção da
realidade que serve separar mentalmente um ou mais elementos
concreto de uma realidade ou entidade que serve para explicar a
realidade;

Padrões culturais podem ser chamados de padrões de


comportamentos, eles são normas comportamentais estabelecidas
pelos membros de uma determinada cultura. Eles são os
contornos (ou a linha ou limite do comportamento) que os
indivíduos adquirem a partir dos elementos da cultura e que vai
construir consciências nas manifestações individuais e colectivas
da conduta dos membros da sociedade.

Valores culturais, um valor é aquilo que uma coisa vale, a


importância que se atribui ou se reconhece a algo ou alguém:
custo de um objecto ou serviço em função da capacidade de se
negocial. Enquanto valor abstracto cultura, o valor cultural, é a
ideia comum sobre como alguma coisa é classificada em termos
de desejabilidade por perfeição ou mérito sociocultural;

Os valores são partes importantes de toda cultura porque


servem para classificar as coisas virtualmente que inclui “
abstracções (lógica acima da intuição), objectos ( ouro acima do
chumbo), experiencia (amar e perder acima de amar),
comportamento (dizer a verdade acima da mentira) características
pessoais ( alta estatura acima de baixa)”(Johnson, 19997,247),
assim, permite influenciar como as pessoas fazem as suas opções,
como fazem a sua integração, o sistema social desenvolve e muda.

Quanto ao relativismo cultural, é a ideia ou fundamento


que o individuo auto-condiciona o seu modo de ser e estar
(especifico e particular), por meio da endoculturaҫão ( a partir da
forma como auto-defende-se com as palavras) próprio da sua
integração cultural, adquiridos a partir do seu próprio sistemas
de valores em relação ao todo social, estabelecendo o relativismo
na relação com a sociedade;

O etnocentrismo cultural, significa a super valorização


da sua cultura em relação a outras, julga-se as culturas segundo
os modelos da sua própria, a probabilidade de ocorrência onde há
diversidades de manifestações culturais. A posição relativa liberta
o indivíduo a uma posição confusa muito próxima ao
etnocentrismo, segundo Lakato e Marconi (2009), o etnocentrismo
cultural tem aspectos positivos e negativos:

 É negativo, quando tem comportamentos


agressivos: quando apresenta atitude de
superioridade ate de hostilidade, descriminação, a
violência, agressividade verbal etc;

 É positiva, quando valoriza-se o grupo e preserva-


se as manifestações cultural, quando se passa
aceitar os seus valores como melhores sem
produzir conflitos, facilitando o bem-estar
individual e colectivo na integração social.
Contracultura e cultura, as subculturas e contraculturas.

São grupos que rejeitam a maior parte das normas e dos valores
vigentes numa sociedade. Podem promover pontos de vistas alternativos
da cultura dominantes; isto é, contrariando para a realização dos seus
anseios. Nas sociedades ocidentais os movimentos sociais, os grupos de
pressão e o grupo de pessoas que partilham o mesmo estilo de vida vão
constituir-se em forcas poderosas para a mudança. Assim a
contracultura oferece maior as pessoas maior capacidade de agirem de
acordo as suas opiniões, aspirações e convicções.

Sociologicamente falando, entende-se ao fenómeno de


“anomia” que para Rober Merton, esse fenómeno resulta de
“contradições existente entre as inspirações escritas na matriz
cultural e a desigualdade na estrutura social” (Ferreira, 2013,
576), que para ele, não é desregularão, são novas formas de
adaptação para alterar a ordem social anterior e gerar mudança.
Segundo ele, não esta em causa a fraqueza do sistema, esta em
causa as aspirações legítimas individuais ou de uma parte da
sociedade, que nas sociedades modernas criam aos indivíduos e
grupos, que vão contrariar a cultura dominante que são
expectativas culturalmente legitimas. Esta contradição, segundo
ele, dá lugar a novas formas de adaptação social: “ conformidade,
inovação, ritualismo, retraimento e rebelião”(ibn)

Subcultura, segundo Ralph Linton cultura é um agregado de


subculturas (lakato, 2009, 140), a subcultura é o meio peculiar
de um grupo menor dentro da sociedade no seu todo, não são
elementos superiores ou inferiores a outras, são diferentes em
relação da sua forma de organização da estrutura dos seus
elementos, normalmente ligados a um meio geográfico. Para
muitos sociólogos e antropólogos o temo subcultura, esta lido
também a grupos regionais, castas, grupos étnicos e classes
sociais.
Nota conclusiva 2

De encontro a cronologia dos factos e acontecimentos estudados e


analisados e estampados neste pequeno estudo sociológico sobre
cultura, pode-se inferir, em jeito de conclusão de uma secunda
conclusão sobre a temática sobre cultura.

Sobre este subtema, procuramos explicar, em termos sociológicos


e antropológicos, o conteúdo e a estrutura sobre cultura que iremos
apresentar aos alunos da 11ª classe, das opções económico-juridico do
2º Ciclo do Ensino Secundário do complexo escolar Júlio Verne.

O que “Implica um conhecimento diferente e qualificável sobre


cultura”
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