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APOSTILA, ESTADO, POLITICAS PUBLICAS E SERVIÇO

SOCIAL

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Sumário
NOSSA HISTÍRIA .........................................................................................
O SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO: FUNDAMENTOS HISTORICOS,
TEÓRICO-METODOLÓGICOS E ÉTICOS-POLÍTICOS ............................................ 3

A INSTRUMENTALIDADE NO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL ........ 7

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ESFERA ESTATAL .............. 10

SERVIÇO SOCIAL, TRABALHO PROFISSIONAL E TRANSFORMAÇÕES


RECENTES NAS ESFERAS ESTATAL E SOCIETARIA ......................................... 13

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 18

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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O SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO: FUNDAMENTOS
HISTORICOS, TEÓRICO-METODOLÓGICOS E ÉTICOS-POLÍTICOS

Analisando a profissão como parte das transformações históricas da


sociedade presente, é necessário ultrapassar o universo estritamente profissional, ou
seja, romper com uma visão no centro da profissão, aprisionada em seus muros
internos. Tentando entender como essas transformações atingem o conteúdo e
direcionamento da própria atividade profissional; as condições e relações de trabalho
nas quais se realiza; afetam as atribuições, competências e requisitos da formação
do assistente social.

Vive-se uma época de regressão de direitos e destruição do legado de


conquistas históricas dos trabalhadores em nome da defesa, quase religiosa, do
mercado e do capital, cujo reino se pretende a personificação da democracia, das
liberdades e da civilização. A mistificação inerente ao capital, enquanto relação social
alienada que monopoliza os frutos do trabalho coletivo, obscurece a fonte criadora
que anima o processo de acumulação em uma escala exponencial no cenário
mundial: o universo do trabalho.

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Ouve historicamente transformações de monta alterando a face do capitalismo
nos países centrais e, em particular, na América Latina.

Na contratendência de um longo período de crise da economia mundial, o


capitalismo avançou em sua vocação de internacionalizar a produção e os mercados,
requerendo políticas de “ajustes estruturais” por parte dos Estados nacionais.
Preconizadas pelos países imperiais por intermédio dos organismos multilaterais,
essas políticas dão livre curso ao capital especulativo financeiro destituído de
regulamentações e à lucratividade dos grandes conglomerados multinacionais
(BORÓN, 1995).

Na visão de (PETRAS,2002) “um mundo internacionalizado requer um Estado


dócil aos influxos neoliberais, mas ao mesmo tempo forte internamente - ao contrário
do que é propalado pelo ideário neoliberal da minimização do Estado - para traduzir
essas demandas em políticas nacionais e resistir à oposição e protestos de muitos,
comprometendo a soberania das nações”.

Submetendo aos domínios do capital, que cria as condições históricas


necessárias para a generalização de sua lógica de mercantilização universal, e
objetivos de acumulação o conjunto das relações sociais: a economia, a política, a
cultura.

“O projeto neoliberal é expressão dessa reestruturação política


e ideológica conservadora do capital em resposta a perda de
rentabilidade e “governabilidade”, que enfrentou durante a década de
1970 (FIORI, apud SOARES, 2003), no marco de uma onda longa de
crise capitalista” (MANDEL, 1985).

Em contrapartida tem a difusão da ideia liberal de que o “bem-estar social”


pertence ao foro privado dos indivíduos, famílias e comunidades. A intervenção do
Estado no atendimento às necessidades sociais é pouco recomendada, transferida
ao mercado e à filantropia, como alternativas aos direitos sociais.

Citando Yazbek (2001), o pensamento liberal estimula um vasto


empreendimento de “refilantropização do social”, já que não admite os direitos sociais,
uma vez que os metamorfoseia em dever moral: opera, assim, uma profunda

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despolitização da “questão social”, ao desqualificá-la como questão pública, questão
política e questão nacional.

Com a eliminação das políticas públicas e dos direitos sociais desloca a


atenção à pobreza para a iniciativa privada ou individual, impulsionada por
motivações solidárias e benemerentes, submetidas ao arbítrio do indivíduo isolado, e
não à responsabilidade pública do Estado. E as implicações de transitar a atenção à
pobreza da esfera pública dos direitos para a dimensão privada do dever moral são:

 a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua


reclamação judicial,
 a dissolução de continuidade da prestação dos serviços submetidos à
decisão privada,
 tendentes a aprofundar o traço histórico assistencialista e a regressão
dos direitos sociais.

Enfatiza a história a cultura da “pós-modernidade”, na sua versão neoconservadora,


é produzida no lastro do atual estágio do que Harvey (1993) denomina de
“acumulação flexível do capital”. Ela é condizente com a mercantilização universal e
sua indissociável descartabilidade, superficialidade e banalização da vida e gera
tremores e cismas nas esferas dos valores e da ética orientados à emancipação
humana.

Com o pensamento pós-moderno contrapõe-se às teorias sociais que,


apoiadas nas categorias da razão moderna, cultivam as “grandes narrativas”.
Portanto, questiona, nivelando, os paradigmas positivista e marxista e dilacera
projetos e utopias. Proclama, em contrapartida, a importância do fragmento, do
efêmero, do intuitivo e do micro-social. Invade a arte, a cultura, os imaginários e suas
crenças, os saberes cotidianos, as dimensões étnicas, raciais, religiosas e culturais
na construção de identidades esvaziadas de história (NETTO, 1996;YAZBEK, 2001;
SIMIONATO,1999).

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Ao construir uma nova história, neste contexto histórico refratário aos influxos
democráticos, contraditórios de uma forma atual de fazer política - que impregne a
formação e o trabalho dos assistentes sociais- capazes de acumular forças na
construção de novas relações entre o Estado e a sociedade civil que reduzam o fosso
entre o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social. O desenvolvimento
das forças produtivas e das relações sociais, requer, portanto, uma concepção de
cidadania e de democracia para além dos marcos liberais.

“A cidadania entendida como capacidade de todos os indivíduos, no caso de


uma democracia efetiva, de se apropriarem dos bens socialmente produzidos, de
atualizarem as potencialidades de realização humana, abertas pela vida social em
cada contexto historicamente determinado. Nessa concepção abrangente, a
democracia inclui a socialização da economia, da política e da cultura na direção da
emancipação humana, como sustenta” Coutinho (2000).

concentrada no bem comum, no aproveitamento civilizado do conflito


e da diferença, na valorização do diálogo, do consenso e da comunicação, na
defesa da crítica e da participação, da transparência e da integridade numa
operação que se volta para uma aposta na inesgotável capacidade criativa dos
homens. (NOGUEIRA, 2001:58).

Ao viabilizar o acesso aos direitos e aos meios de exercê-los, a categoria


profissional desenvolve uma ação de cunho sócio-educativo na prestação de
serviços sociais, que contribuem para que as necessidades e interesses dos
sujeitos de direitos adquiram visibilidade na cena pública e possam, de fato,
ser reconhecidos.

Esses profissionais afirmaram o compromisso com os direitos e


interesses dos usuários, na defesa da qualidade dos serviços prestados, em
contraposição à herança conservadora do passado. Importantes investimentos
acadêmico profissionais foram realizados no sentido de se construir uma nova
forma de pensar e fazer o Serviço Social, orientadas por uma perspectiva
teórico-metodológica apoiada na teoria social crítica e em princípios éticos de

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um humanismo radicalmente histórico, norteadores do projeto de profissão no
Brasil.

A INSTRUMENTALIDADE NO TRABALHO DO ASSISTENTE


SOCIAL

Ao agir profissional em primeira vista, o tema instrumentalidade no exercício


profissional do assistente social parece ser algo referente ao uso daqueles
instrumentos necessários, através dos quais os assistentes sociais podem
efetivamente objetivar suas finalidades em resultados profissionais propriamente
ditos. Portanto, o tema faz uma nova reflexão mais apurada sobre o termo
instrumentalidade, fazendo perceber que o sufixo “idade” tem a ver com a capacidade,
qualidade ou propriedade de algo.

Sendo assim, afirmam que a instrumentalidade no exercício profissional se


refere, não ao conjunto de instrumentos e técnicas (neste caso, a instrumentação
técnica), mas a uma determinada capacidade ou propriedade constitutiva da
profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico.

Sobre a instrumentalidade, é uma forma de possibilitar os profissionais a terem


respostas objetivas, intencionadas e profissionais. É por meio desta capacidade,
adquirida no exercício profissional, que os assistentes sociais modificam,

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transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais
e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano.

Em seu cotidiano o profissional altera e modifica as classes sociais que


demandam a sua intervenção, modificando as condições, os meios e os instrumentos
existentes, e os convertendo em condições, meios e instrumentos para o alcance dos
objetivos profissionais, os assistentes sociais estão dando instrumentalidade às suas
ações.

Na medida em que os profissionais utilizam, criam, adequam às condições


existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das
intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. Deste modo, a
instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho social quanto
categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho.

Sobre o processo de trabalho os homens transformam a realidade,


transformam-se a si mesmo e aos outros homens. Ou seja, os homens reproduzem
material e socialmente a própria sociedade.

Para (Lessa, 1999 e barroco,1999) ação transformadora que é práxis e barroco, cujo
modelo privilegiado é o trabalho, tem uma instrumentalidade .Que detem a
capacidade de manipulação, de conversão dos objetos em instrumentos que atendam
às necessidades dos homens e de transformação da natureza em produtos úteis (e
em decorrência, a transformação da sociedade). Mas a práxis necessita de muitas
outras capacidades/propriedades além da própria instrumentalidade.

Neste âmbito os homens utilizam ou transformam os meios e as condições sob as


quais o trabalho se realiza modificando-os, adaptando-os e utilizando-os em seu
próprio benefício, para o alcance de suas finalidades. Implicando assim este
processo, pois, em manipulação, domínio e controle de uma matéria natural que
resulte na sua transformação. Este movimento de transformar a natureza é trabalho.
Mas ao transformar a natureza, os homens transformam-se a si próprios. Produzem
um mundo material e espiritual:

 a consciência,
 a linguagem,
 os hábitos,

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 os costumes, os modos de operar,
 os valores morais,
 éticos,
 Civilizatórios,

necessários à realização da práxis.

“Se trabalho é relação homem-natureza, e práxis é o conjunto das


formas de objetivação dos homens (incluindo o próprio trabalho) num
e noutro os homens realizam a sua teleologia. Toda postura
teleológica encerra instrumentalidade, o que possibilita ao homem
manipular e modificar as coisas a fim de atribuir-lhes propriedades
verdadeiramente humanas, no intuito de converterem-nas em
instrumentos/meios para o alcance de suas finalidades. 4 Converter
os objetos naturais em coisas úteis, torná-los instrumentos é um
processo teleológico, o qual necessita de um conhecimento correto
das propriedades dos objetos. Nisso reside o caráter emancipatório do
trabalho. Entretanto, tal conhecimento seria insuficiente se a ele não
se acrescentasse a operatividade propriamente dita, a capacidade de
os homens alterarem o estado atual de tais objetos” (Guerra, 2000).

Os homens controlam a natureza e convertem os objetos naturais em meios


instrumentais para o alcance de suas finalidades, é que ela é transposta para as
relações dos homens entre si, interferindo em nível da reprodução social. Mas isso só
ocorre em condições sócio-históricas determinadas.

Ou seja o exemplo mais desenvolvido de conversão dos homens em meios


para a realização de fins de outros homens é o da compra e venda da força de
trabalho como mercadoria, de modo que a instrumentalidade, convertida em
instrumentalização das pessoas, passa a ser condição de existência e permanência
da própria ordem burguesa, via instituições e organizações sociais criadas com este
objetivo.

“o trabalhador deixa de lado suas necessidades enquanto pessoa


humana e se converte em instrumentos para a execução das necessidades de
outrem” (Lessa, 1999). (Sobre a reificação das relações sociais no capitalismo
maduro ver Netto, 1981).

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“Instrumentalização das pessoas é o processo pelo qual a ordem burguesa,
por meio de um conjunto de inversões transforma os homens de sujeitos em objetos,
meios e instrumentos a serviço da valorização do capital”. (Iamamoto e Carvalho,
1982: 77; ver também Netto, 1992 e, especialmente, 2001).

O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NA ESFERA ESTATAL

o Serviço Social frente às novas manifestações e expressões da questão


social, resultantes das transformações do capitalismo contemporâneo: o
aprofundamento da desigualdade social, o desemprego estrutural e a precarização
das relações de trabalho, a reforma conservadora do Estado, os processos de
redefinição dos sistemas de proteção social e da política social.

Analisando a profissão na esfera estatal junto aos desafios do projetos


profissional, apanhar na dinâmica sócio-historica, que configura o campo em que se

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desenvolve o exercício profissional e problematizar as respostas profissionais –
teóricas, técnicas e ético-políticas – que traduzem a sistematização de conhecimentos
e saberes acumulados frente às demandas sociais dirigidas ao Serviço Social.

Ao enfrentar essa complexa tarefa, apontamos em largos traços algumas das


premissas que orientam a análise do Serviço Social inserido na dinâmica da vida
social, no âmbito das relações tensas e contraditórias entre o Estado e a sociedade.
colocando limites e abrem possibilidades para o exercício profissional, como resultado
do trabalho individual e coletivo dos seus profissionais.

A primeira premissa é que as profissões são construções históricas que


somente ganham significado e inteligibilidade se analisadas no interior do movimento
das sociedades nas quais se inserem.

Portanto, é importante o Serviço Social ter presente as determinações sociopolíticas


em sua origem e os processos que levam à sua organização como profissão,
condicionados pelas necessidades derivadas do desenvolvimento capitalista, já em
sua idade madura, em seu estágio monopolista.

Por meio das políticas sociais públicas, foram criadas condições propícias à
profissionalização do Serviço Social (e de tantas outras profissões) a partir da
crescente intervenção do Estado capitalista nos processos de regulação e reprodução
social.

Mesmo com a grande participação da Igreja Católica tendo importante


singular na configuração da identidade que marca a gênese do Serviço Social no
Brasil, foi o contexto do final da Segunda Guerra Mundial, de aceleração industrial,
das migrações campo-cidade e do intenso processo de urbanização, aliados ao
crescimento das classes sociais urbanas, especialmente do operariado, que vai exigir
respostas do Estado e do empresariado às necessidades de reprodução social das
classes trabalhadoras nas cidades.

A segunda premissa é a particularidade do Serviço Social como profissão, de


intervir nos processos e mecanismos ligados ao enfrentamento da questão social, em
suas mais agudas manifestações, que se renovam e se atualizam diante das
diferentes conjunturas sociopolíticas. Trata-se de novas e velhas questões derivadas
da desigualdade social, característica do capitalismo monopolista, em suas múltiplas

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faces e dimensões, com as quais os assistentes sociais convivem no cotidiano
profissional.

Impulsionando a conexão entre política social e Serviço Social crescente


centralização das políticas sociais pelo Estado capitalista, no processo de
modernização conservadora no Brasil, gera o aumento da demanda pela execução
de programas e serviços sociais, no Brasil e a consequente expansão e diversificação
do mercado profissional.

Tomando em sequência à terceira premissa, relativa ao fundamento da


profissionalização do Serviço Social, a partir da estruturação de um espaço
socioocupacional, determinado pela dinâmica contraditória que emerge no sistema
estatal em suas relações com as classes sociais e suas distintas frações, e que
transforma as sequelas da questão social em objeto de intervenção continuada e
sistemática por parte do Estado.

“O caminho da profissionalização do Serviço Social é, na


verdade, o processo pelo qual seus agentes – ainda que
desenvolvendo uma auto representação e um discurso centrados na
autonomia dos seus valores e da sua vontade – se inserem em
atividades interventivas cuja dinâmica, organização, recursos e
objetivos são determinados para além do seu controle” (NETTO, 2005,
p. 71-72).

A quarta premissa é que a centralidade do Estado, na análise das políticas


sociais, não significa reduzi-las ao campo de intervenção estatal, uma vez que para
a sua realização participam organismos governamentais e privados que estabelecem
relações complementares e conflituosas, colocando em confronto e em disputa
necessidades, interesses e formas de representação de classes e de seus segmentos
sociais.

A quinta premissa é que a reflexão sobre o trabalho do assistente social na


esfera estatal remete necessariamente ao tema das relações, ao mesmo tempo
recíprocas e antagônicas, entre o Estado e a sociedade civil, uma vez que o Estado
não é algo separado da sociedade, sendo, ao contrário, produto desta relação, que

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se transforma e se particulariza em diferentes formações sociais e contextos
históricos.

finalizando, a última premissa destaca que embora seja frequente observar


o tratamento das categorias Estado e governo como sinônimos – considerando que
é o governo que fala em nome do Estado –, esse uso indiscriminado pode gerar
confusões com graves implicações políticas (uma delas é supor que assumir o poder
governamental é equivalente a conquistar o poder do Estado).

Pensar sobre o Estado capitalista considera a certo número de instituições –


o governo (executivo) nos níveis central e subnacionais, a administração pública, as
forças militares, de segurança e policiais, os sistemas judiciário e legislativo nos seus
diferentes níveis de poder –, que compõem em conjunto a arena de conflitos e a
condensação de forças políticas denominadas Estado.

SERVIÇO SOCIAL, TRABALHO PROFISSIONAL E


TRANSFORMAÇÕES RECENTES NAS ESFERAS ESTATAL E
SOCIETARIA

No Estado no âmbito da universalização dos direitos nos anos de 1990, foram


palco de um complexo processo de regressões, desencadeando novos elementos
que se contrapõem ao processo de democratização política, econômica e social em

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nosso país, no contexto de crise e reorganização do capitalismo em escala
internacional.

No contexto desencadeia profundas transformações societárias, determinadas


pelas mudanças na esfera do trabalho, pela reforma gerencial do Estado (ou
contrarreforma nos termos de Elaine Behring, 2003), pelos processos de redefinição
dos sistemas de proteção social e da política social que emergem nessa conjuntura,
e pelas novas formas de enfrentamento da questão social, com grandes mudanças e
rebatimentos nas relações público/privado.

Decorre de um lado, o processo de destituição de direitos que vem no rastro


da reforma conservadora do Estado e da economia, onde desencadeia um crescente
e persistente processo de sucateamento dos serviços públicos, de ofensiva
sistemática contra os novos direitos consagrados na Constituição de 1988, a partir de
ampla mobilização de forças sociais que lutaram pela democratização da sociedade
e do Estado no Brasil.

Por outro lado, além dessas destituições, o que está em curso é o


esvaziamento da própria noção de direitos relacionado a uma suposta
desnecessidade de tudo que é público e estatal. De acordo Vera Telles, fala do
“encolhimento do horizonte de legitimidade dos direitos”, que transforma direito em
privilégio em nome da necessária modernização da economia, cuja referência maior
é o mercado e suas demandas e prerrogativas.

Portanto o agravamento da questão social decorrente do processo de re-


estruturação produtiva e da adoção do ideário neoliberal repercute no campo
profissional, tanto nos sujeitos com os quais o Serviço Social trabalha – os usuários
dos serviços sociais públicos – como também no mercado de trabalho dos assistentes
sociais que, como o conjunto dos trabalhadores, sofre o impacto das mudanças que
atingem o exercício profissional.

Implicando em um palco de intensa transformação e reestruturação a esfera


da produção. Afirmam-se as condições estruturais do capitalismo global
financeirizado e o fabuloso desenvolvimento tecnológico e informacional, que
promovem intensas mudanças nos processos e relações de trabalho, gerando
terceirização, subcontratação, trabalho temporário, parcial e diferentes formas de

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precarização e informalização das relações de trabalho, para citar apenas algumas
das profundas mudanças em curso na esfera da produção e no mundo do trabalho.

Mais de 50% da força de trabalho brasileira


encontram-se na informalidade, e o desemprego aberto saltou
de 4% no começo dos anos 1990 para 8% em 2002, mesmo
segundo metodologia conservadora do IBGE. Portanto, para
Oliveira (2007, p. 34), “entre o desemprego aberto e o trabalho
sem-formas, transita, entre o azar e a sorte, 60% da força de
trabalho brasileira”.

Na esfera estatal, o retraimento das funções do Estado e a redução dos gastos


sociais vêm contribuindo para o processo de desresponsabilização em relação às
políticas sociais universais, onde as consequências do retrocesso vem consolidando
a expansão dos direitos sociais.

Trata-se de uma dinâmica societária que atinge as diferentes profissões, e


também o Serviço Social, que tem nas políticas sociais seu campo de intervenção
privilegiado. Todavia, o conjunto CFESS/CRESS sobre mercado de trabalho do
assistente social em nível nacional (2005) indica que os assistentes sociais continuam
sendo majoritariamente trabalhadores assalariados, principalmente dos organismos
governamentais, com ênfase para o campo da seguridade social nas políticas de
saúde e assistência social.

Os processos de re-estruturação produtiva atingem também o mercado de


trabalho do assistente social, com a redução de postos governamentais,
principalmente nos níveis federal e estadual, e a sua transferência para os
municípios em virtude dos processos de descentralização e municipalização dos
serviços públicos.

Intensificam-se os processos de subcontratação de serviços individuais dos


assistentes sociais por parte de empresas de serviços ou de assessoria na
prestação de serviços aos governos, acenando para o exercício profissional privado
(autônomo), temporário, por projeto, por tarefa, em função das novas formas de
gestão das políticas sociais.

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O Sistema único de Assistência Social -SUAS, Na política de assistência nos
marcos da implantação da em todo o território nacional, e dos Centros de Referência
de Assistência Social – CRAS, verifica-se também a adoção, pelos estados e
municípios, de variadas modalidades de terceirização, pela mediação de empresas
ou de ONGs, na contratação de profissionais e na prestação de serviços
socioassistenciais, configurando-se a ação indireta do Estado na produção dos
serviços públicos.

No âmbito da sociedade civil, as duas últimas décadas vêm sendo palco de


múltiplas tendências que se expressam com grande visibilidade, ganhando a opinião
pública: o crescimento das ONGs e as propostas de parcerias implementadas pelo
Estado em suas diferentes esferas, principalmente nos planos municipal e local.

Por esse processo, o Estado deixa de prestar serviços diretos à população e


passa a estabelecer parcerias com organizações sociais e comunitárias, incluindo-
se aí as fundações e institutos empresariais que, atualizando seu discurso,
convertem a assistência social e a filantropia privadas para a linguagem do capital
– agregar valor ao negócio, responsabilidade social das empresas, ética empresarial
são alguns dos termos que passam a ser recorrentes.

Esta dinâmica societária vem implicando a desmontagem das instituições de


representação coletiva em todos os níveis, a progressiva diminuição do alcance e
da qualidade das políticas sociais, a redução dos espaços de negociação com
diferentes atores da sociedade civil, com amplo rebatimento na conformação da
esfera pública e na defesa de direitos.

Segundo Oliveira (2007, p. 42), “o deslocamento do trabalho e das relações de


classe esvazia essa “sociedade civil” do conflito que estrutura alianças, opções e
estratégias”, além de se transformar em uma noção enganosa em buscar restaurar
a “comunidade de iguais”, que não tem correspondência nas relações sociais de
conflitos que caracterizam a sociedade capitalista.

Portanto o assistente social é um dos mediadores do Estado na intervenção


dos conflitos que ocorrem no espaço privado, particularmente nos âmbitos
doméstico e familiar, atuando prioritariamente nas Varas da Infância, Juventude e
Família, nas dramáticas manifestações da questão social, expressas pela violência

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contra a mulher, a infância e a juventude, as situações de abandono e negligência
familiar, o abuso sexual, a prostituição, a criminalidade infanto-juvenil.

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REFERÊNCIAS

NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social
pós-64. São Paulo: Cortez Editora, 1991. ______. Capitalismo monopolista e Serviço
Social. São Paulo: Cortez Editora, 2005

OLIVEIRA, Francisco de. Política numa era de indeterminação: opacidade e


reencantamento. In: OLIVEIRA, F. de; RIZEK, Cibele S. (Org.). A era da
indeterminação. São Paulo: Boitempo, Editorial, 2007.

SIMIONATO, I. As expressões ídeoculturais da crise contemporânea. In:


CFESS/ABEPSS; CEAD/UnB. (Org.). Capacitação em Serviço Social e Política
Social. Crise contemporânea, questão social e Serviço Social. Módulo I. Brasília: DF:
CEAD, 1999. p. 77-90.

NOGUEIRA. M. A. Em defesa da Política. São Paulo: SENAC, 2001.

NETTO, J. P. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez,


1992. ______. Transformações societárias e Serviço Social: notas para uma análise
prospectiva do Serviço Social no Brasil. Serviço Social e Sociedade 50. São Paulo:
Cortez, 1996. p. 87-132.

COUTINHO, C. N. Contra a Corrente. Ensaios sobre democracia e socialismo.


São Paulo: Cortez, 2000.

BEHRING, Elaine R. Brasil em contra-reforma: desestruturação do Estado e


perda de direitos. São Paulo: Cortez Editora, 2003

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