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Resumo
O autor toma como foco de sua reflexão a não realização da Teoria de Tudo no Todo, indicando
como causa a base de construção do pensamento usado para as tentativas frustradas, enfatiza a insuficiência
do pensamento apoiado na Metafísica de base material com raízes em Tales de Mileto e ainda vigente, e
apresenta a Metafísica de base relacional protoenunciada no pensamento de Hegel, como um possível
fundamento de um pensar capaz de apreender a realidade efetiva na fluidez de seu acontecer, tanto no
âmbito da existência dos fenômenos infra nanos, bem como, nos hiper macros acontecimentos.
Palavras-chave: Metafísica, Teoria de Tudo, Dialética Hegeliana.
Abstract
The author takes how focus of your reflection the no achievement of the Theory of Everything in the
Whole, he indicates that the cause of that frustrated attempts it is the basis of construction of the thought
used to, lay emphasis on the inadequacy of the thought supported in the metaphysical from material basis,
with roots in Tales de Miletus, in ruling to find a solution, and he presents the metaphysical from relational
basis, proto-enunciated in the Hegel’s thought, like a possible foundation to think what can be capable to
apprehend the effectiveness reality in the flow of its happen, so in the scope of the existence of phenomena
infra nanos, so well, in the hyper macros events.
Key words: Metaphysical, Theory of Everything, Hegelian Dialectic.
A Teoria de Tudo ou, como prefiro, do Todo tem sido um sonho alimentado pelos
físicos desde inícios do século passado, com a eclosão de novas teorias físicas que
subtraíram da teoria newtoniana a sua universalidade, no entanto, para alguns e cada vez
mais parece apenas um sonho impossível, para os teimosos é preciso morrer tentando e
para mim já temos uma potencial solução conceitual, restando, no meu entender, tão
somente a sua tradução na linguagem dos físicos, o que obviamente tem de ser feito por
eles. Mas, qual é a solução que proponho?
Ora, acontece que ignorando as causas que levaram Tales ao anúncio dessa verdade,
os sábios e filósofos que lhe sucedem se comprazem em apenas transubstanciar esse
princípio, sem lhe opor resistência à sua materialidade e tampouco à eternidade incriada do
princípio. As mentes mais brilhantes da história do pensamento ocidental desde os
contemporâneos de Tales aos dias atuais tão somente refinam, sutilizam a natureza dessa
matéria originária, lhes atribuem outras denominações (ápeirón, fogo, terra, ar, átomo, ser,
nous, Deus, energia, éter, universo...), mas no fundo a própria descrição de cada um desses
princípios ou variações do princípio material aponta para algo figurativo ou entitativo,
coisificado. Ainda que em alguns casos a sofisticação argumentativa pareça tratar de
entidades metafísicas, estrito senso.
A crítica e a continuidade
Para não dar margens às interpretações distorcidas, esclareço que não estou
apequenando com isso a relevância desses grandes pensadores que fizeram a história que
está viva em nós, muito menos negando a enorme contribuição desse modo de pensar na
construção da ciência e de seus produtos na elevação do bem-estar da humanidade ou na
elevação da dignidade da condição humana. Também, não se trata de um apontar o dedo
para os efeitos colaterais negativos do desenvolvimento científico-tecnológico, nem do
descompasso entre esse desenvolvimento e a elevação ético-moral das relações humanas.
Ora, o que é uma força? Uma força é algo que somente pode ser apreendido através
de algo outro que ela, é uma totalidade dinâmica de relações, não um relacionar entre dois
ou mais objetos, entendidos como compactações, coisas no sentido de entidades separadas
umas das outras, mas totalidades conectivas e conectadas de relações, tornando tudo
instável, epifenomênico.
Se até agora a dificuldade principal de uma Teoria de Tudo ou, como prefiro, do
Todo era compatibilizar os eventos descritos na mecânica quântica com as explicações da
Relatividade para os movimentos astrofísicos, penso que o ponto de unificação pode estar
na apreensão da realidade efetiva como um jogo de relações (conectivos, relacionamentos),
reservemos o linguajar de partículas e ondas para o âmbito de abrangência do pensamento
newtoniano e seus desdobramentos, penso que agora há de se pensar como descrever numa
nova linguagem um universo infinito constituído substantivamente de relações (conectivos,
conexões, relacionamentos, unidades relacionais da realidade efetiva).
Neste ponto se entra no reino das dificuldades, ora, se mudar um simples hábito
requer um esforço descomunal, o que se pode dizer de mudar o próprio modo de pensar
e, em consequência, operar a metamorfose do sentido da linguagem? Apenas de modo
ilustrativo pergunto: há quanto tempo sabemos que aquilo a que chamamos átomo não é
indivisível e ainda assim continuamos a dizer átomo no lugar de simplesmente tomo ou
criamos uma denominação mais adequada? Ou, ainda pior, há quanto tempo sabemos que
é a Terra que gira em torno do Sol e não o contrário, e seguimos dizendo ‘que belo pôr do
sol’? Bem, isso soa para muitos como algo de somenos importância, mas, vale lembrar que
a linguagem opera o ‘milagre’ de permitir o indivíduo sair de si e permanecer em si mesmo,
na linguagem eu me expresso, sou para outro, compartilho a mim mesmo, informo e
reciprocamente me formo, isso me diz que as expressões linguísticas não são vazias de
consequências. Mas, como nos ensinou Hegel a linguagem é o mais verdadeiro.
À guisa de exemplo, e para que fique claro mais uma vez de que não estou falando
em abstrato, lembremo-nos de algumas das relações que estão presentes na construção de
nossa existência: além das que fazem parte das determinações originárias, temos as relações
entre o óvulo e o espermatozoide que nos geraram fisicamente, que se deram num contexto
de relacionamento entrelaçado entre os progenitores; as relações intrauterinas (alimentícias,
energéticas, emotivas, culturais); as relações de aprendizado após o nascimento
(intensificação da aquisição da linguagem, as relações polissemânticas com o mundo
mediadas pelos outros indivíduos, o uso das mãos – em relação ao polegar opositor, as
experiências agradáveis e as desagradáveis e suas impressões neuronais, o desenvolvimento
da psique); enfim, são verdadeiramente inumeráveis as relações (conexões, conectivos,
relacionamentos, entrelaçamentos de relações) nas quais nos constituímos como um Eu.
Do que precisamos é saber o que dizemos quando isso dizemos, e não falar em
sistemas físicos e ter em mente coisas compactas de maior ou menor densidade ou até
mesmo num refinamento sofístico partículas sem massa. Bem como, devemos evitar
permanecer numa falsa ou incipiente pré-compreensão da realidade efetiva, como costuma
ocorrer quando, no senso comum, lemos notícias astronômicas nos periódicos, tais como:
a estrela x está a uma distância de 2,5 bilhões de anos luz da Terra, e parece que o
entendimento ordinário compreendeu essa distância expressa na unidade astronômica,
quando na verdade o uso habitual do metro como unidade de medida, não permite a
apreensão exata dessa distância, prevalecendo uma pré-compreensão um tanto nebulosa.
Quando começo a pensar esses sistemas físicos, como unidades físicas relacionais
da realidade efetiva, abro efetivamente a possibilidade de tirar o entrelaçamento quântico
do seu status de quimera ou coisa de crentes, de um saber que não pode ser devidamente
explicado pela ciência, pertencente ao domínio dos mistérios e passo a compreender esse
fenômeno como algo presente no cotidiano da teia de conectivos conectados que tecem a
nossa realidade efetiva. Pois, se tudo está num emaranhado infinito de teias de conectivos
conectados há de se convir que uma ação qualquer em qualquer ponto desencadeia
interações de maior ou menor magnitude no todo sistêmico.
Ainda que as soluções simples e belas sejam as mais apreciadas pela comunidade
científica, ninguém desconhece a sua contumaz face reacionária ante o novo, afinal essa
comunidade há muito ocupa o lugar da comunidade dos padres da inquisição medieval.
Assim, se o novo for simples é simples demais para ser considerado, se muito complexo é
obscuro demais para ser levado à sério. Mas, o óbvio é muitas vezes o que está tão à vista
que não se vê.
Com efeito, há coisas triviais ou óbvias que por vezes parecemos negligenciar o
significado e, em consequência, tornamos de difícil compreensão outras que delas
dependem para a sua elucidação ou apreensão de sua verdade. Sabemos, e não é de hoje,
que o universo é infinito, nem adianta falar em multiversos ou multi-universos porque aí já
há uma compreensão equivocada da infinitude. Pois o infinito não é um amontoado de
coisas postas numa fila infinda, o infinito não se contrapõe ao finito, antes tem no finito
sua realidade efetiva. O Todo somente é todo porque constituído de partes, me encanta ver
as simulações das grandezas astronômicas em vídeo, a Terra dentro do sistema solar, o Sol
dentro da Via Láctea com seus bilhões de estrelas e uns tantos buracos negros, a Via Láctea
dentro de um aglomerado de galáxias ...; claro que isso é apenas uma visão unilateral, desde
Andrômeda talvez essa visão seja muito diversa. Mas, o que importa é perceber que na
unilateralidade relativa das visões cada parte é uma unidade física relacional do Todo.
Assim, o Todo não pode ser pensado como algo à parte ou como uma abstração do
Entendimento humano, o finito só existe como momento da infinitude. Pois é aí que o
universal é como existência singular (universal concreto como diria Hegel), por essa razão,
quando se diz que Deus ou o Absoluto é incognoscível à inteligência humana, não se faz
justiça a Deus e nem à humanidade. Jamais conheceremos a Deus em sua totalidade,
obviamente que não, pois essa totalidade é um Si movente, cuja perfeição reside justamente
em sua liberdade de fazer a si mesmo eternamente, e esse fazer, que é a Vida do Absoluto
bem que se poderia expressar como um jogo de amor consigo mesmo. Nem é preciso alimentar a
presunção de conhecer o Todo abarcando-O, porquanto o Todo se dá a conhecer às suas
manifestações em suas manifestações. Nisso somos imagem e semelhança ou um fractal
holográfico do Todo, pois nenhum de nós é capaz de conhecer inteiramente se quer a si
mesmo, pois ainda estamos e sempre estaremos em construção da nossa essência,
absolutamente única, singular; não obstante, o torvelinho de manipulações alienantes em
que nos encontramos.
Com efeito, aqui também entra em jogo a perspectiva lógica desde a qual estou
situado, de modo geral os acadêmicos afeitos a pensar cientificamente postados no
horizonte dos sistemas lógicos formais, em suas diversas variantes, raramente percebem
que essa lógica subjacente se apresenta como uma camisa de força na qual forçam a
realidade efetiva a caber. A dificuldade maior tem sido que a maioria não vislumbra uma
alternativa lógica para o pensar, pois quando se tenta sistematizar em fórmulas as lógicas
dialéticas na linguagem subordinada ao pensamento de base material, estas lógicas dialéticas
se convertem em fantasias retóricas ou se enrijecem em formalismos ou se tornam
devaneios filosóficos incoerentes.
Para mim esse é um ponto de extrema relevância e delicadeza, assim como para
pensar uma outra base metafísica diferente da base material vigente fui buscar insumos ou
a sua protoenunciação no pensamento hegeliano, também no que concerne à lógica faço
opção por Hegel, pois a sua lógica engendra no pensar uma nova condição de apreensão
da realidade efetiva: primeiro, a necessidade de compreender a simultaneidade como
constante universal, seja, a linearidade passado – presente – futuro é uma condição
existencial local que não se sustenta nos eventos infra nanos nem nas dimensões hiper mega
astronômicas; em segundo lugar (não na ordem de importância, mas apenas expositiva) a
lógica de Hegel suporta a contradição na qual cada fenômeno é e não é simultaneamente,
não pretende resolver ou abolir a contradição, mas nela o conceito apreende cada fenômeno
da realidade efetiva na contradição que lhe é própria; terceiro, a suprassunção (die
Aufhebung) ou o suprassumir (das Aufheben, substantivando o verbo como Hegel) é o
movimento espiral ínsito que permeia toda a realidade efetiva.
Há ainda um ponto que não posso deixar à parte, alguns apressadamente dizem que
não se pode mais se quer falar em fundamento na época em que vivemos e se perguntam
qual o fundamento de uma rede? A metáfora do edifício para expressar o conhecimento
emergindo de uma base sólida não pode ser usada quando se trata de uma rede, como a
internet por exemplo, mas isso não passa de mais um equívoco gerado pela falta do
1
Hegel, G. W. F. – 2002, p.26, §2.
exercício da paciência do conceito. Pois, assim como uma corrente é somente tão forte
quanto o seu elo mais fraco, uma rede somente existe ou se sustém na força da
interatividade que entrelaça as suas unidades relacionais na constituição da fronteira de
padrão discernível que a define na multiplicidade infinita do Todo.
Com efeito, o fundamento não pode ser pensado como algo sólido que se oculta na
sustentação daquilo que aparece, como a base de um edifício sob o chão, ou menos ainda
como um ser indizível que fora dos entes os mantêm na existência; não, na perspectiva da
Metafísica de base relacional o fundamento nem é abolido e nem é um mistério, mas é na
própria manifestação ou no fenômeno, não estando nem além nem por trás da
manifestação, mas no fenômeno ou na coisa mesma como diria Hegel.
Em linhas gerais esse é o conjunto de desafios que desejo trazer neste texto, e que
decorre da necessária, assim entendo, mudança de base ou fundamento da Metafísica, para
que não permaneçamos no que alguns apressadamente já chamam de ‘novo normal’,
mesmo alimentando e vivendo sob velhos ‘pré-conceitos’. Jamais podemos esquecer a
grandiosa contribuição de Tales de Mileto, sem a sua metafísica de base material não
teríamos chegado aonde estamos, talvez, não tivéssemos nem mesmo o sistema educacional
que temos se todo o conhecimento aceito como verdadeiro e válido ainda tivesse exclusiva
origem nos deuses e fosse expresso nas vozes dos oráculos, mensageiros e iluminados.
No nosso texto sagrado encontramos expressões como, por exemplo: não se pode
por vinho novo em odres velhos; pois, então, não podemos abordar a nossa realidade atual
com os velhos instrumentos conceituais, sem suprassumi-los na metamorfose que os
ressignifique, tornando-os pontos de emergência para novas significações que deem conta
da nossa realidade efetiva, é preciso pensar as descobertas e inovações científicas à luz da
nova compreensão que elas exigem, mas lembremos que nesse entrelaçamento, também
não podemos mais continuar a interpretar a realidade política, econômica e social com
paradigmas assentados no reducionismo imposto pela metafísica de base material, muito
menos a Sociedade Civil e o Estado.
Ao fim e ao cabo, em tudo subjaz a meta que jamais poderemos alcançar e que jamais
poderemos abandonar, o desejo ontológico que mantém cada um de nós na existência: ser
si mesmo e experienciar a vida em plenitude.
Referências