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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL-SUAS ................................ 4

3 NOVA CLASSIFICAÇÃO PARA PROGRAMAS E SERVIÇOS .................. 8

4 ORGANIZAÇÃO, FINANCIAMENTO E ESTRUTURA DE ASSISTÊNCIA


SOCIAl .....................................................................................................................9

4.1 Financiamento da Assistência Social ................................................. 10

4.2 Fundo Nacional de Assistência Social................................................ 11

4.3 Fundos Estaduais, do Distrito Federal e Municipais de Assistência


Social ............................................................................................................12

4.4 Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS1 ... 12

4.5 Estrutura do MDS: .............................................................................. 14

4.6 Princípios da Política de Assistência Social ....................................... 15

5 CRIAÇÃO, DISCUSSÃO E MONITORAMENTO DAS POLÍTICAS SOCIaiS


...................................................................................................................18

6 A TRAJETÓRIA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS


...................................................................................................................21

7 A NORMA OPERACIONAL BÁSICA – NOB/SUAS .................................. 24

8 PLANOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: CONDIÇÃO PARA A GESTÃO


PÚBLICA DO SUAS .................................................................................................. 27

9 A IMPORTANCIA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTENCIA SOCIAL ..... 32

9.1 Funções da política pública de assistência social para extensão da


proteção social brasileira ....................................................................................... 33

9.2 Instâncias de articulação, pactuação e deliberação ........................... 38

10 PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA (PAIF) ............ 40

11 NORMAS OPERACIONAIS BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL ............................................................................................ 42

12 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SUAS................................. 45


1
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 49

2
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa


disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser


seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL-SUAS

Fonte: faculdadelaboro.com.br

Para compreendermos o desenvolvimento das políticas sociais no Brasil ao


longo dos anos, é preciso fazer uma retrospectiva da trajetória de implementação do
sistema de proteção social. O avanço do capitalismo industrial na década de 1930
acarretou uma intensificação da exploração da força de trabalho e agravamento
significativo nos níveis de desigualdade social, ocasionando um aprofundamento das
expressões da questão social, principalmente da pobreza (SANTANA, SILVA, SILVA,
2013).
Dentro deste contexto surge a necessidade da construção de um sistema de
proteção social e tal sistema nasce com um caráter compensatório para regular e
minimizar as mazelas sociais. Ao longo do século XX, a população que tinha uma
cidadania regulada pelo Estado, emerge de seu descontentamento social e passa a
expressar sua insatisfação através dos movimentos sociais de cariz reivindicatório que
se fortalecem nos anos 1980 contra a ditadura militar (SILVA, BOSCHETTI, 2012)
Como reflexo das lutas populares em prol da defesa e efetivação de direitos
civis e sociais, a Constituição Federal brasileira de 1988 define e implementa a
Seguridade Social, na qual, Assistência Social, Previdência Social e Saúde constituem
a tríade que sustenta esta política no país (MIOTO, NOGUEIRA, 2013).
A partir da Constituição Cidadã de 1988, a Assistência Social, é firmada como
política pública que deve atender a todos que dela necessitar, configurando-se, desta
forma, como direito de cidadão e dever do Estado. Tal direito é ratificado pela Lei
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Orgânica da Assistência Social (LOAS) nº 8.742 de 1993 e, pelo Sistema Único de
Assistência Social (SUAS), 2005, que por meio de um sistema descentralizado e
participativo contribuem na criação de medidas que assistem e defendem os cidadãos
que se encontram em situação de vulnerabilidade social (SANTANA, SILVA, SILVA,
2013).
Amparada nos estatutos legais, é instituída a Política Nacional de Assistência
Social (PNAS), 2004 que como política pública de direito social é assegurada pela
Constituição, sistematizada e aprovada a partir do SUAS, e normatizada pelo LOAS,
a qual garante a universalidade dos direitos sociais e acesso aos serviços sócios
assistenciais (SILVA, BOSCHETTI, 2012).

Fonte: laboro.edu.br

O período histórico, a partir da década de 1980, configurou-se como um divisor


de águas no que diz respeito ao campo dos direitos sociais. Ocorreu nesse período
um forte engajamento e pressão da sociedade civil no que concerne à discussão das
políticas sociais, na qual denotou-se uma ampla articulação dos movimentos sociais,
principalmente no campo da Assistência Social.
Segundo Rizotti (1998) os movimentos sociais contribuíram para a
conformação dos novos arranjos das políticas sociais brasileiras, fazendo sua
inserção tanto na gestão quanto no controle social. Foi a partir da Constituição Federal
de 1988, que houve um reconhecimento dos direitos humanos sociais como um
avanço significativo. Pela primeira vez o homem brasileiro era tratado como cidadão,

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como sujeito e possuidor de direitos, dentre os quais estava o direito à Seguridade
Social.
Um marco importante foi a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), de 1993,
que estabelece os objetivos, princípios e diretrizes das ações. Esta lei também
determina que a assistência social seja organizada em um sistema descentralizado e
participativo, composto pelo poder público e pela sociedade civil (MIOTO,
NOGUEIRA, 2013).
Após a IV Conferência Nacional de Assistência Social foi deliberada a
implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que passou a articular
meios, esforços e recursos para a execução dos programas, serviços e benefícios
sócio assistenciais (MIOTO, NOGUEIRA, 2013).
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) foi planejado e é executado
pelos governos federal, estaduais e municipais, em parceria com a sociedade civil. O
SUAS organiza serviços, programas e benefícios destinados a milhões de brasileiros,
em todas as faixas etárias (RIZOTTI, 1998).

Fonte: cress-mg.org.br

O Sistema Único integra uma política pactuada nacionalmente, que prevê uma
organização participativa e descentralizada da assistência social, com ações voltadas
para o fortalecimento da família.
Baseado em critérios e procedimentos transparentes, o Sistema altera
fundamentalmente operações como o repasse de recursos federais para estados,
municípios e Distrito Federal, a prestação de contas e a maneira como serviços e
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municípios estão hoje organizados. O marco oficial para a implantação do Sistema foi
quando o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) aprovou a Norma
Operacional Básica do SUAS, estabelecendo um conjunto de regras que disciplinam
a operacionalização da Assistência Social e a transição do antigo para o novo modelo
(LACERDA, 2014).
As ações do SUAS são baseadas nas orientações da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS), aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS) em 2004, e pela NOB SUAS 2012, publicada em 03 de janeiro de 2013, por
meio da resolução nº 33, de 12 de dezembro de 2012, que representa um marco
fundamental na estruturação do SUAS, imprimindo um salto qualitativo na sua gestão
e na oferta de serviços sócio assistenciais em todo o território nacional, tendo como
base a participação e o controle social (LACERDA, 2014).
Uma das inovações do SUAS é a classificação dos municípios em três níveis
de gestão (Inicial, Básica e Plena), de acordo com a capacidade de gestão que cada
cidade tem de executar e co-financiar os serviços da assistência social.

Fonte: newslettersocial.pot.com

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3 NOVA CLASSIFICAÇÃO PARA PROGRAMAS E SERVIÇOS

Fonte: cresspr.org.br

As ações e serviços de Assistência Social são divididas em duas categorias de


atenção ao cidadão: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e
de Alta Complexidade. Esta divisão foi definida em 2004, na Política Nacional de
Assistência Social que organiza programas, serviços, projetos e benefícios sócio
assistenciais de acordo com a complexidade do atendimento. O Sistema Único de
Assistência Social (SUAS) passa a adotar estas categorias.
PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA: São ações de caráter preventivo e o objetivo
é fortalecer os laços familiares e comunitários. Exemplos: Programa de Atenção
Integral à Família (PAIF), ações voltadas para crianças de zero a seis anos de idade.
PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE MÉDIA COMPLEXIDADE: São ações
destinadas a situações onde os direitos do indivíduo e da família já foram violados,
mas ainda há vínculo familiar e comunitário. Um exemplo é o Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil, que retira do trabalho crianças com idades 0 e 16
anos. O programa exige uma estrutura técnica e operacional maior do que os
classificados como proteção básica, com atendimento individualizado e
monitoramento sistemático. O Sentinela, programa que combate a exploração e o
abuso sexual de crianças e adolescentes, é um outro serviço de alta complexidade.
PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE ALTA COMPLEXIDADE: Atende a
casos onde os direitos do indivíduo ou da família já foram violados, e também quando
o vínculo familiar é rompido. Eles garantem proteção integral - moradia, alimentação,
trabalho - para quem está em situação de ameaça, necessitando deixar o núcleo

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familiar ou comunitário. Abrigos e albergues são alguns exemplos de serviços de
proteção social de alta complexidade.

4 ORGANIZAÇÃO, FINANCIAMENTO E ESTRUTURA DE ASSISTÊNCIA


SOCIAL

Fonte: cursosabrafordes.com.br

A Assistência Social se organiza com base na descentralização e na


participação social. A descentralização significa distribuição de
responsabilidades entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios. A participação social ocorre por meio dos Conselhos de
Assistência Social e da parceria com as Entidades Beneficentes de
Assistência Social (HELLER, 2008. Apud LACERDA, 2014).

Compete à União coordenar a Política Nacional de Assistência Social; conceder


o Benefício de Prestação Continuada aos idosos e portadores de deficiência carentes
e prestar apoio financeiro aos Estados, DF e Municípios.
Compete aos Estados coordenar o Plano Estadual de Assistência Social e
prestar apoio financeiro aos Municípios, inclusive para o pagamento do auxílio-
natalidade e do auxílio-funeral.
Compete aos Municípios coordenar o Plano Municipal da Assistência Social;
destinar recursos para a execução dos programas e projetos de Assistência Social;
efetuar o pagamento do auxílio-natalidade e do auxílio-funeral; e executar as ações
de assistência social (HELLER, 2008).
Conselhos de Assistência Social:

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Os Conselhos de Assistência Social são órgãos deliberativos, de atuação
permanente, instituídos em cada esfera de Governo. Têm composição paritária, com
metade dos membros representando o Governo e metade representando a sociedade.
O Conselho Nacional de Assistência Social é composto por 18 (dezoito)
membros, sendo 9 (nove) representantes do Governo Federal e 9 (nove)
representantes de organizações da sociedade civil.
São suas atribuições:
 Expedir as normas gerais para a Assistência Social;
 Aprovar a Política Nacional de Assistência Social;
 Aprovar a proposta orçamentária para a Assistência Social;
 Acompanhar e avaliar a gestão dos recursos e a execução dos programas e
projetos pelos Estados e Municípios.
Os Conselhos de Assistência Social dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios devem aprovar os respectivos Planos de Assistência Social e exercer as
funções de fiscalização e controle dos programas e projetos de assistência social em
cada uma dessas esferas de Governo.

4.1 Financiamento da Assistência Social

O financiamento da Assistência Social é feito com recursos orçamentários da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como por meio de
contribuições sociais pagas pelas empresas e pelos trabalhadores, além de
percentual da arrecadação dos concursos de prognósticos ou loterias, administrados
pela Caixa Econômica Federal (NETTO, 2007).
No âmbito da União, esses recursos são alocados no Fundo Nacional de
Assistência Social. Nos Estados, Distrito Federal e Municípios, os recursos vão para
os respectivos Fundos de Assistência Social.
O Decreto nº 7.788/2012 criou a alternativa do financiamento da assistência
social ocorrer por meio de Blocos de Financiamentos, que possibilitam maior
flexibilidade na utilização do dinheiro e facilitam a gestão financeira.
Em consonância com o item 30 da LOAS, sabe-se que existem condições para
os repasses de recursos da União ao demais entes, sendo elas a efetiva instituição e
funcionamento de:

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 Conselho de Assistência Social, de composição paritária entre governo
e sociedade civil;
 Fundo de Assistência Social, com orientação e controle dos respectivos
Conselhos de Assistência Social;
 Plano de Assistência Social;
 Comprovação orçamentária dos recursos próprios destinados à
Assistência Social, alocados em seus respectivos Fundos de Assistência
Social.

4.2 Fundo Nacional de Assistência Social

O Fundo Nacional de Assistência Social é responsável pelo pagamento do


Benefício de Prestação Continuada aos idosos e aos portadores de
deficiência carentes, bem como pelo apoio financeiro aos programas e
projetos de Assistência Social executados pelos Estados, DF e Municípios.
Para que recebam recursos do Fundo Nacional de Assistência Social, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem organizar-se, criando o
Conselho e o Fundo de Assistência Social e elaborando o Plano de
Assistência Social (BARROCO, 2003. Apud HELLER, 2008).

Podemos alegar que os fundos efetuam os seguintes pontos positivos:


 Concentram os recursos a serem utilizados para atingir os objetivos da
assistência social previstos na LOAS por intermédio do repasse regular e
automático;
 Simplificam os processos de trabalho;
 Aperfeiçoam o controle e avaliação dos serviços e ações;
 Permitem a reprogramação de saldos e a não devolução deste ao final do
exercício à União;
 Auxiliam no avanço do processo de descentralização político-administrativa;
Oportunizam a implementação do comando único em cada esfera de governo;
 Viabilizam o financiamento compartilhado no SUAS;
 Fortalecem o Controle Social;
 Aprimoram os processos de comprovação de gastos;
 Fornecem publicidade dos gastos realizados na assistência social;

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 Facilitam o acompanhamento das ações e a fiscalização dos gastos pela
população, pelos conselhos de assistência social e pelos gestores locais,
estaduais e federal.
Assim sendo, é evidente que os fundos têm um papel essencial na evolução da
política de assistência social, uma vez que concretizam meios para se fazer uma
gestão transparente e racionalizada a recursos. Além disso, amplia as possibilidades
de participação popular, alavancando o alcance da efetivação da promoção da
proteção social, da vigilância sócio assistencial e da defesa de direitos (REIS, 2019).

4.3 Fundos Estaduais, do Distrito Federal e Municipais de Assistência Social

Em cada Estado e Município e no Distrito Federal, deve ser criado o próprio


Fundo de Assistência Social. Para esses Fundos são repassados recursos
orçamentários da União, com vistas ao co-financiamento dos programas e projetos de
Assistência Social (PINHEIRO, 2006).
Os Estados também devem repassar recursos do Fundo Estadual de
Assistência Social para os Fundos Municipais de Assistência Social, cumprindo a sua
responsabilidade no co-financiamento de programas e projetos e do pagamento do
auxílio natalidade e do auxílio-funeral (PINHEIRO, 2006).

4.4 Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS1

É responsável pelas políticas nacionais de desenvolvimento social, de


segurança alimentar e nutricional, de assistência social e de renda de cidadania no
Brasil. É também gestor do Fundo Nacional de Assistência Social.
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome possui um conjunto
de seis programas, sendo cinco finalísticos e um programa de gestão. São eles:
Acesso à Alimentação; Erradicação do Trabalho Infantil; Proteção Social Básica;
Proteção Social Especial; Transferência de Renda com Condicionalidades - Bolsa
Família e o Programa Gestão da Política de Desenvolvimento Social e Combate à
Fome.
Ainda que o Ministério tenha, desde sua criação, em 2004, expandido sua
atuação e suas metas de atendimento (por meio, inclusive, de volume crescente de
recursos financeiros), há ainda algumas restrições, relativas, por exemplo, à
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infraestrutura inadequada, ao quadro de pessoal próprio e aos sistemas
informatizados. Além disso, no contexto da elaboração do Plano Plurianual 2008-
2011, é preciso discutir o conjunto de ações que deve responder às diversas
dimensões do desenvolvimento social, bem como à Intersetorialidade que lhe é
imanente (HELLER, 2008).
A criação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)
ocorrida em 2004, foi resultado da vontade política de tratar a superação da pobreza
e da fome como uma das principais prioridades do país.
A grandeza deste desafio exigiu a reorganização de estruturas e marcos legais,
para que fosse possível desenvolver de forma célere e articulada, as políticas de
inclusão social, transferência de renda condicionada, assistência social e segurança
alimentar e nutricional (FEITOZA, 2011).
Neste curto período de existência foi possível criar um sistema de proteção
social que sustenta uma definida estratégia de combate à pobreza, em especial da
pobreza extrema. O Ministério coordenava o Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), dava suporte ao funcionamento do Sistema Nacional de Segurança Alimentar
e Nutricional (SISAN), fazia a coordenação das ações Inter setoriais de superação da
pobreza extrema, no âmbito do Plano Brasil Sem Miséria e era responsável pelo maior
programa de transferência de renda condicionada do mundo, o Programa Bolsa
Família, que beneficiava diretamente 50 milhões de pessoas.
O MDS também era responsável pela gestão do Fundo Nacional de Assistência
Social (FNAS), do Fundo Nacional de Combate e Erradicação da Pobreza (FNCP).
As políticas eram desenvolvidas e implementadas em parceria com estados e
municípios, com ações conjuntamente pactuadas e por meio de repasses fundo a
fundo.
Organizações da sociedade civil também estavam integradas aos sistemas
unificados e desempenham funções importantes, tanto na área de assistência social
quanto de inclusão produtiva e segurança alimentar e nutricional (FEITOZA, 2011).
Instâncias colegiadas participavam do ciclo de tomada de decisão e avaliação
de políticas públicas de desenvolvimento social, com o Conselho Nacional de
Assistência Social (CNAS), a Comissão Inter gestores Tripartite (CIT) e o Conselho
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), este último ligado à
Presidência da República. Essa articulação entre gestores federais, estaduais,
municipais e sociedade civil estabeleceram uma sólida rede de proteção e promoção
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social que quebra o ciclo de pobreza e promoveram a conquista da cidadania a
milhões de brasileiros (CRESS, 2013).

4.5 Estrutura do MDS:

Secretaria Nacional de Assistência Social – órgão responsável pela gestão


nacional da Política Nacional de Assistência Social, com o objetivo de consolidar o
direito à Assistência Social em todo o país; Secretaria Nacional de Renda de
Cidadania – órgão responsável pela implementação da Política Nacional de Renda e
de Cidadania no país, por meio do Programa Bolsa Família e do Cadastramento Único
(identificação das famílias em situação de pobreza de todos os Municípios brasileiros);
Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – órgão promotor de ações
voltadas ao combate à fome, para assegurar o direito do cidadão ao acesso diário à
comida, em quantidade, qualidade e regularidade (SPOSATI, 2013).
As informações sobre o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome foram obtidas no sítio do referido Ministério, na rede mundial de computadores
Secretaria Nacional de Avaliação e Gestão da Informação – órgão responsável pela
geração de informações necessárias ao acompanhamento, avaliação e
monitoramento das políticas sociais a cargo do MDS; Secretaria de Articulação
Institucional e Parcerias – órgão responsável por fomentar parcerias com entidades
da sociedade civil e a interlocução com os governos federal, estaduais e municipais,
com vistas ao combate à exclusão social (SPOSATI, 2013).
Atualmente, cerca de 57 milhões de brasileiros integram os programas de
assistência social, segurança alimentar e transferência de renda do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Somente neste ano, mais de R$
23 bilhões estão sendo investidos nestas ações, o que corresponde um aumento de
23% em relação aos R$ 17,8 bilhões destinados em 2005 (SIMOES, 2010).
O MDS está promovendo uma série de outras mudanças em suas políticas
sociais, com o objetivo de construir um sistema otimizado e dinâmico. Além de reunir
os programas de transferência de renda como o Bolsa Escola e o Vale Gás em um só
- o Bolsa Família, o Ministério deve concluir, até o final do ano, a integração do Bolsa
Família com Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) (SIMOES, 2010).
Além de facilitar o processo de depuração dos cadastros, eliminando
duplicidades, lacunas e distorções, o MDS espera, com isso, obter os recursos
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necessários para atender a todas as crianças que ainda são exploradas no trabalho
infantil. Também está em curso a integração do Bolsa Família com o Programa de
Atenção Integral à Família – PAIF (SIMOES, 2010).
O Sistema Único de Assistência Social – SUAS traz uma série de inovações
que mudam diretamente a gestão dos serviços e também o atendimento à população
pobre. O principal problema e o mais recorrente que será eliminado com as novas
medidas é o atraso no repasse de verbas do Governo Federal para Estados,
Municípios e Distrito Federal.
Até o ano de 2007, as transferências do Fundo Nacional de Assistência Social
para os fundos municipais, estaduais e do Distrito Federal só ocorriam depois de
vencidos vários obstáculos burocráticos. No início do ano, o Município que quisesse
desenvolver uma ação com idosos, por exemplo, deveria formatar um projeto a ser
encaminhado para a secretaria estadual, que por sua vez o repassaria ao Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. Tudo em papel (SILVA,
BOSCHETTI, 2012)
Cabia à equipe técnica do MDS examinar os milhares de projetos para então
iniciar o processo de repasse de verbas. Do outro lado, os Municípios faziam relatórios
trimestrais, que eram repassados aos Estados, que elaboravam relatórios semestrais
para o Ministério. Só com o relatório semestral em mãos é que o MDS podia liberar
os recursos. Qualquer contratempo ao longo deste caminho resultava em atraso no
repasse, podendo suspender temporariamente o serviço ofertado à população
(SILVA, BOSCHETTI, 2012).

4.6 Princípios da Política de Assistência Social

Num Estado democrático de direitos, têm-se os princípios como uma aproximação


entre o direito e a ética, no caso, ética pública na política social. No artigo 204 da
Constituição de 1988 encontram-se duas diretrizes da política de assistência social,
relacionadas à descentralização político-administrativa e à participação da população
e controle social.
O artigo 203 preconiza os objetivos e são antecedidos pelo enunciado de que “a
assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social”.

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Portanto, o texto da Carta Magna remete a gratuidade dos benefícios e serviços
oferecidos e disponibilizados indistintamente a quem necessitar, sobretudo, o acesso
e a garantia dos direitos, respeitando a autonomia dos cidadãos bem como as
diferenças culturais, regionais, sociais, religiosas e territoriais. A seguridade social no
Brasil foi regulamentada pela Lei nº 8.742 de 1993, a Lei Orgânica de Assistência
Social (LOAS) - alterada pela Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011.
Além disso, a Política Nacional de Assistência social, baseada no artigo 204 da
Constituição da República Federativa do Brasil, trouxe a importância da participação
da sociedade civil, tanto na execução dos programas através das entidades
beneficentes e de assistência social, bem como na participação, na formulação e no
controle das ações em todos os níveis (BRASIL, 2014).
Para Campos (2006), sem a presença ativa da sociedade civil, a política de
assistência social não se realiza em conformidade com os princípios e as diretrizes
que a orientam, ou seja, sem a participação militante e politicamente qualificada da
sociedade civil, o paradigma expresso na Lei Orgânica de Assistência Social é
desdenhado.

Fonte: depositphotos.com

Assim, o modelo de democracia participativa adotado pelo Brasil, evidencia que o


exercício da cidadania se dá através da participação popular, não somente através
dos direitos políticos, ou seja, votar e ser votado, como também, através da
participação efetiva dos membros da sociedade nas decisões governamentais,
inclusive no que toca ao tema da assistência social. Logo, um dos grandes desafios
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da construção dessa política é a criação de mecanismos que venham garantir a
participação dos usuários nos conselhos e fóruns enquanto sujeitos não mais
representados (ALVES, SEMZEZEM, 2014).
A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de
Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através
de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir
o atendimento às necessidades básicas.
Necessidades essas advindas da condição de desproteção, de inseguranças
sociais que não se limitam ao fator renda, pois se têm dimensões protetivas sócio
assistenciais relacionadas à acolhida, autonomia, pertencimento, vinculação e
convivência familiar, social e comunitária.
Além disso, a Política Nacional de Assistência Social, na perspectiva do Sistema
Único de Assistência Social, ressalta o campo da informação, monitoramento e
avaliação, salientando que as novas tecnologias da informação e a ampliação das
possibilidades de comunicação contemporânea têm um significado, um sentido
técnico e político, podendo e devendo ser consideradas como canais estratégicos,
para uma melhor atuação no tocante às políticas sociais e a nova concepção do uso
da informação, do monitoramento e da avaliação no campo da política de assistência
social (BRASIL, 2014).
A Política Nacional de Assistência Social expressa exatamente a materialidade do
conteúdo da Assistência Social, entretanto, para que haja a concretização dos direitos
do público usuário, cabe afirmar novamente que faz- se necessário a participação
ativa da sociedade, tanto na proposição, quanto na fiscalização da prestação dos
serviços sócio assistenciais (BOSCHETTI, 2009).
Enfim, ao se constatar a dimensão e reflexos que a Política Nacional de
Assistência Social trouxe para o campo da Assistência Social, faz-se necessário
posteriormente verificar o que vem a ser o Sistema Único de Assistência Social, bem
como quais os instrumentos que este utiliza para operacionalização e concretização
dos direitos sócio assistenciais no Brasil (BOSCHETTI, 2009).

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5 CRIAÇÃO, DISCUSSÃO E MONITORAMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS

Fonte: ilemulher.org.br

A realidade brasileira no campo da avaliação e monitoramento de políticas


públicas e, especificamente, de políticas sociais possui muitas particularidades. A
incompletude das reformas administrativas do Estado é uma delas e, apesar das
tentativas de instaurar modelos de gestão descentralizados e participativos, o
patrimonialismo continua presente nas relações sociais e o Estado brasileiro
permanece burocrático e centralizador (MOURA, 2009).
Ademais, quando o país avança no fortalecimento da democracia e
participação social nas políticas públicas, passa a sofrer influências de medidas
neoliberais, repercutindo na gestão pública democrática, devido as, fortes
características do modelo gerencial. Este modelo de gestão presente no Estado
brasileiro terá grande importância na institucionalização da função avaliação, assim
como nos usos de seus resultados (ALMEIDA, 2006).
No Brasil, segundo Fagundes e Moura (2009), até os anos 1970 ocorriam
avaliações sistemáticas somente nas áreas de saúde e educação. Estes estudos se
restringiam a medir o alcance das metas e a adequar os meios aos objetivos dos
programas. Nas demais áreas das políticas sociais, a avaliação era descontínua,
pontual e, muitas vezes, não era exigida. Este cenário começou a mudar na década
de 1980 devido à conjuntura econômica, política e social.
Na década de 1980, a avaliação de políticas sociais, ganha relevância em função da
conjuntura socioeconômica, em que o agravamento das expressões da questão social
18
e a escassez de recursos exigiam políticas sociais mais eficientes. Somam-se a isso
as reivindicações dos movimentos sociais por políticas universais e o debate sobre a
participação da sociedade civil nas discussões e decisões políticas (MOURA, 2009).
Além disso, a expansão da avaliação também se deu porque os organismos
internacionais de financiamento, como o Banco Mundial, passaram a exigi-la como
condição para o repasse de recursos, impondo, a partir de então, os clássicos termos
de eficiência, eficácia e efetividade (ALMEIDA, 2006).

Fonte: grupomartins.adv.br

Neste cenário, segundo Gomes (2001), a avaliação ganha impulso a partir de


dois níveis: o econômico, com a finalidade de contribuir na procura de soluções que
permitam aumentar a rentabilidade na aplicação de recursos; e o da
redemocratização, na qual a avaliação estaria relacionada à necessidade de produzir
informações para instrumentalizar a população na luta pela cidadania, em uma
perspectiva política.
As experiências iniciais brasileiras, de acordo com Gomes (2001) tiveram
grande influência da perspectiva tecnicista norte-americana, que se baseava no
funcionalismo clássico, possuindo uma preocupação excessiva com instrumentais
técnicos e metodológicos com claro viés positivista. Neste sentido, essa abordagem
ignora a política social como uma intervenção na realidade, que envolve diferente
sujeitos, condicionados por interesses e expectativas.

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Apesar da legislação da assistência social ter acompanhado o movimento de
modernização da administração pública, pode-se afirmar que na prática os
instrumentos de gestão ainda são percebidos a partir de visão técnica operacional e
sob a perspectiva instrumental de aprimoramento da política, programas, de projetos
e de benefícios (GOMES, 2001).
A legislação na área da assistência social se estruturou tendo como um de seus
pressupostos a consolidação da informação, do monitoramento e da avaliação como
elementos que, além de possibilitar o aprimoramento da gestão, dos serviços,
programas, projetos e benefícios, pudessem contribuir para o controle social da
sociedade sobre o Estado. Estes elementos devem estar articulados entre si e ainda
entre os entes federados, ou seja, seguem normas gerais do governo federal, mas
Estados e Municípios podem e devem elaborar seus próprios instrumentos, conforme
as particularidades locais (GOMES, 2001).
A NOB/SUAS de 2005 estabelece entre as responsabilidades dos Estados o
apoio técnico aos municípios na estruturação e implantação de seus sistemas
municipais de assistência social e, ainda, a instalação e coordenação de sistema
estadual de monitoramento e avaliação das ações da assistência social, de âmbito
estadual e regional, por nível de proteção básica e especial, em articulação com os
sistemas municipais e validados pelo sistema federal (JANUZZI, 2011).
Os municípios, por sua vez, habilitados na gestão básica e plena do SUAS,
também assumem a responsabilidade de instituir um plano de acompanhamento,
monitoramento e avaliação. Segundo o documento os municípios devem: “instituir
plano de acompanhamento, monitoramento e avaliação das ações de proteção social
na rede própria e na rede prestadora de serviços, em articulação com o sistema
estadual e de acordo com o sistema federal, pautado nas diretrizes da PNAS/2004”
(BRASIL, 2005).
Assim, considerando que o SUAS é um sistema orgânico e articulado entre as
três esferas do governo, a responsabilidade pela realização de seu monitoramento e
avaliação é da união, estados e municípios.
Contudo, pensar neste processo de gestão de modo que, ao mesmo tempo
envolva os entes federativos, inclua todos os aspectos do SUAS e não gere
sobreposições e contradições é um grande desafio. Sabe-se que, no modelo
federativo brasileiro, estados e municípios são entes com autonomia política e
administrativa e, além disso, possuem competências comuns. Contudo, a articulação
20
entre competências comuns e a necessidade de uma coordenação mínima exige
políticas articuladas e com definição clara das responsabilidades (VAITSMAN, PAES,
2011).
No que se refere ao monitoramento e avaliação da política de assistência social
há ainda uma indefinição quanto ao papel de cada ente federado na sua execução.
Neste sentido, o governo federal privilegia o monitoramento e a avaliação dos
serviços, programas e projetos financiados, os estados privilegiam os seus programas
de governo e os municípios ainda possuem muitas dificuldades técnicas e políticas
para elaborar seus próprios planos de monitoramento e avaliação (JANUZZI, 2011).

6 A TRAJETÓRIA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL – SUAS

Fonte: lugastal.com.br

A Assistência Social, diferentemente da previdência social, não é contributiva,


ou seja, deve atender a todos os cidadãos que dela necessitarem. Realiza-se a partir
de ações integradas entre a iniciativa pública, privada e da sociedade civil, tendo por
objetivo garantir a proteção social à família, à infância, à adolescência, à velhice;
amparo a crianças e adolescentes carentes; à promoção da integração ao mercado
de trabalho, reabilitação e promoção de integração à comunidade para as pessoas
com deficiência e o pagamento de benefícios aos idosos e às pessoas com deficiência
(BEHRING, BOSCHETTI, 2008).
Em 2005, é instituído o Sistema Único de Assistência Social – SUAS,
descentralizado e participativo, que tem por função a gestão do conteúdo específico
21
da Assistência Social no campo da proteção social brasileira. Consolida o modo de
gestão compartilhada, o co-financiamento e a cooperação técnica entre os três entes
federativos que, de modo articulado e complementar, operam a proteção social não
contributiva de seguridade social no campo da assistência social (IPEA, 2008).
Em 6 de julho de 2011, a Lei 12.435 é sancionada, garantindo a continuidade
do SUAS.
O Sistema organiza as ações da assistência social em dois tipos de proteção
social. A primeira é a Proteção Social Básica, destinada à prevenção de riscos sociais
e pessoais, por meio da oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a
indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social. A segunda é a Proteção
Social Especial, destinada a famílias e indivíduos que já se encontram em situação de
risco e que tiveram seus direitos violados por ocorrência de abandono, maus-tratos,
abuso sexual, uso de drogas, entre outros aspectos (VIEIRA, 2013).
O SUAS é integrado pelos entes federativos, pelos respectivos conselhos de
assistência social e pelas entidades e organizações de assistência social abrangidas
pela Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, Lei Orgânica da Assistência Social -
LOAS. Art. 9º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, conforme suas
competências, previstas na Constituição Federal e na LOAS, assumem
responsabilidades na gestão do sistema e na garantia de sua organização, qualidade
e resultados na prestação dos serviços, programas, projetos e benefícios sócio
assistenciais que serão ofertados pela rede sócio assistencial (VIEIRA, 2013).
O SUAS engloba também a oferta de Benefícios Assistenciais, prestados a
públicos específicos de forma articulada aos serviços, contribuindo para a superação
de situações de vulnerabilidade. Também gerencia a vinculação de entidades e
organizações de assistência social ao Sistema, mantendo atualizado o Cadastro
Nacional de Entidades e Organizações de Assistência Social e concedendo
certificação a entidades beneficentes (IPEA, 2008).
Ao tratar da implementação de uma política pública, não se pode deixar de
considerar e identificar as relações institucionais entre os diferentes poderes, e dessa
forma, cabe mencionar o papel do Poder Legislativo e do Poder Judiciário nos avanços
e desafios que o Poder Executivo do Distrito Federal encara no âmbito do SUAS,
reconhecendo claramente que o executivo é o responsável pela implementação, mas
que, nesse processo, a ação e a intervenção de outros atores é relevante, sem no
entanto, dedicar esforço para aprofundamento (MIRANDA, 2013).
22
O SUAS possui uma estrutura que dialoga com os diferentes ambientes
institucionais, com os diversos setores da sociedade e de governos. Sua estrutura tem
cobertura em todo o território brasileiro e se operacionaliza a partir das competências
estabelecidas, cujo lugar privilegiado de execução e prestação dos serviços é o lugar
do cidadão, o território de convivência de diferentes cidadãos (MIRANDA, 2013).
A dimensão territorialidade se insere como relevante na análise do SUAS,
requer refletir acerca de sua organização, da definição das competências, das
atribuições dos entes federados, da descentralização político-administrativa, mas
também identifica qual é o lugar da prestação efetiva do serviço à sociedade, sem,
contudo, ausentar e nem isentar nenhuma das esferas de governo, pois,
independentemente do lugar, o princípio é a cooperação e o compartilhamento entre
os entes federados, com a participação da sociedade (MIRANDA, 2013).
O SUAS reorganiza os serviços, programas, projetos e benefícios relativos à
assistência social considerando as cidadãs e os cidadãos que dela necessitam.
Garante proteção social básica e especial de média e alta complexidade, tendo a
centralidade na família e base no território, ou seja, o espaço social onde seus
usuários vivem (SILVEIRA, 2017).
Republicano, tendo como raiz de fundo uma gestão participativa e controle
social, o SUAS desenha o futuro da Assistência Social no País, e seu aprimoramento
é matéria de conquista cotidiana de todos os estados, DF, municípios e União. O
Sistema Único da Assistência Social é um capítulo especial na história da política de
Assistência Social, por tantos motivos, sobretudo porque é uma conquista de muitos
para muitos (SILVEIRA, 2017).
Com inúmeros desafios para se consolidar com Sistema de política pública,
compreender o SUAS significa compreender um valor político e ético: a Assistência
Social como direito do cidadão e dever do Estado. É a consolidação dessa conquista,
que vêm dando passos à frente e que fundamenta o rompimento com o
assistencialismo secular (BRASIL, 2009).
É na unidade estatal local do SUAS, o CRAS, que é possibilitado, na maioria
das vezes, o primeiro acesso das famílias e indivíduos aos direitos sócio assistenciais
e, portanto, à proteção social básica.
É o CRAS que organiza a rede local de serviços sócio assistenciais. É por meio
do CRAS que a proteção social se territorializa e se aproxima da população,
reconhecendo a existência das desigualdades sociais. É ali que as políticas sociais
23
agem em rede para a redução das desigualdades, quando apoiam a prevenção e
mitigam situações de vulnerabilidade e risco social, bem como quando identificam e
estimulam as potencialidades locais, modificando a qualidade de vida das famílias que
vivem nessas localidades (BRASIL, 2009).

7 A NORMA OPERACIONAL BÁSICA – NOB/SUAS

Fonte: slideplayer.com.br

A Norma Operacional Básica - NOB consagra os eixos estruturantes para a


realização do pacto a ser efetivado entre os três entes federados e as instâncias de
articulação, pactuação e deliberação, visando a implementação e consolidação do
Sistema Único de Assistência Social - SUAS no Brasil (SILVA, 2005).
A primeira NOB no âmbito da assistência social foi aprovada em 1997
(Resolução CNAS n.º 204, de 04/12/1997), que reuniu em um único documento norma
que disciplinou o processo de descentralização político-administrativo entre os três
entes da Federação e a “Sistemática Operacional para financiamento das Ações”
desta política, estabelecendo os níveis de gestão, a operacionalização e a sistemática
de financiamento, os critérios de partilha e a prestação de contas dos serviços,
benefícios, programas e projetos, além de instituir a Comissão Inter gestores Tripartite
(CIT) com caráter consultivo (PAGANINI, VIEIRA, 2014).
As primeiras NOBs, ainda que objetivassem a regulação da política tal qual
instituída na Constituição Federal, a tratou, como já afirmado, com uma visão

24
conservadora e neoliberal, em que o Estado atuaria a partir do princípio da
subsidiariedade. Como exemplo disto aponta-se duas das diretrizes indicadas na
Norma Operacional Básica da Assistência Social de 1998 (SPOSATI, 2013).
Com o diferencial de ser a primeira NOB que versou sobre o SUAS, sistema
instituído pela Política Nacional de Assistência Social de 2004, em observância à
deliberação da IV Conferência Nacional de Assistência Social, foi aprovada pela
Resolução CNAS nº 130, de 15/07/2005, a NOB/SUAS-2005 incorporou e aprimorou
as conquistas que foram alcançadas com as normativas anteriores.
Dispôs também sobre os níveis de gestão, acerca das responsabilidades dos
entes federativos, sobre as competências das instâncias de pactuação e deliberação,
os instrumentos de gestão e atualizou e aprimorou o capítulo sobre o co-financiamento
e os critérios de partilha do SUAS (PAGANINI, VIEIRA, 2014).
Referente aos princípios da NOB/SUAS-2005, estes estão expressos como de
tipologia “organizativos”, ou seja, imprimem uma dada forma de organização com
vistas à implementação/operacionalização da assistência social enquanto política
pública e direito social (PAGANINI, VIEIRA, 2014).
Ainda, quanto ao seu conteúdo, alguns dos princípios desta NOB apresentam
correlação com as diretrizes da LOAS e não propriamente com os respectivos
princípios. Assim, destacando aqueles que guardaram correspondência total ou
parcial de conteúdo junto aos da LOAS, teve-se na NOB/SUAS-2005 sobre:
 A “Universalização dos direitos sociais”, o princípio organizativo de
fixação de níveis básicos de cobertura num sistema compreendido por
benefícios, serviços, programas, projetos e ações de Assistência Social
de provisão partilhada entre os entes federativos; a garantia de acesso
aos direitos sócio assistenciais a todos que deles necessitarem; a
articulação de cobertura com as demais políticas sociais e econômicas,
em especial as de Seguridade Social;
 Frente ao processo de aprovação das diversas Normas Operacionais
Básicas (NOBs) por meio de resoluções do Conselho Nacional de
Assistência Social (CNAS), portanto, decorrentes da participação de
diversos setores societários/organizados, tanto do Estado quanto da
sociedade civil, tem-se o aprimoramento e adensamento desta política–
Pressupõe-se um adensamento, pois, a prioridade, se as diretrizes e,
principalmente, os princípios fundamentam político-juridicamente a
25
política de assistência social e faculta coerência ao Sistema Único de
Assistência Social/SUAS (a unicidade e a lógica), numa linha histórica
tem-se a LOAS de 1993 que teve importantes e profundas alterações
em 2011 por meio da Lei nº 12.435, principalmente pela incorporação
do Sistema Único de Assistência Social.
 O Respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a
benefícios, serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e
comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de
necessidade”, que houvesse a referência de normas operacionais
básicas que estabelecessem padrões de desempenho, padrões de
qualidade e referencial técnico-operativo; além de expressar a
“Proteção Proativa” como princípio da Proteção Social;
 A “Divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projeto
assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e
do critérios para sua concessão”, estabeleceu o princípio organizativo a
parti de sistema democrático e participativo de gestão e de controle
social através: a) dos Conselhos e das Conferências de Assistência
Social realizadas a cada biênio organizadas e sustentadas pela
respectiva esfera de governo; b da publicação de dados e informações
referentes às demandas e necessidades, da localização e padrão de
cobertura dos serviços sócio assistenciais; c) de canais de informação
e de decisão com organizações sociais parceiras, submetidos a controle
social, por meio de audiências públicas; d) mecanismos de audiência
da sociedade, de usuários, de trabalhadores sociais e) conselhos
paritários de monitoramento de direitos sócio assistenciais; f) conselhos
de gestão dos serviços.
A NOB/SUAS disciplina a gestão pública da política de assistência social no
território brasileiro, exercida de modo sistêmico pelos entes federativos, em
consonância com a Constituição da República de 1988, a Lei Orgânica da Assistência
Social - LOAS e as legislações complementares a ela aplicáveis. Caráter do Sistema
Único de Assistência Social – SUAS.
Ainda sobre os princípios organizativos presentes na NOB/SUAS-2005,
constata-se que o de Matricialidade sócio familiar foi reafirmado como “Princípio da
Proteção Social”. Continuando sobre a linha histórica de normatizações da política de
26
proteção sócio assistencial brasileira, a partir da análise dos princípios e diretrizes, na
NOB/SUAS-2012 (Resolução CNAS nº 33, de 12 de dezembro de 2012) observa-se
que há “Diretrizes Estruturantes e Princípios Organizativos” do Sistema Único, além
de haver a continuidade sobre os avanços da Lei nº 12.435/2011 (IAMAMOTO, 2007),
Dentre os princípios organizativos desta NOB em vigor, há a reafirmação da
gratuidade, sendo a assistência social prestada sem exigência de contribuição ou
contrapartida, porém com observância ao disposto no artigo 35 do Estatuto do Idoso
(Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003).

8 PLANOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: CONDIÇÃO PARA A GESTÃO PÚBLICA


DO SUAS

Fonte: ameosc.org.br

Para a apreensão das várias dimensões envolvidas na gestão do SUAS


destaca-se a noção de público como uma categoria central para a construção de um
espaço socialmente democrático.
O conceito de público aqui adotado baseia-se na ideia de que sua constituição
é parte integrante do processo de democratização da vida social, através do
fortalecimento do Estado - em suas diferentes instâncias – e da sociedade civil - em
suas variadas formas de representação, capaz de introduzir de modo crescente os
interesses da maioria da população nos processos de decisão política (SICSÚ,
PAULA, MICHEL, 2005).

27
Adotar essa concepção abrangente de público, como modo democrático de
existir e equacionar as questões que afetam a cidadania e que, portanto, interpelam
tanto a sociedade quanto o Estado, não significa eliminar a responsabilidade
estritamente estatal pela garantia dos direitos e de sua universalização.
No caso da política de assistência social, a primazia do Estado na sua
condução é claramente definida pela LOAS, como garantia da universalização do
acesso a direitos e serviços sociais qualificados por parte dos seus destinatários
(SICSÚ, PAULA, MICHEL, 2005).
Ao mesmo tempo, enfatiza a participação da sociedade como uma condição
fundamental para o exercício do controle social e ativação da capacidade, dos sujeitos
sociais imprimirem lógicas societárias nos espaços de produção das políticas
públicas.
No novo patamar do SUAS, de construção da assistência social como campo
de definição política, tal conceito de público implica, pois, imprimir às práticas
desenvolvidas por órgãos governamentais e por organizações não-governamentais,
compromissos com a alteração dos índices sociais visando a melhoria da qualidade
de vida dos seus usuários. Para isso a implantação de sistemas oficiais de informação,
de monitoramento e avaliação, são ferramentas estratégicas para a publicação da
Política de Assistência Social (RAICHELIS, 2011).
Tais sistemas favorecem a gestão democrática, o controle social e a
participação ampla, contemplando:
 A disponibilização de um conjunto de dados e informações que possam
subsidiar as decisões quanto a benefícios, serviços, programas e projetos a
serem implantados;
 A utilização de indicadores de avaliação de impactos e resultados da Política;
 A implementação do sistema de acompanhamento do desempenho da rede
sócio assistencial.
O fortalecimento da dimensão pública da assistência social exige, portanto,
ampla disseminação de informações qualificadas, interlocução do Estado com a
sociedade civil, que imprimam transparência e visibilidade a serem assumidas pela
política dessa área.
A concretização do público na assistência social pressupõe, conforme Raichelis
(1998), entre outros elementos:

28
 A participação da população na definição de prioridades voltadas ao
atendimento de suas necessidades sociais;
 Visibilidade e transparência das informações a serem veiculadas a todos os
sujeitos e organizações integrantes do sistema de assistência social,
principalmente os usuários dos serviços;
 O exercício do controle social na perspectiva de democratização das decisões
sobre conteúdos e padrões de atendimento dos serviços, programas, projetos
e benefícios assistenciais;
 Incorporação de interesses coletivos nos espaços públicos decisório
fortalecendo a representação das organizações populares;
 A consolidação da cultura pública visando a superação da cultura autoritária e
burocrática ainda presente no campo da assistência social;
Assim, a implementação de tais diretrizes vai apontar para a necessidade de
adequação dos arranjos institucionais, com definição de novas regras e
procedimentos e, mais ainda, para uma profunda mudança na ordenação
programática da assistência social.
A implementação do SUAS é um marco fundamental na regulamentação da
Política de Assistência Social e crucial para o seu reconhecimento como política
pública de proteção social. Resultado de um amplo processo de construção sócio
histórica, o SUAS visa a estabelecer um padrão de gestão descentralizada que supere
a trajetória de centralização, fragmentação e descontinuidade que historicamente
marcaram a Política de Assistência Social brasileira (TEXEIRA, SALVADOR, 2013).
A constituição de um sistema de gestão é uma demanda reconhecida desde a
aprovação da LOAS, cinco anos após seu reconhecimento como parte da Seguridade
Social brasileira, na Constituição Federal.
É importante destacar, ainda, os instrumentos de gestão do SUAS, que
representam avanços em termos de organização e planejamento técnico e financeiro
nas três esferas de gestão: Plano de Assistência Social; orçamento; monitoramento,
avaliação e gestão da informação; e relatório anual de gestão (NOB-SUAS, 2013).
De acordo com Boschetti, Teixeira e Salvador (2013), passados 20 anos da
aprovação da LOAS, a implementação do SUAS traz uma série de inovações e
avanços importantes.

29
Do ponto de vista da concepção de assistência social, é inegável que a
institucionalidade do SUAS tenta retirar a assistência social do arcabouço da
filantropia e cria diretrizes, critérios e forte arcabouço legal, antes inexistente e de
difícil estruturação em uma nação federada, com fortes disparidades nacionais e
locais. A definição conceitual de assistência como política de proteção social presente
na PNAS e no SUAS amplia suas feições e funções ali determinadas, rompendo com
a histórica nomenclatura até então existente (ALVES, 2013).
Entretanto, apesar de esse novo arcabouço teórico-normativo comportar uma
série de importantes mudanças, não é isento de introduzir e/ou reproduzir conceitos
conservadores, além de estar ausente um debate que abarque as determinações mais
fundamentais da pobreza e da desigualdade social como estruturais da sociedade,
cuja contradição fundamental se localiza na luta de classes (BEHRING, 2010).

Fonte: findes.com.br

A efetivação desse processo de mudança institucional dependerá,


essencialmente, das concepções que vão fundamentar e orientar os Planos de
Assistência Social nos diferentes níveis de governo. O Plano de Assistência Social,
sob coordenação do órgão gestor, juntamente com os Conselhos e Fundos, integram
a gestão pública do SUAS.
Boschetti (2005) ressalta que a concepção de Assistência Social a ser
materializada nas formas de proteção social básica e proteção social especial (de

30
média e de alta complexidades) requer que se situem estas formas de proteção no
conjunto de proteções previstas pela Seguridade Social.
Esta é, pois, uma condição indispensável para não incorrer no equívoco de
conceber e operacionalizar a Política de Assistência Social de forma desarticulada das
demais políticas que compõem a seguridade social. Se assim não ocorrer, pode-se
cair no equívoco de identificá-la como dotada de exclusividade e como se pudesse
por si só dar conta de inúmeras situações que as expressões da questão social
impõem às formas interventivas estatais (ALVES, 2013).
Neste sentido, Boschetti (2005) aponta que, na implantação da proteção social
básica, “é um desafio do SUAS buscar articulação com a proteção social garantida
pela saúde, previdência e demais políticas públicas, de modo a estabelecer
programas gerais e preventivos”
Essa breve explanação acerca dos avanços e limites da Política de Assistência
Social permite inferir que tais processos se realizam no interior de um movimento mais
amplo, cujas determinações estão fincadas nas transformações societárias vigentes.
Todo o aparato de regulamentação da política em foco resulta de lutas intensas que
tencionam e dinamizam o formato e o lugar que a Assistência Social ocupa no campo
da proteção social brasileira (SCHMIDT, SILVA, 2015).
Isto é, a direção social da aludida política está em constante disputa por
projetos societários antagônicos. Podemos assim dizer que há campos de resistência,
mas o atual contexto aponta para a preponderância de um projeto conservador que
tem conferido à Assistência Social um nítido corte seletivo, focalizado, assistencial e
filantrópico (ALVES, 2013).

31
9 A IMPORTANCIA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTENCIA SOCIAL

Fonte: jaguaribe.ce.gov.br

O SUAS é um sistema público não contributivo, descentralizado e participativo,


que tem por função a gestão do conteúdo específico da assistência social no campo
da proteção social brasileira que:
 Consolida o modo de gestão compartilhada, o co-financiamento e a cooperação
técnica entre os três entes federativos que, de modo articulado e
complementar, operam a proteção social não contributiva de seguridade social
no campo da assistência social.
 Estabelece a divisão de responsabilidades entre os entes federativos (federal,
estadual, Distrito Federal e municipal) para instalar, regular, manter e expandir
as ações de assistência social como dever de Estado e direito do cidadão no
território nacional.
 Fundamenta-se nos compromissos da PNAS/2004;
 Orienta-se pela unidade de propósitos, principalmente quanto ao alcance de
direitos pelos usuários;
 Regula em todo o território nacional a hierarquia, os vínculos e as
responsabilidades do sistema cidadão de serviços, benefícios, programas,
projetos e ações de assistência social, de caráter permanente e eventual, sob
critério universal e lógica de ação em rede hierarquizada de âmbito municipal,
distrital, estadual e federal;

32
 Respeita a diversidade das regiões, decorrente de características culturais,
socioeconômicas e de políticas em cada esfera de gestão, da realidade das
cidades e da sua população urbana e rural.
 Reconhece que as diferenças e desigualdades regionais e municipais que
condicionam os padrões de cobertura do sistema e os seus diferentes níveis
de gestão devem ser consideradas no planejamento e execução das ações;
 Articula sua dinâmica às organizações e entidades de assistência social com
reconhecimento pelo SUAS.
São eixos estruturantes da gestão do SUAS:
 Precedência da gestão pública da política;
 Alcance de direitos sócio assistenciais pelos usuários;
 Matricialidade sócio familiar;
 Territorialização;
 Descentralização político-administrativa;
 Financiamento partilhado entre os entes federados;
 Fortalecimento da relação democrática entre estado e sociedade civil;
 Valorização da presença do controle social;
 Participação popular/cidadão usuário;
 Qualificação de recursos humanos; e
 Informação, monitoramento, avaliação e sistematização de resultados.

9.1 Funções da política pública de assistência social para extensão da


proteção social brasileira

A assistência social no Brasil, como política pública, tem fundamento


constitucional, como parte do sistema de seguridade social. Caracteriza-se, a partir
dos resultados que produz na sociedade – e tem potencial de produzir – como política
pública de direção universal e direito de cidadania, capaz de alargar a agenda dos
direitos sociais a serem assegurados a todos os brasileiros, de acordo com suas
necessidades e independente de sua renda, a partir de sua condição inerente de ser
de direitos (MOTA, 2008).

33
A assistência social, assim como a saúde, é direito do cidadão que depende
de sua contribuição prévia e deve ser provido pela contribuição de toda a
sociedade. Ocupa-se de prover proteção à vida, reduzir danos, monitorar
populações em risco e prevenir a incidência de agravos à vida face às
situações de vulnerabilidade (BEHRING, 2011. Apud BRASIL, 2014).

A proteção social de assistência social se ocupa das vitimizações, fragilidades,


contingências, vulnerabilidades e riscos que o cidadão, a cidadã e suas famílias
enfrentam na trajetória de seu ciclo de vida por decorrência de imposições sociais,
econômicas, políticas e de ofensas à dignidade humana (BRASIL, 2014).
Através de suas ações, a proteção social de assistência social produz
aquisições materiais, sociais, socioeducativas ao cidadão e cidadã e suas famílias
para: suprir suas necessidades de reprodução social de vida individual e familiar;
desenvolver suas capacidades e talentos para a convivência social, protagonismo e
autonomia (ALENCAR, 2011).
A PNAS/2004 aborda a questão da proteção social em uma perspectiva de
articulação com outras políticas do campo social que são dirigidas a uma estrutura de
garantias de direitos e de condições dignas de vida. O princípio da atenção social
alcança, assim, um patamar que é balizado pelo esforço de viabilização de um novo
projeto de desenvolvimento social, onde não se pode pleitear a universalização dos
direitos à Seguridade Social e da proteção social pública sem a composição correta e
suficiente da política pública de assistência social, em nível nacional (TEXEIRA,
SALVADOR, 2013).
A manutenção de uma política de compromissos com o capital financeiro
mantém em paralelo uma Política de Assistência Social assentada majoritariamente
na transferência de renda como estratégia de minimizar os efeitos mais deletérios do
avanço destrutivo do capitalismo contemporâneo. Os discursos do combate à pobreza
tornam-se centrais para instituir um consenso em torno do projeto em curso:
O lugar cada vez mais privilegiado que a pobreza assume no debate sobre
política social faz com que as formas assumidas para o enfrentamento da questão
social impeçam a generalização dos direitos sociais.

O problema não está só na prioridade da pobreza enquanto categoria de


análise para pensar as políticas sociais, mas na forma e no tratamento dado
aos ‘pobres’, que são renomeados por suas fragilidades,
descontextualizados, aparecendo no discurso tecnocrático reconstituído por
um novo tipo de vigilância moral (MAURIEL, 2012. Apud SCHMIDT, SILVA,
2015).

34
Esse empreendimento tem implicações importantes para a Política de
Assistência Social, na medida em que a mesma passa a ter a incumbência prioritária
de enfrentamento da pobreza.
Segundo Mauriel (2012), a institucionalização tardia da Política de Assistência
Social se dá em um ambiente em que a intervenção na questão social, centrada no
combate à pobreza focalizada, “aprofunda o processo de desconstrução simbólica e
ideológica da Seguridade enquanto base para pensar e construir as políticas sociais,
dificultando justamente o caráter Inter setorial que tal política deveria ter com as
demais políticas públicas”.
Nesta mesma direção, é importante a análise de Mota (2008), ao enfatizar que
as diretrizes e organização da Política de Assistência Social contemporânea indicam
que o direito à Assistência Social assume, cada vez mais, o papel de “integração” à
sociedade, substituindo o direito ao trabalho.
Desse modo, aparece não apenas como a forma instituída legalmente de dar
conta dos “excluídos” do mercado de trabalho, mas também de mantê-los ativos na
esfera do consumo, assumindo uma função social na reprodução da força de trabalho.
Assim, pode-se apontar que essa expansão, apesar dos avanços, tem se legitimado
por uma lógica avessa àqueles propósitos que embasaram a construção da
Constituição Federal de 1988, cuja perspectiva sinalizava a possibilidade de um
sistema de seguridade social universal (SCHMIDT, SILVA, 2015).

O que se tem evidenciado é “uma unidade contraditória [no âmbito da]


seguridade social brasileira”. Presencia-se um processo de privatização da
saúde e previdência social e a construção da lógica do “cidadão-consumidor”,
assim como a “centralidade da Assistência Social” (MOTA, 2008. Apud
SCHMIDT, SILVA, 2015).

Ademais, essa centralidade da política em relação às demais que compõem a


seguridade social, bem como a expansão inconteste de seus recursos, se realiza não
por um expressivo investimento na consolidação de uma rede de serviços sócio
assistenciais pública, universal e de qualidade, mas pela prevalência dos PTR.
Tais programas, a despeito dos impactos no quadro geral da miséria neste
país, têm concretizado uma espécie de dualidade em que se tem, de um lado, o
deficiente SUAS, com os diversos serviços sócio assistenciais e, de outro, a
transferência de benefícios diretamente ao cidadão, sobretudo através do Programa
Bolsa Família (PBF) (SCHMIDT, SILVA, 2015).

35
Quando a assistência social se amplia pela via da expansão quantitativa do
PBF em detrimento do próprio SUAS, ou da rede de serviços que ele supõe e requer,
uma série de implicações impõe sérias restrições à consolidação do SUAS:

Fonte: slideplayer.com.br

A contribuição da assistência social nessa perspectiva, implementada como


política pública afiançadora de direitos, deve se realizar por meio de uma estrutura
político administrativa que ressalte a fundamental relevância do processo de
descentralização.
Quanto ao redesenho do papel e da escala espacial de organização dos
serviços do Estado Brasileiro, que possa facilitar a transferência, em blocos de
competências, das ações para os territórios mais próximos da população e de suas
necessidades, e a distribuição dos recursos financeiros e operacionais de forma mais
equitativa, articulando corretamente a participação dos municípios, do Distrito Federal,
dos estados e da União seja no co-financiamento, seja na implementação dos
benefícios e na execução direta e, ou, compartilhada dos serviços sócio assistenciais,
nos moldes e nas condições que o pacto Inter setorial irá estabelecer (BEHRING,
2011) .
Trata-se, efetivamente, de operar um modelo emancipatório, que requer, então,
a provisão das medidas da política de assistência social que responda às
necessidades sociais e coletivas, mas também seja capaz de atuar a partir de
inúmeros requerimentos individuais e privados, decorrentes da situação de vida das
famílias (ALENCAR, 2011).

36
Tal padrão se realiza a partir dos parâmetros de proteção elencados na
PNAS/2004 que demarcam a sua especificidade no campo das políticas sociais,
responsabilidades de Estado próprias a serem asseguradas aos cidadãos brasileiros,
a proteção social básica e a proteção social especial de média e alta complexidade
(ALENCAR, 2011).

Fonte: pensionatosfa.com.br

A assistência social dá primazia à atenção às famílias e seus membros, a partir


do seu território de vivência, com prioridade àqueles com registros de fragilidades,
vulnerabilidades e presença de vitimizações entre seus membros.
A primazia da atenção às famílias tem por perspectiva fazer avançar o caráter
preventivo de proteção social de modo a fortalecer laços e vínculos sociais de
pertencimento entre seus membros e indivíduos, para que suas capacidades e
qualidade de vida atentem para a concretização de direitos humanos e sociais
(BEHRING, 2011).
De acordo com a PNAS/2004 são funções da assistência social: a proteção
social hierarquizada entre proteção básica e proteção especial; a vigilância social; e a
defesa dos direitos sócio assistenciais.

37
Fonte: pt.slideshare.net.com

9.2 Instâncias de articulação, pactuação e deliberação

Durante esses anos de implementação do SUAS, com o pleno funcionamento


desses espaços e instancias, muitos avanços foram observados ao analisarmos os
desafios apontados no Plano Decenal 2005-2015, a saber: a superação da concepção
de uma ação assistencialista para uma política de direito com base na proteção social;
regulamentação do SUAS estabelecendo parâmetros e comando único; capilaridade
na implantação dos serviços e benefícios no território nacional na perspectiva da
universalidade no acesso (BEHRING, 2011) .

Uma nova lógica no financiamento da política com a definição das


responsabilidades dos entes federados, o repasse fundo-a-fundo, a
pactuação de critérios de partilha de recursos; qualificação do atendimento
aos de mandatários da política com a profissionalização da área, criação de
mecanismos e instrumentos de planejamento, monitoramento e avaliação;
entre outros (MAURIEL, 2012. Apud BRASIL, 2014).

Todos esses avanços não seriam possíveis, dentro de uma sociedade


democrática, se não houvesse o fortalecimento do pacto federativo do SUAS, com o
funcionamento das instâncias e espaços de negociação, pactuação e de deliberação
para a efetivação e reconhecimento da política de assistência social, enquanto direito
de cidadania (MAURIEL, 2012).
O SUAS, na sua concepção, possui espaços de diálogos permanentes, com
atribuições de negociações, pactuações e deliberações nos três entes federados.

38
(Comissões Inter gestores Bipartite - CIB’S, Comissão Inter gestores Tripartite – CIT,
Conselhos, Colegiado Estadual e Municipal de Gestores da Assistência Social.
Esses espaços considerados instâncias da gestão pública da assistência social tem
como missão primar pelos princípios e diretrizes organizativas do SUAS (MAURIEL,
2012).
São princípios organizativos do SUAS:
Universalidade: Correspondem à cobertura de benefícios, serviços, programas e
ações da Assistência Social entre os entes federativos; na garantia de acesso aos
direitos sócio assistenciais; na articulação com as demais políticas;
Gratuidade: Corresponde à ausência de custos para o usuário no momento de acesso,
o que não implica que a população seja isenta de contribuir par financiamento do
sistema através de impostos e taxas.
Integralidade da Proteção Social: Corresponde as ações articuladas entre os
serviços/equipes nos níveis de proteção e suas complexidades;
Intersetorialidade: Corresponde ao princípio de gestão das Políticas Sociais que
privilegia a integração das políticas em sua elaboração, execução, monitoramento e
avaliação. Busca superar a fragmentação das políticas, respeitando a especificidades
de cada área;
Equidade: Corresponde ao reconhecimento e a efetivação, com igualdade, dos
direitos da população, sem restringir o acesso a eles nem estigmatizar as diferenças
que conformam os diversos segmentos que a compõem, - contexto associado à
imparcialidade e à justiça.
O princípio da democratização e a diretriz da descentralização, presentes na
Constituição Federal de 1988 e na LOAS, se concretizam na implantação e no
fortalecimento das instâncias de articulação, pactuação e de deliberação.
 Articulação
São espaços de participação aberta, com função propositiva no nível federal,
estadual, do Distrito Federal e municipal, podendo ser instituídos regionalmente.
São constituídos por organizações governamentais e não-governamentais com a
finalidade de articulação entre: conselhos; união de conselhos; fóruns estaduais,
regionais ou municipais; associações comunitárias, entre outros.

39
 Pactuação
Entende-se por pactuação, na gestão da assistência social, as negociações
estabelecidas com a anuência das esferas de governo envolvidas, no que tange à
operacionalização da política, não pressupondo processo de votação nem tão
pouco de deliberação. As pactuações de tais instâncias só são possíveis na medida
em que haja concordância de todos os entes envolvidos, sendo formalizada por
meio de publicação da pactuação e submetidas às instâncias de deliberação.

 Deliberação
Os Conselhos Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais são
instâncias deliberativas do Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência
Social, regulamentado na PNAS/2004 na forma do SUAS. O CNAS, instituído pela
LOAS, e os Conselhos das demais esferas, tratados na referida Lei e instituídos
por legislação especifica, tem caráter permanente e composição paritária entre
governo e sociedade civil. São vinculados ao Poder Executivo e a sua estrutura
pertencente ao órgão da Administração Pública responsável pela coordenação da
Política de Assistência Social, que lhes dá apoio administrativo assegurando
dotação orçamentária para seu funcionamento.

10 PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL À FAMÍLIA (PAIF)

Fonte: cress-mg.org.br

40
Nesse sentido, a oferta do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à
Família (PAIF), de caráter continuado, tem a função protetiva da família, na forma de
evitar que vínculos familiares e/ou comunitários sejam rompidos, permitindo o acesso
dos usuários aos programas de transferência de renda como o Bolsa Família (BF) e o
Benefício de Prestação Continuada (BPC).
O Programa de Atenção Integral à Família - PAIF é o principal programa de
Proteção Social Básica, do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. Desenvolve
ações e serviços básicos continuados para famílias em situação de vulnerabilidade
social na unidade do CRAS. O PAIF tem por perspectivas o fortalecimento de vínculos
familiares e comunitários, o direito à Proteção Social Básica e a ampliação da
capacidade de proteção social e de prevenção de situações de risco no território de
abrangência do CRAS (SOUZA, LOPES, AZEVEDO, 2005).
O PAIF é necessariamente ofertado no CRAS. Em áreas com espalhamento
ou dispersão populacional, por meio do deslocamento de sua equipe.
O PAIF, criado em 18 de abril de 2004 (Portaria nº 78), pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, aprimorou a proposta do Plano
Nacional de Atendimento Integrado à Família – PNAIF, implantado pelo
Governo Federal no ano de 2003. Em 19 de maio de 2004, o PAIF tornou-se “ação
continuada da Assistência, social”, passando a integrar a rede de serviços de ação
continuada da Assistência Social, financiada pelo Governo Federal (Decreto
5.085/2004).
Os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) foram
instituídos para o atendimento das demandas da PSE de média complexidade para
as pessoas que tiveram seus direitos violados (violência física, exploração sexual,
violência psicológica ou negligência), mas que ainda mantêm vínculos familiares e
comunitários (CFESS, 2005).
O Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos
(PAEFI) abrange esta complexidade e está direcionado a crianças e adolescentes,
mulheres, idosos e pessoas em situação de rua. No caso de crianças e adolescentes
há o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e o Serviço de Orientação
e Acompanhamento a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa
(CFESS, 2005).

41
Quanto aos serviços da PSE de alta complexidade, estes visam à proteção
integral de famílias e indivíduos que se encontram em situações de
abandono, ameaça ou que tiveram seus direitos violados necessitando sair
do seu núcleo familiar para serem acolhidos provisoriamente em locais
adequados que ofereçam boas condições de moradia, de higiene, de
segurança (CFESS, 2005. Apud SILVEIRA, 2011).

Os serviços que podem ser ofertados são de Acolhimento Institucional (nas


modalidades de abrigo institucional, casalar, casa de passagem ou residência
inclusiva), Acolhimento em República; Acolhimento em Família Acolhedora, e
Proteção em situações de Calamidade Pública e de Emergência.
Em 2004, foi criado também o Programa Bolsa Família (Lei nº 10.836, de 9 de
janeiro de 2004, regulamentada pelo decreto nº 5.209 de 17 de setembro de 2004)
que unificou em um único programa de transferência de renda os benefícios Bolsa
Escola, Bolsa Alimentação e Programa Auxílio-Gás. Hoje são milhões de famílias em
situação de vulnerabilidade atendidas por benefício.

11 NORMAS OPERACIONAIS BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA


SOCIAL

Fonte: economia.culturamix.com

Em 2005, o CNAS aprovou a Norma Operacional Básica do Sistema Único de


Assistência Social – NOB/SUAS (Resolução nº 130, de 15 de julho de 2005),
assinalando o pacto federativo preconizado pela LOAS e pela PNAS, as
responsabilidades de gestão e de financiamento de cada um dos entes federados e

42
objetivando a integração da rede de serviços e a busca da continuidade e da
padronização de sua oferta nos equipamentos públicos e nas entidades privadas de
Assistência Social (SILVEIRA, 2011).
Em 2006, foi aprovada a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do
SUAS – NOB-RH/SUAS (Resolução nº 269, de 13 de dezembro de 2006 e Resolução
nº 01, de 25 de janeiro de 2007) que contém todos os princípios e diretrizes nacionais
para a gestão do trabalho no âmbito do SUAS e significou um importante instrumento
normativo para o reconhecimento institucional do trabalho assistencial, sendo um
grande desafio a sua implementação em âmbito estadual e municipal (SILVEIRA,
2011).
Em 2009, a Tipificação Nacional dos Serviços Sócio assistenciais (Resolução
CNAS nº 109, de 11 de novembro de 2009) padronizou os serviços ofertados pela
rede sócio assistencial e impôs um grande desafio para o poder público de implantar
e organizar os serviços de acordo com a padronização para dar resposta às
necessidades de proteção social à população (SILVEIRA, 2011).
Em 2011, foi aprovada a Lei nº 12.435, de 06 de julho de 2011, atualmente
conhecida como a Lei do SUAS trazendo mudanças bastante significativas no texto
da LOAS.
Se num primeiro momento a LOAS objetivou a normatização da política
conforme as indicações da CF/1988, em 2011 buscou aprimorar e legalizar em seu
conteúdo os avanços trazidos pela PNAS 2004, pela NOB/SUAS 2005 e pela NOB/RH
2006, e outras normativas subsequentes, na implantação e implementação da política,
através do esforço com que a União, os estados e, principalmente, os municípios
fizeram e continuam fazendo a fim de se adequarem aos novos preceitos (SILVA,
2012).
A NOB/SUAS 2012, aprovada pela Resolução CNAS nº 33, de 12 dezembro de
2012, veio preencher uma lacuna da NOB/SUAS 2005, que após sete anos, desde
sua aprovação, não continha o conjunto legal (leis, decretos, portarias e resoluções
da CIT e do CNAS) desenvolvido a partir da implantação do SUAS, necessitando da
inclusão das medidas adotadas ao aprimoramento da gestão e à operacionalização
do sistema, ocorridas durante o período (SILVA, 2012).
Além disso, o modelo de adesão ao sistema tornara-se inócuo em função das
necessidades de aperfeiçoamento, havendo a necessidade de novos instrumentos de
gestão, com pactuação de responsabilidades compartilhadas e metas, bem como a
43
necessidade de aprimoramento dos serviços, programas, projetos e benefícios dos
SUAS (SILVA, 2012).
A partir disso, foram incorporados os seguintes avanços normativos:
- A alteração da LOAS pela Lei nº 12.435/2011, que dispõe sobre a organização
da AS em um sistema descentralizado e participativo denominado SUAS;
- O Decreto nº 7.788/2012, que regulamenta o Fundo Nacional de AS e
estabelece o co-financiamento por meio dos blocos de financiamento do SUAS;
- O Decreto nº 7.736/2012, que regulamenta o repasse do IGD SUAS;
- O Decreto nº 5.209/2004, que cria o Programa Bolsa família e regulamenta o
IGD-PBF;
- O Decreto nº 7.734/2010, que institui o Censo SUAS;
- A Resolução CNAS nº 109/2009, que aprova a Tipificação Nacional de
Serviços Sócio assistenciais;
- A Resolução CIT nº 08/2010, que institui o Protocolo de Gestão Integrada dos
serviços, benefícios sócio assistenciais e transferências de renda para atendimento
de indivíduos e famílias beneficiárias do PBF, PETI, BPC e benefícios eventuais, no
âmbito do SUAS;
- A Resolução CIT nº 05/2010, que institui, de forma pactuada, as metas de
desenvolvimento dos CRAS por períodos anuais, visando sua gradativa adaptação
aos padrões normativos do SUAS, com início em 2008 e término em 2013;
- A Resolução CIT nº 17/2010, que estabelece as prioridades nacionais para o
Pacto de Aprimoramento da Gestão Estadual e do DF para o quadriênio 2011-2014;
- A Resolução CNAS n º 32/2011, que estabelece percentual dos recursos do
SUAS, financiados pelo governo federal que poderão ser gastos no pagamento de
profissionais que integrarem as equipes de referência, conforme o art. 6 º da Lei n º
8.742/1993.
Os desafios no processo de implementação do SUAS são inúmeros e se
ocupam principalmente das questões que se referem às atribuições dos estados e dos
municípios e sua participação no co-financiamento da política de assistência social.
A União ficou com a responsabilidade da coordenação da Política de
Assistência Social e na elaboração de normativas de orientação ao seu funcionamento
e aprimoramento e no repasse de incentivos financeiros aos estados e municípios,
para o co-financiamento das ações e serviços (SEMZEZEM, SILVA, 2015).

44
Os municípios, por sua vez, ficaram com a execução dos programas, projetos,
serviços e benefícios, cabendo-lhes também a alocação de recursos próprios para a
participação no co-financiamento dos serviços sócio assistenciais. Já os estados
ficaram com a responsabilidade e o papel da assessoria técnica aos municípios sobre
a gestão do SUAS, a implantação de serviços regionalizados da PSE de média
complexidade, com cobertura para municípios de pequeno porte I, e o co-
financiamento dos serviços sócio assistenciais, com alocação de recursos próprios no
fundo estadual (SEMZEZEM, SILVA, 2015).

12 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO SUAS

As atribuições e competências dos profissionais de Serviço Social,


independentes de suas áreas de atuações, sejam elas realizadas na política de
assistência ou em outros espaços sócio ocupacionais, são orientadas e norteadas por
direitos e deveres constantes no Código de Ética Profissional e na Lei de
Regulamentação da Profissão, que devem ser observados e respeitados, tanto pelos
profissionais, quanto pelas instituições empregadoras (CEFSS, 2009).
No que se refere aos direitos dos assistentes sociais, o artigo 2º do Código de
Ética assegura:
 Livre exercício das atividades inerentes à profissão;
 Participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na
formulação e implementação de programas sociais;
 Inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação,
garantindo o sigilo profissional;
 Desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;
 Aprimoramento profissional de forma contínua;
 Pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se tratar
de assuntos de interesse da população;
 Ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a prestar
serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou
funções;
 Liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos
de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.

45
Tratando-se dos deveres desse profissional, tem-se no artigo 3º do Código de Ética
o seguinte:
 Desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade,
observando a Legislação em vigor;
 Utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da profissão;
 Abster-se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem a censura,
o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando
sua ocorrência aos órgãos competentes;
 Participar de programas de socorro à população em situação de calamidade
pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades.
Assim, o perfil do assistente social para atuar na Política de Assistência Social
deve afastar-se das abordagens tradicionais funcionalistas e pragmáticas, que
reforçam as práticas conservadoras que tratam as situações sociais como problemas
pessoais que devem ser resolvidos individualmente.
O reconhecimento da questão social como objeto de intervenção profissional,
demanda uma atuação profissional em uma perspectiva totalizante, baseada na
identificação dos determinantes socioeconômicas e culturais das desigualdades
sociais.
Os Parâmetros para atuação dos assistentes sociais na Política de Assistência
Social constituem-se num dos instrumentos para a aproximação do projeto ético
político do Serviço Social a uma Assistência Social como direito social e que tem que
atender a quem dela necessitar.
Os mesmos parâmetros reeditam competências gerais do assistente social em
qualquer espaço sócio ocupacional e, particularmente, na Assistência Social:
 Apreensão crítica dos processos sociais de produção e reprodução das
relações sociais numa perspectiva de totalidade;
 Análise do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo as
particularidades do desenvolvimento do capitalismo no país e as
particularidades regionais;
 Compreensão do significado social da profissão e de seu
desenvolvimento sócio histórico, nos cenários internacional e nacional,
desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade;

46
 Identificação das demandas presentes na sociedade, visando a formular
respostas profissionais para o enfrentamento da questão social,
considerando as novas articulações entre o público e o privado.

Fonte: estudeadistancia.com.br

São essas competências que permitem ao profissional como um sujeito que é


afetado tanto pelas condições objetivas e subjetivas do trabalho, realizar a análise
crítica da realidade, para a partir daí, estruturar seu trabalho e estabelecer os
procedimentos específicos necessários ao enfrentamento das situações e demandas
sociais que se apresentam ao seu cotidiano.
As diversas atribuições dos assistentes sociais, no âmbito da Política de
Assistência Social abrangem as seguintes dimensões interventivas complementares
e indissociáveis:
1 – Dimensão que engloba as abordagens individuais, familiares ou grupais na
perspectiva de atendimento às necessidades básicas e acesso aos direitos, bens e
equipamentos públicos;
2 – Dimensão de intervenção coletiva junto a movimentos sociais, na
perspectiva da socialização da informação, mobilização e organização popular;
3 – Dimensão de intervenção profissional voltada para inserção nos espaços
democráticos de controle social e construção de estratégias para fomentar a
participação;
4 – Dimensão de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens e
serviços a indivíduos, famílias, grupos e coletividade;
47
5 - Dimensão que se materializa na realização sistemática de estudos e
pesquisas que revelem as reais condições de vida e demandas da classe trabalhadora
e possam alimentar o processo de formulação, implementação e monitoramento da
política de assistência social;
6 – Dimensão pedagógico-interpretativa e socializadora de informações e
saberes no campo dos direitos, da legislação social e das políticas públicas, dirigida
aos diversos sujeitos da política: gestores públicos, dirigentes de entidades
prestadoras de serviços, trabalhadores, conselheiros e usuários.
O avanço que se tem em relação a gestão do trabalho no SUAS é a
NOB/RH/2006, no entanto, trata-se de um ganho político, pois, como observamos os
trabalhadores do SUAS, e o assistente social em sua maioria, inserido nessa política
ainda estão inseridos na política de forma preconizada, através de cargos
comissionados, contratos temporários entre outros.
Cabendo o entendimento que esse processo não se trata somente dos
trabalhadores da política de assistência, mas decorre-se do processo conjuntural que
atinge o conjunto dos trabalhadores, pautados na destituição de direitos, flexibilização
e precarização do trabalho.
Contudo, mesmo diante dos desafios pontuados, entendemos que a atuação
do assistente social na política de assistência social orientado pelo conjunto de
saberes específicos da profissão, composto essencialmente pelo desenvolvimento de
três dimensões: a dimensão teórico-metodológico, dimensão ético-política e a
dimensão técnico operativa.
Proporcionam ao profissional a superação das abordagens tradicionais
conservadoras da assistência social e os capacitam para a implementação de ações
que parem de uma análise crítica sobre a particularidade da questão social e fortaleça
a assistência social como política pública de ampliação de proteção social e das
formas de democratização da sociedade.

48
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