Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina
Objetivo:
Esta diretriz tem por finalidade proporcionar aos profissionais de saúde uma visão
geral sobre a abordagem nutricional no paciente oncológico, com base na evidência
científica disponível. O tratamento do paciente deve ser individualizado de acordo
com suas condições clínicas e com a realidade e experiência de cada profissional.
Conflito de interesse:
Nenhum conflito de interesse declarado.
Introdução
apresentam melhora da qualidade de vida durante o m2. Apesar de haver demonstração da importância
tratamento da doença ou cuidado paliativo. Isso se da perda peso como fator prognóstico em pacientes
deve ao controle dos sintomas relacionados à nutri- cirúrgicos14(D), outros estudos não conseguiram
ção que podem causar desconforto nesta fase9,10(D). demonstrar maior associação entre perda de peso
e hipoalbuminemia pré-operatória com maior
Recomendação morbi-mortalidade pós-operatória15(B).
Os objetivos da TN no paciente oncológico
incluem prevenção e tratamento da desnutrição; Os métodos subjetivos, como a avaliação glo-
modulação da resposta orgânica ao tratamento bal subjetiva (AGS), também têm sido utilizados
oncológico e controle dos efeitos adversos do nestes pacientes. Em pacientes com câncer de
tratamento oncológico. cabeça e pescoço, este método foi capaz de melhor
identificar diferenças no estado nutricional entre
5. Qual(is) é(são) o(s) instrumento(s) de os diferentes estadiamentos quando comparado
avaliação nutricional mais adequado(s) a métodos objetivos16(C), embora resultados di-
para a realização do diagnóstico nu- vergentes tenham sido encontrados em pacientes
tricional? com tumores ginecológicos e de mama17(B).
A avaliação global subjetiva produzida pelo A AGS-PPP tem sido validada e utilizada em
paciente (AGS-PPP) é o método padrão de vários estudos, nos últimos anos11,18-20(B)21,22(C).
avaliação nutricional do paciente com câncer, Este método foi aceito pelo Oncology Nutrition
ainda que a avaliação global subjetiva também Dietetic Practice Group of the American Dietetic
seja bastante utilizada. Association como o método padrão de avaliação
nutricional no paciente com câncer19(B). Ficou
Os métodos de avaliação nutricional devem também demonstrado que os pacientes classifica-
ser valorizados pela capacidade prognóstica, dos como desnutridos pela AGS-PPP possuem
principalmente nos pacientes com câncer. maiores níveis séricos de TNF-α e IL-120(B).
Tabela 1
indicada, como nos casos em que há toxicidade 10. A terapia nutricional enteral (TNE) é
gastrointestinal ou outras complicações que im- capaz de reduzir os efeitos colaterais
pedem ou impedirão a ingestão adequada por sete hematológicos e gastrointestinais do
a 14 dias. A nutrição parenteral também poderá tratamento oncológico?
ser indicada juntamente com a nutrição enteral,
quando esta não for capaz de suprir completamente A TNE pode minimizar os efeitos colaterais
as necessidades nutricionais do paciente10,36(D). gastrointestinais e hematológicos, especialmente
em pacientes desnutridos ou com dificuldade de
Recomendação deglutição e/ou absorção de nutrientes.
Para pacientes com trato gastrointestinal
íntegro, a via preferencial é sempre a enteral. A intervenção nutricional precoce pode melho-
rar a tolerância do tratamento oncológico, uma vez
A indicação TNP reserva-se aos casos em que a frequência de toxicidade é maior nos pacientes
que há toxicidade gastrointestinal ou outras com piores indicadores de estado nutricional.
complicações que impeçam a ingestão adequada
por sete a 14 dias. A TNE em pacientes submetidos a tratamen-
to combinado de radio-quimioterapia das regiões
A TNP poderá ser indicada simultaneamen- de cabeça e pescoço e esôfago pode aumentar a
te com a nutrição enteral, quando esta não for ingestão alimentar e prevenir a perda de peso
capaz de suprir completamente as necessidades causada pelos efeitos da terapia, evitando inter-
nutricionais do paciente. rupções no tratamento oncológico9,14(D).
vida, devendo fazer parte da terapêutica global. Esta • TNP quando progressivamente houver a
deverá ser especializada, individualizada e adequada possibilidade de utilização do tubo digestivo,
às necessidades do paciente, de acordo com a agres- com a administração de TNE concomitante
sividade e a complexidade do tratamento. com a TNP;
• TN especializada oral quando a ingestão
Durante o tratamento de radioterapia ou radio- total de alimentos suprir as necessidades de
quimioterapia combinada, o uso de TN oral com nutrientes.
complemento nutricional na forma líquida com nu-
trientes específicos, como os ácidos graxos ômega-3, Recomendações
na forma de ácido eicosapentanoico, previne a perda • A TNE deverá ser suspensa na vigência de
de peso e a interrupção da terapia de radiação37(C). complicações que impeçam a utilização do
tubo digestivo;
Recomendação • A TNP deverá ser descontinuada quando
O uso de complemento nutricional oral progressivamente houver a possibilidade de
na forma líquida com ácidos graxos ômega-3,
utilização do tubo digestivo;
na forma de ácido eicosapentanoico, previne a
• A TN especializada oral deverá ser desconti-
perda de peso e a interrupção da terapia radio/
nuada quando a ingestão total de alimentos
quimioterápica.
suprir as necessidades de nutrientes.
12. Quando está indicado interromper
13. Há indicação de TN em pacientes com
a TN?
câncer incurável em estágio avançado?
Recomendam-se 3 passos na assistência a Estudos com animais não podem ser extra-
pacientes em cuidados paliativos, sendo que o polados para humanos por razões de velocida-
primeiro passo é definir os elementos para a de de crescimento tumoral (maior em animais)
tomada de decisão com questões referentes à e de imunogenicidade. Em seres humanos,
condição clínica e oncológica: sintomas; tempo os trabalhos disponíveis foram feitos com
de sobrevida, hidratação e estado nutricional; número muito pequeno de pacientes, sendo
ingestão oral espontânea voluntária; atitude que a avaliação do crescimento tumoral foi
psicológica; função intestinal e via de admi- pouco confiável para se detectar com acurácia
nistração e, necessidade de serviços especiais. os efeitos da TNP sobre o desenvolvimento
De acordo com as respostas e após avaliação das tumoral43(B)44-47(C).
mesmas, o segundo passo é a tomada de decisão
e, o terceiro passo, a reavaliação periódica do Recomendação
paciente41(D). Não existem estudos clínicos e os resulta-
dos de estudos experimentais, particularmente
Há controvérsias sobre os benefícios da com TNP, são controversos. Alguns estudos
TN em pacientes oncológicos sob cuidados demonstraram que a restrição calórica ou de
paliativos, no tocante à sobrevida, à morbi- proteínas e certos aminoácidos pode reduzir o
dade e ao tempo de hospitalização. Ademais, crescimento do tumor.
há riscos e incômodos que merecem ser
ponderados 42(D). 15. A terapia farmacológica é capaz de
levar ao aumento da ingestão de
Recomendações nutrientes?
A maioria dos pacientes deve receber te-
rapia de conforto, incluindo alimento e água, O uso de drogas progestacionais é reco-
de acordo com a tolerância. mendado na tentativa de aumentar o apetite e
diminuir a perda de peso e melhorar a qualidade
Pequenas quantidades de líquidos podem de vida em pacientes com caquexia. Porém, o
ajudar a evitar estados de confusão mental risco de trombose venosa durante terapia com
causados pela desidratação. agentes progestacionais deve ser considerado.
O uso de corticosteroides deve ser feito sendo menos eficazes que os agentes progesta-
por curtos períodos de tempo, quando os cionais e esteroides. Os efeitos colaterais dos
benefícios do uso forem superiores aos efeitos androgênios são comparáveis aos dos agentes
colaterais.
progestacionais e menos frequentes do que com
Existem atualmente algumas maneiras de uso de esteroides53(A).
lidar com a anorexia relacionada ao câncer, que
incluem uso de antieméticos, para controle de Estudos randomizados demonstram que o uso
náuseas e vômitos associados à radio/quimio- de corticosteroides leva ao aumento do apetite,
terapia, e de agente orexígenos, para estimular mas, com efeito, de curta duração (menor do que
o apetite. Os agentes orexígenos incluem os oito semanas) e sem resultar em ganho de peso.
canabinoides, agentes progestacionais (acetato
Em pacientes com câncer muito avançado e so-
de megestrol e acetato de medroxiprogesterona)
e corticosteroides. brevida limitada (< 3 meses), o uso de corticoides
pode levar à melhora da qualidade de vida50(D).
O acetato de megestrol é derivado sintético
da progesterona e, em doses de 160 mg/dia Recomendações
(40 mg 4 vezes ao dia) a 1.600 mg/dia, tem • O uso de drogas progestacionais é recomen-
sido correlacionado a aumento do apetite. As
dado na tentativa de aumentar o apetite e di-
melhores respostas foram obtidas com doses de
800 mg/dia, não se observando benefícios adi- minuir a perda de peso e melhorar a qualidade
cionais com doses superiores a esta48(B)49,50(D). de vida em pacientes com caquexia. Porém, o
Contudo, é importante ressaltar que estes levam risco de trombose venosa durante terapia com
a aumento de peso à base de acúmulo de água agentes progestacionais deve ser considerado;
e gordura, sem contudo aumentar a massa
• O uso de corticosteroides deve ser feito por
magra51,52(A)9(D).
curtos períodos de tempo, quando os bene-
O uso de androgênios (fluoximesterona) fícios do uso forem superiores aos efeitos
pode induzir ao aumento no peso corporal, colaterais.
still a risk factor of postoperative complica- 22. Laky B, Janda M, Cleghorn G, Obermair
tions in gastric cancer surgery? Clin Nutr A. Comparison of different nutritional
2008;27:398-407. assessments and body-composition measu-
rements in detecting malnutrition among
16. De Luis DA, Izaola O, Aller R. Nutri- gynecologic cancer patients. Am J Clin
tional status in head and neck cancer Nutr 2008;87:1678–85.
patients. Eur Rev Med Pharmacol Sci
2007;11:239-43. 23. Gianotti L, Braga M, Nespoli L, Radaelli
G, Beneduce A, Di Carlo V. A randomized
17. Zorlini R, Akemi Abe Cairo A, Salete Cos- controlled trial of preoperative oral supple-
ta Gurgel M. Nutritional status of patients mentation with a specialized diet in patients
with gynecologic and breast cancer. Nutr with gastrointestinal cancer. Gastroentero-
Hosp 2008;23:577-83. logy 2002;122:1763-70.
18. Bauer J, Capra S, Ferguson M. Use of the 24. Braga M, Gianotti L, Gentilini O, Liotta
scored Patient-Generated Subjective Global S, Di Carlo V. Feeding the gut early after
Assessment (PG-SGA) as a nutrition as- digestive surgery: results of a nine-year
sessment tool in patients with cancer. Eur experience. Clin Nutr 2002;21:59-65.
J Clin Nutr 2002:56;779-85.
25. Pearlstone DB, Lee JI, Alexander RH,
19. Read JA, Crockett N, Volker DH, MacLen- Chang TH, Brennan MF, Burt M. Effect
nan P, Choy ST, Beale P, et al. Nutritio- of enteral and parenteral nutrition on ami-
nal assessment in cancer: comparing the no acid levels in cancer patients. JPEN J
Mini-Nutritional Assessment (MNA) with Parenter Enteral Nutr 1995;19:204-8.
the Scored Patient-Generated Subjective
Global Assessment (PGSGA). Nutrition 26. Nixon DW, Lawson DH, Kutner M, Ansley
Cancer 2005;53:51-6. J, Schwarz M, Heymsfield S, et al. Hype-
ralimentation of the cancer patient with
20. Correia M, Cravo M, Marques-Vidal proteincalorie undernutrition. Cancer Res
P, Grimble R, Dias-Pereira A, Faias 1981;41:2038-45.
S, et al. Serum concentrations of
TNF-alpha as a surrogate marker for 27. Lee JH, Machtay M, Unger LD, Weins-
malnutrition and worse quality of life in tein GS, Weber RS, Chalian AA, et al.
patients with gastric cancer. Clin Nutr Prophylactic gastrostomy tubes in patients
2007;26:728-35. undergoing intensive irradiation for cancer
of the head and neck. Arch Otolaryngol
21. Heredia M, Canales S, Sáez C, Testillano Head Neck Surg 1998;124: 871-5.
M. The nutritional status of patients with
colorectal cancer undergoing chemotherapy. 28. Nayel H, el-Ghoneimy E, el-Haddad S.
Farm Hosp 2008;32:35-7. Impact of nutritional supplementation on
treatment delay and morbidity in patients for long-term feeding of patients with
with head and neck tumors treated with oropharyngeal tumors. Nutr Cancer
irradiation. Nutrition 1992;8:13-8. 2004;50:40-5.
29. Hernández JA, Carmona DM, Vila MP, et 36. ASPEN Board of Directors. Clinical
al. Documento de Consenso. Nutr Hosp Guidelines Task Force. Administration
Suplementos 2008;1:14-8. of specialized nutrition support. JPEN J
Parenter Enteral Nutr 2002;26:18SA-
30. Jeevanandam M, Horowitz GD, Lowry 20SA.
SF, et al. Cancer cachexia: effect of total
parenteral nutrition on whole body protein 37. Byrne TA, Persinger RL, Young LS,
kinetics in man. JPEN J Parenter Enteral Ziegler TR, Wilmore DW. A new tre-
Nutr 1985;9:108. atment for patients with short-bowel
syndrome. Growth hormone, gluta-
31. Haugen HA, Chan LN, Li F. Indirect mine, and a modified diet. Ann Surg
calorimetry: a practical guide for clinicians. 1995;222:243-54.
Nutr Clin Pract 2007;22:377-88.
38. Windsor AC, Kanwar S, Li AG, Barnes
32. Hurst JD, Gallagher AL. Energy, E, Guthrie JA, Spark JI, et al. Compared
macronutrient,micronutrient, and fluid with parenteral nutrition, enteral feeding
requeriments. In: Elliot L, Molseed LL, attenuates the acute phase response and
McCallum PD, eds. The clinical guide to improves disease severity in acute pan-
oncology nutrition. 2nd ed. Chicago: The creatitis. Gut 1998;42: 431-5.
American Dietetic Association; 2006.
p.54-71. 39. Maillet JO, Potter RL, Heller L.
Position of the American Dietetic
33. Hernández JA, Carmona DM, Vila MP, Association: ethical and legal issues in
Rodríguez IR, Rovira PS, Palmer MA. nutrition, hydration, and feeding. J Am
Critérios Documento de Consenso. Nutr Diet Assoc 2002;102:716-26.
Hosp Suplementos 2008;1:26-33.
40. Fuhrman MP, Herrmann VM. Bridging
34. Piquet MA, Ozsahin M, Larpin I, Zouhair the continuum: nutrition support in
A, Coti P, Monney M, et al. Early nutri- palliative and hospice care. Nutr Clin
tional intervention in oropharyngeal cancer Pract 2006;21:134-41.
patients undergoing radiotherapy. Support
Care Cancer 2002;10:502-4. 41. Bozzetti F, Amadori D, Bruera E,
Cozzaglio L, Corli O, Filiberti A,
35. Anwander T, Bergé S, Appel T, von et al. Guidelines on artificial nu-
Lindern JJ, Martini M, Mommsen J, et trition versus hydration in terminal
al. Percutaneous endoscopic gastrostomy cancer patients. European Asso-
ciation for Palliative Care. Nutrition 48. Loprinzi CL, Michalak JC, Schaid DJ,
1996;12:163-7. Mailliard JA, Athmann LM, Goldberg RM,
et al. Phase III evaluation of four doses of
42. Winter SM. Terminal nutrition: framing megestrol acetate as therapy for patients
the debate for the withdrawal of nutritional with cancer anorexia and/or cachexia. J Clin
support in terminally ill patients. Am J Med Oncol 1993;11:762-7.
2000;109:723-6.
49. Torrinhas R, Ravacci G, De Nardi L, Wait-
43. Frank JL, Lawrence W, Banks WL, McKin- zberg DL. Síndrome da caquexia e anorexia
non JG, Chan WM, Collins JM. Modula- em câncer: abordagem terapêutica. In:
tion of cell cycle kinetics in human cancer Waitzberg DL, ed. Dieta, nutrição e câncer.
with total parenteral nutrition. Cancer São Paulo: Atheneu; 2004.
1992;69:1858-64.
50. Silva MP. Síndrome da anorexia-ca-
44. Baron PL, Lawrence W Jr, Chan WM, quexia em câncer. Rev Bras Cancerol
White FK, Banks WL Jr. Effects of 2006;52:59-77.
parenteral nutrition on cell cycle kine-
tics of head and neck cancer. Arch Surg 51. Maltoni N, Nanni O, Scarpi E, Rossi D,
1986;121:1282-6. Serra P, Amadori D. High-dose progestins
for the treatment of cancer anorexia-
45. Franchi F, Rossi-Fanelli F, Seminara P, Cas- cachexia syndrome: a systematic review
cino A, Barone C, Scucchi L. Cell kinetics of randomized clinical trials. Ann Oncol
of gastrointestinal tumors after different 2001;12:289-300.
nutritional regimens. A preliminary report.
J Clin Gastroenterol 1991;13:313-5. 52. Pascual LA, Filgus M, Urrutia CG, Berenstein
EG, Almenar Pasies BP, Balcells Alegre M, et
46. Westin T, Stein H, Niedobitec G, Lun- al. Systematic review of megestrol acetate in
dholm K, Edström S. Tumor cytokinetic the treatment of anorexia-cachexia syndrome.
response to total parenteral nutrition in J Pain Syntom Manag 2004;27:360-9.
patients with head and neck cancers. Am J
Clin Nutr 1991;53:764-8. 53. Loprinzi CL, Kugler JW, Sloan JA,
Mailliard JA, Krook JE, Wilwerding
47. Bozzetti F, Gavazzi C, Cozzaglio L, Costa MB, et al. Randomized comparison of
A, Spinelli P, Viola G. Total parenteral megestrol acetate versus dexamethasone
nutrition and tumor growth in malnou- versus fluoxymesterone for the treatment
rished patients with gastric cancer. Tumori of cancer anorexia/cachexia. J Clin Oncol
1999;85:163-6. 1999;17:3299-306.