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Niterói
Setembro de 2021.
SUMÁRIO
A proteção social básica tem como objetivos prevenir situações de risco por meio
do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos
familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de
vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário
ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos
afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de
gênero ou por deficiências, dentre outras).” (PNAS, 2004, p. 33)
3
Seja em âmbito local, nas redes intersetoriais presentes em seus territórios de atuação,
seja em âmbito nacional1, há um esforço conjunto para discutir e implantar ações sociais
seguras e qualificadas contribuindo à garantia de direitos, à articulação de forças e à
representação política necessária a realização de transformações sociais em prol dos setores
subalternos da sociedade.
1
Referimo-nos aqui ao caso das redes de atuação pelo esporte e desenvolvimento humano, que possibilitam
fortalecer a equidade de gênero, a colaboração e a troca de experiências.
2
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 217, prevê que “É dever do Estado fomentar práticas
desportivas formais e não-formais, como direito de cada um”.
3
Presente no título da Ordem Social, capítulo II, seção I, artigo 194.
4
Assim, garante a saúde como um direito universal, a assistência social destinada a
quem dela necessitar e a previdência como um benefício de caráter contributivo, instituído
enquanto responsabilidade do Estado. Pode-se dizer que ela se ocupou em incorporar a noção
de direitos sociais universais como parte da condição de cidadania, no entanto, a
materialização desses direitos na realidade se conforma de modo bastante diferente de como
estão respaldados oficialmente.
É importante destacar que embora não tenha sido um fenômeno novo na história do
país, no período neoliberal, essa situação ganha contornos ainda mais perversos. Segundo
Yazbek (2000) assiste-se à ampliação do “deslocamento de ações públicas estatais no âmbito
da proteção social para a esfera privada”, incorporando a noção de “individualização do
risco”, na qual se oferta cada vez mais “direitos” (que passam a ser serviços, colocados como
mercadoria) no mercado privado.
5
instâncias municipais, estaduais e federal. Nesse contexto é que surgiu a Fundação Gol de
Letra, no final da década de 1990, conforme nos aponta Tenório:
Essas organizações não fazem parte do Estado, nem a ele estão vinculadas,
mas se revestem de caráter público na medida em que se dedicam a causas e
problemas sociais e em que, apesar de serem sociedades civis privadas, não
têm como objetivo o lucro, e sim o atendimento das necessidades da
sociedade (TENÓRIO. 2001, p. 07).
Diante desse quadro, a Fundação Gol de Letra conquistou seu reconhecimento social e
político através do alargamento do conceito e representação de entidade e de ONG, pela Lei
Orgânica da Assistência Social de 1993, podendo ser identificada enquanto uma instituição
de
E sobre tal aspecto, é possível observar também o que Montaño (2002) pontua acerca
do papel de instituições sem fins lucrativos. Estas vêm, historicamente, assumindo o papel do
Estado e, com isso, acabam sendo favoráveis à lógica de fragilização dos investimentos
públicos, corroborando ao processo de subfinanciamento das políticas públicas e,
paralelamente, ao desvio de recursos para atender aos interesses do capital. Ainda dentro de
6
tal situação, observa-se que também acaba por incrementar a precarização dos equipamentos
públicos, bem como das condições de trabalho dos profissionais inseridos nesses espaços. Tal
quadro gera tendências que não podem ser ignoradas, visto que possuem significativas
expressões na realidade.
Como já supracitado, a Fundação Gol de Letra tem como pressuposto atuar com a
comunidade do Caju que está em vulnerabilidade socioeconômica e oferecer ao público
usuário da instituição programas e projetos que contribuam ao seu desenvolvimento social e
ao seu bem-estar. Desse modo, tem como finalidade principal promover atividades que
atendam suas necessidades formativas, educativas e sociais, ampliando seu repertório
educacional e cultural, sua autonomia e preparando-os para o exercício da cidadania.
7
descrição e reflexão. Tais programas contam com o auxílio de monitores que acompanham os
usuários nas aulas juntamente com os professores de educação física.
O Programa Dois Toques é também uma ação de educação integral, pautada em duas
linhas de trabalho, para crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos: Esporte/Educação Física e
Letramento. No que tange ao primeiro, as oficinas são pautadas pela vertente educacional,
nas atividades esportivas de quadra e modalidades de Capoeira e Muay Thai, em jogos
adaptados, brincadeiras tradicionais brasileiras, atividades de desenvolvimento físico e
psicomotor. Nas oficinas de Letramento a proposta é o desenvolvimento da linguagem, da
sensibilidade e das habilidades básicas para o processo de leitura, escrita e interpretação de
textos, imagens e outras formas de linguagem comunicativa. As atividades acompanham as
oficinas de esporte e são complementares, ou seja, todos os participantes têm aulas de esporte
e letramento em todos os dias que frequentam o programa, permanecendo na Fundação Gol
de Letra por 3 horas diárias.
O público dos Programas Jogo Aberto e Dois Toques é composto por crianças e
adolescentes, de ambos os sexos, em sua maioria negros/as e pardos/as (66,8%), inseridos
majoritariamente no Ensino Fundamental I, totalizando cerca de 435 usuários. Dentre eles,
verifica-se que 55,6% têm uma renda mensal de 1 a 3 salários mínimos, ou seja, entre
R$1.100,00 e R$1.300,00 e uma renda per capta média de R$440,10, sendo por volta de 4
pessoas por residência. Diante dos dados apontados e de outros levantamentos estatísticos já
realizados, é possível apontar que cerca de 61% dos usuários/as da instituição encontram-se
8
em situação de pobreza4, com baixa renda e com diferentes demandas colocadas por tal
circunstância - como moradia, alimentação, condição de emprego, dentre outros aspectos.
Para além disso, como já citado, todos/as os/as usuários/as são moradores/as do bairro
do Caju, uma favela localizada no bairro do Rio de Janeiro, próxima ao Centro da cidade e
que esta revela muitas contraditoriedades quando se observa o modo como os/as
moradores/as vivenciam seu cotidiano. Isto significa reconhecer que a “conformação
socioespacial e os interesses que estão em jogo dentro de um território é um dos principais
determinantes para realizar uma leitura da realidade da população que ocupa esse espaço,
como e porque ela ocupa” (AVELAR et al, 2021, p. 20).
Ressaltar tais pontos é muito importante para compreender os/as usuários/as em sua
integralidade, a partir da análise da totalidade de suas vidas, ou seja, compreendendo as
diversas determinações que incidem sob seu dia-a-dia. Além disso, é imprescindível para que
possamos refletir sobre a forma como a pandemia refletiu em tal público, visto que se tratou
de um momento de acirramento infindável das desigualdades, bem como de agudização da
precarização de vida para alguns setores da população. Sendo, então, um estudo
imprescindível à elaboração de um projeto de intervenção.
O projeto de intervenção que aqui se propõe elaborar visa dar continuidade a ações já
realizadas pela Fundação e dar subsídios a ações futuras, relacionadas ao contexto de
(in)segurança alimentar, especialmente no momento pandêmico vivenciado mundialmente.
Tratar-se-á de um projeto desenvolvido e organizado pelo setor de Serviço Social da
organização e, mais diretamente, pelas estagiárias ligadas ao Programa Jogo Aberto e Dois
Toques, que são: Izabelle Uchoa Barros, Jessica Almeida, Letícia Cardoso e Paula Nolasco,
além de ser supervisionado e acompanhado pelas supervisoras de campo, Natasha Schneider
e Thaissa Bento.
4
A definição de pobreza aqui adotada é a do Banco Mundial. Para mais informações:
https://www.bancomundial.org/es/topic/poverty/overview
9
contribuir para o tema, bem como para um melhor atendimento das necessidades dos/as
usuários/as.
A escolha pelo tema do projeto advém não somente pelo reconhecimento de que a
questão alimentar é latente na sociedade brasileira, conformando-se enquanto um problema
estrutural, mas pelas inúmeras demandas que chegaram até a Fundação no último ano.
Levando em consideração essa última razão, foi elaborada uma Campanha de Segurança
Alimentar que teve início no ano de 2020 e se desenvolveu até meados de 2021, no entanto,
tendo em mente de que tal ação precisa ser realizada de forma contínua, a fim de dar maior
subsídios a instituição, as redes de proteção, aos usuários e à própria comunidade, tem-se a
pretensão de realizar estudos e análises qualitativas que possam dar maiores contribuições
não somente à reflexão, mas também à intervenção sobre tal realidade.
Assim será um projeto realizado a partir de algumas frentes principais: a análise dos
dados que serão obtidos mediante entrevistas realizadas com as famílias que participaram da
Campanha e, posteriormente, um processo de pesquisa, respaldado pelas bases bibliográficas
(documentais e estatísticas) que servirão como embasamento teórico-metodológico orientador
do estudo. Ademais, pretende-se ainda realizar rodas de conversa, reuniões com as famílias,
produção de vídeos informativos, a fim de garantir que a construção coletiva seja um dos
pressupostos principais de todo o projeto.
Como já mencionado, a Fundação Gol de Letra está localizada no bairro do Caju, que
é considerado um dos bairros centrais do estado do Rio de Janeiro. No entanto, apesar de
estar em uma localidade central existe ali um processo de segregação socioespacial notório,
onde é possível observar aquilo que Montaño (2002) traz acerca da “focalização geográfica
10
invertida”, isto é, há uma dualização de respostas, de qualidades diferentes, tendo como ponto
de partida as localidades “pobres" e “ricas”.
Em seu processo histórico, o bairro do Caju já foi considerado uma área nobre, porém,
atualmente se tornou um complexo de favelas que, como parte do projeto de construção de
uma cidade desigual, tornou-se completamente invisível ao Estado. No ano de 2000, o Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) do bairro era de 0,753, ocupando a posição 111º entre as
126 regiões analisadas no município do Rio de Janeiro. Retornando a análise de Montaño
(2002), tem sido evidente a precarização das respostas estatais às demandas da população
mais pobre, fazendo com que careçam de recursos, políticas sociais e assistência adequadas,
restando apenas uma intervenção que se dá a partir de seu braço armado.
A partir dos dados coletados e apresentados pela Pesquisa Nacional de Amostra por
Domicílios (PNAD), no ano de 2020, é possível inferir que houve um aprofundamento
significativo da desigualdade social no Brasil, juntamente com o agravamento da crise
sanitária provocada pela pandemia do Covid-19. A PNAD (IBGE, 2020) mostra que, na
11
média, os 10% da população mais ricos perderam 3% da renda com a pandemia, enquanto os
40% mais pobres viram a renda familiar, que vem do trabalho, descontando o auxílio do
governo, cair mais de 30%. Tais estatísticas não só escancaram a desigualdade, mas também
a concentração de renda da sociedade brasileira, bem como a oneração que sempre recai
sobre a classe trabalhadora.
Soma-se a isso o fato de que, muitas vezes, essas pessoas não possuem acesso às
condições mínimas de saneamento básico, bem como acesso a informações qualificadas, que
garantam sua prevenção. Com isso, é possível afirmar que tal panorama enfatizou a situação
de crise que vinha se desenrolando, na qual a classe trabalhadora foi ainda mais afetada,
enquanto que para os detentores do capital ela nem sequer existiu. Segundo afirma Marx, a
riqueza de uma classe necessariamente custa a pobreza de outra, dentro de um sistema em
que a riqueza é socialmente produzida, mas privadamente apropriada, expropriando a classe
trabalhadora de tudo aquilo que ela produz.
Em virtude de tal cenário, a Fundação Gol de Letra passou a lidar com demandas cada
vez mais imediatas e relacionadas, principalmente, a questão da alimentação. Tal situação
acentua-se devido ao fato de que os/as usuários/as são, majoritariamente, crianças e
adolescentes, e o fechamento das escolas, não só prejudicou, como piorou as condições de
acesso à alimentação dos mesmos, visto que muitas vezes dependiam da merenda escolar
para conseguirem se alimentar5. No Rio de Janeiro tal realidade é alarmante, visto que o
Estado foi considerado o “líder” no “ranking” de queixas sobre a falta de alimentação
adequada oferecida nas escolas.6
5
O direito à alimentação escolar na rede pública de ensino ocorre por meio do Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE).
6
Para mais informações: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/07/22/rio-concentra-queixas-no-
estado-sobre-alimentacao-escolar-precaria-durante-a-pandemia.ghtml
12
escolar. Pois as aulas remotas causam maior pressão escolar, uma vez que responsabilizam a
criança e o adolescente pelo próprio aprendizado, até mesmo pelo fato dos responsáveis
muitas vezes não poderem acompanhá-los nesse processo, porque precisarem prover a
família. Além disso, por não estarem nas escolas muitos alunos deixaram de receber as
refeições escolares e estiveram mais expostos a situações de exploração e violência.
No entanto, apesar das escolas terem sido fechadas, a prefeitura alega que concedeu o
auxílio de cestas básicas, assim como um cartão alimentação criado durante o período
pandêmico aos estudantes. Contudo, foram medidas insuficientes e precárias. Através de um
relatório parcial da ouvidoria geral do órgão da Defensoria, a partir do resultado de uma
pesquisa iniciada em março de 2020, foram identificadas as seguintes questões: apenas uma
parcela do auxílio alimentação foi recebida; as famílias só receberam auxílio de um estudante
e não de todos que são membros da família; o valor foi considerado pelas famílias como
insuficiente e a quantidade de alimentos presentes na cesta básica também eram insuficientes.
Ademais, houveram queixas sobre as restrições dos alunos que não foram respeitadas,
como no caso dos estudantes que apresentam intolerância à lactose ou glúten; bem como
existiram reclamações das famílias referente ao recebimento de alimentos estragados ou fora
da validade. Por conseguinte, pode-se inferir que a fome se alastrou consideravelmente.
Diante dessa conjuntura, os direitos da criança e do adolescente foram significativamente
violados, tendo em vista que:
7
Aqui trata-se de atenuar, pois bem se sabe que não há como resolver, em sua raiz, a problemática da fome (e de
todas as outras expressões da questão social), dentro do modo de produção capitalista.
13
situação provocara e ainda provocaria na vida dos/as usuários/as. Assim, construíram e
atuaram frente à ação da Campanha de Segurança Alimentar, que consistiu na distribuição de
cestas básicas às famílias, mediante critérios estabelecidos pelo setor de Serviço Social, que
também foi responsável “por estabelecer e articular parcerias com atores e lideranças dos
bairros atendidos para a formação de uma rede comunitária (...) para mapear, cadastrar e
distribuir as cestas básicas entre as famílias” (FUNDAÇÃO GOL DE LETRA, 2020).
8
É fundamental destacar que tais critérios foram criados a partir do ano de 2021. Na primeira fase da
Campanha, no ano de 2020, não haviam critérios de renda. Com isso, em 2020 foram atendidas cerca de 4.600
famílias, enquanto que no ano de 2021, 1.040 famílias.
14
É importante destacar que a fome é um elemento estrutural do modo de produção
capitalista e que assola, sobretudo, as populações mais pauperizadas. Com o surgimento de
um contexto pandêmico, em que muitos indivíduos perderam seus empregos e que os preços
dos alimentos aumentaram consideravelmente9, consequentemente, a fração da classe
trabalhadora que ainda possuía poder aquisitivo de compra para o consumo de alimentos,
passou a enfrentar dificuldades para consumi-los.
Tal focalização e precarização é possível de ser entendida a partir do que nos aponta
Montaño (2002), de que os neoliberais pretendem fazer com que a população acredite que o
Estado está “falido”, ou seja, sem possibilidades de obter recursos de outras vias que não as
obrigações tributárias11. Com isso, além de usurpar economicamente a população, não poderá
destinar importante (e devido) volume de financiamento às políticas sociais e serviços
assistenciais. Segundo o governo federal, o auxílio emergencial não poderia ser de maior
valor e nem contínuo durante todo o período da pandemia pois o Estado não tinha dinheiro
para “ceder” tanto à população. Com isso, não somente se precariza as condições de vida da
classe trabalhadora, mas também rompe com o viés de direito social, colocando-o no lugar da
benesse e da ajuda.
9
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2021) e o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA, 2021) os alimentos que mais subiram de preço foram: óleo de soja em 84%; feijão
fradinho em 49%; peito bovino 48%; arroz em 47% e acém em 40%. Sendo assim, esses alimentos que
representam o consumo da maioria da população acabaram crescendo consideravelmente seus preços.
10
Conforme o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2021)
em seu último levantamento em maio de 2021, o preço da cesta básica no Rio de Janeiro atualmente custa 622
reais e 76 centavos, enquanto auxílio emergencial no ano de 2021 está sendo disponibilizado no valor de 150
reais e para as mulheres chefes de famílias 375 reais.
11
Sobre isto, é importante salientar que tais obrigações têm se colocado, cada vez mais, sobre o consumo,
fazendo com que o sistema tributário brasileiro seja extremamente regressivo.
15
Dessa forma, respaldando-se em um discurso neoliberal, o governo ratificou a
desresponsabilização estatal, culpabilizando os próprios indivíduos por terem perdido sua
renda durante a conjuntura pandêmica e, assim, por serem os únicos responsáveis por
recupera-la novamente – ainda que grande parte da população já vivesse sob árduas
condições de vida. Soma-se a isso, um aumento12 significativo da chamada superpopulação
relativa, que vive em baixas ou péssimas condições de sobrevivência - tanto no que diz
respeito às condições de trabalho, quanto de sua vida social.
12
Aumento esse que já vinha se desenhando e crescendo progressivamente desde a década de 90, mas que em
tal momento, em uma conjuntura incomum, se aprofunda.
13
Como é possível assimilar com o vigente momento pandêmico em que diversos indivíduos foram
morar próximos aos lixões para conseguir alimentar-se, assim como as imensas filas nos açougues para poder
conseguir suprir-se de restos de ossos.
16
responsabilidade social, deixando amplos segmentos da população precariamente atendidos
ou literalmente desassistidos pelo poder público.
Com isso, o terceiro setor se coloca a atuar com as demandas emergenciais dos
indivíduos, e, em geral, acaba por reproduzir uma função social, mas reforçando um
compromisso assistencialista e fragilizado, visto que não alcança uma população numerosa e
também não possui uma ação contínua e duradoura. Com tal quadro, implanta-se na produção
cultural da sociedade uma lógica de “anti-Estado”, que tem repercussões fortíssimas no
desmonte dos direitos sociais.
17
idealizado pela Carta Magna de 1988, assim, ela é sucessivamente vítima de desmontes e não
encontra possibilidades de se materializar no cotidiano.
Por conseguinte, a assistência social, além de não ser universal e não seguir a lógica
do seguro, não tem nenhuma condição de enfrentar as desigualdades decorrentes da
exploração capitalista sobre o trabalho, pois ela tem o caráter muito limitado e emergencial.
Justamente por tais características, ela foi se agigantando no Brasil à medida em que foram
retraindo o acesso às políticas públicas, de previdência, do acesso ao trabalho e da própria
saúde.
Desde o ano de 2016, os direitos sociais vêm sendo cada vez mais destituídos e
correndo o risco até mesmo de extinção, visto a promulgação da Emenda Constitucional
95/2016, que representou uma destruição das políticas sociais e da seguridade social. Desse
modo, no contexto da pandemia, foram oferecidas respostas bastante limitadas, frágeis e
insatisfatórias, ao mesmo passo em que aumentaram as demandas com saúde e proteção
assistencial. enfrenta-se um governo ultraneoliberal que vem destruindo cada vez mais os
direitos da classe trabalhadora.
De acordo com José Paulo Netto (2012) as medidas tomadas pelo Estado são mínimas
para a classe trabalhadora e máximas para o capital, ao mesmo tempo em que são destinados
trilhões para os capitais os recursos destinados para a classe trabalhadora não chegam nem a
um bilhão, além do mais, esses recursos são burocráticos, informatizados, pouco práticos e
ineficientes.
Em suma, são drenados do fundo público grande parte dos recursos oriundos da classe
trabalhadora para a remuneração do capital portador de juros. É necessário salientar também,
18
que o fundo público tem uma parcela considerável destinada ao pagamento das despesas das
dívidas públicas. Além do trabalho excedente, o trabalho necessário também tem sido usado
para alimentar a acumulação do capital que porta juros.
Portanto, tendo em vista todos esses pontos aqui abordados ressaltamos a importância
deste projeto de intervenção que visa a socialização de informações, em razão de que nesse
período pandêmico não é solução somente a concessão de cestas básicas. Eventualmente, os
próximos anos serão difíceis para as políticas públicas e para o fundo público, sendo
extremamente importante lutar pela permanência, defesa e ampliação das políticas sociais,
pois são uma forma do retorno do trabalho necessário e do trabalho excedente para a classe
que produz toda riqueza socialmente existente: a classe trabalhadora. Devido a isso, é
profundamente relevante a união da classe trabalhadora a fim de pensar coletivamente e
politicamente, principalmente com esse atual (des)governo que está exterminando cada dia
mais os direitos da população.
III. OBJETIVOS
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IV. PÚBLICO ALVO
232 famílias usuárias da instituição que participaram da Campanha de Segurança Alimentar.
V. PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS
Tendo este projeto de intervenção como público alvo as 232 famílias, dentre elas as
famílias dos monitores da instituição, que foram contempladas na Campanha de Segurança
Alimentar, as estagiárias irão realizar uma pesquisa, a fim de compreender o impacto
ocasionado em seus cotidianos, diante um cenário pandêmico, além de analisar os impactos
efetivos da Campanha de Segurança Alimentar, bem como seus alcances, limites e
possibilidades. Também se buscará que tal discussão seja realizada a partir de uma
articulação com os direitos sociais básicos, a fim de refletir de que modo eles estão sendo
viabilizados e materializados na realidade – se é que estão.
Além disso, para enriquecer o processo de análise, serão realizadas entrevistas com
um membro de cada família participante, além da sistematização dos dados, análise dos
mesmos e devolutivas para esse público, a fim de que os mesmos tomem nota do trabalho e
conclusões que foram tiradas. Além das entrevistas, o trabalho engloba a produção de vídeos
informativos e rodas de conversa a respeito de temas que perpassam essa temática da
insegurança alimentar.
A produção dos vídeos também será realizada pelas estagiárias, objetivando promover
o acesso a informações que podem auxiliar os/as usuários/as no processo de conhecimento e
reflexão sobre o tema. Pretende-se que os vídeos sejam curtos, entre 1 minuto e 3 minutos,
com o intuito de assegurar a atenção, bem como facilitar o compartilhamento nas redes
sociais institucionais. Tem-se como propósito a produção de 7 vídeos, disponibilizados entre
o período do mês de janeiro e mês de fevereiro do ano de 2022, organizados conforme a
tabela a seguir.
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TEMA DATA
O que é a fome? 12/01/2022
O direito à alimentação adequada e saudável 19/01/2022
Cadastro Único - o que é/importância 26/01/2022
Programa Bolsa Família e Benefício de 02/02/2022
Prestação Continuada
Benefício Eventual de Vulnerabilidade 07/02/2022
Temporária: alimentação
Política Nacional de Alimentação Escolar 14/02/2022
Proteção e Atendimento Integral à Família e 23/02/2022
Serviços de Convivência e Fortalecimento
de Vínculos
Propõe-se que seja realizada uma reunião grupal com o público alvo para refletir
sobre suas histórias de vida, sobre sua relação com o mundo, suas percepções e demandas
relativas à questão da fome, além de proporcionar o fomento da discussão e a construção
coletiva. Trata-se de uma atividade que tem como objetivo primordial, produzir o que nos
traz Perez (1991), novos modos de pensar e agir, de forma coletiva, abarcando todos na
sociedade em que vivem, a partir de sua realidade local e dos seus “universos de fala” que
devem ser ouvidos e investigados, possibilitando, então, que juntos, construam a sua prática,
como sujeitos de sua própria história.
21
bem como uma intervenção mais qualificada sobre as necessidades sociais apresentadas por
eles/as. Será produzida ainda uma devolutiva aos usuários, também em forma de documento,
a fim de que possam participar, de forma ativa e protagonista, de todo o processo e seus
resultados.
VI. METAS
VII. RECURSOS
VIII. AVALIAÇÃO
Primeiramente, realizaremos a avaliação diagnóstica anterior a execução do projeto de
intervenção a fim de compreender o que já vinha sendo realizado na Fundação Gol de Letra,
em relação à Campanha de Segurança Alimentar. A partir do levantamento dos dados, sobre
quais famílias foram contempladas para receberem as cestas básicas, assim como a análise
das políticas públicas e as redes de proteção social presentes na localidade do Caju, será
possível apreender melhor a realidade da instituição e dos/as usuários/as. Ademais,
22
avaliaremos as estratégias que foram construídas para a responder as demandas, assim como
seus limites e possibilidades.
Em segundo lugar, na execução do projeto de intervenção objetivamos construir a
avaliação de processo a fim de monitorar o percurso do projeto de intervenção e
eventualmente corrigir os possíveis desvios de sua execução. Para avaliarmos o processo de
execução produziremos a cada quinze dias, uma planilha com todas as metas que planejamos
atingir durante esse período e no final verificar se elas foram ou não cumpridas. Com isso,
serão realizadas também reuniões em equipe para avaliação destas.
IX. CRONOGRAMA
PRIMEIRO QUADRIMESTRE
Identificação e x
análise das demandas
Reuniões de x x x x
Elaboração dos
Planos de Ação
Organização do x
Roteiro
Elaboração do pré- x
projeto
23
Contato com os x x
atores sociais
envolvidos
(Entrevistas)
Análise de Fontes x x
Estudo Bibliográfico x x
Relatório Preliminar x
Férias x
SEGUNDO TRIMESTRE
Produção de vídeos x x x
sobre o tema
Oficina x
Reunião de Família x
sobre Insegurança
Alimentar
Preparação e Confecção x
do Material do Projeto
Relatório Final x
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X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E DOCUMENTAIS
ANTUNES, R. Coronavírus: o trabalho sob fogo cruzado. São Paulo: Boitempo, 2020.
BRASIL. Diretrizes da alimentação escolar: Lei Nº. 11947 de 16/06/2009. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11947.htm Acesso em:
setembro de 2021.
BRASIL. Lei Orgânica da Assistência Social, Lei número 8.742, de 7 de dezembro de 1993.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742compilado.htm Acesso em:
setembro de 2021.
25
DIEESI. Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos. Preço da
Cesta Básica em maio de 2021. Disponível em: https://www.dieese.org.br/ Acesso em:
setembro de 2021.
DOCUMENTÁRIO Ilha das Flores. Disponível em: Documentário Ilha das flores
(documentário) (Filme). Acesso em: setembro de 2021.
G1 - Notícias: Rio Concentra Queixas no Estado sobre alimentação escolar precária durante a
pandemia. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/07/22/rio-
concentra-queixas-no-estado-sobre-alimentacao-escolar-precaria-durante-a-pandemia.ghtml
Acesso em: setembro de 2021.
G1- Notícias: A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD) mostra que a
pandemia agravou a desigualdade econômica no Brasil. Disponível em:
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/02/09/pandemia-agrava-problema-cronico-
do-brasil-a-desigualdade-economica.ghtml Acesso em: setembro de 2021.
Live: Seguridade Social, fundo público e coronavírus - Professoras Ivanete Boschetti e
Rebecca Rocha. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=gGhcACTiDto Acesso em:
setembro de 2021.
26
SILVA, Gisele S. da. Fundo Público e Políticas Sociais: o trabalho necessário sob a égide
do capital portador de juros. In: Anais do I Circuito de Debates Acadêmicos. Conferência
de Desenvolvimento, 2011, IPEA. Disponível em: ipea.gov.br. Acesso em: setembro de 2021.
PEREZ, Geraldo. Educação Popular segundo Paulo Freire. Bolema, Rio Claro – SP, v. 6,
n. 7, 1991.
TENÓRIO, Fernando G. (Org.). Gestão de ONGs, principais funções gerenciais. 5.ed. São
Paulo: FGV, 2001.
27
XI. ANEXOS
Dados de identificação:
Nome do responsável:
Telefone:
Idade:
Nome do usuário:
ENTREVISTA:
28
Data: 21 de setembro de 2021.
Assinatura das estagiárias:
29