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1) Sociedade Brasileira e Cidadania Diante de uma realidade que

apresenta múltiplas formas de expressão religiosa, e embora significativos


avanços tenham sido alcançados, é necessário fomentar a seguinte reflexão:
Todas as religiões possuem o mesmo respeito e legitimidade? O que provoca
os casos de intolerância que eclodem pelo mundo inteiro, e que em algumas
regiões se intensifica, inclusive sob a forma de conflitos bélicos? Qual seria
o papel do Estado diante dessas tensões? A sociedade possui alguma
incumbência sobre esses fatos?

Realizando uma breve reflexão acerca do conteúdo suscitado,


sobre o prisma da sociedade e cidadania, dois conceitos interessantes foram
e merecem ser de fato destacados. Comecemos pelo questionamento o qual
foi feito a cerca da legitimidade das religiões no nosso país.

Sabemos que a Constituição Federal de 1988, traz na sua espinha


dorsal, ou mais conhecida como cláusulas pétreas, garantidores de direitos
individuais básicos dentre os quais encontramos o direito e a liberdade da
pratica religiosa. O indivíduo como cidadão brasileiro, tem o direito de
escolher e praticar a religião que achar conveniente. E como todo país
democrático, é livre o seu exercício, sendo autorizado, sem que descumpra
outros dispositivos legais, o seu culto e quaisquer praticas cerimoniais que o
regem. Portanto, a partir deste período e obedecendo o devido prazo para
que esta legislação se tornasse válida, o brasileiro tem o direito de ter a
religião que o bem entender. Contudo, sabemos que não era assim em
tempos passados.

Se tratando de legitimidade vemos em algumas obras literárias que


não foi fácil conquistar legalmente esta liberdade. Neste caso concreto, em
se tratando das religiões afrodescendentes, chegaram a ser tratadas como
crime.

“No período colonial as leis puniam severamente as pessoas que


discordassem da religião imposta pelos escravizadores. De acordo com as
leis Filipinas a heresia e a negação ou blasfêmia de Deus eram punidas com
penas corporais. O Código criminal do império, de 1830 considerava crime:
o culto de religião que não fosse oficial; a zombaria contra a religião oficial;
a manifestação de qualquer ideia contraria a existência de Deus.

O decreto de 1832 obrigava os escravos a se converterem a


religião oficial. Um indivíduo acusado de feitiçaria era castigado com a pena
de morte. Com a proclamação da republica foi abolida a regra da religião
oficial, mas a situação permaneceu praticamente a mesma: o primeiro código
penal republicano tratava como crimes o espiritismo e o curandeirismo.

A lei penal vigente, aprovada em 1940, manteve os crimes de


charlatanismo e curandeirismo. Em 1976 havia uma lei no estado da Bahia
que obrigavam os templos das religiões de matriz africana a se cadastrarem
na delegacia de policia mais próximo. No estado da Paraíba, uma lei
aprovada em 1966 obrigava os sacerdotes e sacerdotisas daquelas religiões a
se submeterem a exames de sanidade mental, por meio de um laudo
psiquiátrico

Atualmente não existe religião oficial no Brasil. Desde a primeira


constituição brasileira, de 1891, a ideia de religião oficial deixou de ter
respaldo legal. O Estado não apoia e nem adota nenhuma religião. A lei o
proíbe de eleger esta ou qualquer religião como verdadeira, falsa, superior
ou inferior; dai porque se diz que o Estado Brasileiro é um estado laico”.
De sorte que, a cerca da legalidade, todas as religiões são
abraçadas e em tese defendidas pelo ordenamento jurídico em que pese após
todo este percurso difícil enfrentado historicamente pelos afrodescendentes
no nosso país.

Contudo sabe se que nem sempre o que é legal é respeitado.


Existem algumas práticas, conceitos e ideias, que tornam cada sociedade
única e que ao passar dos dias formam a sua cultura. Sendo que algumas
delas certamente nos trazem orgulho e outras em comparação a estas
tristezas. E em tantas qualidades que temos no nosso povo, um defeito claro
e evidente é que não respeitamos os por menores que integram o nosso país.

Quando me refiro a estes lembro de todos os cidadãos brasileiros


votantes e com suas capacidades intelectuais e psíquicas coesas que não
fazem parte da maioria. Preferiram adotar outras bases, que não ao comum,
para formar o seu ideal de felicidade e com isso de vida.

E desta forma passaram a não serem respeitadas e bem vistas.


Sendo assim, triste reconhecer que o Brasil definitivamente não é para todos
os brasileiros, pois a sua coletividade não respeita as diferenças plurais e
únicas que compõem todo o seu corpo.

Ou seja, ao se tratar de respeito, conclui se que mesmo com toda a


preocupação legal do sistema, ainda se condenam as religiões e seus
integrantes que o compõem pelo simples fato de não serem conforme o que a
grande maioria pensa e segue.

E estas violações morais contra o que as leis defendem tiveram


outra classificação, o que se entende hoje por intolerância religiosa. No que
pese também para que tais praticas que consideradas infames fossem
coibidas, o sistema legal o normatizou, fazendo com que esta intolerância
fosse criminalizada.

“A declaração Universal dos Direitos Humanos determina que a


intolerância religiosa ofende a dignidade da pessoa humana e é uma grave
violação dos direitos humanos.

Este é um assunto que diz respeito as religiões, mas também diz


respeito a todos os defensores da cidadania e dos direitos fundamentais da
pessoa humana”.

No Brasil, infelizmente, se falta bom senso ao ponto que as


condutas dos seus cidadãos precisam ser conduzidas por lei. Ou seja, o
brasileiro não é obrigado a fazer nada se não for em virtude de lei. Mesmo se
tratando de algo que seja regido pela educação e bons costumes para haver
uma convivência amistosa e cordial entre seus entes, a lei teve que interferir
na sua ausência para torná-la visível e operante.

Passou a ser mister conhecer e divulgar os direitos para


conscientizar as pessoas e a sociedade. Todos os brasileiros sejam qual for a
sua religião, pagadores dos impostos exigidos bem como outros exercícios
de cidadania merecem o total respeito. Todos devem ter o direito de praticar
sua crença de acordo com seus costumes, tradições e valores.

O Estado tem sim a obrigação de manter a paz social, a


compreensão e respeito mútuo entre as várias denominações religiosas.
Afinal na ausência da humanidade e consenso entre os seres e necessário que
algo maior Estado venha a intervir, porem como seria bom e agradável que
não houvesse essa interferência paterna nos seus entes. E que isso fosse
automático e intuitivo.
O que quero trazer com estas palavras é que não precisávamos de
leis para expressar aquilo que a educação e a moral deveriam fazer.
Devemos ter respeito ao próximo não porque o sistema legal do país exige,
mas poque a educação que tivemos no seio familiar nos induz a fazer. Seria
ideal se as pessoas não se preocupassem apenas com o direito e sim com as
suas relações interpessoais. Respeitando o ser como ele merece e não porque
se deve fazer. Algo automático, e não robótico. Livre e não impositivo.

Não haverá por sorte democracia plena no Brasil enquanto houver


ofensas e discriminação de ordem social e cultural, baseada em religião ou
crença.

Este que vos escreve também é contra e diz não a intolerância e a


discriminação religiosa e condena veementemente a pratica do cliente contra
a atendente que mesmo que não tenha sido expressa o seu descontentamento
contra a religião que a praticava, mas deixou também subtendido que além
de ser negra também era candomblecista e por isso não era digna de atende-
lo.

2) Psicologia Social: Noções Introdutórias De todos os comportamentos sociais que


existem, o preconceito está entre os mais comuns e perigosos. Todos somos vítimas ou
potenciais vítimas do preconceito, apenas por pertencermos a um grupo identificável, com base
na etnia, cor da pele, religião, gênero, nacionalidade, orientação sexual, tamanho do corpo, ou
deficiência física, só para listar algumas. E não são apenas os grupos minoritários que sofrem
preconceito por parte da maioria dominante. É uma via de mão dupla: o preconceito
frequentemente flui do grupo minoritário para o majoritário, assim como age na direção oposta
também. Diante disto, gostaria de levantar a seguinte reflexão: O que é o preconceito? De onde
ele se origina? Será que o preconceito é um aspecto essencial da interação social humana e, por
isto, determinado por nossa personalidade?
No caso em questão, é nítido e notório o descaso do cliente
perante a atendente pelo simples fato de ser negra e somada a isso proferir
uma religião conivente a sua etnia, seja ela afro descente.

Com palavras de baixo escalão e definindo um ser humano apenas


como “alguém como ela” sem dar qualquer chance para mostrá-lo suas
qualidades e inclusive seus defeitos, tal atitude é desumano e totalmente
condenável entre outros adjetivos que em um ambiente acadêmico como este
não e licito trazer. Mesmo sabendo que somos defendidos pela liberdade de
cátedra e que mesmo tendo todos estes percalços moramos em um pais livre,
democrático em que há direitos basilares e irrefutáveis que defendem e
protegem o ser humano.

De forma que sobre a ótica psicossocial podemos extrair


ensinamentos que ao contrario do cliente, possa nos tornar seres humanos
melhores e devidamente esclarecidos. Dentre eles, o preconceito.

Por definição o preconceito é, no dicionário da nossa língua


portuguesa: “qualquer ato ou sentimento concebido sem exame critico;
sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de
uma experiencia pessoal ou imposta pelo meio; intolerância”.

Em um site famoso de buscas e pesquisas como o Wikipedia,


preconceito na sua definição pura e simples traz: “ é uma opinião
desfavorável que não é baseada em dados objetivos, mas que é baseada
unicamente em um sentimento hostil motivado por hábitos de julgamento ou
generalizações apressadas. A palavra também pode significar uma ideia ou
conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial”.

Acrescenta ainda trazendo dois nomes importantes no âmbito


internacional e deveras pensadores à cerca do tema como: “Gordon Allport
que definiu preconceito como um sentimento, favorável ou não, para com
alguém ou algo anterior a, ou não baseada na verdadeira experiência. 

Auestad (2015) define preconceito como caracterizado pela


transferência simbólica, transferência de um conteúdo de significado
carregado de valor a uma categoria formada socialmente e então a
indivíduos que são considerados pertencentes a tal categoria, resistência a
mudança e sobre generalização”.

Ou seja, em outras palavras, é traçar conceitos a cerca de um


assunto, objeto, característica ou pessoa de maneira superficial, não
procurando entender a sua essência ou fato determinante, verdadeiro e
intrínseco. Apenas pelo seu Bel prazer e não pela aproximação aberta e
sincera para outras experiencias que podem de fato mudar conceitos e
características enraizadas desde o seu nascimento.

E todas essas atitudes hostis e negativas normalmente surgem de


uma grande antipatia em relação às pessoas que pertencem a um
determinado grupo que não seja o da sua intima convivência. Ou por se
basear por estereótipos ou generalizações equivocadas, diga se de passagem,
a respeito de um determinado grupo social. Resultando todo este quadro, em
que vimos no exemplo trazido, em agressões verbais em que podem ser
transformadas em agressões físicas e mais gravosas como a morte.

O preconceito é transmitido culturalmente. Não é arriscado dizer,


portanto, que indivíduos se tornam preconceituosos porque receberam
influência do meio social no qual estão inseridos, onde o preconceito é
aceito ou mesmo estimulado.

A pesquisadora Denise Carvalho, do Núcleo de Estudos da


Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), traduziu bem e em
poucas palavras, a origem do preconceito: “O preconceito começou como
consequência da escravidão, porque os negros eram considerados, até pelos
mais estudiosos da época, seres inferiores, associados a animais e
desprovidos de inteligência. Além disso, o preconceito tem origem em certos
valores, na linguagem, em termos pejorativos e também no ideal de beleza”.

Para Papalia (2006) o preconceito se dá quando as crianças saem


do berço familiar e passam a frequentar a escola. Neste momento, “... na
chamada terceira infância, o grupo de pares surge de forma espontânea. Os
grupos se formam entre crianças da mesma origem racial ou étnica e nivel
socioeconômico semelhante” (PAPALIA, 2013, p. 368). Papalia (2013)
também afirma que os grupos de amigos ajudam as crianças a
desenvolverem habilidades sociais, permitindo que elas testem e adotem
valores independentes dos aprendidos em família.

Porém há os efeitos negativos destes relacionamentos: “[…] o


incentivo à pressão e o reforço do preconceito em relação a membros de
outros grupos...” (p. 368), já que para fazer parte de um determinado grupo a
criança precisa adequar-se e aceitar seus valores e normas de
comportamento.

O estudo ainda traz que esta influência “dos pares” ainda é mais
forte quando existe incerteza por parte da criança que se sujeita aos padrões
comportamentais e de obediência impostas por eles. Ou seja, pode se dizer,
que na ausência ou na indeterminação daquilo que é ensinado pelos pais na
formação da sua personalidade o meio em que ela se relaciona o
complementa trazendo consigo resultados que nem sempre são os esperados
pelo seio familiar.

Nesta fase não é a criança integrante que escolhe e que determina


quais são os critérios do grupo envolvido, mas o grupo que acaba
influenciando o integrante que o permite para ser aceito. Tal conceito ainda
persiste na fase adulta, se ainda persistir tal ausência ou enfraquecimento
desta personalidade formada.

Ainda na infância, onde inicia a formação basilar de sua


personalidade, Bandura (2003) expõe sua teoria social cognitiva e sua
relação com a educação, referindo se à aprendizagem por observação ou
imitação ocorrendo quando as respostas de uma pessoa, no caso, das
crianças são influenciadas pela observação de outros, o que ele chama de
modelo.

Para o autor, através da observação do comportamento dos outros


e de suas consequências, com contato indireto com o reforço, existem suas
experiências já adquiridas no seio familiar. O lar que abomina qualquer tipo
de preconceito necessariamente não excluiria a chance do filho, por
modelação, aprender comportamentos discriminatórios na escola, por
exemplo.

Ainda em Bandura (2003) as crianças são indivíduos ativos de sua


aprendizagem escolhendo os modelos para imitar. Dessa forma podem
escolher ambos os pais, apenas um deles, um professor ou um amigo que
admira ou qualquer combinação que seja influenciada pelas características
do modelo e pelo ambiente. Tais características são escolhidas pela criança
de acordo com seu ambiente. A imitação será advinda de um modelo que
seja valorizado no seu contexto cultural seja por instinto natural, por
identificação ao modelo imitado, por se sentir recompensada de alguma
forma pela imitação, entre outros.

A teoria de Bandura reconhece a importância do pensamento no


controle do comportamento. Entende-se, que o indivíduo no período infantil
tem a tendência a emitir comportamentos que estejam em conformidade com
o grupo e esta conformidade lhe traz a satisfação e ao mesmo tempo a
sensação de pertencimento. Por outro lado, o grupo também espera que a
criança se comporte desta maneira, adequando-se às normas já existentes.

Tendo em vista a teoria social cognitiva de Bandura, pode-se


afirmar que as pessoas são produtos e produtoras do ambiente em que vivem
e atuam com a intencionalidade de que sua ação produza efeito no ambiente,
sendo também por ele transformado.

E desta forma, não apenas o grupo de amigos, mas as vivências da


criança são fatores constituintes do que conhecemos como preconceito e
observa-se também seu aparecimento já na terceira infância e não somente
na fase adulta como habitualmente espera se que aconteça.

Respondendo a pergunta, com base nos estudos trazidos e nos


autores escolhidos que trataram o tema, o meio social em que o individuo se
insere através das suas escolhas, conscientes ou inconscientes, é que podem
de fato moldar o comportamento do ente para que seja aceito na proposta da
comunidade escolhida. E nem sempre esta comunidade será adequada a sua
personalidade que de inicio seria formada pelo seio familiar, mas pelo
convívio natural entre os seres humanos.

De maneira que entendemos que para tentar coibir, já que acabar


totalmente seria impossível, é aumentar a intensidade da informação coesa
na educação formada no seio familiar ate que a personalidade seja o fator de
escolha para se inserir no grupo devido de relacionamento. E se, não for o
devido e esperado grupo, o ser em questão seja capaz de liderar e a partir dai
ser o “influenciador”, o “imitado” pelo grupo e não o contrário.

Neste caso o cliente pode ter sido influenciado desde a sua


infância, seja por grupos que o mesmo foi inserido, seja pela ausência de
formação da sua personalidade quando criança no seio familiar, a ser
preconceituoso com raça, cor e religião. Em que pese, analisado por um
todo, a sociedade que este se encontra, tal atitude é simplesmente lamentável
e deveras coibida por lei, artificio que a sociedade escolheu para manifestar
a vontade da grande maioria. E que tal atitude deverá ser deletada, para que
não lhe cause mais transtornos futuramente seja pelos tribunais legais
competentes, seja pela vida.

3) Direitos Humanos e Cidadania A Constituição Federal de 1988, chamada de


Constituição Cidadã, rege todo o ordenamento jurídico brasileiro e se caracteriza por ser
democrática e liberal – no sentido de garantir direitos aos cidadãos. É considerada por muitos
especialistas como uma peça fundamental para a consolidação do Estado democrático de direito
no país, bem como da noção de cidadania, ainda tão frágil para a população brasileira. Os
direitos fundamentais, pilares da Constituição Federal de 1988, são considerados como direitos
válidos para todos os povos e em todos os tempos, por terem como característica advir da
própria natureza humana e com caráter inviolável, intemporal e universal. Pergunta-se: No caso
em tela, Malu sofreu violação aos seus direitos e garantias fundamentais? Sua resposta deve ser
fundamentada no Preâmbulo e nos artigos 1°, 3°, 4° e 5° (caput e incisos) da Constituição
Federal, bem como nos seus estudos acerca dos direitos humanos fundamentais.

Em todo o estudo, sobre o caso especifico, nota-se uma linha


lógica de raciocínio. Primeiro analisamos a conduta sobre o prisma de uma
eventual intolerância religiosa, visto que a atendente é candomblecista. Em
seguida analisamos acerca da discriminação racial e o preconceito sobre a
ótica da psicologia humana. Agora analisaremos de maneira mais especifica
no que tange a legislação pátria a discriminação racial enfrentada pela
atendente em face ao cliente que a julgou indigna de atende-lo pelo simples
fato de ser negra.
“Qualquer distinção, exclusão, restrição, ou preferência em função
da cor, raça, ascendência, origem nacional ou ética é
considerada discriminação racial. De forma que nenhum Estado, instituição,
grupo ou indivíduo deve fazer qualquer discriminação em matéria de direitos
humanos e liberdades fundamentais no tratamento de pessoas, grupos de
pessoas ou instituições com base na raça, cor ou origem étnica”.

Não diferente, no Brasil, é evidente que houve uma afronta direta


ao direito fundamental da sra. Malu. De maneira que o Estado é a união de
vontades das diferentes facetas ideológicas, econômicas, étnicas etc. que
formam uma sociedade. Ao ponto de se abrir mão de algum direito que por
ventura goze por ser uma maioria em detrimento a socorrer qualquer
distinção para que a minoria também conviva pacificamente e se sinta
também valorizada e integrada ao todo (sociedade).

É o que o nosso preambulo traz quando estabelece: “Nós,


representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional
Constituinte, para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
Constituição da República Federativa do Brasil".

É mister que se diga que o preâmbulo da Constituição da


Republica Federativa do Brasil não tem força de lei, contudo é o clamor do
espirito do legislador que o editou. Pode não ter força de lei, mas expressa
exatamente a alma daqueles que compuseram o corpo da assembleia
constituinte. Na pirâmide hans kelsiana da legislação pátria e a nuvem dos
princípios que o sobrepõem e que o originam. Nuvem esta que traz os
fundamentos, os ideais e a vontade subjetiva da coletividade para que
ilumine e interprete a legislação pátria e traga consigo a tal aclamada justiça.

É tão verdade que “A discriminação é proibida expressamente,


como consta no art. 3º, da Constituição Federal, onde se dispõe que, entre os
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, está: promover o
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação”.

Ora, sabemos que no país em que vivemos valoramos as pessoas


não pelo que elas são, mas pelo que elas fazem ou tem. De forma que neste
caso quando o cliente diz que ela não e digna de atende-lo é sinal que no seu
entendimento ela não é digna nem sequer de ocupar um cargo por ele
ridicularizado. E mais, não é digna nem sequer de falar ou ter sequer contato
direto com ele.

No artigo 5º da nossa constituição tem no seu corpo clausulas


imutáveis e garantias individuais que jamais poderão ser retiradas e que
garantem, em seu caput: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade (...).

É por essas e outras que o Estado tem o dever máximo de coibir


tais práticas que ferem não somente a convivência pacifica mas também o
mais profundo amago do ser humano.

A discriminação racial está em foro Constitucional e considera


prática do racismo como crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena
de reclusão (art. 5º, incisos XLI e XLII).
O ordenamento vai mais além e considerada tal pratica também
um crime: “a discriminação e preconceito por raça, etnia, cor, religião ou
procedência nacional consiste em delito previsto na lei 7.716/89, alterada
pela lei 9.459/97.

Segundo art. 140, parágrafo terceiro do Código Penal: “Se a


injúria utilizar elementos relacionados à raça, cor, etnia, religião ou
origem, a pena é de reclusão, pena é de reclusão de 1(um) a 3(três) anos e
multa”.

Ainda em consonância com a intenção da lei nova, chamar alguém


de judeu, pretão, negão, crioulo, miserável, preto, fanático religioso,
pobretão, etc., desde que com intenção ou vontade de lhe ofender a honra e a
dignidade relacionada com a cor, religião, raça ou etnia, também sujeita o
autor a uma pena prevista na lei penal.

Para fechar a tríade do sistema legislativo brasileiro, “ a prática da


discriminação constitui-se, em matéria civil (art. 186 do Código Civil)
um ato ilícito praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando
direito subjetivo individual causando danos à vítima comete ato ilícito,
criando o dever de repará-lo. (MARTINS, Sergio, 1999, p. 27)”.

Além de responsabilidade penal, também recai sobre o autor a


responsabilidade civil, ou seja, além de colocar sua liberdade em jogo coloca
também seu patrimônio, devendo o mesmo pagar por danos morais à vítima
que sofreu discriminação.

Nada mais justo que o Estado assumir o papel de mãe gentil como
cantado no hino nacional, e abraçar os mais necessitados e corrigir de
maneira a servir para os demais como exemplo aos que tentam feri-los.
A injustiça certamente reinará se for feito ao contrario de tudo o
que foi lido e apresentado, e, certamente o sentimento de revolta aflorará.
Algo que tem sido corriqueiro nos tempos atuais. Mas parte de nós
conhecermos e exigir que tudo seja cumprido e a justiça deveras
estabelecida. Malu e digna de muita coisa além de atender ao cliente, ela e
digna de ser chamada cidadã brasileira.

4) Legislação Empresarial Aplicada Diante do fato tão negativo ocorrido na


Mercearia Cosmopolita, Nilton e Marco decidiram que não tem mais interesse na atividade
empresarial e, de forma conjunta, optaram por alienar o estabelecimento empresarial. Neste
sentido, responda de maneira fundamentada aos questionamentos a seguir:

(A) O estabelecimento empresarial pode ser alienado? Os credores precisam


concordar com esse negócio jurídico?

(B) Para o alienante do Estabelecimento existe alguma responsabilidade


remanescente?

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