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SERVIÇO SOCIAL E ASSISTÊNCIA SOCIAL

Sumário
NOSSA HISTÓRIA ............................................................................................. 2

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 3

RESGATE SÓCIO-HISTÓRICO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ..... 4

OS DESAFIOS E ENFRENTAMENTOS DA PROFISSÃO ................................ 7

O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DAS PRINCIPAIS MATRIZES DO


CONHECIMENTO E DA AÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO ........... 12

O SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS,


TEÓRICOS METODOLÓGICOS E POLÍTICOS .............................................. 18

A DIMENSÃO TÉCNICA- OPERATIVA E OS INSTRUMENTOS E TECNICAS


NO SERVIÇO SOCIAL ..................................................................................... 24

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 34

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO

A consolidação da Assistência Social na perspectiva do direito pressupõe


o contraponto ao passado caracterizado pelo clientelismo, pelo patrimonialismo,
pelo engessamento burocrático e pela cultura do favor, pois efetivar a
consolidação da Assistência Social enquanto política pública, na perspectiva de
concretizar os princípios e diretrizes conquistados, significa instaurar outro
padrão civilizatório, comprometido com o fortalecimento do controle social na
democratização dos processos decisórios, no protagonismo dos sujeitos sociais.

Os desafios que se colocam demandam a articulação de diferentes


atores, bem como pressupõem a articulação do executivo, legislativo e judiciário,
nas três esferas de governo (LOPES, 2006; SPOSATI, 2006). A temática
proposta para estudo é atual e de relevância para profissionais e gestores que
investigam e implementam a política de Assistência Social, e particularmente
para o assistente social, que tem sido o profissional que historicamente vem
atuando nesta área. Estudos dessa natureza possibilitam posteriores estudos
complementares e comparativos, para identificação de possibilidades e
dificuldades na implantação e implementação dos Centros de Referência de
Assistência Social – CRAS e dos Centros de Referência Especializados de
Assistência Social – CREAS.

Portanto neste contexto, em desenvolvimento, os primeiros resultados


encontrados refletindo sobre dilemas e desafios que a atual política de
Assistência Social coloca para o Assistente Social tendo como horizonte a
reafirmação do projeto ético-político.

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RESGATE SÓCIO-HISTÓRICO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA


SOCIAL

A Constituição Federal de 1988 inaugura um novo paradigma para


Assistência Social, apontando para o seu status de política pública de proteção
social, no campo da Seguridade, compondo junto a Saúde e a Previdência, o
tripé da Seguridade Social brasileira. Logo, é reconhecida enquanto direito social
e dever do Estado na sua garantia. Essa concepção rompe substancialmente
com a lógica historicamente impregnada na trajetória da Assistência Social no
Brasil, marcada pela caridade, benemerência, clientelismo, assistencialismo e
focalização.

A Assistência Social foi regulamentada somente em 1993, através Lei


Orgânica da Assistência Social – LOAS, e define a Assistência Social como
direito do cidadão e dever do Estado, enquanto política de seguridade social não
contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto
integrado de ações de iniciativa pública, para garantir o atendimento às
necessidades básicas.

A política de Assistência Social tem como objetivos:

 a proteção à família,
 à maternidade,
 à infância e à velhice,
 o amparo às crianças e adolescentes carentes;
 a promoção e integração ao mercado de trabalho,
 a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiências e a
promoção de sua integração à vida comunitária (BRASIL, 1993).

Ressalta-se que a regulamentação da LOAS não foi suficiente para


imprimir uma nova lógica à Política Nacional de Assistência Social – PNAS, na
medida em que o processo de sua consolidação foi atravessado por
contradições, demarcadas por profundas transformações societárias que se
deram na lógica inversa ao projeto de ampliação da cidadania (COUTO 2006,

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MONTEIRO, 2008). No bojo desse processo, medidas adotadas pelo Governo


Federal, como a criação da Comunidade Solidária, a morosidade em construir a
arquitetura política da Assistência Social – os conselhos, os fundos nos três
níveis do governo –, as reformulações e gestão da área social preconizada pela
Reforma do Estado, realizada pelo Ministério da Administração e Reforma do
Estado - MARE, sob a batuta do então Ministro Bresser Pereira durante o
segundo governo de FHC, criaram entraves e dificuldades para o avanço desta
política, direcionada para permitir acesso aos direitos sociais da população.

“Reformando” a estrutura do Estado e aderindo a administração pública


gerencial, passou o Estado a contar com quatro setores:

 o núcleo estratégico,
 as atividades exclusivas,
 os serviços não-exclusivos e a produção de bens e serviços para
o mercado.

“Os serviços não-exclusivos são todos aqueles que o Estado provê,


mas que, como não envolvem o exercício do poder extroverso do Estado, podem
ser também oferecidos pelo setor privado e pelo setor público não-estatal (‘não-
governamental’). Esse setor compreende os serviços de educação, saúde,
culturais e de pesquisa científica” (PEREIRA, 1998: 34). Nesse sentido,
instituições e entidades privadas, mas que sejam de interesse público pode
compor o quadro de atendimento e prestação de serviços na área da Assistência
Social, inclusive recebendo recursos na prestação e atuação na área.

Essa possibilidade traz complexas e contraditórias relações que ao


mesmo tempo em que oportuniza a participação da sociedade civil organizada
não somente no controle social das políticas sociais, tão necessária para a
construção da vida democrática, não raras vezes reitera práticas marcadas pela
caridade, benemerência, clientelismo, assistencialismo e focalização, indo de
encontro ao avanço e conquistas que a Constituição de 1988 trouxe.

A Assistência Social consiste em um sistema que tem na sua centralidade


a proteção social. Organiza-se através de eixos estruturantes:

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 matricialidade sócio-familiar,
 descentralização e territorialização – que são as novas bases de
relação entre Estado e sociedade civil – participação do usuário e
controle social.

Os programas e serviços organizam-se por níveis de proteção: básica e


especial, de média e alta complexidade, através de respectivos centros de
referência: Centro de Referência de Assistência Social – CRAS e Centro de
Referência Especializada de Assistência Social - CREAS (Brasil, 2005).
Portanto, o SUAS irá demandar uma nova forma de gestão, sobretudo porque
busca dar concretude aos princípios da LOAS, na medida em que aponta uma
nova institucionalidade da política de Assistência Social. Essa mudança de
paradigma irá demandar novas formas de gestão do trabalho, na medida em que
institui nova lógica e novas demandas profissionais (COUTO, 2009; MOTA,
2006; IAMAMOTO, 2008).

Somente a partir de 2004 é que a PNAS constituiu-se em um novo marco


regulatório apontando para a conformação do Sistema Único de Assistência
Social- SUAS, sendo este, implantado em 2005. Esse processo é produto da
construção coletiva de municípios e Estados, bem como de diferentes atores da
Assistência Social, e com marcante presença dos profissionais assistentes
sociais.

O SUAS tem por objetivo unificar em todo o território nacional a política


de Assistência Social. Busca efetivar as conquistas constitucionais, bem como
assegurar os princípios e diretrizes pactuados na LOAS. Caracteriza-se por um
modelo de gestão descentralizada e participativa na regulação e organização em
todo o território nacional das ações socioassistenciais, definindo e organizando
os elementos essenciais e imprescindíveis à execução da política, pois
normatiza padrões nos serviços, a qualidade no atendimento, os indicadores de
avaliação, resultado e a nomenclatura dos serviços e da rede sócioassistencial.

Com a contrarreforma do Estado promovida a fim de que o Brasil


alinhasse primeiramente ao receituário neoliberal e, posteriormente, em
decorrência das recentes crises econômicas que vêm assolando os países de

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capitalismo central, o país novamente se ajusta ao ideário dos países


hegemônicos através das medidas de corte pós-neoliberais nas políticas sociais.

O Brasil, sem concluir a operacionalização da Assistência Social nos


marcos dos princípios universalizantes assumidos na Constituição Federal de
1988, passou a organizar a PNAS nos limites das ações focalizadoras dirigidas
a um público específico: os pobres. Sem desconsiderar os avanços da política
de Assistência Social as reflexões aqui presentes caminham na direção de
problematizar os rumos que a Assistência Social tomou distanciando-se dos
princípios da Seguridade Social garantidos na Carta Magna, na
contemporaneidade.

OS DESAFIOS E ENFRENTAMENTOS DA PROFISSÃO

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“O Serviço Social e o Sistema Único de Assistência Social – SUAS:


antigos e novos limites e desafios postos ao exercício profissional” em
desenvolvimento e os primeiros resultados, tendo como horizonte a reafirmação
do projeto ético-político da profissão de Serviço Social. Realiza uma análise
documental das principais legislações que normatizam a política de Assistência
Social, as atuais exigências profissionais colocadas para os técnicos aí inseridos
e o projeto ético-político da profissão.

Busca-se contribuir com a análise das novas demandas que se colocam


ao exercício profissional no contexto da Assistência Social, sobretudo com o
processo de implementação do SUAS. Identificando a emergência de
significativos dilemas e desafios. É uma pesquisa qualitativa que recorre a
análise de conteúdo dos documentos selecionados. Segundo Minayo (1995,
p.21-22).

“A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares.


Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que
não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e

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dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de


variáveis.” Minayo (1995, p.21-22).

Dentro desta pesquisa realizamos estudos e análises de texto dos


principais documentos reguladores da Assistência Social como a Constituição
Federal de 1988; a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS); a Política
Nacional de Assistência Social (PNAS); a Norma Operacional Básica do Sistema
Único de Assistência Social (NOB/SUAS); a Norma Operacional Básica de
Recursos Humanos (NOB-RH/SUAS). Levantamento bibliográfico da literatura
sobre Assistência Social e política social vem se desenvolvendo privilegiando
textos clássicos de teóricos e articulistas do Serviço Social como Iamamoto
(2001, 2008), Yazbek (2005, 2008), Netto (2001, 2011), Pereira (2001), Santos
(2010). Teóricos do pensamento social brasileiro filiados a perspectiva crítica
também são objeto de estudo a fim de aprofundarmos as análises da
particularidade da realidade brasileira como Ianni (2004), Martins (2008).

Igualmente, são considerados autores e estudos nas matrizes do


pensamento social europeu e norte-americano como Castel (1998), Neri (2005)
e outros com vistas a identificarmos os supostos argumentos que se encontram
nos documentos e normativas em análise. Na fase inicial da pesquisa foi feito
um primeiro levantamento qualitativo e quantitativo de alguns termos que estão
presentes nas políticas e no cotidiano do profissional da Assistência Social, tais
como: questão social; vulnerabilidade social; exclusão social; descentralização
e risco social.

Com os primeiros resultados identificam a quase ausência da categoria


questão social nos documentos e normativas. Foi encontrada somente duas
vezes, uma na LOAS e outra única vez na PNAS, a saber:

A construção do direito da Assistência Social é recente


na história do Brasil. Durante muitos anos a questão social
esteve ausente das formulações de políticas no país. O grande
marco é a Constituição de 1988, chamada de Constituição
Cidadã, que confere, pela primeira vez, a condição de política
pública à assistência social, constituindo, no mesmo nível da

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saúde e previdência social, o tripé da seguridade social que


ainda se encontra em construção no país [grifo nosso] (LOAS,
1993, p 04).

Analisando no contexto o conteúdo não foi possível precisar o significado


de questão social presente, somente inferindo que a expressão tem relação
com os direitos social. Frente ao desafio de enfrentar a questão social, a
descentralização permitiu o desenvolvimento de formas inovadoras e criativas
na sua implementação, gestão, monitoramento, avaliação e informação. No
entanto, a compreensão de que a gestão democrática vai muito além de
inovação gerencial ou de novas tecnologias é bastante limitada neste país. “A
centralização ainda é uma marca a ser superada.” [grifo nosso] (PNAS, 2004,
p.14).

Não fica claro o que se toma por questão social e o que realmente precisa
ser enfrentado, porém deixa claro que o seu enfrentamento está na
descentralização. As expressões da questão social, o objeto de intervenção do
profissional de Serviço Social e presente nos diferentes espaços sócio-
ocupacionais do assistente social se manifestam como: desemprego, violência,
pobreza, violência no campo etc. Compreender a sua gênese e estrutura é
fundamental, pois é a partir do processo do reconhecimento da classe
trabalhadora de sua condição de explorado pelo capital e de seu posicionamento
político exigindo os seus direitos é que a questão social ganha visibilidade e
respostas pelas vias, principalmente das políticas sociais.

[..] não é senão as expressões do processo de formação


e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no
cenário político da sociedade exigindo seu reconhecimento
como classe por parte do empresariado e do Estado. É a
manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre
o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos
de intervenção mais além da caridade e da repressão (Iamamoto
e Carvalho, 1995, p.77).

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E é como agente de intervenção junto às políticas sociais que a profissão


se tornou necessária e ganhou legitimidade. Nascida da imposição da classe
burguesa à classe trabalhadora, a profissão faz um giro de rota reconhecendo-
se também como trabalhadores assalariados e seu trabalho e profissão
atravessadas pela contradição da sociedade capitalista. É com o Processo de
Renovação da Profissão (NETTO, 2011), através da Vertente Intenção de
Ruptura que fração da profissão ao aproximar e apropriar-se da teoria marxista
nas fontes, indo aos clássicos é que foi possível a construção de sua
autoimagem renovada expressa no atual Projeto Ético-Político.

Faz-se necessário que os profissionais da Assistência Social e


especialmente os Assistente Social compreendam as múltiplas expressões da
questão social apresentadas pelos usuários que demandam pelos serviços,
programas e projetos da Assistência a fim de não culpabilizar e responsabilizar
o indivíduo, desconsiderando as causas que estruturam as suas demandas.
Olhar criticamente a realidade, a sociedade com suas legislações e se
empenharem em pesquisas e estudos sobre a questão social e suas
manifestações é fundamental para que o profissional não assuma termos
presentes na PNAS como vulnerabilidade, risco e exclusão social como
imediatos objetos de sua intervenção profissional. Intervenção e investigação
são processos indissociáveis para uma atuação qualificada.

Percebe-se a partir desta problematização, que esse contexto, cujo


desafio centra-se na consolidação desse novo paradigma de política pública de
assistência social, é atravessado de contradições e antagonismos, que
complexificam as competências e atribuições, na medida em que formatam
novas modalidades interventivas.

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O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DAS PRINCIPAIS MATRIZES


DO CONHECIMENTO E DA AÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL
BRASILEIRO

Na contemporaneidade uma época de regressão de direitos e destruição


do legado de conquistas históricas dos trabalhadores em nome da defesa, quase
religiosa, do mercado e do capital, cujo reino se pretende a personificação da
democracia, das liberdades e da civilização. A mistificação inerente ao capital,
enquanto relação social alienada que monopoliza os frutos do trabalho coletivo
obscurece a fonte criadora que anima o processo de acumulação em uma escala
exponencial no cenário mundial.

O universo do trabalho intensifica-se a investida contra a organização


coletiva de todos aqueles que, destituídos de propriedade, dependem de um
lugar nesse mercado, cada dia mais restrito e seletivo, que lhes permita produzir
o equivalente de seus meios de vida. Crescem, com isso, as desigualdades e,
com elas, o contingente de destituídos de direitos civis, políticos e sociais.

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Sendo que, o processo é potenciado pelas orientações (neo) liberais, que


capturam os Estados nacionais, erigidas pelos poderes imperialistas como
caminho único para animar o crescimento econômico, cujo ônus recai sobre as
grandes maiorias.

Na contra tendência de um longo período de crise da economia mundial,


o capitalismo avançou em sua vocação de internacionalizar a produção e os
mercados, requerendo políticas de “ajustes estruturais” por parte dos Estados
nacionais. Preconizadas pelos países imperiais por intermédio dos organismos
multilaterais, essas políticas dão livre curso ao capital especulativo financeiro
destituído de regulamentações e à lucratividade dos grandes conglomerados
multinacionais. “(BORÓN, 1995)”.

“Um mundo internacionalizado requer um Estado dócil


aos influxos neoliberais, mas ao mesmo tempo forte
internamente - ao contrário do que é propalado pelo ideário
neoliberal da minimização do Estado - para traduzir essas
demandas em políticas nacionais e resistir à oposição e
protestos de muitos, comprometendo a soberania das nações.”
(PETRAS, 2002)

Segundo o autor, o projeto neoliberal é expressão dessa reestruturação


política e ideológica conservadora do capital em resposta a perda de
rentabilidade e “governabilidade”, que enfrentou durante a década de 1970
(FIORI, apud SOARES, 2003), no marco de uma onda longa de crise capitalista
(MANDEL, 1985).

O capital cria as condições históricas necessárias para a generalização


de sua lógica de mercantilização universal, submetendo aos seus domínios e
objetivos de acumulação o conjunto das relações sociais:

 a economia,
 a política,
 a cultura.

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Tendo em vista o caráter conservador do projeto neoliberal se expressa,


de um lado, na naturalização do ordenamento capitalista e das desigualdades
sociais a ele inerentes tidas como inevitáveis, obscurecendo a presença viva dos
sujeitos sociais coletivos e suas lutas na construção da história; considerando
outro lado, em um retrocesso histórico condensado no desmonte das conquistas
sociais acumuladas, resultantes de embates históricos das classes
trabalhadoras, consubstanciadas nos direitos sociais universais de cidadania,
que têm no Estado uma mediação fundamental.

Entretanto a contrapartida tem sido a difusão da idéia liberal de que o


“bem-estar social” pertence ao foro privado dos indivíduos, famílias e
comunidades.

A intervenção do Estado no atendimento às necessidades sociais é pouco


recomendada, transferida ao mercado e à filantropia, como alternativas aos
direitos sociais.

Segundo Yazbek (2001), o pensamento liberal estimula um vasto


empreendimento de “refilantropização do social”, já que não admite os direitos
sociais, uma vez que os metamorfoseia em dever moral: opera, assim, uma
profunda despolitização da “questão social”, ao desqualificá-la como questão
pública, questão política e questão nacional.

Portanto as consequências de transitar a atenção à pobreza da esfera


pública dos direitos para a dimensão privada do dever moral são:

 a ruptura da universalidade dos direitos e da possibilidade de sua


reclamação judicial,
 a dissolução de continuidade da prestação dos serviços
submetidos à decisão privada,
 tendentes a aprofundar o traço histórico assistencialista e a
regressão dos direitos sociais.

Para o autor, o resultado no campo das políticas públicas na área social,


na América Latina, tem sido o reforço de traços de improvisação e inoperância,
o funcionamento ambíguo e sua impotência na universalização do acesso aos

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serviços dela derivados. “Permanecem políticas casuísticas e fragmentadas,


sem regras estáveis e operando em redes públicas obsoletas e deterioradas”.
(YAZBEK, 2001:37). E reafirma Soares:

“A filantropia substitui o direito social. Os pobres substituem os


cidadãos. A ajuda individual substitui a solidariedade coletiva. O
emergencial e o provisório substituem o permanente. As micro-situações
substituem as políticas públicas. O local substitui o regional e o nacional.
É o reinado minimalismo do social para enfrentar a globalização da
economia. Globalização só para o grande capital. Do trabalho e da
pobreza cada um cuida do seu como puder. De preferência, um Estado
forte para sustentar o sistema financeiro e falido para cuidar do social.”
(SOARES, 2003:12)

A cultura da “pós-modernidade”, na sua versão neoconservadora, é


produzida no lastro do atual estágio do que Harvey (1993) denomina de
“acumulação flexível do capital”.

Sendo condizente com a mercantilização universal e sua indissociável


descartabilidade, superficialidade e banalização da vida e gera tremores e
cismas nas esferas dos valores e da ética orientados à emancipação humana.
Considerando o pensamento pós-moderno contrapõe-se às teorias sociais que,
apoiadas nas categorias da razão moderna, cultivam as “grandes narrativas”.

Em questão, os paradigmas positivista e marxista e dilacera projetos e


utopias. Reitera, em contrapartida, a importância do fragmento, do efêmero, do
intuitivo e do micro-social. Invade a arte, a cultura, os imaginários e suas crenças,
os saberes cotidianos, as dimensões étnicas, raciais, religiosas e culturais na
construção de identidades esvaziadas de história (NETTO, 1996;YAZBEK, 2001;
SIMIONATO,1999).

Ao mesmo tempo, essa sociedade apresenta um terreno minado de


resistências e lutas travadas no dia a dia de uma conjuntura adversa para os
trabalhadores, as quais carecem de maior organicidade para terem força na cena
pública. Assim, o cenário, avesso aos direitos, atesta, contraditoriamente, a

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urgência de seu debate e de sua afirmação na realidade latino-americana, em


sua unidade de diversidades.

Num montante, considere o debate as particulares condições sócio-


históricas e culturais que, no País, fundam a construção dos direitos enquanto
conquistas e/ou concessões do poder, e os dilemas de sua efetivação na prática
social. Esses são, também, dilemas do Serviço Social.

Considerando o autor, um contexto sócio-histórico refratário aos influxos


democráticos exige, contraditoriamente, a construção de uma nova forma de
fazer política - que impregne a formação e o trabalho dos assistentes sociais-
capaz de acumular forças na construção de novas relações entre o Estado e a
sociedade civil que reduzam o fosso entre o desenvolvimento econômico e o
desenvolvimento social, entre o desenvolvimento das forças produtivas e das
relações sociais.

Requer, portanto, uma concepção de cidadania e de democracia para


além dos marcos liberais. A cidadania entendida como capacidade de todos os
indivíduos, no caso de uma democracia efetiva, de se apropriarem dos bens
socialmente produzidos, de atualizarem as potencialidades de realização
humana, abertas pela vida social em cada contexto historicamente determinado.
Nessa concepção abrangente, a democracia inclui a socialização da economia,
da política e da cultura na direção da emancipação humana, como sustenta
Coutinho (2000).

É a “política com muita política”, em contraposição à “pequena política”


e à “política dos técnicos”, a contra-política.

“Em outras palavras, o novo que perseguimos é o compromisso com a


prevalência do debate público e da participação democrática, que abra caminhos
para que cidadãos organizados interfiram e deliberem nas questões de interesse
coletivo, na busca de consensos possíveis para resolver os conflitos, organizar
e viver a vida.” (NOGUEIRA, 2001).

Assim neste contexto, é o terreno que atualiza a luta por direitos,


fundamental em uma época que descaracterizou a cidadania ao associá-la ao

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consumo, ao mundo do dinheiro e à posse das mercadorias. Um projeto


democrático se constrói no jogo de poderes e contra-poderes, na receptividade
às diferenças, na transparência das decisões, com publicização e controle
constante dos atos de poder e na afirmação da soberania popular.

Os assistentes sociais também são seus protagonistas sem abrir mão da


crítica e do controle social do Estado. Este é terreno em que um projeto ético-
político profissional comprometido com a universalização dos direitos pode
enraizar-se e expandir-se.

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O SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO: FUNDAMENTOS


HISTÓRICOS, TEÓRICOS METODOLÓGICOS E POLÍTICOS

Considerando a profissão como parte das transformações históricas da


sociedade presente, é necessário transpor o universo estritamente profissional,
isto é, romper com uma visão endógena da profissão, prisioneira em seus muros
internos. A intervenção profissional do assistente social é constitutiva de
diferentes dimensões, dentre elas, as dimensões teórico-metodológica, ético-
política e técnico-operativa; essas dimensões constituem uma relação de
unidade na diversidade; que a dimensão técnicooperativa do Serviço Social
expressa às demais dimensões; os instrumentos e técnicas são um dos
elementos constitutivos da dimensão técnicooperativa.

Tendo como parâmetro essas constatações, foram desenvolvidas a partir


das questões: O que são dimensões de uma intervenção? De quais dimensões
estamos falando? Qual o tratamento que damos às dimensões? Em seguida,

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nos detemos na dimensão técnicooperativa para situarmos os instrumentos e


técnicas como um dos elementos que constituem essa dimensão e materializam
as demais dimensões.

Conforme SANTOS (2002), o termo “dimensão” remete às propriedades


de alguma coisa, no sentido de seus pressupostos, de suas direções, de seus
princípios fundamentais. Assim, referem aos princípios que contribuem para a
concretização da profissão de Serviço Social e que formam a sua base.

Ou seja, são todos os elementos que constituem e são constitutivos da


profissão, intrínsecos à passagem da finalidade ideal – que está no âmbito do
pensamento, da projeção – à finalidade real – âmbito da efetividade da ação.
São as várias EXTENSÕES que determinam a profissão e suas particularidades.

Destacam três dimensões da intervenção profissional as quais são


confluentes aos autores no debate do campo profissional: a teóricometodológica;
a ético-política e a técnicooperativa. Essas dimensões encontram-se presentes
nas diferentes expressões do exercício profissional: formativa, investigativa,
organizativa e interventiva.

Elas formam entre si uma relação de unidade na diversidade. O que


significa essa afirmativa? UNIDADE significa uma relação visceral entre
diferentes, ou seja, essas dimensões são interligadas, interdependentes, se
complementam, apesar de manterem suas especificidades.

Por exemplo: a dimensão teórica de uma intervenção trata das diferentes


teorias que contribuem com o conhecimento da realidade. Realidade com a qual
o assistente social vai trabalhar e que se expressa no cotidiano profissional.

A dimensão política trata dos diferentes compromissos que a profissão


pode ter; das intencionalidades das ações; implica tomada de posições, no
entanto esse compromisso e essas intencionalidades possuem uma sustentação
teórica – mesmo que não se tenha consciência disso.

Ética é uma reflexão crítica sobre os valores presentes na ação humana


e se uma ação requer tomar partido, há uma relação intrínseca entre ética e
política. Ressaltamos que UNIDADE não pode ser confundida com

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IDENTIDADE, por isso, “unidade na diversidade”, apesar de se constituírem


em uma relação intrínseca, cada qual possui uma especificidade, uma natureza,
um âmbito. Ou seja, conforme já explicitado acima, a dimensão teórico-
metodológica fornece ao profissional um ângulo de leitura dos processos sociais,
de compreensão do significado social da ação, uma explicação da dinâmica da
vida social na sociedade capitalista.

Possibilita a análise do real. A dimensão ético-política envolve o projetar


a ação em função dos valores e finalidades do profissional, da instituição e da
população. É responsável pela avaliação das consequências de nossas ações –
ou a não avaliação dessas consequências.

São as diferentes posições e partidos que os profissionais assumem. Já


a dimensão técnico-operativa, é a execução da ação que se planejou, tendo por
base os valores, as finalidades e a análise do real. Sinteticamente, podemos
afirmar que a relação entre as dimensões se coloca no exercício profissional da
seguinte forma: teoria como instrumento de análise do real, onde ocorre a
intervenção profissional (dimensão teóricometodológica) para criar estratégias e
táticas de intervenção (dimensão técnico-operativa), comprometidas com um
determinado projeto profissional (dimensão ético-política).

O exercício profissional configura-se pela articulação das dimensões, e se


realiza sob condições subjetivas e objetivas historicamente determinadas, as
quais estabelecem a necessidade da profissão em responder as demandas da
sociedade através de requisições socioprofissionais e políticas, delimitadas
pelas correlações de forças sociais que expressam os diversos projetos
profissionais.

É com essa compreensão que foi oferecido destaque aqui, à dimensão


técnico-operativa, enquanto dimensão que em sua especificidade é a mais
aproximada da prática profissional, propriamente dita, e, que por ser assim,
necessariamente, expressa e contém as demais dimensões.

Ou seja, as ações expressam as concepções teórico-metodológica e


ético-política do profissional, mesmo que ele não tenha clareza de suas
concepções e de seus valores. Nesta direção, a dimensão técnico-operativa

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envolve um conjunto de estratégias, táticas e técnicas instrumentalizadoras da


ação, que efetivam o trabalho profissional, e que expressam uma determinada
teoria, um método, uma posição política e ética.

A dimensão técnico-operativa contém: existência de objetivos; busca


pela efetivação desses objetivos; existência de condições objetivas e subjetivas
para a efetivação da finalidade. Requer conhecer os sujeitos da intervenção; as
relações de poder, tanto horizontais quanto verticais; o perfil do usuário - a
natureza das demandas; o modo de vida dos usuários; as estratégias de
sobrevivência; a análise e aprimoramento das condições subjetivas;
conhecimento das atribuições profissionais e, conforme Trindade (2012) envolve
ações, procedimentos e instrumental técnico-operativo.

Buscando entender como essas transformações atingem o conteúdo e


direcionamento da própria atividade profissional; as condições e relações de
trabalho nas quais se realiza; afetam as atribuições, competências e requisitos
da formação do assistente social.

Porem essa perspectiva exige alargar os horizontes para o movimento


das classes sociais e do Estado em suas relações com a sociedade, não para
perder ou diluir as particularidades profissionais, mas, ao contrário, para iluminá-
las com maior nitidez; extrapolar o universo do Serviço Social para melhor
apreendê-lo na história da sociedade da qual ele é parte e expressão.

Atualmente o quadro sócio-histórico não se reduz, a um pano de fundo


para depois, discutir e questionar o trabalho profissional. Ele atravessa e
conforma o cotidiano do exercício profissional do assistente social afetando as
suas condições e as relações em que se realiza o exercício profissional, assim
como a vida da população usuária dos serviços sociais.

A análise crítica desse quadro requer um diagnóstico não liberal sobre os


processos sociais e a profissão neles inscrita. Uma análise do Serviço Social que
afirme a centralidade do trabalho na conformação da questão social e dos
direitos sociais consubstanciados em políticas sociais universais, em
contraposição às alternativas focalizadas e fragmentadas de combate à pobreza
e à miséria, que trata as maiorias como residuais.

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2
2

“-Sa perspectiva de análise foi introduzida no Serviço Social


brasileiro, em 1982. (Cf. IAMAMOTO & CARVALHO, 1982; IAMAMOTO,
1992). - centralidade do trabalho na constituição dos indivíduos sociais
foi diluído nas interpretações do marxismo herdadas do movimento de
reconceituação; um marxismo sem Marx, carregado de fortes marcas do
estruturalismo francês de Althusser e do marxismo soviético e/ou de
inspiração maoísta”.

Os processos históricos são reduzidos a um “contexto” distinto da prática


profissional, que a condiciona “externamente”. A “prática” é tida como uma
relação singular entre o assistente social e o usuário de seus serviços -, seu
“cliente” - desvinculada da “questão social” e das políticas sociais.

Sendo assim a visão histórica e focalista tende a subestimar o rigor


teórico-metodológico para a análise da sociedade e da profissão, -
desqualificado como “teoricismo” - em favor das visões empiristas, pragmáticas
e descritivas da sociedade e do exercício profissional, enraizadas em um
positivismo camuflado sob um discurso progressista de esquerda.

Nessa relação entre reprodução das relações sociais na sociedade


capitalista, a partir da teoria social crítica, é entendida como reprodução da
totalidade concreta desta sociedade, em seu movimento e em suas
contradições.

Sendo reprodução de um modo de vida que envolve o cotidiano da vida


social: um modo de viver e de trabalhar socialmente determinado. Não reduz o
processo de reprodução das relações sociais, pois, à reprodução da força viva
de trabalho e dos meios materiais de produção, ainda que os abarque.

Referindo à reprodução das forças produtivas sociais do trabalho e das


relações de produção na sua globalidade, envolvendo sujeitos e suas lutas
sociais, as relações de poder e os antagonismos de classes.

Envolve a reprodução da vida material e da vida espiritual, isto é, das


formas de consciência social,

 jurídicas,
 religiosas,

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2
3

 artísticas,
 filosóficas e científicas - através das quais os homens tomam
consciência das mudanças ocorridas nas condições materiais de
produção, pensam e se posicionam perante a vida em sociedade.

Esse modo de vida implica contradições básicas: por um lado, a igualdade


jurídica dos cidadãos livres é inseparável da desigualdade econômica, derivada
do caráter cada vez mais social da produção, contraposta à apropriação privada
do trabalho alheio (quem produz não é quem se apropria da totalidade do produto
do trabalho, da riqueza criada coletivamente). Por outro lado, ao crescimento do
capital corresponde a crescente pauperização relativa do trabalhador. Esta é a
lei geral da produção capitalista, que se encontra na raiz da “questão social”
nessa sociedade.

23
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4

A DIMENSÃO TÉCNICA- OPERATIVA E OS INSTRUMENTOS E


TECNICAS NO SERVIÇO SOCIAL

As dimensões técnico-operativo e instrumentalidade do Serviço


Social, apresentadas pelos autores (SANTOS, 2002, 2008, 2010 E 2012;
SANTOS E NORONHA, 2010; SANTOS, BACKX E GUERRA, 2012). Neste
sentido nosso objetivo não foi o de trazer elementos novos ao debate, mas sim,
socializar esse estudo com a categoria profissional, desta forma, ampliar essa
discussão e dar continuidade ao mesmo.

1ª - que a intervenção profissional do assistente social é constitutiva de


diferentes dimensões, dentre elas, as dimensões teórico-metodológica, ético-
política e técnico-operativa;

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2ª - que essas dimensões constituem uma relação de unidade na


diversidade;

3ª - que a dimensão técnicooperativa do Serviço Social expressa às


demais dimensões;

4ª - que os instrumentos e técnicas são um dos elementos constitutivos


da dimensão técnicooperativa.

Como parâmetro a essas constatações foram desenvolvidas temas a


partir das questões: O que são dimensões de uma intervenção? De quais
dimensões estamos falando? Qual o tratamento que damos às dimensões?

Em seguida, nos detém na dimensão técnicooperativa para situar os


instrumentos e técnicas como um dos elementos que constituem essa dimensão
e materializam as demais dimensões.

De acordo SANTOS (2002), o termo “dimensão” remete às propriedades


de alguma coisa, no sentido de seus pressupostos, de suas direções, de seus
princípios fundamentais.

Em caso, referem, aos princípios que contribuem para a concretização da


profissão de Serviço Social e que formam a sua baseou seja, são todos os
elementos que constituem e são constitutivos da profissão, intrínsecos à
passagem da finalidade ideal – que está no âmbito do pensamento, da projeção
– à finalidade real – âmbito da efetividade da ação. São as várias EXTENSÕES
que determinam a profissão e suas particularidades.

Portanto essas dimensões encontram-se presentes nas diferentes expressões


do exercício profissional:

 formativa,
 investigativa,
 organizativa e interventiva

Elas formam entre si uma relação de unidade na diversidade. O que


significa essa afirmativa? UNIDADE significa uma relação visceral entre
diferentes, ou seja, essas dimensões são interligadas, interdependentes, se

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complementam, apesar de manterem suas especificidades. Por exemplo: a


dimensão teórica de uma intervenção trata das diferentes teorias que contribuem
com o conhecimento da realidade.

A realidade com a qual o assistente social vai trabalhar e que se expressa


no cotidiano profissional. A dimensão política trata dos diferentes compromissos
que a profissão pode ter; das intencionalidades das ações; implica tomada de
posições, no entanto esse compromisso e essas intencionalidades possuem
uma sustentação teórica – mesmo que não se tenha consciência disso.

Ética é uma reflexão crítica sobre os valores presentes na ação humana


e se uma ação requer tomar partido, há uma relação intrínseca entre ética e
política. Ressaltamos que UNIDADE não pode ser confundida com
IDENTIDADE, por isso, “unidade na diversidade”, apesar de se constituírem
em uma relação intrínseca, cada qual possui uma especificidade, uma natureza,
um âmbito.

A dimensão ético-política envolve o projetar a ação em função dos valores


e finalidades do profissional, da instituição e da população.

É responsável pela avaliação das consequências de nossas ações – ou


a não avaliação dessas consequências. São as diferentes posições e partidos
que os profissionais assumem. Já a dimensão técnico-operativa, é a execução
da ação que se planejou, tendo por base os valores, as finalidades e a análise
do real.

A dimensão técnico-operativa contém: existência de objetivos; busca


pela efetivação desses objetivos; existência de condições objetivas e subjetivas
para a efetivação da finalidade.

De acordo a autora, requer conhecer os sujeitos da intervenção; as


relações de poder, tanto horizontais quanto verticais; o perfil do usuário - a
natureza das demandas; o modo de vida dos usuários; as estratégias de
sobrevivência; a análise e aprimoramento das condições subjetivas;
conhecimento das atribuições profissionais e, conforme Trindade (2012) envolve
ações, procedimentos e instrumental técnico-operativo.

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2
7

Para LIMA; MIOTO E DAL PRÀ (2007), essa dimensão é entendida como
o espaço de trânsito entre o projeto profissional e a formulação de respostas às
demandas que se impõem no cotidiano dos assistentes sociais.

Segundo Guerra (2012), “a dimensão técnico-operativa


se constitui no modo de aparecer da profissão, pela qual ela é
conhecida e reconhecida. Responde às questões: Para que
fazer? Para quem fazer? Quando e onde fazer? O que fazer?
Como fazer? Desta forma, essa dimensão técnico-operativa não
pode ser considerada de maneira autônoma, uma vez que
carrega em si as demais dimensões. Igualmente, não pode ser
considerada neutra: possui caráter ético-político sustentado em
fundamentos teóricos. Guerra (2012) considera que, a dimensão
técnicooperativa, como a razão de ser da profissão, remete às
competências instrumentais pelas quais a profissão é
reconhecida e legitimada.”

Ou seja, os instrumentos e técnicas são tratados – por diferentes autores


– como parte do instrumental técnico-operativo ou instrumental técnico ou acervo
técnico-instrumental.

Esses autores são congruentes ao afirmarem que esse instrumental ou


acervo é constituído por um conjunto articulado de instrumentos e técnicas.

Nesta direção, apontam o caráter histórico dos instrumentos e chamam a


atenção para o fato da escolha do instrumento da ação ser, necessariamente,
direcionada a uma finalidade.

Segundo Trindade (2001:66), “falar do instrumental técnico-operativo é


considerar a articulação entre instrumentos e técnicas, pois expressam a
conexão entre um elemento ontológico do processo de trabalho (os instrumentos
de trabalho) e o seu desdobramento – qualitativamente diferenciado – ocorrido
ao longo do desenvolvimento das forças produtivas (as técnicas)”.

Sendo assim, ao formar um conjunto dialeticamente articulado com as


técnicas, os instrumentos são constantemente aprimorados por elas, diante da

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2
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exigência de adequação das transformações da realidade, visando o


atendimento das mais diversificadas necessidades sociais, que são
historicamente determinadas.

Entretanto, o instrumental técnico-operativo possui um caráter histórico


sendo influenciado pelas relações sociais postas na sociedade. Ou seja, os
instrumentos são considerados como produto da ação humana, se constituindo
como meios de alcançar uma finalidade.

Nesta direção, o conteúdo da ação que ser quer efetivar com o uso de
determinado instrumento está, diretamente, relacionado com a finalidade
pretendida. Por sua vez a finalidade está no âmbito teórico.

Sendo assim, o Serviço Social atua na satisfação das demandas sociais


postas. A forma com que os profissionais respondem a essas demandas reflete
o seu projeto profissional. Ou seja, não há uma homogeneidade na profissão,
mas sim uma hegemonia de um determinado projeto de profissão – atualmente,
o que convencionamos chamar de projeto ético-político da profissão.

Portanto, os diferentes projetos estão em constante disputa. Cada projeto


determina uma interpretação da realidade e por isso determina tratamentos
diferenciados aos instrumentos e técnicas acionados pelos profissionais.

Essa afirmativa não significa, de forma alguma, dizer que existam


instrumentos e técnicas próprios a cada direção teórica, ao contrário, não há uma
relação direta entre instrumentos e teorias, e sim entre teoria e método.

Entretanto, afirmam que as direções teóricas orientam a finalidade na


escolha dos instrumentos, bem como, oferece o seu conteúdo.

Assim, os projetos expressam nossa cultura profissional (EIRAS; MOLJO


E SANTOS, 2012). Cultura que contém os conhecimentos e saberes (técnicos,
teóricos e interventivos) da profissão.

Ou seja, as competências teórico-metodológica, ético-política e


técnicooperativa são fundamentais para que os profissionais possam refletir
sobre a sua intervenção e recusar uma intervenção profissional baseada na

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9

reprodução automática de ações meramente conservadoras de nossa herança


cultural.

Porém só são possíveis as articulações quando a categoria em suas


ações as dimensões da prática profissional, reconhecendo a dimensão técnico-
operativa não, somente, em uma lógica instrumental.

Extrapolar essa lógica contribui para elaboração de respostas mais


qualificadas e adequadas às necessidades da população. Na utilização do
instrumental técnico-operativo, destacamos algumas competências importantes
no manuseio de instrumentos e técnicas condizentes com a ação que se
pretende desenvolver.

A primeira é a competência teórico-metodológica, através da qual os


profissionais conseguem fundamentar sua leitura da realidade. Destacam que
quanto maior o conhecimento teórico, mais amplo será a cadeia de mediações
e maiores as possibilidades encontradas para a intervenção.

Através do referencial teórico-metodológico define-se a intencionalidade


e a direção social empreendida na ação, possibilitando a escolha de
instrumentos e técnicas capazes de materializar essa intencionalidade.
Igualmente, é o conhecimento teórico da realidade que oferece o conteúdo a ser
tratado nos instrumentos de intervenção.

Por exemplo, se não tenho conhecimento teórico sobre as demandas


implícitas e explícitas postas pela população que tipo de informação e reflexão
será trocado com a população, tanto em uma entrevista, quanto em uma reunião
ou visita domiciliar? Ou seja, o conhecimento teórico e os demais conhecimentos
sobre a realidade (cultural, religioso, político, dentre outros) me oferecem o
conteúdo a ser trabalhado.

De outra forma, os instrumentos serão utilizados, apenas, para respostas


de cunho administrativo, pontual, material, instrumental. Sendo assim, outra
competência apontada é a éticopolítica. Essa competência é a responsável
pela escolha de instrumentos que vão ao encontro das finalidades e dos
compromissos do profissional.

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3
0

Com base nessa concepção, o agir profissional deve ser antecedido pelo
pensar sobre os valores que impregnam as ações do Serviço Social, sobre as
respostas que a profissão vem dando às demandas postas e sobre as direções
que orientam tais demandas.

Pode-se dizer que neste início de século XXI são reafirmadas diferentes
formas de conservadorismo que dão sustentação ao caos instalado na vida
social pelo viés econômico e sua organização que se dá em torno do trabalho
assalariado - explorado, e da propriedade privada. Nesse sentido é visível a
ofensiva do capital sobre as conquistas advindas das lutas da classe
trabalhadora e subalterna que fazem um contraponto à exploração
cotidianamente vivenciada.

Tal ofensiva tem como uma de suas principais manifestações a


apropriação do Fundo Público pelo mercado/iniciativa privada. Mantém-se uma
perpetuação histórica de configuração do Estado sob um prisma burocrático,
repressivo e claramente posicionado a favor dos interesses da burguesia em
detrimento dos interesses da classe trabalhadora.

Vivemos um período de parca intervenção estatal no que se refere aos


direitos sociais mesmo diante do acirramento e agravamento cotidiano das
múltiplas expressões da “questão social”. O tempo presente é tempo de fome,
miséria, pobreza, desemprego, carência dos direitos mais elementares.

Por outro lado, é tempo de comercialização desses mesmos direitos.


Saúde, educação, habitação, transporte, segurança, lazer, previdência, etc.,
tudo é comercializado, vendido no mercado. Diante disso, e considerando que o
objeto de intervenção do assistente social é a “questão social” e suas
manifestações, muitos desafios e tensões se põem no cotidiano profissional que
se dá, principalmente, em formular respostas e alternativas de enfrentamento via
institucional ao contexto acima apresentado. Considerando isso, e o fato de
historicamente o assistente social ser requisitado para “intermediar” a relação
capital x trabalho é urgente que a profissão não se submeta à lógica da mera
manipulação de variáveis, à adoção de práticas interventivas sem apropriação
do real em sua totalidade, isto é, à mera razão instrumental.

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1

Tornar o exercício profissional refém de um movimento que apenas


objetiva o alcance de metas institucionais e governamentais é negar qualquer
perspectiva crítica de tensionamento e alargamento da esfera política e
emancipatória, consequentemente, é ir contra os preceitos ético-políticos
defendidos no Código de Ética profissional.

Para ultrapassar este movimento que tem por características um


exacerbado messianismo ou um caráter fatalista é necessário aprofundamento
teórico mediante apropriações de teorias gerais e filosóficas que contribuem na
elucidação da realidade, na percepção da dialeticidade do movimento do real, e
neste caso, entendemos que a teoria social crítica contribui significativamente.

Nesse sentido recorremos às formulações de Guerra (2007) para


evidenciar a importância da instrumentalidade no exercício profissional do
assistente social. Ou seja, é necessário o conhecimento da profissão, de suas
condições, possibilidades e determinações. São essas reflexões que orientam
alternativas de ações e a escolha pelos instrumentos e técnicas da intervenção.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reflexão apresentada reforçar o campo teórico que reconhece o


planejamento enquanto uma competência do exercício profissional do assistente
social, mas que reconhece que tal atribuição deve refutar o caráter “funcional,
imediatista e praticista” de intervenção e pautar-se numa perspectiva
tensionadora, emancipatória e de liberdade.

Nesse sentido é fundamental que os profissionais aprofundem o


conhecimento sobre metodologias que venham a romper e superar com a forma
tradicional de planejamento, geralmente pautada na hierarquização das
atribuições e decisões entre técnicos - “detentores de um saber especializado” e
os sujeitos usuários/beneficiários de tais intervenções - planos, programas e
projetos.

Dentre as inúmeras metodologias em que o planejamento pode ser


realizado, enfatizamos o planejamento participativo, por considerar que esta
metodologia “horizontaliza” o ato de planejar, executar e avaliar, pois considera
os indivíduos sujeitos políticos com capacidade de interferir nas deliberações, no
que e como está sendo proposto.

Tal posicionamento afina-se com os preceitos defendidos pelo projeto


ético-político do Serviço Social materializados no Código de Ética profissional e
na Lei de Regulamentação da profissão. Dessa forma, é necessário que o
assistente social planejador, executor e avaliador de planos, programas e
projetos, se aproprie dessas metodologias e as incorpore no seu exercício
profissional nos diferentes leques de atuação.

Reconhecer a realidade considerando seus aspectos determinantes


(econômicos, sociais e políticos, etc.) e reconhecer os usuários de suas ações
como sujeitos de direito e sujeitos políticos é o movimento primeiro para superar
a burocratização e a tecnificação do planejamento, ações estas que são
funcionais para a manutenção da ordem desigual e contraditória da sociabilidade
capitalista.

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3
3

Alargar a esfera política, agregando forças e sujeitos e horizontalizar e


potencializar o processo de tomada de decisão rumo à construção de outra
ordem societária é o que se propõe o Serviço Social e neste movimento o
planejamento (e seus instrumentos) é uma de suas competências com
possibilidade de tensionamento do estruturalmente posto e mantido pelas
classes dominantes nesta sociabilidade burguesa.

analisar as mudanças impressas com o novo paradigma da PNAS, a partir do


SUAS e suas implicações para o Serviço Social contribuindo com o debate
acerca da PNAS e o papel do Assistente Social junto aos equipamentos - CRAS
e CREAS - da política. Com os resultados parciais já é possível uma inicial
consideração quanto a nossa hipótese: as respostas e as estratégias
desenvolvidas por estudiosos, pesquisadores da área do Serviço Social e da
Assistência Social inscritos na perspectiva teórico crítica enfrentam desafios
para o seu desenvolvimento à medida que encontram limites e/ou podem colidir
com os conceitos e princípios presentes nos instrumentos políticos e normativos
da Assistência Social, poder-se-á elaborar futuros projetos de atualização e
capacitação profissional para os profissionais que atuam nas prefeituras da
região e nas secretárias de Assistência Social.

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