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E Os Direitos Humanos.
3 PROFESSOR ORIENTADOR. Mestrando em Segurança Pública, Direitos Humanos e Cidadania (UERR), Especialista em Estudos
de Criminalidade e Segurança Pública (UFRR), Professor de Direito Penal e Direito Processual
Penal do Centro Universitário Estácio da Amazônia e Escrivão da Polícia Federal, Ruimachadojr01@gmail.com
INTRODUÇÃO
E é assim que surge os mais diversos tipos de sanções, como a pena de banimento, de
tortura, de reclusão, de mutilação e até mesmo a de morte. Inicialmente, em razão da quase
inexistência de limites ao poder de punir, a pena capital era utilizada com bastante frequência,
normalmente executada por carrascos de notável crueldade e na presença de plateias, supostamente
para assegurar que os membros daquela sociedade se sentissem desmotivados à prática de delitos.
Com o passar do tempo e, sobretudo, com o surgimento de movimentos como o iluminismo, as
reprimendas corporais foram cedendo lugar a sanções menos traumáticas como, por exemplo, à
pena restritiva da liberdade individual, que atualmente é um dos principais meios de reeducar um
indivíduo para que ele possa retornar ao convívio social (FOCAULT, 2004).
2 FUNÇÃO DA PENA
Existem diversos autores que falam sobre a eficácia da pena, entre eles, Cunha (2017, p.32)
“Nessa tarefa (controle social) atuam vários ramos do Direito, cada qual com sua medida
sancionadora capazes de inibir novos atos contrários à ordem social.” Ressalta que as sanções
servem para inibir atos que vão contra a ordem social. Entretanto, a doutrina majoritária aponta três
teorias que, segundo ela, conceituam de maneira completa e eficaz a finalidade dessa modalidade de
sanção estatal: Teoria retributiva, teoria preventiva e teoria mista.
Na teoria mista ou unificadora, atualmente adotada aqui no Brasil pelo art.59 do Código
Penal, consiste em unir os dois objetivos das duas últimas correntes, sendo assim, essa teoria de
caráter retributivo e preventivo. (JESUS, 2013)
Conforme visto no capítulo anterior, a aplicação da pena, enquanto sanção imposta pelo
Estado, faz parte de praticamente todo o nosso contexto histórico, quiçá por se revelar um
importante e necessário mecanismo no controle social. No ordenamento jurídico brasileiro há
diversos tipos de penalidades. Segundo Jesus (2013, p. 564) “as doutrinas classificam a penas em:
corporais, privativas de liberdade, restritivas de liberdade, pecuniárias, privativas e restritivas de
direitos”. Por fidelidade ao tema desse trabalho, a pena privativa de liberdade será o foco principal
da pesquisa, pois é por meio dela que pessoas chegam até a PAMC. Não custa relembrar que
somente os ilícitos penais mais relevantes são apenados com a restrição da liberdade individual,
tendo em vista que o nosso ordenamento jurídico adota a teoria da última ratio para o direito penal,
a regra, portanto, é a liberdade. (CUNHA, 2017)
De acordo com Jesus (2013, p.565), “as penas privativas de liberdade deverão ser
executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado”. Assim, o condenado inicia o
cumprimento da pena no regime mais rigoroso, aplicável no caso concreto, e depois pode progredir
para regime mais brando, de acordo com os critérios estabelecidos no código penal e na lei de
execuções penais. Nesse contexto, o legislador penal brasileiro instituiu três regimes de
cumprimento da pena privativa de liberdade, conforme leitura do Art. 33, caput, do CP, a saber:
regime fechado; regime semiaberto e regime aberto. É importante destacar que nossa legislação faz
clara distinção entre reclusão e detenção. “A pena de reclusão deve ser cumprida em regime
fechado, semiaberto e aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade
de transferência ao regime fechado. ” (GRECO, 2010, p. 473)
Por expressa previsão legal, precisamente o Art.59, II, do Código Penal, ao fixar a pena, o
juiz determinará o regime inicial para o seu cumprimento.
4 FACÇÕES
O problema não está somente nos grupos de facções criminosas, o crime organizado está
difundido por vários pontos da sociedade, o que afeta o combate das facções é o crime organizado
está dentro do poder público, assim essa contenda fica mais difícil. E as organizações criminosas
estão atuantes, pois acabam comprando os funcionários públicos para que eles fiquem a serviço
destas organizações. O câncer da segurança pública começa com a corrupção dos agentes públicos.
4.1 REBELIÕES
No Brasil teve muitas rebeliões, uma das maiores e a segunda, foi o Massacre do
Carandiru, ocorreu em São Paulo, no dia 2 de outubro de 1992, quando a Policia Militar interveio
uma rebelião na casa de Detenção do Estado. Causou a morte de 111 detentos. (CAMARGO, 2017)
É válido observar, que foi após esse cenário que o PCC foi formado, e em seguida mudou todo o
princípio do que seria a função do PCC. Então forma um grupo de detentos em resposta a esse
massacre, logo os ataques começam, contra os policiais.
Depois dessa rebelião, teve muitas outras, em Roraima, uma das maiores do Estado, foi
registrado no dia 6 de janeiro de 2017, total 31 assassinados. (CARMO, 2017)
A rebelião começa com um ataque entre uma facção e outra, os integrantes do Primeiro
Comando da Capital (PCC), durante o horário de visita, teriam quebrado o muro que separava a ala
da facção do Comando Vermelho (CV). A partir daí os presos anunciaram retaliações e uns detentos
são vitimados de forma cruel, alguns são mortos outros decapitados.
No contexto atual no qual o Brasil está passando, vale ressaltar a importância dos Direitos
Humanos hoje, que é de reverter ou amenizar a exclusão e o encarceramento seletivo, daqueles considerados
invisíveis e sem a menor importância para o meio social, assim como alguns os tratam. No artigo publicado
na Revista Internacional de Direito e Cidadania, o autor Oscar Vilhena Vieira, cita que são as desigualdades
sociais “que causam a invisibilidade daqueles submetidos à pobreza extrema, a demonização daqueles que
desafiam o sistema e a imunidade dos privilegiados”, minando assim o próprio Estado de Direito e a
observância das leis. (VIEIRA, 2008). Em diversos tratados e nas constituições, o direito humano tem grande
relevância, e se faz necessário uma preocupação maior nesse aspecto. (SOUZA, 2017) Todos esses direito
descritos nos tratados e nas constituições são direitos comuns a todos os seres humanos, diferenciação de
classe social, raça, etnia, sexo, religião entre outros. (OLIVEIRA, 2010). Um dos sistemas que mais afronta
os Direitos Humanos é o sistema penitenciário, foge totalmente do que deveria ser cumprido pelo direito
humanos. São fornecidas condições desumanas para os presos. (MURARO, 2016). Uma citação da Ana
Paula Barcellos, no seu artigo Violência Urbana, Condições das Prisões e Dignidade Humana. Mostra que
para o Direito Humano a dignidade da pessoa humana não pode ser equiparada com suas condutas, suas
práticas criminosas e sim a sua condição inerente de ser humano. A visão que o encarceramento mostra é que
os presos não são digno ou titulares dos direitos. E assim entra a repreensão da sociedade, o preconceito
ainda muito presente.
O sistema prisional não está obedecendo com sua efetiva finalidade, na qual é punir os
comportamentos e civilizar o preso a fim de ressocializa-lo para o corpo social. É possível observar isso
através dos indicies de reincidência criminal no Brasil.
A criminalidade no Brasil só aumenta, apesar de ser o pais que mais encarcera no mundo, segundo
o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2012). Ressocialização nas prisões e a reincidência criminal são
assuntos que precisam de estudos mais profundados para que sua função tenha sua efetividade. (IPEA, 2015) .
Assim, o obstáculo para aqueles que saem do cárcere, com objetivo de restituírem ao mercado de trabalho
torna-se um desafio gigantesco. Visto a visão difamatória que o maior percentual da sociedade ainda tem
sobre os ex-detentos. A situação piora quando se analisa o número de reincidentes, segundo pesquisa do
IPEA:
O grave problema é como o poder público e a sociedade representa a atual política de execução
penal, fazendo elevar o reconhecimento a obrigação de reconsiderar essa política, que, na prática, tem
projetos para a construção de novos presídios, e para criação de mais vagas nos neles, que privilegia o
encarceramento maciço. A Comissão Parlamentar de Inquérito, no seu relatório apontou que nenhum
presidio dos estados brasileiros cumpria com as exigências legais descritas na Lei de Execução Penal
Brasileiros (CPI, 2009). A CPI do Sistema Carcerário, constatou sobre Roraima:
“Roraima abriga 1.255 presos em 504 vagas, havendo um déficit de 751 e uma
superlotação de mais de 100%. Há 203 agentes com salário inicial de R$ 1.540,00,
incumbidos da vigilância e segurança da população carcerária. O Estado é dividido em 15
municípios, com 7 comarcas. Conta com 28 Juízes (com salário inicial de R$ 16.119,10),
31 promotores (com salário inicial de R$ 19.603,41) e 38 Defensores Públicos (cujo salário
inicial é de R$ 11.000,00). A Capital dispõe de 1 uma Vara de Execuções Penais. ” (CPI,
2009)
Uma das regras básicas de aplicação geral dos tratados internacionais de direito humanos, é: “O
regime prisional deve procurar minimizar as diferenças entre a vida no cárcere e aquela em liberdade que
tendem a reduzir a responsabilidade dos presos ou o respeito à sua dignidade como seres humanos.”
(JUSTIÇA, 2016). O déficit desse sistema está na desunião do Sistema Prisional e do Direito Humanos.
Muitos são os fatores que colaboram para tal, e a superlotação aflige ainda mais o cenário. (MURARO,
2016)
6 A RESSCIALIZAÇÃO NA PAMC
Na última inspeção do GEMF na Penitenciária Agrícola Monte Cristo, o cenário que seus
integrantes encontraram foi muito pejorativo, goteiras, restos de comida espalhados pelo chão, falta
de energia, presos amontoados em celas apertadas, esgoto correndo a céu aberto e um cheiro pútrido
que toma conta do ambiente. Nessa situação descrita a cima, é possível notar nitidamente que os
meios para a ressocialização dos detentos encontram-se impossível. (GEMF, 2017). O conselheiro
Rogério Nascimento, coordenador do GEMF, disse:
“O que nós pudemos ver é que a penitenciária agrícola não tem a menor
condição de ser uma unidade penitenciária. Ela funciona precariamente, está em escombros.
É absolutamente inadequada.” (CIEGLINSKI, 2017)
Deve haver boas condições para proporcionar à condenada integração social na sua
retomada a sociedade, como a lei de execução penal tenta deixar claro em seu artigo primeiro.
(BRASIL, 1984). Em um conceito mais objetivo, a ressocialização é o processo, de longo prazo,
onde trabalha o retorno do indivíduo, seja seu primeiro ato inflacionário ou reincidente, para o meio
social. Do qual, se faz necessário o isolamento do meio social. Privando-o de sua liberdade.
(MELO, 2013). É possível notar através de pesquisas e documentários, do qual mostra-se a escassez
que encontram as penitenciarias brasileiras, a falta de higiene, lixos e esgotos aberto, com perigo de
adquirir doenças. Não é possível ressocializar alguém que vive a mercê dessas doenças e em locais
que auxiliam no desenvolvimento de doenças psicológicas. (ROSSINI, 2014)
A precariedade prevalece na PAMC, homens perdem a esperança com todo esse caos
vivido, nesse lugar onde ele deveria está sendo trabalhado para voltar a viver com a sociedade.
Outro fator que colabora para que o processo da ressocialização não funcione, é a superlotação
nesses presídios, onde o acumulo de processo do judiciário aumenta presos e paralelamente o índice
de prisão. (CPI, 2009)
Em uma das obras do autor Cesare Beccaria, 2014, mostra sua opinião a favor da
proporcionalidade das penas e castigos aos delitos, como um sistema mais humanitário, um sistema
que previna os delitos a ter de puni-los. Onde todo o corpo social deve usufruir igualmente de
privilégios da sociedade. Os privilégios e o poder, geralmente são concentrados nas mãos de
poucos, e na sua maioria a mazela e a fragilidade fica exposta. Segundo Beccaria, a má
interpretação da lei, na verdade há desconhecimento dela, como cita no seu livro:
“Enquanto o texto das leis não for um livro quase particular e doméstico,
enquanto forem escritas numa língua morta e ignorada do povo, e enquanto forem
solenemente conservadas como misteriosos oráculos, o cidadão, que não puder julgar por si
qual será o destino de sua liberdade, ou a de seus membros e mesmo as consequências que
devem ter os seus próprios atos sobre os seus bens, ficará na dependência de um pequeno
número de homens depositário e intérpretes das leis.” (BECCARIA, 2014, p. 22)
Para Michel Foucault, a prisão é o meio onde se deve estudar o indivíduo e seu
comportamento, vigia-lo. Para a ressocialização, o poder da disciplina é essencial e serve de técnica
para moldar o comportamento do detento. Utopia do pudor judiciário: tirar a vida evitando de deixar
que o condenado sinta o mal, privar de todos os direitos sem fazer sofrer, impor penas isentas de
dor. (FOUCAULT, 1999). Para ele, a disciplina detém o poder da ressocialização, acrescentado a
isso a vigilância e a punição a todo tempo. Como Foucault fala em sua obra, dos delitos e das e
penas, deve haver ocupação no momento da punição, algo precisa distrai-los, o confinamento total
não resolverá o problema pode até aumentá-lo, criando expectativas para sua liberdade, são longas
horas de ansiedade para aquele momento, agregando pensamentos de vingança, ou acumulando
ódio pela sociedade. Porém, é necessário que haja falta de comunicação entre os presos, e Foucault
explica:
“Se o preso é condenado, não corre o risco de ser contagiado pelas ideias de outro preso,
uma vez que está sozinho em sua cela. Assim, o preso sabe que está sempre sendo
observado, ele deixa de tentar fugir, de rebelar-se, de tramar, pois pode estar sendo vigiado.
Os presos têm a constante ideia de que estão sendo observados. O detento nunca deve saber
se está sendo observado; mas deve ter certeza de que sempre pode sê-lo”. (FOUCAULT,
1999).
São fatores como esse que pode trazer como efeito condutas para que os detentos se torne
reincidentes. Não basta apenas prender, tirar a liberdade, tem que oferecer condições para que esses
indivíduos voltem para sociedade de forma com que não regressem ao mesmo local. Assim, há
dificuldade na recolocação social e profissional. A questão da ressocialização vai além, ela precisa
chegar ao âmbito da educação, da capacitação do detendo. A ausência do estado na implementação
de políticas públicas para reintegração é um dos problemas. A Penitenciária Agrícola de Monte
Cristo precisa ser reformada para poder reformar os criminosos.
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