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CARISMAS
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I – UMA IGREJA CARISMÁTICA
Para alguns, ela tem início com o evento da Encarnação, quando o Verbo eterno
se fez carne em Maria, e estabelece a aliança com a humanidade inteira por ela
representava e expressa. Para outros, o nascimento da Igreja é visto na entrega de
poder a Pedro e aos Apóstolos. Para outros ainda nasce do mistério da ceia na qual é
instituída a Nova Aliança; ou quando na cruz, do lado transpassado, jorram sangue e
água; ou na ressurreição, no o corpo glorioso de Cristo. Para outros, finalmente, a
Igreja tem sua origem em Pentecostes, quando o Ressuscitado envia o seu Espírito
sobre os fiéis reunidos no Cenáculo, com Maria.
A pergunta sobre quando nasceu a Igreja, exige portanto, uma resposta que
leve em consideração seu progressivo transformar-se - já prefigurado por Jesus em
2
várias semelhanças, como aquela do grão de mostarda ou do fermento na massa – sem
absurda pretensão de uma pontualização cronológica que modificaria o mistério
reduzindo-o em sua essência.
Onde quer que se coloque seu início, em cada instante de sua existência e em
seu progressivo atuar, não podemos não colher na vida da Igreja a constante presença
do Espírito.
É ele que desde o primeiro momento do ato criado, quando estava sobre o caos
primordial para imprimir harmonia ao cosmo, é presente em cada novidade, e cada
nova criação.
É ele o sopro vital que dá origem ao homem e o guia no caminho através dos
séculos. Ele sustenta o peregrinar de Abrão e dos patriarcas, unge os reis e inspira os
profetas de Israel. Também nos fatos que, na plenitude dos tempos, assinalam o
formar histórico da Igreja, o Espírito Santo esta presente e é ativo. É presente na
Encarnação, quando desde sobre Maria e a cobre com sua sombra, e está ao longo da
vida de Jesus, do batismo à efusão do sangue e água sobre a cruz, da Ressurreição à
Pentecostes.
Tudo nela traz a sua marca: A Palavra é espírito e vida, os sacramentos são
espirituais, os ministérios e cargos são espirituais; palavra, sacramento, ministério,
que constituem os três pilares da vida eclesial, o fundamento estável da unidade da
Igreja como povo de Deus, são frutos do Espírito. Mas também as formas de vida e
dos dons que animam a Igreja são espirituais. A Igreja de Cristo é a Igreja do
Espírito. Nenhuma dicotomia, como não há dicotomia na Santíssima Trindade entre o
Verbo e o Espírito (2).
4
trouxe à luz outros diferentes desses: os carismas, intervenções livres e gratuitas do
mesmo Espírito Santo. “O Espírito Santo não se limita a santificar o povo de Deus por
meio dos sacramentos e dos ministérios, que o guia e o adorna de virtudes, mas
distribui também entre os fiéis as suas graças especiais, ‘dispensando a cada um os
próprios dons como lhe agrada’ (1 Cor 12,11). Com estes dons ele torna os fiéis
capazes e prontos a assumirem responsabilidades e ofícios úteis a renovação e ao
maior desenvolvimento da Igreja, segundo as palavras: ‘A cada um... a manifestação do
Espírito é dada para a utilidade comum’ (1 Cor 12,7)” (LG 12).
Uma das vozes mais explícitas e fortes sobre isto foi a de João Paulo II que,
em 1987, falando dos novos movimentos de espiritualidade, os descrevia como
fundados “sobre estes ‘dons carismáticos’ os quais, junto com os dons ‘hierárquicos’ –
ou seja os ministérios ordenados- fazem parte dos dons com os quais o Espírito Santo
adorna a Igreja, esposa de Cristo. Dons carismáticos e dons hierárquicos- continuava
o papa- são distintos, mas também reciprocamente complementares(...). Na Igreja,
tanto o aspecto institucional, quanto aquele carismático, tanto a hierarquia quanto as
associações e movimentos de fiéis, são ‘co-essenciais’ e concorrem para a vida, para a
renovação, santificação, seja de modo diverso , mas que haja uma troca, uma
comunhão recíproca” (6).
5
Na presente reflexão teológica sobre a Igreja comunhão, o lugar reservado aos
carismas permanece ainda marginal, sem influenciar a visão de conjunto, como resulta
evidente na maior parte dos manuais de eclesiologia. O mesmo relevo poderia ser
colocado a respeito do espaço dado a Virgem Maria, que certamente não é ainda
aquele que desejou assinalar a Lumen gentiun. O fato de ter unido os carismas a Maria
na imaginação eclesiológica não é privado de significado, tendo em vista a estreita
realização entre a dimensão carismática e a dimensão mariana da Igreja (8). A
consequência do escasso significado do tema na reflexão teológica, espelha e junto
encontra a sua ressonância na marginalidade na qual os carismas foram tidos na praxe
pastoral.
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Pouco a pouco a boa nova se difunde e nascem as igrejas, são animadas por
pessoas carismáticas. Em Éfeso, Paulo apenas impõe as mãos sobre cerca de doze
homens, vê descer sobre eles o Espírito Santo e falam em línguas e profetizam (cf.
19, 6).
Deus ama com totalidade de seu único amor, é sempre para cada um Amor, mas
doa a si mesmo com um amor que se adapta a qualquer um: o único dom se concretiza e
se individualiza para cada pessoa. Por isso a palavra carisma pode ser empregado no
plural, charismata. Em uma única charis, tantos carismas, porque Deus comunica o
mesmo dom em uma maravilhosa multiplicidade e variedade.
Paulo, todavia, emprega esta palavra de modo todo particular quando se refere
a vida da comunidade. Nos capítulos 12-14 da primeira carta aos Coríntios e no
capítulo 12 da Carta aos Romanos ele usa a palavra charisma para indicar a variedade
dos dons, papéis e vocações presentes na comunidade eclesial. Eles foram distribuídos
para que toda a comunidade possa crescer e alcançar a sua plena maturidade. Cada
dom se transforma em serviço, também aquele pessoal, como o falar em línguas: “A
cada um é dada uma manifestação particular do Espírito para a utilidade Comum” ( 1
Cor 12, 5).
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Alacoque, Leonardo da Porto Maurizio, John Henry Newman, Frédéric Antoine
Ozanam, são somente alguns entre a inumerável multidão de carismáticos, leigos,
religiosos, padres, bispos, que mesmo não tendo dado vida a uma própria família
religiosa, são expressão de santidade e renovação, e erradicaram a Igreja de luz
evangélica.
10
Um dos frutos maduros do Concílio sobre o assunto é a exortação apostólica
pós-sinodal Vita consecrata. Desde o primeiro número esta particular forma
carismática é apresentada como manifestação do mistério e da missão da Igreja: “Ao
longo dos séculos nunca faltaram homens e mulheres que, dóceis ao chamado do Pai e
a moção do Espírito, escolheram esta via de especial seguimento a Cristo (...). Deste
modo eles contribuíram para manifestar o mistério e a missão da Igreja com os
múltiplos carismas da vida espiritual e apostólica que lhes foi dado pelo Espírito
Santo(...). n.1
No número 29, retomando o que esta na Lumen gentium, se afirma que a vida
consagrada pertence intimamente à natureza, à santidade, à missão da Igreja, a ponto
de resultar em “parte integrante” de sua própria vida. Ela se apresenta como um
“elemento irrenunciável e qualificante (da Igreja), enquanto expressão de sua própria
natureza”. Consequentemente “a concepção de uma Igreja composta unicamente por
sacros ministros e leigos, não corresponde, portanto, as intenções de seu divino
Fundador, como nos mostra os Evangelhos e de outros escritos neo-testamentais”.
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II - EM DIRECAO À PLENITUDE DA VERDADE
Com o Verbo que se faz homem irrompe na história uma novidade absoluta.
O Espírito “abre” por assim dizer, a unidade inicial e pouco a pouco faz com que
seja liberada toda a riqueza nela contida. É um caminho sofrido e ao mesmo tempo
apaixonante, um crescimento gradual através do qual Ele conduz a Igreja à plenitude
de vida. A consumação final será ainda mais bela do que o princípio. As palavras do
Evangelho voltarão todas a unidade inicial da qual foram liberadas, após terem sido
traduzidas em vida e ter cumprido a obra de Deus. Todos os carismas e todas as
espiritualidades que dela derivam, nascem da única fonte do Espirito, de Pentecostes
e todos são destinados a tornarem-se unidade.
A Constituição dogmática Dei Verbum explica nesta linha a sempre nova e mais
profunda compreensão da insondável riqueza da Palavra de Deus. Ela, afirma o
Concílio, progride com a assistência do Espírito Santo, graças ao trabalho do
Magistério e dos teólogos. Mas existe um outro tipo particular de exegese que
acontece “com a experiência de uma mais profunda inteligência das coisas
espirituais” (n. 8). Aqui se pode ver a constante presença, ao logo da história da
Igreja, de homens e mulheres “espirituais”, iluminados e guiados pelo Espirito,
tornados por Ele capazes de uma compreensão e atualização nova da Palavra de Deus.
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impulso dos carismas e do testemunho dos santos que o Espírito de Deus doa a sua
Igreja em cada época”(1). Hans Urs von Balthasar, falando dos santos, afirmou que
eles são “uma nova interpretação da revelação, um enriquecimento da doutrina diante
dos novos trechos até agora pouco considerados. Mesmo se estes santos não tenham
sido teólogos ou doutores, a existência é um fenômeno teológico que contém uma
doutrina verdadeira, doada pelo Espírito Santo”. Eles representam “aquela parte viva
e essencial da tradição que, em todos os tempos, mostra o Espírito Santo no ato de
interpretar de modo vivo a revelação de Cristo fixada na Escritura. (...) Sou o
“evangelho vivo”. (...) Somente quem habita o espaço da santidade pode compreender e
interpretar a palavra de Deus”(2)
O surgir de sempre novos carismas pode ser lido como um implantar de Cristo
ao logo dos séculos, como um Evangelho vivo que se atualiza sempre com novas formas,
apresentando a todos Cristo “ou enquanto Ele contempla sobre o monte, ou anuncia o
Reino de Deus à multidão, ou cura os enfermos e os feridos e converte para uma vida
melhor os pecadores, ou abençoa os pequenos e faz o bem a todos, sempre obediente
a vontade do Pai que O enviou” (LG 46)
Uma das primeiras palavras que o Espírito diz novamente a sua Igreja é o
mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a sua alma e
com toda a sua mente” (Mt 22, 37). Sobre esta palavra, poucos anos depois da
experiência dos primeiros cristãos, vemos nascer um modo particular de atualizar o
Evangelho. Alguns homens primeiro, e depois algumas mulheres se sentem impelidos
pelo Espírito Santo a retirar-se na solidão, no deserto. Em um tempo no qual a
radicalidade evangélica, que caracterizava os inícios da vida cristã, estava se
perdendo, era necessário reafirmar o primado do absoluto de Deus. Até aquele
momento isto era testemunhado através do martírio, mas agora que o martírio era
cada vez mais raro, o Monaquismo tornou-se o substituto e a continuação.
O primeiro a escolher este estilo de vida – pelo menos idealmente – foi Antônio
do deserto, que viveu no século III no Médio Egito. Tinha entre 18 e 20 anos, quando
em um domingo, na igreja, ouviu a leitura dos Atos dos Apóstolos, na qual se narra que
os primeiros cristãos vendiam o que possuíam e entregavam o que conseguiam aos
Apóstolos. Ele ficou profundamente impressionado. No domingo seguinte foi lido o
trecho do Evangelho no qual Jesus, dirigindo-se ao jovem rico, o convida: “Se queres
ser perfeito vai, vende tudo o que tens, da aos pobres, e depois vem e segue-me” (Mt
19, 21).
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Antônio acolhe aquelas palavras como se fossem endereçadas a ele: se sente
interpelado pessoalmente. Vende tudo o que tem, dá aos pobres e vai para o deserto.
A sua resposta é sem dúvida condicionada a particulares fatores culturais, todavia, a
sua escolha permanece motivada pela Palavra de Deus. As primeiras páginas da Vita
Antonii atestam o quanto a Palavra era central em seu itinerário espiritual: “estando
atento a sua leitura guardava para si o fruto copioso”(4). A sua vida é como um campo
aberto, arado, pronto para a colher a semente da Palavra e fazê-la frutificar; “era
tão atento na leitura das Escrituras, que nada do que estava escrito era estéril na
terra de sua mente” (5).
Dirigindo-se depois aos seus monges os admoesta: “Se alguém vos pergunta que
profissão ou de qual regra, ou de qual ordem sois, respondereis que sois da primeira e
principal regra da religião cristã, ou seja, o Evangelho, fonte e princípio de todas as
regras”. E de fato intimamente convicto que ‘não há outra regra que não seja o
Evangelho”(11). A multiplicidade dos carismas encontra origem no viver as muitas
palavras do único Evangelho.
Nos Países Baixos e na Alemanha, um século mais tarde, entre os anos 1300 3
1400, surgem novas espiritualidades graças a outros grandes misticos, Maestro
Eckhart, Giovanni Tauler, Enrico Susone, Jan van Ruysbroec, homens carismáticos que
dão origem a espiritualidade da mistica chamada “renana” – porque floresceram nos
vales do Reno- e a chamada “devotio moderna”, ligada à escola flamenga.
São pessoas apaixonadas pela Escritura. A maior parte de seus escritos são
homilias e sermões dirigidos ao povo comentando as leituras da Bíblia. Colocam a
disposição de todos a Palavra de Deus, dão vida aos grupos dos “amigos de Deus”, na
convicção que a todos é acessível a experiência de Deus.
Buscam a Deus no “fundo da alma”, naquela parte mais íntima do próprio ser, na
qual acontece a geração do Filho e o movimento do amor trinitário. É o Espírito Santo
que convida a entrar em si mesmo para encontrar além de si mesmo a união mais
profunda com Deus e participar de sua vida, fazendo a Igreja experimentar as
palavras de Jesus sobre a morada interior e sobre o estreito relacionamento entre a
Palavra de Deus e a inabitação da Trindade na alma: “Se alguém me ama, observara as
minhas palavras e meu Pai o amará e nós viremos a ele e faremos nele nossa morada”
(Jo 14, 23).
Mas para chegar a esta união com Deus é necessário renunciar inteiramente a si
mesmo, esvaziar-se de tudo. Somente assim o “a alma” é plenamente disponível a
Deus. Desapego, abgescheidenheit, se torna a cifra desta mística. “Quer que Deus
consiga entrar ? – se pergunta Taulero- Então as coisas criadas e tudo aquilo que tens
em tua posse deve dar espaço a ele”(21). E eis o Espírito sugere outras palavras
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evangélicas, com as quais Jesus convida ao desapego de tudo e de todos para poder
segui-Lo com o coração livre e puro.
Também nestes séculos, nos quais a luz da Escritura parece obscurecida, ela
continua a iluminar o nascimento de novas formas de vida evangélica. O Espírito
permanece fiel à sua missão de recordar as palavras de Jesus e transforma-las em
vida.
Estes grandes carismáticos são movidos pela paixão de viver como Jesus, de
serem transformados na imagem Dele, o Filho Amado. A meditação de sua vida e de
suas palavras é toda projetada a viver como Ele, ao ponto de sentir a paixão pela
Igreja e a paixão pelo homem concreto amado por Deus e ajudado a viver até o fim a
experiência do amor de Deus. Criticam a religiosidade e a mística, próprias do
barroquismo nascente, que não transforma o coração e que permanece somente nas
formas externas, promovendo um novo modo de vida cristã, que leva em conta a
centralidade e o valor do homem, de cada homem.
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Nos séculos seguintes ao Concílio de Trento o Espírito doa à Igreja novos
carismas que levam a uma atenção as necessidades cotidianas das pessoas, sobretudo
dos pobres e últimos. Os santos se sentem chamados a responder às grandes
necessidades sociais, a humanidade em toda a sua miséria: enfermos para serem
curados, jovens para serem instruídos, pobres para serem ajudados.
E estamos nos nossos tempos. Também na Igreja de hoje não faltam carismas
que se exprimem sobretudo nos movimentos eclesiais e nas novas comunidades, os
quais colocam em relevo a consagração batismal de todos os cristãos e o sacerdócio
comum, quase um Pentecostes leigo, capaz de reviver a frescura da Igreja primitiva.
Depois que nestes séculos de história que foram vividas uma a uma tantas
palavras do Evangelho, agora parece que o Espírito de Deus queira reportar os
cristãos a viverem o Evangelho em sua centralidade dos inícios pentecostais: o
mandamento novo, a unidade, compreendidos de maneira mais profunda, graças ao
percurso de dois mil anos de Evangelho encarnado, palavra por palavra, através da
experiência dos santos.
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do Coração de Jesus, etc.
Ou seja, nós vemos a Igreja como um Cristo spiegato através dos
séculos. (...)
A Igreja é um magnífico jardim no qual florescem todas as Palavras de
Deus: floresce Jesus, Palavra de Deus, em todas as mais variadas
manifestações.(...)
Como a água se cristaliza em estrelinhas de todas as formas quando cai
como neve sobre a terra, assim o Amor assume em Jesus a Forma por
exelência, a Beleza das Belezas (“o mais belo dos Filhos dos homens”cf Sal
45,3).O Amor assume na Igreja diversas formas e sâo as Ordens e as Famílias
religiosas.
Na Igreja floresceram e florescem todas as virtudes. Os fundadores
das Ordens são a virtude feita vida e subiram ao Céu somente porque eram
Palavra de Deus. Realizaram o desígno de Deus, que não é outro que Verbo,
Palavra. No Paraíso não se entra se não se é Palavra: “Passarão os céus e a
terra, mas as minhas Palavras não passarão” (cf. Mt 24, 35). (...)
Jesus é a Palavra.
Os fundadores (chefes de seus pequenos Corpos místicos) são Palavra de vida.
Mas antes de tudo esta página é um hino à Igreja entendida em sua dimensão
carismática. Ela é intitulada simplesmente A Igreja. Naqueles anos o desenvolvimento
de tal título teria levado a pensar com naturalidade ao Magistério, aos sacramentos,
ou
também do Corpo místico, mas certamente não dos carismas. (2) E também,
para Chiara A Igreja recorda imediatamente a sua realidade mais profunda e
permanente, o Verbo encarnado, o Evangelho vivido. Nesta ótica se inclui também a
Igreja em sua dimensão hierárquica e sacramental enquanto expressão do Evangelho.
Por onde se encontra o Evangelho – ministério e sacramento estão ligados
substancialmente à Palavra – aií está a Igreja.
21
A própria Chiara, recentemente, comentando este texto, destacava: “(...) a
Igreja carismática, descrita nestas páginas, não é uma parte da Igreja que está ao
lado da hierarquica, mas é toda a Igreja, no sentido que exprime toda a realidade. De
resto, também a Igreja institucional nasceu do Evangelho, de uma palavra de Jesus:
“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja(...). A ti darei as chaves do
reino dos céus...” (Mt 16, 19-19). Portanto, também ela é depositaria de um carisma”.
22
particular, “encarnação de uma ‘expressão’ de Jesus, de uma sua Palavra, de seu
comportamento, de um fato de sua vida, de uma dor sua, de uma parte Dele”.
23
A profunda unidade que soggiace ao carismas aparece evidente também em sua
destinação eclesial: a edificação do corpo de Cristo (cf. LG 45). Quem anuncia o
Evangelho o faz para levar todos a unidade dos filhos de Deus. Quem vive na
contemplação e na oração, que cuida dos enfermos, quem ensina o faz para que se
alcance logo a unidade de toda a família humana ao redor de Cristo (cf. Ef 1, 10), a
realização da oração de Jesus ao Pai, “...que todos sejam um”(Jo 17,21). Para que a
Igreja possa cumprir sua missão de sinal e sacramento de unidade dos homens com
Deus e entre eles. É necessário a contribuição específica de cada palavra evangélica,
de cada carisma e espiritualidade. Cada palavra do Evangelho é em função da
realização do testamento de Jesus, é inerente nele e tem valor porque indica o modo
de persegui-lo.
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Sendo os carismas uma experiência vivida na história, as famílias espirituais
nascidas deles estão sujeitas a um progressivo distanciamento das origens e portanto
do Evangelho, “somente no qual tem valor- recorda Chiara -, e no qual somente devem
ser”.
Com efeito, como escrevi em outra obra(10), olhando para o jardim da Igreja se
tem frequentemente a expressão que tantas flores secaram. Para dar vida novamente
a própria flor, os que são chamados a viver aquele determinado carisma, por algumas
vezes aparecem com a intenção de soprar sobre as pétalas – para permanecer na
imagem- ou a cutucar-lhes para que se levantem É uma operação efêmera e inútil.
Para que a flor volte a viver é necessário intervir na raiz, não nas pétalas. É
necessário dar água a planta. Fora da metáfora: se tenta de todos os modos salvar a
identidade da própria espiritualidade, procurando protegê-la de pretensas
interferências externas... E um trabalho válido, mas insuficiente. É necessário
coragem de ir mais profundo. É necessário encontrar
Cada carisma, cada espiritualidade, cada Instituto religioso deve voltar a ser
palavra na única Palavra. Vivendo o Evangelho em plenitude haverá luz para colher a
particular dimensão evangélica da qual o carisma é pleno. Definitivamente, recorda
Chiara,
26
Do ponto de vista hermenêutico o retorno ao Evangelho é levado as suas
extremas consequências: deve alcançar o cume do Evangelho, o amor maior, capaz de
dar a vida, sob o exemplo de Jesus abandonado. “Estas Ordens e espiritualidades –
explica Chiara- se mantem se vão a Fonte onde encontram Vida: Deus, o Evangelho
inteiro, Jesus na expressão mais completa de Si”. Havia a pouco recordado que “Jesus
é o próprio Jesus, ou seja, o Salvador, o Redentor, quando redime e remime no ato do
abandono”.
“Deus – pela espiritualidade coletiva que Ele nos deu- pede a nós olhar todas as
flores – escreve Chiara- porque em todas está Ele e assim, observando a todas, se
ama mais Ele do que as simples flores. (...) O olhar todas as flores é ter a visão de
Jesus, de Jesus que é (...)tudo: toda a Luz, a Palavra, enquanto nós somos Dele
palavras. Mas se cada um de nós se perde no irmão e faz célula (célula do Corpo
Místico), se torna Cristo total, Palavra, Verbo (...) Mas é necessário saber perder o
Deus em si para encontrar Deus nos irmãos. E isto faz somente que conhece e ama
27
Pelo fato de qu o mistério de Cristo é inexaurível e inexaurível é a riqueza de
sua palavra, cada carisma tem necessidade do dom do outro, da luz do outro, para
entender em profundidade a si mesmo, assim como cada mistério de Cristo, para ser
compreendido em toda a sua profundidade, tem necessidade de ser lido no conjunto
de seus mistérios, e assim como um trecho evangélico, para uma frutuosa exegese,
tem necessidade de ser colocado em seu contexto e na economia de todo o Evangelho.
Sem a visão unitária do mistério de Cristo, sem a leitura unitária de sua palavra, os
particulares, presos a si, podem ser distorcidos. Assim sem a plena comunhão entre
todos os carismas e espiritualidades a eles ligados, dificilmente pode haver sentido
verdadeiro neles.
“Se o Evangelho deve ser pregado em sua integridade, e se o Cristo não deve
ser apresentado dividido e dilacerado, a urgência de recompor em unidade o
Evangelho encarnado e implantado no tempo e no espaço é um chamado urgente a
comunhão e a unidade entre os religiosos, em todos os níveis. Se de fato cada carisma
é carteira de identidade da própria família religiosa, é também capacidade de
comunhão com todos os outros carismas. O Cristo total atrai como um imã todos os
seus fragmentos em direção a unidade. O Espírito da unidade chama todos a estarem
em comunhão recíproca, juntos, para que Cristo seja anunciado e comunicado e o
mundo creia” (16).
“Quando Jesus disse ‘Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, Eu estou
no meio deles’ – observa a fundadora do Movimento -, não tinha excluído certo de
sublinhar também: ‘Onde um franciscano e um beneditino, ou um carmelita e um
passionista, ou um jesuíta e um dominicano...estão unidos em meu nome, ali estou’”.
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Através disso queria dizer que se Jesus estivesse verdadeiramente entre eles, o
resultado seria que o encontro com Ele, faria o franciscano melhor franciscano e o
dominicano melhor dominicano. Assim a Igreja poderá resplandecer – também com a
contribuição da obra de Maria – mais bela e digna esposa de Cristo, na maravilhosa
variedade e em sua altíssima unidade. (17)
O Movimento dos focolares pode absorver esta missão não somente porque,
como recordamos, ele esta centrado no dúplice mistério de Jesus crucificado e
abandonado e na unidade, mas também porque é Obra de Maria, Maria que opera na
Igreja, como afirma Chiara com simplicidade: “Se (o Movimento dos focolares) é obra
sua (de Maria) se compreende como ela, mãe de todos os fiéis e da Igreja, possa ter
29
suscitado um Movimento eclesial que reúna todas as vocações da Igreja. E, porque
plena de todos os carismas de Deus, não tenha excluído os religiosos que ama com um
amor particularíssimo. Ela quer, através desta sua obra, dar uma mão aos filhos
prediletos”(18).
Assim acontece com todo aquele que é tocado pelo Espírito. Cada homem, cada
mulher feito por ele “espirituais” tornam-se co-atores da sua ação recriadora. Os
dons que ele efunde sobre eles, os carismas, não os excluem da história, mas as
habilitam para operarem nela com nova lucidez e energia.
30
todos que vivem ao seu redor, até que seja suscitado o desejo de oferecer uma
resposta adequada comprometendo-se em primeira pessoa.
Outros carismas iluminaram outras feridas ocultas, tais como a perda de Deus,
o enfraquecimento da tensão escatológica, a diluição do Evangelho, a ignorância de
Cristo. Eis, então, as "ideias" luminosas do Monaquismo, nas suas diversas
experiências, capazes de repropor a escolha incondicionada e radical de Deus. Diante
da heresia, Domingos de Guzman percorre cidades e vilarejos para anunciar a Palavra
de Deus e transmitir a verdade contemplada. Diante da Reforma luterana que separa
nações inteiras de Roma, Inácio de Loyola está intimamente ligado ao Papa e repete
com Cristo: "Eis que venho ... para fazer, ó Deus, tua vontade" (Hb 10, 7). Quando
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“olhos novos” percebem a ignorância de Cristo surge o grande movimento missionário
do século XIX com os carismáticos que já nomeamos aqui: Eugenio de Mazenod,
Antonio Maria Claret, Francisco Maria Paulo Libermann, Arnold Janssen, Daniel
Comboni, Charles-Martial Allemand Lavigerie... Hoje é a vez de Luigi Giussani, Chiara
Lubich, Kiko Arguello..., dispostos a interpretar as novas expectativas e novos apelos.
1
Per un primo approccio alla rilevanza sociale dei carismi cf. S. Abbruzzese, La vita religiosa. Per una
sociologia della vita consacrata. Prefazione di Léo Moulin, Guaraldi, Rimini 1995.
2
RB 2, 16.18-20, o.c., p. 129.
32
atualiza a novidade evangélica da igualdade entre nobres e plebeus, entre latino e
alemão e eslavo.
3
L. Bruni – A. Smerilli, Benedetta economia. Benedetto di Norcia e Francesco d’Assisi nella storia
economica europea, Città Nuova, Roma 20092.
4
Slavorum apostoli, 2.
5
Ibidem, 25.
6
I, 3
33
as transformações econômicas, políticas, da ciência, do direito, da cultura em seus
vários aspectos.
Enviados dois a dois, como discípulos de Cristo no Evangelho aos quatro cantos
do mundo para anunciar o Reino de Deus, os frades, dominicanos e franciscanos,
testemunham aquele fraternidade que rompe as barreiras e as hierarquias feudais e
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aristocratas. São colocadas assim, mais uma vez, as bases para uma nova liberdade e
união dos povos.
Do novo clima cultural criado pelo Humanismo e pelo Renascimento surge uma
nova consciência do valor individual da pessoa humana: Deus confiou a ela o mundo
colocando-a no centro do universo.
35
Assim, é natural que as espiritualidades nascidas dos novos carismas deste
período sejam mais atentos à pessoa, ao seu itinerário formativo, à sua interioridade
psicológica. São analisados com uma profundidade até então desconhecida os vários
movimentos da alma. Leis são elaboradas para o discernimento dos espíritos. Novas
disciplinas são desenvolvidas, como por exemplo, a psicologia espiritual e direção
espiritual.
7
Cf. «… l’avete fatto a me». Le sfude sociali e i religiosi, F. Ciardi (ed.), Città Nuova, Roma 1995.
36
A partir do final de 1800, tornam-se sempre mais fortes as exigências de
comunhão e de unidade. Muitos fenômenos da vida política, cultural, econômica,
religiosa, demonstram a necessidade de comunhão e a tensão pela unidade dos povos e
nações. Basta pensar no fenômeno dos socialismos e do nascimento de instituições
como a Sociedade das Nações antes e as Nações Unidas depois. Ciência e técnica
aumentam o intercâmbio cultural e aproximam os povos. No campo eclesial se adverte,
de mais nunca vista antes, a necessidade do diálogo ecumênico entre as Igrejas e
entre as religiões. Dentro da Igreja Católica, o aprofundamento eclesiológico, que
tem seus momentos cume na encíclica Mystici Corporis, e especialmente no Concílio
Vaticano II, faz nascer uma nova necessidade de comunhão em todos os âmbitos. É
como se da humanidade e das próprias Igrejas de hoje se elevasse um pedido, quase
um grito de unidade.
Eis Andrea Riccardi, Pe. Lorenzo Benzi, Ernesto Olivero... Pessoas que não
fogem diante dos problemas da sociedade, mas atraídos por eles, até amá-los e
transformar a dor em amor, a cruz em ressurreição.
Mas não é assim. Este não é o Jesus histórico enquanto Cabeça do Corpo místico
que resolve todos os problemas. Que faz isso é o Jesus-nós, Jesus-tu... É Jesus no
homem, naquele determinado homem – quando a sua graça está nele-, que constrói a
ponte, faz uma estrada. Jesus é a personalidade verdadeira, mais profunda, de cada
um. Todo homem (todo cristão), de fato, é mais filho de Deus (= outro Jesus), que
filho de seu pai.
37
É como outro Cristo, membro do seu Corpo místico, que todo homem dá seu
contributo típico em todas as áreas: ciência, arte, política... É a Encarnação que
continua, encarnação completa que diz respeito a todos os Jesus do Copo Místico de
Cristo8. E eis o nascer dentro do Movimento dos Focolares a "economia de comunhão"
e "movimento político pela unidade".
A criatividade do espírito não pára nem mesmo no século XX. Nos últimos anos,
ele continua a inspirar novas fundações, centenas: novas comunidades, movimentos
eclesiais, grupos carismáticos variados. É um pulular de vida fresca e jovem. Os
institutos "históricos" veem com alegria o nascimento destas novas formas de vida
consagrada, capazes de envolver institucionalmente leigos e consagrados, famílias e
celibatários, bem como ordens monásticas viam com alegria o avanço do novo
movimento mendicante no in ício do século XIII.
V - A CONCRETICIDADE DO AMOR
No campo econômico lembramos que o sistema feudal da Idade Média era ligado
ao modelo da abadia; os Mendicantes contribuíram para o nascimento os montes de
piedade, os Jesuítas às Reduciones do Mundo Novo.
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“Nuova Umanità”, 17 (1995) 5-8.
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governo. Poucas instituições como aquelas que nasceram dos carismas tiveram a
vantagem de continuar ao longo dos séculos, graças à sua inteligente organização.
Os frutos dos carismas estão presentes também nos campos mais impensados,
como os da agronomia, matemática, astronomia, botânica, siderurgia, farmacêutica,
medição do tempo, meteorologia, física... Limito-me a reclamar, por acenos, somente
alguns deste muitos âmbitos nos quais se fez presentes este serviço à sociedade9.
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Podem ser encontrados, entre as inúmeras vozes do Dizionario degli Istituti di Perfezione (Edizioni
Paoline): Agricoltura (vol. 1, cc. 435-450), Scienze, esplorazioni e tecniche di vita materiale (vol. 8, cc.
1068-1115), Storia della carità (vol. 9, cc. 252-285), Studi (vol. 9, cc. 443-527).
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poderíamos continuar com os liquores, desde o “Beneditino” à “Gemma d'abeto”, até
os amargos...
As mais antigas relações com Mongóis (XIII sécolo) são dos franciscanos de
Pian del Carpine e Guglielmo da Rubrouck, que oferecem um quadro minucioso e
articulado dsas várias tribos nômades que populavam o imenso império. O mesmo o
fará João de Montecorvino e Oderico de Pordenone para a Índia e China. Será
também a volta de Mattelo Ricci e outros jesuítas que compilarão em 1655 o Novus
Atlas Sineses e ampliaram as observações científicas em Manciuria, na Coreia, no
Japão. Á Índia, com suas línguas e culturas, será ainda objeto de estudo. Roberto de
'Nobili, assim como, sempre da parte jesuítas, o Tibet. Os missionários de Paris,
contribuirão para conhecimento do Tonchino, os Barnabitas da Birmânia, os Teatinos
de Java, Borneu e Sumatra, os jesuítas do Bengala, Butan, Nepal. Onde quer que se
transcrevam às línguas, compilam gramáticas e dicionários, aprofundam tradições
religiosas, usos e costumes com outros ambientes culturais... o mesmo na América.
Determinante o apoio dos Missionários Oblatos de Maria Imaculada, no século XIX e
XX, ao estudo e à conservação de línguas e culturas das tribos indianas do Canadá e
dos Inuit. Entre todos, se dintingue Emilio Petirot, que explorou as regiões do
Nordeste redigindo cartografias, descrevendo com muito cuidado culturas de
esquimós, especialmente os Tchiligh, hoje desaparecidos , recolhendo-os em suas
tradições e lendas, estudando línguas e dialetos. De 1600 também na África e
sucessivamente na Austrália e Oceania, tornam-se lugares de exploração e de estudo
da parte de um grupo sempre mais numeroso dos Institutos religiosos.
Uma similar incidência cultural deve-se também ao fato de que os membros seja
das ordens monásticas como dos sucessivos movimentos religiosos eram geralmente
pessoas cultas. Eis porque entre eles encontramos históricos, letrados, geógrafos,
antropólogos, matemáticos, astrônomos, cientistas... Poderia parecer estranho que
pessoas que deixaram tudo para servir Deus no seguimento de Cristo se encontrem
imersas tão profundamente nas realidades humanas. A incidência cultural deles é
ligada ao carisma e à espiritualidade dos quais são portadores, que os impelem, de
acordo com a graça, a agir em favor da pessoa vista por inteira e concretamente, em
uma atitude de autêntico serviço, que leva a ocupar-se de cada expressão
autenticamente humana.
Como no passado, também hoje, a sociedade precisa dos mosteiros, dos centros
de espiritualidade, de comunidades carismáticas, oásis de contemplação e escolas de
oração e e humanidade, de educação à fé do acompanhamento espiritual, esboços de
humanidade realizada. Precisa de quem reproponha o sentido da vida, as verdades
eternas do Evangelho. Precisa de quem esteja ao lado dos jovens e das famílias, dos
pobres, dos imigrantes, dos enfermos, das pessoas sós, dos dependentes do álcool,
droga, prostituição..., quase uma continuação da presença de Jesus que passou
fazendo o bem a todos. Precisa daqueles que saibam testemunhar a fraternidade, que
saibam acompanhar em uma nova unidade as diferentes almas que atravessam e os
novos povos que ali colocam suas ancoras. E os novos continuam a ser uma resposta à
humanidade.
Mas a criatividade do Espírito não termina nos carismas evangélicos, assim como
sua ação recorda à Constituição pastoral Gaudium et spes (n. 11), sopra onde quer e
anima quem quer. Podemos portanto, nos perguntar se tantos grandes homens e
mulheres em outras tradições religiosas não sejam essas pessoas carismáticas,
movidas pelo Espirito. Se Deus deixou transportar pelo vento do Espírito as
“sementes do Verbo” entre todos os povos e culturas, terá suscitado também homens
e mulheres e donas capazes de acolhê-los e terá mandato também água do Espírito a
faze-los brotar.
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VI – MARIA TODA CARISMÁTICA
Como a chama Chiara Lubich, é a via percorrida por todo carismático. (1)
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como Maria e porque feita Maria, gera a Palavra e faz florescer nos carismas todas
as palavras.
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Vejo que querem para os vossos colaboradores: desejam sacerdotes que não
hajam como uma máquina, assinalando o passo, mas prontos a percorrer a via dos
Apóstolos e trabalhar pelo bem das almas sem esperar aqui outra recompensa que
penas e fadigas. Por graça de Deus sinto em mim este desejo e se não sentisse
desejaria imensamente senti-lo; e tudo será mais fácil ao lado de vocês. Contem
comigo de olhos fechados”(8) Iniciava a sintonia plena. O Espirito, que havia
iluminado o fundador, já havia predisposto o discípulo a acolher a sua luz
inspiradora.
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Maria, que se tornou mãe, apresenta o filho no templo onde é acolhida pelo
velho Simeão e por Ana (cf. 2,22-36). Eles “movidos pelo Espírito”, reconhecem na
“obra” de Maria “a salvação, preparada para os povos, a luz dos gentios”. Ao mesmo
tempo surge a perseguição: Herodes quer matar Jesus, a “obra” de Maria (cf. Mt
2,13-18). Simeão reconhecendo Jesus, afirmou que ele não seria reconhecido, mais
ainda, ele seria perseguido, e seria “sinal de contradição”
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não veem; como eles sabem vir ao encontro às necessidades não somente eclesiais,
mas em todo campo social.
Maria, a partir das núpcias de Caná, segue o filho, o escuta falar as multidões
com palavras de sabedoria, o vê operar milagres, percorrer as estradas do mundo
fazendo bem a todos. Analogamente a obra que o carismático dá vida é como um
Jesus que de novo se torna presente na sociedade, caminha entre as pessoas,
acolhe as perguntas, responde, age, infunde esperança...A Alegria de Maria ao ver
o filho em ação é a alegria dos iniciadores dos movimentos carismáticos que veem
os próprios filhos atuarem e entregarem-se ao projeto que o Espírito mostrou a
eles na inicial “centelha inspiradora”. Podem repetir, como Jesus, “fareis obras
maiores do que as minhas”(cf Jo 14,12).
Para Maria chega o tempo de seguir o filho aos pés da cruz (cf Jo 19, 25-27).
A profecia de Simeão se realiza: uma espada lhe transpassa a alma. Impotente,
mas firme, impotente, mas firme, vê a sua “obra” imolada, aparentemente falida, e
ela fica como “desapropriada de seu filho”: ‘Mulher, eis o teu Filho’. É associada ao
mistério redentor do Filho,também ele desapropriado, escutando o seu grito “Meu
Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?”(Mt 27, 45). Maria, aos pés da cruz,
vive e exprime o maior dos carismas, o martírio, sempre presente e atual na vida da
Igreja, e mostra a validade redentora de cada carisma.
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da Cruz, aludindo a transverberação de Teresa d’ Ávila ou aos estigmas de
Francisco de Assis, escrevia: Poucas são as lamas que chegam a tal estado, mas
algumas de fato chegaram, especialmente aquelas que as virtudes e o espírito deve
se difundir na sucessão de seus filhos, porque Deus concede as riquezas e os dons
das primícias do Espírito aos fundadores, segundo o número de seus descendentes
na doutrina e no espírito”(16)
Este é o sentido da noite também de Teresa do menino Jesus que, mesmo não
sendo fundadora, é uma grande carismática, capaz de inspirar tantas realidades na
Igreja do século XX.
Nada de divino vem à luz se não for pago com a dor, nem a família, nem a
comunidade cristã, nem um nova obra de Deus. Assim Jesus deu a vida à sua
Igreja, a nova humanidade, assim Maria se torna Mãe da Igreja, assim os
fundadores geram sua família.
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remédio do tempo, alcançado o objetivo, será colocada ao lado de tantas outras
nascidas dos vários carismas dados por Deus à Igreja ao longo dos séculos... O que
devemos sempre fazer é retornar constantemente ao início do Movimento e
recordar como Deus nos tenha oferecido preciosíssima chave para entrar no
Evangelho...Se assim fizer, a Obra de Maria permanecerá verdadeiramente como
outra Maria: toda Evangelho, nada mais que o Evangelho, porque o Evangelho não
morrerá”(17)
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Dia 05/07 2ª feira 10:30h – 2ª Colocação –
12:00h - Almoço
12:00h - Almoço
08:00h – Adoração
09:00h – 1ª Colocação –
10:00h – Intervalo
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