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"A NOVA SEGREGAÇÃO: racismo e encarceramento em massa", de Michelle Alexander.

Fala muito sobre a formação do sistema prisional no Estados Unidos (mas que se
aplica, também, ao Brasil) onde a população negra é vítima não somente da violência
policial e do extermínio mas, principalmente, do encarceramento em massa que tem
como veículo fundamental a guerra às drogas.

Nossos problemas são interconectados. A sociedade é pautada numa economia cada vez
mais excludente, onde há o extermínio daqueles que não podem consumir e tampouco
serem inseridos no mercado de trabalho; Mais especificamente falando, as pessoas
pretas, pobres, periféricas e de baixa escolaridade. Dentro desse cenário, essas
são as pessoas que mais vão sofrer, provando que o encarceramento é uma arma
utilizada, em todos os lugares do mundo, para realizar o controle social dos
indesejáveis (aqueles que a sociedade capitalisma e o neoliberalismo não pode dar
conta).

Existe uma relação entre o sistema de justiça criminal e a preservação da


hierarquia racial. Mesmo com o fim da segregação racial nos Estados Unidos na
década de 60, o sistema se reformulou para manter os efeitos da segregação racial à
partir da estratifição social por meio da crivagem entre negros e brancos; E o fez,
assim, por intermédio do encarceramento em massa.

A suprema corte dos Estados Unidos chancelou a segregaração racial e a tornou


formal através do princípio de "separados, mas iguais";

A segregação gerou uma série de movimentos sociais que lutavam pelos direitos civis
e contra o massacre e a superexploração da população negra.

À partir dos anos 60, com o fim da segregação, o sistema se reorientou para, em
outras bases, manter essa segregação.

O sistema carcerário passa a ser um elemento discriminatório que estabelece uma


nova segregação, um novo Jim Crow (sistema legal do sul dos Estados Unidos que
permitia a segregação racial. Jim Crow é um personagem caricato feito para
desumanizar a população negra interpretado por um ator branco que "pintava seu
rosto de negro", conhecido atualmente como blackface, que incorporava o papel de um
negro esteriotipado: não inteligente, comedor de melancia, um malandro que
utilizava da desonestidade para ter vantagem sob outras pessoas).

O sistema penitenciário dos Estados Unidos é equivalente ao Jim Crow porque, em seu
funcionamento, ele tem um alvo especifíco: a população mais pobre que, em sua
maioria, é constituída por pessoas negras.

Os crimes que recebem maior atenção do sistema de justiça criminal são os crimes
ligados à condutas próprias de pessoas mais pobres: crimes contra o patrimônio e ao
porte e tráfico de drogas. Há uma seletividade do sistema penal em torno de grupos
minoritários.

À partir do momento em que esses grupos são inseridos no sistema prisional, eles
são etiquetados; São tidos como pessoas que carregam para sempre a marca de uma
condição social diminuta. Após cumprir sua pena, por exemplo, eles terão
dificuldade de conseguir emprego ou conseguirão os piores empregos, aqueles com os
piores salários e pouca ou nenhuma segurança. Os empregos, portanto, que o cidadão
de classe média branco não quer.

O partido dos panteras negras para auto-defesa (1966-1982).

Surgiu com na intenção de combater as mazelas da segregação.


Os panteras negras andavam armados fazendo uma vigilha civil pelas ruas da cidade
enquanto monitoravam policiais brancos caso houvesse casos de violências injustas
contra a população negra.

Também tinham como prática o trabalho social; Eles organizavam cafés da manhã
gratuitos em instituições que abarcavam a população negra, além de intervenções em
clínicas médicas de sáude pública para ouvir da população negra o que acontecia
durante o contexto histórico da época.

Eles eram aliados ao Black Power; o negro não está abaixo do branco e precisa estar
em igualdade de condições dos brancos.

Essa cultura ultrapassou as fronteiras dos Estados Unidos.

FOTOS: Tommie Smith e John Carlos, Reinaldo do Atlético Mineiro

No Brasil, o que nos traz hoje à esse cenário de encarceramento em massa está na
nossa formação colinal escravista.

O sistema criminal não é apenas perpassado pelo racismo, ele é uma instituição que
surgem em países colonizados para garantir o controle social dessa população e para
manutenção de um sistema baseado em hierarquias raciais.

No Brasil Império, por exemplo, a primeira lei criminal no Brasil instituída ainda
com o funcionamento da escravidão. Temos relatos historiográficos de que, uma vez
que os escravizados eram presos devido à alguma infração, os seus proprietários iam
até as prisões pedir que eles fossem solto em troca deles mesmos aplicarem a
punição em âmbito privado. Desde então, o sistema prisional no Brasil já se
estabelece aplicando penas diferenciadas entre negros e brancos e negros libertos e
negros escravizados.

O Brasil República também traz uma série de reformas no sistema criminal no Brasil
e, ali, temos uma série de leis que vão garantir a criminalização dessa população
que passa a ser liberta da escravidão. Por exemplo, a Lei da Vadiagem: a
criminalização de pessoas que não tinham trabalho e "vadiavam" pelas ruas.

Dando um salto histórico, a gente chega no Brasil contemporâneo: a nova Lei de


Drogas, aprovada em 2006, estabelecida como um novo mecanismo de reorganização do
sistema criminalizante da população negra para a manutenção desse sistema de castas
raciais.

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