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INTRODUÇÃO

“Ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Nos


termos da Constituição Federal de 1988” (ART. 5º.) Este trabalho de iniciação cientifica
versa sobre as razões da submissão ao trabalho escravo no Brasil, nos tempos atuais.
Tem como justificativa levantar questionamentos sobre o motivo pelo qual
determinados trabalhadores se deixam aliciar a esses trabalhos análogos a escravidão, e
qual amparo legal eles têm recebido do Estado nos pós resgate, haja vista que esses
trabalhadores passam por tortura física e psicológica, tendo um futuro incerto e muitas
vezes com sequelas. O tema em questão é de extrema importância e nos remete a uma
abordagem jurídica muito significativa. De acordo com os elementos supracitados
temos a intenção de buscar e expor as respostas para nossos questionamentos. O método
utilizado será o hipotético dedutível e análise de dados por meio de pesquisa
bibliográfica e documental.

A ESCRAVIDÃO NO BRASIL COLONIAL


A escravidão no Brasil teve início em meados de 1530, com a chegada dos primeiros
colonizadores portugueses. Na época, os portugueses encontraram dificuldades em obter
mão de obra para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar e nas minas de ouro, o que
levou à utilização de escravos africanos.
Ao longo dos séculos seguintes, a escravidão se tornou uma prática comum no Brasil,
sendo utilizada não apenas nas plantações e minas, mas também em outras atividades
econômicas, como a produção de café e algodão. Estima-se que entre os séculos XVI e
XIX, cerca de 5 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil como escravos.
Diante da crueldade e das injustiças sofridas pelos negros nessa época, surgiram pessoas
com a coragem devida não só para olhar o problema, mais também para combate-lo de
maneira forte, como necessário na época. André Rebouças, José do Patrocínio e Luiz
Gama foram três importantes líderes abolicionistas negros do Brasil na segunda metade
do século XIX.
André Rebouças era engenheiro e político, e foi um dos principais líderes do movimento
abolicionista no Brasil. Ele também lutou pelos direitos dos negros e dos trabalhadores,
e foi um defensor da república. José do Patrocínio foi jornalista e escritor, e se tornou
conhecido por suas crônicas e artigos que denunciavam a escravidão e o racismo no
Brasil. Ele foi um dos fundadores do movimento abolicionista e um dos principais
líderes da campanha pela abolição da escravatura. Luiz Gama foi um advogado e
jornalista que dedicou grande parte de sua vida à luta contra a escravidão e pela defesa
dos direitos dos negros no Brasil. Ele também escreveu vários artigos e panfletos que
denunciavam a escravidão e o racismo, e defendia a liberdade e a igualdade para todos
os cidadãos brasileiros.
A escravidão foi abolida no Brasil em 1888, através da Lei Áurea, que foi assinada pela
Princesa Isabel. No entanto, os efeitos da escravidão ainda são sentidos na sociedade
brasileira até os dias de hoje, especialmente em relação à desigualdade social e racial.
“Se mil outros tronos eu tivesse, mil tronos eu perderia para por fim à
escravidão” PRINCESA ISABEL em 13 de maio de 1888.

TRABALHO ANÁLOGO A ESCRAVIDÃO

A legislação brasileira, desde a promulgação da Lei 10.803/2003, classifica como


trabalho análogo à escravidão toda atividade forçada que se trata de uma forma de
exploração e abuso em que pessoas são submetidas a condições de trabalho desumanas,
sem direitos, pagamento justo, e em condições degradantes. Todavia a proscrição
jurídica do trabalho escravo não foi suficiente para coibir a prática, que cada vez mais
cresce no Brasil e em especial na região Sul, domicílio de grande parte das empresas
infratoras.
De janeiro de 2023 até 20 de março do mesmo ano, foram registradas 523 vítimas de
trabalho análogo a escravidão segundo dados atualizados do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE). Em sua maioria pessoas de cor parda ou negra e muitas vindas do
interior do nordeste, em situação de extrema pobreza, onde por vezes aceitam tal
trabalho por força de dívidas, precariedade na sobrevivência e escassez de trabalho em
sua região de domicílio.
Empresas terceirizadas são encarregadas de recrutarem esses trabalhadores para
prestarem serviços temporários, prometendo alojamentos, refeições pagas, e ainda
salários vantajosos de até 4 mil reais por mês. Embora existam Leis como a
10.803/2003, que inclui no Código Penal punições de 2 a 8 anos para a prática em
questão, e órgãos de fiscalização dedicados a coibir a este tipo de trabalho singular à
escravidão, como por exemplo o aplicativo Pardal do Ministério Público do trabalho, o
Disque 100, aplicativo Direitos Humanos BR ou pela plataforma digital, Sistema Ipê,
criada pela Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho e
Previdência, Essas práticas ainda são recorrentes e as medidas de punição podem não
ser tão rigorosas quanto o necessário.
Podemos ver isso na prática, em casos descobertos recentemente, como o da Vinícola
Aurora, onde em 22 de janeiro de 2023, 3 trabalhadores conseguiram fugir e denunciar
o trabalho análogo a escravidão ao qual estavam sendo submetidos, e com isso levar a
polícia até o local de cárcere deles e demais trabalhadores que passavam por tortura,
privações de comida, água, e contato com seus familiares. Os trabalhadores foram
contratados por uma empresa terceirizada e com isso só o responsável por essa empresa
que fez os contratos foi preso, e por se tratar de um crime afiançável ele já se encontra
em liberdade. Em nota, a empresa Aurora, maior beneficiada com o a mão de obra
barata, diz se envergonhar e repudiar tais atos de tortura e trabalho análogo a escravidão
e que não tinha ciência da forma que sua terceirizada fazia tais contratações, nem das
condições em que trabalhavam e se encontravam os contratados por ela.

[“O que precisa ocorrer do ponto de vista jurídico para que isso nunca mais aconteça é
que as vinícolas sejam expropriadas e o valor seja direcionado a indenizar essas pessoas, num valor milionário”
JORGE LUIZ SOUTO MAIOR, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região e professor de
Direito do Trabalho na Universidade de São Paulo (USP)]

Além disso, muitos casos passam despercebidos ou não são denunciados, seja por falta
de conhecimento ou recursos por parte das vítimas, medo de retaliação ou até mesmo
por falta de investigação rigorosa por parte das autoridades responsáveis que muitas
vezes fecham os olhos e não fazem valer a esses infratores o vigor da lei.
Um problema recorrente para essas vítimas é a falta de amparo e de um tratamento
psicológico para a recuperação da vida dessas pessoas que estavam em condições de
vulnerabilidade. Já que passam por experiências traumáticas e muitas vezes ficam com
sequelas psicológicas que afetam seu bem-estar e sua capacidade de se reintegrar à
sociedade.
Muito tem sido feito, e uma das iniciativas foi a criação de uma Comissão Nacional de
Erradicação do Trabalho Escravo (CONATRAE).
Essa Comissão Nacional que possui um trabalho voltado ao amparo dessas vítimas, vem
exercendo um papel fundamental e de suma importância onde foi criado o Fluxo
nacional de atendimento às vítimas de trabalho escravo.
O atendimento à essas vítimas tem sido uma importante iniciativa para garantir amparo
e assistência às pessoas que passaram por essa situação traumática. O fluxo de
atendimento envolve uma rede de organizações e instituições governamentais e não
governamentais, que trabalham em conjunto para garantir o acesso das vítimas aos
direitos previstos em lei, como assistência social, jurídica, psicológica e médica.
Entre as organizações que atuam nesse fluxo de atendimento, destacam-se o Ministério
Público do Trabalho, a Defensoria Pública da União, a Polícia Federal, o Ministério do
Trabalho e Emprego, a Secretaria de Direitos Humanos e a Comissão Nacional para a
Erradicação do Trabalho Escravo.
O amparo às vítimas de trabalho escravo também pode incluir medidas de proteção,
como o encaminhamento para abrigos e a adoção de medidas de segurança para evitar
represálias por parte dos empregadores ou dos responsáveis pelo trabalho escravo.
É importante destacar que esse fluxo é um processo contínuo, que envolve não apenas a
assistência imediata às vítimas, mas também o acompanhamento e o suporte para sua
reintegração social e econômica. Para isso, são necessários o comprometimento e a
articulação de diversos atores sociais, incluindo o poder público, a sociedade civil e o
setor empresarial, na prevenção e combate ao trabalho escravo.
Bem como uma ampla divulgação para que as pessoas como um todo tenha ciência das
ações voltadas a essa demanda a fim de encorajar e fazer com que elas se sintam
capazes de lutar ainda mais contra esse problema recorrente de uma sociedade em
constante evolução.

Conclusão
Por meio da interpretação dos dados coletados nesta pesquisa de Iniciação cientifica
sobre trabalho análogo a escravidão, constatou-se a existência de políticas públicas para
coibição de tais infrações, todavia, a recorrência desses atos infracionais não advém da
inexistência de leis punitivas, mas sim da parcialidade daqueles que tem o dever de
fazer cumprir a lei. Portanto, nota-se uma relação de causalidade entre a falta de eficácia
da lei e o desgaste da fé pública da população quanto ao Estado.

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