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História e Fundamentos da Terapia Ocupacional

Anne Karen Aparecida Dias Santos 164.143


Bianca Cristina Franciulli 164.145

Conceito escolhido: Participação Social

Os terapeutas ocupacionais têm investido em pesquisas para avaliar e


aprofundar seus conhecimentos sobre perspectivas teórico-metodológicas e
referenciais teórico-práticos que delineiam as especificidades da profissão e
desenham identidades na sociedade que têm influenciado a produção do tratamento
e a discussão de terminologias utilizadas. A participação social é um dos conceitos
utilizados e pode ocorrer nas atividades profissionais (SILVA, A.C.C. 2021).
Como diversos conceitos da área, a participação social tem sentidos e
significados diferentes, consequentemente gerando inúmeras concepções acerca do
assunto.
“Todavia ainda há pouca clareza sobre essas diferentes formas de abordar o
conceito, o que pode ser justificado pela inexistência ou escassez de melhor
fundamentação teórica-conceitual” (SCIELO, 2019).

No campo da sociologia e da saúde, a participação social é vista como o


engajamento da sociedade nos processos decisórios organizados por instituições
públicas e sociais. A Terapia Ocupacional nos apresenta duas definições
canadenses e norte-americanas, onde se entende que a interação entre os
indivíduos, seja verbal ou não, com ou sem participação, é uma forma de
participação, sendo o outro visto como o envolvimento ativo da população nas
ocupações. Atrelando esses conceitos ao modelo brasileiro e latino-americano,
observa-se que a participação social em si é vista como uma forma de emancipação
e desenvolvimento coletivo, fazendo com que haja o enfrentamento dos processos
de opressão, um confronto à estrutura social que produz desigualdades e enquanto
mecanismo para transformação da sociedade.
“Desde então, a promoção da participação social está presente nos debates e
intervenções em saúde; mudança na vida diária; promoção da autonomia,
bem-estar e independência; uso da cidadania; acesso aos direitos sociais; fruição
de bens e serviços; proteção contra processos de desinstitucionalização e ruptura
ou fragilidade das relações de suporte social” (BARROS; LOPES; GAHLEIGO,
2007).
O artigo utilizado para a pesquisa do trabalho foi um estudo em diferentes
áreas da Terapia Ocupacional e com diferentes trabalhadores da área, trazendo
diversos pontos de vistas sobre a participação social, em relação além dos
diferentes campos de atuação mais também de pesquisa, extensão, modos de
trabalho, população atendida, contexto de vida, demandas e necessidades. Por
outro lado, segundo SILVA durante sua pesquisa evidenciou-se algumas fragilidades
quanto à fundamentação teórica e ao uso indiscriminado do conceito.
A visualização da participação social apresentada em seu texto é aplicada
para explicar o assunto por meio de níveis. No primeiro nível o sujeito está sozinho,
no segundo há pessoas ao seu redor (mas sem contato direto), no terceiro há
interação interfacial (contato direto entre pessoas, família e comunidade) e no
quarto nível, reconhece a comunicação com a sociedade, Estado, instituições
sociais, movimentos sociais, ONGs e associações. Todos os níveis desse
desempenho variam em complexidade, interesse e importância para os sujeitos que
os executam, porque os níveis 1, 2 e 3 ocorrem no ambiente doméstico, familiar e
comunitário, o último nível na sociedade na esfera mais política e econômica. No
entanto, faz-se necessário compreender que:
“O desempenho/engajamento/envolvimento em atividades/ocupações e as
interações são aspectos fundamentais para identificar o que os terapeutas
ocupacionais chamam de participação e de participação social. Participação
aparece como um conceito amplo, que identifica o sujeito sozinho, acompanhado
ou em interação e sempre engajado em uma ocupação”. (SCIELO, 2019).

Desmembrando a participação social, presente a partir do terceiro nível,


pressupõe que haja a existência das interações sem que seja necessário o
engajamento em alguma atividade.
“O esquema sintetiza e explica o entendimento de que o fazer humano (de forma
individual ou coletiva), incluindo seus processos de escolha (por que fazer),
objetivos (para que fazer) e os contextos onde acontecem, correspondem a uma
das formas de as/os terapeutas ocupacionais compreenderem, pesquisarem e
praticarem participação social e/ou participação “(SCIELO, 2019).

Ou seja, a participação social se trata da “atividade social” e “função ou


funcionamento social” dos sujeitos. A Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde (CIF), conceitua a participação como o “envolvimento de um
indivíduo numa situação da vida real”, como um dos componentes relacionados à
incapacidade e funcionalidade da população e podendo estar sujeitas a limitações
ambientais, pessoais e profissionais. Já na versão infanto-juvenil (CIF-CJ), a
participação representa a interação das habilidades da criança ou do adolescente
com o ambiente físico e social em que eles estão inseridos. Ou seja, engloba as
relações interpessoais estabelecidas, a inserção em atividades de educação,
trabalho, recreação e lazer. (OMS, 2011). Nota-se após a leitura de diferentes
classificações e representações que é frequente o modo intercambiável e
indiscriminado com o termo participação social, desenvolvidos acerca da Terapia
Ocupacional.
As diferentes formas de pensar e propor ações e estratégias - como a
distribuição de panfletos, palestras e debates em espaços públicos -para favorecer
a participação social estiveram alinhadas aos referenciais teóricos e metodológicos
utilizados, às especificidades ou limitações impostas pelo campo teórico-prático, às
instituições onde trabalhavam, ao perfil dos sujeitos atendidos e, em alguns casos,
ao entendimento sobre o conceito.De modo para que os sujeitos ampliem seus
espaços de atuação e alcancem contextos regionais e comunitários, tais atividades
e estratégias são consistentes quando a participação social é considerada na
perspectiva da participação em atividades, mobilidade, inclusão social e acesso a
direitos. No entanto, essas mesmas ações e estratégias não são necessariamente
suficientes para concretizar a prática política na vida dos sujeitos dentro e fora do
espaço institucional, mas ainda se configuram como um estímulo, como um primeiro
passo para a democracia participativa.
Pessoas que apresentam algum tipo de deficiência, comorbidades,
analfabetismo, que vivem em áreas rurais e marginalizadas, além de se
encontrarem em situação de extrema pobreza e vulnerabilidade social, são
excluídas das oportunidades de participação social e o único meio de justificar essa
realidade é através da falta de conhecimento e conscientização da população. A
partir desse pensamento, pode-se concluir que a compreensão crítica dos sujeitos
sobre o contexto e a posição social em que vivem, sua consciência de direitos e
deveres e sua postura diante dessas questões alcançam poder individual e coletivo,
simbólico e concreto para se opor e/ou mudar mecanismos e ideias opressoras no
ambiente familiar, comunitário, econômico, cultural e político. Nesse sentido,
também é importante a realização de atividades nas quais os sujeitos reconheçam e
compreendam suas habilidades e limitações, necessidades e desejos e possam
refletir sobre o processo vivencial, "para aumentar a consciência de quem são, do
que são, querem, o que precisam e continuam ou iniciam atividades que acreditam
que lhes dão mais oportunidades de ser e fazer na vida cotidiana" (TO-D 13).

REFERÊNCIAS

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). CIF-CJ: Classificação


Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde: Versão Crianças e
Jovens. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2011.

SILVA, Ana Cristina Cardoso da. Participação social: reflexões


teórico-conceituais e práticas entre e com terapeutas ocupacionais. 2021. Tese
(Doutorado em Terapia Ocupacional) – Universidade Federal de São Carlos, São
Carlos, 2021. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/14249.

SILVA, A. C. C.; OLIVER, F. C. Participação social em terapia ocupacional:


sobre o que estamos falando?. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional.
Disponível em:
https://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view
/2459. Acesso em: 12 jan. 2023.

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