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Escola de Ensino Superior do Agreste Paraibano

DIREITO

Componentes: Ilgnner Lira; Lucas Guedes; Natan Arnaud; Eleoclara Camelo; Márcio
Oliveira; Lucimar de Almeida.

Precariedade do Sistema Carcerário Brasileiro


Guarabira, 2021

Observando o atual cenário do Sistema Penitenciário Brasileiro, é necessária a


discussão acerca dos seus problemas e as consequências destes para a sociedade
brasileira, levando em consideração os vários fatos sociais que integram e provém da
massa populacional pertencente ao sistema penal do Brasil. Tais fatos são capazes
de alterar inúmeros aspectos de uma sociedade, como os índices de violência,
desenvolvimento humano e educação, os quais, corroborados por graves crises
institucionais do poder público, intensificam ainda mais a complicada situação da
população carcerária. Para isso, é de extrema importância compreender a amplitude
de consequências que surgem a partir da restrição de liberdade de um indivíduo, que
vão desde sintomas físicos e estruturais até psicológicos, mutando o próprio indivíduo
e também o meio social em que convive. Atualmente, no Brasil, a execução das penas
bem como a estrutura do Sistema Penitenciário Brasileiro é basicamente ditada pela
Lei N° 7.210, de 11 de Julho de 1984 (Lei de Execução Penal), a lei supracitada regula
o modo com deve ser executada a pena aplicada ao indivíduo, os direitos e garantias
da pessoa privada de liberdade, as assistências que deverão ser efetivadas pelo
Estado, a estrutura básica dos locais em que serão executadas as penas, o modo
como devem agir os órgãos responsáveis pela pena, bem como, suas atribuições e
outras disposições necessárias a correta aplicação e efetivação das penas. Cada
artigo dessa lei foi instituído para que se resguardasse as garantias fundamentais
expressas na Constituição Federal do Brasil, tal como a Dignidade Humana, princípio
presente nas diversas constituições dos Estados e tratados de diretos humanos entre
as nações, porém, o que se verifica ao observar a população carcerária brasileira é a
total deturpação desses princípios e direitos, tendo em vista a forte crise estrutural
desse sistema. Ademais, nas próximas linhas deste trabalho serão apresentados
dados para que a situação supracitada se torne mais evidente.

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População dos Presídios

Tomando como base dados do SISDEPEN, sistema de levantamento de informações


penitenciárias do Departamento Penitenciário Nacional, é notória a crescente
extraordinária da população carcerária brasileira. Em 1990, a Taxa de Aprisionamento
Nacional era de 61 para cada 100.000 habitantes, atualmente essa taxa cresceu mais
de 500%, batendo seu recorde em meados de 2019, ano em que a taxa alcançou a
marca de 359 presos para cada 100.000 habitantes, tendo como principal
consequência a superlotação dos presídios, no mesmo ano a população carcerária
era de 755.274 detentos, porém, o número de vagas era de apenas 442.349,
representando um déficit de mais de 300 mil presos por vaga; sendo o pior ano em
2015, em que foi registrado o recorde de 327.417.

Esses índices de superlotação indicam a grande dificuldade do Estado Brasileiro e de


seus Entes Federativos na administração dos estabelecimentos penais. Nesse caso,
o ambiente prisional deixa de cumprir sua função para se tornar, muitas vezes, em um
instrumento de tortura de e de degradação humana. Levando em consideração os
dados apresentados, verifica-se também um impasse no poder judiciário no tocante
ao número de processos que não possuem a efetiva condenação, sendo o Brasil um
dos países que mais possui presos preventivos, estes representam 32,25% da
população carcerária brasileira, criando na população um senso de impunidade, e nas
famílias dos presos um senso de injustiça porquanto seus pais, maridos e filhos
cumprem pena provisória de forma descabida.

Faixa Etária

Observando os dados do SISDEPEN, verifica-se que 60.07% é o número de pessoas


presas que possuem de 18 a 34 anos de idade, um fato muito intrigante, pois pessoas
nessa faixa de idade e em condições normais de vida fazem parte da massa
trabalhadora e estudante do país, não restando dúvidas que a sociedade dos jovens
é a mais atingida pela criminalidade e violência presente no Brasil.

Com isso, pode-se afirmar que o desemprego, a evasão escolar e o crescente número
de jovens em situação de privação de liberdade estão interligados. Em várias
situações do cotidiano da população brasileira, é sabido que jovens marginalizados,
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sem condições de trabalho e com ensino de baixa qualidade, são forçados a procurar
em outros meios sua subsistência, muitas vezes, influenciados por modelos e padrões
da sociedade e também para dar condição de vida aos seus familiares, infelizmente,
estes são tentados diariamente, por consequência da região em que residem, a
ingressar no mundo do crime. É o que aponta o estudo feito pela FEA-RP (Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto), o qual revela que:
quanto maior a desigualdade social em uma região, maiores serão seus índices de
violência "A desigualdade de renda coloca para a margem do sistema produtivo parte
da população, favorecendo, por sua vez, a realização de atividades ilegais como forma
de sobrevivência”, expressam os pesquisadores.

Trabalho e Estudo

O artigo número 17 da Lei de Execução Penal expressa em suas linhas: “A assistência


educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e
do internado.”. É notório que o Estado, como forma de proteger a dignidade da pessoa
humana, mantém garantido formalmente o direito à educação das pessoas privadas
de liberdade, porém, as informações a serem apresentadas tornam evidente a total
falha na hora de efetivar esse direito. Uma pesquisa, realizada em 2019, pelo portal
digital “G1”, com base em relatórios dos governos estaduais e federal, mostrou que,
naquele ano, apenas 1 a cada 8 presos tinham acesso à educação. Além de possuir
o objetivo de melhorar a capacidade intelectual e também as aptidões do indivíduo, a
educação possui um caráter primordial quando se fala em reintegração ao convívio
social, é por meio dela que estigmas são quebrados, muitos presos têm a necessidade
de se adaptarem a uma nova realidade, tendo em vista as dificuldades estruturais
provenientes do seu meio social, grande parte da população carcerária possui os
níveis de educação incompleto e ,em muitas vezes, são analfabetos, é o que revela
os dados do Conselho Nacional de Justiça no ano de 2017: 70% dos presos naquela
época não tinham sequer o ensino fundamental completo. Fatos como estes
estimulam ainda mais o preconceito e a discriminação, pois, de certa forma, os
presídios de um país refletem o tipo de sociedade que ele possui, e isso pode ser um
grande risco quando se vê a situação atual do sistema penal brasileiro, a população
carcerária de presos, em sua grande maioria, é formada por pessoas de baixa renda
e sem acesso à educação de qualidade, isso faz com que a sociedade marginalize

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essas pessoas, ao ponto de colocá-las em um mar de esquecimento. Além disso, é
perceptível a sensação de que apenas pessoas pobres e sem capacidade intelectual
são presas, gerando uma inversão de valores na sociedade, pois, agentes que
cometem crimes de colarinho branco, em sua grande maioria não são atingidos pelas
consequências de seus atos de forma tão drástica como os demais infratores.

Concomitantemente, o código legislativo supracitado prevê em seu artigo de número


28: “O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá
finalidade educativa e produtiva.” Além de suas finalidades econômicas, o trabalho
desempenha um forte papel na ressocialização do apenado, assim como a educação,
as atividades laborativas instruem o indivíduo a buscar novas competências, para que
se afaste da sua realidade anterior à prisão e consequentemente tome novos rumos
no modo de gerir a sua vida. Não obstante dos demais casos já expressos neste
artigo, o direito ao trabalho das pessoas privadas de liberdade também é visto como
uma deficiência no atual cenário. Dados estatísticos do SISDEPEN mostram que, até
o ano de 2019, apenas 19,28% dos presos exerciam atividades de laborterapia. A falta
de ocupação em uma vida de privação de liberdade pode acarretar em graves
consequências, como por exemplo, a adesão do indivíduo às facções pertencentes
ao crime organizado dentro dos presídios, muitos destes apenas chegam aos
institutos penais extremamente vulneráveis a influências criminosas, muitas vezes,
em busca de proteção dentro dos presídios e como forma de tentar melhorar a
condição de vida de quem os espera fora dos muros da prisão são obrigados a
fazerem parte dessas facções.

Estado de Coisas Inconstitucional

O termo “Estado de Coisas Inconstitucional” surge pela primeira vez na Suprema


Corte Colombiana, ao tratar de assuntos relativos aos direitos dos servidores públicos
daquele país, que por conta da ineficiência do poder público, várias violações a
garantias fundamentais foram identificadas, a partir do entendimento dos
componentes da corte vide o texto constitucional daquele Estado. O ECI age com o
direito além do positivismo, ele se adequa ao meio social e consegue dialogar com as
demais esferas, e não somente com o judiciário, além disso, como visa garantir a
efetivação de direitos e garantias fundamentais, o ECI está intimamente ligado a
proteção do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, a teoria do Estado de Coisas

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Inconstitucional permite ao Poder Judiciário condenar o Estado a desenvolver
medidas que sanem a grave crise estrutural que se instala perante a uma parcela da
população, desse modo, politicas públicas e estruturas de organização e
administração podem sofrer sérias transformações. Infelizmente, a Suprema Corte
Brasileira, no ano de 2015, declarou o Estado de Coisas Inconstitucional em relação
ao sistema carcerário do país, vários problemas de ordem econômica, estrutural, fiscal
e administrativas continuam sendo registradas a cada ano. Embora a Lei de
Execuções Penais seja uma das mais completas já vista nos ordenamentos jurídicos
pelo mundo, sua execução se dá de forma precária no país, principalmente na esfera
dos governos estaduais, em que sua grande maioria, passam por graves crises
institucionais e de administração, prejudicando ainda mais a sociedade de presos no
país.

Marcas na história e na memória

Observasse, com base nas informações já expostas como o sistema carcerário


brasileiro é precário, obsoleto e retrógado. Ademais, se percebe, pela história do país,
que guerras sempre foram frequentes até os dias hodiernos, chegando a alcançar o
sistema penitenciário, advindo sobre denúncias de corrupção e descaso no
procedimento dos agentes em relação aos presos.

Um exemplo a ser exposto seria a Rebelião do Carandiru, o maior já vivenciado pelo


Brasil. O número de vítimas chegou aproximadamente a 111 pessoas. Nesse cárcere,
localizado em São Paulo, tinha como moeda de valor maços de cigarro e fazia-se uma
espécie de escampo (troca), alguns setores eram administrados por presos
respeitados, como no refeitório. Em algumas revistas de pavilhões encontrava-se com
frequência armas espalhadas em todos os locais de difícil acesso. Vale ressaltar a
criatividade dos cativos na criação desses objetos: Facões feitos de grades, martelos
improvisados, armas caseiras, cachimbos, outros).

Durante todo o processo, houve negociação entre os presos e um dos diretores da


prisão, José Ismael Pedrosa, mas também não obteve sucesso. Logo, foi decidido a
convocação da força repressiva Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), Choque,
Ações Táticas Especiais (GATE) e Comando de Operações Especiais (COE). Vale
pontuar o pavilhão 9, local onde houve o maior número de mortos. Por fim 73 policiais

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foram julgados, o STJ (Supremo Tribunal Judiciário) acatou em estabelecer penas que
variaram entre 125 a 600 anos.

No fim de todo o processo, os presos sobreviventes que conseguiram a redenção


tiveram um problema gravíssimo com a ressocialização. Rejeitados pela sociedade,
esses não conseguiram, em sua totalidade, um emprego. Alguns abriram ONG’S
(organização não governamentais) para tratar viciados de produtos químicos, outros
retornaram aos estudos (um exemplo seria o condenado, já livre, que foi aprovado no
Exame de Ordem, mas não assumiu por não se encaixar na prova ética).

Vale pontuar que, conforme mostrado na LEP (Lei de Execução Penal) localizado em
seus artigos 10 e 11, O Estado tem o dever de assistir os presos e os egressos com
o objetivo principal de prevenir o crime e orientar o retorno ao convívio da sociedade.

Colocando-se em ênfase uma das rebeliões mais recentes ocorridos no Brasil, no qual
decorreu na Penitenciária Estadual Dr. Francisco Nogueira Fernandes, localizado no
município de Nísia Floresta, no estado do Rio Grande do Norte. Todavia, um dos
motivos teria sido a briga dentre duas facções criminosas: Sindicato do Crime e PCC,
quando presos do pavilhão 5 acabaram invadindo o pavilhão 4 para matar os membros
rivais. Na batalha dessas obteve-se um número alto de mortes, chegando próximo
aos 100. Os mortos foram deixados sem cabeça, braços, pernas ou tiveram o corpo
totalmente carbonizado. Por fim, na data de 29 de janeiro 2017, a Polícia Civil atuou
109 apenados no pavilhão 5 pelo motim.

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Referências
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/o-estado-de-coisas-inconstitucional-
e-o-direito-brasileiro/

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm

https://www.gov.br/depen/pt-br/sisdepen/sisdepen

https://www.camara.leg.br/noticias/809067-onu-ve-tortura-em-presidios-como-problema-
estrutural-do-brasil/

https://www.fearp.usp.br/institucional/item/8353-estudo-aponta-relacao-entre-desigualdade-e-
criminalidade.html

https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2019/04/26/menos-de-15-do-presos-trabalha-
no-brasil-1-em-cada-8-estuda.ghtml

http://especiais.g1.globo.com/monitor-da-violencia/2019/raio-x-do-sistema-
prisional/?_ga=2.174620322.1891822347.1635185207-603364635.1616778922

https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/monitor-da-violencia-metodologia.ghtml

https://portaldeperiodicos.unibrasil.com.br/index.php/anaisevinci/article/view/4560#:~:text=O%20n
%C3%ADvel%20de%20escolaridade%20dos,n%C3%BAmeros%20encontram%2Dse%20altamente%20
desproporcional.

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