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Eclesiologia

07/08

Dois trabalhos de três páginas: Tomo 3 do Sesboüé - História da Eclesiologia - Escolher


uma parte e escrever, não é só resumo; Lumen Gentium, capítulo 1 e 2

Este curso de eclesiologia tem quatro focos: - eclesiologia na história; - categoria de


mistério; - eclesiologia trinitária; - as quatro notas da Igreja
A grande novidade da Optatam Totius é que o eixo dos estudos teológicos é a trindade. A
teologia teria vivido uma atrofia, que teria se tornado cristomonista.

Visão panorâmica da história da Eclesiologia

Como a Igreja foi se auto compreendendo ao longo da história? O contexto condiciona a


forma de como a Igreja se compreende. A historicidade é um elemento decisivo da Igreja,
essa historicidade influencia o seu pensamento teórico.

Os Padres nunca escreveram ou refletiram sobre a Igreja. Tinham uma visão “endógena”,
sabiam o que era a Igreja, mas a partir de dentro. No ponto de vista deles, há alguns
pontos:
1º - A Igreja é vista como mistério, como continuação da história da salvação narrada na
Escritura. Os padres afirmam que a Igreja está presente no mistério de salvação desde
sempre (Ecclesia ab Abel);
2ª - A Igreja é compreendida a partir de todo o Antigo Testamento, realização de toda a
promessa (tipológica)
3ª - Igreja vista como elemento vivo, dado pelo Espírito. Povo de Deus, Corpo de Cristo

A partir do séc. IV há uma mudança, pela união entre Estado e Igreja.


Reforma gregoriana do séc. XI: Dictatus Papae - inaugura o direito romano moderno e
superexaltando o poder pontifício. Na reforma gregoriana, a Igreja procura se defender da
influência secular. Processo de centralização na figura do Papa, aparece todo um
dispositivo jurídico, aí a eclesiologia se concentra nesse aspecto até o CV II (eclesiologia
jurídica). Cada vez mais, a Igreja precisa se relacionar com relações de poder interna e
externa, por isso a preocupação jurídica. Nessa perspectiva, do séc. XIII ao XIV surge a
eclesiologia como campo de teologia: Felipe, o Belo; Bonifácio VIII. Quando a Igreja era
algo óbvio, não era necessária a Eclesiologia. No contexto dessa briga, surge a sistemática
eclesiológica. De Regime Christianum de Tiago de Viterbo - primeiro tratado de eclesiologia.
Hus e Wycliffe já diziam, contra isso, que a Igreja era invisível, só notada pela fé. Lutero
aparece nessa lógica. A Reforma oferece uma eclesiologia alternativa. Lutero afirma a
relação pessoal do homem com Deus. Eclesia abscondita. A salvação individual antecede a
dimensão comunitária. No pensamento luterano, a cummunio sanctorum é oculta.

O CVII faz as pazes com Lutero (LG 8)


S. Roberto Belarmino: “A Igreja é a comunidade dos homens unidos pela profissão na
mesma fé, pela participação dos mesmos sacramentos, mesmo pastores, sobretudo,
Romano Pontífice. A Igreja é tão visível como o povo romano, o reino da França ou a
República Veneziana”.
14/08

Lutero é o ápice da insatisfação contra uma Igreja meramente institucionalizada. Ele dá


origem à teologia controversistica. Apenas no CVII, fez-se certas “pazes” com essa
inquietação.
A Eclesiologia deve partir do pressuposto que lhe permite entender o sentido de sua
autocompreensão, pressuposto presente no símbolo da fé cristã.

Creio na Igreja = a Igreja não pode ser apenas algo visível, pois não seria objeto de fé. É
necessário algo invisível, espiritual. A Igreja me remete a algo que exige o meu ato de fé. A
Igreja se revela na história como um fruto da ação de Deus, do Espírito. Professamos a
nossa fé como fruto da Trindade. Por isso, a primeira etapa é uma eclesiologia trinitária. A
categoria de mistério sintetiza todo dinamismo do processo de Revelação.

O mistério não é uma realidade que rebaixa nossa capacidade intelectual, como se fosse
simplesmente algo que nossa razão não possa alcançar. Mistério é o modo pelo qual Deus
conduz a história humana. E essa condução se envolve com a experiência da desgraça
humana.O mistério tem a ver com a inquietude humana de querer uma salvação, uma
libertação.O mistério encontra Deus como protagonista, e encontra o homem livre diante de
Deus. O mistério divino tem que fazer as contas com o pecado humano.
O mistério no AT é o aspecto do insondável de Deus, que pode agir inesperadamente,
contrariamente à expectativa humana, segundo o Seu ritmo.
No NT, a essa perspectiva histórica do AT, soma-se a ideia de que o mistério se revela
numa Pessoa, que a de Jesus.
Na literatura paulina, o termo mistério é fundamental, decisivo. Mistério designa o segredo
de Deus, presente na história, perceptível a quem recebeu um dom - Rm 16, 25 - o que
estava em silência e que agora foi revelado. Mistério em Paulo é o anúncio do Evangelho,
do Cristo Crucificado, por meio da Igreja.
O mistério da iniquidade x mistério de piedade. Deus se revela no meio das confusões
humanas, exatamente nos meandros da iniquidade humana. Onde tudo está “certinho”, não
há mistério.
A Igreja tem que ser sempre “a contrária”, luz nas trevas.
Os padres da Igreja falavam em quatro períodos da Igreja:
- prefiguração;
- preparação;
- realização;
- consumação
Enquanto mistério, a Igreja existe desde a criação. Preparada na história de Israel; se
realiza em Cristo e se consuma no fim dos tempos.
Apenas no sentido mistérico, podemos dizer Creio na Igreja; ela é parte do próprio mistério
divino.
Deus e Igreja são coisas difíceis de distinguir, nós não temos acesso à realidade divina a
não ser pela Igreja. Se a Igreja é o Corpo de Cristo, de algum modo a Igreja é Cristo.
Igreja chamado “sacrarium Trinitatis” ou “imago Trinitatis”. Lubac: “Misteriosa extensão da
Trindade no tempo”. Ecclesia de Trinitate
Apesar de a Igreja ser sempre uma realidade ex hominibus, ela é sempre expressão da
Trindade, garantido pela Segunda Pessoa, pq, por meio dela, a Trindade passou a conter o
humano.
O Concílio reposicionou a Teologia Trinitária para o centro.
A Igreja é protagonista do mistério divino enquanto “Povo de Deus”. Essa categoria
expressa a fé de que Deus se revela na história dos homens. Essa categoria esteve muito
presente na teologia patrística, até o séc IV e V. Volta pela escola de Tubinga, por Newman,
escola romana.Vai se tornar a categoria mais importante do CVII.

LG 9 = povo de Deus. A salvação não é individual. No AT, se Deus se relaciona com uma
pessoa, é para que ela leve a salvação aos outros.São intermediários da ação de Deus em
favor do povo. A eleição de um nunca pode ser entendida como excludente dos outros. Não
significa que os outros povos não são de Deus, mas que Israel é portador de salvação aos
outros. Um povo em função da reconciliação de todos os povos.
Não existiria um povo escolhido, se esses povos não estivessem separados em conflito uns
com os outros. O mistério do Povo está sempre junto do mistério da iniquidade.
Israel tem consciência de que foi escolhido por Deus por graça, de como Deus age em favor
do povo.A figura de Abraão tem essa lógica. Esse lógica se desdobrará no momento
decisivo de Israel: a Aliança do Sinai: uma aliança que constitui o povo. O povo até aqui era
apenas um conjunto desarticulado de tribos, mas agora é o povo de Deus. Ex 19=
constituição do povo.

21/08

Como se recorda o dia da constituição do povo? O fato do Horeb, das tábuas, será relido
constantemente, bem como a fuga do Egito. São dois eventos constitutivos de Israel.
Dt 4, 9 = releitura; guarda bem esse dia
Dt 9, 7 e ss. = dia da Assembleia = Qahal
Dt 18, 16 = dia da assembleia, de novo.
Qahal vai voltar diversas vezes.
Qahal tem a ver com um estabelecimento de uma relação, de uma relação entre Deus e o
povo. Não é uma mera assembleia, reunião do povo, mas estar reunido na presença de
Deus para selar com ele a Aliança. Esse é o elemento distintivo da expressão Qahal. Não é
uma reunião meramente humana, nem tem como mero objetivo prestar culto a Deus, mas
tem como objetivo de assumir diante de Deus um compromisso.
A memória de Qahal é imprescindível para Israel. Há outras palavras para falar de povo,
mas Qahal é específico para referir-se ao momento da aliança, se tornará uma espécie de
paradigma.
A LXX traduz Qahal por Ecclesia. Quando é o povo meramente humana é sinagoga.
Quando hoje falamos Igreja estamos nos referindo a realidade do Qahal.
No NT, o ministério de Jesus se desenvolve num contexto preciso: Jesus judeu se dirige ao
povo de Israel e convidando o povo à conversão e à restauração de Israel. Jesus era
consciente de que Israel, como estava, estava morto. Por isso, ele prega a necessidade da
constituição de um novo povo = parábola dos vinhateiros = dará a vinha a outros, será
confiado a um povo que produza frutos. A comunidade primitiva se compreende como um
novo e verdadeiro povo, ela se autointitula Ecclesía, fazendo referência à nova aliança.
Essa ideia aparece clara em Mateus e em Paulo (ICor 10). O que aconteceu com Israel se
consuma de forma plena em Cristo. Paulo chega a chamar a Igreja de Novo Israel (Gl).
Ecclesía tb é o termo grego, de uso profano, para designar a assembleia que discute os
problemas da pólis. Reunião dos homens livres da cidade que, juntos, que decidem o
destino da pólis. Essa ideia se conecta em Qahal, pq mostra que todos são protagonistas
de seu destino. Onde todos têm a palavra, onde todos tem lugar, onde todos são irmãos. A
Ecclesía grega era dos homens livres, mas a cristã será verdadeiramente de todos (acolhe
inclusive os escravos).
O termo eclesia no NT tem trê significações distintas: - a assembleia de culto (eucaristia)
ICor 11, 18; - a assembleia de uma cidade (Igreja de corinto etc…) (ICor 1,2); - toda a Igreja
(I Cor 15,9).
A Igreja está radicada num lugar, mas não pertence a esse lugar (IPd = estrangeiros da
dispersão; tempo do vosso exílio).
Igreja deve ser entendida ao mesmo tempo como continuidade e descontinuidade de Israel.
A ideia do Povo de Deus nos alerta para a dimensão comunitária da fé cristã = NÃO
EXISTE FÉ CRISTÃ INDIVIDUAL. O grande desafio de hj é esse, contra uma sociedade
individualista. Nenhum dom é dado individualmente. Ngm pode dizer eu creio sem a sinfonia
do nós cremos!!!!!

Categoria do Corpo de Cristo = muito presente na doutrina dos Santos Padres. União que
se expressava principalmente na celebração da Eucaristia. Na reforma, a ideia desapareceu
no catolicismo, pq era muito usada pelos luteranos. Quem recupera a ideia do Corpo de
Cristo é o Papa Pio XII, com a Encíclica Mystici corporis. De que modo é possível fazer uma
eclesiologia que afirma que a Igreja é o Corpo de Cristo?
Três perspectivas: perspectiva trinitária; histórica e eclesiológica
Pq é possível dizer que a Igreja e Cristo possuem um vínculo?LER A APOSTILA SOBRE
AS HERESIAS - A IMPORTÂNCIA DAS DISCUSSÕES CRISTOLÓGICAS E TRINITÁRIAS
Por que a Igreja é uma realidade salvífica?
A trindade é uma relação eterna de alteridade entre o Pai e o Filho no Espírito. Na Trindade,
existe necessariamente inexoravelmente relação. Essa relação não é contrariedade, mas
comunicação de amor, pois é sustentada pelo Espírito.
O Deus cristão não é uma mônada enclausurada num narcisismo que seja auto-suficiente.
O amor de Deus se expande, se abre, não é um eu-tu, mas um eu-nós. Aqui se instaura a
lógica do Deus criador.
O amor de Deus acontece na lógica da diferenciação. O Logos é a possibilidade que tenho
de pôr o meu eu fora de mim, ela se exterioriza. Da mesma forma, na Trindade. Ela se abriu
por meio do Logos.
O homem foi “absorvido” na Trindade, pela Encarnação. A Igreja só tem sentido aí. Ela só
pode ter uma realidade salvífica se tiver um vínculo com Cristo, pois é neste que há a
junção entre o divino e o humano..

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