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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL


COORDENAÇÃO DE CURSO
COORDENAÇÃO DE ESTÁGIO

A INSEGURANÇA ALIMENTAR NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19 E OS IMPACTOS


CAUSADOS AS FAMÍLIAS E AOS USUÁRIOS DA FUNDAÇÃO GOL DE LETRA.

Discentes: Izabelle Uchoa


Jéssica Almeida
Leticia Cardoso
Paula Nolasco

Disciplina: Supervisão de Estágio 2

Niterói
Setembro de 2021.
SUMÁRIO

I- APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL .......................................................................................... 3


II. JUSTIFICATIVA E PROBLEMATIZAÇÃO ............................................................................ 10
III. OBJETIVOS ................................................................................................................................. 19
III.I. Objetivos Geral: ......................................................................................................................... 19
III.II Objetivos Específicos: ............................................................................................................... 19
IV. PÚBLICO ALVO ......................................................................................................................... 20
V. PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS ...................................................................................... 20
VI. METAS .......................................................................................................................................... 22
VII. RECURSOS ................................................................................................................................. 22
VIII. AVALIAÇÃO ............................................................................................................................ 22
IX. CRONOGRAMA .......................................................................................................................... 23
X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E DOCUMENTAIS ...................................................... 25
XI. ANEXOS ....................................................................................................................................... 28
I- APRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL

A Fundação Gol de Letra é uma organização não governamental, inserida no terceiro


setor, não possui fins lucrativos e está voltada ao atendimento de crianças, adolescentes,
jovens e adultos moradores do bairro do Caju. A instituição nasceu a partir de um projeto dos
jogadores de futebol e tetracampeões mundiais Raí e Leonardo de poder contribuir com a
educação de crianças e adolescentes de comunidades socialmente vulneráveis, para que
tenham acesso a mais oportunidades.

Foi fundada em 10 de dezembro de 1998, no Dia Nacional dos Direitos Humanos, e,


atualmente possui duas unidades: uma no Caju, no estado do Rio de Janeiro e outra na Vila
Albertina, em São Paulo. Conta também com uma representação na França, por meio da
Associação Gol de Letra na França, criada em 2002 por iniciativa de voluntários, e que
promove eventos, articula ações, parcerias e mobiliza recursos de empresas no exterior para
que sejam revertidos aos projetos executados no Brasil.

Além disso, está vinculada à Política de Assistência Social, enquadrando-se no nível


de Proteção Social Básica. Com isso, um dos eixos fundamentais de sua atuação é a
identificação de famílias em situação de vulnerabilidade social ou de famílias que tenham
seus direitos violados e/ou não garantidos. Assim, atua no fortalecimento da proteção social
desses sujeitos, em articulação com os demais equipamentos públicos do território, bem como
preconiza a Política Nacional de Assistência Social (2004):

A proteção social básica tem como objetivos prevenir situações de risco por meio
do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos
familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de
vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário
ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos
afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de
gênero ou por deficiências, dentre outras).” (PNAS, 2004, p. 33)

Considerando que “a operacionalização da política de assistência social em rede, com


base no território, constitui um dos caminhos para superar a fragmentação na prática dessa
política” (PNAS, 2004, p. 44), a instituição tem no trabalho em rede um dos pilares de sua
metodologia, atuando em parceria com órgãos públicos, empresas e outras organizações
sociais, constitui-se como uma forma eficaz de ampliar a gama de serviços e ações de
proteção direcionada aos usuários.

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Seja em âmbito local, nas redes intersetoriais presentes em seus territórios de atuação,
seja em âmbito nacional1, há um esforço conjunto para discutir e implantar ações sociais
seguras e qualificadas contribuindo à garantia de direitos, à articulação de forças e à
representação política necessária a realização de transformações sociais em prol dos setores
subalternos da sociedade.

No âmbito institucional, o esporte funciona como instrumento de transformação e faz


parte da identidade da instituição. Desde o início, os programas da Fundação sempre foram
pautados pelos princípios da educação integral, do esporte educacional e de participação,
trabalhados em favor do desenvolvimento de crianças e adolescentes e das comunidades.
Além de ser um direito do cidadão, que deve ser, segundo a Constituição Federal de 1988,
incentivado pelo Estado2, o esporte é um fenômeno sociocultural, promotor da qualidade de
vida, articulador de pessoas e grupos e fortalecedor de vínculos e relações sociais.

Além disso, a prática esportiva é essencial ao desenvolvimento integral dos


indivíduos, pois promove a inclusão e a interação social, estimula à autonomia, o
florescimento de novas amizades, a ocupação de espaços, ensina valores de respeito à
diversidade, propicia a convivência democrática e o acolhimento de interesses individuais e
coletivos, além de inúmeros benefícios que traz à saúde. Sendo assim, a Fundação Gol de
Letra tem o esporte como fator de transformação social, de incentivo ao protagonismo e à
autonomia dos sujeitos e como um aspecto que permite garantir a visão de um olhar de
integralidade sobre o usuário.

A Constituição Federal de 1988 inaugurou um novo sistema de proteção social,


trazendo inovações e transformações, introduziu a chamado Seguridade Social3, afirmando-a
enquanto: “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade,
destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social"
(BRASIL, 1988). Desse modo, buscava, em geral, romper com as percepções restritas em
relação a cobertura e afrouxar vínculos entre contribuições e benefícios, de modo que
possibilitasse a criação de mecanismos mais solidários e redistributivos.

1
Referimo-nos aqui ao caso das redes de atuação pelo esporte e desenvolvimento humano, que possibilitam
fortalecer a equidade de gênero, a colaboração e a troca de experiências.
2
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 217, prevê que “É dever do Estado fomentar práticas
desportivas formais e não-formais, como direito de cada um”.
3
Presente no título da Ordem Social, capítulo II, seção I, artigo 194.

4
Assim, garante a saúde como um direito universal, a assistência social destinada a
quem dela necessitar e a previdência como um benefício de caráter contributivo, instituído
enquanto responsabilidade do Estado. Pode-se dizer que ela se ocupou em incorporar a noção
de direitos sociais universais como parte da condição de cidadania, no entanto, a
materialização desses direitos na realidade se conforma de modo bastante diferente de como
estão respaldados oficialmente.

Na década de 1990, com o avanço do neoliberalismo no Brasil, o Estado passa a


operar dentro de uma lógica gerencialista, guiada por princípios de competição, competência,
individualismo, consumismo, eficiência e eficácia, que se somam a uma lógica de
acumulação do capital financeiro e desconsideram os valores de igualdade, solidariedade,
justiça social e participação social. Com isso, há um processo de transferência de
responsabilidades do Estado para a sociedade civil, acarretando em um desmonte da proteção
social, que é vista como um gasto estatal não só desnecessário, como exagerado. Assim,
desmantela-se também a noção de direitos sociais, como bem público e que devem ser
garantidos pelo Estado.

É importante destacar que embora não tenha sido um fenômeno novo na história do
país, no período neoliberal, essa situação ganha contornos ainda mais perversos. Segundo
Yazbek (2000) assiste-se à ampliação do “deslocamento de ações públicas estatais no âmbito
da proteção social para a esfera privada”, incorporando a noção de “individualização do
risco”, na qual se oferta cada vez mais “direitos” (que passam a ser serviços, colocados como
mercadoria) no mercado privado.

Um outro reflexo do processo de redemocratização do país é o surgimento de uma


nova organização da sociedade civil, que se apresenta com uma nova face, configurada
através dos novos movimentos sociais. Pode-se dizer que há um processo de “subjetivação”
(Fleury, 2009), no qual, os indivíduos passam a se enxergar e se colocar, na vida social, como
atores importantes, enquanto protagonistas, construindo sujeitos políticos que são forjadas
através da organização política e coletiva. É dentro de tal cenário, que surgem as
Organizações Não Governamentais (ONGs), com maior força na década de 1990.

Conforme salienta a Associação Brasileira de ONG (ABONG) a denominação


‘’ONG’’ não representa um termo jurídico, mas social e historicamente construído.
Geralmente enquadram-se como entidades sem fins lucrativos, tais como, associações e/ou
fundações, reconhecidas ou não, formal ou informalmente, por órgãos governamentais nas

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instâncias municipais, estaduais e federal. Nesse contexto é que surgiu a Fundação Gol de
Letra, no final da década de 1990, conforme nos aponta Tenório:

Essas organizações não fazem parte do Estado, nem a ele estão vinculadas,
mas se revestem de caráter público na medida em que se dedicam a causas e
problemas sociais e em que, apesar de serem sociedades civis privadas, não
têm como objetivo o lucro, e sim o atendimento das necessidades da
sociedade (TENÓRIO. 2001, p. 07).

Conforme coloca Yazbek (2000), é necessário pensar de modo crítico as


contraditoriedades que atravessam o processo de transferência da responsabilidade estatal
para a esfera privada, sem deixar de destacar a necessidade produzida, do âmbito privado, de
suprir a desresponsabilização do Estado em cumprir as demandas da sociedade e enfrentar as
desigualdades sociais. As instituições (associações ou fundações privadas) não
governamentais, que expressam a sociedade civil organizada, com participação de
voluntários, para atendimentos de interesse público em diferentes áreas e segmentos
compõem o chamado Terceiro Setor.

Retornando a análise de Yazbek, esses segmentos devem ser pensados na sua


contraditatoriedade, já que ao mesmo tempo em que podem se tornar favoráveis à conquista
dos direitos sociais, através da oferta de serviços que proporcionam certa melhoria na
qualidade de vida e bem-estar; podem contribuir para o encolhimento do Estado em seu
dever: o de garantir políticas públicas estruturadas e acesso a direitos para a população, visto
que há uma relativa interiorização da viabilização de direitos e serviços sob a lógica privada.

Diante desse quadro, a Fundação Gol de Letra conquistou seu reconhecimento social e
político através do alargamento do conceito e representação de entidade e de ONG, pela Lei
Orgânica da Assistência Social de 1993, podendo ser identificada enquanto uma instituição
de

defesa e garantia de direitos (..) que, de forma continuada, permanente e planejada,


presta serviços e executa programas e projetos voltados prioritariamente para a
defesa e efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos direitos,
promoção da cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais, articulação com
órgãos públicos de defesa de direitos, dirigidos ao público da política de assistência
social”. (BRASIL, 1993)

E sobre tal aspecto, é possível observar também o que Montaño (2002) pontua acerca
do papel de instituições sem fins lucrativos. Estas vêm, historicamente, assumindo o papel do
Estado e, com isso, acabam sendo favoráveis à lógica de fragilização dos investimentos
públicos, corroborando ao processo de subfinanciamento das políticas públicas e,
paralelamente, ao desvio de recursos para atender aos interesses do capital. Ainda dentro de

6
tal situação, observa-se que também acaba por incrementar a precarização dos equipamentos
públicos, bem como das condições de trabalho dos profissionais inseridos nesses espaços. Tal
quadro gera tendências que não podem ser ignoradas, visto que possuem significativas
expressões na realidade.

Diante disso, é imprescindível destacar que a Fundação vai na contramão da


perspectiva benevolente e caritativa, aspectos históricos e típicos desses tipos de instituição.
Assim, adota uma postura profissional crítica e técnica, na qual os usuários são reconhecidos
enquanto sujeitos de direitos, proporcionando um trabalho qualitativamente diferenciado
daquele que sempre marcou a história dessas instituições: o assistencialismo e a filantropia. É
importante destacar que tais aspectos conformam-se enquanto uma questão estrutural, política
e ideológica, que sustentou a política de assistência social no Brasil, que ao permanecer,
vinculada culturalmente, à benemerência e à filantropia, impede a identidade do cidadão pelo
Estado, fortalecendo a ideia de uma relação de ajuda e de favor, não de direito.

Como já supracitado, a Fundação Gol de Letra tem como pressuposto atuar com a
comunidade do Caju que está em vulnerabilidade socioeconômica e oferecer ao público
usuário da instituição programas e projetos que contribuam ao seu desenvolvimento social e
ao seu bem-estar. Desse modo, tem como finalidade principal promover atividades que
atendam suas necessidades formativas, educativas e sociais, ampliando seu repertório
educacional e cultural, sua autonomia e preparando-os para o exercício da cidadania.

A partir da reflexão sobre a trajetória histórica da referida instituição e sua atuação no


território do Caju, desenvolvida em articulação com as redes locais e com o Centro de
Referência de Assistência Social, pode-se perceber que ela promove impactos no
desenvolvimento da proteção social no território. Além disso, torna-se também possível
repensar o papel das instituições de terceiro setor, considerando suas expressões na realidade
e traçando importantes parâmetros que deem subsídios a um olhar mais crítico para os seus
papéis no desenvolvimento das estratégias do Estado.

Os programas e projetos desenvolvidos pela Fundação Gol de Letra no estado do Rio


de Janeiro são: Biblioteca Comunitária do Caju, Programa Comunidades, Programa
Juventude e Oportunidade, Programa Jogo Aberto e Programa Dois Toques. Tendo em vista
que, os últimos dois projetos mencionados são focos deste projeto de intervenção,
especialmente porque se trata da área em que as estagiárias atuam, eles serão objeto de

7
descrição e reflexão. Tais programas contam com o auxílio de monitores que acompanham os
usuários nas aulas juntamente com os professores de educação física.

O Programa Jogo Aberto é uma ação de educação integral pautada em atividades de


esporte educacional para crianças e adolescentes, compreendo o público entre 6 e 17 anos.
Em sua rotina, o programa oferece práticas esportivas no contraturno escolar, em cinco
modalidades principais: Judô, Futsal, Tênis, Tênis de Mesa e Ginástica Rítmica. As oficinas
esportivas semanais possuem 90 minutos de duração e os participantes podem se inscrever
em até duas modalidades. Junto ao trabalho esportivo, os educadores realizam rodas de
conversas, semanas temáticas, mostras, desafios, além de promoverem a participação das
crianças e adolescentes em exibições e pequenos torneios externos.

O Programa Dois Toques é também uma ação de educação integral, pautada em duas
linhas de trabalho, para crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos: Esporte/Educação Física e
Letramento. No que tange ao primeiro, as oficinas são pautadas pela vertente educacional,
nas atividades esportivas de quadra e modalidades de Capoeira e Muay Thai, em jogos
adaptados, brincadeiras tradicionais brasileiras, atividades de desenvolvimento físico e
psicomotor. Nas oficinas de Letramento a proposta é o desenvolvimento da linguagem, da
sensibilidade e das habilidades básicas para o processo de leitura, escrita e interpretação de
textos, imagens e outras formas de linguagem comunicativa. As atividades acompanham as
oficinas de esporte e são complementares, ou seja, todos os participantes têm aulas de esporte
e letramento em todos os dias que frequentam o programa, permanecendo na Fundação Gol
de Letra por 3 horas diárias.

O público dos Programas Jogo Aberto e Dois Toques é composto por crianças e
adolescentes, de ambos os sexos, em sua maioria negros/as e pardos/as (66,8%), inseridos
majoritariamente no Ensino Fundamental I, totalizando cerca de 435 usuários. Dentre eles,
verifica-se que 55,6% têm uma renda mensal de 1 a 3 salários mínimos, ou seja, entre
R$1.100,00 e R$1.300,00 e uma renda per capta média de R$440,10, sendo por volta de 4
pessoas por residência. Diante dos dados apontados e de outros levantamentos estatísticos já
realizados, é possível apontar que cerca de 61% dos usuários/as da instituição encontram-se

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em situação de pobreza4, com baixa renda e com diferentes demandas colocadas por tal
circunstância - como moradia, alimentação, condição de emprego, dentre outros aspectos.

Para além disso, como já citado, todos/as os/as usuários/as são moradores/as do bairro
do Caju, uma favela localizada no bairro do Rio de Janeiro, próxima ao Centro da cidade e
que esta revela muitas contraditoriedades quando se observa o modo como os/as
moradores/as vivenciam seu cotidiano. Isto significa reconhecer que a “conformação
socioespacial e os interesses que estão em jogo dentro de um território é um dos principais
determinantes para realizar uma leitura da realidade da população que ocupa esse espaço,
como e porque ela ocupa” (AVELAR et al, 2021, p. 20).

Ressaltar tais pontos é muito importante para compreender os/as usuários/as em sua
integralidade, a partir da análise da totalidade de suas vidas, ou seja, compreendendo as
diversas determinações que incidem sob seu dia-a-dia. Além disso, é imprescindível para que
possamos refletir sobre a forma como a pandemia refletiu em tal público, visto que se tratou
de um momento de acirramento infindável das desigualdades, bem como de agudização da
precarização de vida para alguns setores da população. Sendo, então, um estudo
imprescindível à elaboração de um projeto de intervenção.

O projeto de intervenção que aqui se propõe elaborar visa dar continuidade a ações já
realizadas pela Fundação e dar subsídios a ações futuras, relacionadas ao contexto de
(in)segurança alimentar, especialmente no momento pandêmico vivenciado mundialmente.
Tratar-se-á de um projeto desenvolvido e organizado pelo setor de Serviço Social da
organização e, mais diretamente, pelas estagiárias ligadas ao Programa Jogo Aberto e Dois
Toques, que são: Izabelle Uchoa Barros, Jessica Almeida, Letícia Cardoso e Paula Nolasco,
além de ser supervisionado e acompanhado pelas supervisoras de campo, Natasha Schneider
e Thaissa Bento.

É importante salientar que o projeto será desempenhado enquanto uma continuidade


da Campanha de Segurança Alimentar, mas a partir de uma abordagem diferenciada, que não
se dará pela doação de cestas básicas ou através de quaisquer ações de fornecimento de
alimentos. Objetiva-se investigar, de modo mais profundo, como a pandemia afetou a
realidade das famílias usuárias, especialmente aquelas beneficiárias da Campanha, a fim de

4
A definição de pobreza aqui adotada é a do Banco Mundial. Para mais informações:
https://www.bancomundial.org/es/topic/poverty/overview

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contribuir para o tema, bem como para um melhor atendimento das necessidades dos/as
usuários/as.

A escolha pelo tema do projeto advém não somente pelo reconhecimento de que a
questão alimentar é latente na sociedade brasileira, conformando-se enquanto um problema
estrutural, mas pelas inúmeras demandas que chegaram até a Fundação no último ano.
Levando em consideração essa última razão, foi elaborada uma Campanha de Segurança
Alimentar que teve início no ano de 2020 e se desenvolveu até meados de 2021, no entanto,
tendo em mente de que tal ação precisa ser realizada de forma contínua, a fim de dar maior
subsídios a instituição, as redes de proteção, aos usuários e à própria comunidade, tem-se a
pretensão de realizar estudos e análises qualitativas que possam dar maiores contribuições
não somente à reflexão, mas também à intervenção sobre tal realidade.

Assim será um projeto realizado a partir de algumas frentes principais: a análise dos
dados que serão obtidos mediante entrevistas realizadas com as famílias que participaram da
Campanha e, posteriormente, um processo de pesquisa, respaldado pelas bases bibliográficas
(documentais e estatísticas) que servirão como embasamento teórico-metodológico orientador
do estudo. Ademais, pretende-se ainda realizar rodas de conversa, reuniões com as famílias,
produção de vídeos informativos, a fim de garantir que a construção coletiva seja um dos
pressupostos principais de todo o projeto.

Após a finalização das análises, será construído um documento, a fim de ser


compartilhado com o restante dos/as profissionais inseridos/as na instituição e com os
equipamentos do território, para que haja uma qualificação do atendimento, especialmente
quando relacionado às demandas que chegam e se associam à problemática estudada. Desse
modo, o projeto visa não somente promover e ampliar as discussões sobre o tema da fome,
como propor ações mais estruturadas ao atendimento da demanda, sempre reivindicando e
cobrando atuações efetivas do Estado, através construção e materialização de redes e políticas
públicas que possam dar conta das necessidades sociais apresentadas pelos/as usuários/as.

II. JUSTIFICATIVA E PROBLEMATIZAÇÃO

Como já mencionado, a Fundação Gol de Letra está localizada no bairro do Caju, que
é considerado um dos bairros centrais do estado do Rio de Janeiro. No entanto, apesar de
estar em uma localidade central existe ali um processo de segregação socioespacial notório,
onde é possível observar aquilo que Montaño (2002) traz acerca da “focalização geográfica

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invertida”, isto é, há uma dualização de respostas, de qualidades diferentes, tendo como ponto
de partida as localidades “pobres" e “ricas”.

Em seu processo histórico, o bairro do Caju já foi considerado uma área nobre, porém,
atualmente se tornou um complexo de favelas que, como parte do projeto de construção de
uma cidade desigual, tornou-se completamente invisível ao Estado. No ano de 2000, o Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) do bairro era de 0,753, ocupando a posição 111º entre as
126 regiões analisadas no município do Rio de Janeiro. Retornando a análise de Montaño
(2002), tem sido evidente a precarização das respostas estatais às demandas da população
mais pobre, fazendo com que careçam de recursos, políticas sociais e assistência adequadas,
restando apenas uma intervenção que se dá a partir de seu braço armado.

Devido ao contexto da pandemia de Covid-19, que se alastrou no Brasil a partir do


início de 2020, é possível afirmar que a situação é ainda mais agravante, as expressões da
questão social se aprofundaram consideravelmente, acentuando-se especialmente entre a
população que “depende do seu trabalho para sobreviver” (Antunes, 2020, p. 7). Um período
marcado pela alarmante e escancarada desigualdade social, com altos índices de desemprego
e, que ao gerar a perda da renda de inúmeras famílias, agravou as condições de pobreza e
fome. É um momento em que

além dos altíssimos índices globais de mortalidade, ampliam-se enormemente o


empobrecimento e a miserabilidade na totalidade da classe trabalhadora. Em
parcelas enormes desse contingente, como nos desempregados e informais, a
situação torna-se verdadeiramente desesperadora, com o Brasil se destacando como
um dos campões da tragédia. (ANTUNES, 2020, p. 7)

Tendo então em vista que o contexto pandêmico atingiu significativamente a classe


trabalhadora, exacerbando as desigualdades sociais, o enfrentamento da pandemia deve levar
em consideração o debate sobre as classes sociais. O isolamento social se deu por meios
diferentes se há uma comparação entre as classes sociais, isto porque enquanto a classe
burguesa teve maiores privilégios, podendo realizar a quarentena, a classe trabalhadora,
principalmente aqueles/as inseridos/as no mercado informal, não tiveram essa possibilidade,
pois precisavam trabalhar para poder sustentar a si e sua família.

A partir dos dados coletados e apresentados pela Pesquisa Nacional de Amostra por
Domicílios (PNAD), no ano de 2020, é possível inferir que houve um aprofundamento
significativo da desigualdade social no Brasil, juntamente com o agravamento da crise
sanitária provocada pela pandemia do Covid-19. A PNAD (IBGE, 2020) mostra que, na

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média, os 10% da população mais ricos perderam 3% da renda com a pandemia, enquanto os
40% mais pobres viram a renda familiar, que vem do trabalho, descontando o auxílio do
governo, cair mais de 30%. Tais estatísticas não só escancaram a desigualdade, mas também
a concentração de renda da sociedade brasileira, bem como a oneração que sempre recai
sobre a classe trabalhadora.

Soma-se a isso o fato de que, muitas vezes, essas pessoas não possuem acesso às
condições mínimas de saneamento básico, bem como acesso a informações qualificadas, que
garantam sua prevenção. Com isso, é possível afirmar que tal panorama enfatizou a situação
de crise que vinha se desenrolando, na qual a classe trabalhadora foi ainda mais afetada,
enquanto que para os detentores do capital ela nem sequer existiu. Segundo afirma Marx, a
riqueza de uma classe necessariamente custa a pobreza de outra, dentro de um sistema em
que a riqueza é socialmente produzida, mas privadamente apropriada, expropriando a classe
trabalhadora de tudo aquilo que ela produz.
Em virtude de tal cenário, a Fundação Gol de Letra passou a lidar com demandas cada
vez mais imediatas e relacionadas, principalmente, a questão da alimentação. Tal situação
acentua-se devido ao fato de que os/as usuários/as são, majoritariamente, crianças e
adolescentes, e o fechamento das escolas, não só prejudicou, como piorou as condições de
acesso à alimentação dos mesmos, visto que muitas vezes dependiam da merenda escolar
para conseguirem se alimentar5. No Rio de Janeiro tal realidade é alarmante, visto que o
Estado foi considerado o “líder” no “ranking” de queixas sobre a falta de alimentação
adequada oferecida nas escolas.6

No ano de 2020 completou-se três décadas do Estatuto da Criança e do Adolescente


(ECA - Lei 8069, de 13 de julho de 1990), no entanto, a data coincidiu com um período
extremamente delicado para a garantia dos direitos da criança e do adolescente tanto no
Brasil quanto no mundo, por causa da pandemia de Covid-19. Se anteriormente ao momento
pandêmico já era desafiador a viabilização dos direitos, atualmente estes tornaram-se cada
vez mais fragilizados destacando o direito de viver de forma digna.

Tendo vista que no âmbito escolar já haviam diversos desafios, a modificação ao


ensino remoto promoveu o agravamento desses, gerando um aumento dos casos de evasão

5
O direito à alimentação escolar na rede pública de ensino ocorre por meio do Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE).
6
Para mais informações: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/07/22/rio-concentra-queixas-no-
estado-sobre-alimentacao-escolar-precaria-durante-a-pandemia.ghtml

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escolar. Pois as aulas remotas causam maior pressão escolar, uma vez que responsabilizam a
criança e o adolescente pelo próprio aprendizado, até mesmo pelo fato dos responsáveis
muitas vezes não poderem acompanhá-los nesse processo, porque precisarem prover a
família. Além disso, por não estarem nas escolas muitos alunos deixaram de receber as
refeições escolares e estiveram mais expostos a situações de exploração e violência.

No entanto, apesar das escolas terem sido fechadas, a prefeitura alega que concedeu o
auxílio de cestas básicas, assim como um cartão alimentação criado durante o período
pandêmico aos estudantes. Contudo, foram medidas insuficientes e precárias. Através de um
relatório parcial da ouvidoria geral do órgão da Defensoria, a partir do resultado de uma
pesquisa iniciada em março de 2020, foram identificadas as seguintes questões: apenas uma
parcela do auxílio alimentação foi recebida; as famílias só receberam auxílio de um estudante
e não de todos que são membros da família; o valor foi considerado pelas famílias como
insuficiente e a quantidade de alimentos presentes na cesta básica também eram insuficientes.

Ademais, houveram queixas sobre as restrições dos alunos que não foram respeitadas,
como no caso dos estudantes que apresentam intolerância à lactose ou glúten; bem como
existiram reclamações das famílias referente ao recebimento de alimentos estragados ou fora
da validade. Por conseguinte, pode-se inferir que a fome se alastrou consideravelmente.
Diante dessa conjuntura, os direitos da criança e do adolescente foram significativamente
violados, tendo em vista que:

A Alimentação Escolar é direito dos alunos da educação básica pública e


dever do Estado. Neste sentido, na Cidade do Rio de Janeiro, o Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), destinado às escolas e creches,
tem o objetivo de garantir às crianças matriculadas nas unidades municipais
o acesso a uma alimentação saudável e adequada, que compreende o uso de
alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura e que promovam a
formação de hábitos alimentares saudáveis (PREFEITURA DO RIO, 2009)

Conforme aponta Guilherme Pimentel, ouvidor da Defensoria Pública (2021), com os


estudantes em casa as famílias acabaram tendo um custo bem maior nas despesas, o que
acarretou no deslocamento das famílias dos bairros mais pobres e nas favelas do Rio de
Janeiro para uma situação de extrema vulnerabilidade.

Dentro desse panorama, as assistentes sociais da instituição precisaram desenvolver


estratégias a fim de atender tal demanda, visando, ao mínimo, atenuar7 os impactos que tal

7
Aqui trata-se de atenuar, pois bem se sabe que não há como resolver, em sua raiz, a problemática da fome (e de
todas as outras expressões da questão social), dentro do modo de produção capitalista.

13
situação provocara e ainda provocaria na vida dos/as usuários/as. Assim, construíram e
atuaram frente à ação da Campanha de Segurança Alimentar, que consistiu na distribuição de
cestas básicas às famílias, mediante critérios estabelecidos pelo setor de Serviço Social, que
também foi responsável “por estabelecer e articular parcerias com atores e lideranças dos
bairros atendidos para a formação de uma rede comunitária (...) para mapear, cadastrar e
distribuir as cestas básicas entre as famílias” (FUNDAÇÃO GOL DE LETRA, 2020).

É fundamental destacar que tal distribuição não se resume a mera prática de


“doações”, com cariz assistencialista ou caridoso, mas sim enquanto resultado de um
processo de estudo, análise, reflexão e discussão entre a equipe, com o objetivo de atender
não somente as demandas, mas as necessidades sociais (e básicas) que vinham sendo
colocadas no cotidiano de trabalho. Ademais, tratou-se de uma atividade elaborada, planejada
e sistematizada, que partiu da premissa de que todos os sujeitos devem ter direito à
alimentação adequada e saudável, como assegurado pelas normativas jurídico-legais.

No entanto, a Campanha de Segurança Alimentar não conseguiu abranger todas as


famílias, visto que as cestas básicas foram construídas a partir de doações recebidas pela
Fundação, em quantidades limitadas. Sendo assim, foi necessário restringir-se às famílias que
tinham renda familiar de até R$500,00, além de outros critérios utilizados, tais como: famílias
em que nenhum membro possuísse fonte de renda (principalmente morando com crianças e
adolescentes); de mães solo; em determinadas condições de moradia (aluguel, feitas de
materiais temporários/ocupações, muitas pessoas em cômodos pequenos); famílias de pessoas
trans; e/ou com membros pertencentes aos grupos de risco para a Covid-19.8

Assim, diante de tal situação, as estagiárias e supervisoras de campo consideraram que


tal demanda é um ponto fulcral do momento atual e não está apenas relacionada a demandas
ou a situações específicas, mas enquanto parte estrutural do projeto societário e que precisa
ser abordado de modo mais amplo e consolidado. Com isso, propuseram-se a elaborar um
projeto de intervenção pautado na (in)segurança alimentar no contexto da pandemia de
Covid-19, para analisar os impactos causados às famílias e aos usuários da instituição,
possibilitando a extensão da Campanha, por meio de ações socioeducativas.

8
É fundamental destacar que tais critérios foram criados a partir do ano de 2021. Na primeira fase da
Campanha, no ano de 2020, não haviam critérios de renda. Com isso, em 2020 foram atendidas cerca de 4.600
famílias, enquanto que no ano de 2021, 1.040 famílias.

14
É importante destacar que a fome é um elemento estrutural do modo de produção
capitalista e que assola, sobretudo, as populações mais pauperizadas. Com o surgimento de
um contexto pandêmico, em que muitos indivíduos perderam seus empregos e que os preços
dos alimentos aumentaram consideravelmente9, consequentemente, a fração da classe
trabalhadora que ainda possuía poder aquisitivo de compra para o consumo de alimentos,
passou a enfrentar dificuldades para consumi-los.

Diante dessa conjuntura, o governo promoveu um auxílio emergencial, sancionado


através da Lei 13.982/20, no valor de 600 reais para a população que cumprisse os critérios
estabelecidos e para as mães-solo, num valor de 1.200 reais. No entanto, é essencial destacar
que isto se deu entre abril e agosto 2020, já em setembro e dezembro do mesmo ano, o valor
caiu pela metade para todos os beneficiários. Configurando-se, portanto, na prática, como
uma ação extremamente burocrática (devido a todos os critérios e funcionamento
estabelecidos), que não conseguiram alcançar toda a população (especialmente aquela que
realmente necessitava), com um valor baixo, não chegando a um salário mínimo, e, assim,
não dando conta de todas as necessidades da população.10

Tal focalização e precarização é possível de ser entendida a partir do que nos aponta
Montaño (2002), de que os neoliberais pretendem fazer com que a população acredite que o
Estado está “falido”, ou seja, sem possibilidades de obter recursos de outras vias que não as
obrigações tributárias11. Com isso, além de usurpar economicamente a população, não poderá
destinar importante (e devido) volume de financiamento às políticas sociais e serviços
assistenciais. Segundo o governo federal, o auxílio emergencial não poderia ser de maior
valor e nem contínuo durante todo o período da pandemia pois o Estado não tinha dinheiro
para “ceder” tanto à população. Com isso, não somente se precariza as condições de vida da
classe trabalhadora, mas também rompe com o viés de direito social, colocando-o no lugar da
benesse e da ajuda.

9
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2021) e o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA, 2021) os alimentos que mais subiram de preço foram: óleo de soja em 84%; feijão
fradinho em 49%; peito bovino 48%; arroz em 47% e acém em 40%. Sendo assim, esses alimentos que
representam o consumo da maioria da população acabaram crescendo consideravelmente seus preços.
10
Conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2021)
em seu último levantamento em maio de 2021, o preço da cesta básica no Rio de Janeiro atualmente custa 622
reais e 76 centavos, enquanto auxílio emergencial no ano de 2021 está sendo disponibilizado no valor de 150
reais e para as mulheres chefes de famílias 375 reais.
11
Sobre isto, é importante salientar que tais obrigações têm se colocado, cada vez mais, sobre o consumo,
fazendo com que o sistema tributário brasileiro seja extremamente regressivo.

15
Dessa forma, respaldando-se em um discurso neoliberal, o governo ratificou a
desresponsabilização estatal, culpabilizando os próprios indivíduos por terem perdido sua
renda durante a conjuntura pandêmica e, assim, por serem os únicos responsáveis por
recupera-la novamente – ainda que grande parte da população já vivesse sob árduas
condições de vida. Soma-se a isso, um aumento12 significativo da chamada superpopulação
relativa, que vive em baixas ou péssimas condições de sobrevivência - tanto no que diz
respeito às condições de trabalho, quanto de sua vida social.

Indubitavelmente, esse atual momento que o país enfrenta prejudicou fortemente a


classe trabalhadora que teve sua renda e seus direitos sociais básicos ainda mais ameaçados.
Sendo assim, pode-se comparar esse período a um documentário atemporal que retrata a fome
no Brasil, o Ilha das Flores (1989), abordando uma sociedade totalmente globalizada e
dominada pelo capitalismo, na qual existe uma larga produção de alimentos, mas que não
chega para todos. As classes sociais que possuem poder aquisitivo conseguem ter acesso aos
alimentos diretamente do supermercado ao compra-los, já os que não têm dinheiro para
comprar alimentos acabam tendo que passar por situações degradantes para alimentar-se,
ferindo assim seus direitos humanos.13

Ao analisarmos as expressões da questão social presentes no documentário é possível


relacionar também com a atual conjuntura pandêmica, em que ocorre o agravamento da fome,
pobreza, desemprego, a dificuldade do acesso à saúde, assistência, educação e a intensa
violação dos direitos, visto que, de acordo com a Constituição Federal de 1988, artigo 6º:
‘’São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte,
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados’’ (BRASIL, 1988).

Entretanto, esses direitos estão constantemente sendo atacados, traduzindo-se em


medidas focalizadas e seletivas que acabam sendo geradas como respostas governamentais,
mas que, na realidade, apenas desvia parcos recursos para “suprir” as necessidades pontuais
das classes trabalhadoras. Conforme aponta Montaño (2002) o Estado retira sua

12
Aumento esse que já vinha se desenhando e crescendo progressivamente desde a década de 90, mas que em
tal momento, em uma conjuntura incomum, se aprofunda.
13
Como é possível assimilar com o vigente momento pandêmico em que diversos indivíduos foram
morar próximos aos lixões para conseguir alimentar-se, assim como as imensas filas nos açougues para poder
conseguir suprir-se de restos de ossos.

16
responsabilidade social, deixando amplos segmentos da população precariamente atendidos
ou literalmente desassistidos pelo poder público.

A atuação do trabalho do Serviço Social na Fundação Gol de Letra certamente não


substituiu a atuação do Estado, que promoveu respostas insuficientes no contexto pandêmico,
não minimizando o aprofundamento da desigualdade social neste período. Entretanto, não
podemos desconsiderar que a atuação da Fundação Gol de Letra se desenvolveu a fim de
atenuar o agravamento das expressões da questão social, especialmente levando em
consideração o cenário de sucateamento dos serviços públicos e de má gestão nacional.

Com isso, o terceiro setor se coloca a atuar com as demandas emergenciais dos
indivíduos, e, em geral, acaba por reproduzir uma função social, mas reforçando um
compromisso assistencialista e fragilizado, visto que não alcança uma população numerosa e
também não possui uma ação contínua e duradoura. Com tal quadro, implanta-se na produção
cultural da sociedade uma lógica de “anti-Estado”, que tem repercussões fortíssimas no
desmonte dos direitos sociais.

A política social no Brasil passa a ser determinada pela política econômica


monetarista que empreende o ajuste fiscal, que promove a privatização
(mercantilização dos serviços sociais para os que podem pagar),
seletividade/focalização (com políticas pobres para os mais pobres) e
descentralização (desconcentração e desresponsabilização do Estado)
(BEHRING ; BOSCHETTI, 2007).

Mesmo com o reconhecimento da Seguridade Social, com a Constituição Federal de


1988, o país nunca conseguiu instituir uma seguridade social ampla e universal, que visasse a
ampliação de direitos. Embora sancionada nas orientações legais de modo abrangente, na
realidade, se impôs de maneira muito restritiva e, com o passar do tempo, especialmente a
partir do recrudescimento neoliberal no Brasil, vai se tornando ainda mais limitada.
Conforme aponta Boschetti (2021) a condição de capitalismo periférico dependente do Brasil
instituiu uma seguridade social que é quase uma cópia, do ponto de vista legal e formal, dos
modelos europeus, em condições de estruturação e desenvolvimento dos padrões capitalistas
completamente distintos.

Além disso, há um processo contínuo e sistemático de transferências enormes de


parcelas do fundo público e de recursos para o capitalismo central, o que faz com que a
seguridade social não consiga se implementar nos moldes de ampliação de acesso aos
direitos. Ademais, não existe, de fato, um orçamento da seguridade social como havia sido

17
idealizado pela Carta Magna de 1988, assim, ela é sucessivamente vítima de desmontes e não
encontra possibilidades de se materializar no cotidiano.

A ofensiva neoliberal derruiu o projeto democrático conquistado pela


Constituição de 1988, fruto de ampla mobilização de setores progressistas da
sociedade. A Seguridade Social passa a ser o maior alvo de ataques do
projeto em curso, principalmente no âmbito orçamentário. (SILVA, 2011)

Por conseguinte, a assistência social, além de não ser universal e não seguir a lógica
do seguro, não tem nenhuma condição de enfrentar as desigualdades decorrentes da
exploração capitalista sobre o trabalho, pois ela tem o caráter muito limitado e emergencial.
Justamente por tais características, ela foi se agigantando no Brasil à medida em que foram
retraindo o acesso às políticas públicas, de previdência, do acesso ao trabalho e da própria
saúde.

Desde o ano de 2016, os direitos sociais vêm sendo cada vez mais destituídos e
correndo o risco até mesmo de extinção, visto a promulgação da Emenda Constitucional
95/2016, que representou uma destruição das políticas sociais e da seguridade social. Desse
modo, no contexto da pandemia, foram oferecidas respostas bastante limitadas, frágeis e
insatisfatórias, ao mesmo passo em que aumentaram as demandas com saúde e proteção
assistencial. enfrenta-se um governo ultraneoliberal que vem destruindo cada vez mais os
direitos da classe trabalhadora.

De acordo com José Paulo Netto (2012) as medidas tomadas pelo Estado são mínimas
para a classe trabalhadora e máximas para o capital, ao mesmo tempo em que são destinados
trilhões para os capitais os recursos destinados para a classe trabalhadora não chegam nem a
um bilhão, além do mais, esses recursos são burocráticos, informatizados, pouco práticos e
ineficientes.

O fundo público é instrumento fundamental no desenvolvimento das relações


de produção capitalistas, portanto sua imprescindibilidade ao capital é de
caráter estrutural. A composição do fundo público se dá por recursos
advindos tanto do trabalho excedente, o que quer dizer da mais-valia extraída
da exploração do trabalho alheio, quanto do trabalho necessário, via
tributação que no contexto brasileiro é regressiva e onera a classe
trabalhadora. Os mecanismos de captura desses recursos pela forma mais
fetichizada do capital em tempos atuais têm sido, dentre outros, o desmonte
dos direitos sociais historicamente constituídos e a financeirização perversa
da Seguridade Social, que tem no âmbito orçamentário um dos seus
principais instrumentos contra-reformista. (SILVA, 2011)

Em suma, são drenados do fundo público grande parte dos recursos oriundos da classe
trabalhadora para a remuneração do capital portador de juros. É necessário salientar também,

18
que o fundo público tem uma parcela considerável destinada ao pagamento das despesas das
dívidas públicas. Além do trabalho excedente, o trabalho necessário também tem sido usado
para alimentar a acumulação do capital que porta juros.

O financiamento das políticas sociais acaba ficando a cargo da classe trabalhadora,


consequentemente as políticas sociais no país apresentam graves limites em promover a
redistribuição de renda. A seguridade social não existe mais do ponto de vista orçamentário
no qual possa assegurar os direitos em que não houve sua ampliação, mas só a sua redução
visando à acumulação do capital, conforme aponta Carvalho e Iamamoto (2006) ‘’a
acumulação da miséria é proporcional a acumulação do capital.’’

Portanto, tendo em vista todos esses pontos aqui abordados ressaltamos a importância
deste projeto de intervenção que visa a socialização de informações, em razão de que nesse
período pandêmico não é solução somente a concessão de cestas básicas. Eventualmente, os
próximos anos serão difíceis para as políticas públicas e para o fundo público, sendo
extremamente importante lutar pela permanência, defesa e ampliação das políticas sociais,
pois são uma forma do retorno do trabalho necessário e do trabalho excedente para a classe
que produz toda riqueza socialmente existente: a classe trabalhadora. Devido a isso, é
profundamente relevante a união da classe trabalhadora a fim de pensar coletivamente e
politicamente, principalmente com esse atual (des)governo que está exterminando cada dia
mais os direitos da população.

III. OBJETIVOS

III.I. Objetivos Geral:


Apreender como a insegurança alimentar, acentuada com o surgimento da pandemia
do Covid-19, afetou a vida dos usuários e suas famílias.

III.II Objetivos Específicos:


 Viabilizar o acesso à informação acerca dos seus direitos;
 Articular estratégias para possibilitar o acesso à alimentação;
 Proporcionar o conhecimento e diálogo entre os usuários sobre as suas condições de
vida/experiências;
 Dar visibilidade à necessidade do investimento estatal na criação de políticas públicas
consolidadas acerca da segurança alimentar.

19
IV. PÚBLICO ALVO
232 famílias usuárias da instituição que participaram da Campanha de Segurança Alimentar.

V. PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS
Tendo este projeto de intervenção como público alvo as 232 famílias, dentre elas as
famílias dos monitores da instituição, que foram contempladas na Campanha de Segurança
Alimentar, as estagiárias irão realizar uma pesquisa, a fim de compreender o impacto
ocasionado em seus cotidianos, diante um cenário pandêmico, além de analisar os impactos
efetivos da Campanha de Segurança Alimentar, bem como seus alcances, limites e
possibilidades. Também se buscará que tal discussão seja realizada a partir de uma
articulação com os direitos sociais básicos, a fim de refletir de que modo eles estão sendo
viabilizados e materializados na realidade – se é que estão.
Além disso, para enriquecer o processo de análise, serão realizadas entrevistas com
um membro de cada família participante, além da sistematização dos dados, análise dos
mesmos e devolutivas para esse público, a fim de que os mesmos tomem nota do trabalho e
conclusões que foram tiradas. Além das entrevistas, o trabalho engloba a produção de vídeos
informativos e rodas de conversa a respeito de temas que perpassam essa temática da
insegurança alimentar.

O método adotado para as entrevistas será o de entrevistas fechadas, a fim de garantir


que a conversa seja estritamente direcionada aos objetivos do projeto de intervenção. Mas
para além disso, opta-se por tal alternativa tendo em vista que serão realizadas por meio
telefônico e assim, objetiva-se causar o menor nível de interferência na organização da rotina
dessas famílias, bem como o menor incômodo possível. Tal atividade será desenvolvida pelas
três estagiárias, Jessica Almeida, Letícia Cardoso e Paula Nolasco, sendo o total de famílias
dividido de modo igualitário pelas três.

A produção dos vídeos também será realizada pelas estagiárias, objetivando promover
o acesso a informações que podem auxiliar os/as usuários/as no processo de conhecimento e
reflexão sobre o tema. Pretende-se que os vídeos sejam curtos, entre 1 minuto e 3 minutos,
com o intuito de assegurar a atenção, bem como facilitar o compartilhamento nas redes
sociais institucionais. Tem-se como propósito a produção de 7 vídeos, disponibilizados entre
o período do mês de janeiro e mês de fevereiro do ano de 2022, organizados conforme a
tabela a seguir.

20
TEMA DATA
O que é a fome? 12/01/2022
O direito à alimentação adequada e saudável 19/01/2022
Cadastro Único - o que é/importância 26/01/2022
Programa Bolsa Família e Benefício de 02/02/2022
Prestação Continuada
Benefício Eventual de Vulnerabilidade 07/02/2022
Temporária: alimentação
Política Nacional de Alimentação Escolar 14/02/2022
Proteção e Atendimento Integral à Família e 23/02/2022
Serviços de Convivência e Fortalecimento
de Vínculos

Propõe-se que seja realizada uma reunião grupal com o público alvo para refletir
sobre suas histórias de vida, sobre sua relação com o mundo, suas percepções e demandas
relativas à questão da fome, além de proporcionar o fomento da discussão e a construção
coletiva. Trata-se de uma atividade que tem como objetivo primordial, produzir o que nos
traz Perez (1991), novos modos de pensar e agir, de forma coletiva, abarcando todos na
sociedade em que vivem, a partir de sua realidade local e dos seus “universos de fala” que
devem ser ouvidos e investigados, possibilitando, então, que juntos, construam a sua prática,
como sujeitos de sua própria história.

Serão realizadas também, quinzenalmente, reuniões de equipe, para refletir sobre os


dados encontrados e redesenhar, continuamente, o projeto, levando em consideração de que
modo ele está se adequando à realidade institucional, bem como os impactos em relação
aos/as usuários/as. Ademais, pretende-se apreender as diferentes alternativas que vão se
colocando ao longo do processo, estudando e investigando sobre seus potenciais e viabilidade
na realidade.

Após a finalização das análises e intervenções planejadas, objetiva-se produzir um


documento final, para expor os impactos e resultados promovidos tanto pela Campanha de
Segurança Alimentar, quanto pelo projeto de intervenção aqui realizado. Tal relatório será
destinado aos equipamentos públicos do território, tais como o Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) XV de Maio e para o restante da equipe profissional da
instituição, a fim de possibilitar uma compreensão da realidade de modo mais aprofundado,

21
bem como uma intervenção mais qualificada sobre as necessidades sociais apresentadas por
eles/as. Será produzida ainda uma devolutiva aos usuários, também em forma de documento,
a fim de que possam participar, de forma ativa e protagonista, de todo o processo e seus
resultados.

VI. METAS

Realizar as entrevistas com 100% do Indicador: Atendimento a todas as 232


público-alvo. (duzentas e trinta e duas) famílias atendidas
pela campanha de Segurança Alimentar;
Análise do material das entrevistas para a Indicador: Produção de dados acerca da
produção de dados estatísticos; renda, raça, gênero, situação ocupacional e
impactos;
Analisar o material das entrevistas, a partir Indicador: Elaboração de um documento
do estudo bibliográfico e dos debates em escrito, com as relativas relações;
grupo;
Promover processos de reflexão com as Indicador: 60% de presença nas reuniões
famílias, a partir de debates sobre temáticas grupais, bem como a participação ativa;
relacionadas à segurança alimentar;
Assegurar informações sobre acesso a Indicador: 60% de espectadores dos vídeos
direitos, benefícios e serviços. que serão produzidos e a respectiva
repercussão.

VII. RECURSOS

 Não serão necessários recursos financeiros provenientes diretamente da instituição;


 Recursos humanos: estagiárias, assistentes sociais e usuários selecionados para o
projeto;
 Recursos materiais: equipamentos eletrônicos (celulares para realização das
entrevistas e produção dos vídeos; computadores/notebooks para realização da
pesquisa, estudo bibliográfico e participação nas reuniões).

VIII. AVALIAÇÃO
Primeiramente, realizaremos a avaliação diagnóstica anterior a execução do projeto de
intervenção a fim de compreender o que já vinha sendo realizado na Fundação Gol de Letra,
em relação à Campanha de Segurança Alimentar. A partir do levantamento dos dados, sobre
quais famílias foram contempladas para receberem as cestas básicas, assim como a análise
das políticas públicas e as redes de proteção social presentes na localidade do Caju, será
possível apreender melhor a realidade da instituição e dos/as usuários/as. Ademais,

22
avaliaremos as estratégias que foram construídas para a responder as demandas, assim como
seus limites e possibilidades.
Em segundo lugar, na execução do projeto de intervenção objetivamos construir a
avaliação de processo a fim de monitorar o percurso do projeto de intervenção e
eventualmente corrigir os possíveis desvios de sua execução. Para avaliarmos o processo de
execução produziremos a cada quinze dias, uma planilha com todas as metas que planejamos
atingir durante esse período e no final verificar se elas foram ou não cumpridas. Com isso,
serão realizadas também reuniões em equipe para avaliação destas.

Por último, ao final do projeto de intervenção iremos avaliar o resultado e os impactos


que foram possíveis alcançar. Sendo assim, para medir os resultados e o impacto que foram
ocasionados, realizaremos uma avaliação com o público-alvo através de uma reunião com as
famílias, abrindo um espaço para o diálogo, a fim de apreender se o projeto interventivo
trouxe ou não as metas que planejamos, como também a sua efetividade e capacidade de
transformação da realidade

IX. CRONOGRAMA

PRIMEIRO QUADRIMESTRE

Atividades Setembro Outubro Novembro Dezembro

Identificação e x
análise das demandas

Reuniões de x x x x
Elaboração dos
Planos de Ação

Organização do x
Roteiro

Elaboração do pré- x
projeto

23
Contato com os x x
atores sociais
envolvidos
(Entrevistas)

Análise de Fontes x x

Estudo Bibliográfico x x

Relatório Preliminar x

Férias x

SEGUNDO TRIMESTRE

Atividades Janeiro Fevereiro Março

Produção de vídeos x x x
sobre o tema

Oficina x

Reunião de Família x
sobre Insegurança
Alimentar

Preparação e Confecção x
do Material do Projeto

Avaliação das Ações x x x

Relatório Final x

24
X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E DOCUMENTAIS

ABONG. Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais. Disponível em:


http://crepop.pol.org.br/262_abong-%E2%80%93-associacao-brasileira-deorganizacoes-nao-
governamentais. Acesso em: setembro de 2021

Aliança pela Alimentação Adequada. Os 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente e o


Direito a Alimentação, 2020. Disponível em: https://alimentacaosaudavel.org.br/blog/os-30-
anos-do-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente-e-o-direito-a-alimentacao/8196/ Acesso em:
setembro de 2021.

ANTUNES, R. Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado. São Paulo: Boitempo, 2020.

AVELAR, Karina. SCHNEIDER, Natasha. SANTOS, Priscila. BENTO, Thaissa.


Parâmetros de Trabalho do Serviço Social da Fundação Gol de Letra elaborado em
janeiro 2021.

BEHRING, Elaine Rosetti; BOSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história.


São Paulo: Cortez, 2007.

BRASIL, Constituição de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990.

BRASIL. Diretrizes da alimentação escolar: Lei Nº. 11947 de 16/06/2009. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11947.htm Acesso em:
setembro de 2021.

BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social, Lei número 8.742, de 7 de dezembro de 1993.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742compilado.htm Acesso em:
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BRASIL, Política Nacional de Assistência Social – PNAS 2004. Disponível em:


https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS2004.p
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CARVALHO, Raul; IAMAMOTO, Marilda Vilela. Relações Sociais e Serviço Social no


Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 19 ed. São Paulo: Cortez,
2006

25
DIEESI. Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos. Preço da
Cesta Básica em maio de 2021. Disponível em: https://www.dieese.org.br/ Acesso em:
setembro de 2021.

DOCUMENTÁRIO Ilha das Flores. Disponível em: Documentário Ilha das flores
(documentário) (Filme). Acesso em: setembro de 2021.

FLEURY, Sonia. Reforma sanitária brasileira: dilemas entre o instituinte e o instituído.


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FUNDAÇÃO Gol de Letra. Disponível em: https://www.goldeletra.org.br/institucional/


Acesso em: setembro de 2021.

IBGE: Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística e IPCA: Índice Nacional de Preços ao


Consumidor Amplo. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-
e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-consumidor-amplo.html Acesso em: setembro de
2021.

G1 - Notícias: Rio Concentra Queixas no Estado sobre alimentação escolar precária durante a
pandemia. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/07/22/rio-
concentra-queixas-no-estado-sobre-alimentacao-escolar-precaria-durante-a-pandemia.ghtml
Acesso em: setembro de 2021.

G1- Notícias: A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD) mostra que a
pandemia agravou a desigualdade econômica no Brasil. Disponível em:
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/02/09/pandemia-agrava-problema-cronico-
do-brasil-a-desigualdade-economica.ghtml Acesso em: setembro de 2021.
Live: Seguridade Social, fundo público e coronavírus - Professoras Ivanete Boschetti e
Rebecca Rocha. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=gGhcACTiDto Acesso em:
setembro de 2021.

MONTAÑO, Carlos. Terceiro setor e questão social; crítica ao padrão emergente de


intervenção social. São Paulo: Cortez, 2002.

NETTO, José Paulo. Crise do Capital e consequências societárias. Disponível em:


https://www.scielo.br/j/sssoc/a/D6MmJKCjKYqSv6kyWDZLXzt/?lang=pt Acesso em:
setembro de 2021.

26
SILVA, Gisele S. da. Fundo Público e Políticas Sociais: o trabalho necessário sob a égide
do capital portador de juros. In: Anais do I Circuito de Debates Acadêmicos. Conferência
de Desenvolvimento, 2011, IPEA. Disponível em: ipea.gov.br. Acesso em: setembro de 2021.

PEREZ, Geraldo. Educação Popular segundo Paulo Freire. Bolema, Rio Claro – SP, v. 6,
n. 7, 1991.

PREFEITURA DO RIO; Consulta a Merenda Escolar. Disponível em:


https://carioca.rio/servicos/consulta-a-merenda-escolar/ Acesso em: Setembro de 2021.

TENÓRIO, Fernando G. (Org.). Gestão de ONGs, principais funções gerenciais. 5.ed. São
Paulo: FGV, 2001.

YAZBEK, M. Terceiro setor e despolitização da questão social brasileira. In PERES C,


PRATES, L. (org) Voluntariado e a gestão de políticas sociais. São Paulo: 2000.

27
XI. ANEXOS

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS RESPONSÁVEIS DOS USUÁRIOS


ACERCA DO CONTEXTO DE PANDEMIA DE COVID-19

Dados de identificação:
Nome do responsável:
Telefone:
Idade:
Nome do usuário:

ENTREVISTA:

1. O/A senhor(a) está empregado(a) atualmente?


2. Caso esteja empregado(a), é emprego formal ou informal?
3. O/A senhor(a) perdeu o emprego durante a pandemia?
4. Alguém na sua casa que ajudava a compor a renda familiar perdeu o emprego durante
a pandemia?
5. Quem é a pessoa que sustenta financeiramente a casa? (chefe de família)
6. Antes da pandemia como era composta a renda da sua casa?
7. A renda era suficiente para sustentar sua família?
8. Sua renda atual tem dado conta das despesas da sua casa?
9. O senhor recebe algum auxílio do governo?
10. Já recebia antes da pandemia?
11. Tinha algum problema de saúde antes da Pandemia?
12. Desenvolveu algum problema de saúde durante a pandemia?
13. A cesta básica que a Fundação disponibilizou na campanha de segurança alimentar foi
relevante para a sua situação?
14. A cesta foi suficiente ou precisaram complementar ao longo do mês?
15. A criança continua matriculada na escola?
16. Ela tem conseguido acompanhar os estudos?
17. A criança tinha suas principais refeições realizadas na escola? (café, almoço ou
janta?)
18. De 0 a 10 como classificaria a relevância/importância da Fundação Gol de Letra na
vida da sua família?

28
Data: 21 de setembro de 2021.
Assinatura das estagiárias:

Supervisoras de campo (ass. e carimbo com o nº do CRESS):

Supervisora acadêmica (ass. e carimbo com o nº do CRESS):

29

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