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XXXI Encontro Anual da ANPOCS - 2007

SEMINÁRIO TEMÁTICO:
Trabalho e Sindicato na Sociedade Contemporânea

TÍTULO: A flexibilização e a precarização do trabalho na França e no


Brasil: alguns elementos de comparação
(Versão preliminar)

AUTOR: Graça Druck – Professora do Departamento de Sociologia da Faculdade de


Filosofia e C. Humanas/UFBA e pesquisadora do CRH/UFBa e do CNPq.
druckg@gmail.com

CAXAMBU,

OUTUBRO /2007
2

A flexibilização e a precarização do trabalho na França e no Brasil:


alguns elementos de comparação

Graça Druck•

Resumo: O objetivo do trabalho é o de apresentar os resultados da pesquisa desenvolvida


na França, como parte de um plano de trabalho de pós-doutoramento em 2006, que
analisou os conteúdos conceituais da flexibilização e da precarização do trabalho no
Brasil e na França, buscando identificar o que há de comum e quais são as principais
diferenças, a partir dos estudos empíricos realizados pelos estudiosos nos respectivos
países, nas últimas duas décadas. Os procedimentos utilizados foram: a sistematização dos
conceitos encontrados no levantamento bibliográfico já realizado da sociologia do
trabalho brasileira; o levantamento e a sistematização da bibliografia francesa; e a
realização de reuniões de trabalho e seminários com pesquisadores franceses, a fim de
discutir os trabalhos produzidos no Brasil e na França sobre a temática do estudo.

Palavras-Chave: Trabalho, Flexibilização, Precarização

1. Introdução

Desde as duas últimas décadas do séc. XX, uma nova conjuntura histórica se ergue
num quadro de crise do capitalismo. Trata-se de um momento marcado pela mundialização,
fundada na hegemonia da "lógica financeira", que ultrapassa o terreno estritamente
econômico do mercado e impregna todos os âmbitos da vida social, dando conteúdo a um
novo modo de trabalho e de vida. Trata-se de uma rapidez inédita do tempo social, que
parece não ultrapassar o presente contínuo, um tempo sustentado na volatilidade
efemeridade e descartabilidade, sem limites, de tudo o que se produz e, principalmente, dos
que produzem - os homens e mulheres que vivem do trabalho.
Neste contexto histórico, a flexibilização e a precarização do trabalho se
metamorfoseiam, assumindo novas dimensões e configurações. O curto prazo impõe
processos ágeis de produção e de trabalho, e para tal, é indispensável contar com
trabalhadores que se submetam a quaisquer condições para atender ao novo ritmo e às
rápidas mudanças. A mesma lógica que incentiva a permanente inovação no campo da
tecnologia, atinge a força de trabalho, de forma impiedosa, transformando rapidamente os

Professora de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBa, pesquisadora do Centro
de Recursos Humanos – CRH/UFBa e pesquisadora do CNPq. E-mail. druckg@gmail.com. Agradeço o apoio
da CAPES, através da bolsa de pós-doutoramento concedida para o período mar/2006 a fev/2007.
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homens que trabalham em obsoletos e descartáveis, que devem ser "superados" e


substituídos por outros “novos” e “modernos”, isto é, flexíveis. É o tempo de novos (des)
empregados, de homens empregáveis no curto prazo, através das (novas) e precárias formas
de contrato e, dentre elas, a terceirização/subcontratação ocupa lugar de destaque. (Druck,
2005)
É a partir desse quadro que se apresenta uma síntese do debate conceitual acerca dos
atuais processos de flexibilização e precarização do trabalho no Brasil e na França. Trata-se
de dois países com trajetórias históricas muito distintas, mas que, no campo dos estudos
sociológicos, têm mantido um freqüente intercâmbio, especialmente na sociologia do
trabalho, cuja tradição na França tem sua força porque foi neste país que surgiu como área
disciplinar das ciências sociais. Adicionalmente, as pesquisas francesas desenvolvidas
recentemente apontam para um conjunto de inquietações teóricas que se identificam com
aquelas reveladas nos estudos brasileiros.
Considera-se que a flexibilização do trabalho é um fenômeno novo, dadas a
dimensão, a amplitude e a qualidade adquiridas num contexto de mundialização, de
reestruturação produtiva e de implementação de políticas neoliberais. O que é evidenciado
na produção da sociologia do trabalho, quando discute, por exemplo, o novo paradigma
produtivo, os novos padrões de gestão/organização do trabalho inseridos no debate sobre o
"pós-fordismo" ou "neo fordismo"; os novos conteúdos do trabalho, as novas
institucionalidades, o novo trabalhador, as novas formas de alienação do trabalho, o novo
capitalismo flexível, etc; debate que se desenvolve no Brasil e na França. (Druck, 2005)
São transformações de caráter internacional, pois, apesar das diferenças e especificidades,
especialmente no que concerne à intervenção do Estado e suas políticas públicas e sociais e
na capacidade de resistência dos trabalhadores num e noutro país, se inscrevem no mesmo
movimento mundial de flexibilização e de precarização do trabalho, como parte central da
estratégia liberal do capital.
O texto está constituído por três seções. Na primeira, são apresentadas as principais
teses de referência nos estudos brasileiros e nos estudos franceses. Na segunda, sintetiza-se
o debate conceitual sobre flexibilização/flexibilidade e precarização/precariedade no Brasil
e na França na atualidade e, na última seção, formula-se alguns elementos de comparação
4

entre as duas realidades e suas respectivas sistematizações acerca do processo de


flexibilização e precarização do trabalho.
Importa ainda acrescentar que a metodologia que levou à seleção dos trabalhos
brasileiros e franceses aqui sintetizados, usou como critério principal os trabalhos
publicados no período 1990-2006, fruto de pesquisas empíricas e que apresentavam uma
discussão conceitual sobre a flexibilização e/ou a precarização do trabalho. 1
2. A flexibilização e a precarização do trabalho
2.1 As principais teses de referência nos estudos brasileiros
Numa primeira classificação dos conceitos de flexibilização e precarização
encontrados na produção da sociologia do trabalho brasileira, é possível identificar que
grande parte dos trabalhos analisados se refere a quatro matrizes que se tornaram clássicas,
no sentido de uma referência sistemática nos estudos do trabalho: 1) a tese da
“especialização flexível” (Piore e Sabel), apresentada como um novo paradigma produtivo-
industrial e alternativo à produção fordizada ou de massa; 2) a tese da “acumulação
flexível” (D. Harvey), que expõe um novo regime de acumulação (de transição em resposta
a crise do fordismo) e, portanto, de caráter mais sistêmico, pois trata do capitalismo e das
mudanças estruturais que vêm sofrendo; 3) as teses sobre a precarização do trabalho e a
vulnerabilidade social como constituidoras de uma “nova questão social” (R. Castel) e 4) as
teses que afirmam sobre uma crise estrutural do capital (I. Mészáros e R. Antunes)
Cabe observar que se identifica uma clara escolha de uma ou outra matriz, como
referência, mesmo que com alguns distanciamentos críticos, bem como com as devidas
observações no que diz respeito a sua aplicabilidade imediata para a realidade brasileira,
especialmente no caso da “especialização flexível”, que já foi concebida como um
paradigma alternativo para as sociedades periféricas como o Brasil. Ademais, as realidades
empíricas, a partir das quais Piore e Sabel formularam o paradigma, já sofreram muitas
transformações, pois datam dos anos 1970.
De acordo com Ramalho (2000), no contexto do debate da sociologia do trabalho,
nos anos 1980:

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No caso dos estudos brasileiros, os trabalhos selecionados, a partir desse critério, estão relacionados no
Banco de Dados, construído pelo projeto Trabalho, flexibilização e precarização: (re)construindo conceitos à
luz de estudos empíricos, apoiado pelo CNPq, disponível no site: www.flexibilizacao.ufba.br.
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“... ganha força o debate sobre o "pós-fordismo", ou sobre a "reestruturação


produtiva", com a constatação de um intenso processo de "flexibilização" da produção e
das relações de trabalho. Pode-se dizer que as interpretações mais influentes, como as da
"especialização flexível" (p. ex., Piore e Sabel, 1984; Hirst e Zeitlin, 1992), passaram a
enfatizar o caráter positivo das novas formações produtivas, em contraposição à rigidez da
produção fordista e dos processos hierárquicos de subordinação dos trabalhadores. (...)
(Ramalho, 2000: 2)

As teses da “especialização flexível” são retomadas naqueles estudos que tem por
objetivo analisar a flexibilização nas empresas, nos padrões de organização do trabalho, nas
relações inter-firmas, num contexto alternativo ao esgotamento do fordismo e do
taylorismo. Conforme Githay et al, 1997:
“O trabalho pioneiro que desenvolveu o conceito de especialização flexível (Piore
e Sabel, 1984) se refere a duas experiências de organização industrial, diferentes em sua
natureza, que provaram ser eficazes em adaptar as empresas a mercados instáveis e mais
segmentados, por meio de maior flexibilidade e menores custos: as cadeias produtivas
verticalmente integradas, comandadas por grandes empresas, presentes na indústria
automobilística japonesa, e os complexos de pequenas e médias empresas independentes,
geograficamente concentradas em certas regiões do norte da Itália” (Githay, 1997:41)

Também naqueles estudos que analisam as mudanças organizacionais, ressaltam o


surgimento de um novo tipo de inserção do trabalhador, ao tempo que indicam a
segmentação do mercado de trabalho, com a separação entre qualificados e desqualificados
ou inseridos e excluídos, como expõem Paiva et al (1997):
“A racionalidade que parte hoje da produção atinge em cheio o corpo social.
Flexibilidade e modelo de especialização flexível são conceitos cuja adoção pelas firmas
provoca segmentação do mercado de trabalho. A despadronização imbricada na
flexibilidade reintegra tarefas, torna polivalente e multifuncional o trabalhador
responsável pela gestão do fluxo produtivo, demanda trabalho qualificado e modifica de
maneira radical as condições de inserção do trabalho assalariado. E se, tendencialmente,
os que permanecem dentro da estrutura ocupacional experimentam possibilidades de maior
qualificação, de realização profissional e de manutenção de altos padrões de vida,
acentuam-se, por outro lado, os riscos da exclusão do mundo do trabalho formal – como
ressaltam Kern e Schumann (1984) desde meados da década passada – a que podem se
associar não apenas efetiva desqualificação da qualificação preexistente, mas riscos
pessoais de natureza econômica, social e psíquica”. (Paiva, 1997:123)

Para o paradigma da “especialização flexível”, a flexibilidade do trabalho é no


essencial um elemento positivo, à medida que possibilita a inserção, a integração, a
capacitação dos trabalhadores que, convivendo com as novas tecnologias, apreendem com
elas, podem desenvolver múltiplas atividades (polivalência), tornam-se ágeis e dinâmicos
para responder às novas demandas do mercado e, portanto, são dotados de
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empregabilidade. Assim, a flexibilidade é considerada como uma condição necessária dos


novos tempos de reestruturação e de crise do fordismo (ou da produção em série),
considerado um sistema produtivo rígido, pesado, lento e, portanto, que não responde às
rápidas mudanças de hábitos, de novas necessidades e demandas da sociedade. Além de, no
plano da organização do trabalho, o fordismo representar a consolidação do taylorismo, da
rotinização do trabalho e da automatização dos trabalhadores. Processo que seria
radicalmente alterado pela “revolução” provocada pelo trabalho e produção flexíveis.
(Druck, 2005 )
As referências às teses da “acumulação flexível” de D. Harvey são mais frequentes
nos estudos que discutem a crise do fordismo e a flexibilização no quadro das
transformações do sistema capitalista, seja naqueles trabalhos que têm por objeto empírico
as mudanças organizacionais nas empresas ou em setores de atividades, nos estudos sobre
mercado de trabalho, como nos de caráter mais teórico, que buscam desvendar as
metamorfoses no mundo do trabalho e a nova condição de classe dos trabalhadores.
Para Harvey (1992), estaria ocorrendo uma transição histórica, a partir do início dos
anos 70, marcada pela crise do fordismo, com o surgimento de um regime de acumulação
flexível. Alerta, no entanto, que não se trata de uma superação ou substituição do fordismo
por outra forma de regulação, mas que as novas tecnologias e formas organizacionais
flexíveis se combinam com padrões tipicamente fordistas.
Essa transição, que tem, na flexibilização da produção e do trabalho, as mudanças
mais visíveis, só pode ser explicada por um outro fenômeno, qual seja, “... o florescimento
e transformação extraordinários dos mercados financeiros”, com a gradativa hegemonia do
capital financeiro no desenvolvimento do capitalismo na atual conjuntura.
Assim, a crescente flexibilidade do trabalho em todo o mundo capitalista,
evidenciadas na subcontratação, no emprego temporário, nas atividades autônomas –
práticas flexíveis de emprego e dos mercados de trabalho - como formas concretas de
flexibilização que se difundem em todas as atividades e lugares, associadas a processos de
desindustrialização e de descentralização geográfica das fábricas, representam novas
necessidades do sistema num contexto de hegemonia da lógica financeira, que exige maior
mobilidade para os capitais e processos produtivos menos rígidos e cada vez mais flexíveis,
estimulados por investimentos e resultados de curto prazo.
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Segundo Harvey:
“Embora as raízes dessa transição sejam, evidentemente, profundas e
complicadas, sua consistência com uma transição do fordismo para a acumulação flexível
é razoavelmente clara, mesmo que a direção (se que é que há alguma) da causalidade não
o seja. Para começar, o movimento mais flexível do capital acentua o novo, o fugidio, o
efêmero, o fugaz e o contingente da vida moderna, em vez dos valores mais sólidos
implantados na vigência do fordismo. Na medida em que a ação coletiva se tornou, em
conseqüência disso, mais difícil – tendo essa dificuldade constituído, com efeito, a meta
central do impulso de incremento do controle do trabalho - , o individualismo exacerbado
se encaixa no quadro geral como condição necessária, embora não suficiente, da transição
do fordismo para a acumulação flexível.”(...) (Harvey, 1992:161)

As formulações de Harvey estão apoiadas nas principais teses dos autores da Escola
da Regulação Francesa2, que teorizaram sobre o fordismo, seja enquanto padrão de gestão
do trabalho e da produção, seja enquanto um novo modo de regulação do regime de
acumulação. No entanto, as principais contribuições de Harvey estão na compreensão do
processo de crise do fordismo e na sua teorização sobre a transição para o regime de
acumulação flexível.
O trabalho clássico de R. Castel (1995) tem sido referência nos estudos brasileiros
que buscam analisar os processos de flexibilização e precarização do trabalho no âmbito
mundial e também na aplicação de suas principais formulações às metamorfoses do
trabalho no Brasil.
Castel analisa a perda de inserção ou da “condição de assalariado” – a partir da crise
da “sociedade salarial” –, quando a precarização do emprego e do desemprego se insere na
dinâmica do processo de modernização em curso, onde a reestruturação industrial e nas
empresas têm como elemento fundamental a flexibilidade. As empresas adotam a
flexibilidade interna – polivalência, disponibilidade para atender as flutuações da demanda,
que exigem um operário rápido, ágil e flexível – e a flexibilidade externa – através da
subcontratação (ou terceirização). Para o autor, há um processo de “desestabilização dos
estáveis”, de “instalação na precariedade” e de constituição de um “déficit de lugares” na
estrutura social, homens e mulheres que ocupam uma posição de “supranumerário ou de
inúteis para o mundo”. A perda do emprego e/ou de uma inserção estável no emprego cria uma
condição de insegurança e de um modo de vida e de trabalho precários, nos plano objetivo e

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Constituída por um conjunto de autores, dentre os principais: Aglietta ,M, R. Boyer, C. Palloix, A.Lipietz,.
B. Coriat.
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subjetivo, fazendo desenvolver a ruptura dos laços e dos vínculos e assim tornando os trabalhadores
vulneráveis e numa condição social fragilizada, ou de “desfiliação” social.
Para Castel(1998):
O processo de precarização percorre algumas das áreas de emprego estabilizadas
há muito tempo. Novo crescimento dessa vulnerabilidade de massa que, como se viu, havia
sido lentamente afastada. Não há nada de “marginal” nessa dinâmica. Assim como o
pauperismo do século XIX estava inserido no coração da dinâmica da primeira
industrialização, também a precarização do trabalho é um processo central, comandado
pelas novas exigências tecnológico-econômicas da evolução do capitalismo moderno. (...)
(Castel, 1998:526)

As formulações de trabalhos mais recentes de I. Mészáros (2002), amplamente


divulgadas e reafirmadas por Antunes (1999, 2001, 2006) constituem as reflexões sobre o
“capital de nossos dias”, atualizando e contextualizando a lógica que preside as
transformações do trabalho no mundo e que caracterizam uma “crise endêmica”,
cumulativa e permanente, que a diferencia das crises cíclicas abordadas por Marx. Trata-se
de uma crise estrutural do capital, de caráter global e universal, em que a precarização e o
desemprego se tornam a característica dominante do capitalismo, quando:
“...seus conteúdos destrutivos aparecem em cena trazendo uma vingança,
ativando o espectro de uma incontrolabilidade total, em uma forma que prefigura a
autodestruição, tanto do sistema reprodutivo social como da humanidade em
geral”. (Mészáros, apud Antunes, 1999:27)

De acordo com Antunes (1999, p. 30-31):


“... a denominada crise do fordismo e do keynesianismo era a expressão
fenomênica de um quadro crítico mais complexo. Ela exprimia, em seu significado
mais profundo, uma crise estrutural do capital, onde se destacava a tendência
decrescente da taxa de lucro, decorrente dos elementos acima mencionados
[esgotamento do padrão de acumulação taylorista/fordista; hipertrofia da esfera
financeira; maior concentração de capital; crise do welfare state; incremento das
privatizações, generalização das desregulamentações e flexibilização do processo
produtivo, dos mercados e da força de trabalho]

2.2 As principais teses de referência nos estudos franceses


Primeiramente, encontra-se na sociologia do trabalho francesa, uma vasta e rica
produção teórica e empírica sobre flexibilização e precarização do trabalho que remonta ao
início dos anos 1980. Entretanto, em nossa pesquisa, delimitou-se ao levantamento de
trabalhos publicados entre 1990 e 2006, que tinham como foco de análise a “moderna
precarização”, enquanto desdobramento da “crise do emprego” iniciada naquela década.
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Foi, portanto, a partir dos estudos empíricos selecionados que se pode identificar quatro
teses principais referidas nessas pesquisas: 1) as teses de R. Castel, sobre a metamorfose da
condição salarial e da nova questão social determinada pela precarização como processo
social e parte central da dinâmica do moderno capitalismo, já referida nos estudos
brasileiros; 2) as teses da psicodinâmica do trabalho, de C. Dejours,
atualizada/contextualizada em suas pesquisas no quadro de “guerra econômica” criada pela
“utopia liberal”, cujo discurso economicista que naturaliza o fenômeno do desemprego e da
injustiça social como processos inevitáveis, torna-se hegemônico, levando a uma
“banalização” das desigualdades e da precarização em suas mais diferentes formas; 3) a
tese sobre a “precarização social”, compreendida como dupla “institucionalização da
instabilidade” (econômica e social) que atinge o conjunto dos assalariados e que tem na
organização do trabalho e na saúde do trabalhador, o espaço privilegiado de visibilidade
deste processo defendido por A.Thébaud-Mony e B. Appay. e 4) as teses sobre o fim do
trabalho, defendidas fundamentalmente por A. Gorz, e que inspirou outros trabalhos, a
exemplo de D. Méda, que provocaram um interessante debate na França (e também no
Brasil).
O estudo de Robert Castel (1995), conforme já referido anteriormente, superou as
dualidades e dicotomias entre incluídos e excluídos, especialmente entre o trabalho e a
questão social, pois analisa a crise da sociedade salarial e as metamorfoses sociais, como
decorrência da perda da condição de assalariado, à medida que os desempregados de longa
duração, os temporários, intermitentes, estagiários, empregados por tempo determinado são
a “nova” e hegemônica condição dos que vivem do trabalho. Formam uma massa de
homens e mulheres não empregáveis, supérfluos ou aproveitados de forma precária, sem
regularidade, sem segurança, pois não têm garantias de continuidade e de futuro. É essa
condição o centro da “nova questão social”.
No caso da França, diferente do Brasil, a precarização do trabalho representa uma
mudança social radical, pois a “condição salarial” foi construída politicamente, fruto de
lutas e conquistas dos trabalhadores, desde as últimas décadas do séc. XIX até o pós II
Guerra Mundial. Uma condição que articulou trabalho, direitos e proteção social,
transformando o trabalho em objeto de discussão e intervenção pública, descaracterizando-
o como espaço privado das empresas e do capital. Assim, quando essa articulação é
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rompida, constitui-se uma situação de vulnerabilidade social e de “desfiliação”,


compreendida como uma desconexão entre o direito ao trabalho e os direitos sociais.
C. Dejours (1999) e sua formulação da “psicodinâmica do trabalho” dialoga
permanentemente com a sociologia do trabalho, pois reafirma a centralidade do trabalho
nas sociedades contemporâneas, considerando-o como um espaço de construção de
identidades dos indivíduos, conceitualizando a organização do trabalho, como dimensão
central de intersubjetividade onde se dá a divisão de tarefas e a “divisão de homens”, cuja
função pode ser patogênica ou estruturadora do trabalho. E analisa as relações entre
trabalho e saúde, demonstrando a sua evolução histórica, e formula sobre as estratégias
defensivas individuais e coletivas em relação ao sofrimento no trabalho. (Franco, 2004)
Suas pesquisas mais recentes demonstram o processo de precarização do trabalho
como o centro da injustiça social. O desemprego, as formas precárias e inseguras de
inserção e a gestão pelo medo sobre os que continuam empregados – estabelecidos pelas
mudanças mais recentes na organização do trabalho – têm aumentado o sofrimento do
conjunto dos trabalhadores, assim como a sua alienação. A ausência de indignação e a falta
de reação individual e coletiva expressam, por sua vez, uma tolerância inédita para com o
quadro de perdas de direitos e conquistas e de degradação das condições de trabalho
ocorridas nos anos 1990 na França. A hegemonia do discurso economicista a propósito da
inevitabilidade da precarização, isto é, de sua naturalização, foi de certa forma,
interiorizado pelos trabalhadores e suas organizações, principalmente os sindicatos, à
medida que passaram a “banalizar o sofrimento e a injustiça social”.
As pesquisas de Appay na construção civil e de Thébaud-Mony na indústria nuclear
concluíram sobre os mesmos fenômenos: a flexibilização produtiva, através da
subcontratação, implica na fragmentação dos coletivos de trabalho via uma “autonomia
controlada” das pequenas empresas pelas grandes (donner d´ordre3) e um processo de
precarização social do trabalho que atinge todos, mesmo que diferenciadamente, reforçando
as desigualdades sociais.
Formulam então a concepção de precarização social, compreendida como
decorrência de uma “dupla institucionalização da instabilidade”, no sentido de uma

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A expressão francesa para indicar as empresas contratantes. Numa tradução literal: empresas que dão
ordens.
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conjugação entre precarização econômica e precarização da proteção social. A primeira


constituída pela precarização da estrutura produtiva e da precarização salarial (desemprego
em massa, subcontratação, mudanças de estatuto); a segunda formada pela transformação
da legislação do trabalho, redefinindo o direito do trabalho e das empresas e a
transformação do sistema legislativo “fora do trabalho”. No interior dessa dupla
precarização e revelando a intersecção dessa institucionalização da instabilidade, situa-se a
saúde no trabalho, considerada como espaço privilegiado que evidencia e denuncia a
gravidade dessa forma de dominação. (Appay, Thébaud-mony, 1997)
E, por fim, as teses de A. Gorz que são apresentadas originalmente em seu livro
Adeus ao Trabalho, já referidas às transformações no trabalho, como a introdução de novas
tecnologias, novas (des)qualificações, aumento do desemprego e uma diversidade de
formas de inserção no mercado de trabalho, que o levaram a concluir que essa
heterogeneidade entre os trabalhadores, determinaria a perda de sua identidade e a sua
própria existência enquanto classe operária. Posteriormente, em seu livro Metamorfoses do
Trabalho (1988) – uma crítica da razão econômica, Gorz aprofunda a sua crítica e, apoiado
na evolução e aprofundamento do processo de flexibilização e precarização do trabalho na
França, na Europa e no mundo, configurou uma realidade que evidencia a “desintegração
social”, a falta de perspectiva de ações coletivas unitárias em nome da classe trabalhadora,
refletida pela crise dos sindicatos e dos partidos. Para Gorz, mais uma vez, diante da
profunda crise do trabalho, enquanto crise da razão econômica que inventou o trabalho
como valor central, estão dadas as condições objetivas para, com a redução do tempo de
trabalho e a impossibilidade de manter todos trabalhando no atual estágio do capitalismo, se
concretizar outras formas de vínculo social e de integração social, onde o trabalho passe a
ter uma posição subordinada e secundária, ou seja, a construção de uma “sociedade do
tempo livre”.
Nesta mesma linha de análise, situam-se os trabalhos de D. Méda (1995) e B. Perret
(1995). Ambos reafirmam o esgotamento do trabalho, enquanto contingência econômica,
criação do capitalismo e da modernidade. Criticam os conteúdos ontológicos do trabalho,
enquanto essência antropológica dos homens e, especialmente as teses marxistas que
alimentaram essa razão econômica, inclusive ao defender a sua utopia em torno da
centralidade do trabalho e de sua transformação. Assim, na atual conjuntura histórica – de
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crise do emprego – expresso nos processos de desemprego e do esgotamento do estado


providência –, com o fim dos vínculos sociais através dos direitos adquiridos através da
proteção do Estado, que se tornou como condição central e quase única de cidadania, o
trabalho está “em vias de desaparecer, enquanto razão econômica”.
Para esses autores, trata-se de reinventar outros valores, que consigam opor o
trabalho à vida, desvencilhando-se da racionalidade econômica e do domínio da economia:
“... que se auto-proclamou ciência do comportamento do homem em sociedade,
conservando ao mesmo tempo seus pressupostos individualistas e utilitaristas e postulando
a sua universalidade. A economia parece ser uma ciência social geral que trata da
totalidade da vida social” (Méda, 1995: 194)
Na proposição de Méda e Perret é preciso aproveitar a desconstrução do trabalho,
expressa na crise do emprego e dos vínculos sociais por ele criado, para pensar a vida
dotada de um outro sentido, de um novo encantamento, com a reinvenção do político que
ocupe o lugar da razão econômica. (Linhart, 2007)
A contextualização dessas teses, reafirmadas ou criticadas, pode ser melhor
apreendida no uso dos conceitos aplicados nas pesquisas recentes sobre as transformações
do trabalho na França e no Brasil.
3. O debate conceitual sobre flexibilização/flexibilidade e
precarização/precariedade no Brasil e na França

3.1 No Brasil

Nos estudos brasileiros publicados nos entre os anos 1990 e 2000, se encontrou duas
expressões para indicar os mesmos fenômenos, embora apresentando abordagens diferentes
no plano teórico-metodológico, são elas: flexibilização e flexibilidade. Ressalve-se que, em
alguns (poucos) casos, os autores utilizam esses termos como sinônimos.
De acordo com Ramalho:
"Flexibilização" e "flexibilidade" passaram a ser palavras-chave nos textos
explicativos (e no discurso empresarial) sobre os processos de "reestruturação produtiva",
relações de trabalho e mudanças no Estado. Considera-se nesta linha de pensamento a
adequação das formas mais flexíveis de organização da produção e dos processos de
trabalho para lidar com as novas tecnologias, a necessidade de mais flexibilidade em
relação aos salários, à mobilidade dos trabalhadores, às regras de recrutamento, às
regulações do mercado de trabalho, em conjunto com a flexibilidade na estrutura das
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empresas, nas relações entre firmas e na localização dos empreendimentos (Nielsen et alii,
1991:7; Harvey, 1992:141; Mingione, 1998).” (Ramalho, 2000:2)

Os estudos empíricos sobre as transformações do trabalho podem ser reunidos em


quatro grandes grupos: i) os estudos de casos (locais, setoriais, regionais) que privilegiam a
análise dos processos de trabalho, as mudanças tecnológicas e organizacionais e seus
impactos sobre as condições de trabalho e sobre os trabalhadores; ii) os estudos que
analisam a reestruturação do mercado de trabalho, as condições de emprego e a estrutura
ocupacional nas grandes regiões metropolitanas do país; iii) os estudos sobre sindicatos,
que tratam da crise decorrente do processo de flexibilização e iv) os estudos sobre o papel
do Estado no que se refere, centralmente, à regulação ou desregulamentação, através da
legislação do trabalho.
No primeiro grupo, vários são os objetos de pesquisa e análise, resultando numa
pluralidade de temas e recortes, que revelam as diferentes faces da flexibilização no
processo de trabalho. Os estudos sobre terceirização, programas de qualidade total,
inovações tecnológicas/automação, qualificação, saúde ocupacional e ambiental, acidentes
de trabalho, informalidade, programas de demissão voluntária, divisão sexual do trabalho e
as condições de trabalho das mulheres, são os que mais se destacam e os que, explicita ou
implicitamente, discutem o fenômeno da flexibilização.
No segundo grupo, estão reunidas principalmente as pesquisas sobre mercado de
trabalho, enfocando a redefinição da estrutura ocupacional, com recortes de gênero, raça,
gerações, renda, escolaridade, formalidade e informalidade, discutindo as novas condições
de emprego, desemprego, empregabilidade, relações de trabalho e aspectos da legislação
trabalhista.
No terceiro grupo, pode-se incluir os estudos sobre sindicalismo, que têm
desenvolvido uma análise sobre os resultados da reestruturação sobre as formas de
organização e ação coletiva dos trabalhadores nos anos 90.
E no quarto grupo, os trabalhos que têm analisado a flexibilização da legislação do
trabalho nos anos 90, através das mudanças ocorridas na forma de projetos de lei, decretos
e medidas provisórias, e que alteraram significativamente a CLT, bem como as análises
mais recentes sobre as atuais propostas de reforma sindical e trabalhista do atual governo.
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No âmbito do processo de trabalho (gestão/organização), os autores desenvolvem


análises descritivas dos processos de reestruturação, bem como os seus impactos sobre as
condições de trabalho e sobre os trabalhadores, constatando quase que consensualmente,
um processo de precarização ou degradação. Os termos mais referidos para descrever esses
processos são: organização flexível do trabalho, gestão flexível do trabalho, jornada
flexível de trabalho, trabalho flexível, padrão flexível, tempo flexível de trabalho,
trabalhadores flexíveis. Os objetos de estudo das pesquisas são diversos, indicando as
várias expressões da flexibilização do trabalho que podem ser elencadas em:
automação/informatização; círculos de controle de qualidade; gestão participativa; just-in-
time, modelo japonês e toyotismo; neofordismo; pós-fordismo; qualidade total;
terceirização/subcontratação, dentre outros.
As análises no âmbito do mercado de trabalho, que utilizam dados secundários ou
pesquisas pontuais e diretas –, a maioria dos autores apresenta um conceito de
flexibilização do trabalho. Neste caso, várias são as denominações usadas quase como
sinônimos, para identificar e conceber a flexibilização, a exemplo de: desregulamentação
do mercado de trabalho, precarização dos vínculos empregatícios, informalização,
acumulação flexível, especialização flexível, revolução tecnológica, reestruturação
produtiva, globalização, dentre outros. Os recortes mais recorrentes são: a informalidade, o
emprego e o desemprego, a flexibilização da legislação trabalhista, as transformações na
ocupação e o papel do estado, as políticas econômicas e as políticas públicas.
Assim, as concepções sobre flexibilização do trabalho, quando explicitadas,
apresentam conteúdos diferentes, recortes e abordagens que às vezes simplificam demais e
outros que complexificam a análise do mesmo fenômeno. O que têm em comum é que a
flexibilização é produto do processo de reestruturação e constitui um novo “paradigma”,
que procura substituir e superar a crise do “paradigma” fordista, no âmbito da organização
dos processos de trabalho (através da adoção do toyotismo/modelo japonês), no campo da
desregulamentação do mercado de trabalho, da nova forma de intervenção e regulação do
Estado (legislação do trabalho), na “crise” dos sindicatos e nas formas de atuação das
direções sindicais.
No universo dos trabalhos visitados, o termo flexibilização tem o uso mais
recorrente. Os conteúdos mais referidos, mesmo quando analisam as diferentes expressões
15

e dimensões, ressaltam que as transformações no trabalho e no emprego são marcadas


invariavelmente por instabilidade, incerteza, insegurança, imprevisibilidade,
adaptabilidade e riscos.
São condições exigidas, impostas ou construídas por uma nova configuração em
transição, e essa é a diferença em relação ao uso de flexibilidade, que se refere, em geral, a
uma etapa ou situação já constituída ou estabelecida.
O escopo desta nova configuração estabelecida ou em transição varia muito nos
estudos analisados, em decorrência das diferentes abordagens e recortes metodológicos das
pesquisas. Assim, a transição e a nova configuração estão associadas ao capitalismo, às
novas bases de competitividade e produção, aos novos modelos produtivos e de
organização do trabalho, à globalização, às novas políticas nacionais/neoliberais, às novas
formas de regulação do Estado, às relações políticas entre capital e trabalho e,
principalmente, à crise do fordismo e as tentativas de superá-lo.
Um conjunto de autores, dentre os quais me incluo, concebe a flexibilização como
um processo que tem condicionantes macroeconômicos e sociais, derivados de uma nova
fase de mundialização/globalização do sistema capitalista, hegemonizado pela esfera
financeira. A fluidez e volatilidade típicas dos mercados financeiros contaminam toda a
economia e a sociedade, e desta forma, generaliza-se a flexibilização para todos os espaços,
especialmente no campo do trabalho. Fase em que a liberalização e liberdade do mercado
atingem um nível inédito de desenvolvimento. Esse processo mais geral determina e
articula a flexibilização dos processos de trabalho, do mercado de trabalho, das leis
trabalhistas e dos sindicatos, definindo o caráter da reestruturação produtiva mais recente,
especialmente no que se refere à estratégia das empresas na adoção dos novos padrões de
gestão do trabalho (toyotismo, produção enxuta, etc.) (Campos, 2004; Antunes, 1997;
Deddeca, 1997; Ramalho, 2000; Druck, 2001/2002 ; Borges e Filgueiras, 1995 ; e outros)
No que se refere às dimensões ou tipos de flexibilização, os estudos tratam de todos
os espaços (ou dimensões) do trabalho. Aquelas que tratam da flexibilização no mercado de
trabalho demonstram o processo de desregulamentação que o Estado implementou, seja
através de mudanças no plano da legislação trabalhista, com os novos tipos de contratação
permitidos (e legalizados), seja através do desmantelamento da sua capacidade de
16

fiscalização, fruto também de sua própria reforma e reestruturação, que levou ao


enxugamento de seus quadros.
Nos estudos no âmbito do direito do trabalho (Siqueira Neto, 1997, P.36-37):
“O conceito de flexibilização está intimamente ligado ao de desregulamentação.
Como as próprias expressões indicam, para desregulamentar e flexibilizar um dado
sistema de relações de trabalho pressupõe-se a existência de uma regulamentação
inflexível. A desregulamentação dos direitos trabalhistas é o processo pelo qual os mesmos
são derrogados, perdendo a regulamentação. A desregulamentação, na verdade, é um
tipo de flexibilização promovida pela legislação.

Ainda no que se refere à flexibilização do direito do trabalho, Siqueira Neto (1997,


P. 37), afirma que:
... é o conjunto de medidas destinadas a afrouxar, adaptar ou eliminar direitos
trabalhistas de acordo com a realidade econômica e produtiva. Ao menos em tese, não
necessariamente todo tipo de flexibilização demanda uma desregulamentação. Porém, o
receituário neoliberal insiste em vincular a flexibilização à desregulamentação. Não
obstante o aspecto funcional da flexibilização indicado, muitos outros significados
atribuem-se ao assunto

Nesta abordagem, a flexibilização é indissociável da precarização do trabalho e, na


maior parte das pesquisas, revela-se que as formas precárias de inserção passam a ser
predominantes nas principais regiões metropolitanas do país, legais ou ilegais. São
utilizadas como recurso para garantir a flexibilização: contratos por tempo parcial e tempo
determinado e subcontratação de serviços de terceiros (nas mais diversas formas, como
consultorias, cooperativas, micro e pequenas empresas, autônomos, etc), sendo parte do
crescente fenômeno da “informalização” do trabalho. Essa forma ou dimensão da
flexibilização tem sido denominada de quantitativa. A liberdade do patronato em demitir
e/ou usar as formas de contrato precárias encontra sustentação, por um lado, no âmbito
estrito do mercado e suas leis que “impõem” a (todos) capitalistas essas “estratégias de
competitividade” e, por outro, no respaldo do Estado, através dos governos que vêm
aplicando as políticas de cunho neoliberal, ao tempo que reformam a legislação trabalhista
para desregulamentar e liberalizar ainda mais o uso da força de trabalho.
No âmbito do processo de trabalho, a flexibilização se aplica: nos conteúdos
do trabalho, nas jornadas móveis de trabalho (a exemplo do banco de horas e outros), na
remuneração, com os salários flexíveis (parte fixa e parte variável que chega a representar
60% do total e depende das metas/objetivos cumpridos, dos prêmios de produtividade,
17

assiduidade, criatividade, etc) 4; no posto de trabalho, através da multifuncionalidade ou


polivalência; nos conteúdos do trabalho, redefinidos pelas práticas gerenciais e pelas novas
tecnologias, que inauguram procedimentos e comportamentos em intervalos de tempo cada
vez mais curtos; nas formas de gestão e organização inspiradas no toyotismo (onde a lógica
do just-in-time contamina todo o processo de trabalho: hora certa, tempo certo, quantidade
certa e, portanto, erro zero, implicando num controle rigoroso sobre o trabalho, é a
“administração por stress”). São dimensões também classificadas como funcionais ou
qualitativas, cujos efeitos constatados apontam para um processo de intensificação do
trabalho para os que permanecem empregados em condições de maiores riscos de acidentes
e adoecimento.
Pode-se incluir ainda os estudos de Machado (2002), sobre a metamorfose da
informalidade no Brasil, apresentando um esforço teórico para conceituar a nova realidade
(flexível) do trabalho:

Considero que o papel mediador que o ‘quase-conceito’ de informalidade desempenhou


por décadas está decididamente esgotado, e que ele foi – ou está sendo – substituído por
outro, o par ‘empregabilidade/empreendedorismo’. Este aponta, segundo penso, para
novos modos de exploração capitalista, cuja característica mais fundamental é a
individualização e a subjetivação dos controles que organizam a vida social, inclusive a
produção material. Entretanto, deve ser ressaltado que, ao contrário do investimento
crítico que representou o desenvolvimento da noção de informalidade como elemento
significativo da compreensão do mundo social durante sua longa vigência, o par
‘empregabilidade/empreendedorismo’ adquire um sentido oposto, de mecanismo de
convencimento ideológico (ou, se se preferir um termo mais agressivo, de ‘domesticação’)
que se encaminha no sentido de reconstruir uma cultura do trabalho adaptada ao
desemprego, ao risco e a insegurança, que pareciam em vias de eliminação durante ‘os
trinta anos gloriosos’”. (Machado, 2002:100-101)

O uso do termo flexibilidade está mais associado às análises que sustentam a


concepção de pós-fordismo, e que destacam as dimensões e a heterogeneidade na sua
aplicação, a exemplo de Martin (1997), como estudo mais representativo dessa posição:
“Ademais, ao sugerir uma variedade de diferentes práticas como parte da agenda
de flexibilidade da reestruturação produtiva contemporânea, gostaria de evitar a
concepção essencialista de que há – ou deve haver – um único “modelo” de flexibilidade

4
A flexibilização salarial é uma dimensão resultante da articulação entre a reestruturação produtiva
realizada nas empresas –, inspirada no toyotismo, em que a remuneração tem uma (maior) parte variável,
composta por bônus, prêmios, a participação nos lucros e resultados (PLR), e uma parte (cada vez menor)
fixa, sobre a qual incidem os direitos sociais e trabalhistas – e o fim da regulamentação do Estado na forma de
uma política salarial, a partir do Plano Real do Governo Fernando Henrique Cardoso, em 1994.
18

do trabalho. Flexibilidade é uma questão de grau e a referência óbvia que dá sentido ao


termo é um local de trabalho (historicamente existente ou imaginário, dependendo do caso
concreto em questão) caracterizado por “rigidez” em todas ou quase todas estas quatro
dimensões. Para simplificar, discutirei “sistemas de trabalhos flexíveis” e as transições em
direção a eles. Porém, não quero sugerir que alcançaram o topo de algum continuum
evolucionista ou chegaram a um estado fixo, mas sim que atravessaram certo umbral
(ainda que definido de forma nebulosa) entre um sistema de trabalho (mais) rígido e outro
(mais) flexível. Além disso, ao ressaltar o fato de que a flexibilidade pode se dar de forma
mais ou menos opressiva, mais ou menos inclusiva ou participativa, meu propósito é
sugerir que as práticas flexíveis podem ser incorporadas numa grande variedade de
diferentes formas de relações sociais.” (Martin, 1997:12-13)

Numa mesma perspectiva, mas sob outra abordagem, destacam-se os trabalhos de


Salerno (1995) e Nascimento et al (2002). Para o primeiro, a análise tem como sujeito o
sistema de produção, determinado pela relação produto-processo-mercado em contextos
diversos de competitividade, cuja diversidade vai demandar diferentes tipos de
flexibilidade. Assim:
…. flexibilidade não é uma propriedade única e homogênea dos sistemas de
produção e de que as necessidades de flexibilidade, além de historicamente delimitadas -
as do início da produção em massa, no começo do século, não são mesmas de hoje -, não
se apresentam de forma homogênea, nem no tecido industrial, nem mesmo no interior de
uma dada fábrica. Elas vão depender, entre outros, do tipo de produto, do tipo de processo,
do tipo de mercado (relação produto-processo-mercado), do tipo de estratégia competitiva
praticada implícita ou explicitamente, da organização e das relações de trabalho. "
(Salerno 1995: 57)

Concepção que o leva a classificar oito tipos de flexibilidade, tendo como parâmetro
a variabilidade dos processos internos e externos à empresa, enquanto lócus central onde
opera o sistema produtivo: flexibilidade social extra-empresa; flexibilidade estratégica;
flexibilidade de volume; flexibilidade de gama (de parte, família, para mudanças na linha
de produtos); flexibilidade de mix; flexibilidade para operações sazonais; flexibilidade para
suportar mau funcionamento do sistema produtivo; flexibilidade para suportar erros de
previsão.
Para Nascimento et al (2002) a flexibilidade do trabalho é considerada como central
no contexto do processo de globalização, de reestruturação produtiva e de aplicação de um
projeto econômico neoliberal em paises como o Brasil nos anos 1990. No entanto
compreende que:
O conceito de flexibilidade está associado à conjunção de diversas variáveis, que
abrangem tanto o contexto político, econômico, geográfico e social no qual as firmas estão
19

inseridas como também as características internas de cada empresa específica. Deste


modo, podemos deduzir que não é possível estabelecer uma definição geral de
flexibilidade, mas sim, só é possível defini-la considerando-se um dado contexto, no qual
interagem critérios de avaliação extra e intra empresa. (Nascimento et al, 2002: 6)

Consideração que leva a discutir os tipos de flexibilidade. Para os autores, existem


fundamentalmente dois tipos: aquela determinada por fatores externos, a exemplo da
desregulamentação através da legislação trabalhista; fragilização dos sindicatos; difusão da
subcontratação /terceirização e adoção de novos sistemas produtivos; e o outro tipo
constituído pelas mudanças organizacionais e tecnológicas, inspiradas na produção enxuta,
que redefine a inserção e o tipo de trabalhador (mais flexível) exigido pelo novo padrão.
Diferentemente do uso diverso de flexibilização e flexibilidade, no Brasil, os
estudos tratam a precarização e precariedade como idênticos ou como sinônimos. O debate
acerca da precarização do trabalho se refere, fundamentalmente, aos resultados e impactos
da flexibilização, cujas noções que marcam as análises são: fragmentação, segmentação dos
trabalhadores; heterogeneidade; individualização; fragilização dos coletivos;
informalização do trabalho; fragilização e crise dos sindicatos; e, a mais importante delas, a
idéia de perda – de direitos de todo tipo – e da degradação das condições de saúde e de
trabalho. Noções que dão conteúdo à idéia de precarização, considerada como a implicação
mais forte da flexibilização.
Franco, Druck e Borges (1994), analisando os impactos do padrão japonês de
organização do trabalho da indústria petroquímica da Bahia, verificam que, além das perdas
de direitos sociais e do desemprego resultantes da flexibilização do trabalho, há uma
crescente precarização evidenciada pelo aumento das doenças ocupacionais e dos acidentes
de trabalho, num quadro de externalização social e política das responsabilidades sobre os
danos causados à saúde no trabalho, através da terceirização que oculta, pois transfere os
riscos e a maior incidência de doenças e acidentes para os trabalhadores subcontratados
que, em geral, não são registrados, não existem como trabalhadores, muito menos como
doentes ou acidentados nas empresas (contratantes) em que trabalham. Trata-se de uma “...
forma moderna de flexibilizar o trabalho, [que] na verdade, tem sido também a forma
moderna de dar invisibilidade ao mundo real do trabalho". (Franco; Druck e Borges, 1994:
87).
20

Os estudos sobre o trabalho feminino e sobre saúde do trabalhador (Hirata, Brito,


Franco, dentre outros), têm destacado que o atual processo de precarização se evidencia
mais fortemente entre as mulheres, porque historicamente são submetidas a condições mais
precárias de trabalho, ocupando lugares “marginais” na estrutura ocupacional e de
rendimentos, quando comparadas aos trabalhadores. No entanto reconhecem que essa
precarização, embora atinja diferenciadamente homens e mulheres, tornou-se um processo
social como parte da dinâmica central do atual desenvolvimento do capitalismo, atingindo o
conjunto dos trabalhadores.
No caso da saúde do trabalhador, essa capacidade de generalização da precarização
é mais contundente ainda, pois para além dos adoecidos e acidentados, que são o resultado
mais visível das diferentes formas de precarização do trabalho, cujos resultados empíricos
são inquestionáveis, através do aumento do número de acidentes, doenças ocupacionais, e
suicídios; constata-se que há um adoecimento social, que potencializa, através da
precarização do trabalho, fragilidades e vulnerabilidades referentes à vida do conjunto dos
que trabalham para sobreviver, atingindo a todos indiscriminadamente: empregados e
desempregados, pois sofrem a condição de insegurança e instabilidade, misturados com
impotência, revolta e resignação.
È interessante observar que no caso de alguns estudos temáticos, conforme os
referidos acima, como de estudos setoriais, a discussão sobre a precariedade/precarização é
apresentada como uma dupla transformação do trabalho, isto é, as mudanças na
organização e gestão do trabalho e aquelas relativas às diferentes formas de emprego e de
inserção. Assim, conforme Franco at al (1994):

“[...] pode-se afirmar que os resultados destas práticas de gestão têm se constituído por
dois movimentos: por um lado, pela exclusão do mundo do trabalho, através das
demissões – do desemprego. E, por outro, pela exclusão no mundo do trabalho, com a
precarização nas relações formais de trabalho, com a deterioração das condições de
trabalho, onde os riscos, já típicos deste ambiente fabril, são agravados pela crescente
contratação de serviços de terceiros em atividades nucleares da indústria.” (Franco at
al, 1994:80)

Também na visão de Hirata (1998):

Assistimos, hoje, a uma dupla transformação do trabalho, tanto quanto ao


conteúdo da atividade como quanto às formas de emprego - transformação
aparentemente paradoxal, pois esse duplo processo ocorre em sentidos opostos. De um
21

lado, para a realização desses novos modelos, há uma exigência de estabilização, de


implicação do sujeito no processo de trabalho, através de atividades que requerem
autonomia, iniciativa, responsabilidade, comunicação ou ‘intercompreensão’ (Zarifian,
1996). Por outro lado, verifica-se um processo de ‘instabilização’, de precarização dos
laços empregatícios, com o aumento do desemprego prolongado, das formas de emprego
precário, da flexibilidade no uso da mão-de-obra. ” (Hirata 1998: 7-8)

Ainda para Brito (2000):

(...) A precarização pode ser definida de maneira descritiva tanto em relação


às novas formas de emprego, designadas com atípicas, quanto em relação às condições
de trabalho em função do enfraquecimento ou perda de direitos sociais, sindicais, de
prevenção e de reparação dos riscos. Inclui o trabalho a domicílio, a terceirização, o
trabalho em tempo parcial, o trabalho informal, os contratos temporários, o trabalho
sazonal, mas também designa aquele nos quais a organização é rígida e é intenso o
sofrimento físico e mental (Thébaud-Mony, 1994). (...) (Brito, 2000:200)

No entanto, é possível afirmar que esses conteúdos da precarização também


são referidos à flexibilização, o que dificulta, muitas vezes, identificar as diferenças
conceituais entre uma e outra.

Conforme Borges et al (1997):

“A flexibilização do trabalho resultante da implementação destes novos


padrões de gestão, além de ‘deformar’ ou questionar os coletivos de trabalhadores, de
aprofundar a ‘anarquia’ do mercado de trabalho, começa a produzir um novo tipo de
trabalhador que, se já existia desde os primórdios do capitalismo, fazia parte de
pequenos coletivos que estavam subordinados à grande massa de trabalhadores que a
própria Revolução Industrial havia criado. Agora, neste novo contexto da chamada
Terceira Revolução Industrial, a situação se inverte, pois está em construção uma massa
de trabalhadores, cuja relação com o trabalho é extremamente instável, frágil, dispersa –
à medida que a precariedade, a rotatividade, a descontinuidade é que dão conteúdo ao
trabalho.” (Borges et al, 1997:44)

Em síntese, observa-se que o conteúdo referido nos estudos brasileiros é o mesmo


que grande parte dos estudos franceses trata como precarização do trabalho, conforme se
verá a seguir. Compreendido como um processo social constituído por uma amplificação e
institucionalização da instabilidade e da insegurança, expressa nas novas formas de
organização do trabalho – onde a terceirização/subcontratação ocupa um lugar central – e
no recuo do papel do Estado como regulador do mercado de trabalho e da proteção social,
através das inovações da legislação do trabalho e previdenciária. Um processo que atinge
todos os trabalhadores, independentemente de seu estatuto, e que tem levado a uma
22

crescente degradação das condições de trabalho, da saúde (e da vida) dos trabalhadores e da


vitalidade da ação sindical. (Thébaud- Mony, Druck, 2007)
3.2 Na França
Barbier (2002) recupera a história dos diferentes significados da expressão
precariedade nos estudos franceses e apresenta quatro usos distintos: 1º) como uma noção
específica relacionada a problemas sociais, que surge nos anos 1970, e se refere a uma
condição social de vulnerabilidade e de instabilidade das famílias. Termo utilizado
essencialmente nos estudos sobre pobreza, sobre as redes de solidariedade entre as famílias
e à assistência social daí decorrente e, portanto, não referidos ao emprego e trabalho; 2º)
para se referir à emergência das “novas formas de emprego” ou empregos atípicos
(contratos por tempo determinado, etc.), no final dos anos 1970, quando a crise do emprego
e do Estado providência se manifesta; 3º) A partir do início dos anos 1980, assume o status
de categoria usada nas estatísticas e estudos do mercado de trabalho e também na legislação
e na administração pública, inclusive é inserida no “Código do Trabalho” como os
5
contratos de emprego precários. e 4º) mais recentemente, alguns estudiosos passam a
conceber o processo de precarização como um processo social presente em toda a
sociedade. A partir daí, as noções de vulnerabilidade e fragilidade são reconfiguradas
porque referidas à precariedade do emprego e do trabalho, assim como alguns estudos vão
demonstrar a crise da “sociedade salarial” (fordismo) e a precarização do trabalho como
central para explicar a moderna dinâmica da sociedade e a metamorfose da questão social.
(Thébaud-mony e Druck, 2007)
Hirata e Pretéceille (2002), sintetizando o debate atual sobre a precarização
socioeconômica na França, afirmam que os estudos apontam a desestabilização dos
assalariados, para além do mundo estritamente operário, à medida que constatam a perda
de direitos, a partir da crise do Estado Providência, da redução da proteção social, das
mudanças organizacionais que estabelecem a insegurança e a incerteza como regra, dos
contratos precários e da crescente prática de externalização ou subcontratação. Em
decorrência, apontam a intensificação do trabalho e dos riscos crescentes de acidentes e
adoecimento, levando a uma precarização da saúde dos trabalhadores, precarização que tem

5
Em 1994, uma circular ministerial exigiu a substituição de “empregos precários” por “novas formas de
emprego”, numa clara tentativa de dar uma “invisibilidade conceitual” a um processo crescente de
precarização (Appay, 2005)
23

atingindo especialmente as mulheres, os jovens, mas também os trabalhadores qualificados


de altos postos.
Assim, a insegurança no emprego e sua precarização são causas da vulnerabilidade
social, da perda de vínculos e referências de inserção, ou de "lugares" (CASTEL, 1998).
Um quadro de precarização social como "regra" que redefine a situação conjugal e familiar,
que altera as relações entre gerações, dificultando a transmissão de valores apreendidos
com uma outra inserção profissional, mais estável, mais segura, que já não se encontra mais
no "emprego flexível" para os jovens, assim como, não pode mais ser garantia de inserção e
de valorização frente ao desemprego como ameaça permanente. (Hirata e Pretéceille, 2002)
Para além da história do uso do termo, conforme já referido anteriormente por
Barbier, os estudos franceses reconhecem a centralidade do trabalho em todas as suas
dimensões como lócus da precarização social, que passa a guiar parte das pesquisas sobre o
tema. No entanto, há divergências nas concepções de precarização e/ou precariedade.
Appay (1997) critica o uso do termo precariedade por estudiosos franceses, que o tem
utilizado para se referir aos empregos "atípicos" (ou "novas formas de emprego") em
oposição aos empregos "típicos", numa clara indicação de que os empregos "típicos" não
estariam sendo colocados em questão, o que leva a ocultar o que Bourdieu busca revelar,
isto é: a "precariedade está hoje por toda parte" (Bourdieu, 1998)
Para Bourdieu, a flexibilidade é uma "estratégia de precarização", inspirada por
razões econômicas e políticas, produto de uma "vontade política" e não de uma "fatalidade
econômica", que seria dada, supostamente, pela mundialização. Considera a precarização
como um regime político (...) inscrita num modo de dominação de tipo novo, fundado na
instituição de uma situação generalizada e permanente de insegurança, visando obrigar os
trabalhadores à submissão, à aceitação da exploração" (Bourdieu, 1998:124-125). Esse
regime é constituído por vontades (ativas ou passivas) de poderes políticos e, portanto, não
pode ser explicada por "leis inflexíveis" de um regime econômico, mas sim, por escolhas
orientadas para preservar a dominação cada vez mais completa do trabalho e dos
trabalhadores.
Hirata e Preteceille (2002) destacam ainda uma especificidade da literatura francesa
sobre a precarização: o peso dos estudos que tratam da relação trabalho e saúde, que
evidenciam de forma contundente as consequências da precarização social e do trabalho
24

sobre a vida dos trabalhadores.


Neste campo de estudos, destacam-se os trabalhos de Beatrice Appay e Annie
Thébaud-Mony (1997) que afirmam que no contexto da reestruturação contemporânea, a
busca por competitividade das empresas corresponde um "processo multidimensional de
instabilidade", em geral compreendido ou denominado como "precarização social".
Appay e Thébaud-Mony (1997) ressaltam que as pesquisas recentes nos mais
diferentes setores de atividades e processos de trabalho, especialmente sobre o trabalho das
mulheres e sobre a saúde no trabalho, sugerem que a precarização atual assume algumas
características singulares, ou seja, são formas de precariedade "educadas", "normalizadas"
ou "institucionalizadas" e, portanto, muito diferente da precariedade em outras épocas do
capitalismo. É como se houvesse um "consenso social" que legitima um processo de
normalização do estatuto de empregos desvalorizados, precarizados pela flexibilização dos
tempos de trabalho e das formas de emprego ou da aceitação - como "normal" - do
desemprego em massa. (Appay; Thébaud- Mony, 1997)
Análise que tem alguma correspondência com as formulações de Dejours (1999), ao
explicar a “banalização da injustiça social”, quando as reações individuais e coletivas entre
sofrimento e injustiça pendem para uma resignação frente a fenômenos como o desemprego
e às formas precárias de inserção, considerados como fatalidade, como uma epidemia e,
portanto, inevitáveis. Para Dejours, também a precariedade não atinge somente os
trabalhadores que hoje se encontram numa inserção precária ou numa condição de
desempregados, pois aqueles que permanecem trabalhando, mesmo que através de um
contrato de duração indeterminada (CDI), estão sob ameaça permanente de perder essa
condição, é a gestão através do medo ou da insegurança, conforme diria Bourdieu (1998).
Por isso, Dejours opta pelo termo precarização, que segundo ele tem os seguintes
resultados revelados pelas pesquisas: i) intensificação do trabalho e aumento do sofrimento
subjetivo, ii) neutralização da mobilização coletiva contra o sofrimento, alienação e a
dominação, iii) estratégia defensiva do silêncio, da cegueira e da surdez como “resistência”
no sentido de “agüentar” sem expressar o seu sofrimento e sem reconhecer o sofrimento do
outro, já que “não se pode fazer nada”, iv) o individualismo exacerbado pela ameaça de
demissão e de perda do estatuto, é “cada um por si”. (Dejours, 1999, p. 51)
Em artigo mais recente, Dejours (2006) problematiza a noção de flexibilidade.
25

Segundo ele, a flexibilidade do emprego é o poder de modificar, em função de


determinadas necessidades e circunstâncias, as características do emprego, enquanto que a
flexibilidade do trabalho é o poder de modificar a organização do trabalho em resposta às
necessidades e ao mercado. Já a flexibilidade de uma pessoa é a sua capacidade psicológica
de adaptação às (novas) exigências, isto é, a sua docilidade para se submeter às (novas)
ordens. Considera, portanto, que a flexibilidade é inevitável e inerente ao capitalismo.
Difere radicalmente da precariedade e da precarização dos estatutos que acompanha as
decisões em favor da flexibilidade, que tem impactos perversos sobre a saúde dos
trabalhadores e desestrutura os fundamentos da vida em conjunto na sociedade.
Entretanto, quando analisa o contexto atual a partir das pesquisas por ele realizadas
em empresas públicas e privadas na França, conclui que: a flexibilidade assumiu uma nova
conotação e passa de “seus próprios limites”. Isso porque ela passa a designar a forma que
toma a dominação social, que hoje se dá especificamente pela organização do trabalho e
sua transformação, isto é, pela empresa enquanto centro estratégico dessa nova dominação
social. Para Dejour, há uma centralidade política do trabalho, à medida que trabalhar não é
só produzir, mas também viver junto, pois uns trabalham para os outros, submetidos a
regras que organizam a sociabilidade entre os homens. Neste sentido, a precarização é uma
escolha política por um método organizacional que tem por objetivo aumentar a dominação
mesmo que em detrimento da segurança e da eficiência das condições técnicas de trabalho.
Conclusão que formula com base em pesquisa na indústria nuclear francesa, que adota a
subcontratação nas atividades de manutenção, sem qualquer redução de custos, mas
motivada politicamente pela racionalização e aumento da dominação, já que fraciona os
trabalhadores e os sindicatos e assegura uma mão-de-obra dócil e flexível. (Dejours, 2006)
Thébaud-Mony (2000), estudiosa da indústria nuclear e da subcontratação desde a
década de 1980, demonstra que a flexibilidade é central nos processos de reestruturação das
empresas francesas desde os anos 1970/1980 e é compreendida como sinônimo de
precarização. Segundo a autora,
“... a palavra [flexibilidade] esconde/mascara os fenômenos materiais reais dos
quais é feita: a intensificação do trabalho, fragmentação dos coletivos de trabalho,
instalação de um desemprego estrutural, recurso ao trabalho temporário e à
subcontratação. (...) (Thébaud-mony, 2000:4, tradução livre).

No caso estudado - a subcontratação na indústria nuclear -, Thébaud-Mony conclui


26

sobre um processo que vai da precariedade à precarização, à medida que as mudanças nos
modelos organizacionais num quadro econômico internacional de acirrada concorrência,
estão pautadas num regime de "urgência produtiva", que tem implicado numa tríplice
flexibilidade: dos empregos (trabalho sazonal e temporário, subcontratação, desemprego
temporário, etc); dos tempos de trabalho (anarquia dos horários diários, semanais e anuais,
intensificação do trabalho) e da vida familiar (apoiados na divisão sexual do trabalho
clássica, em que as mulheres são responsáveis pela gestão da família, disponibilizando os
homens para qualquer horário de trabalho, ou qualquer lugar ou qualquer forma de
inserção). Mudanças que fazem generalizar a precarização para todos os segmentos de
trabalhadores: subcontratados, efetivos, temporários, por tempo integral, etc.
As principais implicações dessa tripla flexibilidade são aquelas constatadas no
âmbito do adoecimento e dos acidentes de trabalho, que compõem o quadro da saúde no
trabalho, demonstrado pelas pesquisas na indústria nuclear (Lallier, 1997; Huez et al., 1997;
Thébaud-mony, 1994,1997, 2000, Dejour, 2006), e em outros estudos do setor industrial na
França (Gorgeu; Mathieu, 1997).
No que se refere ao conceito de flexibilização, Appay (1997) critica o paradigma da
flexibilidade positiva, que ocupa um lugar central de legitimação das transformações sociais
e econômicas atuais e que considera a flexibilização como "o" caminho - obrigatório - para
sair da crise e conquistar um futuro melhor. Neste contexto, flexibilização é "... definida
como um conjunto de processos característicos da adaptação das estruturas produtivas e
institucionais, das mentalidades e dos comportamentos às novas "regras" econômicas e
políticas da concorrência internacional." (Appay, 1997:168, grifos meus).
A inexorabilidade defendida na flexibilidade positiva constitui o substrato
ideológico das atitudes políticas sustentadas na impotência e "nas boas intenções" que,
segundo Appay, contaminou inclusive a esquerda na França, auxiliando na legitimação
desse processo de submissão a uma ordem econômica dominante e suas conseqüências
desastrosas em termos de desemprego e de precarização generalizada do trabalho e da vida.
Outros autores, dentre eles Renault (2006), ressaltam o embate ideológico presente
no uso dos termos flexibilidade e precariedade, já que são termos que designam um
conjunto de transformações sociais no interior das quais disputam diferentes projetos
políticos. De um lado, as instituições representativas do empresariado francês, como a
27

MEDEF (Mouvement des Entreprises de France), que defende a flexibilidade e a


precariedade como valores (naturais) da modernidade: “... a vida, a saúde, o amor são
precários, por que o trabalho escaparia dessa lei?” (Laurance Parisot, presidente da
MEDEF, 2005) (apud Ranault, 2006:40). De outro lado, os movimentos sociais, a exemplo
das grandes mobilizações de massa que ocuparam as ruas, as escolas e as universidades
francesas, na luta contra o CPE (Contrat de Première Emploi), em 2006, numa evidente
demonstração do caráter social e político da precarização social do trabalho, por iniciativa
do governo francês, que foi forçado a recuar e retirar o seu projeto da Assembléia Nacional.

Em recente seminário6, Appay historia o debate acerca da precarização social, fruto


de pesquisas e jornadas de trabalho, em desenvolvimento desde 1994, tendo como ponto
alto o “Seminaire Travail, Precarisation sociale e santé”, realizado em 1996 em Paris, e
que resultou numa coletânea dos trabalhos apresentados, sob a coordenação de Thébaud-
Mony e Appay. 7
Assim, dez anos após, as pesquisas confirmam os principais resultados e hipóteses
levantadas e, mais do que isso, os problemas centrais permanecem e se aprofundam. O
recurso à subcontratação, como elemento central da precarização e da mudança de estatuto
da “condição de assalariado”, se expande e se generaliza, reforçando a noção etimológica
da palavra precário, do latim precarius, “o que é obtido pela prece”, isto é, aquele que se
subordina à vontade e ao poder de outro (ou de Deus) implorando obter algo desse outro
todo-poderoso. (Appay, 2001)
Em um estudo sobre “precários e desempregados” e suas trajetórias, Perrin (2004)
confirma a generalização da precariedade que, assim como a pobreza é também
multidimensional, exemplificando as várias dimensões encontradas em suas pesquisa: a
precariedade do emprego, a precariedade da renda, a instabilidade de recursos, a
precariedade de moradia, o risco de perder a sua moradia, a precariedade da saúde, a
precariedade afetiva (rupturas conjugais e familiar).
Bourdieu (1998), ao afirmar sobre a onipresença da precariedade em todos os
setores, em todos os “cérebros”, em todos os momentos, diz também que os homens e
6
GTMS/IRESCO, fev 2007
7
Nesta coletânea, de 1997, foram publicados os trabalhos de 36 autores de diversas áreas do conhecimento no
âmbito das ciências humanas, cuja diversidade de enfoques e objetos de pesquisa não só enriqueceram as
análises pelas revelações dos estudos empíricos, como depõem sobre a generalização da precarização como
processo social.
28

mulheres expostos a ela perdem a possibilidade de se antecipar racionalmente diante de um


futuro incerto e perdem o mínimo de esperança e crença no futuro, “... que é preciso ter
para se revoltar, sobretudo coletivamente, contra o presente, mesmo o mais intolerável” (p.
120). Transforma-se num tormento nas consciências de todos, indistintamente, mesmo nos
(ainda) empregados, porque percebem que diante de um imenso exército de reserva, não
são insubstituíveis e ainda são permanentemente ameaçados e acusados (por seus
empregadores) de privilegiados frente aos sem emprego. Para Bourdieu (1998, p.121): “A
insegurança objetiva funda uma insegurança subjetiva generalizada, que afeta hoje, no
cerne de uma economia altamente desenvolvida, o conjunto dos trabalhadores e até
aqueles que não estão ou ainda não foram diretamente atingidos.”
É nesta perspectiva que Perrin (2004) analisa a condição de precários e
desempregados, como “modos de subordinação” no novo contexto econômico do
capitalismo flexível e mundializado, em que os trabalhadores se sujeitam ao “tempo
produtivo” (ou à lógica produtiva imposta pelas empresas) por medo da perda do emprego,
pela insegurança, que se transformaram em mecanismos de controle social sobre o
conjunto das esferas da vida dos trabalhadores.
As pesquisas de S. Baud e M. Pialoux (1999) em empresas do setor automobilístico
sobre a (nova) condição operária, indicam que as novas formas de dominação simbólica
reiteram as antigas formas de exploração, à medida que há uma condição de
vulnerabilidade objetiva e subjetiva dos assalariados, que trabalham “sob o medo”, já que a
ameaça do desemprego e a precariedade é constante para todos, embora os operários, as
mulheres e os jovens sejam os mais atingidos. Além disso, os operários típicos estão sendo
descaracterizados, pois ameaçados de desaparecimento como um grupo social, em função
da redução dos empregos operários e de uma desvalorização simbólica de sua condição,
expressos nos sentimentos de angústia, medo, vulnerabilidade e insegurança, que
contaminam seus filhos e sua família, deixando de ser uma referência a ser seguida. Os
autores apontam que essa “desestabilização do mundo operário” foi provocada pelas
transformações do trabalho com a adoção do padrão japonês de organização do trabalho,
cujas práticas estão ancoradas numa desvalorização dos “métiers” operários, inclusive
através da escola e do ensino profissional.
Também afirmam a existência de diferentes dimensões da precariedade, as
29

pesquisas de Paugam (2000). Para ele, existem duas dimensões fundamentais: 1)


precariedade do trabalho, aquela que se inscreve na lógica produtiva da sociedade
industrial, quando o assalariado é precário porque seu trabalho lhe é sem interesse, sem
retribuição e sem reconhecimento, levando-lhe a um sentimento de inutilidade para a
empresa; 2) precariedade do emprego, se remete à proteção do Estado-providência, nesse
caso o assalariado também é precário porque não tem segurança em seu emprego e ele não
pode prever seu futuro profissional, situação típica dos contratos de curta duração, mas
também dos que estão em risco permanente de serem demitidos. Condição que gera uma
forte vulnerabilidade econômica e de perda de direitos sociais, situando esses trabalhadores
numa posição inferior na hierarquia dos estatutos sociais definida pelo Estado-providência.
Embora apresentadas como dimensões distintas, Paugam reitera a necessidade de estudá-las
simultaneamente, pois elas decorrem da evolução estrutural da organização do trabalho e
das transformações do mercado de trabalho.
Em pesquisa realizada em 15 empresas na França, Paugam (2000) formula uma
classificação das formas de “integração profissional” vivida pelos trabalhadores: 1.
integração assegurada: conjuga estabilidade no emprego e satisfação no trabalho; 2.
integração incerta: quando condições de trabalho são satisfatórias, mas o emprego está
ameaçado; 3. integração laboriosa: agrupa situações de forte descontentamento no
trabalho, mas relativa proteção diante das incertezas do emprego e 4. integração
desqualificante: quando se combinam insatisfação no trabalho com insegurança no
emprego.
Essa diversidade da condição vivida pelos trabalhadores franceses demonstra, em
primeiro lugar, a heterogeneidade e a fragmentação resultantes do processo de precarização
do trabalho e do emprego, situação que dificulta, no plano da subjetividade individual e
coletiva, formas de reação unitárias e coletivas. Ao tempo que evidencia, mesmo que em
graus diversos, a tendência hegemônica da precarização cujo sentido fundamental está dado
pela insegurança presente e futura da inserção ou “integração profissional” dos
trabalhadores.
Em síntese, as noções de flexibilização/flexibilidade e precarização/precariedade
nos estudos franceses aqui sistematizados, têm em comum com os estudos brasileiros, os
conteúdos mais centrais referidos para o conjunto dos trabalhadores no contexto das
30

transformações da organização do trabalho e dos direitos sociais e trabalhistas redefinidos


pelo estado: a insegurança, a instabilidade, o medo, a perda, a vulnerabilidade.
Para alguns autores, trata-se de uma precariedade instalada e institucionalizada,
constituída pelos segmentos “excluídos”, atingidos pelos “empregos atípicos”, pelos
“desempregados”, um estado de vulnerabilidade dessas populações, representadas
especialmente pelos jovens, pelas mulheres e pelos imigrantes. Nessa concepção ainda se
mantém uma dualidade entre os precários e os que ainda permanecem empregados (com
contratos de duração indeterminada). Entretanto, para a maior parte dos estudiosos, a
precarização é compreendida como um processo social mais amplo que atinge o conjunto
dos trabalhadores, independente de seu estatuto de emprego. Um processo que se constitui
numa nova forma de dominação social, conforme já referido anteriormente.
4. As formas de flexibilização e de precarização na França e no Brasil – alguns
dados da realidade do trabalho8
O processo de flexibilização da legislação do trabalho na França é um elemento
central para se compreender o enfraquecimento do Estado de bem-estar-social nesse país,
comprovando uma “institucionalização da instabilidade” (Thébaud-Mony, Appay, 1997).
Atualmente, a França conta com 19 tipos de contratos de trabalho, sob a responsabilidade
do Ministério do Emprego, da Coesão Social e da Moradia (Ministère de l'emploi, de la
9
cohésion sociale et du longement). A maior parte dessas formas de contrato é
relativamente recente, datando dos anos 1980 e 1990, período em que se expandiu o
processo de flexibilização produtiva das empresas, combinado com a implementação de
políticas de cunho neoliberal. De fato, pode-se considerar que nesse universo de contratos,

8
Essa seção final do texto é uma versão modificada de parte do capítulo “ Terceirização: a erosão dos direitos
dos trabalhadores na França e no Brasil”, Thébaud-Mony e Druck, publicado no livro Druck,G. e Fanco, T.
(org.) A perda da razão social do trabalho: terceirização e precarização, SP, Ed. Boitempo, Coleção Mundo
do Trabalho, 2007.
9
Le contrat de travail à durée indéterminée (CDI), Le contrat d’apprentissage, Le contrat insertion - revenu
minimum d’activité (CI-RMA), Le contrat d’insertion dans la vie sociale (CIVIS), Le contrat nouvelles
embauches (CNE), Le PACTE (parcours d’accès aux carrières territoriales, hospitalières et de l’Etat), Le
départ négocié et la transaction, Le contrat initiative-emploi (CIE), (Contrats conclus jusqu’au 30 avril
2005), Soutien à l’emploi des jeunes en entreprise » (SEJE) - (Contrat « Jeunes en Entreprises »), Le contrat
d’acces à l’emploi (CAE), Le contrat d’avenir, Le contrat d’accompagnement dans l’emploi, Le contrat
initiative-emploi rénové (CIE) (Contrats conclus depuis le premier mai 2005), Le contrat de
professionnalisation, Le contrat vendanges, Le contrat de travail intermittent, Le contrat de travail à temps
partiel, Le contrat de travail temporaire, Le contrat de travail à durée déterminée (CDD) (Ministère de
l'emploi, de la cohésion sociale et du logement, 2007)
31

sete são os principais: Contrato de trabalho de duração indeterminada (CDI); Contrato de


duração determinada (CDD); Contrato de trabalho intermitente; Contrato de trabalho de
tempo parcial; Contrato de trabalho temporário; Contrato para novos empregos (CNE) e o
Contrato de Inserção – renda mínima de atividade (CI-RMA).
Segundo a definição do próprio Ministério, o CDI – Contrato de Duração
Indeterminada, é “a forma normal de contrato de trabalho”, e é recomendada aos
empregadores, salvo em situações que as empresas justifiquem a necessidade de recorrer a
outro tipo, como o CDD – Contrato de Duração Determinada e o Contrato temporário.
Segundo Ray (1997) os “novos” tipos de contrato de trabalho – já foi uma
denominação que substituiu a de contrato de emprego, (já que esse último se referia ao
CDI, considerado como emprego regular e normal, e os demais são tidos como “bicos”,
como atividades temporárias e esporádicas). Situação que se desenvolve desde a segunda
metade dos anos 1980 e nos anos 1990, quando grande parte dos novos contratos foi
estabelecida, e também quando algumas normas e leis que alteraram o Código do Trabalho,
flexibilizaram ou retiraram a “excepcionalidade” no uso de determinados contratos. Até
meados dos anos oitenta, as empresas não podiam demitir assalariados em CDI sem prova,
seja de uma falta grave do trabalhador, seja por causa de grandes dificuldades econômicas e
ainda assim dependiam de autorização da fiscalização do trabalho para fazê-lo. Em 1986,
uma decisão política por parte do governo liberou totalmente as empresas para decidirem as
demissões.
Assim, o quadro do emprego nos últimos anos demonstra um processo que se torna
cada vez mais “anormal” ou “atípico”, isto é, a participação dos estatutos precários de
emprego atinge percentuais cada vez mais significativos. Em 2005, confirma-se essa
evolução, pois 35,6% dos empregos estavam distribuídos entre os CDDs, intermitentes,
estagiários, contratos de ajuda e aprendizes, e 12,6% dos contratos de duração
indeterminada (CDIs) eram de tempo parcial. Este último estatuto – tempo parcial –
representava 17% do emprego total. Situação que se agrava mais para as mulheres, pois
apenas 55,4% delas tinham um contrato de tempo indeterminado, assim como para os
jovens entre 15 e 29 anos, que tinham 64% na condição de CDI. Ao se acrescentar a esse
quadro, as atuais taxas de desemprego (2005), que é de 9,8% para o total, 10,8% entre as
mulheres e 17,3% entre os jovens de 15 a 29 anos (INSEE, 2006), pode-se ter uma idéia do
32

grau de vulnerabilidade que atingiu a sociedade francesa.


Situação indicada pelas transformações do mercado de trabalho nos últimos 20
anos, quando se constata um significativo aumento do emprego precário, 2,5 milhões entre
1983 e 2005, sendo que esse crescimento corresponde a 60% do aumento total do emprego
assalariado, que foi de 4 milhões. (Concialdi, 2006)
De acordo com Vogel (1997), a legislação evoluiu no sentido de permitir uma maior
flexibilização no uso da força de trabalho na França e na União Européia, através dos
contratos de trabalho chamados de “atípicos” (tempo parcial, duração determinada, trabalho
intermitente, trabalho temporário, além de uma gama de contratos de inserção para os
desempregados de longa duração e para os jovens). Um movimento de “juridicização” da
precariedade, pois de um lado, há a legalização de situações antes não admitidas,
enquadrando práticas ilegais e, de outro, uma relativa equalização ou aproximação entre o
número de empregos “típicos” e “atípicos”.
Nesse processo de legalização dos contratos precários, cujo crescimento está
amparado na legislação, os instrumentos jurídicos e sociais que garantiam certos direitos no
caso dos contratos estáveis (CDI) vão perdendo a sua eficácia e, a cada dia, vão se tornando
a regra em detrimento do “contrato normal de trabalho” (CDI). (Vogel, 1997)
Em síntese, é inquestionável o processo de flexibilização da legislação do trabalho e
de legalização e institucionalização da precarização na França, conforme fica demonstrado
com as mudanças na legislação e com a aplicação dos contratos precários, refletidos nas
estatísticas sobre a evolução dos estatutos de emprego.
No caso do Brasil, que conta com um mercado de trabalho histórica e estruturalmente
precário, as conjunturas políticas criadas a partir das lutas operárias fizeram retroceder essa
condição e chegaram a obter novos direitos. Foi o que ocorreu com a retomada do
movimento sindical no final dos anos 70 e da luta pela democracia no país, que culminou
com o fim da ditadura militar instalada no país desde 1964 e uma nova Constituição, em
1988, que ampliou direitos, especialmente a proteção social.
No entanto, já no início dos anos 1990, o resultado eleitoral para a presidência do
país expressava a vitória do projeto neoliberal. Foi, portanto, nessa década que os governos
que se sucederam, apoiados pelos grandes empresários, se empenharam para anular as
conquistas incorporadas na Constituição.
33

A lógica que guiou as alterações foi a de garantir maior liberdade às empresas para
admitir e demitir os trabalhadores conforme as suas necessidades de produção. Ou seja, a
ampliação da flexibilização da força de trabalho, que vai ser efetivada, fundamentalmente,
através do recurso à terceirização, demonstrado pelo seu expressivo crescimento e
ampliação nesta década, que se apóia nas modalidades de trabalho e de contrato já
existentes, como o trabalho temporário, consultoria, a domicilio, autônomos, estes com
amparo legal, mas se apóia também nas modalidades ilegais de trabalho, os sem registro em
carteira e clandestino (inclusive o trabalho escravo e infantil), através de intermediação de
mão de obra.
Assim, cabe destacar as seguintes inovações na legislação, no plano de novos
contratos ou ampliação de modalidades já existentes: 1. O novo Contrato de Trabalho por
Tempo Determinado (1998); 2. o novo Contrato de Trabalho em Tempo Parcial (1998); 3. o
novo Contrato de Aprendizagem (2000); 4. a ampliação do uso do Trabalho Temporário
(1974), que generalizou a sua utilização através de portaria (1996); 5. a ampliação do uso
do Trabalho Estágio (1999), já utilizado desde 1977; e 6. A lei que possibilita às empresas a
contratação de cooperativas profissionais ou de prestação de serviços (1994) – constituída
por trabalhadores associados e não assalariados, portanto, sem direitos cobertos pela
legislação – sem caracterização de vínculo empregatício. (Krein, 2003)
Acrescenta-se a essas modalidades de contrato, duas outras alterações que
aprofundam a flexibilização: a quebra de estabilidade do funcionalismo público (que agora
pode ser demitido por « excesso de pessoal ») e a denúncia da Convenção 158 da OIT, que
elimina os mecanismos de inibição de demissão imotivada e reafirma a demissão sem justa
causa.
Quando se examina o uso dessa nova legislação pelo patronato, constata-se que os
novos contratos por prazo determinado e de tempo parcial tiveram pouca aplicação,
enquanto as cooperativas de trabalho, o trabalho estágio, o trabalho temporário e a denúncia
da convenção 158 da OIT foram os mais utilizados. (Krein, 2002)
Na realidade, o grau de flexibilidade que o patronato brasileiro dispõe – legal ou
10
ilegalmente – explica, dentre outros elementos – porque não foi necessário o recurso a
esses dois novos tipos de contrato. Pois, mesmo que precários, são formais, isto é, estão sob

10
Para efeito de um balanço mais completo das razões da efetividade da nova legislação, ver Krein, 2003.
34

a regulação do Estado e determinam algumas poucas obrigações aos empregadores, em


termos de encargos sociais e direitos trabalhistas. Além do que o “contrato por tempo
determinado” na prática já existe para as grandes empresas, através da subcontratação das
empresas terceiras, o que lhes livra de qualquer compromisso trabalhista regulado pela
legislação.
É dentro desta lógica e comportamento, no sentido de se desobrigar dos custos e da
responsabilidade de gestão do trabalho, que a terceirização passa a ocupar, cada vez mais,
um lugar central na organização do trabalho, reunindo o que há de pior em termos de
precarização, seja no que é coberto pela nova legislação seja no recurso às formas ilegais e
à informalidade, contribuindo fortemente para aprofundar a flexibilização do mercado de
trabalho no Brasil, no qual a informalização (trabalho sem registro, sem contrato, o trabalho
autônomo, as cooperativas, o estágio – que se caracterizam como trabalho não assalariado
no sentido legal do termo), passa a ser a regra.
Durante os anos 1990 e 2000, se observa o crescimento da informalidade no país,
especialmente nos centros urbano-industriais mais desenvolvidos, a exemplo de São Paulo,
ao lado de taxas de desemprego inéditas em toda a história. Atualmente (2005), a situação
ocupacional na região urbana do país está distribuída da seguinte forma: 54% dos ocupados
são assalariados, 21% são trabalhadores autônomos e 4,5% empregadores. Compõem o
conjunto de trabalhadores assalariados « formais » - assalariados com registro, 37% ;
trabalhadores domésticos com registro, 2,5% ; militares e funcionários públicos, 8% –
correspondendo a 47% dos ocupados; enquanto os « informais » representam 53% do total
dos ocupados (assalariados sem registro, 17,5% ; trabalhadores domésticos sem registro,
11
7% ; autônomos, 21% ; empregadores, 4,5% ; sem remuneração, 3%). (PNAD, 2005)
Completam esse quadro, as taxas de desemprego das regiões metropolitanas, que mantém
altos patamares desde os anos 1990, chegando a mais alta na região metropolitana de
Salvador, 24,4%, em São Paulo, 17% e a mais baixa em Porto Alegre, 14,5%. (PED, 2005)

11
Considera-se aqui a informalidade no sentido amplo do termo, agrupando todos os que trabalham mas que
não tem uma relação formalmente assalariada. A inclusão dos “empregadores” se deve ao fato que a PNAD,
enquanto pesquisa domiciliar, não computa os grandes empresários, além do que o crescimento deste
segmento nos últimos anos no país se deveu, em grande parte, à mudança de “personalidade jurídica” (PJ),
recurso utilizado pelas grandes empresas para se desobrigar dos encargos e direitos trabalhistas e que constitui
uma nova modalidade de terceirização.
35

4.1 Alguns elementos de comparação França e Brasil


A partir desses respectivos quadros da legislação e do mercado de trabalho na
França e no Brasil, se pode traçar alguns elementos de comparação, mesmo considerando
que as fontes oficiais de informações e estatísticas de emprego num e noutro país são
extremamente diferentes, podendo já ser considerado como um primeiro elemento
diferenciador.
Na França se dispõe de um conjunto de instituições oficiais e de pesquisas que
apresentam um volume, variedade, detalhamento e regularidade de levantamentos e
estatísticas, que expressam um grau de democratização da produção e divulgação da
informação que, no caso brasileiro, está ainda muito longe de ser atingido. Fruto da
condição histórica mais geral de cada uma das sociedades e seu nível de desenvolvimento
econômico, social e político.
A partir disso, pode-se afirmar que no caso da França, mesmo considerando o
processo de flexibilização e precarização da legislação nos últimos anos, conforme já
observado anteriormente, há ainda uma presença forte do Estado como « regulador »,
mesmo que seja para formalizar ou institucionalizar a precarização.
Assim, o grau e a natureza da precarização do trabalho ainda se dão,
hegemonicamente, no quadro do trabalho formal, regido por lei, que define direitos dos
trabalhadores, mesmo que num processo crescente de perdas (G. Filoche, 2006) e no
interior de um Estado de Bem-estar-social que não foi destruído, embora num quadro de
forte regressão, como atestam as políticas focalizadas de emprego, de caráter
compensatório.
Diferentemente da situação brasileira, cuja precarização está apoiada, cada vez
mais, na informalidade e na ilegalidade, apoiada nas políticas de cunho neoliberal do
Estado e na liberdade de ação empresarial – com ou sem o respaldo em leis – que não só
flexibilizaram o uso da força de trabalho, mas que favoreceram a fraude e a fuga ao
cumprimento das normas e das já limitadas obrigações trabalhistas.
O segundo elemento diferenciador é a própria estruturação do mercado de trabalho
num e noutro país. Embora se constate um movimento de « desestruturação » e de
fragmentação em ambos, é inquestionável o nível de assalariamento formal na França,
36

12
(64,4% são assalariados por tempo indeterminado, em 2005 ) e da presença, mesmo que
enfraquecida, das políticas sociais e de proteção social, típicas do Estado de bem-estar,
inexistente no Brasil, mesmo para os assalariados “formais”.
No que se refere às taxas de desemprego, é interessante observar que permanecem
em altos patamares nos dois países. Na França, 9,8% em 2005. (INSEE) e no Brasil, 10,5%
(IBGE). Além disso, a situação de desemprego dos jovens num e noutro país apresenta as
mais altas taxas, embora em patamares muito distintos, enquanto na França (metropolitana)
17% dos jovens entre 15 e 29 anos estão desempregados (INSEE), no Brasil
(metropolitano), são 54% os jovens entre 15 e 24 anos que estavam desempregados em
2005. (PME-IBGE) Essa diferença não é só quantitativa, pois os jovens desempregados
franceses têm ainda garantida a proteção social do Estado, através de políticas públicas de
caráter universal, que garante um sistema público e decente de ensino; o acesso à
assistência social, que garante o atendimento à saúde gratuita. Mas também tem sido o
segmento mais afetado ou focalizado para as políticas flexíveis e de caráter compensatório
implantadas nos anos 1990.
Em síntese, os diferentes graus de precarização num e noutro país, são fruto de
realidades históricas muito distintas. Trata-se de patamares de cidadania e direitos
conquistados que distanciam em muito os dois países. São trajetórias de lutas operárias e de
conquistas democráticas que estabeleceram organizações sindicais e políticas típicas de
uma democracia moderna, assim como levaram a constituição do Estado de bem-estar-
social na França. No Brasil, uma luta democrática frágil, uma organização política e
sindical intermitente, abafada pela intervenção repressiva do Estado que se ergueu como
um Estado “bem-feitor” de caráter antidemocrático e patrimonialista.
Entretanto, fica patente que o caráter mais geral do processo de precarização do
trabalho num e noutro país é o mesmo. Trata-se de uma estratégia patronal, apoiada pelo
Estado e seus governos, que tem sido implementada em todo o mundo, mas cujos
resultados práticos se diferenciam muito mais por conta da história passada de cada país,
refletindo os níveis de democracia e de conquistas dos trabalhadores, do que da história
presente, cujos traços principais os aproximam e os tornam semelhantes, já que a

12
No caso do Brasil, pode-se contrapor a esse dado, os 37% de assalariados com registro acrescidos dos
funcionários públicos e militares, 8%, o que somam 45% que corresponderiam a “trabalhadores por tempo
indeterminado”, em 2005.
37

precarização social e do trabalho busca se impor como regra e como estratégia de


dominação assumindo um caráter cada vez mais internacionalizado.

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