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A Liberdade Religiosa e Intolerância Religiosa

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor


de sua pele, por sua origem ou ainda por sua
religião. Para odiar, as pessoas precisam
aprender, e se podem aprender a odiar, elas
podem ser ensinadas a amar. Nelson Mandela

A Declaração Universal dos Direitos Humanos no seu Art. XVIII, diz que Toda pessoa
tem o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a
liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou
crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou
coletivamente, em público ou em particular.
Na constituição de 1988 as religiões ganharam a imunidade tributária e a garantia da
proteção do estado. Assim, o estado passou a oferecer uma garantia ao livre exercício
religioso e ainda a proteger o mesmo, mas por ser laico deve conservar total divisão
entre o Estado e as Religiões. Pela laicidade as decisões do Estado não devem ser
dirigidas, influenciadas e nem norteadas por ensinos ou segmentos religiosos e não pode
também existir nenhuma religião ou entidade oficializada pelo Estado. Em seu artigo
19, a Constituição Federal proíbe a todos os entes federativos brasileiros o
estabelecimento de cultos religiosos.
Na Constituição Federal Art. 5º, inciso VI É inviolável a liberdade de consciência e de
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias. Letivamente, em público ou em
particular.
O inciso VII do Art. 5° afirma ser assegurado, nos termos da lei, a prestação de
assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva e ainda
estipula que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.

O Art. 19 I, da Constituição veda aos Estados, Municípios, à União e ao Distrito Federal


o estabelecimento de cultos religiosos ou igrejas, embaraçar-lhes o funcionamento ou
manter com eles e/ou seus representantes relações de dependência ou aliança,
ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.
Amparado por essa lei todo brasileiro passa a ter a liberdade para escolher a religião que
deseja seguir, e cultuar da forma que entender ser necessária ao deus que deseja servir.
Ele também pode, sem intervenção construir templos e reunir-se nele resguardado de
qualquer embaraço por parte do Estado.

A Liberdade Religiosa no Brasil – mito ou realidade?

O Brasil é Internacionalmente conhecido como um país cuja sociedade tem como


características naturais à tolerância e o respeito à diversidade. No imaginário popular,
todas as pessoas se relacionam com simpatia, com amizade e sem essa história de
discriminação. Entretanto, quem observa com um pouco mais de cuidado as relações
sociais em nosso país acaba percebendo que a realidade não é bem esta.

É bom reconhecer que os brasileiros têm uma receptividade ao novo que não é tão
comum a outros povos. Quem nunca ouviu um estrangeiro dizer o quanto adora o
Brasil, o quanto as pessoas aqui são prestativas, interessadas, sempre dispostas a
ajudar…? Mas infelizmente, para com aquelas pessoas que vivem diuturnamente sob o
mesmo céu, muitos de nossos nacionais não costumam ter as mesmas atitudes que têm
em relação aos “forasteiros” – ainda mais se a pessoa ou grupo em questão tiver
costumes e crenças diferentes dos seus.

Observaram-se, por exemplo, as religiões de matriz africana: apesar de a sociedade


brasileira ser composta por mais da metade de indivíduos que têm em sua genética
componentes relacionados com a África, a percentagem destes que se identificam como
praticantes de ritos de candomblé, umbanda ou outro desta linhagem é muito pouco
significativa. É muito comum o fato de a pessoa se identificar como católica – que é a
religião mais difundida no país – e ao mesmo tempo ter em sua casa representações de
Iemanjá, Oxum e outras deidades de cultos afro-brasileiros. Algumas pessoas que se
identificam como praticantes destas religiões retratam que, apesar de terem amor e
convicção ao que seus antepassados lhe ensinaram, eles se identificam nas escolas, no
trabalho e em seus grupos sociais que frequentam como sendo seguidores das religiões
“mais tradicionais”, ou seja, menos discriminadas – justamente pelo fato de assim serem
mais bem aceitos pela sociedade.

Esse tipo de relação pode ser estabelecido com as outras religiões existentes no Brasil.
Porem é necessário ressaltar que este tipo de atitude – de discriminação contra o que é
diferente, o que não se conhece bem – não está fundamenta em nenhum dos escritos
originais das religiões ou expressões religiosas. Pelo contrário, o que se lê nos livros
sagrados é que Deus é um só, e que, portanto todas as pessoas devem amar umas às
outras e respeitar suas convicções. É neste espírito que se faz necessário perguntar se a
tal liberdade religiosa que muitos creem existir no Brasil seria realidade ou mito.

De acordo com o artigo 2° da Declaração das Nações Unidas para Eliminação de Todas
as Formas de Intolerância e Discriminação com Base em Religião ou Crença, diz que:
“a expressão ‘intolerância e discriminação com base em religião ou crença’ significa
qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência fundada em religião ou crença”
que resultem no não vigoramento ou respeito das liberdades fundamentais e dos direitos
humanos em bases igualitárias. Com isso, deve-se fazer lembrar que a Constituição
Federal garante a laicidade do Estado brasileiro, oferecendo as bases para que pessoas
de qualquer crença ou religião possam usufruir destes direitos e liberdades.

Embora que, estes princípios legais não são difundidos para a sociedade de uma
maneira geral. Os indivíduos, por não terem acesso a informações acerca da existência
destas normas nacionais e internacionais, acabam reproduzindo valores equivocados em
sua relação com o divino. Cada pessoa com sua própria formação religiosa crê que a sua
forma de reverenciar a Deus é a mais correta, tornando-se, portanto, agressor da
discriminação e intolerância. E como as instituições são compostas por indivíduos, os
erros destes passam a ser legitimados pelas igrejas e outros tipos de associações
religiosas, numa clara distorção dos princípios essências de suas crenças.

O termo religião significa o restabelecimento da ligação entre os seres humano e Deus,


nada mais correto do que acreditar que cada uma das religiões existentes, na medida em
que desempenham o papel de promover esta ligação, sejam expressões legítimas de fé.
Nesta linha de raciocínio, o grande erro está exatamente na atitude de acreditar que
somente esta ou aquela religião representa de fato a ligação com Deus e com a
espiritualidade inerente aos seres humanos. Ai esta a difícil tarefa que resta aos líderes
religiosos atuais de convencerem inicialmente a si mesmos e então aos seus seguidores
sobre a verdade e atualidade desta máxima.
Neste sentido, a instrução religiosa deve dar conta de uma series de responsabilidades
que incluem a sinceridade dos instrutores. Se conhecer é o primeiro passo para respeitar,
cabe ao Estado e às lideranças levarem o conhecimento de forma ampla e irrestrita,
permitindo que cada indivíduo possa fazer a sua escolha e seguir a sua fé. Somente
assim poderemos nos orgulhar de vivermos em um país em que a liberdade de crença e
religião é um fato, e não um mito.

Religiões brasileiras e afro-brasileiras

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