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1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2
Prezado aluno!
Bons estudos!
2 POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE
Fonte: ufes.br
Fonte: conhecimentocientifico.r7.com
A cura para os problemas de saúde até então era alcançada a partir do uso
dos recursos próprios da terra, como plantas e ervas, agregado aos
conhecimentos empíricos e habilidades dos chamados curandeiros [...] Dom
João VI fundou os primeiros centros de formação de profissionais médicos no
Brasil: o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de
Salvador, Bahia, e a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro, no Real Hospital
Militar. (POLIGNANO, 6, p. 3 e 4 apud CRUZ, 2020).
Fonte: revide.com
Para Hipócrates, filósofo grego que viveu no século V a.C., a saúde se referia
a influência da cidade e do tipo de vida de seus habitantes sobre a saúde,
afirmando que o médico não cometeria erros ao tratar as doenças de
determinada localidade quando tivesse compreendido adequadamente tais
influências.
Cruz aponta que a corrente de pensamento que entendia saúde apenas como
ausência de doença tem origem no século XVII, a partir de trabalhos do filósofofrancês
Descartes, que comparava o corpo humano a uma máquina. Nesses estudos,
Descartes enfatizava “o caráter mecanicista da doença” e indicava também uma
abordagem tecnicista de “reparo especializado”. Em 10 de dezembro de 1948, a
Declaração Universal de Direitos Humanos, aprovada na Organização das Nações
Unidas (ONU) após as atrocidades causadas à humanidade pela 2ª Guerra Mundial,
subscreveu em seu artigo 25 o direito à saúdeda seguinte forma:
Toda pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à
sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao
vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços
sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença,
na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de
subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. A
maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas
as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma
proteção social.
Conforme aponta o autor, novos pactos aprovados em 1966 – um deles sobre
direitos civis e políticos e outro sobre direitos econômicos, sociais e culturais –, bem
como o fortalecimento de organismos internacionais, a exemplo da Organização
Mundial de Saúde (OMS), criada em 1948, foram fundamentais para construir o
entendimento sobre o direito à saúde universal.
No cômputo dessas importantes ações, está a I Conferência Internacional
sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada na cidade de Alma-Ata, Cazaquistão,
em 1978. Na ocasião, os 134 países participantes propuseram uma meta de, por meio
da atenção primária à saúde, “atingir o maior nível de saúde possível até o ano 2000”.
Essa política internacional ficou conhecida como ‘Saúde para Todos no Ano 2000’. No
Brasil, até que a saúde se efetivasse enquanto direito fundamental, garantido na
Constituição, muitas ações foram desenvolvidas. Nos anos de 1960, porexemplo, o
Governo João Goulart, iniciou as chamadas “reformas de base”, que reuniam sob
essa ampla denominação um conjunto de iniciativas: as reformas bancária, fiscal,
urbana, administrativa, agrária, sanitária e universitária (CRUZ, 2020).
Na área da saúde, um passo importante se deu em 1963, quando o presidente
da República João Goulart e o então ministro da Saúde, Wilson Fadul, convocaram a
3ª Conferência Nacional de Saúde, que ocorreu de 9 a 15 de dezembro daquele ano,
no Rio de Janeiro/RJ. De acordo com Decreto nº 52.301, de 24 de julho de 1963 (11),
a referida Conferência deveria discutir os seguintes temas: a situação sanitária da
população brasileira; a distribuição e coordenação das atividades médico-sanitárias
dos níveis federal estadual e municipal; a municipalização dos serviços de saúde; e a
fixação de um plano nacional de saúde (CRUZ, 2020).
No Relatório Final da 3ª Conferência Nacional de Saúde (3ª CNS) (12), foram
propostos e aprovados cinco indicativos para organização dos serviços de saúde,
visando ampliar a qualidade de vida: medidas primárias de saneamento do meio
ambiente; fiscalização dos gêneros alimentícios, das habitações e dos
estabelecimentos que lidam com a produção e o comércio de alimentos; imunização
contra as doenças transmissíveis; prestação dos primeiros socorros de assistência a
doentes; e levantamento dos dados de estatística vital (CRUZ, 2020).
Segundo o autor, no processo de adoção das reformas de base na área de
saúde, reforçado pela 3ª CNS, foi interrompido pelo Golpe Militar de 1º de abril de
1964, mas a defesa de um sistema de saúde público germinou. A 7a Conferência
Nacional de Saúde (7ª CNS), realizada no Itamaraty, em Brasília, de 24 a 28 de março
de 1980, com participação expressiva de sanitaristas, debateu a “Extensão das ações
de saúde por meio dos serviços básicos”, uma temática ancorada na Conferência
Internacional de Alma-Ata, a qual preconizou a atenção primária à saúde como um dos
pilares de organização dos sistemas de saúdeno mundo.
Tanto o ministro da Saúde, Waldyr Arcoverde, quanto o presidente da
República, João Figueiredo, marcaram presença na abertura da 7ª CNS. A atividade
reuniu 402 participantes, na maioria médicos, mas com representatividade dessa e de
outras categorias de trabalhadores ligadas ao movimento pela reforma sanitária. Após
a realização da 7ª Conferência, foram desenvolvidas duas edições do Simpósio
Nacional sobre Política de Saúde, na Câmara dos Deputados, em 1979 e 1982,
respectivamente. Esses eventos foram decisivos para expansão do Movimentopela
Reforma Sanitária, fazendo crescer, também no Legislativo, a bandeira pela criação
de um sistema de saúde com capacidade de atender às necessidades de toda a
população de forma irrestrita (CRUZ, 2020).
Aqui cabe ressaltar que a proposta de criação de um sistema universal de
saúde foi formulada no 1º Simpósio Nacional sobre Política de Saúde, intitulado “A
questão democrática na área de saúde”. Paim, conta que a primeira ideia de
Sistema Único de Saúde foi apresentada durante o referido simpósio pelo Centro
Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes). Vê-se, então, que “tanto a Reforma Sanitária
Brasileira, quanto o SUS nasceram da sociedade, e não de governos ou partidos”. A
população reconhecia, na prática, a existência de dois sistemas que promoviam
uma seletividade injusta no atendimento à saúde. Um sistema, sobcomando do INPS,
com serviços próprios e contratados, era destinado aostrabalhadores com registro
em carteira profissional emitida pelo Ministério do Trabalho. A outra parcela da
população que, mesmo trabalhando muito, não possuía registro em carteira
profissional, era atendida em serviços filantrópicos e de caridade. Portanto, a
necessidade de criação de um Sistema Único de Saúde encontrava simressonância
social (CRUZ, 2020).
Observa-se, então, que a Lei nº 8.080, de 1990, guarda sintonia com o Relatório
Final da 8ª Conferência Nacional de Saúde, no que tange ao conceito ampliado de
saúde e várias outras questões. Assim, é possível denotar a nítida influência das
proposições do Movimento pela Reforma Sanitária no texto da chamada Lei Orgânica
da Saúde. No processo de aprovação da Lei nº 8.080/1990, o texto proposto
inicialmente pelos dirigentes do Ministério da Saúde sofreu cortes. Mantiveram-se os
itens relativos à descentralização dos serviços e à atenção integral, mas os referentes
à participação da comunidade foram vetados pelo então presidente da República,
Fernando Collor de Mello (CRUZ, 2020).
Diante dos vetos, segundo o autor, a sociedade civil organizada mais uma vez
se manifestoue a mobilização fez com que, em 28 de dezembro de 1990 – passados
apenas três meses da publicação da Lei 8.080/1990 – fosse publicada a Lei no 8.142
, que “dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de
Saúde(SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros
na área da saúde”. Essa lei foi essencial para a estruturação do controle social das
políticas públicas de saúde nas três esferas de governo, diminuindo as resistências
sobre aparticipação da sociedade nos processos de tomada decisão pública. Assim,
as conferências e conselhos de saúde foram acolhidos como parte integrante do
funcionamento do SUS.
De acordo com o estabelecido pela Lei nº 8.142/1990, o mecanismo da
conferência de saúde deveria se reunir “a cada quatro anos com a representação dos
vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor asdiretrizes para
a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder
Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde”.
Em seu § 2°, a Lei 8.142/1990 definiu a missão e a composição dos conselhos
de saúde:
5 A DESCENTRALIZAÇÃO DO SUS
Fonte: observatoriodasmetropoles.net
Fonte: setorsaude.com
bem “[...] é aquilo que pode ser objeto de uma situação jurídica”. Distingue os
bens patrimoniais dos bens fundamentais, sendo que estes são: “[...] os bens
cuja acessibilidade é garantida a todos e a cada um porque objeto de outros
tantos direitos fundamentais e que por isso, da mesma forma que estes, são
subtraídos à lógica do mercado [...]” (FERRAJOLI, 2011, p. 54 apud ROCHA,
2018).
Ferrajoli irá propor uma tipologia dos bens fundamentais, dividindo-o em três
grandes classes: bens personalíssimos, bens comuns e bens sociais. Interessa, para
os limites deste trabalho a categoria dos bens sociais, por se entender que a saúde
deve ser assim configurada, com um bem fundamental. Os bens sociais “são objeto
de direitos sociais à subsistência e à saúde, garantidos pela obrigação de sua
prestação: como a água, os alimentos básicos e os assim chamados ‘medicamentos
essenciais” (ROCHA, 2018).
Para o autor esta compreensão salvaguarda os direitos das ingerências do
mercado. Proteger um bem como fundamental quer dizer em todo caso torna-lo
indisponível, isto é, inalienável e inviolável, e, portanto, subtraí-lo ao mercado e ao
arbítrio das decisões políticas, portanto de maioria. Também sob este aspecto os bens
fundamentais reafirmam o paradigma dos direitos fundamentais, dado que também as
suas garantias equivalem a limites e a vínculos impostos, para a tutela de todos e de
cada um, seja aos poderes privados, através da estipulação da sua indisponibilidade,
seja aos poderes públicos, através da estipulação da sua inviolabilidade, e ao mesmo
tempo, a obrigação de garantir a todos a sua fruição. Evidencia-se, aqui, a
necessidade de que a partir da vinculação dos poderes públicos aos direitos
fundamentais, em especial, ao direito fundamental a saúde a partir da sua
configuração constitucional, exija-se para sua concretização a existência de
instituições públicas voltadas à proteção e à sua prestação.
A garantia dos bens sociais, sejam as primárias – consistentes na
institucionalização de mecanismos de efetivação das políticas públicas -, sejam as
secundárias, aquelas que autorizam o acesso à justiça para a efetivação das garantias
primárias -, somente se concretizam com a atuação do Estado. O constitucionalismo
dos bens sociais, não diferentemente daquele dos bens comuns, também é um
constitucionalismo a longo prazo: como a experiência dos países ricos ensina, o
investimento em despesas sociais – a instrução, a saúde, a subsistência – é o primeiro
investimento produtivo, dado que realiza, com a garantia dos mínimos vitais, a
primeira condição da produtividade tanto individual como coletiva e portanto do
desenvolvimento econômico. Em suma, se é verdade que os direitos sociais custam,
o custo da falta da sua satisfação é muito maior, condenando bilhões de seres
humanos à indigência e ao desenvolvimento e sendo fonte inevitável de migrações de
massa e de conflito (ROCHA, 2018).
Ferrajoli (2011, pp. 76-80 apud Rocha, 2018) elenca três situações problemas:
acesso à agua, acesso aos alimentos e ainda aos denominados medicamentos
essenciais. A base da discussão dos bens sociais formam o núcleo material do direito
à saúde. Daí a necessidade de tratar a saúde não somente como um direito
fundamental na sua dupla perspectiva, objetiva e subjetiva, mas também de
compreendê-la como um bem fundamental, ao qual se deve proteger e garantir. Umas
das condições para que se tenha a garantia da saúde enquanto bem fundamental é
de caráter institucional e está vinculada a análise do federalismo e das políticas
públicas, em especial, no contexto de formação constitucional do Estado Brasileiro.
7 A ESF E SEU CONTEXTO HISTÓRICO NO BRASIL
Fonte: cnm.org.br
Fonte: terracoeconomico.com
O Sistema Único de Saúde, como parte da política social brasileira, tem sido
campo de esforços e avanços significativos na qualidade e garantia de condições de
vida da população, porém não consegue alcançar seus princípios: universalidade,
integralidade e equidade (WEILLER, 2019).
Os autores descrevem que, “se antes era possível verificar grande magnitude
de recursos e um ambiente político e social favorável à construção da cidadania
social”, principalmente no pós-guerra; atualmente, com a vigência de uma agenda
neoliberal em todo o mundo, tais aspectos se tornaram “disputados com o movimento
do capital contemporâneo, sob a predominância do financeiro, cujo interesse é manter
o pagamento dos juros da dívida pública e acessar recursos antes a ele proibidos”.
A agenda da política econômica brasileira tem colocado de forma hegemônica
os direitos sociais, dentre eles o SUS, em disputa direta com o movimento do capital
contemporâneo, sob a predominância do financeiro, principalmente sob a égide do
capital portador de juros com interesse em manter o pagamento dos juros da dívida
pública. Este fato nos revela como o tripé macroeconômico brasileiro tem mantido o
Estado como controlador dos preços (câmbio flutuante e metas de inflação), que ao
mesmo tempo se dissolve (alcance dos superávits primários), abrindo campo para que
o setor privado se expanda. Assim, o SUS tem seu desenvolvimento diretamente
ligado à ordem econômica e política que se desenvolveram e se desenvolvem no
Brasil (WEILLER, 2019).
Segundo o autor, quando consideramos o boom ocorrido no consumo das
famílias no Brasil durante os governos Lula e, em parte, no de Dilma, o setor Saúde
não ficou atrás. Houve sim a construção de um movimento focado em construir uma
“cidadania consumista”, contrário à forma de acesso a serviços de saúde por meio do
direito à saúde. Para termos uma dimensão dessa expansão do consumo das famílias
no setor Saúde, analisamos os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), que apresenta o volume de beneficiários por tipo de contratação e a taxa de
cobertura para a Assistência Médica (excluindo-se planos odontológicos). Assim,
podemos observar um importante crescimento iniciado em 2006 e que tem seu maior
volume em 2014, quando aproximadamente 50 milhões de pessoas possuiam algum
tipo de plano de saúde, sendo que 2015 foi o ano com a maior taxa de cobertura, a
de 25,9%.
Um dado interessante é que o crescimento do número de beneficiários de planos
de saúde se deu, principalmente, pelo tipo “Coletivo Empresarial”, que guarda uma
relação com o nível de empregabilidade, pois se trata de planos de saúde garantidos
pelas empresas aos trabalhadores como forma de “benefício” ao empregado. Assim,
como consequência deste fato, quando a empregabilidade declina, também cai à
cobertura de planos de saúde que chegou a aproximadamente 47 milhões de pessoas
cobertas, indicando assim um “retorno” de 3 milhões de pessoas aos serviços públicos
de saúde deforma exclusiva. Além da ampliação do número de pessoas cobertas por
planos de saúde, houve também um aumento na concentração de empresas
prestadoras. Em dezembro de 2000 havia 2.037 operadoras médico-hospitalares em
atividade e 726 exclusivamente odontológicas, ao passo que em janeiro de 2019 os
números foram reduzidos para 918 e 305, respectivamente, ou seja, o número de
operadoras de planos de saúde cai de um total de 2.763 para 1.223, uma redução de
56% aproximadamente (WEILLER, 2019).
Segundo o autor, todos esses pontos destacados quanto à expansão dos
serviços privados de saúde no Brasil, tanto na sua forma quanto no conteúdo,
demonstram um aumento da relação do Setor Saúde com o capital estrangeiro e, ao
mesmo tempo, com o setor bancário- financeiro. Tal expansão do privado sobre o
acesso da população brasileira à saúde se deu, principalmente, a um cenário de
subfinanciamento do SUS em seus mais de 30 anos de existência.
O movimento no trajeto do financiamento do SUS se expressou por meio de
dois princípios contraditórios no Brasil: a defesa da universalidade, um dos princípios
do SUS que se expressa pelo direito de cidadania às ações e aos serviços de saúde
para todos, por meio da defesa permanente de recursos financeiros; e a contenção
de gasto, que já se relaciona com o objetivo do superávit primário, diminuindo as
despesas do Estado, principalmente relacionadas aos gastos sociais. (WEILLER,
2019).
O SUS, como parte do fundo público que ocupa um papel relevante na articulação
das políticas sociais e na reprodução da força de trabalho, é uma questão estrutural
para o capitalismo. Assim, a Saúde Pública, ao compor parte do fundo público, tem a
capacidade de mobilizar recursos que o Estado dispõe para intervir na economia
que, pode ser por meio de políticas monetárias, fiscais e sociais (WEILLER, 2019).
Behring (2010) apud Weiller (2019) nos ajuda a compreender como o fundo
público se expressa, principalmente, por meio do orçamento público constituído de
impostos, contribuições, taxas e da mais-valia (parte do trabalho excedente que se
transformou em lucro, juros ou renda de terra). Todo este orçamento está disponível
ao Estado para a realização de diversas funções que, constantes como os direitos
sociais, podem ter a fundamental função de garantir a reprodução do capital e da
força de trabalho, debatidas aqui pela manutenção e ampliação das políticas sociais.
Assim, os embates por recursos financeiros para assegurar o SUS sempre foram uma
constante desde sua criação, em 1988, até o presente momento. Tais embates não
alcançaram condições adequadas de financiamento da Saúde Pública como a
indefinição de fontes seguras (vinculações específicas e legais de recursos), além da
fragilidade das que foram propostas, como o caso da Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira (CPMF), extinta em 2007.
A história de tensões no financiamento desse sistema não deixou de ser intensa
antes e durante os anos 2000, após a aprovação da Emenda Constitucional 29. Ao
mesmo tempo, nesse período, a fragilidade do financiamento foi percebida no
crescimento da renúncia fiscal decorrente da dedução dos gastos com planos de
saúde e símiles no imposto de renda e das concessões fiscais às entidades privadas
sem fins lucrativos (hospitais) e à indústria químico-farmacêutica, enfraquecendo a
capacidade de arrecadação do Estado brasileiro e convertendo-se no que se
convencionou denominar por gasto tributário. Verifica-se, ao longo de mais de trinta
anos de existência do SUS, um quadro de baixa disponibilidade de recursos, com
fontes inseguras. Inicia-se a década de 2010 sem a resolução desta questão, à medida
que a Lei 141/2012 (regulamentação da EC-29) não assegurou novos recursos
financeiros para a saúde universal, especialmente por parte da União (WEILLER,
2019).
É importante destacar segundo o autor, que, centralmente, há consequências
perversas da política macroeconômica restritiva com o objetivo central de assegurar
o cumprimento de metas de inflação e a obtenção de elevados superávits primários,
resultando em constante pressão para que o gasto público em políticas sociais fosse
diminuído. Para se ter uma ideia do gasto público em saúde no Brasil apresenta-se, a
partir de dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico,
uma comparação com países que possuem sistemas universais de saúde como o
Canadá, França, Japão e Reino Unido, contando ainda com os Estados Unidos da
América que possuem um sistema de saúde do tipo liberal que, entretanto, passou
por uma recente reforma na saúde pública. Quando analisados os dados do percentual
do gasto em saúde como proporção do PIB (%), nota-se que na média, os países de
sistemas universais gastaram 10,64% de seu PIB com ações e serviços de saúde,
tanto públicos quanto privados, acima do valor encontrado para o Brasil que também
possui um sistema de saúde do tipo universal, como o SUS. Nota-se ainda, que os
EUA apresentaram um gasto, como percentual do PIB, muito superior ao encontrado
nos países de sistemas universais e Brasil. Podemos afirmar que para que o Brasil
alcance um sistema de saúde universal e possível deve aproximar seu gasto público
em saúde dos países que já possuem sistemas universais de saúde, ou seja, garantir
um aumento do gasto público em 200%.
Fonte: cidade-pandemia.com
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