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A Copa do Mundo e os limites da liberdade

Estamos em meio ao campeonato esportivo mais importante do mundo, a Copa do


Mundo, que, este ano, acontece num país com pouca história no futebol, na Península
Arábica. O Catar é governado pela família Al Thani, e seu atual chefe é o Emir Tamim bin
Hamad al-Thani, que detém o país a mão de ferro, impondo a Sharia islâmica e dificultando
enormemente a vida de pessoas de outras religiões em seu território, apesar de a
Constituição do país, como veremos abaixo, conceber uma certa liberdade religiosa aos
não-islâmicos.
Nada disso seria de interesse para a nossa aula de apologética, pois o Catar seria
mais um entre tantos outros países da região que vivem sobre a Sharia. Entretanto, com a
Copa do Mundo sediada no país peninsular, chocaram-se duas visões de mundo, opostas
em sua essência, o que ocasionou reações de ambos os lados.
A Copa do Mundo é uma iniciativa da Fifa, entidade sediada em Zurique, na Suiça,
que sempre propaga e endossa todas as pautas ocidentais e globalistas, como as pautas
LGBT:
A Copa do Mundo é a principal oportunidade para os militantes dessas pautas
mostrarem-se ao mundo inteiro e imporem suas reivindicações em todas as casas, bares,
restaurantes, parques e telões do planeta. Em poucas ocasiões os LGBT tem uma chance
como essa para difundiram suas pretensões de normalizar o comportamento homossexual
e perseguir os que discordam deles. Sabemos que toda essa pauta encontra um fomento
essencial em grandes corporações, em países e na ONU, que, com interesses escusos,
desejam reverter o que se entende por matrimônio, família e sexualidade.
Entretanto, os países que impõem a Sharia, como é o caso do Catar, têm uma
profunda repulsa ao comportamento homossexual e proíbem categoricamente qualquer
manifestação pública de homossexualismo. Por essa razão, os países europeus que
usariam uma abraçadeira multicolorida com a inscrição “One Love” foram proibidos de fazê-
lo, e nenhum torcedor pode entrar no país com a bandeira LGBT. Os países europeus que
usariam a abraçadeira com as cores do arco-íris seriam: Bélgica, Inglaterra, Dinamarca,
França, Alemanha, Holanda, País de Gales e Suíça.
Alguns desses países se manifestaram, como a Alemanha, cujos jogadores, em foto
na estreia no campeonato, colocaram a mão em suas bocas para denunciar a “censura” a
que se dizem submetidos. O País da Gales, desafiando a proibição, expôs uma bandeira
LGBT no seu Centro de Treinamento.
Toda essa situação levanta questões centrais para os católicos, que devem saber
como se posicionar nesse cenário. Estaria o Catar certo em proibir a propaganda LGBT?
Seria o Catar um modelo de país que defende a lei natural e divina? Ou, ao contrário, a
liberdade de expressão não pode ser tolhida pelo Estado a esse ponto? Nas redes sociais,
vemos católicos que se posicionaram, de maneira irrefletida, em um apoio sem medidas ao
país, sem compreender que a posição católica não é a mesa que a islâmica, enquanto
outros católicos defenderam a liberdade de expressão dos europeus, por não
compreenderem que a liberdade ensinada pela Igreja e pelo Evangelho não é a liberdade
propagada atualmente pelo Ocidente, sem freios nem referências morais.
Em primeiro lugar, devemos salientar que o Islã é um religião que, como o
catolicismo, considera o homessexualismo um pecado. Entretanto, as razões para o Islã
pensar dessa forma diferem e muito da nossa, como católicos. Os muçulmanos condenam
o comportamente homossexual simplesmente por estar escrito dessa forma no Alcorão. A
religião islâmica importa-se apenas com a submissão ao texto sagrado, de maneira
absoluta. Assim, muitos países islâmicos chegam ao absurdo de proibirem o
homossexualismo, ao mesmo tempo, que permitem a cirurgia de “troca de sexos”, porque
essa cirurgia não está expressamente proibida no Corão, enquanto o sexo homessexual
está (ver: https://br.blastingnews.com/mundo/2016/07/por-que-o-ira-aceita-a-
transexualidade-001002921.html). Isto é, o Irã aceita de braços abertos a transexualidade,
mas a homossexualidade é proibida com morte! Isso é uma religião esquizofrênica.
Já o catolicismo condena a prática homossexual não porque está escrito no Bíblia
que se trata de um pecado. O Catecismo da Igreja Católica é claro em afirmar as causas
desse juízo pela Igreja. Os atos homossexuais são graves porque retiram todo o sentido da
sexualidade humana, direcionada para a união dos esposo e a geração de filhos. São
contrários à lei natural antes de serem contrários à lei de Deus. A nossa fé não se baseia,
como no Islã, numa obediência cega a um livro sagrado, mas numa reflexão séria, a partir
da fé, do que vai contra os projetos de Deus para o homem. Além disso, não queremos a
morte do pecador, como ocorre em muitos países sob a Sharia, mas que ele se converta,
conheça a verdade. Devemos tratar os que têm uma atração pelo mesmo sexo como Cristo
os trataria, com a intenção de fazê-los participantes da vida da graça. Não somos os
melhores do que os que sentem essa tentação, porque também temos os nossos pecados!
Nunca é demais reler o que o Catecismo diz a respeito:

“2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres,


que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas
do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e
das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar.
Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves
(103) a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são
intrinsecamente desordenados» (104). São contrários à lei natural, fecham o acto
sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva
sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.

2358. Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências


homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objectivamente
desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser
acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles,
qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na
sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do
Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.
2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do
autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma
amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem
aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.”

Ao Islã pouco importa a conversão interior do pecador, porque para ele a conversão
não se dá interiormente, mas apenas exteriormente, quando nos submetemos às
prescrições do Corão. Se o sujeito, dentro do quarto dele, sem ninguém ver, é um
homossexual, o Islã não vê nenhum problema nisso! No Irã, por exemplo, para alguém ser
condenado pelo crime de homossexualismo, são necessárias 4 testemunhas (nem me
perguntem como essas 4 testemunhas obtiveram a informação do “crime” haha).
Vê-se, só por esses poucos exemplos, que apesar de ter proibido a propaganda
LGBT, o Catar não é um exemplo de país, longe disso! Seguindo a Sharia, o país proíbe
qualquer proselitismo de outra religião que não a islâmica. É proibido que templos cristãos
coloquem cruzes ou outros símbolos religiosos à vista do público. Você pode até ser
católico, mas dentro de sua casa, sem se manifestar publicamente.
Há aqueles, entretanto, que criticaram o Catar pela proibição da propaganda LGBT,
por, supostamente, contrariar a liberdade de expressão, direito supervalorizado no
Ocidente. O que a nossa fé nos diz sobre isso?
A liberdade é um dom de Deus. É por meio dela que somos capazes de responder à
nossa vocação de amor a que somos chamados. A liberdade nos torna responsáveis por
nossos atos e semelhantes a Deus. Entretanto, a liberdade não é um simples optar entre
diversas possibilidades ou fazer o que se bem entender. A liberdade, como dom, pode ser
perdida quando mal utilizada! Uma pessoas viciada em drogas ou em pornografia, por
exemplo, não é livre. A liberdade, quando mal utilizada, diminui, nos torna escravos de nós
mesmos, dos outros ou de qualquer outra coisa. Muitos pensam que são livres mas são
escravos de ideologias ou de grandes corporações que financiam diversas pautas. Só há
liberdade verdadeira quando agimos baseados na verdade! Se agimos contra a verdade,
agimos contra a nossa própria natureza que tende a Deus e nos tornamos servos de
mentiras, necessariamente. O grande erro do Ocidente é acreditar numa liberdade sem
verdade, reduzida a um mero direito de se fazer o que se quiser. O Ocidente herdou
conceitos profundamente cristãos, como o próprio conceito de liberdade, mas retirou deles
seu fundamento último, Deus e, por essa razão, defende pautas que contrariam
abertamente a natureza humana e escravizam o homem.
A pauta LGBT é uma delas. Se devemos amar e procurar ajudar o que sofrem com a
atração pelo mesmo sexo, não devemos nunca achar normal que se propague pelos meios
de comunicação uma apologia de condutas sexuais que contrariam abertamente a lei
natural! Muitos podem achar que estão imunes à influência dessas propagandas,
entretanto, isso não é verdade! Quanto mais elas são veiculadas pelos meios de
comunicação, mais tendemos achar que é normal algo que não é!
Lembremos do Catecismo da Igreja Católica: “Quanto mais pratica o bem, mais a
pessoa se torna livre. Não há verdadeira liberdade a não ser a serviço do bem e da justiça.
A escolha da desobediência e do mal é um abuso de liberdade e condu à “escravidão do
pecado”. (§1733)). O Ocidente confunde “abuso de liberdade” que conduz à “escravidão”,
com a própria liberdade.
Portanto, a liberdade de expressão nunca pode ser utilizada para justificar a defesa
de mentiras ou de condutas que contrariam a lei moral, inscrita no coração de cada homem.
Assim o Magistério da Igreja sempre se posicionou. “Porventura dirá alguém que se podem
e devem espalhar livremente venenos ativos, vendê-los publicamente e dá-los a tomar,
porque pode acontecer que, quem os use, não seja arrebatado pela morte?”, perguntava o
Papa Gregório XVI a quem defendia “o direito de trazer-se à baila toda espécie de escritos”
(Mirari vos, n. 11). E o que é, senão veneno, o que a propaganda LGBT realiza?
Nessa questão, os católicos devem ter muito claro, portanto, que nem o Catar é um
exemplo a ser seguido nem a ideologia ocidental deve ser louvada. Devemos, sempre, ser
fiéis, antes de tudo a Cristo e à Sua Igreja, que nos ensinam o amor aos pecadores mas,
também, o amor pela verdadeira Liberdade, que consiste em buscar o bem e a verdade,
não o erro e a mentira.

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