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Universidade Federal Fluminense/ Faculdade de Nutrição EJF

Disciplina: Nutrição Clínica II


Profª Silvia Custódio

GUIA PRÁTICO DE DIETOTERAPIA - TERMINOLOGIAS

DIAGNÓSTICO NUTRICIONAL

As análises de todas as informações referentes à avaliação nutricional levam a determinar um diagnóstico


nutricional. O diagnóstico exato dos problemas nutricionais é guiado pela avaliação crítica de cada componente da
coleta de dados combinado com habilidades de julgamento crítico e tomada de decisão. O propósito de identificar
um diagnóstico nutricional é “identificar e descrever um problema nutricional específico que possa ser melhorado
ou solucionado por meio de intervenções/tratamentos nutricionais por um nutricionista" (Krause, 14ed., 2018).
EX: Paciente apresentando massa corporal atual de 50,5kg e 1,67m de estatura, o que representa um IMC de
18,1Kg/m2, indicando baixo peso ou magreza grau I. Apresentou perda de peso significativa em relação ao peso usual
(perda de 6% do seu peso usual em 1 mês). De acordo com a DCT, o paciente apresenta desnutrição grave da reserva
adiposa (68% de adequação; Percentil 15). A CMB obtida sugere desnutrição moderada da massa protéica somática
(19,6cm, 70,5% de adequação; P5). A linfocitometria resultou no valor se 2387mm3, o que indica que a competência
imunológica do paciente se apresenta normal. A dosagem de albumina de 2,4g/dL representa depleção moderada
da proteína visceral.

PLANEJAMENTO DIETÉTICO (VET e distribuição de macronutrientes)

EX:
Valor energético total (VET): 1500 Kcal (25 kcal x 59,5kg = 1.487,5 kcal):
Proteína: 1,2g/kg → 71,4g → 285,6 kcal → 19%
Glicídios: 56% → 840kcal → 210g
Lipídios: 25% → 375 kcal → 42 g

PRESCRIÇÃO DIETÉTICA:
O registro da prescrição dietética deve constar no prontuário do paciente: contendo data, Valor Energético
Total (VET), consistência, macro e micronutrientes mais importantes para o caso clínico, fracionamento, assinatura
seguida de carimbo, número e região da inscrição no CRN do nutricionista responsável pela prescrição. Outros dados
poderão ser acrescentados, de acordo com a necessidade e complexidade do serviço.
CFN, na Resolução n o 304/2003 de 25/02/2003
EX:
Dieta via oral, de consistência branda, fracionamento normal (6 refeições), com 1500 Kcal sendo 25kcal/kg de peso
atual, 1,2g de proteína/kg – 71g/dia, 56 % de carboidratos (restrita em sacarose) e 25% de lipídios (restrita em
colesterol e gordura saturada). Restrição de sódio (2300mg/dia). Rica em fibras (35g/dia).

CONDUTA DIETOTERÁPICA
Quando há necessidade de justificar a tomada de decisões. Geralmente utilizada em provas e concursos.

EX:
Paciente diabética com diagnóstico nutricional de sobrepeso, segundo o IMC (29 Kg/m2). Necessitando tratamento
dietoterápico com dieta hipocalórica (25Kcal/Kg PA) para promover perda ponderal e consequentemente melhor
controle do perfil metabólico (melhora da sensibilidade à insulina, do controle glicêmico, de pressão arterial e dos
lipídios séricos). Foi planejada dieta com 1,2g de proteína/Kg PC para manter adequada a massa magra e também não há
qualquer sinal de lesão pré-renal. A dieta é composta de carboidratos complexos preferencialmente integrais e isenta de
sacarose (não são escolhas saudáveis). Carboidratos de lenta digestão e ricos em fibra alimentar. As fibras devem
compor a dieta, pois esses polissacarídeos viscosos diminuem a taxa de absorção dos carboidratos, provocam um atraso
na mistura do conteúdo no lúmen intestinal, que causa retardo na difusão e no contato entre as enzimas intestinais e os
seus respectivos substratos, e retardo no transporte. Fibras ainda aumentam a saciedade. Quanto aos lipídios,
diabéticos devem ser orientados a seguir as mesmas recomendações para a população em geral sobre ingestão de
gorduras. Considera-se que o padrão de dieta mediterrânea, rico em AG monoinsaturados pode melhorar o controle
glicêmico e o perfil lipídico. A dieta prescrita é fracionada em 6 refeições para melhor distribuição dos carboidratos
entre as refeições, contribuindo ainda para melhor saciedade. A ingestão de sódio deve ser restrita a 2000mg ao dia em
razão da hipertensão arterial já existente e do maior risco cardiovascular em pacientes diabéticos. A prescrição
nutricional é individualizada e sempre reavaliada e adaptado de acordo a evolução clínico-nutricional.

PARECER NUTRICIONAL:

Deve ser composto por 4 parágrafos:

1) Primeiro parágrafo: breve relato da história do paciente;


2) Segundo parágrafo: Avaliação do Estado Nutricional/ Diagnóstico;
3) Terceiro parágrafo: o Planejamento e Prescrição dietoterápica (GET e distribuição de macro e micronutrientes);
4) Quarto parágrafo: questões resumidas relativas a conduta aplicada no momento (registrar se há boa aceitação ou
se está havendo intercorrências - quais e qual a conduta relacionada).
O registro da evolução nutricional deve constar no prontuário do paciente (devendo conter alteração da
ingestão alimentar, avaliação da tolerância digestiva, exame físico, antropometria, capacidade funcional e avaliação
bioquímica). Outros dados poderão ser acrescentados, de acordo com a necessidade.

Exemplo de Parecer Nutricional – Clínica Médica

Paciente do sexo feminino, 68 anos, referindo tosse produtiva e dispneia aos médios esforços há mais de 3 semanas.
Tabagista de um maço por dia há 50 anos. Em tratamento de DPOC e pneumonia.
Paciente apresenta 50,5kg e 1,67m de estatura, com IMC de 18,1Kg/m2, sendo classificado com baixo peso ou
magreza grau I. Apresentou perda de peso significativa em relação ao peso usual (perda de 6% do seu peso usual em
1 mês). De acordo com a DCT, o paciente apresenta desnutrição grave da reserva adiposa (68% de adequação;
Percentil 15). A CMB obtida sugere desnutrição moderada da massa proteica somática (19,6cm, 70,5% de adequação;
P5). A linfocitometria resultou em 2387mm3, o que indica que a competência imunológica do paciente se apresenta
normal. A dosagem de albumina de 2,4g/dL demonstra depleção moderada da proteína visceral.
Dieta oferecida:
No momento recebendo dieta via oral de consistência pastosa, fracionamento normal (6 refeições/dia), com 1620
Kcal (32Kcal/Peso atual); 60,5g de proteína (1,2g/Kg Peso atual) e 61% de carboidratos (247g), restrita em sacarose e
24% de lipídios (43g); restrita em colesterol e gordura saturada. Restrição de sódio. Em uso de suplemento oral
hipercalórico 2 vezes/dia. Paciente segue com boa aceitação da dieta e do suplemento oferecido. Restando 200 Kcal
e 15g de proteína para atingir a dieta planejada (VET pleno).

Exemplo de Parecer Nutricional – Clínica Cirúrgica


Paciente do sexo masculino, 65 anos, em pós-operatório de duodenopancreatectomia (Whipple) que evoluiu
com fístula na anastomose jejunal, sendo submetido à nova abordagem cirúrgica. No momento no terceiro dia de
pós-operatório da segunda intervenção. Sedado, intubado por TOT, modo PCV, sem uso de aminas vasoativas,
função renal preservada (clearence de creatinina 87 mL/min) e marcadores inflamatórios aumentados. No momento
com os seguintes diagnósticos: sepse de origem abdominal, e pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV).
Dreno cirúrgico com baixo débito (20ml nas últimas 24 horas).
A altura do paciente foi estimada através da equação da altura do joelho (Chumlea, 1988) em 1,67m, sendo o
peso estimado pelo IMC mínimo (18,5) em 52kg. Não foi possível realizar dobras e circunferências, uma vez que
paciente se encontra com edema generalizado. Apesar da albumina sérica representar alto risco de depleção (2,1) e
da contagem linfocitária representar depleção moderada, ambas não podem ser utilizadas como parâmetros para
avaliação nutricional, pois estão afetadas pelo estado inflamatório do paciente.
Suas necessidades energéticas foram estimadas em aproximadamente 1200kcal (23kcal/kg de peso
estimado), com 78g de proteínas (1,5g/kg/peso estimado), sendo a distribuição de nutrientes planejada da seguinte
forma: 26% de ptn, 50% de CH e 24% de lip.
No momento, recendo dieta enteral via cateter nasojejunal em sistema fechado do tipo oligomérica e
hipercalórica (1,5kcal/mL), com a seguinte distribuição: 25%; de ptn; 50% de CH e 25% de lip, com 300mL e
450kacal/dia. Hoje no segundo dia da introdução da dieta enteral e sem intercorrências até o momento, será
avaliado diariamente para evolução gradativa, segundo a tolerância, até atingir as necessidades nutricionais
estimadas.

ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS AO PACIENTE

São as explicações diretamente aos pacientes e por isso precisam ser elaboradas com linguagem simples e
direta, oferecendo ao paciente exemplos dos alimentos que deverão ser incluídos ou excluídos da dieta.

EX: Orientação para redução de colesterol:


Preferir:
 Leite e iogurte desnatado, queijo tipo ricota, minas e cottage;
 Carnes sem a parte da gordura, peixe, frango sem pele;
 Consumir frutas e verduras de 3 a 5 porções por dia;
 Frutas oleaginosas (nozes, castanhas, amêndoas, macadâmia, pistache)
 Aumentar o consumo de cereais e massas integrais como arroz, pão, macarrão
 Óleo de milho, de girassol, de soja, oliva (azeite), canola.
 Usar azeite extra virgem para temperar as saladas;

PLANO ALIMENTAR

EX: É a distribuição em refeições dos alimentos (alguns em grupos alimentares) e medidas caseiras planejados para
atender à determinada prescrição dietética.

REFEIÇÃO ALIMENTOS QUANT. MEDIDAS CASEIRAS


Café sem açúcar 50 ml -
Leite desnatado 200 ml 1 xícara cheia
DESJEJUM Pão integral 50 g 2 fatias
7:30h Queijo branco light 30g 1 fatia média
FRUTA 1 porção
COLAÇÃO FRUTA 1 porção
10:00h Farelo de Aveia 1 colher de sopa cheia
Arroz 3 colheres de sopa
ALMOÇO Feijão (simples) ½ concha média
12:30h Hortaliça A (“salada”) À vontade
Hortaliça B (“Legumes”) 4 colheres de sopa cheias
Carne (BOI, PEIXE OU AVE) 1 porção média (100g)
Sobremesa: FRUTA 1 porção
Café sem açúcar 50 ml -
LANCHE Leite desnatado 1 xícara cheia
16:00 Pão integral 30 g 2 fatias
Geléia diet 10g 1 colher de sobremesa
JANTAR Igual ao almoço (sem o feijão)
19:30h
CEIA Iogurte desnatado 160g 1 pote médio
22:00h FRUTA 1 porção
OBS: A lista de substituição é entregue junto com o plano alimentar para a variação diária da dieta.

CARDÁPIO

EX: Mais utilizado em aulas para verificação das escolhas alimentares ou a pedido do cliente/paciente.

REFEIÇÃO ALIMENTOS
Café sem açúcar
Leite desnatado
DESJEJUM Pão integral
Queijo branco light
Mamão papaya
Banana prata
COLAÇÃO Farelo de Aveia
Arroz
ALMOÇO Feijão (simples)
Repolho a campanha
Beterraba refogada
Almôndegas ao molho de tomate
Sobremesa: Melão fatiado
Leite desnatado
LANCHE Café sem açúcar
Torrada
Geléia diet
Arroz
Feijão (simples)
Salada alface, tomate cereja, cebola,
orégano
JANTAR Cenoura com vagem
Filé de frango grelhado
Sobremesa: Laranja
Iogurte desnatado
CEIA Morangos picados

Reforçando a diferença entre plano alimentar e cardápio:

PLANO ALIMENTAR: CARDÁPIO:


Arroz Arroz
Feijão Feijão (simples)
Hortaliça A Salada de alface e rúcula
Hortaliça B Quiabo refogado
Carne (BOI, PEIXE AVE ou OVO) Frango ensopado

Sobremesa: Fruta Sobremesa: Laranja


CÁLCULO DE DIETA

Quando é disponibilizada uma planilha para cálculo da dieta com os valores de nutrientes
correspondentes e totalização ao final. Deve ser feita distribuindo os alimentos já conforme o prévio
planejamento. Ex: se a dieta é restrita em gordura saturada, o alimento listado para cálculo será o leite
desnatado e não o leite integral.

Gramatura/ Proteína Carboidrato Lipídio Potássio


Alimento Porção
Leite desnatado
Fruta
Pão francês
Manteiga
Ricota
Arroz
Feijão
Carne
Hortaliça A
Hortaliça B
Hortaliça C
Leite em pó
Azeite
Óleo vegetal

Total (g)
g/Kg peso
Total (kcal)
% VET

Referências bibliográficas:
Lilian Cuppari, 4ed., 2019
Krause, 14ed, 2018

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