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Comparativo com os Eua até os países latino-americanos e relação com a

redemocratização

A vida nua, destituída de valor humano sempre foi algo imbricado nas relações
humanas, observemos, portanto, o que outrora era escravidão transformou-se em
encarceramento. Essa reinvenção ocorre quase simultaneamente nos países da
américa, refletindo o preconceito estrutural, de dominação de raça, classe social e
de segregação dos socialmente indesejáveis.

Nos EUA ocorreu a criação das leis de Jim Crow (As leis de Jim Crow foram leis
locais e estaduais, promulgadas nos Estados do sul dos Estados Unidos, que
institucionalizaram a segregação racial, afetando afro-americanos, asiáticos e outros
grupos étnicos. Vigoraram entre 1876 e 1965.) que retiraram direitos civis e
aumentaram a segregação racial, em especial para com os negros do sul.Vale
lembrar que, similar aos EUA, após ao fim da escravidão, no Brasil, o Código
Criminal da República de 1890 (logo após a Lei Áurea de 1888), tinha diversos
artigos dirigido à população negra, como os que proibiam a pratica de religiões de
matrizes africanas, a capoeira etc. Além disso, a lei de 2006, posteriormente, foi
usada por policiais, promotores e juízes para estimular o encarceramento em massa
da população negra, tornando-se uma lei Jim Crow em versão brasileira

Arte: Fernando
Bola
Além disso, o lucro toma uma nova roupagem no pós escravidao, não há mais a
venda de escravos, agora as prisões é que serão responsáveis por gerar dinheiro,
contudo, o papel daqueles corpos que eram explorados continua o mesmo, afinal, a
mão de obra prisional possui baixíssimo custo. “Prisões significam dinheiro. Muito
dinheiro. Em construções, em equipamentos e em administração.” (CHRISTIE:
1998)
De acordo com um relatório de In the Public Interest (ITPI) -- uma entidade civil com
sede em Washington --, de 62 contratos de penitenciárias privadas analisados nos
EUA, 65% dispõe de algum tipo de garantia de número mínimo de reclusos ou
penas por vagas ociosas. A lógica por trás dessas exigências é que os operadores
privados, que cobram por preso (entre 40 e 60 dólares ao dia), consigam garantir
para si um determinado nível estável de ingressos para administrar a prisão e
recuperar o custo da sua construção. - el pais

De syriske fængsler, hvor der sidder IS-fanger, er stadig sikre, fortæller en amerikansk embedsmand.
foto: Fadel Senna
Os “ex-escravos” passam a integrar a margem da sociedade, as favelas, morros e
comunidades abrigam essa população que continuam sendo alvo da elite, agora
representada pela força policial

Ilsutração: Antonio Junião / Ponte Jornalismo

Nesse ínterim surgem as ditaduras militares, nas quais prender não era o meio
principal de repressão, às torturas, mortes e desaparecimentos ganharam o
protagonismo da época. No brasil conforme levantamento da Comissão Especial
sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da SEDH-PR sabe-se que pelo menos 50
mil pessoas foram presas somente nos primeiros meses da ditadura militar nos anos
segintes dentre aqueles que sumiram ou tiveram sua vida ceifada haviam 41 líderes
negros.(dados da revista superinteressante - 2016). No Chile, o número de prisões
efetuadas chegou a 20 mil, três mil pessoas foram mortas pela repressão do
governo e outras 40 mil foram torturadas. (https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/ditadura-chilena.htm)

A repressão e perseguição a essa parcela da população crescia exponencialmente,


contudo os dados da época são poucos e falhos devido ao controle que era
exercido sobre essas informações
Argentina - não há número de presos mas 30.000 pessoas constam como
desaparecidas

A transição de ditaduras para a democracia, os casos


mais conhecidos sendo os do Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. No entanto,
paradoxalmente, a mudança democratizante não teve qualquer impacto progressivo
na aplicação da lei penal. A polícia passa a ser o exército e os inimigos tornam-se,
mais do que nunca aquela parcela da população tida como perigosa

Nos EUA, por exemplo, na década de 70, o combate da guerra às drogas


enlarqueceu o caminho para as políticas criminais autoritárias que seguiria dali em
diante como modelo punitivo seguido até hoje nos Estados Unidos. essa estratégia
relaciona negros e movimentos sociais à permissividade no país e, por sua vez, a
permissividade às “drogas”, foi o estopim da militarização da guerra às drogas e da
política do superencarceramento, o número de encarcerados passou a crescer a
cada ano seguinte a isso

Os presídios estadunidenses receberam mais de 200 mil pessoas entre 2000 e


2014, abrigando hoje mais de 2,5 milhões de pessoas.
[população encarcerada nos Estados Unidos]
fonte: tumblr.com

No Brasil, durante esse mesmo período, os números também são alarmantes,


segundo o Infopen (Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias), mais de
300 mil pessoas foram levadas ao cárcere. No Peru esse número chegou a 24% em
2013
(Peru. Ministerio de Justicia y Derechos Humanos 2013), na Bolívia – 30% em 2009
(TNI/WOLA 2010) e na Colômbia – 17% em 2009 (ibid.).

Em média, mais de 40% dos reclusos na América do Sul estão encarcerados sem
condenação. Na América Central a média é de 35%. No Brasil, por exemplo, cerca
de 40% dos presos ainda não foram julgados.

David Garland – pensar o fenômeno não só a partir do efeito quantitativo, mas nas
consequências do superencarceramento

- A análise quantitativa da população prisional brasileira confirma uma firme


tendência de crescimento
- Contudo,vamos além do quantitativo, as consequências colaterais do
encarceramento em massa introduzem uma miríade de restrições:
1) acesso restrito à moradia, que leva os ex-apenados ao desabrigo;
2) acesso restrito ao mercado de trabalho, manifesto nos efeitos
estigmatizantes do histórico criminal e nas interdições legais para o
trabalho em vários serviços;
3) acesso restrito à assistência social; reduzindo sua dignidade
4) restrição de voto, o que gera uma influência racial no resultado
eleitoral.
5) conseqüências psicológicas e sociais (como a total marginalização
desses indivíduos do conjunto da sociedade) onde não são
reconhecidas as perdas sociais que o encarceramento provoca nos
familiares dos criminosos
6) ao limitar o acesso às informações sobre a situação em que se
encontram e inibir a solidariedade e a identidade entre a sociedade e
os encarcerados
7) reeducação social para Focault, “a instituição na qual o indivíduo é isolado do
convívio social e que tem a função social de regeneração e recuperação é
aquela que, contraditoriamente, acaba por atribuir-lhe esta identidade, que
passa a “funcionar” como marca ou rótulo. Uma marca que irá carregar
posteriormente à sua saída do cárcere e que irá dificultar sua integração
social.”
8) como observou Garland, a punição moderna posiciona-se atrás de um
discurso que nega a violência inerente nas suas práticas, podemos
pensar se no Brasil tal dimensão coexiste com atos de violência que
se "legitimam" de forma explícita na impunidade dos operadores das
instituições e sobretudo na conivência de amplas camadas da
sociedade para com essas práticas.

Todas essas restrições contribuem para a insegurança econômica, a


precarização do trabalho, a ruptura das relações familiares, o colapso
comunitário, o desengajamento cívico, a violência interpessoal e a perpetuação
das desvantagens daqueles capturados na rede do sistema penal com a
transmissão intergeracional da desigualdade social.

recomendação:

Referências
https://super.abril.com.br/historia/america-do-sul-ditadores-em-rede/#:~:text=Pelo%2
0menos%2040%20mil%20mortos,no%20Brasil%2C%20de%20475%20pessoas.

https://www.crimlab.com/dicionario-criminologico/encarceramento-em-massa/45#:~:t
ext=As%20consequ%C3%AAncias%20colaterais%20do%20encarceramento,o%20t
rabalho%20em%20v%C3%A1rios%20servi%C3%A7os%3B

https://ponte.org/guerra-as-drogas-guerra-aos-negros/

https://emporiododireito.com.br/leitura/prisoes-latino-americanas-1508702837

https://periodicos.unesc.net/ojs/index.php/AnaisDirH/article/view/5835/5249

https://www.scielo.br/j/ts/a/nySB45jMfqqScTJXWTk7d6S/?lang=pt

https://www.scielo.br/j/ts/a/nySB45jMfqqScTJXWTk7d6S/?format=pdf&lang=pt

file:///C:/Users/yasmi/Downloads/104956-Texto%20do%20artigo-429910-1-10-20200
629.pdf

COIMBRA, C – Operação Rio: o mito das classes perigosas. RJ. Oficina do Autor.
Niterói, 2001

https://otrabalho.org.br/resenha-o-filme-13a-emenda-da-escravidao-ao-carcere/
https://operamundi.uol.com.br/direitos-humanos/30857/penitenciarias-privadas-bate
m-recorde-de-lucro-com-politica-do-encarceramento-em-massa

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