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REFLEXOS DO MOVIMENTO FEMINISTA NO DIREITO CONSTITUCIONAL

PATRIO.
Raquel Souza Mognol 1
1. Advogada, pós-graduada em Direito Constitucional (UCAM), estudante de Teologia da UNINTER.

Grupo de trabalho: Direitos humanos, jurisdição e meios pacíficos de solução de controvérsias em


uma sociedade globalizada.

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo principal a exposição de questões sociais


relacionadas ao movimento feminista, assim como a exposição do princípio da
isonomia como base das conquistas femininas e a conceituação da nova
hermenêutica jurídica que vem sendo usada por constitucionalistas femininas
brasileiras, denominada de constitucionalismo feminista. O princípio da isonomia,
ou da igualdade abarcado pelos direitos humanos, é tido como um dos marcos
da democracia em essência, visto que representa a paridade no tratamento
dispensado aos cidadãos. Este é considerado um princípio geral, uma vez que “[...]
carrega mais valoração ética que conteúdo político decisório.” (PENTEADO FILHO,
2012). A Constituição Federal vigente expressa o princípio nos seguintes dispositivos:
art. 4º, VIII – igualdade racial; art. 5º, VIII – igualdade de credo religioso; art. 5º,
XXXVIII – igualdade jurisdicional; art. 7º, XXXII – igualdade trabalhista; art. 150, III –
igualdade tributaria. No que tange a sua relação com o feminismo brasileiro, Nestor
Sampaio Penteado Filho (2012), afirma que o constituinte reforçou as intenções do
princípio, tendo em vista a sociedade brasileira como sendo ainda patriarcal e
machista que faz discriminação por gênero, principalmente em questões salariais e
concursos públicos, portanto não se admite descrímen sexo entre homem ou mulher.
A magnitude e importância do princípio da isonomia, no Brasil, se deu principalmente
com a promulgação da constituição de 1988, dado seu conteúdo de cunho social. Faz
se mister destacar ainda que a abrangência deste princípio para abarcar todos os
cidadãos se deve, em grande parte, pelo movimento feminista, posto que, para ser
sujeito alcançado pela proteção do princípio, o indivíduo deve primeiro ser
considerado cidadão, condição esta que no passado era restringida, de modo geral,
apenas a homens. Assim, fica caracterizado o mérito do ponto em questão. Tanto
para demonstrar a contribuição do movimento feminista para a construção dos
direitos sociais, tanto no desenvolvimento do direito constitucional pátrio,
transformando conceitos ultrapassados outrora aplicados, ainda que de forma lenta e
gradual, porem continua. Conceituando, o constitucionalismo feminista é uma lente
de análise das decisões que abordam gênero nas decisões judiciais (BARBOSA;
DEMETRIO, 2019), com isso passa a haver maior reconhecimento da igualdade de
direitos entre os cidadãos, respeitando suas necessidades individuais sem impor
diferenciação jurídica quanto a gêneros. Para Christine Peter (2018), o
constitucionalismo feminista é uma postura hermenêutica do constitucionalismo
inclusivo, um modo de lidar com problemas a partir de uma visão plural, aberta e
tolerante. Apesar disso, as decisões do Supremo Tribunal Federal que tratam da
temática feminista ainda são escassas, porém, de absoluta relevância, podendo ser
citada a ADI 1946, onde havia discussão quanto ao pagamento de salário
maternidade a trabalhadora, cujo conteúdo da decisão expressa a preocupação em
proteger os direitos da gestante, garantindo que não haverá encorajamento pela
preferência de contratação de mão de obra masculina em razão dos encargos
trabalhistas serem reduzidos, tendo em vista a proteção da maternidade como direito
social, previsto no artigo 6º da Constituição Federal, bem como a proibição de
diferenças salariais e critérios de admissão, previstos no artigo 7º, XXX da CF, desta
forma auxiliando na inclusão feminina no mercado de trabalho e prevalecendo os
ideais do princípio da isonomia. Isto posto, se faz evidente a necessidade de
conhecimento acerca do movimento feminista, tendo em vista a influência do mesmo
nos mais diversos ramos do direito e consequências positivas para a população, além
de ser fundamental que seja disseminado o conhecimento a respeito das diferenças
sociais, com a finalidade de fomentar o respeito com o próximo, bem como promover
o estudo do constitucionalismo feminista em disciplinas do curso superior de direito,
para que os futuros profissionais da área, e os já atuantes, possam ter domínio do
assunto, e assim ter mais facilidade em voltar seu olhar para a constituição federal de
modo abrangente.

Palavras-chave: Isonomia. Hermenêutica. Constitucionalismo.

REFERÊNCIAS

BARBOZA, Estefânia Maria de Queiroz. DEMETRIO, André. Quando o gênero bate


à porta do STF: a busca por um constitucionalismo feminista. Revista Direito GV.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
24322019000300204&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em 31 ago. 2021.

BRASIL. Constituição Federal, 1988.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. ADI 1946. Relator: Min. Sydney Sanches. Distrito
Federal, 24 de abril de 1999. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=347341.
Acesso em 31 ago. 2021.

PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Direitos humanos. São Paulo: Saraiva, 2012.

PETER, Christine. Constitucionalismo feminista ressoa no supremo tribunal federal.


Observatório Constitucional. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/51966/a-
influencia-dos-movimentos-feministas-na-formulacao-do-principio-fundamental-de-
igualdade-previsto-na-constituicao-de-88. Acesso 31 ago. 2021.

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