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Faculdade de Teologia Paulo VI - Mogi das Cruzes/SP

Relatório - Deus Trino


Prof. Pe. Ari
Aluno: Gustavo Catania Ramos

O curso Deus Trino, ministrado pelo Prof. Pe. Ari na Faculdade de Teologia Paulo VI,
passou por diversas facetas do mistério central para a fé cristã: o Deus que Se revela como
Três Pessoas, diversas, mas subsistentes numa só essência/natureza divina.
O primeiro ponto tratado pelo curso, à guisa de introdução, foi a coerência de toda
teologia dogmática, que tem seu fundamento em três pontos: o depósito da fé; a analogia da
fé e o sensum fidelium. Todas as verdades reveladas estão no depósito, relacionam-se umas
com as outras (analogia) e estão no senso dos fiéis, como ensina o Concílio Vaticano II,
mormente na Lumen gentium.
Depois, foram tratadas as quatro etapas da Revelação. A primeira delas é a Antiga
Aliança. Em Gn 12, Deus realiza uma aliança com Abraão. Essa aliança estendeu-se até
Nossa Senhora. A segunda etapa da Revelação diz respeito à Encarnação, pregação, morte,
Ressureição de Jesus Cristo e, posteriormente, a descida do Espírito Santo em Pentecostes. A
terceira etapa é a fase da Igreja, que tem como missão levar a todas as nações de todos os
tempos o Evangelho, por meio da pregação e dos sacramentos, principalmente. Por fim, a
quarta e última etapa, ainda não realizada, é o escathon, quando veremos Deus “face a face”,
sem mais o intermédio de conceitos humanos, e veremos com clareza a Revelação.
Depois, vimos com clareza que o mistério da Trindade não é uma invenção teológica
ou da Igreja, mas é algo que saiu da própria boca de Cristo. Isso não quer dizer que Cristo
usou os conceitos que nós usamos para falar desse mistério, como, por exemplo, Trindade,
pessoa, relação etc., mas que toda a construção teológica posterior finca-se no que foi dito
pelo próprio Cristo.
A Trindade é o mistério da vida íntima de Deus e apenas foi revelada com clareza
pelo Cristo. A Encarnação de Jesus é o vértice da Revelação, como ensina a Dei verbum,
documento que afirma que apenas Cristo revelou plenamente a Trindade, que é o centro de
nossa fé. Como Jesus revelou a Trindade? Basta olhar para as diversas passagens em que
Jesus fala do Pai e outras em que Ele fala do Espírito e de Si mesmo. Depois, Jesus mandou
os Apóstolos a batizarem em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Essa fórmula
batismal revela a unidade e igualdade das Três Pessoas, bem como a diferença relativa que há
entre elas. Dos lábios de Jesus depreende-se que são três Pessoas distintas que, no entanto,
são o mesmo e único Deus. Assim, o mais correto é afirmar que os cristãos creem não em
Deus, como normalmente se diz, mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo.
A Trindade é o mistério que ilumina o Evangelho. É o mistério principal, que revela o
centro de nossa fé: Deus é comunhão, que se dá aos homens por amor, origem e fim de todas
as coisas criadas. Assim, entendemos melhor que Deus não criou uma unidade acachapante,
mas alegre-se no múltiplo, na alteridade. Depois, trabalhou-se a interessante ideia segunda a
qual o pecado é uma negação da alteridade e transforma o múltiplo em adversário.
Depois, trabalhamos a definição de Tertuliano, que nunca mais foi abandonada pela
reflexão teológica: “Um Deus em Três Pessoas”. A Trindade é um mistério sobre o qual os
teólogos pensaram a partir de diversas correntes filosóficas. Uma dessas correntes foi o neo-
platonismo, que, fascinado pelo Uno, pode colocar em risco a alteridade inerente à Trindade.
Santo Agostinho, entretanto, cristianizou essa filosofia, associando cada Pessoa da Trindade a
um dos fatores da doutrina neoplatônica. O Uno seria o Pai; o Logos o Filho e a Iluminação o
Espírito Santo.
Após essas considerações, estudamos o Deus no Antigo Testamento e em que medida
podemos ver uma “Trindade” antes da Revelação plena em Cristo. O Deus no Antigo
Testamento é um Deus que estabelece relações, que dialoga com as criaturas. Não é um Deus
distante, que não se importa com o que criou.
No Antigo Testamento ocorre uma preparação progressiva para a plena revelação da
Trindade no Novo Testamento. No Antigo Testamento, vemos que Deus é Uno,
Transcendente. Ele exerce uma paternidade em relação ao seu povo. Há, também, aspectos de
maternidade (Ex: Is 19, 15). No Antigo Testamento, fala-se do Anjo de Javé (Ex 14, 19), da
Palavra, da Sabedoria de Deus e do Espírito, que, às vezes, aparecem personificados.
Entretanto, não são reveladas propriamente pessoas da Trindade, mas preparam o caminho
para o Novo Testamento.
Na doutrina desenvolvida a partir do Novo Testamento, Teófilo de Antioquia foi o
primeiro a usar o termo Trias (Trindade), enquanto Santo Irineu foi o primeiro a fazer uma
grande exposição acerca da Trindade. Eles partiram, principalmente, de como a Trindade
revelou-Se no Novo Testamento, que foi o tema seguinte tratado pelo curso.
A base da revelação da Trindade é a Pessoa de Jesus Cristo, em que reside a plenitude
da Revelação. Toda teologia posterior baseia-se em pontos indiscutíveis que aparecem no
Novo Testamento, mas em termos compreensíveis para o seu tempo. No Novo Testamento
não há uma confissão explícita da Trindade (aliás, mesmo esse termo é posterior). Entretanto,
os textos do Novo Testamento testemunham, de maneira inequívoca, o relacionamento íntimo
entre as Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
As passagens em que vemos com mais clareza a Trindade no Novo Testamento são as
fórmulas litúrgicas, que revelam a fé cristã nas Três Pessoas desde o início. Lembremos de
Mt 28, 19 (“"Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo."); de 2Cor 13, 13 ("A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a
comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!"); de 1Cor 12, 3 ("Por isso, eu vos
declaro: ninguém, falando sob a ação divina, pode dizer: “Jesus seja maldito”; e ninguém
pode dizer: “Jesus é o Senhor”, senão sob a ação do Espírito Santo."). Essas e outras fórmulas
litúrgicas foram a base da fé cristã na Trindade em seus albores.
Depois, vimos no curso o desenvolvimento da doutrina da Trindade nos Padres da
Igreja e nos Concílios Ecumênicos. O Concílio de Niceia escolheu, entre diversos credos, o
credo de Cesareia para expressar melhor a fé cristã na divindade da Segunda Pessoa.
A fé cristã, desde o início, teve de enfrentar correntes de pensamentos que buscavam
deturpar a Revelação cristã acerca da Trindade. Na primeira carta de São João, já se pode
intuir o problema dos gnósticos. Os padres apologetas, logo no segundo século, defendiam a
fé contra os gnósticos, judeus e contra o Império.
Os Padres Apostólicos nos deixaram ricas doxologias (saudações trinitárias) que
revelam a fé na Trindade. A Didaqué também testemunha essa fé; bem como os diversos
credos e textos catequéticos. Tertuliano, Orígenes e Novaciano possuem obras trinitárias,
demonstrando a centralidade desse mistério.
Depois tratamos um pouco da heresia Ariana. Segundo Duquoc, as heresias
cristológicas tendiam a negar ou a divindade ou a humanidade do verbo. Entretanto, Ário
estaria num meio termo entre ambas as opções, pois afirmava ser o Filho a primeira criatura
de Deus, a mais excelsa, entretanto sem ser Deus.
A doutrina cristã rejeitou essa visão principalmente no Concílio de Niceia (325 d. C),
quando afirmou, com clareza, a divindade do Filho (“Deus de Deus, Luz da Luz, Deus
Verdadeiro de Deus Verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”).
Os Padres Capadócios, São Basílio, São Gregório de Nissa e São Gregório
Nanzianzo, foram figuras chaves para o desenvolvimento da doutrina trinatária,
principalmente na explicação acerca do conceito de pessoa (prosópia/ hipóstase), explicando-
o como um ser de relações. Isso é essencial para se compreender melhor as Pessoas
Trinitárias, que são Pessoas pois mantêm relações umas com as outras.
Após essa explicação, estudamos com mais afinco a crise ariana do século IV. Ário
era um padre que pertencia à Escola de Antioquia, que preferia o sentido literal, apesar de
residir em Alexandria, onde se preferia o sentido alegórico das Escrituras. Influenciado pelo
subordinacionismo de Luciano e Paulo de Samosata, Ário passou a afirmar que o Logos foi
criado e que fazia o papel de alma do corpo de Cristo. Assim, o Logos não era eterno. Jesus
seria apenas um demiurgo, intermediário entre as criaturas e o Criador. Negava, portanto, ao
mesmo tempo a divindade e a humanidade de Jesus. Para Ário, se rezamos ao Pai pelo Filho,
significa que o Filho é inferior ao Pai. Ário teve muito sucesso, pois era um escritor exímio e
escreveu hinos e obras que propagaram-se rapidamente. Um sínodo o condenou, mas depois
foi reabilitado por outros dois sínodos. O Concílio de Niceia acabou sendo uma tentativa de
acabar com essa crise. Entretanto, o Concílio não pôs fim à crise.
No pós-Nicéia, surgiram muitos partidos. Havia o partido Ortodoxo de Santo
Atanásio; havia o partido do homoiousios, que afirmava ser o Logos semelhante ao Pai; havia
os que afirmavam ser Jesus diferente do Pai (arianos radicais); havia o partidos dos
Capadócios; havia os Pneumatocos, que duvidavam da divindade do Espírito Santo; havia os
subordinacionistas; e, por fim, os monofisistas.
No Concílio de Calcedônia (451), a teologia deslocou-se do problema trinitário para o
problema cristológico, perguntando-se acerca das relações do humano e do divino em Jesus
Cristo. Havia as escolas de Alexandria e de Antioquia. Havia, também, a escola latina, de São
Leão Magno. Antes houve o concílio de Éfeso (431) que definiu o Theotokos, com a ausência
dos orientais, vencendo a teologia alexandrina, contra Nestório, de Antioquia. No Concílio de
Calcedônia houve uma separação na Igreja, surgindo as igreja pré-calcedonenses.
Após esse percurso histórica, vimos um texto de Leonardo Boff acerca da Trindade,
que mostrou que a Trindade, como um ser de relações, deve moldar toda a sociedade. Assim,
a fé na Trindade tem consequências muito grandes para toda a vida humana, em todos os seus
aspectos.
Depois lemos um texto sobre o Espírito Santo, que nos apontou o fato de que não
podemos esquecer que o Espírito Santo é uma Pessoa, que Se relaciona conosco, para não
cairmos numa fé estéril, que se sustenta apenas de nossos esforços e pensamentos. É o
Espírito Santo que garante um encontro real entre nós e Cristo. Na Eucaristia, isso se torna
ainda mais claro: é o Espírito Santo que permite, na liturgia, um encontro pessoal com Cristo.
Além disso, o texto explica que o Espírito Santo não age somente dentro da Igreja, mas que
enche tudo de vida, mesmo aqueles que não são católicos.
Por fim, o curso apresentou o famoso axioma de Karl Rahner: “a Trindade econômica
é a Trindade imanente e vice-versa”. Rahner, assim, pretendeu explicar que não há uma
divisão entre economia e teologia, entre como Deus Se revela e como Deus É, em Si mesmo.
A Trindade Se revelou como Ela é de fato em Si mesma. Entretanto, o vice-verse causou
discussões no campo teológico.
Alguns acusaram Rahner de ter limitado a Trindade imanente à econômica, com se a
Trindade tivesse se revelado completamente na economia da salvação. Sabemos que no
escathon veremos Deus face-a-face, que será um conhecimento que superará, certamente, o
conhecimento imperfeito que temos hoje. Entretanto, o conhecimento no escathon não
contradiz o conhecimento que temos na vida presente.

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