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O primado de Pedro - resposta a algumas objeções protestantes

Uma das doutrinas mais rechaçadas pelos protestantes é precisamente a doutrina do


primado de Pedro. Quantas vezes nós não ouvimos de algum irmão protestante as
seguintes objeções: “Onde está escrito na Bíblia que Pedro é Papa? Onde está escrito que
o atual Bispo de Roma é sucessor de Pedro? etc.”
Para começarmos a responder a essas objeções, precisamos entender qual é a essência
do papado. O papado foi exercido de diversas formas ao longo da história da Igreja, mas,
apesar dessas diferentes formas, uma essência permanece. Os protestantes, quando
atacam o papado, tendem a ignorar a essência para atacar uma forma específica do
papado ao longo da história, principalmente os papas que ao longo da história não
responderam bem ao seu chamado. Entretanto, não é porque um ou outro papa não foram
bons que devemos jogar fora a instituição do papado, criada pelo próprio Cristo.

A essência e o exercício do papado na Escritura

Se houve dias importantes na vida de Pedro, um deles, certamente, foi o dia em que Jesus
lhe deu um novo nome. Até os dias hoje, quando uma pessoa muda de nome, isso tem
muito significado. Quase sempre os artistas trocam de nome antes de começar a sua
carreira para que encare melhor o mundo do espectáculo, outros mudam de nome
simplesmente por não gostar do nome que receberam. Entretanto, na antiguidade os
nomes tinham uma importância profunda, e muito mais quando o próprio Deus mudava ou
determinava o nome. Toda mudança de nome nas Escrituras vem acompanhado de uma
mudança substancial na vida da pessoa, uma nova função e uma nova identidade.
Assim, se repassamos rapidamente a Bíblia, encontramos abundantes mudanças de nome
muito significativas: Abram pro Abraham (porque seria “pai de nações”), Sarai por Sara,
Jacó por Israel, entre outros.
Assim como esses personagens do AT, Simão passou por uma mudança de nome e,
portanto, de missão e função. Estando Jesus reunido com seus discípulos, Ele lhes
pergunta: “Quem dizem os homem que eu sou?”. Pedro toma a dianteira e afirma: “Tu és o
Cristo, o Filho de Deus Vivo!”.
Muito acertadas foram as palavras de Simão, porque não foram reveladas “pela carne e
pelo sangue, mas pelo Pai que está no céu”. Simão não podia errar, sua confissão era
produto da Revelação Divina. Simão descobriu a identidade de Cristo, verdadeiro filho de
Deus. Jesus devolve a Simão o seu gesto e responde a ele dando-lhe a conhecer a sua
nova identidade, o ofício para o qual foi escolhido, revelado junto com um novo nome:
“E eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
Assim, começou uma mudança total na vida de Simão. Cristo deu-lhe um novo nome:
“Pedra”, e lhe disse que sobre esta Pedra edificaria a sua Igreja. E, como, com um novo
nome, vem uma nova missão, assim, Pedro, no mesmo dia, a recebe: “A ti, darei as
chaves do Reino dos Céus, o que atares na terra, será atado nos céus, o que
desatares na terra será desatado nos céus”.
Essa passagem de Jesus lembra muito uma passagem de Isaías, que descreve uma
profecia sobre um novo mordomo (braço-direito) no Reino de Judá:

"Naquele dia, chamarei meu servo Eliacim, filho de Helcias. Eu o revestirei com a tua túnica,
o cingirei com o teu cinto, e lhe transferirei os teus poderes; ele será um pai para os
habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá. Porei sobre seus ombros a chave da
casa de Davi; se ele abrir, ninguém fechará, se fechar, ninguém abrirá; eu o fixarei
como prego em lugar firme, e ele será um trono de honra para a casa de seu pai." (Is 22,
20-23)

Não foi casualidade que Jesus falou de “chaves”, mas, intencionalmente, para recordar a
profecia de Isaías, pois a figura do mordomo (o braço-direito do rei) era amplamente
conhecida, já que era um servo do rei que recebia dele as chaves do Reino.
O texto de Isaías revela as várias funções do mordomo, que era um ministro ao serviço do
rei com a máxima autoridade subordinada apenas ao próprio rei, e, inclusive, o mordomo
exercia certa paternidade no reino: “ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para
a casa de Judá”.
Essa passagem é apenas uma entre várias que fala das funções do mordomo.
Jesus, sendo herdeiro do trono de Davi, mantém o costume e nomeia um “mordomo” para o
seu Reino. Esse mordomo é Pedro, que recebe de Cristo plenos poderes para reger o novo
Povo de Deus, a Igreja.
Visto desse modo, toma sentido porque Pedro figura como Pedra sobre a qual se edifica a
Igreja. Cristo utiliza uma metáfora, na qual compara a Igreja como edifício espiritual, no qual
os cristãos figuram como partes da construção. Pedro, exercendo um ministério especial
como “mordomo” do reino e cabeça do Colégio Apostólico, é a pedra visível desse novo
reino instituído por Cristo.
Pedro é a pedra sobra a qual se edifica a autoridade visível de Jesus Cristo para governar a
Igreja. Muitos protestantes afirmam que a autoridade do Papa foi algo criado pela Igreja,
entretanto vimos que o próprio Cristo deu uma autoridade a Pedro. Agora veremos
testemunhos no começo do cristianismo que demonstram que a Sé de Roma sempre foi
vista como a principal, a primeira. Isso é importante para refutar a ideia de que o primado de
Pedro foi criado arbitrariamente pela Igreja em algum período histórico. Ao contrário, o
primado de Pedro sempre foi uma realidade de nossa fé.

No Novo Testamento

Estando o Apóstolos vivos e sendo guiados diretamente pelo Espírito Santo, o exercício do
ofício petrino consistia principalmente na liderança. É nesse ponto de vista que vemos o
Apóstolo Pedro recebendo as ordens de Cristo para apascentar o seu rebanho (Jo 21, 15-
17). Quando Satanás pede aos apóstolos para "peneirá-los como trigo” (Lc 22, 31), Jesus
oea especialmente por Pedro, para que sua fé “não desfaleça” (Lc 22, 32). Cristo pede a
Pedro que confirme seus irmãos na fé (Lc 22, 32).
Pedro é o que recebe a revelação de que os pagãos podiam entrar na Igreja (At 10, 28); é o
primeiro a pregar em Pentecostes (At 2, 14); quem toma a iniciativa acerca da necessidade
de completar o grupo dos doze (At 1, 15-22); quem realizada a primeira cura milagrosa
depois da Ressurreição (At 3, 6-7).

Primeiros séculos

Depois da morte de Pedro, vimos que nos primeiros cinco séculos nenhum bispo usurpa a
primazia para si mesmo, mas que a atribui, segundo o antigo costume, a Roma. As
objeções frequentes de alguns protestantes afirmando que a primazia do Papa era apenas
de honra, e não de poder nem de jurisdição, não podem ser sustentadas diante da grande
quantidade de evidência histórica existente.
Nos primeiros séculos, o primado foi exercido não apenas como liderança, mas para
disciplinar comunidades rebeldes (São Clemente Romano, Papa do séc. II, disciplinou a
comunidade de Corinto por ter deposto seus pastores) ou servindo como última instância
em julgamentos.
Se Roma era a última instância, se tinha a última palavra em julgamentos, é porque ela era
considerada superior às outras dioceses. Na história da Igreja encontramos muitos
exemplos de apelações a Roma, vindas de toda parte, como por exemplo:
a) Durante o pontificado de São Vítor (189 d.C - 198 d.C) se dá uma controvérsia sobre
as diferenças existentes entre a Igreja de roma e as asiáticas acerca da data da
comemoração da Páscoa. São Policarpo, com 80 anos!, foi até Roma para alegar
que a data em que celebravam a Páscoa no Oriente era uma tradição que remetia
ao próprio São João. O Papa não se convence disso é ameaça excomungar os que
defendiam a posição oriental. Santo Irineu pede ao Papa não excomungar os
asiáticos, que acabam aceitando a forma romana de calcular a data da Páscoa.
b) São Basília, arcebispo de Cesaréia, no séc. IV, recorre à proteção do Papa Dâmaso;
c) São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla, apela no início do século V ao
Papa Inocêncio I para uma reparação de agravos infligidos a ele por vários prelados
orientais e pela imperatriz Eudoxia de Constantinopla;
d) São Cirilo apela ao Papa Celestino contra Nestório, Nestório apela também, mas
sem êxito ao Papa.

Esses são poucos entre muitos exemplos que já nos primeiros séculos demonstram
claramente que a Sé de Pedro era vista como a principal. Afirmar que foi uma criação
medieval é um mentira!

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