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NEURIENE CONCEIÇÃO DA SILVA

A FOME E AS OPÇÕES BRASILEIRAS DE PACTO E


PROTEÇÃO SOCIAL

Paranaíba-MS
2021
NEURIENE CONCEIÇÃO DA SILVA

A FOME E AS OPÇÕES BRASILEIRAS DE PACTO E PROTEÇÃO SOCIAL

Trabalho apresentado à Universidade Norte do Paraná -


UNOPAR, como requisito parcial à aprovação do curso de
Serviço Social, para as disciplinas de Antropologia, Ciência
Política, Fund. Hist. Teór. e Met. do Serviço Social II e
Sociologia Crítica, sob a orientação dos professores: Elias
Barreto, Maria Gisele Alencar, Paulo Sérgio Aragão e Stefanny
Feniman.

Paranaíba-MS
2021
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................4

TEORIAS CLÁSSICAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIAS E MUDANÇAS NO


MERCADO DE TRABALHO.................................................................................................4

ASPECTOS PATRIMONIALISTAS, CLIENTELISTAS E PESSOALISTAS


NUTRIDOS PELA HERANÇA IBERISTA..........................................................................6

FOME E PANDEMIA..............................................................................................................8

CONCLUSÃO...........................................................................................................................8

REFERÊNCIAS......................................................................................................................10
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INTRODUÇÃO

Este trabalho, com a finalidade de sintetizar os aprendizados adquiridos entre os 3º e


4º semestres do curso de Assistência Social, se propõe a discorrer sobre a formação social
brasileira no intuito de discorrer sobre a relação atual entre a fome e a pandemia que assolam
o Brasil.
Através da pesquisa bibliográfica, dados foram coletados a fim de fundamentar a ideia
de que a história do Brasil, com todas as suas mudanças não logrou êxito em estabelecer
melhores condições de vida para a população na medida em que necessidades básicas da
população sejam atendidas.
Assim, o atendimento dessas necessidades básicas, principalmente no que se refere à
fome, é sobreposta pela necessidade de lucro conforme a lógica capitalista. Com isso, o
desafio da profissão gira em torno do anseio de se fazer cumprir os direitos constitucionais de
uma vida digna para grande parte da população em detrimento do avanço do capital.

TEORIAS CLÁSSICAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIAS E MUDANÇAS NO


MERCADO DE TRABALHO

A história do Brasil é inicialmente marcada pela colonização, fruto do desejo de


expansão econômica instaurada na Europa do século XIV e XV, final da Idade Média. Assim,
houve uma transição da lógica baseada em relações religiosas para relações baseadas em
produtividade e consumo, ou seja, para a lógica capitalista. Este momento foi marcado pelo
mercantilismo, monarquias absolutistas e o colonialismo. Neste interím, pode-se falar do
fortalecimento do Estado Absolutista a partir da cobrança de impostos da burguesia marítima.
É importante mencionar que era um Estado fundamentado na ascensão contínua da
aristocracia, sendo que as massas continuavam a sua mercê (MARCUSSO; VIEIRA 2017).
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Neste período da história do Brasil, há que se considerar as relações que se mantinha


com a coroa portuguesa, bem como as relações comerciais que se realizavam no Atlântico
Sul, principalmente no que se refere ao comércio de escravos.
Após a colonização brasileira, pode-se considerar a implantação do liberalismo no
Brasil que, segundo Pfeffer (2018) citando a perspectiva de Fernandes (1975), foi utilizada
como libertação do domínio senhorial. Portanto, a transformação política se deu em razão da
necessidade de romper com a ordem estamental, necessidade essa expressada pela
incompatibilidade com os setores mercantis, elite agrária e dos profissionais liberais.
Entretanto, os autores destacam a coexistência do patrimonialismo/escravidão, com a
nova ordem liberal exemplificando que, apesar da inserção do país no capitalismo global, “os
agentes modernizantes da economia cafeeira foram confinados à esfera privada e se
incorporaram e compartilharam as formas de dominação política tradicional dos grupos
conservadores” (PFEFFER, 2018, p. 231).
Posteriormente, em 1930, durante o Estado novo do Governo Vargas, a fim de regular
a relação entre trabalho e capital com o objetivo de auferir lucro foram implementadas ações
como o sistema de previdência social e o salário mínimo, momento em que surge a
Consolidação das Leis trabalhistas a fim de elencar os principais direitos dos trabalhadores.
Além disso, surge a profissão da assistência social, institucionalizada em 1945
(ABRAMIDES, 2016).
O nascimento dos cursos profissionalizantes da assistência social, sendo o primeiro
deles o da antiga Escola de Serviço Social, se deu em meados da década de 40. Já em 1962
formaram-se as entidades de fiscalização da assistência social, os Conselhos Federal e
Regional de Assistentes Sociais e Conselhos Federal e Regional de Serviço Social
(ABRAMIDES, 2016).
Pode-se dizer que o conservadorismo existente na sociedade brasileira é objeto de
superação pela história da profissão da assistência social. A precarização da vida com os
deslocamentos da população do centro para as periferias impulsionou a falta de saneamento
básico e falta de transporte coletivo, por exemplo (ABRAMIDES, 2016; PFEFFER, 2018).
Abramides (2016) relata também que incialmente existia uma tendência conservadora
na assistência social bem como que, com a redemocratização do país, os profissionais de
esquerda e estudantes propuseram mudanças significativas a fim de possibilitar uma ruptura.
Contudo, apesar das transformações ocorridas não houve a promoção do
distanciamento do Estado dos interesses particulares. Ao contrário do que se esperava, as
elites tradicionais permaneceram no poder, apesar das conquistas geradas no âmbito
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trabalhista. Neste interím, foi integrado ao Estado os dois grupos classistas, os primeiros
representados pelas oligarquias tradicionais, e o segundo pelos sindicatos e pelos benefícios
da mudança da legislação trabalhista. Com isso, os esforços para afastar a desigualdades
sociais se tornou encargo subjetivo ao invés de se considerar as mudanças estruturais
necessárias relacionadas ao patrimonialismo que será explicada no próximo item deste
trabalho.

ASPECTOS PATRIMONIALISTAS, CLIENTELISTAS E PESSOALISTAS


NUTRIDOS PELA HERANÇA IBERISTA

Conforme preleciona o autor Pfeffer (2018) o patrimonialismo constitui um fator que


perdurou ao longo da história brasileira bem como o clientelismo. Como consequência disto, a
assistência social enfrentou e enfrenta atualmente grandes entraves. Tal fenômeno se explica
porque, conforme o autor, o capitalismo brasileiro, em suas fontes, se desenvolveu de modo a
acirrar o distanciamento das forças populares dos “processos de decisão política” (PFEFFER,
2018, p. 225). Portanto, conclui-se que apesar das modificações históricas, não foi possível
experienciar um rompimento das estruturas originárias, as quais mantêm os privilégios de
classe, raça e gênero. Assim, apesar da afirmação constitucional em 1988, os direitos
elencados nela permanecem sobrepostos pela dominação patrimonial.
No Brasil, encontra-se a característica clientelista de troca de favores, além dos
resquícios oriundos da privatização do Estado, a saber, a confusão entre público e privado,
herança colonizadora (PFEFFER, 2018). Nesta senda, o Estado age em prol de interesses
privados, “o que acaba impedindo a emergência de agências portadoras de vontades coletivas
transformadoras” (PFEFFER, 2018, p. 225). Por tal razão, a implementação dos direitos
sociais “esbarram” na tendência de garantir os privilégios da classe dominante.
Ademais, Pfeffer (2018) também explica a naturalização da pobreza a partir da
concepção de que deve existir uma ordem competitiva, ou seja, meritocrática e individualista.
Dessa forma, as ações ligadas à assistência social, implementadas de modo pontual e
desarticulado são insuficientes para superação da condição da fome que assola o país, por
exemplo. A fim de quebrar este paradigma, Pfeffer (2018) citando Iamamoto (2006) defende
que os espaços públicos deveriam efetivamente serem transformados em prol da coletividade
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assim como afirma a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a qual teve a
incumbência de incluir como dever do estado a assistência social. Neste sentido:

A nova Constituição inclui a assistência social no campo da seguridade


social, juntamente com a política de saúde e a previdência social. Esse tripé é
concebido como política pública social e se insere no campo dos direitos, da
universalização dos acessos e da responsabilidade estatal. Nessa perspectiva,
o papel do Estado para universalização e garantia dos direitos a serviços
sociais qualificados é central. Paralelamente, são propostos mecanismos de
descentralização político-administrativa e controle social na gestão das
políticas públicas para assistência social (PFEFFER, 2018, p. 227).

Contudo, o bem comum não faz parte do planejamento dos “detentores do poder
público” (PFEFFER, 2018, p. 233). Pelo exposto, a inversão da ordem social em benefício
dos direitos sociais deve se dar a partir da erradicação da lógica patrimonialista e da
privatização da esfera pública.

FOME E PANDEMIA

Mendonça (2021) relata que o cenário de fome se torna cada vez mais atual no Brasil e
com isso, a procura dos doentes por assistência à saúde, quando os médicos constatam que a
doença da fome não tem cura. Se em 2014 o relatório da FAO expôs a saída do Brasil do
mapa da fome, atualmente o desmonte dos direitos, a lava jato e o golpe de 2016, culminaram
na piora dos indicadores sociais, principalmente os relacionados à segurança alimentar. Este
cenário pode ser explicado, por exemplo, pelo aumento da exportação do arroz e redução da
importação bem como o isolamento domiciliar e a necessidade de estocar comida. A autora
citando Josué de Castro, alerta que se trata de um problema ignorado pelas classes
dominantes, pois se interessam com os lucros auferidos a partir do subdesenvolvimento.
De acordo com o grupo de pesquisa Alimento para a Justiça: Poder, Política e
Desigualdades alimentares na Bioeconomia, 59,3% da população brasileira estavam em
insegurança alimentar entre agosto e dezembro de 2020.
Conforme relata Stropasolas e Giovanaz (2021), as famílias se valem de projetos como
os do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) localizado na zona leste de São
Paulo, como as cozinhas solidárias em que há distribuição de refeições gratuitas. Os autores
afirmam com base nos dados divulgados pelo IBGE que os preços dos alimentos aumentaram
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15%. Pode-se chegar a conclusão de que com a precarização dos programas de políticas
públicas promovidos pelo desmonte executado pela conjuntura política somada com a crise
sanitária global.

CONCLUSÃO

Com todo o exposto, este trabalho se propôs a explicitar como a necessidade


capitalista de aumentar os lucros sempre se sobrepôs às necessidades básicas da população, de
modo que atualmente a fome volta a ser uma problemática agravada pela pandemia da covid-
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Este cenário experimenta uma tentativa de reversão, principalmente quando se fala
sobre assistencial social. Neste sentido:

A assistência social é assim um campo de luta para se criticar a desigualdade


social em si. Esse projeto societário mais amplo passa pela defesa e
reafirmação de direitos e políticas sociais que permitam a construção de uma
sociedade equitativa. Essa tarefa é ainda mais difícil em um país em que, ao
longo de uma história de tendência patrimonialista, os direitos foram
relegados a um segundo plano (PFEFFER, 2018, p. 228).

Assim, há a necessidade de inverter a ordem social para que os direitos


constitucionalmente positivados sejam, enfim, efetivados materialmente. Em outros termos,
deve-se promover uma administração do Estado pautada nos interesses diversos que
constituem a sociedade civil (PFEFFER, 2018).
Conforme Mendonça (2021) relata sobre as propostas de Josué de Castro, para superar
a precarização dos recursos básicos da população brasileira se faz necessário ainda
implementar um desenvolvimento econômico baseado numa real distribuição da riqueza e do
lucro entre o conjunto da população, a reforma agrária que nunca foi materializada bem como
uma mudança drástica na economia e comércio mundial para que se voltem aos interesses
gerais.
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REFERÊNCIAS

ABRAMIDES, Maria Beatriz Costa. 80 anos de serviço social no Brasil: organização política
e direção social da profissão no processo de ruptura com o conservadorismo. Serviço Social.
São Paulo, n. 127, set/dez, 2016. p. 456-475.

MARCUSSO, Marcus Fernandes; VIEIRA, Lívia Carolina. Formação Social, econômica e


política do Brasil. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional. 2017.

MENDONÇA, Marina Gusmão de. Fome e pandemia: a atualidade de Josué de Castro.


São Paulo, 11 de jun de 2021. Disponível em:
https://pp.nexojornal.com.br/opiniao/2021/Fome-e-pandemia-a-atualidade-de-Josu%C3%A9-
de-Castro/. Acesso em 18 de set de 2021.

PFEFFER, Renato Somberg. Cultura política patrimonialista e assistência social no Brasil:


uma abordagem teórica. Mosaico. vol. 9, n. 15, 2018. p. 222-238. Disponível em:
https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6774483/

STROPASOLAS, Pedro; GIOVANAZ, Daniel. Brasil com fome: pandemia e desmonte do


Estado agravam drama dos trabalhadores. Brasil de Fato, São Paulo, 11 de ago de 2021.
Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/08/11/brasil-com-fome-pandemia-e-
desmonte-do-estado-agravam-drama-dos-trabalhadores/. Acesso em: 25 de set de 2021.

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