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Sistema penitenciário brasileiro: aspectos

sociológicos
Ligar o modo marca-texto
Danielle Magnabosco
acadêmica de Direito no Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB)
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CONCEITO

Direito Penitenciário, Ciência Penitenciária e Penologia

O art. 24 da Constituição Federal Brasileira optou pela denominação de


"Direito Penitenciário" eliminando outras denominações como "Direito da
Execução Penal" ou "Direito Penal Executivo".

O Direito Penitenciárioé o conjunto de normas jurídicas que disciplinam o


tratamento dos sentenciados, é disciplina normativa. A construção
sistemática do Direito Penitenciário deriva da unificação de normas do
Direito Penal, Direito Processual Penal, Direito Administrativo, Direito do
Trabalho e da contribuição das Ciências Criminológicas, sob os princípios
de proteção do direito do preso, humanidade, legalidade, jurisdicionalidade
da execução penal.

Já a Ciência Criminológica ou Penologia, é o estudo do fenômeno social,


cuida do tratamento dos delinqüentes, e o estudo da personalidade dos
mesmos, sendo uma ciência causal-explicativa inserindo-se entre as ciências
humanas. O objeto da Ciência Criminológica antigamente, limitava-se ao
estudo científico das penas privativas de liberdade e de sua execução,
atualmente compreende ainda o estudo das medidas alternativas à prisão, à
medidas de segurança, o tratamento reeducativo e a organização
penitenciária.
HISTÓRICO DO DIREITO PENITENCIÁRIO E
A CONSEQÜENTE EVOLUÇÃO DA PENA DE PRISÃO

A Antigüidade

A antigüidade desconheceu totalmente a privação de liberdade, estritamente


considerada sanção penal. Mesmo havendo o encarceramento de
delinqüentes, este não tinha caráter de pena, e sim de preservar os réus até
seu julgamento ou execução. Recorria-se à pena de morte, às penas
corporais e às infamantes.

Durante vários séculos a prisão serviu de contenção nas civilizações mais


antigas ( Egito, Pérsia, Babilônia, Grécia, etc. ), a sua finalidade era: lugar
de custódia e tortura.

A primeira instituição penal na antigüidade, foi o Hospício de San Michel,


em Roma, a qual era destinada primeiramente a encarcerar "meninos
incorrigíveis", era denominada Casa de Correção.

Platão propunha o estabelecimento de três tipos de prisões: uma na praça do


mercado, que servia de custódia; outra na cidade, que servia de correção, e
uma terceira destinada ao suplício. A prisão, para Platão, apontava duas
idéias: como pena e como custódia.

Os lugares onde se mantinham os acusados até a celebração do julgamento


eram diversos, já que não existia ainda uma arquitetura penitenciária própria.
Utilizavam-se calabouços, aposentos em ruínas ou insalubres de castelos,
torres, conventos abandonados, palácios e outros edifícios.

O Direito era exercido através do Código de Hamurabi ou a Lei do Talião,


que ditava: "olho por olho, dente por dente" tinha base religiosa (Judaísmo
ou Mosaísmo) e moral vingativa.

A Idade Média

As sanções da Idade Média estavam submetidas ao arbítrio dos governantes,


que as impunham em função do "status" social a que pertencia o réu. A
amputação dos braços, a forca, a roda e a guilhotina constituem o espetáculo
favorito das multidões deste período histórico.

Penas em que se promovia o espetáculo e a dor, como por exemplo a que o


condenado era arrastado, seu ventre aberto, as entranhas arrancadas às
pressas para que tivesse tempo de vê-las sendo lançadas ao fogo. Passaram a
uma execução capital, a um novo tipo de mecanismo punitivo.

Com o Império Bizantino (aglomerado étnico de até 20 povos diferentes:


civilização cristã, direito romano e cultura grega com influência helenística)
fora criado o Corpus Juris Civilis, pelo imperador Justiniano, restabelecendo
a ordem com suas obras: Código, Digesto, Institutas e Novelas

A Idade Moderna

Durante os séculos XVI e XVII a pobreza se abate e estende-se por toda a


Europa.

E contribuíram para o aumento da criminalidade: os distúrbios religiosos, as


guerras, as expedições militares, as devastações de países, a extensão dos
núcleos urbanos, a crise das formas feudais e da economia agrícola, etc.

Ante tanta delinqüência, a pena de morte deixou de ser uma solução


adequada. Na metade do século XVI iniciou-se um movimento de grande
transcendência no desenvolvimento das penas privativas de liberdade, na
criação e construção de prisões organizadas para a correção dos apenados.

A suposta finalidade das instituições consistia na reforma dos delinqüentes


por meio do trabalho e da disciplina. Tinham objetivos relacionados com a
prevenção geral, já que pretendia desestimular a outros da vadiagem e da
ociosidade.

Antes das casas de correção propriamente ditas, surgem casas de trabalho na


Inglaterra (1697) em Worcester e em Lublin (1707), ao passo que em fins do
século XVII já haviam vinte e seis. Nessas casas, os prisioneiros estavam
divididos em 4 classes: os explicitamente condenados ao confinamento
solitário, os que cometeram faltas graves na prisão e a última aos bem
conhecidos e velhos delinqüentes.

A mais antiga arquitetura carcerária em 1596, foi o modelo de Amsterdã


RASPHUIS, para homens, que se destinava em princípio a mendigos e
jovens malfeitores a penas leves e longas com trabalho obrigatório,
vigilância contínua, exortações, leituras espirituais. Historicamente, liga
teoria a uma transformação pedagógica e espiritual dos indivíduos por um
exercício contínuo, e as técnicas penitenciárias imaginadas no fim do século
XVII, deu direcionamento às atuais instituições punitivas.

Em 1597 e 1600, criaram-se também em Amsterdã a SPINHIS, para


mulheres e uma seção especial para meninas adolescentes, respectivamente.

Já as raízes do Direito Penitenciário começaram a formar-se no Século


XVIII, com os estudos de BECARIA e HOWARD. Durante muito tempo o
condenado foi objeto da Execução Penal e só recentemente é que ocorreu o
reconhecimento dos direitos da pessoa humana do condenado, ao surgir a
relação de Direito Público entre o Estado e o condenado.

Realmente, o Direito Penitenciário resultou da proteção do condenado. Esses


direitos se baseiam na exigência Ética de se respeitar a dignidade do homem
como pessoa moral.

Os dois métodos aplicados no Direito Penitenciário são: método científico -


é um dos elementos da planificação da política criminal, especialmente
quanto ao diagnóstico do fenômeno criminal, a verificação do custo
econômico-social, e a exata aplicação do programa. Já a estatística criminal
é estudada pelo método estatístico, o qual destina-se a pesquisa da
delinqüência como fenômeno massa. Estas estatísticas dividem-se em três
ordens: policiais, judiciais e penitenciárias.

Somente no Século XX avultou a visão unitária dos problemas da Execução


Penal, com base num processo de unificação orgânica, pelo qual normas de
Direito Penal e normas de Direito Processual, atividade da administração e
função jurisdicional obedeceram a uma profunda lei de adequação às
exigências modernas da Execução Penal.

Todo esse processo de unificação foi dominado por dois princípios do


Código Penal de 1930: a individualização da execução e o reconhecimento
dos direitos subjetivos do condenado.

BECARIA e HOWARD deram causa a uma grande evolução da doutrina de


Execução Penal, com a produção de longa série de tratados e revistas
especializadas (DE BEAUMONT, TOCQUEVILLE, DUCPETIAUX,
PESSINA, VIDAL e CUCHE).

Sucessivamente realizaram-se congressos sobre o assunto, os quais já


assumiam caráter internacional, como o de Londres em 1872.

Dá-se a devida importância à criação da Comissão Penitenciária


Internacional, que se transformou na Comissão Penal e Penitenciária (1929),
que deu origem à elaboração das Regras Mínimas da ONU.

Após a 2ª Guerra Mundial, surgem em vários países a Lei de Execução


Penal (LEP), como na Polônia, Argentina, França, Espanha, Brasil, e outros
estados-membros da ONU.

No Brasil, com o advento do 1º Código Penal houve a individualização das


penas. Mas somente à partir do 2º Código Penal, em 1890, aboliu-se a pena
de morte e foi surgir o regime penitenciário de caráter correcional, com fins
de ressocializar e reeducar o detento.

Com o reconhecimento da autonomia do Direito Penitenciário pela


Constituição Brasileira (art. 24, I ), todas as Universidades terão de adotar o
ensino do direito penitenciário. A reforma penal não se fará sem a renovação
do ensino universitário das disciplinas relacionadas com o sistema penal.

Dentre os mais modernos estabelecimentos carcerários encontram-se:


Walnut Street Jail, na Filadélfia (1829); Auburn, Nova York, em (1817); e
o sistema da Pensylvânia, todos nos Estados Unidos da América.
Consideram-se modernos pois instalam a disciplina, removem a tentação da
fuga e reabilitam o ofensor. No sistema de Auburn, os prisioneiros dormem
em celas separadas, mas trabalham, durante o dia, em conjunto com os
demais prisioneiros. Este método de sistema está sendo implantado em todo
os EUA. Já o sistema da Pensylvânia, o ofensor é isolado durante todo o
período do confinamento.

Todos estes sistemas são baseados na premissa do isolamento, na


substituição dos maus hábitos da preguiça e do crime, subordinando o preso
ao silêncio e a penitência para que encontre-se apto ao retorno junto à
sociedade, curado dos vícios e pronto a tornar-se responsável pelos seus
atos, respeitando a ordem e a autoridade.

A Conferência Nacional Penitenciária ( National Prison Conference),


realizada em Cincinnati, Ohio - EUA, em 1870, foi o primeiro sinal da
reforma carcerária. Encorajados pelo recente estabelecimento da
condicional, a conferência abordou em seu tema principal a prisão
perpétua. Escolheu uma corte específica para os casos de prisão perpétua, a
qual delimitará o tempo mínimo e máximo para todas os tipos de penas. É
acreditável que este tipo de sentença dará ao ofensor maior incentivo à sua
reabilitação, o que determinará uma satisfatória mudança nos cárceres
atuais.

A detenção se tornou a forma essencial de castigo. O encarceramento passou


a ser admitido sob todas as formas. Os trabalhos forçados eram uma forma
de encarceramento, sendo seu local ao ar livre. A detenção, a reclusão, o
encarceramento correcional não passaram, de certo modo, de nomenclatura
diversa de um único e mesmo castigo.

DOS ESTABELECIMENTOS PENAIS

Os art. 82 a 86 da LEP - Lei de Execução Penal tratam das disposições


gerais sobre o estabelecimento penitenciário. O art. 82 prevê diferentes tipos
de estabelecimentos penais, os quais se destinam à execução da pena
privativa de liberdade; à execução da medida de segurança; à custódia do
preso provisório e aos cuidados do egresso. A LEP atendeu ao princípio da
classificação penitenciária, que é prevista na Constituição Federal, art. 5º,
inciso XLVIII.

O art. 83 prevê para o estabelecimento penitenciário, dependências com


áreas de serviços para as atividades do tratamento reeducativo, sobrepondo-
se às imposições de segurança.

Os estabelecimentos penais classificam-se segundo as diferentes fases do


regime progressivo de cada detento:

1ª fase - prisão provisória;

2ª fase - condenado;

3ª fase - sujeito a medida de segurança;

4ª fase - liberdade condicional;

5ª fase - egresso.

E são assim distribuídos:

1 - Centro de Observação - o qual corresponde ao exame criminológico do


condenado destinando-o ao regime de liberdade em que "melhor se
enquadra" (art. 96 LEP);

2 - A Penitenciária - destina-se ao regime fechado (art. 87 LEP); Sob o


enfoque de segurança, a penitenciária se define como estabelecimento de
segurança máxima. Segundo C. Cálon, nas prisões de segurança máxima, as
quais predomina a idéia de prevenção contra fuga, os edifícios são de forte e
sólida construção, rodeados de alto muro, intransponível e dotados de torre,
com guardas fortemente armados, bem como refletores para prevenção de
fuga à noite.

3 - A Colônia Agrícola ou Industrial - regime semi-aberto;

4 - A Casa do Albergado - regime aberto;

5 - A Cadeia Pública - à custódia do preso provisório e cumprimento de


pena de breve duração (art. 102 LEP). Este estabelecimento poderá contar
com salas para o trabalhador social ou Sociólogo, para o Psicólogo e
Psiquiatra, além de salas para o pessoal administrativo, advogados e
autoridades.

6 - Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico - destina-se aos


inimputáveis, e o condenado depende de substâncias químicas
entorpecentes, causando dependência física e mental;

7 - Penitenciária para mulheres;

8 - Penitenciária para o Jovem adulto - destina-se ao menor de 21 anos,


que poderá permanecer no estabelecimento por necessidade do tratamento
reeducativo e problemas de personalidade. Está sujeito a regime aberto e
semi-aberto.

As "orientações" do Ministério da Justiça prevêem para todo projeto de


estabelecimento penal os seguintes locais:

a) instalações de administração, com salas para serviço jurídico, social,


psicológico;

b) assistência religiosa e culto ( capela ecumênica e auditório);

c) escola e biblioteca;

d) prática de esporte e lazer;

e) oficinas de trabalho;

f) refeitório;

g) cozinha;
h) lavanderia;

i) enfermaria;

j) palratório;

k) visitas reservadas aos familiares;

l) cela individual.

A cela individual e a construção em horizontal da prisão constituem as duas


idéias essenciais do estabelecimento penal moderno.

ALGUMAS CONSEQÜÊNCIAS DA
INEXISTÊNCIA DE ESTABELECIMENTOS PENAIS

 Cadeias Públicas segregam presos a serem condenados e com


condenações definitivas, em virtude da inexistência de vagas nas
poucas penitenciárias em atividade;
 A superlotação dos estabelecimentos penais em atividade, acarreta a
violência sexual entre os presos, a presença de tóxico, a falta de
higiene que ocasionam epidemias gastrointestinais, etc.;
 Presos condenados a regime semi-aberto recolhem-se a Cadeia
Pública para repouso noturno, gerando revolta entre os demais que
não gozam de tal benefício, pela inexistência de um grande número
de Colônias Agrícolas;
 Doentes mentais, mantidos nas Cadeias, contribuem para o aumento
da revolta dos presos, os quais têm de suportar a perturbação durante
o dia e no repouso noturno, de tais doentes.
 As condições em que se encontram os estabelecimentos penais em
atividade (superlotação, falta de higiene, tóxico, violências sexuais)
não fazem mais do que incentivarem o crime.

O PROBLEMA SEXUAL NAS PRISÕES


O estado em que vivem os detentos é calamitoso, de sorte que, muitas vezes
a não obediência ao Código Penal, é a causa do surgimento da
promiscuidade. O problema sexual nas prisões surge com a imaginação
exacerbada, provocando então, a introspecção.
A abstinência sexual resulta em conseqüências graves no comportamento
dos reclusos e a escassez da atividade sexual nas prisões é conseqüência
direta das condições objetivas à forma da vida carcerária que não estimula a
sua prática.
A privação das relações sexuais nos cárceres só pode acarretar
conseqüências negativas diversas, propiciando a perversão da personalidade
do indivíduo. Além disso, contribui para diversas práticas, tais como:
O Onanismo

É tido como um desvio para que se acalme o instinto sexual. Possui ainda,
uma estreita vincularão com o homossexualismo ( oculta um
homossexualismo inconsciente ). Serve como uma alternativa à repressão
sexual.
O Homossexualismo

A homossexualidade é a preferência ou orientação pela filiação e atividade


sexual com pessoas do mesmo sexo. Para modernos psiquiatras, a
possibilidade da homossexualidade parece fazer parte da sexualidade
humana como uma escolha ou opção ou até como estudos mais recentes nos
comprovam, da possibilidade genética.
Mas não é este o enfoque que preocupa psicólogos, sociólogos e
criminalistas do mundo inteiro; e quando o sexo é violento ou então
forçado?
De caráter universal, o atentado violento ao pudor é uma prática comum nas
prisões tendo como conseqüência circunstâncias desumanas e anormais da
vida prisional e supressão da heterossexualidade.
O Stuprum Violentum ocorre quase sempre na presença de terceiros, e os
reclusos mais jovens são as maiores vítimas. É claro que há a resistência,
mas no final e sem saída o jovem acaba cedendo pelo temor que lhe é
causado. Casos há em que o detento é "passado" por todas os demais
detentos das celas. São casos deprimentes que, muitas vezes, se repete pelo
consentimento dos próprios guardas, em troca de propinas.
O silêncio e o suicídio são os resultados, pois não é decente esquecer que as
vítimas pouco se queixam de violência, para assim, evitar a desmoralização.
E o suicídio nada mais é do que o medo e o desespero do recluso.
Emile DURKHEIM, defende em sua Teoria Sociológica dos Tipos de
Suicídio (Sociological Theories of Suicide Types), já revista por outros
teoristas, que: " é claro que o suicídio é o resultado da combinação de fatores
severos, ou seja, sua origem é multicausal, englobando hoje, componentes
sociais, psicológicos e biológicos". Para aprofundar-mos um pouco mais no
assunto, abordaremos sobre a referida teoria de Durkheim, haja vista a sua
influência nas concepções atuais:
Durkheim posicionou três primários tipos de suicídios: egoísta, altruísta, e
o alienado. Esta tipologia, com diferentes causas de suicídio é produzida
pelas circunstâncias de integração com a sociedade e suas maiores
instituições.
O suicídio egoísta ocorre quando falta uma adequada integração do
indivíduo com a sociedade. A pessoa não envolve-se na sociedade, cria suas
próprias regras de conduta e age conforme seus próprios interesses.
Ao contrário, o suicídio altruísta resulta da excessiva integração com a
sociedade e insuficiente individualização, sua personalidade é determinada
pelo grupo social com o qual convive.
Já o terceiro e maior tipo de suicídio, o alienado, é quando ocorre a falta de
regulamentos sociais ou normas sociais, pois os regulamentos sociais
impõem um censo de equilíbrio e também limites. O que ocorre então é a
falta de equilíbrio em algumas circunstâncias que o fazem levar ao suicídio.
A violência para o agredido, pode destruir sua auto imagem e auto estima,
causando ainda problemas psíquicos e físicos, desajustes graves que
impedem ou dificultam o retorno a uma vida sexual normal e a destruição da
relação conjugal do recluso.
Na prisão, o homossexualismo pode ter duas origens distintas:
a) ser conseqüência de atos violentos;
b) resultar das relações consensuais; ocorrem sem que haja violência,
consistindo apenas uma manifestação de adaptação ao ingresso na prisão.
Soluções para o problema sexual nas prisões:

Há o que chama-se de solução tradicional. São os exercícios físicos, o


trabalho, o regime alimentar, a proibição de figuras, leituras e imagens,
dentre outros. Tais soluções são até consideradas, podendo no máximo
reduzir o problema.
Mas qualquer tentativa de sublimar a sexualidade, implicarão numa posição
coativa, o que não se contará com o consentimento da sociedade. Como por
exemplo:
- A utilização de Drogas: não produz nem moral nem juridicamente uma
resposta satisfatória ao conflito sexual prisional. Utilizam-se sedativos,
derivados humanos, anestesia sexual através de drogas, etc. Efetivamente tal
atitude resolverá o problema sexual, pois desestimula o apetite sexual do
indivíduo e não converterá em prática generalizada.
- Visita íntima: permite a entrada temporária na prisão dos cônjuges ou
companheiras (os) dos detentos (as). Deve-se entender que seus respectivos
cônjuges não deixam de estar à castidade forçada. Proibi-las do ato sexual é
coagi-las psicologicamente ao caminho do adultério ou prostituição. Isso
pode ocasionar filhos adulterinos. Para evitar tal desequilíbrio, tem-se uma
solução viável: permissão para o ato amoroso. Por si só, a visita íntima é
insuficiente. Mas pode converter-se numa adequada solução da sexualidade.
- Prisão aberta: grande alternativa para o problema sexual carcerário. Não
só resolve, mas também permite a solução de graves inconvenientes que
surgem numa prisão tradicional. Como maior defeito, tem-se o de beneficiar
apenas a minoria.
- Prisão Mista: poder-se-á lembrar como uma das vítimas alternativas a
uma solução adequada. Incertezas ainda são marcantes, mas não justificam o
abandono total desta alternativa.

JUSTIÇA CRIMINAL ALTERNATIVA - ALTERNATIVAS PARA A


PRISÃO

A prisão em si, é uma violência à sombra da lei. O problema da prisão tem


sua raiz na estrutura econômica, política e social do país.
A legislação brasileira autoriza a aplicação de somente 03 tipos de penas
alternativas: a prestação de serviços comunitários, a limitação de algum
direito, e a reclusão no fim de semana. Porém, apenas 1.2% dos condenados
brasileiros cumprem penas alternativas.
Na Inglaterra, o índice é de 50%. Nos EUA, 68% e na Alemanha, só 2% dos
condenados estão na prisão, todos os outros cumprem penas alternativas.
O governo brasileiro está concluindo um projeto que amplia para 19 os tipos
de penas alternativas, o que aumenta a possibilidade de sua aplicação para
condenações de até 04 anos. O projeto resultaria na retirada de 44.000 presos
das penitenciárias brasileiras.
O pretendido tratamento, a ressocialização, é incompatível ao
encarceramento. O que se observa, em toda parte, é que a prisão exerce um
efeito devastador sobre a personalidade, reforça valores negativos, cria e
agrava distúrbios de conduta, é uma escola do crime.
O isolamento forçado, o controle total da pessoa do preso não podem
constituir treinamento para a vida livre, posterior ao cárcere. Para tudo
agravar, o estigma da prisão acompanha o egresso, dificultando seu retorno à
vida social.
Congressos de especialistas, documentos internacionais de direitos humanos
e vozes autorizadas de grupos, vem recomendando, incansavelmente, que se
elimine, ou que se reduza drasticamente o aprisionamento de pessoas,
substituindo-o por outros mecanismos, como a prisão provisória ou somente
como medida de sanção.
Na 1ª Vara Criminal de Vila Velha - PR, o Juiz de Direito Dr. João Batista
Herkenhoff, acolheu este clamor de ciência e humanidade reduzindo o
aprisionamento de pessoas a casos extremos, de gravidade excepcional, já
pensando em realizar uma pesquisa sócio-jurídica, com base em sua
experiência.

AS REBELIÕES

As prisões são cenários de constantes violações dos direitos humanos e


consequentemente dos direitos dos presos. São freqüentes o enfrentamento
entre presos e carcereiros, assim como brigas de ajuste de contas entre os
próprios presos.
O desespero dos presos acaba gerando conflitos, onde milhares deles
amotinam-se para exigir melhores condições de vida em troca da liberdade
de reféns.
Há um pequeno número de delegados da Polícia Federal com treinamentos
feitos em grupos tarimbados no exterior, como Swat americana, a SAS
inglesa ou a GSG9, da Alemanha. Em alguns estados como São Paulo, Rio
de Janeiro, Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul, há grupos especializados,
mas em geral, eles somente são chamados para dar palpite, nunca para
comandar a cena.
As blitz ou "batidas" são realizadas periodicamente nas prisões com o intuito
de retirar armas brancas, vulgarmente chamadas de "estoques" pelos presos.

CENSO PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

A revista VEJA, publicada em 23 de outubro de 1996, apresenta em 1ª mão


os resultados do censo penitenciário feito pelo Ministério da Justiça, sob a
responsabilidade de Paulo Tonet Camargo, esclarecendo os principais
problemas enfrentados pela atual realidade do sistema carcerário brasileiro: "
são números horripilantes e vergonhosos, com dados estarrecedores. O senso
mostra que os presos brasileiros são tratados feito animais" ressaltando que
"a construção de penitenciárias, além do custo muito elevado, é um sistema
comprovadamente ineficaz" e destaca:
- O país tem hoje 150.000 presos, 15% a mais do que em 1994, data em que
fora realizada a última pesquisa;
- A massa carcerária cresce ao ritmo de um preso a cada trinta minutos;
- A AIDS prolifera entre os detentos com a rapidez de uma peste. Cerca de
10% a 20% dos presos estão contaminados. Um número tão assustador que o
governo evita divulgá-lo para não provocar rebeliões;
- 48.4% dos seqüestradores presos estão no Rio de Janeiro - RJ;
- Os homens representam 95.5% da massa carcerária, e a maioria cumpre
pena por assalto, furto ou tráfico de drogas.
- Hoje existem 50.000 - homens e mulheres - estão confinados
irregularmente em celas de delegacias e cadeias públicas.
- Há outro tipo de prisão irregular no brasil, mas o censo não tabulou, são
aquelas pessoas que já deveriam ser libertadas embora continuem presas.
Uma pesquisa realizada em 1964, demonstra-nos que 90% dos ex-detentos
pesquisados procuram trabalho nos 02 primeiros meses, após a conquista da
liberdade. Depois de encontrarem fechadas todas as portas, voltaram a
praticar novos delitos. Estudos mostram que, em média, 70% daqueles que
saem das cadeias, reincidem no crime.
A questão para mais este problema é: Para um ex-preso, sem documentos,
com antepassado criminal, viciados em nada fazer, rejeitados pela sociedade,
o que resta?

ESTATUTO JURÍDICO DO PRESO

O art. 41 da LEP enuncia os direitos do preso. Os direitos humanos do preso


estão previstos em vários documentos internacionais e nas Constituições
modernas. A Constituição Brasileira nada cita em seu contexto, somente o
Código Penal, em seu art. 38 que reza:
Direitos do Preso

Art. 38. O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-
se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral.
O preso não só tem deveres a cumprir, mas é sujeito de direitos, que devem
ser reconhecidos e amparados pelo Estado. O recluso não está fora do
direito, pois encontra-se numa relação jurídica em face do Estado, e exceto
os direitos perdidos e limitados a sua condenação, sua condição jurídica é
igual à das pessoas não condenadas. São direitos e deveres que derivam da
sentença do condenado com relação a administração penitenciária.
 Ao direito à vida, corresponde a obrigação da administração quanto à
assistência material, à assistência à saúde, à assistência jurídica e
religiosa (art. 41 LEP).
 Quanto aos direitos civis, mantém o preso o direito de propriedade, o
direito de família, dentro das limitações da prisão;
 O preso tem direito de orientar a educação dos filhos, se a sentença
não se referiu expressamente a esse direito;
 A presa tem o direito de manter consigo o filho até a idade pré-
escolar;
 Relativamente, aos direitos sociais: direito à educação e ao trabalho
remunerado, juntamente com os benefícios da seguridade social,
descanso, pecúlio e recreação;
 Direito à seguridade social, como direito adquirido, que não se
suspende com o rompimento da relação de emprego no meio livre.
 Direito ao tratamento reeducativo (é direito fundamental, do qual
derivam os demais direitos);
 Direito a cela individual (!);
 Direito a alojamento com condições sanitárias;
 Direito ao processo disciplinar, quando lhe for suposta infração
disciplinar, não tipificada ou sem justificativa;
 Direito à qualidade de vida;
 Direito à progressão e afetação do regime apropriado, e ao
estabelecimento que lhe for indicado pelo Centro de Observação;
 Direito do egresso à assistência pós-penal, que decorre da obrigação
do Estado de assistir moral e materialmente o recluso na sua volta ao
meio livre.
 Direito de propor ação judicial para defesa de seus direitos por
intermédio de Defensoria Pública ou advogado constituído.

Numa visão global da situação carcerária brasileira, hoje destacam-se dois


grupos com as principais violências contra o preso:
1. Violência quanto à ilegalidade da prisão, ou duração excessiva da
pena;
2. Violência quanto à maneira de execução da prisão;
No 1º caso, enquadram-se as prisões absolutamente arbitrárias, praticadas
pela polícia: falta de documentos, prisão para averiguações, prisões
correcionais, por suposta vadiagem, e por batidas ou blitz policiais; prisões
que ultrapassam o cumprimento da pena; prisões que se prolongam por
simples falta de conveniência do advogado; etc.
No 2º caso, enquadram-se: superlotação das celas; falta de higiene e
sanitários; ociosidade dos presos; castigos arbitrários; o estupro; os
espancamentos, maus tratos, torturas; etc.
Contemplando uma análise sociológica-política da prisão, constatamos que:
os pobres e/ou negros constituíam quase que absolutamente o quadro de
detentos. Só a prisão política atingiu, no Brasil, as famílias de classe média e
superior. Os presos políticos contribuíram para que os presos comuns
adquirissem a consciência de seus direitos humanos e deram repercussão à
denúncia da barbaridade do sistema carcerário, sobretudo através de greves
de fome e de livros publicados após a reconquista da liberdade. Hoje, o
censo carcerário demonstra que 54% dos presos são brancos, 27.5% mulatos
e 18.5% negros.
DI GENNARO e VETERE diferenciam os direitos inerentes ao "status" de
cidadão dos direitos do preso: os presos conservam o gozo dos direitos civis
e sociais que lhes competiam como cidadãos antes da condenação, cujo
exercício não se torne materialmente impossível pelo estado da prisão.

DO TRATAMENTO REEDUCATIVO

A educação tem por objetivo formar a pessoa humana do recluso, segundo


sua própria vocação, para reinserí-lo na comunidade humana, no sentido de
sua contribuição na realização do bem comum.
O tratamento reeducativo é uma educação tardia do recluso, que não a
obteve na época oportuna. A esse direito corresponde a obrigação da
assistência educativa, prevista no art. 17 da LEP.
O legislador não adotou o termo "Tratamento Penitenciário", preferindo a
denominação "Assistência Penitenciária" que, segundo o art. 10 da LEP, tem
por objetivo a reinserção social do preso e prevenção da reincidência. São
instrumentos do tratamento penal:

1. Assistência;
2. Educação;
3. Trabalho;
4. Disciplina.
O tratamento reeducativo é o termo técnico usado no Direito Penitenciário,
na Criminologia Clínica e na Legislação Positiva da ONU. Segundo a
concepção científica, o condenado é a base do tratamento reeducativo e nele
observa-se: sua personalidade, através de exames médico-biológico,
psicológico, psiquiátrico; e um estudo social do caso, mediante uma visão
interdisciplinar e com a aplicação dos métodos da Criminologia Clínica. É
ponto de união entre o Direito Penal e a Criminologia.
Com efeito, o tratamento compreende um conjunto de medidas
sociológicas, penais, educativas, psicológicas, e métodos científicos que
são utilizados numa ação compreendida junto ao delinqüente, com o
objetivo de tentar modelar a sua personalidade para preparar a sua reincersão
social e prevenir a reincidência.
"Não haverá desenvolvimento na personalidade do delinqüente sem condições materiais, de
saúde ou proteção de seus direitos, bem como instrução escolar e profissional e assistência
religiosa."
AS REALIDADES DO SISTEMA:

 Um em cada três presos está em situação irregular, ou seja, deveriam


estar em presídios, mas encontram-se confinados em delegacias ou
em cadeias públicas.
 De 10% a 20% dos presos brasileiros podem estar contaminados com
o vírus da AIDS.
 A maioria dos presos cumprem penas de quatro a oito anos de
reclusão, por crimes como: roubos, furtos, tráfico de drogas etc.
 Para solucionar o problema da superlotação nos presídios, seria
necessário construir 145 novos estabelecimentos, a um custo de 1.7
bilhões de Reais.
 Os crimes mais comuns no Sul e Sudeste do Brasil são roubo e furto,
enquanto que no Amazonas e no Acre o crime mais comum é o
tráfico de drogas. Alagoas é o estado onde há mais presos por
homicídio. Chegam ao número expressivo de 56,8% da massa
carcerária.
 Já no Nordeste e Centro-Oeste, a maioria das prisões ocorre por
assassinato.
 São Paulo é a cidade onde há maior número de presos por habitantes
e também a pior situação carcerária: 174 presos para cada grupo de
100.000 habitantes.
 Em Alagoas, por outro lado, há apenas 17 presos para cada 100.000
habitantes, os dados não são animadores, apenas refletem a
impunidade que prevalece no estado. Mais da metade dos presos
alagoanos são homicidas.
 O estado do Rio Grande do Sul é que reúne as melhores condições
carcerárias. Não há preso em situação irregular.
 Hoje o número de detentos na Prisão Federal dos EUA é de 628.000,
sendo que 90% possuem pena de no mínimo 08 anos. A população
carcerária aumentou 7% desde 1988.
 O governo da Suécia despende US$ 61.000 dólares/ano por preso.
 O governo dos EUA destina US$ 25.000 a 30.000 dólares/ano para
a manutenção da prisão e salário para o prisioneiro. Sendo que a
prisão de Massachusetts, oeste da Virgínia, recebe algo próximo a
US$ 140.000.
 O governo do Brasil destina US$ 4.300,00 dólares/ano a cada preso.
Cerca de 06 vezes menos que o americano.
 O presídio de Cascavel/PR recebe R$ 0.14 mensais, para
manutenção, alimentação, limpeza, e "salário" para o prisioneiro!
Mesmo com este absurdo, os presos não se queixam da alimentação,
e ainda ressaltam: "comemos melhor do que muita gente lá fora.
Aqui tem carne todos os dias".
 O referido presídio encontra-se em péssimas condições de
administração, contando apenas com 01 funcionário público, o
carcereiro. O restante dos ajudantes no cárcere, num total de 08 são
presos considerados de "confiança".
 É bem verdade que não podemos atribuir como causa da
reincidência, somente o fracasso da prisão. Temos que levar em
consideração a contribuição de outros fatores pessoais, políticos e
sociais.
 O direito à salvaguarda da dignidade, o direito ao respeito da pessoa
humana, o direito à intimidade são os direitos mais agredidos na
maior parte das prisões do mundo. Desde a admissão, começa o
despojamento da personalidade do preso, algemas nos pulsos, revista
no corpo nu, à vista de todos, a troca de traje pessoal e uso de
chuveiros na presença de guardas, etc.
 O direito à informação, já enunciado no art. 26 da Declaração
Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, é de vital
importância para a ressocialização do detento, pois tanto humaniza o
regime penitenciário, como concorre para o aprimoramento cultural
do recluso. O direito à comunicação com o mundo exterior abre a
prisão ao mundo livre e visa à desinstitucionalização da prisão. O
condenado não pode perder o contato com a sociedade, para qual se
prepara gradativamente.
 A liberação sem o prévio preparo, como o tratamento reeducativo, e
sem colaboração da sociedade na reinserção social do preso, é
traumatizante e fator de delinqüência.
 A importância do papel do advogado é bastante percebida pelos
entrevistados, presos ou não-presos. Reconhecem que a sorte do
processo depende, em grande parte, da atuação dos causídicos.
Depositam grande esperança nas mãos do advogado e do juiz.
 O Departamento Penitenciário Brasileirovem realizando um
programa nacional de formação e aperfeiçoamento do servidor,
mediante convênios com os Estados, cursos de formação do pessoal
penitenciário e de extensão universitária para diretores e pessoal de
nível superior, juntamente com cursos de especialização e pós-
graduação do pessoal do sistema penal em todo o território nacional.

 O Ministério da Justiça, desde a sua primeira programação


penitenciária, vem construindo estabelecimentos penitenciários em
todas as unidades da Federação, de acordo com o Programa de
Reformulação e Sistematização Penitenciária, que determina
perspectivas inéditas à arquitetura carcerária nacional. O moderno
estabelecimento deve permanecer ao nível da dimensão humana.
O criminologista Gresham Sykes, o qual é autor de "Sofrimentos no Cárcere",
enumera que: o primeiro sofrimento do preso está na privação de liberdade; o
segundo sofrimento é aquele no qual o preso está privado de todos os bons
serviços que o "outro lado do mundo" oferece, o que poderia reeducá-lo
naturalmente; o terceiro e maior sofrimento está na abstenção de relações
heterossexuais; o quarto sofrimento é aquele em que o preso está submetido a
regras institucionais designadas a controlar todo os seus movimentos; e o
quinto e último sofrimento enumerado por Sykes é aquele causado pelo preso,
ou seja, a cultura da prisão refletirá na cultura da sociedade, quando aquele
levá-la consigo para fora do estabelecimento penal.

ANÁLISE DA REALIDADE SOCIOLÓGICA-JURÍDICA:

A prisão tem sido nos últimos séculos a esperança das estruturas formais do
Direito em combater o processo da criminalidade. Ela constituía a espinha
dorsal dos sistemas penais de feição clássica. É tão marcante a sua influência
em todos os setores das reações criminais que passou a funcionar como
centro de gravidade dos programas destinados a prevenir e a reprimir os
atentados mais ou menos graves aos direitos da personalidade e aos
interesses da comunidade e do Estado.

A prisão é o monoacordo que se propõe a executar a grande sinfonia do bem e


do mal. Nascendo geralmente do grito de revolta das vítimas e testemunhas na
flagrância da ofensa, ela é instrumento de castigo que se abate sobre o corpo
do acusado e o incenso que procura envolver a sua alma caída desde o
primeiro até o último dos purgatórios.

A recuperação social do condenado não seria um mito redivivo, assim como


um estágio moderno de antigos projetos de redenção espiritual?

Somos herdeiros de um sistema que encontrou o seu apogeu no século das


luzes quando o reconhecimento formal dos direitos naturais, inalienáveis e
sagrados do Homem, impunha a abolição das penas cruéis. E a prisão não
seria, portanto, uma pena cruel principalmente porque ela mantinha a vida que
tão freqüentemente era o preço do resgate para o crime cometido.

Reconhecendo a imprestabilidade da pena capital para atender aos objetivos


de prevenção e avaliando o sentimento popular, o legislador brasileiro viu na
prisão uma forma de reação penal condizente com os estágios de
desenvolvimento cultural e político do próprio sistema.

Na atualidade se promove em nosso país uma grande revisão em torno da


eficácia das sanções penais de natureza institucional. Tal processo de
abertura rompeu com a oposição funesta entre o Direito Penal e a Criminologia
no concerto das demais ciências do homem, que o pensamento italiano
fascista implantou a partir de 1910 e que se projetou para a América Latina.

A Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a proceder o levantamento


da situação penitenciária nacional, instituída na Câmara dos deputados em
1975, colheu um vasto material que caracteriza o retrato fiel do antagonismo
marcante entre os ideais desenhados pela lei e as violências do cotidiano.

O relatório daquela investigação reconheceu que "grande parte da população


carcerária está confinada em cadeias públicas, presídios, casas de detenção e
estabelecimentos análogos, onde os prisioneiros de alta periculosidade
convivem em celas superlotadas com criminosos ocasionais , de escassa ou
nenhuma periculosidade e pacientes de imposição penal prévia ( presos
provisórios ou aguardando julgamento) para quem é um mito, no caso, a
presunção de inocência".

E mais incisivamente foi dito que em tais ambientes de estufa a ociosidade é a


regra; a intimidade, inevitável e profunda. "A deteriorização do cárcere
resultante da influência corruptora da subcultura criminal, o hábito da
ociosidade, a alienação mental, a perda paulatina da aptidão para o trabalho, o
comprometimento da saúde, são conseqüências desse tipo de confinamento
promiscuo, já definido alhures como "sementeiras de reincidência", dados os
seus efeitos criminógenos".

Torna-se urgente a necessidade de revisão da qualidade e quantidade das


sanções, não apenas quanto aos mo mentos da cominação e da aplicação, em
torno dos quais se levantou uma pirâmide monumental de teorias, mas
também em referência à execução e seus incidentes que se acomodam nos
códigos e arquivos mal cuidados dos cartórios.

A esperança (honesta ou simulada) de alcançar a "recuperação",


"ressocialização", "readaptação", "reinserção" ou "reeducação social" e outras
designações otimistas de igual gênero, penetrou formalmente em sistemas
normativos com proclamações retóricas em modernas constituições, códigos
penais e leis penitenciarias sem que a execução prática das medidas
corresponda aos anseios de "recuperação" que não raramente se exaurem na
literalidade dos textos. A ideologia da salvação do condenado tem sido
incensada às alturas, mas também denunciada como um dos grandes mitos
dos projetos de prevenção.
Nos dias presentes se questiona com bastante insistência sobre um
importantíssimo ângulo do problema da pena-emenda. Tem o Estado do direito
de oprimir a liberdade ética do preso, impondo-lhe autoritariamente uma
concepção de vida e um estilo de comportamento através de um programa de
"reeducação" que não seja condizente com a sua formação e convicções? A
tentativa de "retificar" a personalidade não seria uma das formas de lavagem
cerebral? O poder público pretende, às vezes, sob a capa da redução invadir
esferas totalmente alheias à sua competência e usar as pessoas como meros
objetos.

Uma das demonstrações evidentes de que o encarceramento, na forma como


está sendo posto em prática, não tem condições de melhorar a situação
pessoal do condenado, se deduz do próprio espírito que orientou a Reforma
penal e penitenciária decorrente da lei Nº 6.416 de 24 de maio de 1977. A
exposição de motivos da mensagem revelou a preocupação de "resolver o
problema da superlotação das prisões".

A sobrecarga das populações carcerárias, como antagonismo diuturno aos


ideais de classificação dos presidiários e individualização executiva da sanção,
é uma denuncia freqüente na doutrina, nas comissões de inquérito parlamentar
e nos relatórios oficiais.

A prisionalização é terapia de choque permanente, cuja natureza e extensão


jamais poderiam autorizar a tese enfadonha de que constitui uma etapa para a
liberdade, assim como se fosse possível sustentar o paradoxo de preparar
alguém para disputar uma prova de corrida, amarrando-o a uma cama.

Relatando as suas memórias do cárcere, na intensidade dos maiores


sofrimentos, Dostoiewiski escreveu que "o famoso sistema celular só atinge,
estou disto convencido, um fim enganador, aparente. Suga a seiva vital do
indivíduo, enfraquece-lhe a alma, amesquinha-o, aterroriza-o, e, no fim,
apresenta-no-lo como modelo de correção, de arrependimento, uma múmia
moralmente dissecada e semi-louca.

A degradação do sistema penitenciário a níveis intoleráveis vem sendo


freqüentemente retratada com a opinião de que os presídios brasileiros são
verdadeiros depósitos de pessoas e permanentes fatores criminológicos.

Já em 1973, na Moção de Goiânia, foi elaborado por penalistas de prestígio,


um documento que afirma alguns princípios básicos para a prevenção da
criminalidade. Destacam-se:

a) substituição do vigente sistema de penas;

b) melhores condições de dignidade para o tratamento dos presos;


c) o reconhecimento de que a pena privativa de liberdade tem se mostrado
inadequada em relação aos seus fins, tanto sob o ângulo retributivo como sob
os aspectos preventivos;

d) a necessidade de se reservar a prisão penal para os casos de maior


gravidade;

e) a recomendação da efetiva aplicação do regime de prisão-aberta e outras


medidas substitutivas da prisão.

Mas a decadência da instituição carcerária é somente a ponta do iceberg a


mostrar a superfície da crise geral do sistema, para o qual convergem muitos
outros fatores.

O espancamento dos princípios e das regras que empreitam significação à


ciência pode brotar não somente dos profissionais que com ela trabalham na
sua aplicação prática, como também de outras camadas populares, sejam ou
não funcionários a serviço do processo, testemunhas ou partes. Perante o
conceito popular o processo penal social de prevenção e repressão à violência
e à criminalidade será objeto de satisfação ou repúdio em sua perspectiva total
sem que a crítica faça distinções entre os ramos jurídico que formam a
estrutura.

Teoricamente a NORMA JURÍDICA deveria provir do FATO SOCIAL, assim


regulamentando-o. Entretanto àquela se afasta muito das necessidades
sociais, não alcançando seus objetivos básicos, nem satisfazendo a contento
as necessidades da sociedade.

A garantia penal processual da motivação da sentença é negada


ostensivamente quando, além de carência formal, o ato de julgamento em si
mesmo é viciado pela distância profunda, um abismo entre o magistrado e o
réu, ou entre o magistrado e as testemunhas, posto que não se adota no
processo criminal a regra da identidade física.

A crise aberta que corrói até o cerne o prestígio do antigamente chamado


magistério punitivo não será evidentemente contornada através do recuso à
legislação de impacto ou das promessa de um direito penal do terror. É
necessário cumprir etapas prévias, a começar pela denúncia, apontando a
falência dos procedimentos e mecanismos obsoletos quanto à forma e
antagônicos à realidade, quanto ao fundo. A inflação legislativa criticada
freqüentemente nos últimos anos é também responsável pelo descrédito da
intimidação que poderia gerar o ordenamento positivo, principalmente porque o
fenômeno abateu um poderoso dogma: o dogma da presunção do
conhecimento da lei.
A marginalidade social envolvendo uma vasta gama de menores é um dos
pontos nevrálgicos da questão a preocupar intensamente a moderna
orientação da Política Criminal, que reconhece a necessidade de respostas
interdiciplinares para a delinqüência juvenil em lugar de rebaixar o limite de
idade para estabelecer a capacidade penal.

Finalmente, o sistema está em regime de insolvência, sem poder quitar as


obrigações sociais e os compromissos assumidos individualmente. E para este
debitum não remido contribuiu também o desinteresse em tratar com o
necessário rigor cientifico as figuras do réu e da vítima, os protagonistas,
enfim, do fenômeno criminal em toda a sua inteireza. Antes, durante e depois
da intervenção punitiva do Estado.

ALCATRAZ - A TEMIDA PRISÃO

Alcatraz é uma ilha na Bahia de São Francisco - USA, local da mais famosa
prisão que leva o seu mesmo nome. A ilha fora descoberta por Espanhóis em
1545, e nomeada em 1775 de "alcatraces" (pelicanos, em Espanhol).

Designada para reserva militar dos EUA, em 1850 foi fortificada e utilizada por
prisioneiros militares durante a Guerra Civil. Oficialmente tornou-se prisão
militar em 1907 e, em 1933 tornou-se prisão federal.

A prisão era considerada anti-fugas pois sua estrutura era realmente forte,
rodeada de correntes marítimas frias e um sistema policial altamente
qualificado. Mas o outro lado de Alcatraz, o mesmo que inspirou filmes como:
"Assassinato em 1º Grau", mostra-nos atos desumanos, frios e cruéis, onde os
castigos e torturas eram a lei daquele lugar.

Devido sua fama de ser intransponível, após o acontecimento de uma única


fuga, fora fechada em 1963. Sua estrutura vazia fora confiscada por um grupo
de indígenas em novembro de 1969.

Eles mantiveram-na até junho de 1971. Com o fracasso da reivindicação de


obtê-la do governo norte-americano, a ilha fora aberta novamente em 1972
para o público e faz parte do Golden Gate Área de Recreação Nacional
(GOLDEN GATE NATIONAL RECREATION AREA).
CONCLUSÃO

Como já dito, as prisões são cenário de constantes violações dos direitos


humanos. Os principais problemas enfrentados são: a superlotação; a
deterioração da infra-estrutura carcerária; a corrupção dos próprios
policiais; a abstenção sexual e a homossexualidade; o suicídio; a
presença de tóxico; a falta de apoio de autoridades governamentais; as
rebeliões; a má administração carcerária; a falta de apoio de uma
legislação digna dos direitos do preso-cidadão; a falta de segurança e
pessoal capacitado para realizá-la, e a reincidência que é de vital
importância para às vistas da sociedade; demonstram que o Brasil está
torturando presos em penitenciárias, aniquilando qualquer possibilidade que
venham a se recuperar, ao mesmo tempo que gasta dinheiro à toa. É preciso,
urgentemente, mudar esse sistema cruel que forja mais criminosos.

O direito à educação e ao trabalho, que estão vinculados à formação e


desenvolvimento da personalidade do recluso. São os direitos sociais de
grande significação, pois o trabalho é considerado reeducativo e
humanitário; colabora na formação da personalidade do recluso, ao criar-lhe
hábito de autodomínio e disciplina social, e dá ao interno uma profissão a ser
posta a serviço da comunidade livre. Na participação das atividades do
trabalho o preso se aperfeiçoa e prepara-se para servir à comunidade. Porém,
o nosso sistema penitenciário ainda mantém o trabalho como remuneração
mínima ou sem remuneração, o que retira do trabalho sua função formativa ou
pedagógica e o caracteriza como castigo ou trabalho escravo.

Prisão: violência ou solução?

A prisão é uma universidade do crime. O sujeito entra porque cometeu um


pequeno furto e sai fazendo assalto a mão armada.

A violência não é um desvio da prisão: violenta é a própria prisão. Não é


possível eliminar a violência das prisões, senão, eliminando as próprias
prisões. Mas a supressão das prisões será somente possível numa sociedade
igualitária, na qual o homem não seja opressor do próprio homem e onde um
conjunto de medidas e pressuposto anime a convivência sadia e solidária entre
as pessoas.
Se a prisão de indivíduos condenados pela Justiça é sempre uma violência,
violência ainda maior é a prisão de quem ainda não foi julgado, é o
encarceramento sob respaldo dos decretos de prisão preventiva.

Para diminuir a violência da prisão, a medida mais eficaz é a redução drástica


do aprisionamento. A prisão em si é uma violência amparada pela lei. O
desrespeito aos direitos do preso é uma violência contra a lei.

É visível a incompetência geral do sistema penitenciário que, além de não


recuperar os detentos, agora os "devolve" à sociedade sem que haja um
aprimoramento psicológico e sociológico suficiente para que o mesmo possa
enfrentar uma nova realidade.

Não pode haver mais dúvidas de que o sistema penitenciário brasileiro


rigorosamente está falido, além de inútil como solução para os problemas da
criminalidade, nele há um desrespeito sistemático aos direitos humanos
garantidos pela Constituição, inclusive aos condenados.

Diante das lamentáveis condições penitenciárias, o discurso que prega a


reclusão como forma de ressocialização de criminosos, ultrapassa a raiz da
hipocrisia tolerável.

BIBLIOGRAFIA

1. ALBERGARIA, Jason. Manual de Direito Penitenciário, São Paulo, Ed.


Aide.

2. CARNELUTTI, Francesco. As Misérias do Processo Penal, Itália, Ed.


Conam. Tradução em 1957.

3. CATÃO, Yolanda; FRAGOSO, Heleno; SUSSEKIND, Elizabeth, Direito dos


Presos, Ed. Forense.

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1995, Ed. Livraria do Advogado, Edição 2ª.

5. NETO, M. Zahidé. Direito Penal e Estrutura Social, São Paulo, Ed. Da


Universidade de São Paulo - SP. Edição Saraiva.
6. PASTORE, Alfonso Pe. O Iníquo Sistema Carcerário, São Paulo, 1991,
Edições Loiola.

7. REVISTA VEJA, 23 de Outubro de 1996, Paulo Tonet Camargo

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