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ESCOLA PAULISTA DE DIREITO

GABRIEL ALVES MARTINS SOLA

PERFIL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA BRASILEIRA E A POLÍTICA


DO ENCARCERAMENTO EM MASSA

ORIENTADOR: FERNANDO HIDEO LACERDA

SÃO PAULO
2020
A todo preso injustamento por

questões raciais, socias e econômicas pelo

Sistema Penal árbitrário e seletivo brasileiro.


PERFIL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA BRASILEIRA E A POLÍTICA DO
ENCARCERAMENTO EM MASSA

SUMÁRIO

1. O sistema prisional brasileiro e suas condições (superlotação).

2. Perfil da população carcerária brasileira.

3. Criminalização da pobreza.

4. Política do encarceramento em massa.

5. Guerra às drogas.

6. Estado policial autoritário.

7. Prender resolve?

8. Educação: único meio de intervenção democrático.


RESUMO

Esse trabalho visa tratar sobre o elevado número de um mesmo perfil da


população carcerária no país e da política do encarceramento em massa enraizada
no sistema. No qual, consigo, essa problemática acarreta um retrocesso na
democracia brasileira, assim como, na área social, cultural, na segurança e na
democracia do país. Desse modo, percebe-se que enquanto uma
parcela minoritária da população (brancos ricos) goza de sua liberdade e de sua
vida luxuosa, outra lutam diariamente para ter o mínimo suficiente para conseguir
sobreviver, tendo de roubar, em alguns casos, para conseguir por comida na mesa
de seus filhos. Neste contexto, há alguns fatores que não podem ser
negligenciados, como o perfil da população carcerária brasileira perseguida pelo
populismo penal e a política do encarceramento em massa. Diante disso, percebe-
se a perseguição do Estado brasileiro diante de alguns grupos que contém menos
voz ativa na sociedade.

ABSTRACT

This work aims to address the high number of the same profile of the prison
population in the country and the policy of mass incarceration rooted in the system.
In which, with you, this problem leads to a setback in Brazilian democracy, as well
as in the social, cultural, security and democracy of the country. In this way, it is
clear that while a minority portion of the population (wealthy whites) enjoys their
freedom and luxurious life, others struggle daily to have the minimum enough to
survive, having to steal, in some cases, food on your children's table. In this
context, there are some factors that cannot be overlooked, such as the profile of
the Brazilian prison population persecuted by criminal populism and the policy of
mass incarceration. In view of this, it is possible to perceive the persecution of the
Brazilian State before some groups that contain less active voice in society.

Palavras-chave: Sistema carcerário. População Carcerária. Sistema punitivista.


Encarceramento em massa. Populismo penal.
1. O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E SUAS CONDIÇÕES
(SUPERLOTAÇÃO)

O sistema prisional brasileiro possui a terceira maior


população carcerária do mundo, atrás dos Estados Unidos e da China, e dentre
essas, é a única que está aumentando. Dentro desse cenário, surge a primeira
problemática: a superlotação. O número de encarcerados é muito maior do que o
número de vagas. Dentro de presídios com estruturas arcaicas, verdadeiras
masmorras, sem saneamento básicos, colocam-se detentos dos mais variados
tipos de crimes juntos e misturados em condições precárias para tentar sobreviver.

Entretanto, a prática se distingue da teoria, visto que, o


artigo 88 da LEP1 diz que, o preso deverá ser alojado em uma cela individual com
dormitório, aparelho sanitário e lavatório, além da salubridade do ambiente pela
concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico
adequado, em uma área mínima de 6,00m². Além disso, exige em seu artigo 84,
a separação de presos condenados definitivamente e daqueles em prisão
preventiva, outra regra ignorada pelo Estado brasileiro.

Não há, realmente, como imaginar que exista alguma


coerência em prender pessoas por crimes diferentes, de graus de periculosidades
diferentes, juntas. Há, na verdade, uma péssima organização do Estado, uma vez
que, mantêm um jovem preso por roubar comida num mercado junto com
integrantes de facções criminosas, assim, a prisão não tornará esse uma pessoa
melhor, pelo contrário, é muito mais provável que saia filiado a alguma facção. O
deputado, e também presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minoria da
Câmara dos Deputados, Luiz Couto (PT), falou em uma audiência pública:

No sistema penitenciário brasileiro são sistemáticas as


práticas de gravíssimas violações aos direitos humanos,
notadamente a tortura, os tratamentos desumanos e
degradantes e o homicídio”.

Desse modo, evidencia-se que o tema merece mais


atenção por parte do Estado e da população.
De certa forma, a superlotação é causada por conta do
alto número de presos preventivamente, que é aproximadamente 40% da
população carcerária brasileira, em números, gira em torno de 310.000 presos.
Apesar de isso ser um fato atrasado na nossa sociedade, e reprovado por diversos
juristas conceituados, é apoiada, lastimavelmente, pelo senso comum do
populismo penal midiático. Esse quadro caótico fortalece os grandes criminosos
que filiam novas pessoas a seus bandos em troca de “segurança” nos presídios,
que o Estado não consegue dar. A Lei Anticrimes2, em seu artigo 316, trouxe um
instituto muito importante para atenuar esse problema, no qual cria uma obrigação
de se reavaliar prisões preventivas a cada 90 dias. Isso evitaria que prisões fossem
depósitos de gente sem condenação.

Desse modo, nota-se que o preso vive em condições


insalubres, sendo impossível ter uma esperança de ressocialização após o
cumprimento da sua pena, descumprindo, mais uma vez, a LEP, que retrata em
seu artigo 10 que é dever do Estado orientar o retorno à convivência em sociedade.
A superlotação carcerária no Brasil representa um ultraje contra os direitos
fundamentais e contra o princípio da dignidade da pessoa humana, que prende
como se fossem verdadeiros animais amontoados em celas, sem dar uma
esperança de ressocialização e promove a reincidência no crime.

2. O PERFIL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA BRASILEIRA

O direito penal brasileiro é muito seletivo, e persegue


grupos populacionais com menos voz ativa na sociedade, sendo denominado por
alguns juristas como direito penal do autor, e não, do fato, como deveria ser.
Assim, seguindo essa linha de raciocínio, é possível traçar o perfil da população
carcerária brasileira majoritária. Será levado em consideração, algumas questões
que retratam bem a seletividade do sistema penal brasileiro, tais como: a cor do
preso, a escolaridade, a faixa etária, o crime cometido e o grau de reincidência.

1
Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84)

2
Lei Anticrimes (Lei 13.964/19).
Gráfico 1

Percentual dos presos no Brasil por cor de


pele/raça/etnia em 2018
100
90
80
70
60
60
50
40 37
30
20
10
1 2
0 0
Brancos Negros Amarelos Indígenas Outros

Brancos Negros Amarelos Indígenas Outros

Fonte: BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional – Sistema Integrado de


In-formação Penitenciária (Infopen). Brasília, 2019. Disponível
em:<http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD
574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm>. Acesso em: 10 jun. 2019.

É evidente a perseguição do Estado atrás da população


negra. O Anuário de Segurança Pública de 2020, mostra que houve um aumento
de 14% na proporção de negros nas prisões nos últimos 15 anos, enquanto de
brancos, caiu 19% nesse mesmo intervalo de tempo. Esse fato, demonstra a alta
desigualdade racial entre a população negra e a branca no sistema judiciário,
evidenciando que há uma maior severidade na condenação de pretos. Outro modo
de demonstrar essa maior severidade na abordagem de negros no país é que,
segundo o mesmo Anuário, em média, 75% dos mortos pela polícia são negros, o
que demonstra a disparidade entre como brancos e pretos são tratados pelo
mesmo Estado.

As prisões brasileiras, atualmente, estão voltando a se


transformar em verdadeiras senzalas, porém dessa vez, é ainda mais perigoso,
pois esses se baseiam na letra da lei (que na prática não vale igualmente para
todos) e no populismo penal midiático. Comprova-se isso, através do Infopen
(2019)3 que mostra que o perfil populacional carcerário está ficando cada vez mais

3
https://dados.gov.br/dataset/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes-penitenciarias1
homogêneo, uma vez que, em 2005, 58,4% (91.843) da população carcerária era
composta por negros, enquanto, em 2019, esse número se eleva para 66,7%
(438.719 presos). Nota-se, que além de ter aumentado disparadamente o número
de prisões, aumentou-se, ainda mais, o número de negros nas cadeias.

Gráfico 2:

Grau de escolaridade dos presos no Brasil (2019)


100
90
80
70
60 59

50
40
30
20 18 18

10
1 3
0 0
Analfabetos Ens. Fundamental Ens. Médio Ens. Superior Pós-graduação Não Informado

Analfabetos Ens. Fundamental Ens. Médio Ens. Superior Pós-graduação Não informado

Fonte: BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional – Sistema Integrado de


In-formação Penitenciária (Infopen). Brasília, 2019. Disponível
em:<http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD
574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm>. Acesso em: 10 jun. 2019.

Juntando os dois gráficos, começa-se a se completar


mais nitidamente o perfil do preso: o negro de baixa escolaridade. Ao somar os
presos analfabetos com os de até no máximo o ensino fundamental completo, esse
número fica em torno de 77% da população carcerária, isto é, 77% dos presos não
se formaram nem na escola, e, logo, tem uma mão de obra desqualificada,
dificultando muito o arranjo de um emprego digno. Como consequência disso, o
desemprego acarreta numa total situação de miséria que tem o efeito de um
completo estado de barbárie, no qual pessoas efetuam os “saques” para não
morrerem de fome.

Atualmente, um dos maiores problemas


socioeconômicos existentes no Brasil é o desemprego. Hoje, o país tem,
aproximadamente, 12,8 milhões de habitantes desempregados4
(aproximadamente 13,8% da população), e claramente, o grupo social que mais
sofrerá para ter sua carteira de trabalho assinada, são os jovens negros de baixa
escolaridade, no qual não tem uma qualificação da sua mão de obra, que acaba a
mercê em busca de trabalhos braçais. O Estado, sem um programa de renda
mínima, deixa milhares de famílias passarem fome diariamente, tendo de optar
entre pagar o aluguel ou comer, no qual esses, às vezes, não veem outra saída, a
não ser adentrarem no mundo do crime.

Gráfico 3

Idade da População Carcerária Brasileira


80

70

60

50

40
30
30
25
19
20 16
10
10

0
18 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 45 anos Mais de 45 anos

18 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 45 anos Mais de 45 anos

Fonte: BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional – Sistema Integrado de


In-formação Penitenciária (Infopen). Brasília, 2019. Disponível
em:<http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD
574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRNN.htm>. Acesso em: 10 jun. 2019.

Enquanto um jovem branco e rico, moradores de um


bairro nobre, está terminando sua graduação, ou até mesmo sua especialização,
geralmente em universidades públicas – tendo aqui, uma inversão de valores, no
qual, essa deveria ser ocupada por pessoa com renda menores e, ao invés disso,
dada a precarização das escolas públicas, os jovens mais carentes não conseguem
o ingresso nessas faculdades, dando espaço, assim, para ricos, que tem condições
financeiras de pagar por um ensino superior privado -, os jovens negros e pobres,

4
Pesquisa do IBGE – 2°/tri de 2020.
moradores de regiões periféricas, estão tendo sua liberdade cassada pelo Estado,
e ingressando num presídio, a verdadeira escola do crime.

Dessa forma, conclui-se que há uma seletividade no


Direito Penal brasileiro, e o perfil da população carcerária (perseguida pelo Estado)
é clara: o jovem, negro, de baixa escolaridade, morador de região periféricas, isto
é, de baixa renda. Apesar do Brasil hoje, ter um modelo de governo democrático,
diversas minorias têm seus direitos fundamentais constitucionais nulificados
devido a inobservância do Estado em grupos minoritários com menos voz ativa e
menos poder financeiro. Em troca de “proteção” a aqueles que financiam suas
campanhas e sustentam o modelo econômico existente no país, baseado no mito
do populismo penal, em que o censo comum tem, erroneamente, como ideia de
modelo ideal para a contenção de crime e política de segurança pública, usando
isso para sua perpetuação no poder, tendo como consequência, diversas prisões
injustas.

3. CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA

Para sustentar a permanência do atual sistema


econômico do país, o capitalismo, grandes empresários, bilionários, políticos da
alta classe, tentam de diversas formas criminalizar a pobreza no Brasil, de modo
que, condenam movimentam sociais que lutam em busca de garantir os direitos
fundamentais garantidos na Constituição Federal de 1988, para assim, manter a
desigualdade social reinando na nação, uma vez que, assim, terá pessoas se
sujeitando a serviços desumanos, por uma recompensa miserável.

Diversos movimentos sociais como por exemplo, o


Movimento Sem Teto (MST), Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST),
Centra Única dos Trabalhadores (CUT), têm suas manifestações oprimidas por uma
força policial estatal respaldada em lei, justamente pelos políticos que tem suas
campanhas eleitorais apoiadas por tais mercenários que se sentem prejudicados
com tais reinvindicações e votam de acordo com os interesses dos mesmos. Dessa
forma, a criminalização de movimentos sociais é um dos meios usados pelo Estado
para manter a parte mais pobre da população mais pobre, coibidas a um sistema
que as oprimem, com direitos ignorados, e quando decidem se manifestar e
reivindicar o que a lei lhes garantem, são agredidos pelo policiamento autoritário.
Malcom X, resumiu muito bem essa questão quando
disse “não confunda a reação do oprimido, com a violência do opressor”, se
tornando, assim, um dito atemporal. Esse modo operante do Estado, existe há
décadas, tendo exemplos famosos, tais como: Martin Luther King no qual foi
criminalizado por lutar contra o Estado na questão do racismo estrutural nos
Estados Unidos, Zumbi dos Palmares foi criminalizado e morto por não aceitar a
escravidão, entre outros. Diante desses exemplos, evidencia-se o autoritarismo do
Estado diante de protestos de minorias sociais, que contrariam a ideologia do
governante.

Além disso, diversos meios que a população mais pobre


arranja para conseguir arrumar dinheiro no final do mês, são coibidos
judicialmente pelo direito penal brasileiro, e o Promotor de Justiça Gustavo Roberto
Costa, retrata muito bem isso em seu artigo “A Criminalização da Pobreza no
Brasil”5 para o site Justificando:

O Brasil insiste na criminalização da pobreza. As


estratégias de sobrevivência de um povo que tem
pouquíssimas chances de encontrar um trabalho digno
e viver em condições razoáveis são rapidamente
criminalizadas e reprimidas. Vender DVD’s piratas ou
vender drogas é crime, vender cerveja e água na praia
ou vender produtor na 25 de Março é proibido,
organizar-se para garantir terra para plantar ou
imóveis para morar é crime organizado. Claro, pois não
se imagina que um filho das classes média ou alta
precise fazer nada disso para sobreviver. Sujeita-se a
isso não tem outra opção (salvo raríssimas exceções).

Existem, além desses, dois meios de se criminalizar a


pobreza. A primeira, é através da produção social de pobres como criminosos, ou
seja, um preconceito enraizado, em forma de cultura, no qual esses são
perseguidos diariamente, por apresentarem um “fenótipo” de pobre – totalmente
criado pela indústria capitalista, que adota um padrão de vestimenta como “ideal”

5
http://www.justificando.com/2017/01/18/criminalizacao-da-pobreza-no-
brasil/#:~:text=Caos%20carcer%C3%A1rio%20(137%20mortes%20em,virar%20para%20encontrar%20outro%2 0
e convivem junto com o constrangimento de serem perseguidos em shoppings
centers e locais públicos, por serem na visão do sistema capitalista consumidor,
“consumidores falhos”, que não seguem o ciclo vicioso de comprar e comprar.
Ademais, o outro modo, é, de fato, a própria inserção de pobres no mundo do
crime, uma vez que, em decorrência da necessidade adentram nesse mundo,
muitas vezes, contra a própria vontade.

4. POLÍTICA DO ENCARCERAMENTO EM MASSA

Nos últimos 15 anos, houveram um boom no número de


prisões no Brasil. Em 2005, o número de encarcerados no país era,
aproximadamente, 300 mil presos, hoje, é em torno de 780 mil presidiários, ou
seja, houve um aumento de 260% da população carcerária num intervalo de uma
década e meia. Esse fenômeno é denominado “política do encarceramento em
massa” é consequência do neoliberalismo econômico e decorre do aumento de
tipos penais, que afetam diretamente modo de vida da população mais pobre – a
chamada criminalização da pobreza -, tendo assim, como principais vítimas, a
população jovem, negra, de baixa escolaridade e moradora de regiões periféricas.

Esse fenômeno teve início nos Estados Unidos, no


Governo Nixon que se iniciou em 1969, sob o discurso da “guerra às drogas”,
colocando uma população com um perfil totalmente definido atrás das grades de
maneira exponencial deixando os EUA com a maior população carcerária do
mundo. Uma década depois, de 1980 a 1990, teve um aumento de mais 500 mil
no número de presos, tendo assim, uma população prisioneira de 1,2 milhões e,
anos depois, esse número chegou a 2 milhões, tendo predominantemente negros
e latinos (de baixa renda).

Mais tarde, por volta de 1990, no Governo FHC, esse


modo operante de combate a violência e principalmente ao tráfico, chegou ao
Brasil, fazendo com que esse, anos depois, se tornasse a 3° maior população
presidiária do mundo. Hoje, aproximadamente 30 anos depois, esse método se
mostrou totalmente ineficaz e antidemocrático.
O Direito penal - e o modelo punitivista do Estado - via
de regra, tem duas funções principais: a ressocialização dos presos na sociedade e
a segurança daqueles que vivem "dentro da lei". Entretanto, esses dois objetivos,
na prática, não acontecem como são propostos na teoria, a medida que, o Estado
não promove a ressocialização dos encarcerados, só prorrogam o problema em no
máximo 5 anos, que esse "problema'', ainda retorna maior do que era a princípio.
Além disso, a questão da segurança é questionável, uma vez que, essa ocorre de
maneira arbitrária, dado que apenas jovens com baixa renda denunciados pelo
furto de objetos de valores irrisórios são presos, enquanto ricos que sonegam
milhões em impostos - que muitas vezes são destinados a saúde da população -
esses, não sofrem restrição de sua liberdade, pois praticam crimes "sem vítimas",
fato que muito se assemelha ao crime de corrupção - que, inclusive, os mesmos
que sonegam impostos, tecem diversas críticas aos "corruptos -, entretanto,
impossível medir o tamanho da hipocrisia que reina no sistema penal brasileiro (e
nesses que, como exemplificado acima, defendem suas arbitrariedades).

No entanto, o sistema capitalista se sustenta com as


desigualdades sociais e, consequentemente, na opressão de grupos menos
favorecidos na sociedade. Entretanto, esses precisão garantir que as desigualdade
socioespaciais se mantenham presente na sociedade, de modo que, garanta uma
sociedade totalmente estamental na prática, e isso torna um ciclo vicioso, no qual,
quando esses grupos veem alguma forma de ascensão social, o Estado,
automaticamente, busca outra para cessar esse crescimento: a política do
encarceramento em massa.

Como já dito anteriormente, frisa-se 56% dos acusados


em varas criminais são negros, enquanto que em juizados especiais que analisam
casos menos graves (crimes de colarinho branco - de ricos), este número inverte
tendo maioria branca (52,6%). No entanto, esses dados não são transmitidos a
sociedade brasileira, ou seja, não fazendo-a refletir ou pelo menos gerando um
incômodo de pensamento, de modo que, faz com que se mantenha presente o
senso comum tão presente hoje no povo brasileiro, que materializa o punitivismo
como uma medida eficaz e democrática.

Além disso, verifica-se que, em média 4 a cada 10


desses presos ainda não obtiveram um julgamento, em outras palavras, são presos
provisórios - alguns estão presos a mais tempo do que seria o tempo previsto para
a pena cominada ao crime no qual a esse está sendo imputado - e não detevem o
seu direito constitucional à ampla defesa, se formando assim, um tribunal de
exceção.

“Próprias de um regime de natureza ditatorial com aparência


institucional democrática, as medidas de exceção promovem o
esvaziamento de sentido das normas constitucionais contra um
grupo perseguido e tratado como inimigo, desprovidos da
proteção jurídica e política inerente a todo ser humano” – Prof.
Dr. Fernando Hideo Lacerda

Cumpre-se lembrar que, o perfil da população carcerária


brasileira - nas palavras da mídia adepta ao populismo penal, o perfil do
“criminoso” “delinquente” é traçado unicamente pelo Estado Neo-Liberal. Assim,
por meio de um Processo Penal de Excessão, o Estado brasileiro padece de farsas,
que enfraquecem a Constituição Federal, uma vez que banalizam e deturpam dos
Direitos e Garantias Fundamentais.

Nesse sentido, o Prof. Dr. Fernando Hideo Lacerda


elucida de modo brilhante, em sua tese de Doutorado intitulada “Processo Penal de
Excessão, como o Estado Neo-Liberal, por meio do populismo penal midiático,
aliena a população ao sistema punitiva e garante uma perseguição
institucionalidade.

“O autoritarismo aprendeu a se camuflar em medidas de


exceção envoltas no rótulo democrático, uma forma de
mediação da tirania com o discurso institucional. (...) As
medidas de exceção se aproveitam da mediação com as
formas democráticas para impor um conteúdo autoritário. São
atos essencialmente tirânicos destinados a combater um
inimigo específico, que se ocultam sob a forma
institucionalizada da aparente legalidade dos atos praticados
pelo sistema de justiça, no interior de regimes que se
anunciam democráticos” - Fernando Hideo Lacerda

E continua, de modo brilhante, explicando como essa


perseguição institucionalidade acontece no Brasil.

“Na América Latina e especialmente no Brasil, desenvolveu-se


um modelo de jurisdição de exceção. As medidas de exceção
são produzidas por atos de um sistema de justiça amparado
pelo discurso midiático que apela ao clamor social. Não há
criação de um regime jurídico especial nem justificativas de
segurança nacional, mas atos tirânicos que se anunciam como
aplicação do direito.
Os aplicadores do direito passam a atribuir casuisticamente
aos fatos e às normas postas o significado mais conveniente
aos seus interesses, segundo um apelo moralista que frauda a
essência da Constituição a pretexto de aplicar seus valores por
estratégias de ponderação e flexibilização. As medidas de
exceção são atos que formalmente respeitam os ritos e
procedimentos institucionalizados pela roupagem jurídica, mas
cuja essência é tirânica.
Assim, pode-se identificar entre nós a atuação do sistema de
justiça como fonte da exceção na contemporaneidade,
reproduzindo-se mecanismos elitistas de dominação colonial
contra uma humanidade subalterna aos interesses
econômicos, esvaziando de sentido a Constituição Federal em
nome da manutenção dos privilégios da classe dominante.”

Ou seja, o Estado Liberal brasileiro, através de medidas


autoritárias, escondidas em um discurso de combate a criminalidade, fazem um
retrocesso histórico. Isso ocorre de modo que esse, garante, em pleno séc. XXI,
que se faça presente uma sociedade estamental, inibindo a ascensão social das
classes oprimidas e menos favorecidas socialmente (por valores raciais,
econômicos, e ideológicos) aprisionando os jovens pretos, via de regra, de baixa
escolaridade e moradores de regiões periféricas em verdadeiras masmorras, - uma
real escravidão legalizada - na qual fazem uma “limpa” em naqueles que não são
socialmente aceitos por esses, se possuindo de títulos como, “família”, “cidadão do
bem” entre outros. E, ainda, garante o lucro que se faz essencial no sistema
neoliberal como base em abusos de pessoas menos instruídas. Enviado do meu
iPhone

5. GUERRA ÀS DROGAS

Os presídios brasileiros, em grande maioria, estão


superlotados de pessoas que foram presas portando pequenas quantidades de
drogas para uso pessoal – desse modo, percebe-se uma consequência direta da
chamada “guerra às drogas” -, no qual, não refletem um mau à sociedade.

Essa “política” iniciou-se no Brasil muito antes da política


do encarceramento em massa, entretanto, foi potencializada com essa, no qual se
tornou o elemento central para o sistema punitivista e capitalista produzirem
desigualdades. Teve início por meados do século XIX, mais precisamente no dia 4
de outubro de 1830, quando entrou em vigor a seguinte lei:
“É proibida a venda e o uso do “Pito do Pango”, bem
como a conservação dele em casas públicas: os
contraventores serão multados, a saber, o vendedor em
20$000, e os escravos, e mais pessoas que dele
usarem, em 3 dias de cadeia.”

Essa, foi sancionada a fim de criminalizar a Cannabis,


entretanto, era uma lei totalmente racista, no qual estipulavam penas e medidas
diferentes para o mesmo crime, que variava de acordo com a cor da pessoa.

Alguns anos depois, outra lei racial foi promulgada de


modo a criminalizar literalmente a cultura negra, uma vez que criminalizava o uso
da cannabis – na época era chamado por alguns como “Fumo de Angola”, sendo
de origem africana -, que era utilizada em rituais de religiões afrodescendentes,
além de criminalizar também o culto dessas e a capoeira. Logo, percebe-se que a
guerra às drogas sempre teve um inimigo definido, desde os primórdios da
República.

Mais de um século depois, essa cultura ainda se faz


presente no Brasil. Em 2006, a Lei de Drogas (N°11.343/06) foi sancionada,
criando assim, respaldos legais para que a polícia atuasse de seu modo agressivo
e aumentasse ainda mais a população carcerária. Essa, no entanto, foi publicada
com um grande problema, no seu artigo 28° “quem adquirir, guardar, tiver em
depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas” (grifo meu), a lei não
especifica a quantia exata de droga em que a pessoa deveria estar para que seja
considerado crime, no entanto, atualmente, essa lacuna é definida pelo fenótipo
de quem está portando tal substância.

Entretanto, com o passar do tempo, já foi comprovado


que a guerra as drogas é uma política ineficaz e produtora de desigualdades,
porém que ainda se sustenta num discurso para aqueles mais radicais que
acreditam em um combate ao tráfico com a violência. O consumo de drogas e o
tráfico não diminuiu com o endurecimento das leis, muito menos com o aumento
no número de presos por isso, pelo contrário, alavancou-se.

A juíza Maria Lucia Karam, elucidou, brilhantemente,


que:

“(...) que na conduta de uma pessoa, que destinando-a a seu


próprio uso, adquire ou tem em posse de uma substância, que
causa ou pode causar mal à saúde, não há como identificar ofensa
à saúde pública, dada a ausência daquela expansibilidade do
perigo.”

Nesse sentido, nota-se que essa conduta não fere


nenhum bem jurídico tutelado, além de ir contra o Princípio do Lesividade, uma
vez que, não fere e não levam perigo a nenhum bem jurídico de terceiros ou
coletivos que as drogas lícitas não levariam. E vai além, falando que não a
discriminação da posse não levaria a sociedade a uma dispersão das drogas,
esclarecendo que:

“Uma análise mais racional revela que tal afirmação não parte de
dados concretos, sendo mera suposição, que também seria
possível fazer num sentido oposto, pois não é irrazoável pensar
que a ameaça de punição pode, não só ser inócua no sentido de
evitar o consumo, como até funcionar como uma atração a mais
notadamente entre os jovens e adolescentes, setor onde o
problema é especialmente preocupante”.

Logo, verifica-se que ou há uma falta de estudo por


aqueles em que insistem na criminalização e na prisão descontrolada de usuários
de drogas e pequenos traficantes, ou há algum interesse para que essas
consequências nefastas de prisões seletivas continuem ocorrendo. Além disso,
Maria Lucia Karam, disse que, atualmente, a guerra as drogas matam mais do que
as próprias drogas.

Atualmente, verifica-se em alguns países outras medidas


que possam serem usadas para o controle de drogas, um país que pode ser usado
como exemplo é a Holanda. A historiadora Leilane Assunção, em uma entrevista,
explicou com exemplos os malefícios da criminalização e os efeitos positivos da
experiência da descriminalização na Holanda:

“(...) que é o país europeu que tem a experiência mais antiga com
a semi legalização, tem a menor população maconheira de todo o
ambiente europeu. O consumo cai pela perda do elemento proibido,
que é muitas vezes visto como um rito de passagem para os jovens”.
6. ESTADO POLICIAL AUTORITÁRIO

O Estado tem um monopólio legítimo da violência, no


qual, criam por base um discurso que tentam “justificar” o uso dessa, e legislam
normas para que seus abusos de poder e de força física estejam respaldados na
lei, juntamente com o direito penal do inimigo6.

Atualmente, o sistema punitivista é divulgado para a


grande massa da população, se tornando um senso comum, como o único modo
de garantir a segurança pública. Para isso, conta-se com o apoio da grande mídia
no chamado “populismo penal midiático”, que alavancam ainda mais a
criminalização da pobreza e a seletividade do Direito Penal, aumentando o poder
do Estado Policial, num sensacionalismo barato, que deturpam a realidade da
sociedade brasileira e mitificam a imagem da Polícia Militar.

Nesse contexto, o advogado e Diretor Tesoureiro do


Conselho Federal da OAB, Antonio Oneildo Ferreira, elucida, genialmente, a relação
entre o direito penal do inimigo e o estado policial:

O Estado Policial é artefato muito antigo, nascido


concomitantemente ao Estado-nação liberal, componente de uma
das faces da estrutura ambivalente deste (conforme a metáfora do
Estado-centauro, a um só passo racional e violento, difundida por
Loïc Wacquant). O direito penal do inimigo é um discurso
contemporâneo que, em certo sentido, serve como justificativa ou
pretexto para o avanço e o agigantamento do Estado Policial.

O Estado moderno é desde sempre paradoxal. Nele convivem


instituições liberais, destinadas a resguardar os direitos individuais
de liberdade, igualdade e propriedade, bem como instituições
repressivas, destinadas a coibir as violações à ordem jurídica pelo
uso da força coercitiva. Revela-se um Estado Policial
quandoirrompe um desequilíbrio entre ''a cabeça e o corpo do
centauro'': entre a finalidade de assegurar a estabilidade social e o
uso desproporcional da coerção. Ele desponta quando a violência
se transmuda de exceção para regra.

Em princípio, o Estado Policial pode direcionar sua máquina


repressiva contra quaisquer pessoas sobre as quais pesa a
alegação de ameaça ou ofensa à ordem social juridicamente
protegida. O direito penal do inimigo descortina um fenômeno em
que os sujeitos passivos da repressão são tratados sob um status
diferenciado - o status de inimigo - simplesmente porque
pertencem a um grupo social declarado ''inimigo público''.
Dessa forma, se verifica todo um aparato do Estado para
direcionar o público “inimigo”, numa tentativa deflagrada de eliminar do título de
cidadãos aqueles que não fazem parte de um padrão público no sistema capitalista.

Além disso, se tratando do Estado Policial, é necessário


abordar a questão da necropolítica, um dos maiores problemas sociais atualmente,
ligado a segurança pública que se faz presente nas sociedades juntamente com o
racismo estrutural.

A necropolítica, no Brasil, é muito presente em


operações policiais em locais com uma população predominante mente negras, ou
seja, nas periferias. O filósofo Achille Mbembe1 é um dos maiores pensadores, se
não o maior, sobre esse tema. A pesquisadora Rosana Borges, em uma entrevista
ao site “ponte.org”, explica de forma clara o conceito de necropolítica para Mbembe
e como ele chegou até essa:

A necropolítica é a política da morte adaptada pelo Estado.


Ela não é um episódio, não é um fenômeno que foge a uma regra.
Ela é a regra. E o Achille Mbembe elabora esse conceito à luz do
estado de exceção, do estado de terror, do terrorismo. Uma das
inspirações dele é o Michel Focault, com a biopolítica. Ele vai
trabalhar com o conceito inicial, não contrapondo exatamente, mas
dizendo: “a materialização dessa política se dá pela expressão da
morte”. O Estado não é para matar ninguém, ele é para cuidar. Que
a própria política não é o lugar da razão, é o lugar da desrazão. E
isso vai ter um desdobramento nas sociedades contemporâneas. A
gente vê hoje um Estado que adota a política da morte, o uso
ilegítimo da força, o extermínio, a política de inimizade. Que
se divide entre amigo e inimigo. É o que a gente vê, por exemplo,
nas favelas, nas comunidades do Rio de Janeiro, nas periferias das
grandes cidades brasileiras. Não há nenhum tipo de serviço de
inteligência, de combate à criminalidade. O que se tem é a
perseguição daquele considerado perigoso. A necropolítica reúne
esses elementos, que são reflexíveis e tem desdobramentos que a
gente pode perceber no nosso cotidiano, na nossa chamada política
de segurança. (Grifo meu).

Esse conceito se torna evidente quando analisa a


proporção de pretos e brancos mortos pela polícia no Brasil, como já dito acima.
Ou seja, esse número demonstra a seletividade do Estado brasileiro, desde a

1 7
Achille
Mbembe é um filósofo e pensador camaronês dos mais eruditos. Estudioso da
escravidão, da descolonização e da negritude, é Professor de História e Ciências Políticas
na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, África do Sul, bem como na Duke
University, nos Estados Unidos.
abordagem policial até, posteriormente, a condenação pelo sistema judiciário, que
também mantém esse caráter arbitrário de seletividade pela raça, de acordo com
a diferença de brancos e pretos condenados.

7. PRENDER RESOLVE?

Nos últimos 20 anos, com o avanço do populismo penal


midiático2, o número de presos em 2005 era de 296.919, no entanto, houve um
aumento de no número de prisões no Brasil, resultando numa população
carcerária, em 2020, de 759.518 presos. Em contrapartida, junto com o aumento
no número de prisões, o número de crimes praticados aumentou também, tendo
esse um acréscimo de, aproximadamente, 20% nesse mesmo intervalo de
tempo. Sendo assim, pode-se descontruir o mito de que a prisão haja de modo
efeito na segurança pública e de que diminua a criminalidade na sociedade
brasileira.

A partir de então, surge o seguinte dilema: deve-se,


desse modo, deixar os bandidos livres e impunes de todos os crimes praticados?
Tal dilema deve ser considerado um sofisma, criado pelo populismo penal
midiático.
A prática do encarceramento em massa, é uma medida
do combate a criminalidade e de segurança pública é totalmente ineficaz, gerando
efeitos apenas no aumento da popularidade de políticos que adotam dessa medida
para se eleger. Entretanto, na prática, ocorre um aumento na segregação sócio-
espacial e aumento da criminalidade.

O Direito Penal brasileiro, na teoria, é o “Direito Penal do


Fato”, entretanto, na prática, infelizmente, é o “Direito Penal do Autor” e, assim, as
únicas pessoas que são punidas e privadas de sua liberdade, como já mencionado
acima, é o jovem, negro, de baixa escolaridade e morador de região periféricas, e
na grande maioria dos casos, com pequenas quantidades de entorpecentes,
enquanto isso, os grandes banqueiros e políticos que praticam os chamados crimes
de colarinhos brancos, geralmente respondem em liberdade.

Assim, as prisões brasileiras, superlotadas, fazem com


que tais jovens devem se associar ao crime organizado para promoverem sua

2
O “Populismo Penal Midiático é um fenômeno muito importante que sua compreensão se
faz muito necessária no entendimento da Política do Encarceramento em Massa.
segurança enquanto estiverem encarcerados.

Além disso, o sistema prisional brasileiro, não toma


nenhuma medida ressociativa eficaz, sendo esse, o principal intuito da prisão, ao
menos na prática.

Sendo assim, percebe-se que as prisões brasileiras


funcionam como verdadeiras masmorras em que o Estado as lotam com uma
população bem definida - empurram, verdadeiramente, a “sujeira para baixo do
tapete” como se esses, não fossem votar posteriormente -, não promovem a
ressocialização dos indivíduos, de modo que, esses, quando saem, sofrem para
arrumarem algum emprego digno e, consequentemente, muitas das vezes,
retornam ao mundo do crime para conseguir a sobrevivência de sua família.

8. EDUCAÇÃO: ÚNICO MEIO DE INTERVENÇÃO DEMOCRÁTICO

Atualmente, circula nos corredores do Congresso


Nacional, uma Proposta de Emenda à Constituição que tem como objeto principal
o congelamento de gastos em Educação por 20 anos, a famosa PEC 241 (PEC do
Teto). Portanto, esses que já são mínimos, se manterão inertes por no mínimo
mais 20 anos, ou seja, não terá nenhum avanço qualitativo, por duas décadas, em
média, duas gerações serão prejudicas diretamente em sua vida escolar.

Assim sendo, é evidente que as vítimas desse


congelamento de gastos, tem raça, idade e local definido. É o mesmo perfil
populacional já abordado ao longo dessa monografia: o jovem, negro, morador de
regiões periféricas e que, logicamente, estudam em escolas públicas. Como
consequência direta dessa, aumenta ainda mais, a desigualdade existente entre
ricos, com condições de estudo em redes privadas de ensino, e pobres, que
necessitam da ajuda do Estado para conseguirem o acesso à educação.

Entretanto, ainda que isso seja desassociado por grande


parte da população e, ainda mais grave, pela maioria da classe política, isto está
totalmente associado aos elevados índices de criminalidade existentes no país.
Posto isto, deve-se analisar que a segregação e a
diferença de oportunidades que se faz presente no futuro dos jovens, começa no
abismo existente entre a qualidade de ensino entre classes econômicas diferentes.
É essencial destacar que, enquanto aqueles que tem a oportunidade de estudar
em escolas da rede privadas, conseguem qualificar sua mão de obra e, assim,
aumentar consideravelmente suas chances de ingresso numa rede de ensino
pública – que, atualmente, as universidades públicas estão sendo um monopólio
de alunos ricos que estudaram em escolas particulares a vida inteira e, portanto,
ingressam nessa com mais facilidade – deixando, para aqueles que, apesar de
serem mais carentes financeiramente, se afundam em financiamentos estudantis,
para ingressarem nas universidades privadas, que via de regra, não presta um
serviço de qualidade tão bom quanto as Estaduais e Federais.

Logo, a segregação se mantém presente em todas as


fases do processo de formação do estudante, no qual, favores ainda mais, aqueles
que detém boa qualidade financeira para arcar com seus estudos. Em
consequência disso, ricos, ingressam no mercado de trabalho com uma mão de
obra qualificada e com mais facilidade na obtenção de ofertas de emprego, em
contrapartida os mais carentes, tentam ingressar nesse, com uma mão de obra
totalmente desqualificada, isto é, sem nenhuma especialização e, em decorrência
disso, sofrem na busca de empregos com condições desfavoráveis e remunerações
baixíssimas.

Em decorrência disso, muitos desses jovens menos


favorecidos, infelizmente, acabam por terem de adentrar ao “mundo do crime”,
muitas vezes vendendo pequenas quantidades de drogas, realizando pequenos
furtos ou até mesmo roubos, para que, assim, consigam se alimentar ou pagarem
contas necessárias para sua sobrevivência mensal, ainda que saibam que essas
condutas podem lhe custar sua liberdade. Ou seja, ainda que indiretamente, a
desigualdade sócio-espacial, infere para jovens se insiram na vida criminosa e
passem a cometerem crimes para sua sobrevivência.

Desse modo, verifica-se que, ao fechar portas de escolas


para crianças, abrem-se as portas do crime e do tráfico para os futuros adultos.
Uma pesquisa realizada na USP, revelou que:
“Foi constatado no primeiro ensaio que, quando ocorre o
investimento de 1% na educação, 0,1% do índice de
criminalidade é reduzido. Para isso é necessário que a escola
funcione como um espaço para desenvolver conhecimento. No
segundo ensaio observou-se que as escolas com traços de
violência, como depredação do patrimônio, tráfico de drogas,
atuação de gangues, entre outros, podem influenciar a
manifestação do comportamento agressivo dos alunos.
Através do estudo, as políticas públicas para reduzir o crime
na vizinhança da escola podem contribuir significativamente
para reduzir a agressividade dos alunos. ”

Nessa linha de raciocínio, chega-se à conclusão de que,


a educação é meio de contenção da criminalidade mais democrático, uma vez que
essa atua na prevenção. Assim, além de ser um direito fundamental previsto no
artigo 5 da Constituição de 88, é também, um meio que previne a inserção de
jovens no mundo do crime, e consequentemente, punindo as possíveis penas
privativas de liberdade que esses viriam a enfrentar caso ensejassem na vida
criminosa.

Se verifica assim, que é mais do que urgente que o


Estado passe a admitir planos no curto, médio e longo prazo para a educação com
projeto de governança para, não só a própria educação, mas também como
medida de segurança pública e impactos sociais gerados pela desigualdade.
BIBLIOGRÁFIAS E REFERENCIA BIBLIOGRÁFICAS

https://migalhas.uol.com.br/depeso/276236/tres-faces-do-autoritarismo--
estado-policial--direito-penal-do-inimigo-e-lawfare

https://www.usp.br/espacoaberto/?materia=educacao-e-a-reducao- na-
criminalidade#:~:text=A%20pesquisa%20comprovou%20a%20influ%
C3%AAncia,um%20espa%C3%A7o%20para%20desenvolver%20conhecimento.]

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