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RGM: 1096
A coisa não se esgota no seu fim, mas em sua atualização. O resultado é efetivo apenas junto
com o seu vir-a-ser.
Hegel se propõe a transformar a filosofia de um mero amor pelo saber para um saber efetivo,
tornando-a uma ciência. É necessário mostrar que chegou tempo de fazer da filosofia ciência.
Hegel critica concepções que dizem não ser no conceito que está a verdade, mas que o
Absoluto deve ser somente sentido e intuído.
É necessário um esforço para retirar os homens do sensível, no vulgar, e levá-los a olhar para
as estrelas. O espírito está tão pobre que é necessária uma força para erguê-lo daí.
A filosofia não pode querer ser edificante, dando um “prazer indeterminado daquela divindade
indeterminada”.
O olha “profético” dessas filosofias edificantes não é superior à ciência e fica longe do conceito
e da necessidade
“Da mesma maneira, quando esse saber substancial, carente de conceito, pretende ter
mergulhado na essência a peculiaridade do Si, e filosofar verdadeira e santamente, está
escondendo de si mesmo o fato de que - em lugar de se ter consagrado a Deus, pelo desprezo
da medida e da determinação - ora deixa campo livre em si mesmo à contingência do
conteúdo, ora deixa campo livre no conteúdo ao arbitrário”
O espírito nunca está em repouso, mas sempre se dirige para frente. O espírito desmancha,
aos poucos, o edifício de sua morada anterior. Isso se revela por alguns sintomas.
Falta a esse mundo novo uma efetividade acabada. Começa com um conceito, como o edifício
começa com o alicerce. A ciência, que é a coroa do novo mundo, ainda não está completa.
“O começo do novo espírito é o produto de uma ampla transformação de múltiplas formas de
cultura, o prêmio de um itinerário muito complexo, e também de um esforço e de uma fadiga
multiformes.”
No começo de um mundo novo, o ser-aí anterior ainda está presente, pois ao novo ainda falta
conteúdo e forma, que darão segurança. Por isso, a ciência ainda parece ser de posse de
poucos indivíduos.
A ciência recém-começada, por estar no começo, pode ser alvo de críticas. Mas essa crítica não
atinge o centro da ciência.
Uma das críticas à nova ciência é trazer tudo o que já foi conhecido e classificado, ocupando-se
com peculiaridades e curiosidades.
“Isso porém - e menos ainda fantasias arbitrárias sobre o conteúdo - não constitui o
cumprimento do que se exige; a saber, a riqueza que jorra de si mesma, a diferença das figuras
que a si mesmas se determinam. Trata-se antes de um formalismo de uma só cor, que apenas
atinge a diferença do conteúdo, e ainda assim porque já o encontra pronto e conhecido.”
“Agora, vemos também todo o valor atribuído à idéia universal nessa forma da inefetividade:
assistimos à dissolução do que é diferenciado e determinado, ou, antes, deparamos com um
método especulativo onde é válido precipitar no abismo do vazio o que é diferente e
determinado, sem que isso seja consequência do desenvolvimento nem se justifique em si
mesmo.”
Aqui, há a crítica de Hegel à Schelling, pois em seu absoluto todas as coisas são uma coisa só
(“à noite todos os gatos são pardos”)
“Aliás, a substância viva é o ser, que na verdade é sujeito, ou - o que significa o mesmo - que é
na verdade efetivo, mas só à medida que é o movimento do pôr-se-asi-mesmo, ou a mediação
consigo mesmo do tomar-se-outro.”
A vida de Deus, em si mesma, é tranquila igualdade e não lida seriamente com o outro.
Entretanto, isso não leva em consideração de sua natureza ser-para-si, o movimento. O
princípio absoluto da intuição absoluta não torna supérfluos a atualização progressiva da
essência e o desenvolvimento da forma.