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Artigo de revisão

Efeitos do gengibre (Zingiber officinale) em pacientes


oncológicos tratados com quimioterapia
Effects of ginger (Zingiber officinale) in cancer patients
treated with chemotherapy

RESUMO
Alice Maria Cardoso Barreto1 Introdução: O câncer é um sério problema de saúde pública mundial
Bruna de Abreu Flores Toscano1 cujo tratamento inclui cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Dentre os
Renata Costa Fortes1
principais efeitos dessas modalidades terapêuticas destacam-se náuseas,
vômitos, mucosite, estomatite dentre outros.

Objetivo: Investigar os efeitos do gengibre (Zingiber officinale) em


pacientes oncológicos tratados com quimioterapia.

Métodos: Trata-se de uma revisão da literatura, com ênfase nos últi-


mos cinco anos, utilizando-se artigos científicos publicados em revistas
indexadas nas bases de dados Pubmed, Lilacs e Bireme, nos idiomas
português, inglês e espanhol.

Resultados: Observou-se, na literatura, que a caquexia é comum em


1
Programa de Residência em Nutrição pacientes oncológicos e as principais manifestações clínicas são: anorexia,
Clínica, Hospital Regional da Asa Norte, perda ponderal involuntária, diminuição da capacidade funcional, de-
Secretaria de Estado de Saúde do Distrito pleção progressiva de massa magra e tecido adiposo. O tratamento do
Federal, Brasília - DF, Brasil.
câncer inclui cirurgia, radioterapia, quimioterapia, dentre outros, que
podem causar desconfortos como náuseas, vômitos, mucosite, estoma-
tite, diarréia, e constipação, com impacto significativo sobre o estado
nutricional. Um dos principais componentes do gengibre, o [6]-gingerol,
inibe a promoção tumoral, indução de ornitina, produção do fator de
necrose tumoral (TNF-α), possui atividades antieméticas, antiinflama-
tórias e espasmolíticas; promove a secreção gástrica, estimula a salivação,
Correspondência a circulação periférica e aumenta a motilidade gástrica.
Bruna de Abreu Toscano Santos
SMHN Quadra 101, Área Especial Norte, Conclusão: O gengibre é capaz de auxiliar o tratamento de pacientes
Brasília-DF.70710-910, Brasil.
brunanutri@yahoo.com
oncológicos tratados com quimioterapia por meio da redução de náuseas
e vômitos, constituindo uma promissora terapia adjuvante do câncer.

Palavras-chave: Gengibre; Neoplasia; Êmese; Náusea; Quimioterapia.


Recebido em 19/janeiro/2012
Aprovado em 20/março/2012

Com. Ciências Saúde. 2011; 22(3):257-270 257


Barreto AMC et al.

ABSTRACT
Introduction: Cancer is a serious public health problem worldwide
whose treatment includes surgery, radiotherapy and chemotherapy. The
main effects of these therapeutic modalities to include nausea, vomiting,
mucositis, stomatitis and others. Objective: To investigate the effects of
ginger (Zingiber officinale) in cancer patients treated with chemotherapy.

Methods: This is a review of the literature, with emphasis in the last five
years, using scientific papers published in journals indexed in the data-
bases PubMed, Lilacs and Bireme, in Portuguese, English and Spanish.

Results: It was observed in the literature that cachexia is common in


cancer patients and it’s clinical manifestations include anorexia, involun-
tary weight loss, functional impairment, progressive depletion of lean
body mass and adipose tissue. Cancer treatment includes surgery, radio-
therapy, chemotherapy, among others, that can cause discomfort such
as nausea, vomiting, mucositis, stomatitis, diarrhea, and constipation,
with significant impact on nutritional status. A major component of
ginger, [6]-gingerol, inhibits tumor promotion, induction of ornithine,
production of tumor necrosis factor (TNF-α), has antiemetic activity,
spasmolytic and anti-inflammatory, promotes gastric secretion, stimula-
tes salivation, peripheral circulation and increases gastric motility.

Conclusion: Ginger can help treating cancer patients sbumitted to che-


motherapy by reducing nausea and vomiting, and is a promising adju-
vant therapy of cancer.

Keywords: Ginger; Neoplasms; Vomiting; Nausea; Chemotherapy

INTRODUÇÃO

O câncer é a principal causa de óbitos nos países aproximadamente 518.510 casos novos de câncer.
economicamente desenvolvidos e a segunda causa Os tumores mais incidentes, à exceção do câncer
principal de morte em países em desenvolvimento. de pele do tipo não melanoma, foram os cânce-
A incidência do câncer está aumentada nos paí- res de próstata e de pulmão no sexo masculino e
ses em desenvolvimento como resultado do os cânceres de mama e do colo do útero no sexo
crescimento e envelhecimento da população e da feminino, acompanhando o mesmo perfil da mag-
adoção de um estilo de vida inadequado como nitude observada para a América Latina. Para o
tabagismo, sedentarismo e o consumo de dietas ano 2030, podem-se esperar 27 milhões de casos
ocidentalizadas¹. incidentes de câncer³.

No Brasil, as estimativas do Instituto Nacional de Existem três tipos principais de tratamento para o
Câncer - INCA², para o ano de 2011, apontam para câncer: cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Náu-
a ocorrência de 489.270 casos novos de neopla- seas e vômitos são sintomas comuns do tratamento
sias malignas. Em 2012 é estimado a ocorrência de quimioterápico e podem causar grandes prejuí-

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Efeitos do gengibre em pacientes oncológicos

zos para pacientes com câncer, com redução da aumentado ou diminuído em relação ao gasto ener-
qualidade de vida, bem como baixa adesão ao gético de indivíduos saudáveis. O requerimento
tratamento, desequilíbrios metabólicos, depleção energético de pacientes com câncer deve, portanto,
de nutrientes, anorexia e outros4. ser considerado normal, a menos que haja dados
específicos que mostrem o contrário. Em indiví-
O gengibre (Zingiber officinale), uma das duos com diferentes tipos de tumor foi encontrado
especiarias mais utilizadas em alimentos, é GER inalterado em pacientes com câncer gástrico
reconhecido por suas propriedades curativas e colorretal e superior ao esperado em indivíduos
na medicina tradicional. Sua variedade de usos com câncer de pâncreas e pulmão7.
medicinais é devido ao seu uso no tratamento
das várias doenças gastrointestinais, como náu- Em estudos prévios, observou-se variação no Gasto
seas, vômitos, desconfortos abdominais, diarréia, Energético (GE) desses pacientes e também contro-
para o tratamento de artrite, reumatismo, dor, vérsias em relação às diversas fórmulas empregadas
desconforto muscular, para a alívio de várias doen- para o cálculo do GE. Dentre os métodos para
ças cardiovasculares e doenças metabólicas. Além estimativa de GE, o Consenso Nacional de Nu-
dessas propriedades bem documentadas de gen- trição Oncológica8 sugere um método direto, de
gibre, estudos científicos recentes revelaram que fácil aplicabilidade, que utiliza a taxa calórica ideal
o gengibre também possui propriedades antican- por quilo de peso corporal, sendo este método
cerígenas em uma ampla variedade de modelos altamente utilizado na prática clínica.
experimentais5.
A cirurgia pode contribuir para deterioração
O objetivo do presente estudo foi investigar na progressiva do estado nutricional e aumentar a
literatura os efeitos do gengibre (Zingiber offi- demanda metabólica por ação direta, com má ab-
cinale) em pacientes oncológicos tratados com sorção de proteína ou de gordura, observada fre-
quimioterapia. quentemente após gastrectomia e pancreatectomia,
ou ainda por efeitos indiretos, como resultante de
infecções ou de reação febril neutropênica2,8.
MÉTODO
Em relação ao metabolismo dos carboidratos, as
O presente estudo trata-se de uma revisão crítica, células cancerosas apresentam maior preferência
sobre o tema, de artigos publicados em revistas pela glicose como substrato energético. O aumento
indexadas nas bases de dados Medline, Lilacs, Pu- da taxa de captação de glicose pelas células tu-
bmed, Capes e SciELO, nos idiomas português, morais está diretamente relacionado com grau de
inglês e espanhol, utilizando-se os descritores: malignidade e poder de invasão celular6.
câncer, gengibre, náuseas e vômitos e tratamento
quimioterápico. Foram selecionados estudos Células normais utilizam glicose preferencialmente
experimentais, clínicos randomizados, obser- na via oxidativa (Ciclo do Ácido Cítrico - CAC)
vacionais, epidemiológicos, entre outros, com para obtenção de energia. As células tumorais são
significância estatística de 5%. Ao todo foram metabolicamente caracterizadas por possuírem alta
encontradas 83 pesquisas, sendo 38 excluídos por especificidade na utilização da glicose pelo ciclo da
não tratarem especificamente do tema, no total 45 pentose, via metabólica não oxidativa, que libera
estudos foram utilizados, destes 48.9% eram revi- substratos para síntese de nucleotídeos com re-
sões e 51.1% artigos originais. generação do cofator enzimático Nicotinamida
Adenina Dinucleotídeo (NAD) reduzido (NADH+).
As células neoplásicas priorizam a glicose para
RESULTADOS E DISCUSSÃO processos anabólicos como síntese de nucleotí-
deos e ribose necessários para produção de RNA
e DNA, em detrimento de outras reações, como
Alterações Metabólicas em Pacientes Oncológicos oxidação da glicose para obetenção de energia e
O câncer provoca alterações celulares e metabóli- síntese de lipídios e proteínas. Este desvio meta-
cas disseminadas que afetam carboidratos, proteí- bólico possibilita turnover de purinas e pirimidi-
nas e lipídios, minerais, vitaminas e hormônios6. nas capacitando à rápida proliferação, mesmo em
condições de hipóxia6.
O Gasto Energético de Repouso (GER) em
pacientes com câncer pode manter-se inalterado,

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Outra alteração metabólica encontrada nesses A diminuição da lipase lipoprotéica leva à hiperlipi-
pacientes é a intolerância à glicose e a resistên- demia, à hipertrigliceridemia, à hipercolesterolemia
cia à insulina em consequência da redução na e ao aumento dos ácidos graxos livres, assim como
sensibilidade das células β – pancreáticas e dos a depleção dos estoques de gordura e diminuição
tecidos periféricos, respectivamente, podendo dos níveis de lipase lipoprotéica são fenômenos
culminar com hiperglicemia. A intolerância à gli- observados em pacientes oncológicos desnutridos
cose é ocasionada pela diminuição da sensibilidade com tumores no Trato Gastrointestinal (TGI)6.
dos receptores das células beta, enquanto a resis-
tência à ação da insulina é ocasionada por redução Pacientes com câncer excretam na urina o fator
da sensibilidade dos tecidos periféricos9. mobilizador de lipídios (Lipid Mobilizing Factor-
LMF), que age diretamente no tecido adiposo, hi-
Observa-se redução do uso da glicose pelo tecido drolisando os triglicerídeos a ácidos graxos livres e
muscular, maior utilização tumoral da glicose por glicerol, por meio do aumento intracelular da Ade-
via anaeróbica com aumento da liberação de lacta- nosina Monofosfato Cíclico (AMPc), de modo aná-
to na circulação sanguínea e consequentemente es- logo aos hormônios lipolíticos, com conseqüente
tímulo para o ciclo de Cori, de forma a compensar mobilização e utilização dos lipídios10.
a acidose metabólica comum nos pacientes com
câncer (Figura 1)10. O ciclo de Cori consiste na No que concerne ao metabolismo protéico, averi-
conversão hepática do lactato à glicose com gasto gua-se que a perda de proteína corpórea, refletida
de energia superior a produção, sendo considerado pelo aumento da excreção de nitrogênio urinário
“ciclo fútil” por ser energeticamente ineficiente e a presença de balanço nitrogenado negativo são
para o paciente e contribuir parcialmente para o alterações comumente observadas no câncer. As
aumento do gasto energético. depleções protéicas manifestam-se com atrofia do
músculo esquelético, atrofia de órgãos viscerais,
miopatia, hipoalbuminemia e estão relacionadas
com aumento da degradação de proteínas miofi-
brilares12.

O catabolismo muscular está aumentado


para fornecer ao organismo aminoácidos,
principalmente alanina e glutamina, para a gli-
coneogênese e para regular a síntese de proteínas
de fase aguda. A redução na síntese protéica tam-
Fonte: Adaptado de Instituto Nacional do Cancer8.
bém concorre para esse quadro. A diminuição da
síntese protéica pode ser resultante da diminui-
Figura 1 ção da concentração plasmática de insulina e da
O ciclo do ácido lático (ciclo de Cori) e o ciclo sensibilidade do músculo esquelético à insulina,
da glicose-alanina. ou de reduções dos níveis de formação protéica
por suplementação de aminoácidos requeridos
Este fato resulta em alterações no metabolismo de para a síntese proteica11.
carboidratos e de proteínas pelo aumento da gli-
coneogênese hepática proveniente de aminoácidos As proteínas intracelulares são sinalizadas para de-
musculares (principalmente alanina e glutamina) gradação por uma pequena proteína denominada
e lactato6. ubiquitina, em um processo denominado de ubi-
quitinização. A via proteolítica ubiquitina – pro-
Observam-se, nas neoplasias malignas, diversas al- teassoma dependente de energia é o principal
terações no metabolismo lipídico, sendo a perda mecanismo envolvido na degradação protéica em
de gordura responsável pela maior parte da perda condições catabólicas como o câncer13.
de peso observada. Essa perda de gordura corporal
está relacionada ao aumento da lipólise, associada Sob o ponto de vista bioquímico, a perda de pro-
à diminuição da lipogênese, em conseqüência à teína corporal está relacionada ao aumento do
reduzida ação da lipase lipoprotéica e liberação de nível sérico do fator indutor de proteólise (Pro-
fatores tumorais lipolíticos, aumento da oxidação teolysis Inducing Factor - PIF), capaz de induzir
de ácidos graxos e, ainda, aumento da lipase hor- tanto a degradação como inibir a síntese protéica
mônio sensível11. na musculatura esquelética6.

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Efeitos do gengibre em pacientes oncológicos

Desnutrição e Síndrome da Anorexia Caquexia (SAC) levam a concentrações altas deste aminoácido no lí-
O grau e a prevalência da desnutrição dependem do quor e a síntese aumentada de serotonina no sistema
tipo e do estádio do tumor, dos órgãos envolvidos, hipotalâmico ventrículomedial. Estes fenômenos
dos tipos de terapia anticâncer utilizadas, da resposta parecem mediar a ocorrência de anorexia. Além
do paciente e da localização do tumor14. Pacientes do triptofano, a IL-1 também está envolvida neste
desnutridos com câncer do aparelho digestório têm processo, agindo diretamente no sistema hipotalâmi-
pior prognóstico do que aqueles bem nutridos ou co ventriculomedial, onde existem receptores sensí-
que conseguiram interromper o processo de perda veis, o que aumenta diretamente a liberação de sero-
de peso, durante o tratamento. Observa-se perda tonina e, perifericamente, estimula o fornecimento
de peso em pacientes com neoplasias malignas de triptofano ao sistema nervoso central11.
do trato gastrintestinal superior, principalmente
quando submetidos a ressecções cirúrgicas Além das citocinas produzidas pelas células imunes
radicais acompanhadas de radio e quimioterapia do hospedeiro, fatores catabólicos gerados pelo
complementares. Nesses pacientes, o aconselhamento próprio tumor foram identificados e podem agir
dietético bem programado e periódico pode reduzir diretamente sobre os tecidos muscular esquelé-
a perda de peso de forma significativa15. tico e adiposo. Eles agem de maneira símile aos
hormônios e são capazes de induzir perda pon-
Uma perda de peso maior que 10%, nos 6 meses deral mediante mecanismo envolvendo anorexia.
anteriores ao diagnóstico, é considerada uma preo- Essas substâncias podem ser divididas em dois
cupação e fator de risco independente para a sobre- grupos distintos – fatores mobilizadores de lipí-
vida7. A perda de peso significativa tem associação dios (FML) e fatores indutores de proteólise (FIP).
com a anorexia. A anorexia - perda espontânea e O metabolismo anormal induzido e observado
não intencional de apetite - é um dos sintomas durante a caquexia cancerosa leva a excessiva mo-
mais comuns do câncer avançado. Resulta de alte- bilização de proteínas e lipidios dos músculos e
rações do paladar e olfato ou mudanças na regula- dos estoques de gorduras, com comprometimento
ção hipotalâmica6. da massa celular corporal11.

A redução do consumo alimentar do paciente A desnutrição grave acompanhada de anorexia e


com câncer é multifatorial e está relacionada aos astenia é denominada caquexia. A diferença mais
problemas específicos do tumor e do tratamento, importante entre desnutrição e caquexia do câncer
além da anorexia propriamente dita16. Os tumores é a preferência por mobilização de gordura com
suscitam uma resposta do hospedeiro com base preservação do músculo esquelético na desnutri-
na produção de citocinas (interleucinas ou fator ção, enquanto na caquexia há igual mobilização de
de necrose tumoral) por células imunológi- gordura e tecido muscular13.
cas na tentativa de destruir as células tumorais
entretanto, os tumores de crescimento rápido A denominação “caquexia” deriva do grego, “ka-
não são eliminados pela carga de citocinas porém, kos”, má e “hexis”, condição. Embora a síndrome
estas são produzidas em concentrações suficientes venha sendo mais estudada no câncer, não está a
para induzir efeitos secundários sobre o próprio esse restrito e atinge também pacientes com falên-
hospedeiro, resultando em anorexia e alterações cia cardíaca congestiva, com moléstias digestivas,
significativas no metabolismo energético, dos defeitos tubulares renais, queimaduras, sepse e
carboidratos, das proteínas e dos lipídeos. Níveis síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA).
séricos elevados de interleucinas 1 e 6 (IL-1 e IL-6), O caráter multifatorial e sistêmico da caquexia
bem como fator de necrose tumoral alfa, têm sido dificulta sobremaneira a elaboração de critérios
detectados em pacientes com câncer e parecem que a definam de forma indiscutível10. Entre 60% e
se correlacionar positivamente com a progressão 80% dos pacientes com câncer de pulmão e câncer
tumoral11. no sistema digestório, por exemplo, apresentam-se
caquéticos no momento do diagnóstico11.
Vários são os mecanismos da redução de inges-
tão de nutrientes responsáveis pela anorexia ca- Muscaritoli et al.14 e Fearon et al.17, estabeleceram
racterística do câncer, tais como alterações do que a caquexia associada ao câncer pode ser
paladar, efeito tumoral direto sobre o hipotálamo e, definida como: “síndrome multifatorial, na qual há
consequentemente, na regulação do apetite, tendo perda contínua de massa muscular (com perda ou
resultado a anorexia16. Há uma hipótese de que, no ausência de perda de massa gorda), que não pode
câncer, níveis plasmáticos aumentados de triptofano ser totalmente revertida pela terapia nutricional

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convencional, conduzindo ao comprometimento Os parâmetros para determinar a inclusão do


funcional progressivo do organismo”. paciente em cada um dos estádios, abrangem a de-
terminação da concentração de proteína C- reativa
Os critérios diagnósticos estabelecidos em acordo (PCR) no soro, avaliação da anorexia e fatores
pelo grupo internacional proponente da definição correlatos (redução do apetite, alterações na per-
incluem perda involuntária de peso superior a 5% cepção gustativa e olfativa, motilidade gastrointes-
em 6 meses, ou 2% (em indivíduos já abaixo dos tinal reduzida, constipação, dor, entre outros), me-
valores esperados de peso, segundo o índice de tabólitos indicadores de catabolismo, massa e força
massa corporal – IMC < 20kg/m²) ou presença muscular (dinamometria dos membros superiores),
de sarcopenia (diminuição de massa muscular es- bem como manifestações psicossociais. Essa classi-
quelética decorrente da interação de distúrbios da ficação garante que o paciente receba o tratamento
inervação, diminuição da atividade física, redução mais adequado às suas necessidades12.
de hormônios, aumento dos mediadores inflama-
tórios e alterações da ingestão proteico- calórica As manifestações clínicas da síndrome incluem
que ocorrem durante a caquexia). O mesmo grupo anorexia, alterações no paladar, astenia, fadiga,
propõe a classificação da síndrome, segundo a exacerbada perda de peso involuntária (tecido
gravidade, em pré-caquexia, caquexia e caquexia adiposo e massa magra), perda da imunocom-
refratária (Figura 2)17. petência, perda de habilidades motoras e físicas,
apatia, desequilíbrio iônico, anemia, náuseas, e
grandes alterações no metabolismo de proteínas,
carboidratos e lipídios13. A caquexia é considerada
desnutrição protéico-energética grave18.

É geralmente atribuível a dois principais


componentes: uma ingestão diminuída de nutrien-
tes (que pode ser devido a envolvimento crítico
do trato gastrintestinal pelo tumor ou a citoci-
nas) e alterações metabólicas devido à ativação de
processos pró-inflamatórios sistêmicos19.

Fatores secretados pelo tumor em crescimento es-


tão aparentemente implicados na mobilização de
Fonte: Adaptado de Fearon et al 17 ácidos graxos e proteínas. Contudo, a concepção
da síndrome como estado inflamatório crônico, no
Figura 2 qual a reação do hospedeiro à presença do tumor
Estádios da Caquexia do câncer. aparece como o principal agente causal12.

O primeiro estádio é definido como aquele no qual, A indução tumoral de caquexia e anorexia é mais
o paciente apresenta perda de peso menor ou igual provavelmente mediada por múltiplas citocinas
a 5% em 6 meses, anorexia e alterações metabó- produzidas pelos monócitos do hospedeiro, na
licas; para inclusão do paciente no segundo está- tentativa de erradicar o tumor. Como o hospedeiro
dio, considera-se perda de peso igual ou superior não consegue erradicá-lo, a produção crônica de
a 5% em 6 meses, ou de 2%, com IMC < 20kg/ citocinas pelo mesmo e pelo tumor leva a alte-
m2, ou sarcopenia acompanhada de perda de peso rações metabólicas prejudiciais, observadas nos
corporal equivalente ou superior a 2%. Referem pacientes com câncer18.
ainda presença frequente de redução da ingestão
e de inflamação sistêmica11. Finalmente, o terceiro Várias citocinas são estudadas como mediadores
estádio (caquexia refratária) inclui os pacientes do processo caquético, entre elas podemos citar:
com diferentes graus de caquexia, mas nos quais TNF-α, interleucina-1 (IL-1), interleucina-6 (IL-
há intenso catabolismo e que não respondem 6), e interferon-γ (IFN-γ). Altos níveis séricos
ao tratamento anticâncer. Ainda nesse estádio, de TNF-α, IL-1 e IL-6 têm sido encontrados em
pacientes com baixo escore de desempenho e so- alguns pacientes com câncer, e os os níveis dessas
brevida esperada inferior a três meses devem ser citocinas parecem correlacionar-se com a progres-
incluídos14,17. são dos tumores16.

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Efeitos do gengibre em pacientes oncológicos

Essas citocinas, além de induzirem a inapetên- Diferentemente do tratamento cirúrgico, a


cia, estimulam a produção das proteínas da fase radioterapia e a quimioterapia não são específicas
aguda, destacando-se a PCR e reduzem as proteí- para o tecido. Ambas atuam por meio da inibi-
nas negativas, particularmente, albumina, pré-al- ção do crescimento de células de rápida divisão
bumina e transferrina. A IL-6 tem sido considerada celular21 e podem ser utilizadas em conjunto com
importante fator indutor de atrofia muscular e a cirurgia ou isoladamente atuando como curativas
perda de peso. Seus níveis se apresentam elevados ou paliativas22.
nos pacientes com neoplasia, porém, esta não atua
isoladamente no processo. IL-1 e INF- γ possuem A radioterapia, mesmo isoladamente, pode
ação semelhante ao fator de necrose tumoral, ou diminuir tumores grandes e minimizar a recorrên-
seja, redução da lipase lipoprotéica e aumento da cia e o risco de metástase. Ela constitui uma terapia
lipólise, sendo o efeito anorexígeno da IL-1 tão antineoplásica muito utilizada, entretanto, mesmo
potente quanto o do TNF-α11,10. que sejam usados os sensitizadores, o tratamento
por radiação é sujeito a severas limitações22. Os
A etiologia da caquexia é, portanto, complexa efeitos colaterais da radioterapia variam de pessoa
e não há, até o presente momento, absoluto para pessoa e dependem fundamentalmente da
consenso sobre os fatores que deflagram e man- área irradiada. Se a área irradiada for o cérebro
têm o quadro13. e a coluna podem ocorrer náuseas e vômitos.
Quando a língua, cordas vocais, tonsilas, glându-
las salivares, cavidade nasal ou faringe forem irra-
Tratamento do Câncer versus Efeitos Adversos diadas, certo grau de inflamação da mucosa está
O tratamento do câncer é estabelecido após o previsto, podendo haver dificuldades na alimen-
diagnóstico e o estadiamento do tumor, baseado tação (xerostomia, disfagia, odinofagia, sialorreia).
na análise anatomopatológica de biópsia e tra- Nos casos em que o pulmão, esôfago e mama são
çando o plano terapêutico, de acordo com o irradiados, poderá ocasionar dificuldade e dor para
estado geral do doente e com os protocolos de engolir. A irradiação do intestino, próstata, úte-
tratamento existentes, que podem incluir: cirurgia, ro, reto ou pâncreas poderá ocasionar inapetência,
radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia, náuseas, vômitos e diarreia4.
transplantes, dentre outros3.
O tratamento quimioterápico constitui de
O tratamento cirúrgico do câncer pode ser aplicado medicamentos que controlam ou curam essa doen-
com finalidade curativa ou paliativa. É considerado ça. Os quimioterápicos atuam por meio da destrui-
curativo quando indicado nos casos iniciais da ção de células malignas, impedindo a formação
maioria dos tumores sólidos. A ressecção curativa de um novo Ácido Desoxirribonucléico (ADN),
é aquela em que todo o câncer visível é removido além de bloquear as funções essenciais da célu-
e as margens cirúrgicas são microscopicamente la ou induzir a apoptose. Por ser um tratamento
livres de lesão. O tratamento cirúrgico paliativo sistêmico, todos os tecidos podem ser afetados,
tem a finalidade de reduzir a população de célu- embora em graus diferentes. Eles podem causar
las tumorais ou de controlar sintomas que põem desconfortos no sistema digestório como: náuseas,
em risco a vida do paciente ou comprometem a vômitos, anormalidades no paladar, alterações de
qualidade de vida3. preferências alimentares, mucosite, estomatite,
diarréia e constipação, entre outros. Todos esses
Estima-se que cerca de 60% de todos os pacientes fatores são capazes de proporcionar redução da
com câncer necessitem de cirurgia para o seu ingestão alimentar e, consequentemente, depleção
tratamento. Quase todos são submetidos a algum do estado nutricional, com incremento nos índices
tipo de procedimento cirúrgico para diagnóstico de morbimortalidade20.
(como a biópsia) ou estadiamento da doença. De
um modo geral, os tumores de crescimento lento
são os melhores candidatos à cirurgia, e a cirurgia Náuseas e Vômitos Induzidos pela Quimioterapia
inicial para câncer tem maior chance de cura do A náusea é uma sensação desagradável da necessida­
que a cirurgia para recidivas20. de de vomitar, habitualmente acompanhada de
sintomas autonômicos como sudorese fria, sia-
A ressecção cirúrgica das neoplasias malignas tem lorréia, hipotonia gástrica, refluxo do conteúdo
como objetivos principais: ressecção da massa intestinal para o estômago, entre outros. Vômito ou
cancerosa e de outros tecidos envolvidos21. êmese é a expulsão rápida e forçada do conteúdo

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Barreto AMC et al.

gástrico através da boca, causada por uma contra- 1. Ê mese aguda: os sintomas iniciam durante
ção forte e sustentada da musculatura da parede as primeiras 24 horas após a aplicação da
torácica e abdominal4. quimioterapia. O principal mecanismo de ação
é a ativação vagal pela serotonina liberada das
Náusea corresponde à primeira fase da êmese, o células enterocromafins do trato gastrointestinal
estômago se relaxa e ocorre a inibição da secreção após a administração de agentes quimioterápicos.
do ácido gástrico – esta é chamada de fase pré­
ejeção. Durante a náusea a pressão intratorácica 2. Êmese tardia: os sintomas iniciam após 24 horas
diminui e a pressão abdominal aumenta. O passo da aplicação da quimioterapia e perduram por
seguinte é a fase de ejeção: o reflexo do vômito até três dias. O principal mecanismo de ação é
compreende uma grande contração retrógrada do a ativação dos receptores neuroquinina 1 (NK1)
intestino delgado para o estômago; contrações dos pela substância P, embora ainda haja a partici-
músculos abdominais e do diafragma tornam‑se pação da serotonina. Pacientes com controle
coordenados, aumenta a pressão no tórax e no inadequado da êmese aguda apresentam maior
abdome comprimindo o estômago e forçando seu risco de desenvolverem êmese tardia.
conteúdo através da boca e nariz. Na fase de pós‑eje-
ção geralmente há alívio da náusea – a depender 3. Êmese antecipatória: ocorre quando os sintomas
da etiologia do processo. Ambos os sintomas são se apresentam previamente à aplicação da droga.
associados à sensação desconfortável, com impacto Trata-se de uma resposta condicionada em certos
importante na qualidade de vida4. pacientes que desenvolveram náusea e vômitos
intensos em ciclos de quimioterapia anteriores.
A ocorrência de náuseas e vômitos em pacientes
com câncer pode estar relacionada ao espectro Os principais agentes antineoplásicos relacionados
clínico da própria neoplasia ou a toxicidade do à NVIQ incluem: Carmustina, Cisplatina, Ciclofos-
tratamento empregado. Como manifestação famida, Doxorrubicina, Epirrubicina, Ifosfamida,
da neoplasia, frequentemente é encontrada em Irinotecano, Gencitabina, Ixabepilone, Methotre-
pacientes com quadros de suboclusão intestinal xate, Mitomicina, Vincristina, Vinorelbine, Vim-
ou metástase para sistema nervoso central e fíga- blastina entre outros (Tabela 1).
do. Como efeito adverso à quimioterapia, ocorre
em até 80% dos pacientes sob tratamento, caso a A quimioterapia apresenta efeitos adversos que
profilaxia antiemética adequada não seja utilizada23. podem comprometer o estado físico, imunológi-
co e nutricional, sendo que a terapia nutricional
Deste modo, segundo o Consenso Brasileiro de Náu- (TN), quando bem aplicada, auxilia no manejo
seas e Vômitos em Cuidados Paliativos24, pacientes dos sintomas evita a caquexia e contribui para a
com esses diagnósticos devem ser considerados de melhora da qualidade de vida do paciente8.
maior risco para o desenvolvimento dos sintomas e
então o interrogatório direcionado para sua detec- O conhecimento dos mecanismos fisiopatológicos
ção deve fazer parte da avaliação clínica rotineira. permite o tratamento com drogas que atuem em
receptores específicos, estimulados ou inibidos de
O diagnóstico de náusea é clínico, baseado na acordo com as diferentes etiologias das náuseas e/
história relatada pelo paciente e seus familiares, ou vômitos.
uma vez que se trata de uma sensação subjetiva.
É importante questionar o paciente a respeito de ƒƒ
Considerações anatômicas. A área postrema é
seu desejo de se alimentar, sensação de fraqueza, uma estrutura circunventricular, localizada no
eventual dificuldade mecânica para deglutir, pre- piso do quarto ventrículo, no tronco cerebral.
sença de sede e/ou fome, reação a determinados Trata-se de entidade funcional, denominada zona
alimentos e odores, e fatores desencadeantes de gatilho quimiorreceptora, envolta por barreira
do sintoma. A avaliação do estado nutricional hematoencefálica permeável, o que a torna sen-
do paciente e dos sinais de desidratação pode sível a substâncias potencialmente emetogênicas
contribuir para o diagnóstico de náuseas crônicas presentes na circulação sanguínea4.
e/ou intensas24.
O centro do vômito fica próximo à área postre-
A Náusea e o Vômito Induzido pela Quimioterapia ma, na medula espinhal. Age como via comum no
(NVIQ) são classificados em três síndromes clínicas, processamento de diferentes estímulos aferentes,
conforme o início dos sintomas e a fisiopatologia25: promovendo o vômito4.

264 Com. Ciências Saúde. 2011; 22(3):257-270


Efeitos do gengibre em pacientes oncológicos

ƒƒ
Considerações químicas neurológicas centrais26. no câncer. Uma avaliação nutricional periódica
Os receptores tipo 2 da dopamina (D2) da área deve fazer parte da rotina do tratamento, pois a
postrema são estimulados por altas concentra- desnutrição é muito prevalente no paciente on-
ções plasmáticas de substâncias emetogênicas, cológico e associa-se à diminuição da resposta ao
sais como íons de cálcio, morfina, ureia e digo- tratamento específico27, à qualidade de vida, com
xina. A área postrema também pode ser ativada maiores riscos de infecção pós-operatória, aumento
por estímulos aferentes do nervo vago e do na morbimortalidade, repercute na susceptibilida-
aparelho vestibular. Fibras vagais também pos- de a infecções, resposta terapêutica e no prognós-
suem receptores 5-hidroxitriptamina (5-HT3). tico. A identificação do risco nutricional e do EN
é feita utilizando-se parâmetros clínicos, físicos,
ƒƒ
Considerações químicas neurológicas periféri- dietéticos, sociais, antropométricos e laboratoriais,
cas. O trato gastrintestinal dispõe de receptores visando um melhor conhecimento do paciente6.
promotores de estímulos aferentes abdominais
via vagal, capazes de desencadear o reflexo A avaliação nutricional é um processo rigoroso
emetogênico após exposição à quimioterapia, que inclui a obtenção da história dietética e mé-
radioterapia, distensão abdominal etc24. dica, o estado clínico atual, dados antropométri-
cos, laboratoriais, avaliação física, informações
Os principais receptores intestinais envolvidos no funcionais e econômicas, cálculo das necessidades
processo são 5-HT3, neuroquinina, dopamina e de nutrientes, e, com esses dados é selecionando
colecistoquinina, localizados nas terminações dos um plano de tratamento28.
aferentes vagais. Tais receptores situam-se próxi-
mos às células enterocromafins da mucosa gastrin- Segundo o Consenso de Nutrição Oncológica8, a
testinal, configurando uma rica fonte de 5-HT3, avaliação nutricional no paciente oncológico seja
que é lançado massivamente a partir dessas células no pré ou pós-operatório deve ser uma prioridade
em resposta aos diversos estímulos e sensibiliza os no plano terapêutico. Dentre as ferramentas
aferentes vagais24. utilizadas na triagem do risco nutricional nestes
pacientes destacam-se a Avaliação Subjetiva Global
É fundamental que o profissional de saú- (ASG) e a Avaliação Subjetiva global Produzida
de questione especificamente os sintomas no pelo Próprio Paciente (ASG-PPP). Seu propósito
momento da avaliação, pois o paciente com náu- é identificar, já na admissão, indivíduos em risco
sea crônica pode não se queixar. Os vômitos são de desnutrição ou que já estão desnutridos, e que
facilmente identificados, e assim diagnosticados são candidatos à terapia nutricional.
e tratados. Para uma adequada investigação faz-
-se necessário conhecer o doente e o andamento Em um estudo realizado por Santos et al.29, cujo
de sua doença, os tratamentos realizados e os objetivo foi avaliar a aplicação da ASG – PPP e sua
medicamentos em uso, bem como a presença de correlação com a ASG em 28 pacientes oncológi-
outros sintomas4. cos, obteve com a ASG uma prevalência de 57,1%
(n=16) classificados como moderadamente des-
A avaliação de náuseas e vômitos envolve a investi- nutridos, enquanto que a ASG – PPP identificou
gação da frequência, duração, intensidade, aspecto, presença de desnutrição em 85,8% (n=24), sendo
volume, fatores causadores ou agravantes (como o destes, 67,9% (n=19) encontravam-se moderada-
uso de medicamentos), desconforto físico, social, mente desnutridos. Não houve diferença estatis-
emocional, financeiro, efetividade e satisfação em ticamente significante entre as classificações do
relação ao tratamento proposto24. estado nutricional.

A avaliação contínua e sistemática possibilita o Segundo Toscano et al.18, a avaliação nutricional


acompanhamento da evolução do quadro, sendo precoce permite estimar o risco nutricional, a
fundamental seu registro. A partir da avaliação magnitude da desnutrição, determinar a inter-
é possível planejar intervenções e tratamentos venção nutricional adequada e, conseqüentemen-
visando o conforto do paciente8. te, melhorar ou manter o estado nutricional do
paciente e sua qualidade de vida.

Avaliação Nutricional de Pacientes Oncológicos


O comprometimento do Estado Nutricional (EN)
está associado ao aumento da morbimortalidade

Com. Ciências Saúde. 2011; 22(3):257-270 265


Barreto AMC et al.

Gengibre como Terapia Alternativa no Câncer formações neoplásicas em células epidérmicas de


Gengibre (Zingiber officinale) tem sido usado rato JB6. Assim ele é considerado um potencial
para tratar várias condições clínicas, incluindo quimiopreventivo e anti-tumoral37. É conhecido
aquelas que afetam o trato digestório, tais como por inibir o Fator Nuclear Kappa-Beta (NF-kB) e
dispepsia, flatulência, náuseas e dor abdominal30. É a Proteína ativada-1 (AP-1, fator que regula a ex-
consumido em todo o mundo como uma especiaria pressão de vários genes que estão envolvidos na
e um agente aromatizante. Ele tem uma longa his- diferenciação e proliferação celular na tumorigêne-
tória de uso culinário e medicinal31, com muitos se) processo de ativação, 6-gingerol e pode causar
benefícios terapêuticos. É utilizado na medicina uma supressão significativa da proliferação celular
oriental tradicional contra sintomas como inflama- e sensibiliza as células para apoptose38.
ção, doenças reumáticas, e desconfortos gastroin-
testinais. Contêm substâncias fenólicas, cetonas O gengibre demonstrou várias propriedades que
aromáticas conhecidas como gingeróis, que são podem beneficiar o tratamento de náuseas e vô-
os componentes farmacologicamente mais ativos32. mitos na quimioterapia, incluindo a reversão do
efeito inbitório da cisplatina no esvaziamento gás-
A ciência ocidental confirmou muitas das indica- trico de ratos, como o 5-HT3, e como antagonista
ções tradicionais do gengibre e constatou que que do receptor,e como um antioxidante32.
ele possui atividades antieméticas, antiinflamató-
rias e espasmolíticas; estimula secreção gástrica Uma pesquisa com 644 pacientes oncológicos
e a salivação; estimula a circulação periférica e demonstrou que a suplementação de 0,5 a 1 g/dia
aumenta a motilidade gástrica33. Os mecanismos de gengibre por seis dias, iniciado três dias antes
de ação do gengibre para as náuseas não são ple- da quimioterapia, diminuiu a incidência de náusea
namente compreendidos, mas podem resultar da aguda quando comparado a placebo39.
capacidade do gengibre de evitar arritmias gástri-
cas por meio da ininição da produção das prosta- Com o propósito de determinar o mecanismo por
glandinas, embora não haja inibição da função das meio do qual o gengibre evita as náuseas, aven-
prostaglandinas34. tou‑se a teoria de que o gengibre evita a pertur-
bação do ritmo de ondas lentas por hiperglicemia
Segundo Francisco et al.35, no Brasil os produtos aguda via inibição da produção de prostaglandi-
disponíveis no mercado são: amido do gengibre, nas. Vinte e dois voluntários receberam gengibre
balas e cristais de gengibre e bebida alcoólica com (1g) ou placebo, e, depois, foram submetidos à
gengibre, além do gengibre em pó. eletrogastrografia de jejum durante clampeamento
hiperglicêmico até 250 a 290mg/dl. Foi averiguado
O gengibre tem sido incluído no ‘’Geralmente que o gengibre conseguia evitar arritmia de ondas
Reconhecido como Seguro” (GRAS), documento lentas induzidas pela hiperglicemia aguda, embora
da FDA (Food and Drug Administration) 36 . É não influenciasse as arritmias induzidas pelo análo-
categorizado por este órgão como aditivo alimentar, go de prostaglandinas E1. Esse trabalho confirmou
mas atualmente é estudado como um tratamento que o gengibre consegue inibir a produção de
para as náuseas e vômitos. Efeitos adversos após algumas prostaglandinas, mas não sua ação34.
a ingestão de gengibre não são conhecidos. Em
alguns estudos foram descritos leves efeitos gas- Pillai et al. encontraram que o gengibre reduz a
trointestinais, como azia, diarréia e irritação na intensidade de náuseas e vômitos em crianças
boca. Devido à possibilidade de aumentar o risco e adultos jovens40. Hu et al.41, em um estudo
de fibrinólise, recomenda-se cautela em pacientes randomizado e duplo-cego, demonstrou que o
que tomam altas doses de anticoagulantes como gengibre na dose de 1,2g (dividido em 03 cáp-
a varfarina33. sulas) aumentou a taxa de esvaziamento gástrico
em pacientes com dispepsia funcional quando
Um dos principais componentes do gengi- comparado com placebo em 11 pacientes diag-
bre, o [6]-gingerol (1-40-hidroxi-30-meth- nosticados pelo critério de Roma III.
yoxyphenyl‑5‑hidroxi-3-decanone), tem efeitos
diversos, que inclui atividades antioxidantes e Melo et al.42 ao investigarem o efeito inibitório
anti-inflamatórias. Ele também inibe a promoção do óleo essencial de gengibre na migração de leu-
de tumor mediada, indução de ornitina e TNF-α cócitos in vivo e in vitro, relataram que muitos
na pele de ratos 37. Além disso, inibe fator de constituintes deste óleo são potentes inibidores
crescimento epidérmico (EGF) induzido por trans- de citocinas pró-inflamatórias tais como TNF-α e

266 Com. Ciências Saúde. 2011; 22(3):257-270


Efeitos do gengibre em pacientes oncológicos

IL‑1b, da produção de leucotrienos e prostaglan- CONCLUSÃO


dinas E2 B4, ácido araquidônico e outros meta-
bólitos. Os resultados demonstraram os efeitos Êmese induzida por drogas citotóxicas é um
anti-inflamatório do óleo essencial de gengibre em dos principais efeitos colaterais dos tratamentos
modelos experimentais de inflamação. antineoplásicos. Com o aumento do uso de
quimioterapia, o controle deste sintoma segue
Os ratos adultos albinos que receberam infusão como importante foco na meta de viabilizar o
aquosa de gengibre por via oral em um estudo melhor tratamento possível sob o menor impacto
conduzido por Elrockh36 tiveram uma redução em qualidade de vida, principalmente naqueles
significativa no nível de colesterol sérico e de tri- que recebem quimioterápicos de alto potencial
glicerídeos. Dessa forma, o autor concluiu que a emetogênico.
dose de 200 mg de gengibre / kg é equivalente à
eficácia da atorvastatina, enquanto a dose de 400 Os estudos analisados apontam que o gengibre é
mg de gengibre / kg é mais eficaz como agente capaz de auxiliar o tratamento de pacientes onco-
hipocolesterolêmico que a atorvastatina quando lógicos tratados com quimioterapia por meio da
administrado com a mesma duração de tempo sob redução dos sintomas de náuseas e vômitos, dentre
as mesmas condições de dieta e estilo de vida para outros efeitos benéficos, constituindo uma promis-
a tratamento da mesma condição patológica. sora terapia adjuvante do câncer. Entretanto, mais
estudos clínicos randomizados, duplo-cego e pla-
Os estudos analisados demonstraram que o uso cebo controlado são necessários para que se possa
de gengibre em pacientes oncológicos é capaz de identificar a dose exata de gengibre que deve ser
minimizar os efeitos adversos quimioterápicos ofertada aos pacientes oncológicos para o controle
como náuseas, vômitos, dentre outros. Porém, as de cada um desses sintomas.
diferenças metodológicas dos estudos analisados
(diversos tipos de neoplasias malignas, distintas
doses de gengibre, graus variados de efeitos
adversos etc.), a falta de um tratamento estatísti-
co para comparação dos resultados encontrados
(metanálises) e a ausência de um método padrão
na literatura para a identificação do material não
publicado constituem limitações do presente
estudo. Os principais estudos estão demonstrados
na tabela 2.

Com. Ciências Saúde. 2011; 22(3):257-270 267


Barreto AMC et al.

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Barreto AMC et al.

Tabela 1
Potencial emetogênico dos principais agentes antineoplásicos intravenosos.

Grupo Frequência de Vômitos (%) Antineoplásicos e Dose


AC (combinação definida como doxorubicina ou epirubicin com ciclofosfamida), carmustina
Alto >90% >250mg/m², cisplatina >50mg/m², ciclofosfamida dose ≥ 1500mg/m², dacarbazina, doxorubicin
>60mg/m², epirubicin >90mg/m², ifosfamide ≥ 10g/m², metocloretamine, streptozocin .
aldesleukin >12-15milhões U/m², amifosfatine >300mg/m², arsênico trioxide, azacitidine,
bendamustine, busulfan, carboplatina, carmustina ≤1500mg/m², ciclofosfamida dose ≤1500mg/
Moderado 30% - 90 % m², citarabina >200g/m², dactinomicina, daunorrubicina, doxorrubicina ≤60mg/m², epirrubicina
≤90mg\m², idarrubicina, ifosfamida <10g/m², interferon alfa ≥10 milhões de UI/m², melphalan,
methotrexate ≥250mg/m², irisotecano, oxaliplatina.
amifosfatine ≤300mg, aldesleukin ≤12 milhões UI/m², docetaxel, doxorubicim, etoposide,
5-fluorouracil, floxuridine, gencitabina, interferon alfa >5<10 milhões UI/m², ixabepilone,
Baixo 10% - 30%
methotrexate >50mg/m²< 250mg/m², metomicina, mitoxantrone, paclitaxel, citarabina <1000mg/
m², pemetrexed, pentostatin, pralatrexate, romidepsin, thiotepa, topotecam.
alemtuzumab, asperaginase, bevacizumab, bleomicina, bortezomib, cetuximab, cladribine
(2-clorodeoxidenosina), citarabine <100mg/m², decitabine, denileukin diftitox, dexrazotane,
Muito Baixo <10% fludarabina, interferon alfa ≤5 milhões UI/m², methotrexate ≤ 50mg/m², nelarabine, panitumumab,
pegaspargase, peginterferon, temsirolimus, trastuzumab, valrubicin, vincristina, vinorelbine,
vimblastina, rituximab.

Fonte: Adaptado de National Comprehensive Cancer Network4.

Tabela 2
Estudos clínicos da suplementação de gengibre em pacientes oncológicos tratados com quimioterapia.

Referência Tipo de estudo Valor de p População-alvo Intervenção Resultados


Pillai et al.40 Estudo prospectivo, p= <0.001 Crianças e adultos jovens (8- Pacientes entre 20 a 40kg Observou-se que a raiz
randomizado, duplo 21 anos) com diagnóstico recente receberam 06 cápsulas / de gengibre em pó foi
cego e placebo de sarcomas ósseos submetidos dia contendo 167mg de gengibre significativamente eficaz na
controlado. à quimioterapia com alto em pó, amido ou fécula em pó redução da gravidade das
potencial emetogênico. (n= 61) (dose total: 1.000 mg/ dia). náuseas e vômitos induzidos
Pacientes entre 40 a 60kg pela quimioterapia, tanto agudos
receberam 05 cápsulas / quanto tardios em crianças e
dia contendo 400mg de gengibre adultos jovens.
em pó de amido (dose total:
2.000 mg)
Zick et al.32 Estudo randomizado, p= 0.03 Indivíduos maiores de 18 anos, Receberam cápsulas contendo A gravidade das náuseas foi
duplo cego, placebo com diagnóstico histológico 1 ou 2g, cada cápsula continha reduzida
controlado. de câncer tratados com 250mg de extrato seco de quando a dose de 2,0g de
quimioterapia (n=162). gengibre ou placebo. gengibre foi tomada com
aprepitante.
Ryan et al.39 Estudo randomizado, p= 0.003 Pacientes com câncer da Os pacientes foram Suplementação de gengibre em
controlado com placebo, Universidade de Rochester randomizados em quatro grupos: dose diária de 0,5g a 1,0g ajuda
duplo-cego. filiados ao Programa comunitário 1) placebo, 2) 0.5g de gengibre, significativamente na redução de
de Oncologia Clínica (CCOP) 3) 1,0 g de gengibre, ou 4) de náuseas durante o primeiro dia
(n=644). gengibre 1.5g. de quimioterapia
Todos os pacientes receberam
antieméticos antagonista 5-HT3
no dia 1 de todos os ciclos e
levaram três cápsulas de 250mg
de gengibre ou placebo duas
vezes por dia durante seis dias,
com início três dias antes do
primeiro dia dos próximos dois
ciclos.

270 Com. Ciências Saúde. 2011; 22(3):257-270

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