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FACULDADES PEQUENO PRÍNCIPE

O próximo vestibular para a FPP traz uma significativa mudança em relação às provas anteriores: antes, as questões
eram elaboradas pela PUC – PR; agora, essa atribuição será de responsabilidade da UEL – PR. Ainda assim, a prova de
redação permanecerá sendo um texto dissertativo-argumentativo de 20 a 25 linhas.

O texto dissertativo-argumentativo é um texto opinativo que se organiza na defesa de um ponto de vista sobre
determinado assunto. A opinião do autor é fundamentada com explicações e argumentos, tendo como objetivos
formar a opinião do leitor ou do ouvinte e tentar convencê-lo de que a ideia defendida é a correta. Para isso, é
preciso expor e explicar as ideias. É dessa mistura que vem a sua natureza: o texto é argumentativo porque defende
uma tese e é dissertativo porque é necessário o uso de uma série de explicações que a justifiquem. O objetivo de
quem produz esse tipo de texto é convencer o leitor mediante a apresentação de razões, por meio da evidência de
provas, contando com um raciocínio coerente e consistente. Para alcançar essa coerência, o candidato deve se
preocupar, basicamente, em oferecer argumentos que se relacionem entre si. O texto dissertativo-argumentativo
tem como principais características a apresentação de um raciocínio, a defesa de um ponto de vista ou o
questionamento de uma determinada realidade. O autor se vale de argumentos, de fatos, de dados, que servirão
para ajudar a justificar as ideias que irá desenvolver.

Colocar titulo

No final retomar a tese e fazer um comentário

O romance Chove sobre minha infância (Record, 2000), é narrado em primeira pessoa pelo
personagem principal Miguel Sanches Neto. Apesar do tom memorialista e autobiográfico, por
causa do uso de nomes reais, é um texto de ficção, que busca sua verossimilhança na realidade
existencial, psicológica e histórica do próprio autor.

É um livro escrito para comover o leitor. Quanto à construção, temos um romance montado a
partir de uma linguagem simbólica que assimila as linguagens da crônica, da poesia e do conto – o
que confere à leitura do texto uma leveza e um ritmo alucinante – contrariando as fórmulas
narrativas inventadas pelo pós-modernismo.

O livro inicia com o protagonista adulto lançando seu olhar sobre o passado, sua infância:

“Chovia demais naquela manhã, uma chuva que molhava o piso de vermelhão da varanda da casa
onde morávamos, naquela época já de aluguel. Uma casa velha de madeira, a varanda circundada
pela mureta de alvenaria. A chuva alagando o território onde aquele que fui brincava de
escorregar no piso.

(...)

Sozinho na varanda, a chuva a me isolar dos amigos e da família, a sensação de abandono me


punha a escrever nas paredes, náufrago do tempo lutando para estabelecer contatos.

Quem seria esse interlocutor que o menino procurava?

Um amigo? Alguém da família? (...) Talvez todos, mas principalmente o adulto que a criança se
tornaria.
A partir daí a narração assume o ponto de vista do menino, com uma linguagem simples, lírica,
confessional, própria da idade, que vai contar os fatos que marcaram sua vida dos três aos
dezessete anos. Fatos estes que se transformam em símbolos, pela força das metáforas, que vão
moldar o caráter e a formação moral do personagem.

Primeiro, o fato que divide sua história em pré-história e história propriamente dita: a morte do
pai analfabeto, de quem herdou os cadernos em branco e a missão de preenchê-los. Pois é a partir
daí que se delineia sua vocação de homem das letras, que passa do papel passivo do leitor para o
papel ativo do escritor. Leitor de sua realidade, escritor de seu próprio destino.

O segundo fato marcante é a chegada do padrasto. De repente, o menino vai até o quarto da mãe
e descobre na cama, ao lado dela, um homem. É Sebastião, que consigo traz mais dois irmãos para
o pequeno Miguel. É o início de sua via-crucis, pois os valores ortodoxos e anacrônicos do
padrasto vão construir uma barreira intransponível entre eles.

Já na escola fica marcada a diferença entre os meninos. Zé Carlos e Luís tiram notas menores que
Miguel, porém trabalham melhor do que ele e por isso recebem mais elogios do pai, que só
recebe recriminações. As surras parecem sempre mais doloridas para ele do que para os outros. E
o ódio pelo padrasto aumenta cada vez mais. Ele não quer ser o sucessor do padrasto em seus
negócios rurais.

Miguel encontra nos livros o sossego e o mundo que o ajuda a suportar a realidade. Para o
padrasto, ele é um caso perdido. O hábito da leitura o acompanha quando ingressa no Colégio
Agrícola, lugar onde, na contramão do senso-comum, envereda pelos livros que vão consolidar
sua consciência crítica: de Augusto dos Anjos a Marx, passando por Kafka e Eduardo Galeano. A
partir daí, Miguel vai transformando seu gosto pela literatura em vocação. Já escreve seus
primeiros poemas.

Porém, antes de se tornar escritor, torna-se professor. Faz mestrado, doutorado. Enfim, vence na
vida seguindo o caminho que escolheu. É sua vingança contra um padrasto que encarnou todos os
percalços enfrentados por um menino-adolescente na sua descoberta da vida, nos seus ritos de
passagem, na sua história social, que de resto se parece com a história de muitos meninos
brasileiros pobres do interior.

É a formação, o amadurecimento psicológico de um indivíduo dentro de condições sociais e


afetivas díspares.

Um terceiro fato marcante para o entendimento da obra é a reprodução de uma carta escrita por
sua irmã Carmen (na verdade, um truque narrativo), que no final do livro vem para desmitificar o
pai e apresentar o discurso do padrasto, discurso este de apaziguamento entre os dois. O livro
acaba sendo uma espécie de acerto de contas com a vida. Lutou contra uma destinação (ser
lavrador) e cumpriu, assim, o seu destino (ser escritor):

“Vindo de um povo basicamente iletrado, recebi a tarefa de ser seu porta-voz. Escrevo por isso,
para fazer com que falem estes entes sem discurso. Pode até ser uma justificativa tola, mas como
ela pesa para mim. Se você não a compreende, é porque sua história é outra, você não sente o
travo amargo de um silêncio centenário.

(...)
Daí esta minha vontade de habitar folhas em branco para gastar este extenso estoque de silêncio,
para dissipar esta herança de desejos. Aprender a escrever foi a única saída para dar uma condição
letrada à extensa ignorância de meus antepassados.”

O romance se encerra com o protagonista já adulto voltando à sua cidade, para perceber que já
ele não pertence mais a ela, nem ela pertence mais às lembranças de seu passado:

“A mulher se aproxima do balcão para perguntar se sou daqui. Respondo seco:

-- Fui.

-- Muita gente que partiu tem voltado, mas não conheço ninguém. Sou nova na cidade.

Não digo nada, apenas olho as árvores do outro lado da rua, a velha praça e o local onde havia
uma televisão. Ali, nós, crianças pobres, assistíamos velhas novelas.

-- Onde o senhor mora?

-- Numa cidadezinha chamada memória.

-- Não sei onde fica – diz a mulher enquanto me vira as costas para atender um jovem.”

DADOS DO AUTOR

O autor nasceu em Bela Vista do Paraíso (PR), em 1965, e cresceu perto dali, em Peabiru, norte
paranaense. Formado em Letras, mestre pela UFSC e doutor pela UNICAMP. Atualmente reside em
Ponta Grossa, e leciona Literatura Brasileira na UEPG. Também é crítico literário da Gazeta do Povo
com mais de 400 artigos publicados. Chove sobre minha infância é seu primeiro romance.
Publicou ainda Inscrições a giz, poemas; Venho de um país obscuro, poemas; Abandono, haicais;
Você sempre à minha volta, cartas; Biblioteca Trevisan, crítica; Hóspede secreto, contos; e Entre
dois tempos, crítica.

ENTREVISTA DE MIGUEL SANCHES NETO 

A MÁRCIO RENATO DOS SANTOS, E,

1. Vindo da crítica e da poesia, o que significou para você o domínio de um código de expressão
tão diferente como o romance?

Nunca tive bem definida a fronteira entre estas formas literárias, e isto se reflete claramente em
Chove sobre minha infância, que vai da crônica, em alguns momentos, ao poético e ao conto, para,
em conjunto, formar um romance em blocos. É um livro escrito sem o desejo de pertencer a uma
categoria específica, com suas leis de construção rígidas. Ao contrário, é obra composta por partes
que se somam, mas que também guardam significação isolada, numa tentativa de ser,
estruturalmente, o menos repetitivo possível. Não houve também uma intenção de trabalhar sobre
um modelo, eu antes escrevi este livro como se tivesse vivendo um sonho, num transe narrativo
que lhe deu uma configuração um tanto estranha, que pode fisgar o leitor e levá-lo até o fim
numa viagem rápida, dada a intensidade do que se narra.
2. A impressão que se tem, realmente, é a de um sonho, pois você não se prende muito às
minúcias realistas, buscando do real os seus signos.

Esta foi a intenção desde o início, porque me agradava encenar toda uma vida em poucas páginas,
investindo muito mais na verticalidade do relato do que em sua horizontalidade, tanto de enredo
quanto de língua. E para conseguir este aprofundamento me vali de situações-símbolos, cujo
significado cria uma abertura metafórica. Quando falo, por exemplo, das frutas ácidas, estas
entram na história muito mais como metáfora da acidez crítica do narrador do que como partícipe
do mundo das coisas. É assim também com o aprendizado dolorido das quatro operações
matemáticas, representação da entrada em nossa vida de uma nova família, que vai se
multiplicando. Nunca tive dúvida quanto à preponderância do simbólico sobre o meramente
descritivo, o que aproxima Chove sobre minha infância da estrutura poética – o epílogo, por
exemplo, nasceu bem antes do livro e no formato de um longo poema, mas acabou entrando
como conclusão do romance.

Não obstante esta presença do poético, não há fechamento de linguagem, sendo o livro de fácil
compreensão, fundado principalmente na gramática da comoção e na leveza.

3. A literatura moderna tem medo de comover?

Não só tem medo de comover, como de ser comovida. A comoção, que sempre esteve presente
nas grandes obras (penso, por exemplo, em Germinal, de Zola), ficou de quarentena nas últimas
décadas, quando imperou um olhar irônico e desconfiado sobre tudo. A morte do eu na literatura
deu lugar ao culto do simulacro, de tal forma que se tornou constrangedora a identificação com
personagens que, previamente, se assumem como falsários. Na contramão desta corrente, ousei
escrever um romance que busca, em cada uma de suas páginas, a comoção, tentando levar o leitor
a se identificar com o narrador, que no caso é a mesma entidade do autor. Sou eu que narro
minha história, uma história sofrida, cheia de verdades cotidianas, apresentada por um
personagem que tem os olhos marejados – daí, inclusive, o sentido do título do romance.

4. Você não acha perigosa a proximidade, em Chove sobre minha infância, entre a ficção e a
autobiografia? 

Embora nascida de vivências reais, esta narrativa nem de longe se confunde com o estilo das
memórias ou da autobiografia. Ao narrar em primeira pessoa a sua vida, o autor se coloca numa
posição secundária: é sua história que se conta por ele, cabendo-lhe o papel de intermediário.
Logicamente, quanto melhor for o autor, melhor serão suas memórias, principalmente pelo uso
estilístico da língua. Outra característica fundamental para o gênero memória é o primado da
verdade. O ficcionista, mesmo quando se vale de experiências vividas, não busca a verdade factual,
mas a psicológica, seguindo não o fio linear da vida, mas fundando estruturas sobre o vivido.
Portanto, meu romance é uma construção semântica sobre fatos vividos por mim. Não contei tudo
o que se passou em minha formação, mas apenas as situações-chave. Eu exerci sobre minha
história uma força de linguagem e de estrutura, é por isso que ela pertence ao mundo da ficção e
não ao da realidade relembrada.

5. Mas o fato de você usar os nomes reais das pessoas e de incluir um caderno fotográfico não
significa justamente o contrário?
As fotos fazem parte da própria semântica do livro, vindo inclusive com frases que não são
meramente identificatórias, mas que se somam ao narrado. O caderno de fotos foi pensado como
um capítulo do romance e não como ilustração. Já o uso de muitos nomes reais é também um
recurso narrativo que busca desvelar o personagem em sua integralidade. Se o narrador não
tivesse o meu nome, ele seria mais pobre do ponto de vista do relato. O peso do nome que ele
sente ficaria diminuído no caso de alguma alteração. Eu tentei mudar os nomes, buscando
equivalentes, mas a perda de carga simbólica foi tão grande que me entreguei à sua forma
verdadeira, embora todas as pessoas sejam tratadas como personagens e não como gente real. O
padrasto que aparece no romance não é a cópia fiel do meu próprio padrasto, mas uma invenção
do narrador que se sentia oprimido por ele.

6. Você não corre com isso o risco de ser autocomplacente?

Chove sobre minha infância é uma narrativa que vai se construindo pela memória do narrador, que
avalia tudo aquilo pelo qual passa por uma ótica pessoal, centrada em seus sofrimentos. Estamos
diante de um menino de extrema sensibilidade para o confronto com o mundo e com a morte,
que luta desesperadamente contra a orfandade, não só a real mas principalmente contra a
orfandade cultural – ele vem de uma família de analfabetos, dedicada à agricultura, e se sente
destinado para o mundo dos livros. Esta ausência do pai, morto na primeira infância, representa a
própria ausência de uma herança cultural. O menino triste vai crescendo como observador de uma
força negativa que o impede de ser ele mesmo. Esta força se concentrou na figura do padrasto,
que nega seu projeto. O padrasto, portanto, é pintado com tintas fortes até o momento em que
há, depois da consolidação da vocação do menino, agora um adulto, uma revelação que o concilia
com o mundo do padrasto. O livro não é complacente com o narrador, porque ele acaba tendo
destruído o relato em que se vê como vítima.

7. A família está muito presente neste livro. Ela é ao mesmo tempo odiada e amada. Como você
sente este impasse?

É dele que nasce o drama e a grandeza de minha história. Quer queiramos ou não, toda relação
familiar se dá nesta imprecisa fronteira do amor e do ódio. Comigo, isto foi intensificado, porque à
família biológica se juntou outra, a da padrasto, que trouxe valores muitos conflitantes com os
nossos. Amar odiando e odiar amando a família foi e continua sendo um grande material
romanesco, porque nos livra de visões maniqueístas e planificadoras. 

8. O que significa para a sua família este romance?

Como se trata de uma família praticamente analfabeta, de pouca instrução e muita solidão de
linguagem, acredito que meu romance é um acerto de contas com este doloroso passado sem
discurso. Uma família destinada ao silêncio e à lavoura súbito encontra em um de seus
descendentes o porta-voz desta solidão que anseia ser linguagem. Embora a primeira redação
deste livro tenha sido muito rápida, tomando-me pouco mais de um mês, eu costumo dizer que
ele demorou cem anos para ser escrito. Desde minha bisavó, depois minha avó e minha mãe,
todas com grande sensibilidade literária, esta história veio se escrevendo no código imperfeito dos
sentimentos repartidos. Como fui eu o primeiro a adquirir instrumentos e instrução literária
adequada, a história se concretizou em minhas mãos, mas veio com uma grande potência atávica. 

9. O livro trata de uma trajetória brasileira de grande força, em que o narrador se constrói pela
linguagem, amadurecendo nela. Foi difícil acompanhar a linguagem do narrador?
Da criança ingênua que comete alguns erros de visão e de língua ao adulto que olha seu passado
com olhos úmidos vai realmente uma distância de linguagem. Este amadurece ao poucos de
forma a manter verossimilhança com o imaginário das várias fases do narrador. Por isso insisto
que não se trata apenas de uma história contada, mas de uma narrativa construída com a busca
minuciosa de uma familiaridade com a língua. Assim, quando o menino se sente traído por sua
própria inteligência, há dois capítulos em que a escrita atinge uma situação de violência,
representado por um ritmo alcoolizado, que no fundo é o rito de passagem para a vida adulta.

10. Como você, que é crítico, vê este livro no atual momento literário brasileiro?

Primeiro, trata-se de um livro à parte, por sua construção e por sua intenção. Eu quis escrever um
romance de formação diferente, contrariando os simulacros de um pós-modernismo desgastado
pelo uso repetitivo de fórmulas narrativas, recuperando assim um personagem que funciona como
máquina de comover. É um livro para ser amado ou odiado. Mesmo se valendo muito delas, Chove
sobre minha infância não prioriza a linguagem ou a estrutura como fim último do relato, mas
como elementos de intensificação de uma história triste e bonita, vivida por gente comum, que
um dia se fez autor, sujeito de sua própria existência. Ou seja, é um livro que tem um valor para
além do literário por concretizar o sonho de três gerações que viveram à sombra do mundo
letrado.

11. Este romance terá continuidade?

Não sei se é, propriamente, uma continuidade, mas já estou trabalhando numa nova obra que vai
ser um estudo sobre as mulheres em minha família. Considero-me um herdeiro da sensibilidade
destas mulheres que com fibra se insurgiram, desde o final do século passado, contra a
representação do poder econômico que se encontrava nos homens. Pretendo trabalhar os erros e
acertos de decisões extremamente corajosas de várias antepassadas, que construíram a história de
minha família vencendo e sofrendo preconceitos. 

12. É ainda a força centrípeta da família sobre a sua obra?

Sem dúvida. Eu recebi tantas informações sobre o passado de meus familiares que me sinto na
obrigação de dar uma forma narrativa para tudo isso. 

As três marias- Rachel de Queiroz

Na primeira parte do livro, acompanhamos a vida nesse colégio de freiras e isso me


prendeu logo de cara. Eu adoro histórias que se passam em internatos. O clima de
amizade, de confidências, das regras e das transgressões. É nesse momento em que
descobrimos mais sobre a vida da protagonista e suas amigas.

Mas como comentei, Guta (a narradora) não centra a história apenas nela e em suas
amigas mais próximas. Ela apresenta um leque de meninas e mulheres com diferentes
personalidades e diferentes desejos. É nessa fase, em que as meninas são inseparáveis, 
que elas recebem o apelido de As Três Marias, por estarem sempre juntas, como as
estrelas, mas serem claramente diferentes.

Apesar do título do livro, a verdadeira protagonista é Maria Augusta. A narrativa é


extremamente intimistas, então acompanhamos os pensamentos mais profundos dela.
Guta é questionadora e tem anseio de ver o mundo, mas não entende exatamente o que
isso significa.

Em As Três Marias acompanhamos Maria Augusta que ao fazer 12 anos deixa a


fazenda do pai e vai para a capital estudar em um colégio de freiras. Assustada com as
novas regras e rotinas rígidas do internato, a garota logo faz amizade com outras duas
alunas, Maria Glória e Maria José.

Através da perspectiva de Maria Augusta, acompanhamos a adolescência das amigas e o


início da vida adulta, mas não apenas as delas. Rachel de Queiroz traz uma história
sobre várias mulheres e o que ser mulher significava na primeira metade do século XX,
através de uma narrativa quase poética. Esse é um livro curto, mas me arrebatou
completamente.

Seguimos então para o início da vida adulta dessas jovens, sem perder de vista as várias
mulheres e histórias que cercam Guta e esse foi o aspecto que mais gostei do livro.
Rachel de Queiroz apresenta diversos tipos de vida das mulheres: a que segue o padrão
que a sociedade espera e está feliz com isso, as que são muito religiosas, as que “se
perdem”, as adúlteras, as prostitutas, as que esperam mais e não se conformam em ficar
em uma caixinha como Guta.

Mesmo sendo um livro de 1939, as inquietações e questionamentos da personagem são


atemporais. A sensação de querer mudar, mas ao mesmo tempo sentir medo do
desconhecido. É uma escrita magnifica, bela e melancólica.

Aliás, esse é um livro bastante melancólico. Guta provavelmente tinha depressão e


pensamentos suicidas estão presentes. Além dessa introspecção da nossa narradora, a
vida de muitas das personagens não é fácil.

Mas onde estão os homens dessa história? Estão presentes e são muito importantes na
vida de Guta e suas amigas, mas nenhum tem impacto como as personagens femininas.
Rachel de Queiroz retratou de uma forma muito verossímil a vida de milhares de
mulheres que se veem sem o apoio real de seus companheiros, pais, irmãos etc.
Mulheres que têm que desbravar o mundo apesar do medo e sentem vontade e prazer de
fazer isso.

Sinopse: A nova edição de As três Marias conta com prefácio de Heloísa Buarque de
Hollanda, fortuna crítica com textos de Mário de Andrade e Fran Martins e um encarte
com fotos da autora e das amigas que inspiraram as personagens do romance.As três
Marias, romance de Rachel de Queiroz, publicado originalmente em 1939, conta a história
das três amigas Maria Augusta (Guta), Maria da Glória e Maria José, desde sua infância
em um colégio de freiras até a vida adulta.
Neste romance de formação, Rachel retrata o processo de ajustamento ao mundo pelos
olhos das meninas e convida o leitor a acompanhá-las desde os medos e as incertezas da
juventude – quando ainda sonhavam com a liberdade além das paredes do internato e se
abismavam com a cidade – até o passar dos anos e chegarem ao amadurecimento e aos
dilemas da vida adulta. Sempre juntas, independente das escolhas do caminho.Maria da
Glória dedicou-se à maternidade e à família, Maria José, sempre devota, voltou a morar
com a mãe e virou professora, e Maria Augusta, diferente das amigas, determinou-se a
construir o próprio caminho: voltou a morar com a família, mas, descontente, retornou
para Fortaleza.
Trabalhou como datilógrafa e, lá, apaixonou-se. É quando a autora permite-se ir mais
fundo na perspectiva social e na agudeza da observação psicológica. E em nada estas
três Marias perdem para as três estrelas da constelação de Orion, que se destacam
alinhadas e reluzentes no céu e serviram de inspiração para apelidar as personagens de
Rachel: notórias e brilhantes na lembrança de todos que as conhecem.

Lima Barreto em seu romance Clara dos Anjos retrata assuntos delicados como o


preconceito racial, a obrigação social do casamento e o papel das mulheres na
sociedade fluminense durante o princípio do século XX.

Clara dos Anjos foi o último livro escrito por Lima Barreto. O trabalho foi concluído em
1922, ano da morte do autor. O romance que carrega como título o nome da
protagonista foi lançado apenas postumamente, em 1948.

Em termos literários, a obra pertence ao pré-modernismo.

Resumo
Narrado em terceira pessoa por um narrador onisciente e por vezes intruso, Clara dos
Anjos tem como tema central o racismo e o lugar ocupado pela mulher na sociedade
carioca do princípio do século XX.
Clara, a protagonista da história, é uma bela jovem de dezessete anos que vive no
subúrbio do Rio de Janeiro. Pobre, mulata, filha de um carteiro e de uma dona de
casa, a menina sempre recebeu a melhor educação e acolhimento.

Viviam todos numa casa modesta de dois quartos com quintal no subúrbio fluminense.
O ambiente urbano ao redor era descrito contendo “casas, casinhas, casebres,
barracões, choças”, já pela descrição percebemos que se tratava de uma vizinhança
relativamente humilde.

Clara foi a única filha sobrevivente do casal, os irmãos da menina todos morreram e
pouco se sabe do destino deles.

A vida da garota muda subitamente quando, num domingo, numa roda de amigos,
Lafões, parceiro do pai, sugere uma comemoração diferente para o aniversário de
Clara:

—A bênção, meu padrinho; bom dia, seu Lafões.


Eles respondiam e punham-se a pilheriar com Clara.
Dizia Marramaque:
—Então, minha afilhada, quando se casa?
—Nem penso nisso — respondia ela, fazendo um trejeito faceiro.
—Qual! — observa Lafões. — A menina já tem algum de olho. Olhe, no dia dos seus anos... É
verdade, Joaquim: uma coisa.
O carteiro descansou a xícara e perguntou:
—O que é?
—Queria pedir a você autorização para cá trazer, no dia dos anos, aqui da menina, um mestre do
violão e da modinha.
Clara não se conteve e perguntou apressada: —Quem é?
Lafões respondeu:
—É o Cassi. A menina...

Cassi, o músico sugerido por Lafões, fará a vida da família virar pelo avesso. Sedutor
convicto, sem qualquer tipo de preocupação com as mulheres com quem andava,
Cassi colecionava no seu currículo amoroso dez defloramentos e a sedução de muito
maior número de senhoras casadas.

Sua fama já era conhecida nos jornais, nas delegacias e entre os advogados. As
moças, vítimas, eram quase sempre mulatas ou negras, humildes e ingênuas. A mãe
do rapaz, contudo, sempre o defendeu com unhas e dentes de todas as acusações
feitas contra o filho.

Lafões havia conhecido Cassi na prisão: enquanto o primeiro havia causado distúrbios
em um botequim, o segundo havia se metido com uma mulher casada e, quando
descoberto pelo marido, foi perseguido com arma em punho. Cassi, com os
conhecimentos que tinha, consegue libertar Lafões.

Clara era o oposto de Cassi: muito recatada, raramente saía de casa e estava sempre
na companhia dos pais.
Por fim chegou o dia da festa de aniversário da jovem: amigos reunidos, casa cheia,
grande expectativa para o baile. A menina ainda chegou a ser alertada por uma de
suas colegas:

—Clara, toma cuidado. Este homem não presta.

Assim que adentrou no ressinto, Cassi fez a alegria das damas que lá estavam. O
rapaz foi apresentado por Lafões aos donos da casa e à aniversariante e logo se
interessou pela jovem.

A mãe, percebendo a intenção do rapaz, pediu ao marido que nunca mais levasse
Cassi à casa. Joaquim imediatamente concordou com a esposa e garantiu que "não
porá mais os pés na minha casa".

O modo superprotetor como a menina fora criada pelos pais, especialmente pela mãe,
parece ter sido um erro que viria a culminar no trágico destino na filha. Como vivia
reclusa, sem convivência, sem relações, Clara não tinha sequer uma pequena
experiência da vida, sendo facilmente enganada por quem quer que fosse.

Clara não reparava, por exemplo, no preconceito social despertado por ela ser mulata.
Naquela altura, no subúrbio do Rio de Janeiro, uma mulata não se casava e constituía
família com um homem branco.

Cassi, aos poucos, foi se aproximando da moça. Um dia passou na casa da família e
chamou por Joaquim, com o argumento de ter ido visitar um amigo e ter passado ali a
porta. Outras vezes mandou cartas destinadas à jovem. Por fim, a moça finalmente
caiu na lábia do interesseiro rapaz.

O padrinho de Clara, ao se aperceber da situação, resolve interceder para defender a


afilhada, mas acaba, contudo, sendo assassinado por Cassi e um colega.

Cassi chega a confessar o crime para Clara e argumenta que se tratou de um ato de
amor. Frágil e iludida com a promessa de uma paixão verdadeira, Clara cede as
insistências de Cassi.

O tempo passa e Clara descobre que está grávida. Quando recebe a notícia Cassi
imediatamente desaparece, deixando a moça sozinha e desamparada. Sem saber o
que fazer, Clara, antes de abortar, decide seguir o conselho da mãe, Engrácia, e vai
procurar a mãe do rapaz.

Qual é a sua surpresa quando, ao ser recebida por Salustiana, é maltratada e


humilhada, especialmente devido a cor da sua pele e a sua condição social. Assim
como havia acontecido em outras ocasiões, Salustiana defende o filho até o fim e
praticamente acusa a pobre jovem do acontecido:

—Ora, vejam vocês, só! É possível? É possível admitir-se meu filho casado com esta... As filhas
intervieram:
—Que é isto, mamãe?
A velha continuou:
—Casado com gente dessa laia... Qual!... Que diria meu avô, Lord Jones, que foi cônsul da
Inglaterra em Santa Catarina — que diria ele, se visse tal vergonha? Qual!
Parou um pouco de falar; e, após instantes, aduziu:
—Engraçado, essas sujeitas! Queixam-se de que abusaram delas... É sempre a mesma cantiga... Por
acaso, meu filho as amarra, as amordaça, as ameaça com faca e revólver? Não. A culpa é delas, só
delas...

Pela fala da mãe de Cassi é possível perceber marcas claras de preconceito e


discriminação racial e social.

Após ouvir o discurso cru e duro de Salustiana, finalmente Clara se torna consciente
da sua condição social de mulher, oprimida, mestiça, pobre e faz um desabafo final à
mãe que ocupa a última página do livro:

Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se sentara e abraçou muito fortemente
sua mãe, dizendo, com um grande acento de desespero:

—Mamãe! Mamãe!
—Que é minha filha?
—Nós não somos nada nesta vida.

Clara dos Anjos é um livro que trata de temas difíceis e espinhosos, especialmente
polêmicos no período em que a obra foi escrita e lançada, embora não deixe de conter
doses pontuais de humor e ironia.

Contexto histórico
O Rio de Janeiro durante o princípio do século XX vivia graves problemas sociais e de
saúde pública.

A sociedade brasileira, e especialmente carioca, era caracterizada também por um


arraigado racismo e por fortes traços de misoginia. Vemos na obra de Lima Barreto -
especialmente através da personagem Clara dos Anjos - como havia um palpável
preconceito racial e como a mulher era discriminada.

Ao ouvir a pergunta de Dona Salustiana, não se pôde conter e respondeu como fora de si:
- Que se case comigo.
Dona Salustiana ficou lívida; a intervenção da mulatinha a exasperou. Olhou-a cheia de malvadez e
indignação, demorando o olhar propositadamente. Por fim, expectorou:
- Que é que você diz, sua negra?

O período foi também marcado pela chegada da febre amarela, que se proliferou nos
cortiços, e das doenças transmitidas pela falta de saneamento básico. É possível
observar na descrição do romance como o bairro onde a família vivia, no interior do
Rio de Janeiro, era marcado pela carência com ruas não asfaltadas e sucessivas
inundações.

A rua em que estava situada a sua casa se desenvolvia no plano e, quando chovia, encharcava e
ficava que nem um pântano; entretanto, era povoada e se fazia caminho obrigado das margens da
Central para a longínqua e habitada freguesia de Inhaúma. Carroções, carros, autocaminhões que,
quase diariamente, andam por aquelas bandas a suprir os retalhistas de gêneros que os atacadistas
lhes fornecem, percorriam-na do começo ao fim, indicando que tal via pública devia merecer mais
atenção da edilidade.

Para a cidade tratou-se de um período polêmico marcado pela vacinação forçada


comandada por Oswaldo Cruz e o seu desdobramento histórico (a Revolta da Vacina,
ocorrida em 1904).

Enquanto obras monumentais eram concluídas - como a Igreja da Candelária, no


Centro - toda a estrutura da cidade ia passando por grandes modificações. Pereira
Passos levava a frente a obra da Vista Chinesa (na Tijuca) e da Avenida Atlântica (em
Copacabana). Em 1909 era aberto o suntuoso Teatro Municipal do Rio de Janeiro e o
seu edifício vizinho, a Biblioteca Nacional.

Durante o mesmo período, a Igreja de São Joaquim foi demolida para dar lugar a
Avenida Marechal Floriano. Os políticos viam no Centro o desejo de reproduzir
um estilo belle epoque parisiense. O centro comparece nas ruas do romance de Lima
Barreto com força total:

Vestia-se seriamente, segundo as modas da Rua do Ouvidor; mas, pelo apuro forçado e o degagé
suburbanos, as suas roupas chamavam a atenção dos outros, que teimavam em descobrir aquele
aperfeiçoadíssimo "Brandão", das margens da Central, que lhe talhava as roupas.

Em 1912, foi também a inauguração do famoso bondinho do pão de açúcar, que viria
se tornar o maior cartão postal do Rio de Janeiro. Oito anos mais tarde foi a vez da
cidade despontar como polo da educação. Em 1920, o governo federal inaugurou a
Universidade do Rio de Janeiro, a primeira universidade brasileira.

O ano seguinte foi das grandes obras. Os engenheiros mandaram abaixo o morro do
Castelo, que diziam que prejudicava a circulação do ar na região, e, com o material
retirado, deram início as obras que julgavam essenciais para a cidade como a
construção do Aeroporto Santos Dumont e da Praça Paris. O narrador de Clara dos
Anjos por vezes parece fazer ao longo das páginas um passeio pelas ruas do Rio de
Janeiro:

Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em pleno Campo de Sant'Ana, no meio da
multidão que jorrava das portas da Central, cheia da honesta pressa de quem vai trabalhar. A sua
sensação era que estava numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios e os seus amores;
no subúrbio tinha os seus companheiros, e a sua fama de violeiro percorria todo ele, e, em
qualquer parte, era apontado; no subúrbio, enfim, ele tinha personalidade, era bem Cassi Jones de
Azevedo; mas, ali, sobretudo do Campo de Sant'Ana para baixo, o que era ele? Não era nada. Onde
acabavam os trilhos da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a sua fanfarronice
evaporava-se, e representava-se a si mesmo como esmagado por aqueles "caras" todos, que nem o
olhavam. Fosse no Riachuelo, fosse na Piedade, fosse em Rio das Pedras, sempre encontrava um
conhecido, pelo menos, simplesmente de vista; mas, no meio da cidade, se topava com uma cara já
vista, num grupo da Rua do Ouvidor ou da avenida, era de um suburbano que não lhe merecia
nenhuma importância. Como é que ali, naquelas ruas elegantes, tal tipo, tão mal-vestido, era
festejado, enquanto ele, Cassi, passava despercebido?
Como se pode notar, Lima Barreto testemunhou um período de profundas mudanças
sociais e arquitetônicas ocorridas no Rio de Janeiro e Clara dos Anjos faz questão de
representar a cidade como pano de fundo.

Bagagem é o livro de estreia da poeta mineira Adélia Prado e foi publicado pela primeira vez em
1976, após indicação de Carlos Drummond de Andrade. O renomado poeta, também mineiro,
ficou entusiasmado com o estilo e a sensibilidade da escritora — que contrasta a leveza com
a força, mesclando versos sutis e rimas doces com reflexões e sentimentos profundos.
A obra é repleta de poemas que, segundo a própria autora, nasceram não só de um
processo criativo, mas também de experiências pessoais regadas de tristeza, sofrimento e
angústia. Além disso, a temática religiosa é muito recorrente no livro, já que a poeta retrata a
fé como um pilar da vida e da humanidade. Essa relação com a religiosidade não está restrita às
questões de sagrado e de divindade, estende-se também para uma análise do bem e do mal, do
lado bom e do lado ruim das coisas.
Em Bagagem, os poemas estão distribuídos em cerca de 150 páginas, dependendo da edição do
livro. Segundo a autora, a obra foi escrita em um período de grande inspiração criativa, com
versos que são descargas emocionais despejadas no papel. Muito autocrítica, Adélia Prado
chegou a afirmar que sua produção não tem valor literário, são apenas experiências.
A obra traz temáticas variadas, abordando o amor, as dores, as angústias, o chamado à poesia e
à vocação poética. Pode-se perceber que a combinação dos contrários (amor e ódio, tristeza e
alegria, sagrado e profano) e a afirmação da condição feminina da autora estão presentes em
todo o livro. Quanto à estrutura, o livro está dividido em 5 partes: O modo poético; Um jeito
de amor;  A sarça ardente I; A sarça ardente II; e Alfândega.
Apresentado de forma sutil e um leve erotismo, o amor é um dos temas centrais da obra. Outro
tema que ganha destaque é a família, visto que muitos poemas falam sobre o amor materno, a
relação entre irmãs, o convívio entre pai e filha, neta e avós, marido e mulher.
Nessa abordagem das relações pessoais, surge a questão da memória. Muitas linhas são
dedicadas ao saudosismo, tratando com muito lirismo o passado. A autora também discorre sobre
ações do cotidiano e sobre a condição feminina. Além disso, está presente a metalinguagem
ou, nesse caso específico, a metapoesia: uma parte inteira destinada a falar sobre o ato de
escrever e a vocação de ser poeta.
Quanto à linguagem, Adélia Prado opta por uma escrita simples, sem palavras sofisticadas
nem métricas complicadas, mas com um forte posicionamento sobre o ser mulher e escritora,
que pode ser lido, muitas vezes, como feminista. Nesse sentido, inclusive, é que alguns de seus
poemas vão dialogar com textos de vários escritores.
Bagagem explora bastante a intertextualidade, dialogando com escritores como Carlos
Drummond de Andrade, Castro Alves, Camões, Fernando Pessoa, Manual Bandeira e até
João Guimarães Rosa.
Entretanto, sua maior inspiração é o poeta Carlos Drummond de Andrade. Adélia chega até a
citar  frases do autor, como acontece em Com licença poética, que tem uma passagem do Poema
de sete faces, de Carlos Drummond de Andrade. Adélia traz a visão feminina para a poesia de
Drummond, como pode ser visto no poema Agora, Ó José, que faz uma alusão ao texto E
agora, José?.
Aqui, Adélia Prado fala sobre a sina de ser mulher, utilizando uma escrita simples, mas que
expõe as contradições do universo feminino. No primeiro verso, ela faz referência ao poema de
Drummond ao dizer que quando nasceu um anjo esbelto veio fazer sua anunciação, mas, ao
longo do texto, a escritora cita os papéis impostos pela sociedade para a mulher, ou seja,
ser mãe, esposa e dona de casa.
O poema termina com a afirmação de que a mulher nasceu para ser desdobrável, adequar-se
a todas as situações e, parafraseando mais uma vez Drummond, não tem a opção de ser
“gauche”, de falhar, que é um defeito permitido apenas aos homens. O poema Com
licença poética, de Adélia Prado, conversa com o Poema de Sete Faces, de Carlos Drummond
de Andrade
Nesse poema, pode-se notar que o papel da mulher é representado pelas figuras da mãe e da dona
de casa, funções socialmente impostas ao sexo feminino. Além disso, o eu-lírico é carregado de
religiosidade, como vemos nos versos que menciona a ida à igreja após escrever um livro. Isso sugere
que não podendo a mulher escrever, não sendo o papel que lhe cabe, seu livro deve, no mínimo,
ser expiado. Grande desejo

No poema acima, percebe-se que autora cita Guimarães Rosa e sua obra Grande Sertão:
Veredas, a começar pelo título do poema. O autor é conhecido por ter inventado um modo
particular e brilhante de narrar histórias. Cada verso do romance ao qual Adélia faz referência é
um universo de sentidos, podendo ser classificado, inclusive, como uma prosa poética.
Adélia também aborda a questão da dualidade, as contradições, as complexidades de ser
humano, todas amplamente discutidas por Rosa. A autora ainda finaliza comparando o autor a
Deus, pois, um grande criador de tudo o que pode existir. A invenção de um modo
Nesse caso, a intertextualidade é feita com a própria obra da autora mineira. O título do poema
recupera o nome da obra, Bagagem, visto que toda bagagem deve passar pela
alfândega. Assim, Adélia Prado fala sobre seu livro, sua bagagem de poemas e sentimentos
que, para passar pela alfândega, precisa do sacrifício de uma parte dela mesma,
simbolizada no poema pelo dente. Alfândega

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