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Para o presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do
Brasil do Amazonas, Epitácio Almeida, que participou das negociações do motim do Compaj, é
quase impossível que o detento não se contamine com as facções criminosas dentro da prisão.
"Quando o indivíduo é preso, ele entra em contato com um governo paralelo, o governo do
crime. Vai ter de se submeter a ordens e comandos lá dentro", afirma Almeida. "Os presídios
no Brasil são construídos para trancafiar, amontoar pessoas."
O fortalecimento de gangues a partir dos presídios foi observado em outros países, como
Honduras e El Salvador, onde novas políticas públicas estão sendo buscadas, exemplifica
Paes Manso.
Essa aliança entre ambos foi feita por razões estratégicas, para não prejudicar o comércio de
drogas. O rompimento foi identificado em grampos telefônicos, nos chamados "salves", os
comunicados entre gangues.
"Ironicamente, apesar de serem grupos muito fortes, eles são de certa maneira frágeis porque
deixam registros de tudo o que fazem. E tudo isso foi registrado pelas comunidades de
inteligências dos estados. O PCC tem 10 mil pessoas, e 80% [de seus membros] estão
presos."
De acordo com Gakiya, enquanto os conflitos ficarem limitados às muralhas das prisões, e a
violência não se estender para as ruas, a população não sofrerá impactos imediatos da
precariedade do sistema carcerário brasileiro. "Mas, uma hora, esses indivíduos vão retornar à
sociedade. E vão voltar muito piores", afirma o promotor.
O presídio que foi palco da mais recente barbárie
Para Almeida, sem a criação de espaços para oficinas técnicas e cursos profissionalizantes
nos presídios, que ofereçam perspectivas de um futuro fora da criminalidade, "a possibilidade
de ressocialização é zero".
O governo falha em atender garantias básicas previstas pela legislação brasileira, como de
higiene, alimentação e integridade física. Também não há trabalho em todos os presídios nem
separação de unidades por idade ou periculosidade, como pede a lei. "O Estado é um
descumpridor de leis de execuções penais. Legisla e não cumpre", afirma Almeida. "Enquanto
o Estado não tiver políticas de ressocialização efetivas e programas de prevenção à
criminalidade, estaremos entregando a juventude à violência."
"Hoje, falar de Estado e política pública no Brasil virou uma coisa maluca. O que vamos falar de
Estado de Direito com um governo em que boa parte está sendo presa ou é investigada, é
réu?", pontua.