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Universidade Federal do Maranhão - UFMA

Centro de Ciências Biológicas e da Saúde - CCBS


Curso: Nutrição - 7°período
Disciplina: Fundamentos das Patologias - DEPAT

Caquexia Neoplásica

Emily Dayanne Oliveira Lindoso¹, Luana dos Anjos Oliveira¹ e Saul


Campos da Silva¹
¹: Acadêmicos do Curso de Nutrição da Universidade Federal do Maranhão, São Luís, Brasil .
Sumário
• Introdução
• Caquexia neoplásica
• Etimologia;
• Etiologia;
• Caracterização;
• Critério diagnóstico;
• Prevalência;
• Fisiopatologia;
• Aspectos patológicos;
• Consequência clínica;
• Papel da nutrição;
• Conclusão
Introdução
• As doenças crônicas são as principais causas de morte no mundo,
dentre as quais o câncer tem se destacado por seu crescimento em
todos os continentes. (BENARROZ; FAILLACE; BARBOSA, 2009)

• Uma das consequências mais dramáticas do câncer é o estado de


consumição progressiva, fraqueza generalizada, anemia e
emagrecimento acentuado que caracterizam o estado de caquexia.
(BOGLIOLO,1998)
• Existe alguma correlação entre o tamanho e a extensão da
disseminação do câncer e a gravidade da caquexia. Entretanto, a
caquexia não é causada pelas demandas nutricionais do tumor.
(KUMAR et al, 2013)
Etimologia
• Palavra caquexia:
tem origem grega, "kakos“ significa "mau" e "hexis" significa
"condição, estado“;
“um estado debilitado da saúde”;
• Palavra neoplasia:
tem origem grega, “neo” significa “novo” e “plasis” significa
“crescimento”;
“novo crescimento”.
(SILVA,2006)
Conceito
• Segundo a Pesquisa Europeia Colaboradora em Cuidados Paliativos
(EPCRC)*:

“ A caquexia do câncer é uma síndrome multifatorial definida por perda


progressiva de massa muscular (com ou sem perda de tecido adiposo) que
não pode ser revertida pelo suporte nutricional convencional e culmina na
perda funcional progressiva”.
“A fisiopatologia é caracterizada pelo balanço energético-protéico negativo
causado pela combinação variável entre redução da ingestão de alimentos e
metabolismo anormal”.

*Primeiro grupo de pesquisa translacional em cuidado paliativos do câncer, fundada em


2006 com a participação de 6 países europeus e Estados Unidos e Canadá.
(MOCHAMAT et al., 2016)
Etiologia
• Toda a sintomatologia do
câncer avançado converge
para o desenvolvimento da
caquexia neoplásica.

Retirado e adaptado de J Pain Symptom Manage 2007; 34:94–104.


Caracterização

Neoplasma
Inflamação
sistêmica e
Hipermetabolismo
Fatores
nutricionais • Exigênia metabólica do neoplasma;
• Anorexia induzida pelo tratamento;
• Mudanças no aproveitamento ou
armazenamento fisiológico.
(MOCHAMAT et al., 2016)
Critério diagnóstico*
• Perda de peso igual ou superior a 5% nos últimos 6 meses ou de 2%
caso IMC seja < 20 kg/m²;
• Redução na ingestão de alimentos nos últimos 30 dias com alterações
na consistência e/ou quantidade tolerada da dieta.

*Segundo o Consenso Brasileiro de Caquexia/Anorexia em Cuidados Paliativos e do Consenso


Internacional para Definição e Classificação de Caquexia no Câncer.
(DUVAL et al., 2015)
Prevalência
• Estudo transversal
descritivo;
• Hospital Escola / UFPel;
• 276 pacientes avaliados
de fev/2010 a fev/2014;
• Independente do estágio
ou tipo de câncer.

Retirado da Revista Brasileira de Cancerologia 2015; 61(3): 261-267

(DUVAL et al., 2015)


Prevalência
• Perfis avaliados no câncer
pancreático avançado:
• Perda de peso >10%;
• Redução da ingestão de
alimentos (<1500kcal/dia);
• PCR > 10 mg/L (ou 1
mg/dL).

Retirado e adaptado de Am J Clin Nutr 2006; 83:1345–1350


Fisiopatologia
• Alterações metabólicas no paciente oncológico:
• Metabolismo energético:
Aumento do gasto energético, tumores gástricos e sarcomas em geral são
hipermetabólicos;
• Metabolismo dos carboidratos:
A célula tumoral tem como principal substrato energético a glicose,
consumindo de 10 a 50 vezes mais que a célula normal;
• Metabolismo dos lipídeos:
Depleção de reservas de gordura e hiperlipidemia;
• Metabolismo das proteínas:
Depleção e atrofia do músculo esquelético e órgãos viscerais, miopatia e
hipoalbuminemia.
(KOWATA et al., 2009)
Fisiopatologia
• Classificação da caquexia:
• Primária:
Consequências metabólicas da presença do tumor e alterações
inflamatórias, com consumo progressivo de proteína visceral,
musculatura esquelética e tecido adiposo;
• Secundária:
Diminuição da ingestão e absorção de nutrientes por obstruções
tumorais do TGI, anorexia e ressecções intestinais maciças.
(SILVA,2006)
Aspectos patológicos
• Dano muscular de diferente
mecanismo?
• Colon-26: adenocarcinoma de
cólon;
• LLC: carcinoma pulmonar de
lewis;
• mdx: modelo murino de
distrofia muscular.

Retirado de Journal of Cachexia, Sarcopenia and Muscle 2015; 7: 366–376


(IWATA et al, 2015)
Aspectos patológicos

• CK = creatina quinase.

Retirado de Journal of Cachexia, Sarcopenia and Muscle 2015; 7: 366–376


(IWATA et al, 2015)
Aspectos patológicos
• Tecido adiposo subcutâneo: redução de 32% na área adipocitária e de
18,5% na perimetria celular em situação de caquexia
Retirado de Journal of Cachexia, Sarcopenia and Muscle 2015; 7: 37–47

A = controle B = Câncer de peso C = Caquexia do


estável. câncer (BATISTA et al., 2015)
Aspectos patológicos
• Células imunológicas no
tecido adiposo:
• CD68 = macrófagos;
• CD3 = linfócitos T;
• CD15 = neutrófilos.

• Tecidos adiposo de:


• WSC = câncer de peso
estável;
• CC = caquexia do câncer.

Retirado de Journal of Cachexia, Sarcopenia and Muscle 2015; 7: 37–47 (BATISTA et al., 2015)
Consequência clínica

Retirado de Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2008 11:400–407


(TAN; FEARON, 2008)
Papel da nutrição

(MOCHAMAT et al., 2016)


Papel da nutrição
• Suplementação de Vitamina D e aumento da força muscular em
pacientes com câncer de próstata avançado (J Urol 2000;163:187–
190);
• Aumento da sobrevida (porém sem interferência no peso) em
pacientes com tumores generalizados com a suplementação de ômega
3 e vitamina E (Cancer 1998;82:395–402);
• Combinação de HMB, arginina e glutamina aumentou massa muscular
e melhorou o humor, a força e parâmetros hematológicos em
pacientes caquéticos com tumores avançados (Am J Surg
2002;183:471–479);

(MOCHAMAT et al., 2016)


Papel da nutrição
• L-carnitina aumentou IMC em pacientes com câncer avançado de
pâncreas (Nutr J 2012;11:52);
• Uso de AACR (BCAA) em pacientes de NPT com câncer intra-
abdominal aumentou a síntese protéica corporal (Cancer
1986;58:147–157);

(MOCHAMAT et al., 2016)


Papel da Nutrição
• ÔMEGA 3:
• Estudo com 518 pacientes com perda de peso, com câncer (CA)
avançado do trato digestório e de pulmão: 2,0 g a 4,0 g de EPA têm
efeito benéfico no tratamento da caquexia do CA. (FEARON et al., 2006)
• Metanálise da Cochrane 2007, realizada com 5 estudos, concluiu que
não há dados suficientes para afirmar que EPA é superior ao placebo.
• O guideline da ASPEN* para pacientes com CA recomenda, com grau
de evidência b, a inclusão do ômega 3 durante o tratamento do CA,
com o objetivo de estabilizar a perda de peso.
CONSENSO NACIONAL DE NUTRIÇÃO ONCOLÓGICA, 2015

*ASPEN– American Society Parenteral and Enteral Nutrition


Conclusão
• O câncer é um problema de saúde pública mundial. E a caquexia
neoplásica é uma complicação frequentemente observada,
contribuindo substancialmente para a piora do quadro clínico dos
pacientes oncológicos, em que há perda progressiva e involuntária de
peso. Os pacientes caquéticos apresentam características clínicas
como perda de tecido muscular e adiposo, anorexia, fadiga, anemia,
hipoalbuminemia grave, o que provoca piores resultados no
tratamento e no desfecho. Assim, o tratamento deve ser
individualizado com uma equipe multiprofissional promover um
melhor qualidade de vida.
Referências
• BATISTA, Miguel L. et al. Cachexia-associated adipose tissue morphological
rearrangement in gastrointestinal cancer patients. Journal Of Cachexia,
Sarcopenia And Muscle, v. 7, n. 1, p.37-47, 4 jun. 2015. 
• BENARROZ, M.O.; FAILLACE, G.B.; BARBOSA, L.A. Bioética e nutrição em cuidados
paliativos oncológicos em adultos. Cadernos de Saúde Pública. Rio de Janeiro,
v.25, n.9, 2009.
• BOGLIOLO, G. B. F. Patologia geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.
646-647, 1998.
• BRASIL. Consenso nacional de nutrição oncológica / Instituto Nacional de Câncer
José Alencar Gomes da Silva, Coordenação Geral de Gestão Assistencial, Hospital
do Câncer I, Serviço de Nutrição e Dietética. 2. ed. Rev. ampl. atual. Rio de Janeiro:
INCA, 2015.
Referências
• DUVAL, Patrícia Abrantes et al. Prevalência de Caquexia Neoplásica e Fatores Associados na
Internação Domiciliar. Revista Brasileira de Cancerologia, Pelotas, v. 3, n. 61, p.261-267, set. 2015.
• Fearon KC, Voss AC, Hustead DS. Definition of cancer cachexia: effect of weight loss, reduced food
intake, and systemic inflammation on functional status and prognosis. Am J Clin Nutr 2006;
83:1345–1350.
• Gogos CA, Ginopoulos P, Salsa B, Apostolidou E, Zoumbos NC, Kalfarentzos F. Dietary omega-3
polyunsaturated fatty acids plus vitamin E restore immunodeficiency and prolong survival for
severely ill patients with generalized malignancy: a randomized control trial. Cancer 1998;82:395–
402.
• IWATA, Yuko et al. Cancer cachexia causes skeletal muscle damage via transient
receptor potential vanilloid 2-independent mechanisms, unlike muscular
dystrophy. Journal Of Cachexia, Sarcopenia And Muscle, v. 7, n. 3, p.366-376, 19 nov.
2015. 
Referências
• KOWATA, C. H, et al. Fisiopatologia da caquexia no câncer: uma revisão.
Arq.Ciênc. Saúde UNIPAR, Umuarama, v. 13, n. 3, p. 267-272, set/dez.
2009.
• Kraft M, Kraft K, Gärtner S, Mayerle J, Simon P, Weber E, et al. L-Carnitine-
supplementation in advanced pancreatic cancer (CARPAN) - a randomized
multicentre trial. Nutr J 2012;11:52.
• KUMAR, et al. Robbin, patologia básica/ Vinay Kumar et al: Neoplasia. 9
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, cap. 5, p. 208, 2013.
• May PE, Barber A, D’Olimpio JT, Hourihane A, Abumrad NN. Reversal of cancer-
related wasting using oral supplementation with a combination of beta-hydroxy-
betamethylbutyrate, arginine, and glutamine. Am J Surg 2002;183:471–479.
Referências
• MOCHAMAT et al. A systematic review on the role of vitamins,
minerals, proteins, and other supplements for the treatment of
cachexia in cancer: a European Palliative Care Research Centre
cachexia project. Journal Of Cachexia, Sarcopenia And Muscle, p.1-
15, jul. 2016.
• SILVA, M.P.N. Síndrome da anorexia-caquexia em portadores de
câncer. Revista Brasileira de Cancerologia; v. 52, n 1, p. 59-77, 2006.
• Tan BH, Fearon KC., Cachexia: prevalence and impact in medicine.
Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2008;11:400–7.
Referências
• Tayek JA, Bistrian BR, Hehir DJ, Martin R, Moldawer LL, Blackburn GL.
Improved protein kinetics and albumin synthesis by branched chain
amino acid-enriched total parenteral nutrition in cancer cachexia: A
prospective randomized crossover trial. Cancer 1986;58:147–157.
• Teunissen SC, Wesker W, Kruitwagen C, et al. Symptom prevalence
inpatients with incurable cancer: a systematic review. J Pain Symptom
Manage 2007; 34:94–104.
• Van Veldhuizen PJ, Taylor SA, Williamson S, Drees BM. Treatment of
vitamin D deficiency in patients with metastatic prostate cancer may
improve bone pain and muscle strength. J Urol 2000;163:187–190.

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