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POSFÁCIO
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A PRODUÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR: Histórias de submissão e rebeldia
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MARIA HELENA SOUZA PATTO
ciosa, Vila Rica, Vila Belo Horizonte, Jardim Castelo, Vila Feliz,
Jardim Redenção, Vila Bela, Vila Alto da Boa Vista, Jardim Vila
Flor, Jardim Divino, Recanto Alegre, Vila Progresso, Jardim das
Rosas, Jardim Monte Alegre, Jardim Monte Belo. O bairro em que
estivemos não foge a esta regra. Omitimos o seu verdadeiro nome e
o rebatizamos como Jardim Felicidade não só para dificultar a iden-
tificação da escola em que realizamos a pesquisa, mas também para
sublinhar a incoerência dos nomes oficiais que tentam mascarar
a triste realidade de tantos bairros esquecidos pelos governantes,
exceto em períodos de campanha eleitoral.
O mesmo acontece com os nomes de escolas da rede pública
de ensino fundamental e médio, muitas vezes homenagem a edu-
cadores que denunciaram a desigualdade social e lutaram pela
democratização do ensino e pela igualdade de direitos, em clara
discordância com práticas pedagógicas autoritárias e atitudes
preconceituosas e agressivas frequentes nas relações de profes-
sores e administradores com seus usuários. Mais que isso, livros
didáticos não raro veiculam “mentiras que parecem verdades”,
segundo expressão usada por Humberto Eco para dar título a um
livro seu no qual denuncia a presença nos livros adotados de ver-
sões da história do país que fortalecem a crença de que nele vigora
a igualdade de oportunidades e que o sucesso na vida depende da
capacidade e do esforço de cada um. Os títulos de duas cartilhas
adotadas durante décadas na rede pública de ensino fundamen-
tal brasileira – Caminho Suave e Hora Alegre – contradizem as
práticas de alfabetização que, “aos trancos e barrancos”, não alfa-
betizam a maioria, nem mesmo os que engrossam as estatísticas
dos “alfabetizados” que, na verdade, fazem parte do contingente
de analfabetos que passaram pela escola. Como veremos, nomes
de escolas e títulos e conteúdos de livros didáticos são incoerên-
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vigor entre seus pares e tomou como base de suas análises reflexões
e críticas do que se passava em hospitais psiquiátricos e escolas de
ensino fundamental e médio franceses na década de 1960 a seguinte
tese: “não se pode abstrair o contexto socioeconômico e político em
que as relações entre os homens têm lugar”, da qual se valeu para os
estudos de casos realizados por Freud, entre os quais o caso Schre-
ber, que os teria feito “sem se preocupar em situá-los verdadeira-
mente em seu contexto.” Livro esclarecedor porque denunciou os
males causados por instituições psiquiátricas e educacionais admi-
nistradas burocraticamente e nas quais o monopólio é de profissio-
nais que se valem de procedimentos técnicos tradicionais que lhes
dão poder.
De fato, na década de 1960, quando essas técnicas estavam no
auge nos Estados Unidos, porque a desigualdade de escolarização
entre crianças e adolescentes negros e brancos precisava ser expli-
cada de modo a não questionar a política educacional como instru-
mento de reprodução da estrutura de uma sociedade de classes, elas
cumpriram importante papel político ao atribuir essa desigualdade
a deficiências psíquicas individuais, avaliadas e quantificadas por
psicólogos psicometristas, a problemas familiares e principalmente
a supostas “carências culturais” definidas a partir de um critério:
os padrões de pensamento e linguagem da cultura de classe média:
Por isso, não se pode continuar a ignorar a dimensão política do que
nelas se passa: “é impossível continuar a propor remédios impro-
visados e provisórios naqueles casos em que as próprias estrutu-
ras [institucionais] é que teriam a necessidade de ser radicalmente
questionadas.” Por isso, como nos ensina Mannoni, “os desajusta-
dos, que são cada vez mais numerosos, devem ser considerados
um sintoma da doença das instituições.”
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pela leitura, desde o início dos anos 1980, de várias obras do his-
toriador Eric Hobsbawm, nas quais encontrei, mesmo que tardia-
mente, uma análise bem amarrada e com fundamentos teóricos
e documentais riquíssimos, as transformações do mundo entre
1789 e 1992, com especial atenção à produção de conhecimento
na área das ciências humanas e sua participação na justificação
das desigualdades sociais dentro dos países industriais capitalis-
tas e da violência do neocolonialismo europeu em várias partes
do mundo. Informações e reflexões historiográficas que, ausen-
tes nos cursos de formação de psicólogos, colocarão no mercado
de trabalho profissionais comprometidos com a manutenção do
status quo.
Boris Fausto me possibilitou entender períodos recentes da
história do Brasil a partir da história econômica, política, social e
cultural do país, desde as suas origens, contada de forma rigorosa
e crítica, ausente na formação de médicos, psicólogos, pedagogos
e especialistas afins, sem a qual não podemos entender qualquer
aspecto da vida coletiva e individual. Ambos asseguraram-me de
que o método de que me vali na pesquisa do processo de produção
do fracasso escolar foi o mais adequado à compreensão do cotidiano
de uma escola, tendo como objetivo desvendar as contradições e
os equívocos de uma política educacional que o estrutura fundada
num compromisso com a reprodução de uma sociedade de classes
e que administra burocraticamente práticas e processos que fertili-
zam o chão de escolas da rede municipal de ensino público funda-
mental e a levam a uma improdutividade produtiva, resultado do
ensino público fundamental e médio brasileiro apontado por Gau-
dêncio Frigotto em A produtividade da escola improdutiva (1989)
em uma sociedade capitalista.
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busca das quatro crianças cujas vidas foram marcadas por experiên-
cias sucessivas de fracasso escolar.
Augusto e Humberto não foram localizados, mas basta ler
suas histórias escolares para saber que eles também foram vítimas,
na escola, de preconceitos e rótulos depreciativos que, pelo pouco
que se soube de suas vidas como adultos, fizeram deles objetos tidos
como defeituosos e sem conserto.
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