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REINSERÇÃO SOCIAL DAS EGRESSAS NO MERCADO DE

TRABALHO
REINSERTION SOCIAL OF WOMEN CONVICTED OF CRIMES
INTO THE WORK MARKET

Myrella Nascimento Meireles ¹


Me. Robert Erik Cutrim Campos ²

Resumo:
Com base no art. 5º, inc. I, da Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza [...] I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição”, como um sistema prisional que, pensado e desenvolvendo, inicialmente, para homens, como
forma de punição como ideia de privar o detento de liberdade, ingressa uma mulher, ex-detenta, no mercado
de trabalho, tendo em vista que, o processo prisional para uma mulher acaba sendo mais árduo, já que,
muitas vezes, se tem questões de filhos, o estigma e a descriminação por ser mulher, elencada com o fato
de ser egressa? Como a desigualdade entre um o homem e uma mulher afeta, não somente dentro do sistema
prisional, como na reintegração ao mercado trabalhista? Quais as atividades exercidas no sistema
presidiário que podem utilizadas como elementos de reintegração das egressas? No tocante à questão em
torno do mote de gênero, o presente artigo, vem tratar da questão de como, as mulheres, ex-detentas
(egressas) do sistema prisional, se respaldam na vida após o retorno para a sociedade.
Palavras-chave: Desigualdade. Ex-Detenta. Projetos Sociais.

Abstract: Based on article 5º incised I of the Federal Constitution: “All are equal before the law without
distinction of any kind [...]. I - men and women are equal in rights and obligations under this Constitution”
as a prison system thought and developed, initially, for men as a form of punishment as an idea of depriving
the detainee of liberty, incorporates women, ex-convictenters, to labor market considering that the prison
process for a woman ends up being more arduous since there are often issues of children, stigma and
discrimination for being a woman summed with the fact of being a ex-convictenters? How does inequality
between a man and a woman affect not only the prison system but also the reintegration into the labor
market? What are the activities carried out in the prison system that can be used as elements of reintegration
of former prisoners? Regarding the issue around the theme of gender, this article deals with the question of
how women, ex-detainees (egresses) from the prison system, support themselves in life after returning to
society.
Keywords: Inequality. Ex-Inmates. Social Projects.

¹ Graduanda em Direito da Universidade CEUMA. E-mail: myrellameirele47@yahoo.com


² Mestrando em Criminologia pelo Instituto Universitário Atlântico - Universidade Fernando Pessoa -
Portugal. - Especialista em Direito Privado pela Universidade Gama Filho. - Graduação em Direito pela
Universidade Federal do Maranhão (2003). - Atualmente exerce o cargo de Analista Judiciário (Tribunal
de Justiça do Estado do Maranhão) e Professor da Universidade Ceuma. Tem experiência na área de Direito,
com ênfase em Direito. E-mail:
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1. INTRODUÇÃO
A ressocialização de egressas, vem sendo utilizada, e implementada, através de
projetos governamentais, entendo em vista, o reestabelecimento do vínculo com o
mercado de trabalho para mulheres que passaram pelo cárcere. Tais projetos, visão o alto
índice de detentas no Brasil.
Segundo o FORGEP Projeto de Formação de Gestores Público (2013 a 2015) “um
projeto social é um plano ou um esforço solidário que tem como objetivo melhorar um
ou mais aspectos de uma sociedade. Estas iniciativas potenciam a cidadania e consciência
social dos indivíduos, envolvendo-os na construção de um futuro melhor.” (pag. 7)
Portanto, apesar dos direitos assegurados por meio do art. 5º, inc. I, da
Constituição Federal, e demais movimentos para redução das discriminações, e
mobilização para a igualdade, muitas mulheres ainda acabam por se deparar com
desigualdades, preconceitos e discriminações sociais. Ademais, no tocante à questão em
torno do mote de gênero, concluísse que, o sistema penitenciário, presidio, cadeias ou
prisões deixam inúmeras marcas em que por lá passa, desencadeando, consideravelmente
e principalmente nas mulheres, prejuízos às condenadas, refletidos no âmbito físico,
psicológico, emocional e social.
Assim, vemos que tais projetos instituídos pelo governo, vem oportunizando para
essas detentas, através de aconselhamentos, palestras, cursos profissionalizantes,
programas assistenciais governamentais e práticas de empreendedorismos,
encorajamento, e estimulação para que, essas mulheres, não voltem a cometer crimes.
Concluindo o projeto com melhores oportunidades, principalmente, na forma de gerar
emprego que, no geral, é uma das motivações para que essas mulheres se reestabeleçam
como cidadãs.
Contudo, apesar de todo o trabalho de desenvolvimento desses projetos, ainda
existem bastantes obstáculos a serem enfrentados no processo de ressocialização, e um
dos principais, e o que passaremos a abordar nesse artigo, é o preconceito da sociedade
com relação as mulheres. As questões relacionadas às mulheres, ainda, estar muito ligada
a uma sociedade patriarcal, onde fica claro o preconceito de gênero, a estigmatização
dessa sociedade, em relação a essas mulheres, leva muitas a se isolarem, dificultando
assim sua ressocialização e causado espelho no mercado de trabalho, onde, além do
estigma já caraterístico de ofertas de salários mais baixos, existe ainda o fato de que a
sociedade se impõe, sobre a pessoa que já passou pelo cárcere, onde empregadores negam

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trabalho por preconceito. Assim, com todos esses fatores, muitas acabam por voltarem
para a vida do crime.
Esta pesquisa, tem por norteamento, o objetivo primário de discutir o trabalho de
ressocialização, apresentando a importância dos projetos sociais brasileiros com as
mulheres egressa. Ademais, será abordado uma reflexão sobre o que é ressocialização, e
assim, demonstrar as dificuldades enfrentadas pelas mulheres para se reestabelecerem na
sociedade. Além disso, demonstrar a importância dos projetos sociais na ressocialização
das egressas.
Assim, portanto, às contribuições dos resultados juntados por esta pesquisa,
ajudaram, e acrescentaram para desmistificação de que egressas do sistema prisional não
tem espaço para voltar a fazer parte da sociedade, bem como de que não podem
reestabelecer sua cidadania, visto que a pesquisa mostra que com a ajuda da sociedade,
existe certa facilidade para que essas mulheres consigam sair da vida do crime.

2. RESSOCIALIZAÇÃO DAS EGRESSAS


O capítulo 8, instituído na Lei nº Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984, conhecida
como LEP (Lei de Execução Penal), em seu Art. 26, incisos I e II, delibera que, para
efeitos da lei, considera-se egressos “I - o liberado definitivo, pelo prazo de 1 (um) ano a
contar da saída do estabelecimento; II - o liberado condicional, durante o período de
prova” (Brasil, 1984).
Dessa maneira, a ressocialização, tem como objetivo, desenvolver habilidades
sociais que possibilitem a reinserção das detentas no meio social e busquem se
reestabelecer no mercado de trabalho, recriando suas vidas para que possam viver uma
vida digna. Essas habilidades sociais adquiridas nos projetos buscam preparar as mulheres
para voltarem para a sociedade como cidadãs e não reincidirem na vida do crime. Além
disso, o ambiente carcerário, desencadeia inúmeros prejuízos aos condenados, prejuízos
esses refletidos no âmbito físico, psicológico, emocional e social. Sendo assim, a
ressocialização destes indivíduos tem o propósito de oferecer dignidade, tratamento
humanizado, conservando a honra e a autoestima.
Um dos principais fatores na ressocialização é estimular as pessoas a trabalharem,
com isso, são criados projetos sociais que visam ajudar e amparar as ex-detentas nesse
contexto.

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Entretanto é comum surgirem dificuldades em conseguir se inserir no mercado de
trabalho e até mesmo de serem vistas como cidadãs pelo alto preconceito existente na
sociedade.

3. AFIGURA FEMININA NA PRISÃO


A primeira penitenciária feminina do Brasil, teve origem em Porto Alegre, e foi
chamada de Penitenciária Madre Palletier. Dados coletados do livro Presos que
Menstruam ³ falam que:
“(...) foi fundada apenas em 1937, e não pelo Estado, mas por freiras da Igreja
Católica. Até então, mulheres condenadas do Brasil inteiro cumpriam pena em
cadeias mistas, onde frequentemente dividiam celas com homens, eram
estupradas pelos detentos e forçadas à prostituição para sobreviver. Depois de
muitas denúncias e discussões de penitenciaristas, o Brasil, tardiamente,
passou a construir presídios apenas para mulheres, começando pelo Rio
Grande do Sul e espalhando-se pelo resto do país.” (QUEIROZ, 2015, p. 112).

Originalmente, as penitenciaras, eram uma casa destinada a criminosas, assim


como também a mulheres prostitutas, que cometiam atos de rebeldia, histeria, suspeita de
bruxaria e paixão. Em outras palavras, as mulheres consideradas criminosas eram as que
apresentavam comportamentos fora do padrão de “ideal feminino”, visto que
disseminavam um modelo de liberdade e sexualidade, indo muito além do que realmente
seria o desajuste. Por muito tempo, teve-se, que tais atos deveriam ser eliminado para
evitar a repetição por outras mulheres.
Conforme Queiroz:

“[...] Era uma casa destinada a criminosas, mas também a prostitutas,


moradoras de rua e mulheres “desajustadas”. E “desajustadas”, naquela época,
podia significar uma série de coisas muito distantes do desajuste. Eram
mandadas para lá, por exemplo, mulheres “metidas a ter opinião”, moças que
se recusavam a casar com os pretendentes escolhidos pelos pais ou até
“encalhadas” que, por falta de destreza nas tarefas do lar, tinham dificuldades
em arrumar marido. — Era um processo de “domesticação”. Eram mulheres
que não cometiam crimes necessariamente, mas que deixavam maridos ou
eram rejeitadas pela família — conta Maria José Diniz, assessora de Direitos
Humanos da Secretaria de Segurança Pública do governo do Rio Grande do

³ QUEIROZ, Nana. PRESOS QUE MENSTRUAM: A brutal vida das mulheres – tratadas como
homens – nas prisões brasileiras. -1ª Ed. - Rio de Janeiro: Record, 2015. (livro digital)
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Sul. — Lá, as ensinavam a bordar, cozinhar e depois as mandavam de volta
para a sociedade, para arrumar um bom partido para casar.” (QUEIRO, 2015,
págs. 112 e 113)

Nota-se que, por muitos anos, as mulheres foram tratadas na sociedade como
quase inexistentes, sem pensar em suas necessidades. Um sistema deveras esquematizado
para o masculino, que não estava preparado para os dilemas femininos. Fato é que já
houveram bastante avanços nos últimos anos, e muitos campos, contudo, ainda existe um
longo caminho a percorrer.

5. O PRECONCEITO SOCIAL
Como restou demonstrado acima, as questões relacionadas às mulheres, ainda,
estar muito ligada a uma sociedade patriarcal, onde fica claro o preconceito de gênero
que, segundo Novo (2019) “é a ideia de que uma pessoa, por pertencer a um determinado
gênero, possui menos valores ou capacidades do que outras.”. Neste caso, em específico,
por se tratar de egressas, existe ainda uma intolerância da sociedade em relação a elas
quanto ao que diz respeito a convivência, onde essa sociedade, tão pouco, chega a crer
nas transformações de ex-detentos.
Nesse sentido Cerneka nos mostra que:

“O fato de a porcentagem de mulheres no sistema prisional ser baixa


(6,3% no Brasil e entre 0% e 29,7% no mundo) faz com que suas necessidades
não sejam consideradas quando se pensa em políticas públicas e construções
de unidades prisionais. Até o presente momento, a situação da mulher no
cárcere não foi tratada de forma adequada às suas especificidades, que vão
muito além da menstruação e gravidez. O que se observa é uma tentativa
de adaptações e “adequações”. No entanto, no Brasil, 6,3% é um número
considerável de quase 30.000 mulheres.” (CERNEKA, 2009, p.61 a78).

Com a liberdade, as egressas deparam-se com um novo desafio, recuperar uma


posição na sociedade, para então atingir o primeiro passo de poder reinserir-se no
mercado de trabalho. Helpes (2020, p. 103) comenta sobre essa dificuldade:

“As péssimas condições de trabalho vivenciadas antes e durante o período em


que cumpriam pena privativa de liberdade não terminam quando a detenta

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recebe seu alvará de soltura. Agora ela tem um novo desafio: retomar sua vida
com o estigma de ser uma mulher ex-presidiária. Para uma mulher que já
acumula diversas desvantagens ao colocar-se no mercado de trabalho, tais
como, baixa escolaridade, falta de apoio financeiro de membros da família,
única responsável pelos filhos etc., a passagem pela prisão pode apresentar-se
enquanto elemento definitivo na sua permanência nas fileiras mais baixas do
precariado.”

Por esse motivo, muitas egressas não procuram se especializar em nenhuma


ocupação que possam exercer fora da prisão porque, depois de saírem do presidio, estão
sujeitos a um mercado de trabalho duro e preconceituoso. Segundo Leandro, Córdova,
Castro e Kern (2018):
“Quanto a contextualização biográfica do público encarcerado, trata-
se de pessoas cuja experiência do aprisionamento acumula consequências que
agravam o processo de estigmatização e exclusão social. Se para os cidadãos,
moradores de periferias, com baixa escolaridade e baixa renda, o acesso a
políticas públicas e a oportunidades de ascensão social já são insuficientes e
desiguais, em relação ao egresso do sistema prisional, esse contexto de
vulnerabilidades é complementado e agravado pelo rótulo de condenado, pela
perda da subjetividade, pelo distanciamento dos vínculos familiares e
comunitários, pelo atestado de antecedentes criminais e pelo preconceito social
que praticamente transforma uma pena temporária de privação de liberdade em
pena de perpétua.” (Leandro, Córdova, Castro & Kern, 2018, p. 127).

Por norma, já é algo estruturado que, mulheres que passaram pelo sistema
carcerário, por vezes, somatizam outros estigmas sociais, onde, geralmente, está ligado a
extrema pobreza, falta de instrução, cultura territorial, e principalmente o ambiente em
que vivem, o que leva a aumentar preconceito e a discriminação social, tornando-os mais
cruéis (Leandro, Córdova, Castro & Kern, 2018). O que pode se tornar ainda mais
dificultoso, caso essa mulher não possua qualificações profissionais, sofrendo com a
incerteza do mercado de trabalho (Oliveira & Nunes, 2018).
Uma outra dificuldade encontrada e talvez o fator de maior sofrimento para as
presidiárias, é a forma como são tratadas, pois, mais do que os homens, são moral e

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socialmente condenadas, pela sociedade e principalmente pela família (Ribeiro, 2017). O
que pode gerar problemas de autoestima e abandono e desconforto social.

6. O MERCADO DE TRABALHO PARA AS EGRESSAS


7. PROJETOS VOLTADOS A REINTEGRAÇÃO
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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