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SANTOS
2022
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Trabalho apresentado à UC
Desigualdades Sociais e Políticas de
Saúde – Eixo Trabalho em Saúde, da
Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP) – Campus Baixada Santista,
como instrumento avaliativo do segundo
termo do ano de 2022.
SANTOS
2022
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Sumário
1. Introdução 3
2. História das Políticas Públicas de Saúde no Brasil 4
3. Políticas Públicas de Saúde na cidade de Santos e CAPS 6
4. As diferenças no Sistema de Saúde Pública e Privada 10
5. Como a disparidade social afeta a saúde? 11
6. Considerações finais 14
7. Referências bibliográficas 15
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1. Introdução
O propósito deste trabalho é realizar uma reflexão em torno das desigualdades que
permeiam a saúde e suas diferentes esferas, como a pública e a privada, articulando essas
questões com a História das políticas de saúde brasileiras. Assim sendo, o ensaio visa criar
um paralelo entre a história da saúde no país e a maneira com que estas desigualdades são
distribuídas, relacionando portanto, o seu aspecto histórico com a atualidade.
Figura de Oswaldo Cruz - médico sanitarista faz com que seja obrigatório o uso da vacina durante a Revolta
da Vacina
Apesar da motivação que inspirou a construção dos hospitais, a fama do Brasil como
país insalubre continuou persistente, sendo quebrada apenas durante o período que constituiu
a República. Esse acontecimento seguiu em função de uma necessidade econômica, visto que
após a instauração da Lei Áurea, a quantidade de mão de obra assalariada que o país
necessitava se tornou uma grande demanda. Entretanto, a fama do Estado em relação à saúde,
fazia com que os imigrantes europeus, que representavam uma boa possibilidade de mão de
obra, se mantivessem afastados. Assim sendo, foi nessa perspectiva que durante o século XIX
houveram diversos investimentos em reformas urbanas e sanitárias, focando, essencialmente,
em grandes centros urbanos e regiões portuárias.
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Foi também durante o século supracitado que ocorreu a ascensão de uma figura
protagonista no cenário sanitarista nacional, o médico e cientista Oswaldo Cruz foi um dos
grandes responsáveis por pesquisar os surtos de peste bubônica na cidade de Santos, que mais
tarde foram de grande importância para produção do soro antipestoso. Outra questão que foi
atribuída a ele, foi a obrigatoriedade da vacina, que apesar de ter sido a grande responsável
pela diminuição dos casos de varíola foi encontrada com muita resistência pela população do
país.
Foi em 1953 que o Ministério da Saúde Brasileiro foi criado, visando criar políticas
de atendimento em saúde em zonas rurais, já que até então, esse era um privilégio das pessoas
que moravam em cidades grandes e que possuíam Carteira de Trabalho assinada (CLT).
Entretanto, conforme o Regime Militar se consolidou no país, a militarização cresceu em
detrimento de diversas outras áreas do país, entre elas, o Ministério da Saúde, sendo que o
resultado dessa ação consistiu no crescimento da mortalidade infantil e das epidemias.
Quase trinta e cinco anos depois, o Sistema Único de Saúde emerge como um impacto
societário de importância expoente. E apesar das dificuldades enfrentadas em sua
implementação, hodiernamente, sua repercussão se traduz em números de grande valor para
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a população brasileira. Como exemplo destes números, pode-se citar os 2,3 bilhões de
procedimentos ambulatoriais, mais de 300 milhões de consultas médicas, dois milhões de
partos, onze mil transplantes, 215 mil cirurgias cardíacas, nove milhões de procedimentos de
quimio e radioterapia, 11,3 milhões de internações no âmbito do SUS. Além de oitenta e sete
milhões de pessoas têm sua saúde acompanhada por 27 mil equipes de saúde da família e 110
milhões são atendidas por agentes comunitários de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
Em função desse aspecto, é possível relacionar uma das políticas públicas de saúde
mais distintas da cidade de Santos, com as visitas de campo oferecidas pelo Eixo Trabalho
em Saúde ao Centro de Atendimento Psicossocial. Também conhecido como CAPS, constitui
uma instituição especializada em saúde mental, tratamento e reinserção social para pessoas
com transtornos psicológicos persistentes. Nesse sentido, sua importância se dá na
substituição dos antigos "manicômios" ou hospitais psiquiátricos, que utilizam abordagens
violentas e anti científicas com os pacientes por técnicas de tratamento a longo prazo, que
visam a autonomia e a multiprofissionalidade. Assim sendo, durante a visita realizada, a
assistente social Renata esclareceu como a unidade se compõe e funciona, como pode ser
observado no seguinte trecho:
“O CAPS está neste endereço há 5 anos e conta com seis leitos disponíveis para internação. Além
disso, sua equipe profissional conta com dois assistentes, três psicólogos, um terapeuta ocupacional,
quatro psiquiatras, dois enfermeiros, dezesseis técnicos de enfermagem, quatro profissionais na área
de administração e duas farmacêuticas. São todos concursados, exceto os estagiários. Além disso, o
local recebe apenas pacientes acima de 18 anos, e o perfil mais recorrente é de mulheres entre 40 e 50
anos. Os casos atendidos são em sua maioria de esquizofrenia, transtorno bipolar e de
personalidade”.
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“Lembro como se fosse o dia de hoje. Há trinta anos, eu era uma criança que já tinha o dom da
loucura. Foi quando fui convidado para me juntar àquela trupe de loucos, na Rádio TamTam, e eu achei meu
lugar. Hoje sei quem sou: sou um artista” - Relato de Elias Carmo da Silva, participante do projeto desde de
seu início.
“Uma semana antes de conhecermos o CAPS, uma estagiária de psicologia do CAPS me contou que os
pacientes de lá faziam artes em panos de prato para serem vendidas e gerar mais dinheiro para a
instituição. Mais tarde, tive a oportunidade de ver os panos de prato ao vivo, feitos com todo o cuidado
pelos pacientes do local.”
O excerto do diário exemplifica a maneira com que um trabalho simples pode contribuir não
somente para os pacientes do CAPS, por meio do incentivo a arte, reinserção social e arrecadação de
fundos para a instituição. Mas também, como uma forma de aproximar a sociedade do local,
promovendo a comunicação e a dissolução de tabus associados com o cuidado psicológico.
As desigualdades sociais permeiam dimensões como a renda, educação, saúde,
gênero, trabalho, acesso à serviços, entre outros. Assim sendo, geram iniquidades que se
estendem inclusive ao processo saúde-doença-cuidado.
“Mas, quando falamos em desigualdade social geralmente estamos nos referindo a situações que
implicam algum grau de injustiça, isto é, diferenças que são injustas porque estão associadas a
características sociais que sistematicamente colocam alguns grupos em desvantagem com relação à
oportunidade de ser e se manter sadio” (BARATA, 2009, p.12).
“Aqui no Brasil, ao aprovar o capítulo sobre a saúde na Constituição Federal de 1988, a população,
por meio de seus representantes no Congresso, decidiu que a saúde é um direito de todos e que deve
ser garantido mediante ações de política pública. Fez ainda mais do que isso, definiu a saúde através
de um conceito amplo, que inclui os seus principais determinantes e apontou em linhas gerais os
princípios que o sistema nacional de saúde deveria ter: universalidade, integralidade e equidade”
(BARATA, 2009, p.12).
É importante para nós, como profissionais da saúde, conhecer sobre esse cenário de
desigualdade social entre a saúde privada e pública. São poucos os países do mundo que
podem oferecer atendimento médico com igualdade para toda a população e é visível as
diferenças observadas entre uma Instituição hospitalar privada onde se é oferecido para a
população um atendimento individualizado, tratado por inúmeras especialidades, exames de
última geração e internação prolongada por um custo em dinheiro e uma unidade pública de
atendimento em saúde.
Na primeira semana de novembro, visitamos o Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS), localizado na cidade de Santos. Os CAPS são unidades especializadas em saúde
mental para tratamento e reinserção social de pessoas com transtorno mental grave e
persistente e estes centros oferecem um atendimento interdisciplinar, composto por uma
equipe multiprofissional que reúne médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, entre
outros especialistas.
Durante a visita, analisamos as informações coletadas com a assistente social Renata,
observamos a infraestrutura do local e o bem-estar dos pacientes. Uma das imagens mais
chamativas para mim, foi a infraestrutura do local, mal distribuído e necessitando de
reformas. Renata informa que os usuários, familiares de usuários e servidores dos serviços de
saúde mental da Unidade juntamente com o sindicato dos servidores públicos municipais de
Santos (Sindserv) têm feito reuniões e assembléias para a discussão de reformas e também
contra a privatização da saúde mental. O Sistema Único de Saúde (SUS) “prevê uma
estrutura híbrida de gestão da saúde, baseada no funcionamento simultâneo de uma rede de
atendimento pública e gratuita ao cidadão e outra privada, que atua de maneira complementar
e conforme as diretrizes do SUS” (Fiocruz, [2016]). A contradição entre a proposta de
universalidade do SUS e a atuação da rede privada é ponto de partida para articulações e
movimentos contra a tendência de privatização do setor da saúde. Além disso, as
transferências de recursos públicos para os planos e seguros privados, o difícil ressarcimento
das ações prestadas pelo SUS aos usuários de planos de saúde privados e a precariedade que
vem caracterizando o crescimento desordenado da oferta privada estão na agenda das críticas
do movimento sanitário e nas propostas de fortalecimento do SUS.
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“Outro debate sobre a relação público e privado está relacionado à gestão de unidades
de saúde. Isto porque, além da administração pública direta de unidades clínicas e
hospitalares do sistema público, há estratégias de gestão em andamento, por meio das
autarquias, organizações sociais de saúde (OS) e das fundações. No caso das OS, algumas
críticas apontam para a ocorrência de desvios de recursos públicos, problemas relacionados
ao acesso, relação precária com o trabalhador, entre outras questões” (Fiocruz, [2017]).
A unidade do CAPS Centro conta com um Conselho Gestor, porém não está ativo no
momento e é neste cenário atual que a importância do controle social atua, ao trazer a
possibilidade de a sociedade civil interagir com o governo para estabelecer prioridades e
definir políticas de saúde que atendam às necessidades da população. Quando conquistamos
esses espaços de atuação da sociedade na lei, começou a luta para garanti-los na prática e
garantir a implementação das deliberações é uma disputa permanente em defesa do SUS. É
por isso que a promoção do conhecimento sobre a saúde no País e o papel dos Conselhos de
Saúde implica no fortalecimento do SUS.
Tendo como base as teorias produzidas por Rita Barradas Barata, podemos definir as
desigualdades sociais com uma diferença no padrão de vida dos membros da sociedade, seja
por motivos econômicos, de gênero, orientação sexual, grupo, raça, religião ou faixa etária, e,
que infelizmente, determina um lugar para esta parcela da população. Esses aspectos
biológicos/naturais e sociais que nos constituem e nos distinguem uns dos outros com base
em características externas, são conhecidos como marcadores sociais da diferença e são
reforçados como estereótipos e estigmas ao longo do tempo no inconsciente coletivo e global.
“As desigualdades naturais não determinam a ocorrência das desigualdades sociais e são, muitas
vezes, condicionadas por estas. Diferenças naturais como as de sexo, raça, força, estatura, inteligência
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e fecundidade só propiciam o surgimento de desigualdades sociais quando são utilizadas por uma
sociedade como critério para a atribuição de papéis sociais” (SILVA; BARROS, 2002).
[...] mais de 60% da população brasileira vivia um vazio assistencial. O SUS trouxe um forte
crescimento do acesso à saúde básica, à atenção primária e à saúde da família, o que se refletiu em
indicadores como a taxa de mortalidade infantil, que, desde o final dos anos de 1980, reduziu quatro
vezes no país [...] (MEDICI, 2022).
que o local apenas atendia residentes próximos a universidade - palavras da equipe de saúde -
o que a fazia sempre recomendar noções básicas de primeiros socorros aos seus alunos da
extensão caso acontece algo próximo a eles.
Sendo assim, como a desigualdade aumenta ou prejudica a saúde mental das pessoas?
“Para eles, a doença é o principal determinante da posição social, e não o contrário, isto é, as pessoas
doentes não conseguem ter um desempenho social satisfatório e por isso encontram-se desfavorecidos”
(BARATA, 2009, p.14).
“Estigma, preconceito, práticas de exclusão e negação da identidade são alguns dos estressores
sociais que contribuem para que os grupos minoritários estejam mais propensos a apresentar uma
saúde mental mais vulnerável” (MACEDO, 2021).
A partir do momento que uma mulher passa a exercer a função de profissional do sexo
em um cenário em que esta é sua única opção, deve-se pensar no que a determinou estar ali,
quais são as possíveis consequências a serem sofridas, seus riscos, o local em que ela se
encontra inserida e quais os arquétipos das pessoas desse meio (qual a visão de mundo dessas
pessoas?).
Durante o trabalho realizado por estes profissionais eles são expostos a diversos riscos
o tempo todo uma vez que estão em situação de vulnerabilidade, doenças sexualmente
transmissíveis, violência física e verbal são alguns dos exemplos dos riscos aos quais eles
estão expostos todos os dias. Todo o preconceito sofrido por estes profissionais cria um
afastamento que muitas vezes parte dele mesmo, que não sente-se à vontade para recorrer aos
serviços de saúde. Quando possuem condições financeiras melhores estes profissionais
recorrem a serviços de atendimento particular, mas esta não é uma realidade da grande
maioria deste grupo.
Isto além de trazer à tona o debate acerca da criação de serviços de saúde voltados ao
atendimento de profissionais do sexo, que acima de tudo ainda necessitam e possuem o
direito de ter acesso aos serviços de saúde, nos faz refletir sobre:
“O quanto nós, profissionais da saúde mental e sociedade, estamos fazendo a nossa parte? Em nosso
dia a dia, estamos eliminando ou reforçando as práticas de exclusão? Quando nos deparamos com
uma realidade diferente da nossa, consideramos suas particularidades e as valorizamos ou tentamos as
invisibilizar de alguma maneira? Estamos buscando o conhecimento adequado para lidar com as
diferenças? Qual o nosso papel social nisso?” (MACEDO, 2021).
6. Considerações finais
situação em que se encontra, o transtorno mais comum nessa população está associado à
dependência de álcool (8% – 58%) e outras drogas (5% – 54%). A construção e
reestruturação de uma boa saúde mental nesses casos é um projeto a longo prazo, sendo
importante o acompanhamento integral dessa população. (Conexa Saúde, 2022).
Para haver mudanças no futuro, primeiramente é necessário romper esse “tabu” com a
doença mental, conscientizar a população sobre as doenças psíquicas de forma que todos se
engajem no tema. Os serviços de saúde públicos e privados devem se estruturar para atender
a demanda e ampliar as ações e campanhas de cuidados preventivos e de tratamento. A
mente saudável deve ser buscada para que se equilibre o significado da saúde para o ser
social.
7. Referências bibliográficas
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Como e por que as desigualdades fazem mal à saúde? Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2009.
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cacoes/volume-v-constituicao-de-1988-o-brasil-20-anos-depois.-os-cidadaos-na-carta-cidada/
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