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NUTRIÇÃO E CÂNCER

RENATA REIS
Mestranda em Nutrição (UFPE)
Especialista em Nutrição Clínica (UPE)
Bacharel em Nutrição (UFAL)
O QUE É O CÂNCER?

• É uma enfermidade multicausal crônica, caracterizada pelo crescimento

descontrolado de células (maligno) que invadem os tecidos e órgãos,

podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.

INCA, 2015
TUMOR MALIGNO X TUMOR BENIGNO
• Tumor maligno  As células afetadas pelos agentes cancerígenos dividem-
se rapidamente, tendem a ser muito agressivas e incontroláveis,
determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas).

• Tumor benigno  massa localizada de células que se multiplicam


vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente
constituindo um risco de vida.
INCA, 2015
TIPOS DE CÂNCER

Início em tecidos
Carcinoma epiteliais (pele
ou mucosas)

Início em tecidos
conjuntivos (osso,
Sarcoma músculo ou
cartilagem)

INCA, 2015
O CÂNCER É...
HEREDITÁRIO?

CONTAGIOSO?

TODO TUMOR É CÂNCER?


QUAIS SÃO AS CAUSAS?

HÁBITOS
MEIO
AMBIENTE

EXISTE
GENÉTICA PREVENÇÃO?

INCA, 2015
FATORES DE RISCO

80% a 90% dos cânceres estão


associados a fatores ambientais
TIPOS DE CÂNCER RELACIONADOS À ALIMENTAÇÃO
• Esôfago, estômago, cólon e reto, mama, próstata.

PROMOTORES
• Alimentos preservados em nitritos PROTETORES
(salsichas, presunto, mortadela,
• Frutas
embutidos em geral etc.)
• Defumados e churrascos • Verduras
• Alimentos preservados em sal • Legumes
• Alimentos ricos em gordura animal • Cereais
• Alimentos mofados (aflatoxina)
EPIDEMIOLOGIA PROBLEMA DE
SAÚDE
PÚBLICA!

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que, em 2030,


podem-se esperar 27 milhões de novos casos de câncer e 75
milhões de pessoas vivendo com a doença.

No Brasil, a estimativa para o biênio de


2016-2017, aponta a ocorrência de
aproximadamente 600 mil casos novos de
câncer em cada um desses anos.

INCA, 2016
EPIDEMIOLOGIA

INCA, 2016
TRATAMENTO
QUIMIOTERAPIA

• É o método que utiliza


compostos químicos
(quimioterápicos).

• Afetam tanto as células normais


como as neoplásicas.

• Utilização de 1 ou mais
medicamentos.
QUIMIOTERAPIA
QUIMIOTERAPIA

• Objetivo de se conseguir o controle


CURATIVA completo do tumor.

• Segue à cirurgia curativa.


• Objetivo de esterilizar células residuais
ADJUVANTE locais ou circulantes, diminuindo a
incidência de metástases.

• Redução parcial do tumor


NEOADJUVANTE • Complementação terapêutica com a cirurgia
e/ou radioterapia.

• Não tem finalidade curativa.


PALIATIVA • Melhorar a qualidade da sobrevida do paciente.
QUIMIOTERAPIA

• EFEITOS COLATERAIS
RADIOTERAPIA

• É o método capaz de destruir


células tumorais, empregando
feixe de radiações ionizantes.

• Busca erradicar todas as células


tumorais, com o menor dano
possível às células normais
circunvizinhas.

• Tratamento local e/ou regional.


RADIOTERAPIA

• Anovulação ou azoospermia

• Epitelites e mucosites

• Mielodepressão (leucopenia e plaquetopenia)


CIRURGIA

• O tratamento cirúrgico do câncer pode ser aplicado


com finalidade curativa ou paliativa.
IMPLICAÇÕES NO ESTADO
NUTRICIONAL
DESNUTRIÇÃO
Aumenta a
Atinge 45,1% dos pacientes morbimortalidade no
com câncer. INGESTÃO
ALIMENTAR pós-operatório e o tempo
de hospitalização.

DESNUTRIÇÃO
CALÓRICO-
PROTEICA

ALTERAÇÕES
DEMANDA
METABÓLICAS
CALÓRICA
PROVOCADAS
PELO TUMOR
PELO TUMOR

INCA, 2013
CAQUEXIA

"A carne é consumida e transforma-se em água... o


abdome se enche de água, os pés e as pernas
incham; os ombros, clavículas, peito e coxas
definham... essa doença é fatal“.

Hipócrates, 2400 a.C.


CAQUEXIA DO CÂNCER

•Derivado do grego “cacos” (ruim) e “xia” (condição).

• É uma síndrome multifatorial , na qual há perda contínua de massa muscular,


que não pode ser totalmente revertida pela terapia nutricional convencional,
conduzindo ao comprometimento funcional progressivo do organismo.

•É considerada DEP grave e pode acometer 50% dos pacientes oncológicos.

• Responsável direta por até 40% das mortes desses pacientes.

DA SILVA, 2006
SÍNDROME DA ANOREXIA-CAQUEXIA DO CÂNCER
CAQUEXIA DO CÂNCER

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
Perda de peso ≥ a 5,0%, ou 2,0% nos últimos 12 meses em indivíduos já abaixo
dos valores esperados de peso (IMC < 20kg/m2) + 3 dos seguintes critérios:
1. Diminuição da força muscular (sarcopenia)
2. Fadiga
3. Anorexia

4. % gordura corporal reduzido


5. Anormalidades bioquímicas:
-Aumento de marcadores inflamatórios: IL6 > 4,0 pg/mL
- Anemia (Hb < 12g/dL)
- Hipoalbuminemia (< 3,2g/dL)
ALTERAÇÕES METABÓLICAS
ALTERAÇÕES HORMONAIS
ALTERAÇÕES IMUNOLÓGICAS

• ↓ Produção de imunoglobulinas

• ↓ Atividade do sistema complemento

• ↓ Linfócitos T e CD4

↓ Poder bactericida dos neutrófilos  ↑ Susceptibilidade às infecções


INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NO
CÂNCER
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
 Não existe um indicador ideal que isoladamente possibilite a avaliação
do estado nutricional.

 Deverá ser realizada no momento da internação ou em até 48 horas.

 Triagem nutricional: NRS, 2002, Índice de Prognóstico Nutricional (IPR),


Avaliação Subjetiva Global (ASG) ou Avaliação Subjetiva Global
Produzida pelo próprio Paciente (ASG-PPP).

 Anamnese alimentar.

 Exames físico, bioquímico e clínico.

INCA, 2016
ASG PPP

INCA, 2016
ASG PPP

INCA, 2016
ASG PPP

INCA, 2016
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL
• Individualizada;

• Presença de outras patologias;

• Resultado da avaliação nutricional;

• Tipo de tumor, localização e catabolismo;

• Sintomas do tratamento antineoplásico;

• Necessidades específicas para idade;

• Interação Droga-Nutriente;

• Suporte nutricional (se necessário).

INCA, 2011
NECESSIDADES NUTRICIONAIS

O gasto energético no câncer varia de acordo com:

ESTÁGIO DA
TUMOR
DOENÇA

FORMAS DE
TRATAMENTO

INCA, 2011
RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS

INCA, 2015
TERAPIA NUTRICIONAL

Pacientes em risco nutricional Pacientes recebendo quimio, imuno e


grave, que serão submetidos a radioterapia, com ingestão alimentar
grandes operações por <70% do gasto energético estimado
câncer do TGI. em período > 10 dias .

Pacientes
sem qualquer terapia adjuvante que
estejam ingerindo <70% das necessidades
nutricionais e nos quais a deterioração do
estado nutricional esteja ligada à piora da
qualidade de vida.

DITEN, 2011
ACRÉSCIMO PROTEICO-CALÓRICO
TERAPIA NUTRICIONAL
NAS PREPARAÇÕES VIA ORAL
Acréscimo calórico Geleias no iogurte ou leite
Leite condensado, chantilly, marshmallow, mel,
farinha de oleaginosas em preparações
Tubérculos em sopas e saladas
Uso de suplementos industrializados
Acréscimo proteico Queijo parmesão em preparações
Queijos em sopas
Cremes à base de queijos em legumes
Leite em pó diluído em leite líquido
Frango, carne, ovos, peixes, feijão em sopas, saladas
e sanduíches
Sucos com leite
Uso de suplementos industrializados
Acréscimo lipídico Azeite, óleo às saladas ou sopas
Sorvetes e milk shakes
Creme de leite nas saladas de frutas
TERAPIA NUTRICIONAL

• ENTERAL: impossibilidade de utilização da via oral,


ingestão alimentar insuficiente (ingestão oral < 60%
das recomendações) em até 5 dias consecutivos, sem
expectativa de melhora da ingestão.

• PARENTERAL: impossibilidade total ou parcial de uso


do TGI.
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
ANOREXIA

• Conscientizar o paciente da necessidade de comer;


• Modificar a consistência da dieta conforme a aceitação do paciente;
• Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição, oferecendo
de 6 a 8 refeições ao dia;
• Aumentar a densidade calórica das refeições;
•Quando necessário, utilizar suplementos nutricionais hipercalóricos ou
hiperproteicos;
• Dar preferência a alimentos umedecidos;
• Adicionar caldos e molhos às preparações.
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
NÁUSEAS E VÔMITOS

• Dar preferência a alimentos mais secos;


• Pratos visualmente agradáveis e coloridos;
• Evitar jejuns prolongados
• Mastigar ou chupar gelo 40 minutos antes das refeições;
• Evitar preparações que contenham frituras e alimentos gordurosos;
• Evitar preparações com temperaturas extremas;
• Evitar preparações e alimentos muito doces;
•Evitar beber líquidos durante as refeições, utilizando-os em pequenas quantidades nos intervalos;
• Manter cabeceira elevada (45°) durante e após as refeições;
• Realizar as refeições em locais arejados, evitando locais que tenham odores fortes.
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
XEROSTOMIA

• Adequar os alimentos conforme aceitação, ajustando a consistência;


• Quando necessário, utilizar suplementos nutricionais industrializados
com flavorizantes cítricos;
• Dar preferência a alimentos umedecidos;
• Utilizar gotas de limão nas saladas e bebidas;
• Dar preferência a alimentos umedecidos;
• Adicionar caldos e molhos às preparações;
• Mastigar e chupar gelo feito de água, água de coco e suco de fruta.
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
MUCOSITE E ÚLCERAS ORAIS

• Modificar a consistência da dieta de acordo com o grau de mucosite;


• Evitar alimentos secos, duros ou picantes;
• Utilizar alimentos à temperatura ambiente, fria ou gelada;
• Diminuir o sal das preparações;
• Consumir alimentos mais macios e pastosos;
• Evitar vegetais frescos crus;
• Evitar líquidos e temperos abrasivos.

GLUTAMINA
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
DISFAGIA

• Modificar a consistência da dieta conforme aceitação;


• Em caso de disfagia a líquidos, semilíquidos e pastosos, indicar o uso de
espessantes;
• Em caso de disfagia a alimentos sólidos, orientar o paciente a ingerir pequenos
volumes de líquidos junto às refeições para facilitar a mastigação e deglutição;
• Evitar alimentos secos;
• Dar preferência a alimentos umedecidos;
• Usar preparações de fácil mastigação/deglutição, conforme
tolerância.
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
DIARREIA

• Aumentar o fracionamento da dieta e reduzir o volume por refeição,


oferecendo de 6 a 8 refeições ao dia;
• Avaliar a necessidade de restrição de lactose, sacarose, glúten e cafeína;
• Considerar o uso de prebiótico, probiótico ou simbiótico;
• Evitar alimentos flatulentos;
• Utilizar dieta pobre em fibras insolúveis e adequada
em fibras solúveis;
• Hidratação.
ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
NEUTROPENIA

• Higienizar frutas e verduras com sanitizantes;


• Utilizar água potável filtrada ou fervida;
• Ingerir apenas frutas de casca grossa, consumindo apenas a polpa;
• Ingerir frutas de casca fina somente cozidas;
• Ingerir vegetais, condimentos, oleaginosas e grãos somente cozidos;
• Ingerir leites e derivados somente pasteurizados;
• Ingerir carnes e ovos somente bem cozidos.
CUIDADOS PALIATIVOS

• O câncer em seu estágio mais avançado acarreta ao paciente:


dor, sofrimento, estigma, medo, perda de qualidade de vida e
morte iminente.

O objetivo do tratamento não é mais a cura e sim o alívio do


sofrimento!
CUIDADOS PALIATIVOS

• A indicação da TN em pacientes ainda é

controversa.

• Seu principal objetivo é evitar

desconforto através do controle de

sintomas e promoção de qualidade de

vida, garantindo assim uma sobrevida

digna.

Corrêa e Shibuya, 2007


CUIDADOS PALIATIVOS

• Controle dos sintomas.

• Acompanhamento da tolerância

à dieta prescrita.

• Satisfação, prazer da alimentação.

• Ingestão alimentar e hídrica.

Corrêa e Shibuya, 2007


IMUNONUTRIENTES

• São nutrientes com propriedades imunofarmacológicas capazes de modular


os mecanismos de defesa orgânica, resposta inflamatória e da função GI.

• Glutamina, arginina, ácidos graxo ω-3, nucleotídeos.

• Poucas pesquisas com resultados significativos, não sendo possível afirmar


com segurança sobre os benefícios da imunonutrição no tratamento dos
pacientes oncológicos.
IMUNONUTRIENTES
Alguns achados...

• Glutamina  20g de Glutamina em pó isolada por dia, diluída em 40ml de água, e


ingerida via oral durante os tratamentos quimioterápico e radioterápico em
pacientes com CA de cabeça e pescoço auxilia no decorrer do tratamento na
prevenção da mucosite e manutenção do estado nutricional (Boligon e Huth, 2011).

• Os AGPI de cadeia longa eicosapentaenoico (EPA) e docosahexaenoico (DHA),


presentes nos peixes ricos em gordura e no óleo de peixe, podem inibir a
carcinogênese, retardar o crescimento de tumores e aumentar a eficácia da
radioterapia e de várias drogas quimioterápicas (Carmo e Correia, 2009).
Referências
• Boligon CS; Huth A. O Impacto do Uso de Glutamina em Pacientes com Tumores de Cabeça e
Pescoço em Tratamento Radioterápico e Quimioterápico. Revista Brasileira de Cancerologia 2011;
57(1): 31-38.
• http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/inca/portal/home. Acesso em 15/05/2015, às 20h53.
• Instituto Nacional de Câncer Jose Alencar Gomes da Silva. Inquérito brasileiro de nutrição
oncológica / Instituto Nacional de Câncer Jose Alencar Gomes da Silva – Rio de Janeiro: INCA, 2013.
• Instituto Nacional de Câncer (Brasil). Consenso nacional de nutrição oncológica, volume 2 / Instituto
Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2016.
• Consenso nacional de nutrição oncológica / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da
Silva, Coordenação Geral de Gestão Assistencial, Hospital do Câncer I, Serviço de Nutrição e
Dietética; organização Nivaldo Barroso de Pinho. – 2. ed. rev. ampl. atual. – Rio de Janeiro: INCA,
2015. 182p
• Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral - Associação Brasileira de Nutrologia - Projeto
Diretrizes: Terapia Nutricional na Oncologia, 2011.
• Carmo NCRS, Correia MTD. A Importância dos Ácidos Graxos Ômega-3 no Câncer. Revista Brasileira
de Cancerologia 2009; 55(3): 279-287.
• Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância.
Estimativa 2014: Incidência de Câncer no Brasil - Rio de Janeiro: INCA, 2014.
• Da Silva MPN. Síndrome da anorexia-caquexia em portadores de câncer. Revista Brasileira de
Cancerologia 2006; 52(1): 59-77.
• PH Corrêa, E Shibuya. Administração da Terapia Nutricional em Cuidados Paliativos. Revista Brasileira
de Cancerologia 2007; 53(3): 317-323.

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