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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ


CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA
FACULDADE DE HISTÓRIA

CAMILA OLIVEIRA DAS MERCÊS

DEBATE HISTORIOGRÁFICO: A DESCIDA DA CORTE POMBALINA NA


COLÔNIA BRASILEIRA.

BRAGANÇA, PARÁ
2021
CAMILA OLIVEIRA DAS MERCÊS

DEBATE HISTORIOGRÁFICO: A DESCIDA DA CORTE POMBALINA NA


COLÔNIA BRASILEIRA.

Debate historiográfico com base em texto sobre A


chegada da Corte portuguesa no Brasil, a ser
apresentado como requisito parcial para a obtenção
de conceito na disciplina de História do Brasil II.
Docente: Profª.Msc. Rafael Santos Ribeiro.

BRAGANÇA, PARÁ
2021
Como conhecemos desde o nosso ensino básico, a história brasileira se inicia com a
chegada de Cabral em 1500 na cidade de Porto Seguro, na Bahia, momento esse que ganha
grande destaque na história das grandes navegações a caminho da colonização do Brasil e na
criação de um “Novo Mundo” a partir da construção de portos e da catequização das
populações já existentes, em geral, a elaboração de uma ordem sistemática colonial.
Com todo esse aparato de colonização, em 1808, a Corte portuguesa chegou ao Rio de
Janeiro na localidade denominada Quinta da Boa Vista e, na ocasião, realizaram uma grande
celebração com a descida do príncipe regente, Dom João VI, o qual vinha junto de sua
família para realizar a desconstrução do “antigo sistema colonial" do Rio de Janeiro e,
consequentemente, a apropriação de uma futura “Metrópole” da monarquia em termos de
política, economia, religião, cultura, urbanização e moral da colônia. Nesse contexto, por
motivos eurocentristas, a dita metropolização do Rio se concretizou através das vestimentas
nobres que os portugueses trouxeram e com a influência dos franceses “esses artistas e
artesãos deram à Coroa uma visão de civilização, progresso e ordem, inspirada pelo
neoclassicismo francês.”(TAUANY .1956, p.18.). O projeto de “civilização” originou-se pelo
âmbito do policiamento com a imposição de uma Educação moral, em suma, essa conjuntura
era voltada para uma função política em que os negros africanos eram vistos como uma
“sujeira” e um processo desafiador para a tal formação civilizatória nos bairros que, para
também inserir esses povos, utilizavam a escravidão e faziam uso desse método no trabalho
escravo. Logo, vê-se a necessidade de explorar determinados questionamentos: Como eram
formadas as condições de vida e sobrevivência de um escravo? O que o próprio indagava
para tal sobrevivência?.
Como a sociedade se incorporava através das influências ibéricas? O que hoje
chamamos de Brasil teve em sua base de desenvolvimento prestígios e reconhecimentos
dessas influências através da corte pombalina, oportunidade em que os portugueses
trouxeram consigo livros para esse processo de metropolização e movimentos políticos
internos, logo mais o surgimento da educação portuguesa para as classes médias e altas e o
poderio da Corte, modelo esse que nos instiga a fazer as seguintes perguntas: Como se
formavam essas perspectivas abrangências para a então formação da capital do Império no
Rio de Janeiro?. Essas questões podem ser debatidas no decorrer da trama sobre o processo
Imperial no Brasil, por obstante , poderíamos chamar de Brasil? Quais as consequências
dessa formação para o tempo hodierno?.
Segundo o texto de Kirsten Schultz, “Perfeita civilização: a transferência da corte, a
escravidão e o desejo de metropolizar uma capital colonial. Rio de Janeiro, 1808-1821.” ,
supracitado como base dessas pesquisas, trago o Dr. Manoel Vieira da Silva decorrente da
ideia “Reflexões sobre alguns dos meios propostos por mais conducentes para melhorar o
clima da Cidade (1808)” abordando a população negra com grande importância e
esclarecidamente persuasivo na questão dos portugueses denominarem a raça negra como
uma “doença” que não pode se propagar. Assim, o autor britânico, do período joanino, John
Luccock, no seu livro ”Notas sobre o Rio de Janeiro e o sul do Brasil; Tirada durante uma
Residência de 10 anos naquele país, de 1808-1818.” nos traz uma concepção simbólica dos
residentes no Rio durante a chegada da Corte pombalina trazendo curiosidades que, como o
próprio vivenciou, distinguia como “um lugar pomposo e fofoqueiro”.
Por contrapartida, para o encaminhamento da metropolização as figuras principais é a
mão de obra escrava negra e por mais que vivam em condições precárias sempre agiram com
cautela, pois são “objetos” que tem vontade própria e para a sua sobrevivência muita vezes
prefeririam trabalhar para a elite do que em fazendas. No entanto, essa sociedade é totalmente
organizada em torno das relações pessoais, por exemplo, no momento em que um negro é
preso e diz que é escravo e invoca o nome do senhor dele, a polícia necessariamente vai em
busca desse senhor para saber e respeitar a propriedade, em alguns casos o senhor é chamado
e vai protege-lo, mas também em outra alternativa fala que o indivíduo foi seu escravo e
agora é liberto, nesse caso o escravo no outro dia é colocado no exército em um recrutamento
forçado ou num navio de guerra, pois esses recrutamentos são bastantes recorrentes para um
disciplinamento da população livre e pobre, logo nessas situações interessava-se mais passar
por escravo do que por livre e receber um destino pior, esses casos se abordam no momento
em que a alforria é distribuída em 1888.
A “Nação policiada” inserida no texto de Schultz é abordada em temporalidade
diferente da citada acima, mas com o mesmo objetivo de civilizar a população, civilização
essa de origem eurocêntrica, no caso,abraçando o desenvolvimento dos europeus em 1808,
essa "evolução" se dá inclusive para o embelezamento urbano do Rio de Janeiro descartando
a negritude e propagando a cortesia branca, logo o “interesse” do príncipe regente estava
“mais no augmento dos brancos, sejão Brazileiros, ou Europeos, do que na propagação dos
pretos”(VIEIRA.p.13). Nesses momentos da “aniquilação” negra que eram a maior parte da
população local, os próprios usavam para o recuo do policiamento branco a Capoeira e
motins e designavam como hábitos selvagens, mas hodiernamente uma cultura
Afro-brasileira, logo, com essas atitudes os resultados não eram favoráveis principalmente
em casos graves como fugas, acarretando assim aos envolvidos o calabouço, flagelamentos
em praça pública ou punições, havendo assim descontentamento de algumas pessoas que
assistiam tais alvoroços.
A formação depreciativa do imaginário brasileiro, passado e atual sobre a família
portuguesa tem haver também, com a história republicana paulista, essa perspectiva
construída sobre uma monarquia agressiva, na verdade é bem complexa, pois quando se
pensa no caso do staff (estadistas), da corte de D.João estavam profundamente preocupados
em saber como está não só o andamento da política na Europa, mas também como
caminhavam o desdobramentos da política na América, pois havia um receio de haver
movimentos de autonomia popular para com os governos dessa regiões, ou seja, há uma
necessidade de conhecer o que se passa na América e fundamentalmente um dos veículos
para esse conhecimento é a imprensa criada a partir de 1808, apresentada como uma censura
sobre o que circulava, mas também a chegada de notícias que vem de outra localidade para
entender toda a dinâmica política e esse jornal que era “proibido” pela corte joanina, era lido
e vendido em várias lojas e anunciado por partes da América portuguesa. Essa proibição
significava nessa conjuntura o impedimento desses movimentos revolucionários citados
acima, juntamente com a tentativa de controle da estrutura régia e a entrada de estrangeiros,
fatores esses temidos por conta das experiências mais "contemporâneas" vizinhas e diferente
do que se passava na monarquia portuguesa.
No caso dos livros trazidos para a construção da biblioteca que vai ser a base do
acervo no Rio de Janeiro, se caracterizavam na formação da educação econômica, política e
religiosa dos monarcas, hábitos culturais e a sociabilidade cortesã, influenciada também com
a chegada dos estrangeiros ingleses, franceses e uma sensação cosmopolita como foi o tal
embelezamento dito pelo autor Luccock e morador da época onde se destacava “a
semelhança de magnificência européia”. Essa educação trouxe para as crianças e adultos da
elite de forma privativa religiosas com ajuda da ordem dos jesuítas que tiveram como
implantação de um sistema formal e escolas militarizadas, mas não sendo uma escola
propriamente dita com educação formal básica para todos como a contemporânea em que nós
aprendemos o sentido de democracia ou o que é ser uma nação brasileira, determinando-nos
cidadãos com identidade própria e liberta. Logo a educação do restante da população pobre
cativa, escravos e ex-escravos é apresentada de forma funcional da educação via irmandades,
não sendo também escolas formais apresentadas posteriormente, apenas quando os estados
enfim se consolidarem.
Quando falamos em Brasil, devemos ser cautelosos, pois os momentos entre 1808 a
1821 tratam-se de partes distintas do que hoje se convencionou a chamada América
portuguesa, território esse que para uma formação “integrada” passou por meio de um
processo de “lutas”. Mas de início, Rio de Janeiro, Maranhão, Grão-Pará etc, tinham vínculos
muitos distintos entre si , onde o impacto da chegada da Corte vem de forma diferente e com
a entrada da Corte na Bahia, os baianos pedem que o rei fique lá, pela própria lógica de
funcionamento de uma monarquia de tipo absolutista a onde o Rei é o centro de doação e
privilégios, políticos e econômicos e seus vassalos ambicionam de tais sedimentos, logo, as
rupturas dos paradigmas no fim do século XVIII se confrontam com essa lógica de
funcionamento onde, sobretudo a ideia de cidadania, construção de um Estado Nacional,
modernização, de separação do que é público e privado, controle de estado são ocorrências
feitas para uma formação “integrada” na época.
Aproximadamente 12 mil pessoas que vieram na esquadra portuguesa alojaram-se no
Rio de Janeiro ainda muito pobre e subdesenvolvido, causando transformações fundamentais
para preservar a legitimidade da coroa, impedindo-o de abdicar. Foi uma decisão planejada
com todo cuidado e, na verdade, durante o período de Dom João VI, no centro da monarquia
portuguesa, aqui foram fincadas as raízes da nossa Independência.
Por consequência, o fim do pacto colonial e revoltas foram fixadas em partes do
Brasil, anteriormente e a partir desse pronunciamento da independência, uma delas é a
Revolução do porto em Portugal, conhecida como uma revolta liberal, onde, com base nas
ideias do iluminismo enfervesidas na europa, a Junta Provisional do Governo Supremo do
Reino pretendeu possuir uma constituição limitando os poderes de D.João VI sendo liberal
para Portugal, mas quase nada liberal para o Brasil, pois eles pretendiam ter novamente a
recolonização do território brasileiro, voltando ao que era antes e a revitalização de um
monopólio comercial portugues. Com essa revolução, D.João volta para Portugal e aceita
essa questão constitucional Portuguesa, deixando seu filho Pedro, príncipe regente no Brasil,
permanecendo assim os laços entre Portugal e Brasil, para manter uma noção de que a
independência estava muito próxima e dificilmente Portugal iria conseguir voltar a condição
de colônia no Brasil, logo, com uma pouca liberdade possuída e também novos direitos, seria
então dificilmente ter esse cedimento. Esse fator e muitos outros consequentes da chegada da
Corte Pombalina formaram um papel crucial para o desenvolvimento do Brasil e da
população em geral como modos culturais, estruturas barrocas, construção do Banco do
Brasil, portos etc, mas também hábitos poucos respeitosos em algumas temporalidades,
contendo assim a desvalorização das raças de negros e mestiços, divisão da educação entre
camadas pobres e livres, por fim, contemporaneamente a chamada Nação brasileira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

● SCHULTZ, Kirrten. Perfeita Civilização: A transferência da corte, a escravidão e o


desejo de metropolizar a capital colonial. Rio de Janeiro (1808-1821). In.: Tempo.
2007.
● Manuel Vieira da Silva, Reflexões sobre alguns dos Meios propostos por mais
conducentes para melhorar o Clima da Cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Impressão Régia, 1808. p.20, 187-190.
● John Luccock, Notes on Rio de Janeiro and the southern parts of Brazil; taken during
a Residence of 10 years in that country, from 1808-1818, Londres, Samuel Leigh,
1820,p.245-246, 254, 548.

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