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DESCONSTRUIR ESTEREÓTIPOS: UMA NARRATIVA EMANCIPATÓRIA DAS

VIVÊNCIAS DE LEITURA E DAS POSSIBILIDADES LIBERTADORAS DOS


INSTRUMENTOS DE EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO.

Maria Gabriela Pires de Souza1

RESUMO: A cultura, muitas vezes, influencia os sujeitos a criarem hábitos de consumo e excessos no dia a
dia que não condizem com a sua realidade. Nesse sentido, as formas de expressar a infância surgem
impregnadas de estereótipos que são reproduzidos ao longo da história da humanidade. Esse cenário não pode
ser naturalizado e a escola não pode ser neutra. A proposta que deve se colocar, diante deste contexto, é a
desconstrução dos estereótipos. Desconstruir Estereótipos é uma narrativa que contempla o debate sobre as
visões distorcidas de gênero, de raça, de classe, de culturas e de etnias. A desconstrução de estereótipos
dedica-se romper com as oposições historicamente produzidas e oportuniza às crianças viver a infância na sua
integralidade.

Palavras-Chave: narrativas, desconstruir estereótipos, educação libertária, transformação, emancipação.

Na Escola acontecem muitas situações preconceituosas. As meninas sofrem


hostilidade quando querem praticar algum esporte que é considerado para meninos.
Um estudante, que está acima do peso, é rejeitado pelos colegas de classe. Um aluno
negro é discriminado pela cor da sua pele. Uma criança de família humilde padece com
a implicância dos que se acham ricos. Essas situações são alguns exemplos de como os
estudantes sofrem com os estereótipos.

(Texto coletivo produzido pelos alunos e alunas )

O comportamento infantil, desde início, é apresentado às crianças pelos adultos. Pode-se


afirmar com bastante audácia que, ainda antes do nascimento, a família projeta formas de ser para seu
rebento. A nossa cultura, evidentemente, constitui regimentos que regulam os modos pueris. O

1
Professora dos Anos Iniciais dos Ciclos de Formação na rede municipal de Porto Alegre-RS, EMEF Saint’ Hilaire.
Graduanda em Matemática Licenciatura pela UFRGS. E-mail: mgpsouza86@gmail.com.
universo multiletrado acessa as vidas dos pequenos párvulos, determinado como devem vestir sua
infância.

A cultura, muitas vezes, influencia e direciona os sujeitos a criarem hábitos de consumo e


excessos no dia a dia que não condizem com a sua realidade. Esses valores são transmitidos todos os
dias: o modelo ideal de família, de comportamento, de vestimenta e de alimentação. Essas
informações ficam registradas em nossa memória e, por fraquezas orgânicas ou de formação, somos
levados a adquirir e também a reproduzir esses hábitos culturais. Bordini (1998, p.95), sublinha que

(...) a produção cultural começa a padecer da doença de seu contexto:


querendo-se emancipatória, libertária, não obstante depende dos mecanismos
do mercado. Torna-se bem de consumo, a ser propagado, para a sobrevivência
da indústria e dos produtores culturais, da mesma forma que outros produtos,
ou seja, dirigindo-se para necessidades reais ou criando na maioria das vezes
necessidades artificiais, para aplacá-las, com a consequente perda de sentido
crítico. Tudo isso tem sentido quando se pensa que a literatura, como objeto
cultural produzido num sistema capitalista, depende das macroestruturas
econômicas tanto quanto do ímpeto criativo de seus cultores.

Os produtos culturais influenciam a população a adquirir hábitos que se distanciam da sua


realidade e que podem ser prejudiciais à sobrevivência humana nas relações sociais. Nesse sentido,
as formas de expressar a infância, na maioria das vezes, surgem sutilmente impregnadas de
estereótipos que são reproduzidos ao longo da história da humanidade. De acordo com Bernd (1995)
esses preconceitos são repetidos a partir de uma genereralização, assumidos como verdades
universais e não são questionados. Em relação às crianças são internalizadas facilmente as
dicotomias: rosa como cor de menina/azul cor de menino; menina brinca de boneca/menino brinca
de carrinho; menina dança balé/menino joga futebol. E as dualidades seguem para a representação do
mundo adulto e as crianças aprendem muito cedo que lugar de mulher é na casa, na cozinha, no
cuidado com o filho e ao homem resta garantir o sustento da casa. Segundo Bernd (1995) a
construção da estereotipia dá-se pela inciência dos sujeitos e/ou quando existe acordo velado de se
apresentar como verdadeiro aquilo que é falso com a finalidade de obter proveito. Os estudos da
etnologia, pelo menos aqueles que conheço, mostram-se necessários neste ponto, pois evidenciam
que o abastecimento da cultura capitalista reforça-se do apedeutismo dos sujeitos que reproduzem
valores negativos às relações sociais. Nesse contexto, são promovidas as estereotipias dicotômicas:
rico/pobre; homem/mulher; negro/branco; alemães/judeu; dentre tantas outras, que se apresentaram,
multiplicaram-se na história com novas, atrevo-me a dizer, versáteis e violentas roupagens. Essas
dualidades são equidistantes e intensificam-se como afirma Finco (2003) dentro de uma lógica de
dominação e de submissão, a primeira marcando sua superioridade em detrimento da outra, que
torna-se estigmatizada. Nessas circunstâncias, as crianças crescem e apropriam-se de regras de
socialização estereotipadas por meio das manifestações de conduta dos adultos. Testemunhamos
confessadamente a constituição desses sujeitos por meio dos mecanismos de dominação que regulam
seus modos de ser e pensar.

Não sustento que as crianças absorvem as estereotipias. Admito que elas estão expostas aos
valores preconceituosos decretados pela cultura. A criança como sujeito carrega no corpo inscrições
de acontecimentos e faz leitura desses produtos culturais que podem ser impressos na sua
historicidade. Os pequenos fazem interpretações daquilo que recebem e formulam suas ideias a
respeito. “As crianças não são esponjas que absorvem estereótipos elas experimentam papeis, ideias a
fim de compreender o mundo e o seu lugar nele” (Hislan, 2006, p. 51). A afirmação da identidade é
necessidade às crianças e, sem sombra de dúvida, as expectativas dos adultos são sutilmente
poderosas nesse processo. A constituição da identidade é processual. A criança forma-se sujeito por
meio da sua história e, a cada instante, reforma e forma a sua historicidade.

A escola, como um dos lugares de aprendizagem, é o espaço que se oportuniza a mediação da


compreensão da cultura reguladora e das formas de regulação das nossas condutas. O papel de
educadores/pesquisadores é observar, com uma percepção holística, cuidadosamente, os contextos
dos sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem para não cairmos no perigo de usarmos
métodos que se dizem libertadores, mas apenas garante-se a continuidade dos mecanismos de
opressão. Freinet (1989) arrazoa que a luta por uma sociedade em que a criança, sujeito de direitos,
possa desenvolver-se integralmente, o mais humana e harmoniosamente possível, num clima
favorável ao seu desabrochar é dever pedagógico primordial. Freire (1997) argui que a educação ou
atua como instrumento usado à integração da geração mais jovem na lógica do sistema atual e trazer
conformidade à mesma, ou então torna-se a ''prática da liberdade'' - o mecanismo no qual homens e
mulheres encaram criticamente e criativamente a sua existência e recobram a interação para a
transformação da sua realidade. A escola é o lugar da reflexão, do diálogo e do pensamento crítico
onde se constitui a resistência para as instâncias do poder e a proposição da desconstrução das
dicotomias historicamente construídas.

Finco (2003), ao se referir sobre o pensamento socialmente polarizado quanto ao gênero,


afirma que a proposta de desconstrução das dualidades significa problematizar a constituição de cada
polo, mostrar que cada um supõe o outro, mostrar que cada polo não é único, mas é plural (Finco,
2003). Fundamos nossa história nas oposições construídas, marcando nossos corpos, pela lógica
opressora das estereotipias. Esse cenário não pode ser naturalizado e a escola não pode ser neutra. A
proposta que deve se colocar, diante deste contexto, é a desmantelamento dessas dicotomias (Finco,
2003 página 42).

Na escola Saint’ Hilaire2, a proposta Desconstruir Estereótipos foi motivada pela leitura de
livros e textos o alunos e alunas dos quintos anos do segundo ciclo de formação. Na sala de aula a
leitura era uma constante. Semanalmente aconteciam paradas para a leitura. O livro “Cena de Rua”
da autora Ângela Lago, foi uma dessas leituras. “Cena de Rua” ilustra a vida de um menino de rua e
como ele sofria com o preconceito. Debatemos de forma reflexiva que realmente não eram
necessárias palavras para descrever a situação do menino de rua e o julgamento estereotipado que as
pessoas faziam dele. Depois desse livro, numa outra aula, lemos a reportagem “Clube sem futebol
feminino ficará fora da libertadores a partir de 2019”, do Repórter Martin Fernandes, publicada no
dia 26 de janeiro, do site do globo esporte. O editorial falava sobre a quantidade de times femininos
do nosso país e a falta de investimentos no futebol para as mulheres. Após leitura do artigo, o debate
surgiu de arrancada. As meninas ficaram inconformadas e perplexas de como o preconceito de
gênero pode atingir as mulheres. Após controverter sobre diversos estereótipos que as meninas
sofrem, uma aluna sugeriu que fizéssemos um projeto de pesquisa sobre o assunto. Na Assembleia de
Classe aprovamos o projeto. Eu participei como mediadora nesse processo e orientei as propostas relatadas
pelas crianças no seguinte registro:

Para fazer essa proposta, estudamos sobre os tipos de estereótipos e


procuramos identificar em revistas, jornais e propagandas onde estavam presentes os
estereótipos. Além disso, entrevistamos pessoas da comunidade escolar perguntando se já
sofreram com estereótipos. Após, analisamos os dados das entrevistas e criamos um jogo
sobre estereótipos. Lemos diversos textos e livros que falam sobre os estereótipos.
Fizemos roteiros para uma série de filmes pequenos intitulada “Me aceita como eu sou”.
Com o curta “Me aceita como eu sou” concorremos a melhor produção no Festival
primeiro filme. Desconstruímos frases estereotipadas para estampar camisetas.
Construímos cartazes com estereotipias desconstruídas. Criamos uma pagina no
facebook com as atividades do projeto. Elaboramos um material explicando o que são os
estereótipos e como prejudicam a vida das pessoas e principalmente dos estudantes.
Fizemos uma oficina de serigrafia e estampamos camisetas com frases estereotipadas
desconstruídas. Participamos do Salão Jovem UFRGS 2017. Por fim, para divulgarmos
os resultados dessa pesquisa, apresentaremos o nosso trabalho em sessões do curta “Me
aceita como eu sou” e distribuiremos o material explicativo para que nossa comunidade
escolar compreenda a necessidade de desconstruir os estereótipos.

A propositura Desconstruir Estereótipos é uma narrativa que contempla o debate sobre as


visões distorcidas de gênero, de raça, de classe, de culturas e de etnias. A palavra Narrativa,
empregada neste registro, apresenta-se como ferramenta de acesso à cultura. As narrativas têm papel

2
A direção da Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint’ Hilaire, situada no bairro Lomba do Pinheiro (Porto
Alegre-RS), autorizou a citação da instituição e das falas das crianças neste artigo. Essa iniciativa visa repeitar o caráter
ético das informações apresentadas nesse trabalho.
social: elas nos mostram o mundo, organizam nossas ideias e provocam o estabelecimento das
relações na sociedade. Diariamente são contadas, criadas e recriadas histórias de vidas. As narrativas
ativam nossas capacidades sensoriais: ouvimos, lemos, sentimos e nos alimentamos de enredos
ficcionais e/ou factuais que representam realidades. Por diversas ocasiões, estamos na presença de
narrações. Constantemente, estamos diante dos livros, das novelas, dos filmes, da poesia, dos
romances, da dança, dos desenhos, dos contos, das crônicas, dos diários e dos outros gêneros
literários que expressam no nosso cotidiano. Narrativas ensejam o acesso à cultura e favorecem a
compreensão si e do outro. Bentes (2004) cita a exteriorização de Elionor Ochs, antropóloga norte-
americana, para evidenciar totalidade da dimensão narrativa:

Imagine um mundo sem narrativa. Passar pela vida sem contar ao outro o que
aconteceu com você a outra pessoa, e não recontar o que você leu num livro, ou viu em
um filme. Não ser capaz de ouvir ou ver dramas construídos por outros. Sem acesso a
conversações, textos impressos, pinturas ou filmes que são sobre eventos organizados
como atuais ou ficcionais. Imagine nem mesmo compor narrativas interiores para
você/por você. Não. Tal universo é inimaginável porque isto significaria um mundo sem
história, mitos ou drama; e vidas sem reminiscência e revisão interpretativa.

Essa autora revela que é invalida uma humanidade sem as narrativas. Nesse sentido, as
narrativas movimentam nosso interior e exterior. Por meio delas compreendemos nosso contexto,
cartografamos nossa existência e experenciamos sensações emancipadoras.
Desconstruir Estereótipos ostenta-se por uma narrativa que emancipa. Essa proposta promove
o estudo científico e crítico dos pré-conceitos que os sujeitos carregam consigo e reproduzem ao
longo da sua existência. Os estudantes fizeram entrevistas com a comunidade escolar e verificaram os
comportamentos das pessoas em relação às outras e tiraram suas conclusões:
As crianças e os adolescentes não nascem com essas condutas preconceituosas. O
comportamento preconceituoso é transmitido por meio adultos que fazem parte da
nossa vida. Muitas vezes os estudantes são expostos a situações estereotipadas por
meio de deboches que são considerados “brincadeiras”. Esse tipo de manifestações,
lamentavelmente, obriga os educandos a participarem e rirem da distorção de sua
identidade sem perceber. Os estereótipos se renovam constantemente, seja de maneira
sutil ou evidente, eles prejudicam o desenvolvimento e a convivência dos alunos e
alunas da Escola. Diante disso, é importante desconstruir os estereótipos de gênero,
físico, racial e socioeconômico que acontecem na Escola.

(Texto coletivo produzido pelos alunos e alunas)

Os alunos e alunas constataram que algumas afirmações estereotipadas são repetidas ao longo
da história da humanidade e percebem que elas precisam ser desconstruídas para qualificar
positivamente as relações sociais. Nesta proposta os meninos e meninas compreenderam que a
mudança deve começar na escola em pequenos comportamentos que são sutis, porém constantemente
repetidos de forma estereotipada. As meninas não podem jogar futebol, pois os meninos desacreditam
suas habilidades; os colegas de outras turmas brincam que quem se encostar à colega deficiente pega
sua doença; O cabelo da menina negra é chamado de ruim; rosa é cor de menina e azul é de menino;
menina tem que andar com menina e menino com menino; meninas não carregam peso, os meninos
fazem o esforço. São diversas as frases que impactam a vida de crianças e adolescentes. A forma
inteligível de responder a essas agressões,ainda que brandas sejam, é exterminando as estereotipias
das nossas ações e do nosso vocabulário. Os meninos e as meninas usaram as mídias para mostra à
comunidade escolar que é preciso respeitar as diferenças e aceitar as singularidades de cada pessoa.

A manifestação conduta dos alunos e alunas evidência o caráter emancipador dessa narrativa. A
personalidade libertadora do projeto Desconstruir Estereótipos afirma-se na fala das crianças:

...eu era calada e não acreditava que eu fosse capaz de aprender. Mas, com o passar do
tempo, fomos nos conhecendo e eu descobri que é possível aprender e se divertir,
usando o tempo a nosso favor, ter objetivos e alcançá-los...

(Fala de uma aluna)

O alunos e alunas carregavam consigo muitas vivências e acúmulo de saberes que eram
compartilhados nas atividades propostas. Vigorosamente os discentes expressavam seus
conhecimentos e participavam democraticamente do planejamento das propositoras. Muitos
estudantes retraídos começaram a exteriorizar suas ideias. Alguns educandos que hesitavam efetivar
afazeres escolares estrearam suas convicções com segurança. Os alunos dispensaram a dependência
docente e passaram a trocar conhecimento com autonomia. A leitura de livros e demais gêneros
textuais e o debate antiautoritário e reflexivo oportunizou a constituição de um expressivo canal de
comunicação escolar. Os alunos se tornaram mais críticos e passaram a pensar em formas de
melhorar sua relação com o ambiente modificando sua realidade. Para além do processo de formação
da criticidade, os discentes instituíram sentimento aprazível pela leitura e por usar as ferramentas de
comunicação expressão para pronunciar socialmente suas convicções. Notoriamente os educandos
demonstraram inteligência no uso das ferramentas das TICS e revelaram apreço pelas práticas
desafiadoras e reflexivas. Meninos e meninas estabeleceram uma relação amplamente democrática
com o conhecimento e as diferentes formas de expressão e comunicação que consolidam ferramentas
de luta para tomada de consciência, para a libertação e emancipação. Na escola surgiram novas
formas de se comunicar e transmitir palavras que não representavam apenas informações, mas
designavam formas de socialização e oportunizaram que os alunos e alunas expressassem seus modos
de ser e pensar, afirmassem sua identidade, desconstruíssem estereótipos e usassem sua palavra como
instrumento libertador e transformador.

A desconstrução de estereótipos dedica-se romper com as dualidades historicamente produzidas


e oportuniza às crianças uma vida de novos caminhos, de serem elas mesmas vivendo a infância na
sua integralidade (Finco 2003, p.99). A magnitude e sensibilidade dessa experiência mobilizaram
diversas reações e emoções, em mim e nas crianças, que talvez, aqui, exista carência ao expressá-las.
De toda forma, afirmo, fervorosamente, que essa é uma Narrativa Emancipadora. Quicá a apreciação
dela suscite movimentos pedagógicos libertadores!

Referências Bibiográficas

BENTES, Ana Christina. Linguagem: práticas de leitura e escrita. São Paulo:Global: Ação
Educativa, 2004.

BERND, Zila. Racismo e anti-racismo. São Paulo: Editora Moderna, 1995.

BORDINI, Maria da Glória. A literatura infantil nos anos 80. In: SERRA, Elizabeth D’Ângelo (Org.). 30 anos
de literatura para crianças e jovens: algumas leituras. Campinas: Mercado de Letras. Associação de Leitura do
Brasil, 1998. p. 33-46.

HISLAM,Jane. Experiência diferenciadas pelo sexo e pelas escolhas das crianças. N:MOYLES, Janet
e col. A Excelência do brincar. Porto Alegre: Artemed, 2006. P. 50-62.

FREIRE, Paulo.Pedagogia do oprimido.Rio de Janeiro: Paz e Terra S/A, 1970.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1967.

FREIRE, Paulo. A concepção bancária da educação como instrumento da opressão. Seus


pressupostos, sua crítica. In FREIRE, Paulo.Pedagogia do oprimido.Rio de Janeiro: Paz e Terra
S/A, 1987. p. 33-42.

FREINET,Celestian. É Nascimento de uma Pedagogia Popular. Lisboa: Editorial Estampa, 1978.

FREINET,Celestian.Para uma Escola do Povo. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

FREINET, Célestin,O Jornal Escolar. Lisboa, Editorial Estampa,1974.

FINCO,Daniela.Relações de gênero nas brincadeiras de meninos e meninas na educação infantil.Pro-


posições, Campinas(SP), v.14, n.3, set./dez.2003.p.89-101.
ABC DESCONSTRUIR ESTEREÓTIPOS: UM ALBÚM CARTOGRÁFICO TEMATZADO
POR UMA NARRATIVA EMANCIPATÓRIA DAS VIVÊNCIAS DE LEITURA E DAS
POSSIBILIDADES LIBERTADORAS DOS INSTRUMENTOS DE
EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO.

Esse álbum é uma narrativa escrita e imagética da proposta “Desconstruir Estereótipos” na vida
de meninos e meninas da Escola Saint’ Hilaire. Esse registro está tematizado por um abecedário
cartográfico que mapeia ações realizadas nesse projeto.
O ABC, gênero textual, neste álbum foi utilizado para evidenciar o compêndio de uma prática
pedagógica. Um exame na literatura revela que a cartografia é uma metodologia de acompanhamento
dos processos que expressa o movimento, a intensidade, conexões, possibilidades e potencialidades
de uma realidade3. Nesse sentido, o ABC DESCONSTRUIR ESTEREÓTIPOS é correlatamente
cartográfico dado que mapeia todo o desenvolvimento da ação instrutiva dessa narrativa Contudo, a
atuação dos educandos não está esgotada na narrativa deste álbum. Outras dinâmicas e diversas
práticas audiovisuais talvez estejam ausentes nesse atlas. Muitas vivências dessa propositura podem
ser apreciadas por meio das redes sociais. Esclareço que a leitura desse abecedário extrapola a esse
espaço. As vivências provocaram a expressão na totalidade dos sentidos dos sujeitos envolvidos
nessa narrativa.
Confio, acerbamente, que essa intervenção possa ser infiltrada nas instituições de ensino. O
Projeto Desconstruir Estereótipos granjea crianças, adolescentes, professores, professoras e demais
componentes da comunidade escolar ensejando movimentos libertadores. Fio-me na ambição dessa
proposta e ensejo que seja inspiração pedagógica emancipadora!

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A ssembleia de Classe

Na escola Saint’ Hilaire, muitas vezes, estamos diante de brigas, confusões, xingamentos
estereótipados, insultos, fofocas, humilhações dentre outras situações constrangedoras e
estereotipadas. Sem saber como resolver estes problemas acabamos dificultando e
tornando os conflitos mais violentos. Tudo isso fazia que os momentos ruins se
sobressaíssem em relação às coisas boas dos alunos, das alunas e das turmas. Neste
ambiente de violência e competição não é possível estabelecer relação de convivência.
(Texto coletivo das turmas B21 e B25)

A “Assembleia de Classe” é uma propositura introduzida pela fábula de Monteiro Lobato


“Assembleia dos Ratos”. Nesta narrativa Lobato conta como os ratos se organizaram para tentar
resolver uma angústia que prejudicava-os. Interpretamos o texto, identificamos as características que
qualificam este gênero textual e debatemos sobre a forma de organização dos ratos para buscar um
alternativa à adversidade:

(...) para o convívio saudável da comunidade escolar é necessário para diminuir os


conflitos entre os estudantes e os docentes. Uma conferência de turma é um espaço de
conversa sobre todas as coisas que criticamos. Esses encontros são momentos
democráticos onde fazemos felicitações para aquilo que é positivo na nossa Escola e,
além disso, encaminhamos propostas de atividades para a nossa aprendizagem.
(Texto coletivo dos alunos e alunas)

Os educandos afirmaram a necessidade de construirmos um mecanismo coletivo onde


pudéssemos nos congregar para criticar aspectos que dificultam a aprendizagem e relações sociais na
comunidade escolar. Assim surgiu a “Assembleia de Classe”:

(...) precisamos de momentos de dialogo democráticos e críticos para que os alunos,


as alunas, os professores, as professoras e as demais pessoas da comunidade escolar
debatam de forma solidária e participativa. A “Assembleia de Classe” é esse
mecanismo de expressão, em que todos e todas podem comunicar-se sem agredir uns
aos outros, respeitando as diferentes opiniões.
(Texto coletivo dos alunos e alunas)
Os alunos e alunas pesquisaram na internet como outras instituições faziam suas assembleias e
estabeleceram as diretrizes que regrariam nossas conferencias. Na primeira assembleia aprovamos o
regimento da Assembleia lançamos propostas para projetos de classe . Na sala de aula, o cantinho da
“Assembleia de Classe”, possui três cartazes onde os estudantes criticam, felicitam e encaminham
suas proposições. Semanalmente fazemos as conferencias para debater propostas, felicitar as aspectos
positivas e buscar solucionamento às adversidades. Um desdobramento significativo dessa proposta
quando as meninas e meninos redigiram uma manifestação à direção da Escola solicitando
providencias quanto às agressões que sofriam por parte de alguns alunos de outras turmas no
momento do intervalo. No momento do recreio os meninos não deixavam as meninas jogarem
futebol. As meninas revindicavam o espaço no esporte que era graduado como uma atividade
masculina. Por diversas vezes a turma foi congregada para debater sobre os estereótipos que sofriam.
Os alunos perceberam que a “Assembleia de Classe” é um importante mecanismo democrático de
organização critica e coletiva que contribuía à qualificação das relações sociais.
Bazar
A comunidade escolar engendrou esforços coletivos na busca de alternativas para a efetivação das

proposituras pedagógicas. O Bazar S’H, mecanismo para obtenção de recursos financeiros, objetiva saldar as

dividas contraídas na aquisição dos materiais dos projetos de classe. Nessa proposta, as famílias participaram

ativamente. Vendemos lanches, camisetas dos projetos e demais objetos novos e seminovos arrecadados. As mães,

pais e demais componentes das famílias auxiliavam com muita motivação. Estavam envolvidos com o objetivo do

projeto e entendiam que era necessário ajudar as crianças a alcançar suas metas. Essa ação evidencia que as

comunidade escolar se uniu para criar e recriar ações que garantissem a qualidade na efetivação dos direitos de

aprendizagens discentes.
Caixa de Perguntas
A propositura “Caixa de Pergunta” foi insuflada pelas leitura do livro “ Caixa de Pergunta” do
professor Elenilton Neukamp. Neste livro o professor Elenilton fala sobre questionamentos discentes
que ficam guardados no anonimato pela dificuldade de expressá-los. Nessa proposta os alunos
escrevem perguntas e colocam na caixa. As inquirições são anônimas e depois são debatidas
coletivamente pela turma. A maioria das perguntas estavam relacionadas às questões de tipificação
de gênero. As meninas questionavam o porquê de os meninos acharem que elas não podiam jogar
futebol. Os meninos não entendiam porque não podiam dançar balé, brincar de boneca e, até mesmo,
chorar. Esses questionamentos, antes guardados, eram revelados para o grupo e, após, debatidos,
esclarecidos e, muitas vezes, encaminhados como pauta de assembleia.
DANÇA S’H
O grupo Dança S’H legitimou-se a partir de escuta de músicas da artista MC Soffia. As
composições musicais de Soffia versam sobre identidade das meninas e meninos. Na música “
Brincadeira de Menina” a artista afirma que ser criança é bom e que brincadeira é para crianças, sem
distinção de gênero. Outra música marcante é “Menina Pretinha”. Nessa canção Soffia fala sobre a
beleza e a identidade da menina negra. Os meninos e meninas criaram uma coreografia para esta
música. Os estudantes ficaram extremamente empolgados e comentavam com os amigos e as amigas
de outras turmas da escola sobre o coletivo de dança. A partir desta atitude, meninos e meninas de
turmas diferentes começaram a ingressar no grupo. Toda semana aconteciam ensaios e eles eram
filmados4. As crianças criaram o nome para o grupo, estamparam camisas e na semana da
Consciência Negra, novembro de 2017, na Escola Saint’ Hilaire, os alunos e alunas apresentaram sua
coreografia e foram muito aplaudidos.
Outros artistas foram conhecidos e outras músicas foram escutadas, interpretadas e debatidas. O
músico Raschid com a canção Estereótipo introduziu o estudo do conceito sobre estereotipia. A
música De Toda Cor, do compositor Renato Luciano, sensibilizou as crianças e estabeleceu o dialogo
sobre empatia e alteridade. Essas duas músicas fizeram parte do repertório musical dos curtas-
metragens produzidos pelos alunos e alunas.
Algumas paródias foram feitas. A paródia “Preconceito não é com a gente”5 foi feita a partir da
música Fome Come, do grupo musical Palavra Cantada. Para está paródia as crianças fizeram uma
coreografia, ensaiaram e filmaram.

4
Vídeo disponível no link: https://www.facebook.com/gabi.souza.9659/videos/1483900045034634/?t=2
5
Vídeo disponível no link: https://www.facebook.com/gabi.souza.9659/videos/1427243027367003/?t=7
ESTUDO SOBRE ESTEREÓTIPOS
O estudo teórico sobre estereótipos iniciou com pesquisas na internet por meio dos sites de
pesquisa. A Leitura do livro Racismo e Anti-Racismo6, da escritora Zila Bernd, facilitou o
entendimento sobre preconceito, racismo e estereotipia. Zila conceitua estereótipos por afirmações,
em sua maioria preconceituosas, que são repetidas a partir de uma genereralização, assumidas como
verdades universais e não são questionadas. Essa concepção facilitou o entendimento dos alunos e
alunas sobre estereótipos.
As crianças observaram que experenciavam diversas manifestações de condutas
preconceituosas e estereotipadas e decidiram fazer uma pesquisa na comunidade escolar para
verificar a incidência e as formas como os estereótipos eram apresentados. O formulário de pesquisa
inquiria sobre a vivências das pessoas em relação aos preconceitos e aos estereótipos. No formulário
as pessoas podiam expressar frases estereotipadas que escutavam no cotidiano. Na tabulação de
dados da pesquisa, os alunos e alunas fizeram tabelas e gráficos. Analisaram as informações e
constataram que a maioria das pessoas foi acometida pelas estereotipias. Outra certificação foi que as
pessoas, em sua grande maioria, naturalizavam situações preconceituosas e participavam do
escanário que distorcia sua identidade.
Os fatos foram impactantes e sensibilizaram as crianças. Os meninos e meninas decidiram
divulgar as informações obtidas na pesquisa e, numa Assembleia de Classe, debateram ações que
poderiam ser feitas para desconstruir estereótipos. A Assembleia deliberou uma campanha com
cartazes, camisas, jogos, vídeos, curtas, dentre outras formas de expressão e comunicação, para o
desmantelamento das frases preconceituosas que as pessoas entrevistadas ouviam.

6
BERND, Zila. Racismo e anti-racismo. São Paulo: Editora Moderna, 1995.
FACA SEM PONTA GALINHA SEM PÉ
G arantir Direitos de aprendizagem

Manifestadamente a leitura e a escrita são direitos de aprendizagem e requisitos essenciais para


a vida de todas as pessoas. Quando o despertar para ler e escrever surge de forma agradável os alunos
estabelecem uma relação de apreço pelos códigos da escrita e recursos literários. O aprazimento pela
leitura de narrativas literárias assegura a expressão, o sonho, a imaginação e a emancipação dos
sujeitos de direitos. Nesse lógica, é substancial afirmar o papel dos professores e das professoras
como mediadores dos direitos de aprendizagem discentes. O desenvolvimento da leitura é um
objetivo que abrange um universo de possibilidades e o os docentes devem oportunizar aos alunos e
alunas o maior acesso possível para o mundo letrado. Partindo dessa premissa, mediadores de
narrativas protagonizam a intermediação entre as crianças e o texto lirerário (Bularmarque, Martins,
Araujo 2011). Para Bularmarque, Martins e Araujo (2011, p.75) iniciação literária possibilita à
criança a fruição do prazer, que favorece o enriquecimento do seu repertório imaginário e,desta
forma, os alunos têm condições de construir conhecimento e evoluir na aprendizagem. Na avaliação
inicial do ano letivo observei que meus alunos eram carentes de prazer pela leitura e escrita. Percebi
que os educandos eram desapegados dos livros. Verifiquei que os estudantes desconheciam diversos
gêneros literários e usavam desordenadamente as tecnologias e ferramentas de comunicação e
expressão. Sendo assim, tendo internalizada minhas atribuições docentes, ciente da minha função
como formadora, constatei que era imperativo e garantir o direito de acesso a leitura e mediar
meninos e meninas no caminho das narrativas.
Em uma Assembleia de Classe recomendei a leitura de livros e solicitei que eles pesquisassem
leituras que seriam interessantes para o projeto. As crianças foram para a internet e encontraram
diversos livros que gostaria de ler. Calculamos a soma dos valores dos livros e verificamos a
possibilidade de comprá-los com a dotação do Bazar. Depois disso, procuramos na biblioteca da
escola outras possibilidades de leitura.
H ISTÓRIA DE JÚLIA E SUA SOMBRA DE MENINO

Essa narrativa mostra os estereótipos enfrentados por Julia. As meninas da escola se


identificaram com a história de Julia e expuseram experiências vividas quanto a distorção de suas
identidades.
I NDIO MUDOU E CONTINUA INDIO
J ORNAL S’H
Kabá Darebu
L ugar da Leitura na Escola

No inicio do ano letivo a sala estava desorganizada para leitura. Numa Assembleia de Classe,
no mês de março, decidimos que era urgente tornar a sala de aula um ambiente agradável. Queríamos
criar um espaço que nos atraente onde nos sentíssemos aconchegados. E o espaço da leitura onde
seria? Em toda parte. Os alunos determinaram nas suas conferencias que a sala de aula e a escola
deveriam ser ocupadas pela leitura, pois nela estavam presentes diversas possibilidades de construção
coletiva e democrática que a leitura oportuniza no ambiente escolar. Então compramos alguns livros
e selecionamos livros na biblioteca. Organizamos o armário da leitura. Trouxemos das nossas casas
almofadas e tapetes. Pensamos em tudo que pudesse oportunizar momentos de parada de leitura
agradáveis. Assim então, de forma democrática, o coletivo constituiu um espaço de aprazível da
leitura dentro da sala de aula.

A parada para leitura era um momento semanal de leitura deleite. Os discentes buscam no
armário de livros suas preferências de leitura e se aconchegam na sala de aula para praticar a parada
de leitura. Este é um momento muito esperado na semana, pois desencadeia as possibilidades de
construção coletiva para o projeto Desconstruir estereótipos e demais propostas pedagógicas. Após a
parada de leitura os alunos recomendam os livros, relacionam aos projetos de classe e sugerem
propostas de atividades. Uma dessas atividades é a carta para o autor. Os alunos e alunas apreciam
escrever mensagens e contar o que mais gostaram na história elogiando os escritores e escritoras.
Após redigir a carta os alunos e alunas investigam formas de encaminhá-las, se por e-mail ou carta. A
turma inteira decidiu recomendar o Livro “Faca sem ponta, galinha sem pé” e escreveram mensagens
para a Ruth Rocha, autora deste livro. O livro Cena de Rua, da escritora Ângela Lago, também era
muito recomendado pelos alunos e alunas.
ME ACEITA COMO EU SOU
N arrativas Emancipatórias

(...) eu era calada e não acreditava que eu fosse capaz de aprender. Mas, com o passar
do tempo, fomos nos conhecendo e eu descobri que é possível aprender e se divertir,
usando o tempo a nosso favor, ter objetivos e alcançá-los...

(Eduarda Quintana dos Santos turma B25)

Na construção da nossa história de vida muitos são os participantes. Nessa trajetória


estabelecemos relações com nossos pais, irmãos, tios, avós, amigos, colegas, professores entre outras
pessoas que passam pelo nosso caminho e tornam-se importantes nas nossas narrativas pelas ações
que praticam e pelos momentos significativos que vivenciam conosco. Nessa perspectiva, a escola é
percebida como um desses enlaces que narra a relação entre os sujeitos, pois, além de ser um espaço
onde a comunidade escolar é congregada para dialogar e trocar saberes, é também o lugar de
constituição do pensamento crítico. As crianças precisam não apenas ser “ensinadas”, mas também
ser olhadas, ouvidas, atendidas, acompanhadas, queridas (Navarro, 2007) e é na escola que elas serão
enxergadas e encontrarão os meios para se expressar. A escola valoriza as diversas linguagens,
narrativas e está aberta para o plural. Além disso, é nela em que os estudantes confiam e buscam
espaço para manifestar seus anseios e suas aflições. A escola é o espaço de compartilhar narrativas.
As narrativas estão presentes na nossa historicidade; dão significado para ações; ajudam a conhecer a
si e ao outro; constituem nossa identidade. Pensar numa escola sem narrativa, distante da literatura,
perdida no acesso à leitura, desalinhada às formas de expressão e comunicação é um pesadelo
tortuoso. A escola precisa oportunizar o sonho que humaniza e emancipa. Para Antônio Candido,
sociólogo e literato brasileiro, esse sonho é fruir dos prazeres das narrativas literárias.
O alunos e alunas carregavam consigo muitas vivências e acumulo de saberes que eram
compartilhados nas atividades propostas. Vigorosamente os discentes expressavam seus
conhecimentos e participavam democraticamente do planejamento das propositoras. Muitos
estudantes retraídos começaram a exteriorizar suas ideias. Alguns educandos que hesitavam efetivar
afazeres escolares estrearam suas convicções com segurança. Os alunos dispensaram a dependência
docente e passaram a trocar conhecimento com autonomia. A leitura de livros e demais gêneros
textuais e o debate antiautoritário e reflexivo oportunizou a constituição de um expressivo canal de
comunicação escolar. Os alunos se tornaram mais críticos e passaram a pensar em formas de
melhorar suas relações com o ambiente modificando sua realidade. Para além do processo de
formação da criticidade, os discentes instituíram sentimento aprazível pela leitura e por usar as
ferramentas de comunicação para pronunciar socialmente suas convicções. Essas manifestações de
conduta se mostram evidentes quando os educandos revindicavam, entusiasmados, os momentos de
leitura e das práticas propostas no projeto Desconstruir Estereótipos e nas demais propostas
pedagógicas.
Onde estamos
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint’ Hilaire está situada no bairro Lomba do
Pinheiro, Vila Panorama, e atende alunos da Educação Infantil, Ensino fundamental e Educação de
Jovens e Adultos - EJA. No entorno escolar os espaços de lazer não são adequados à convivência,
pois atividades ilícitas e violentas, envolvendo a comercialização e trafico de drogas, acontecem em
alguns pontos da Vila Panorama. Diante disso, a escola é, efetivamente, o espaço cultural acolhedor
que oportuniza momentos de socialização para a comunidade. Ressalto que a comunidade é muito
envolvida com as propostas escolares e as famílias sempre estão presentes nas atividades da Escola.
Os discentes são estudantes dedicados e participativos dos projetos escolares. O projeto de leitura foi
realizado por mim e pelos alunos e alunas de duas turmas de quintos anos, B21(turno da manha) e
B25 (turno da tarde), do segundo ciclo de formação, no ano de 2017. A idade dos alunos variava
entre dez e quatorze anos. As turmas eram compostas de trinta alunos cada. Dentre as turmas, seis
alunos eram deficientes e participam ativamente de todas as etapas do projeto.
No ano de 2018, o projeto Desconstruir Estereótipos, institui-se como prática complementar do
currículo escolar. A instituição de ensino entendeu como essencial o estabelecimento dessa proposta
na complementação curricular da escola e propôs a continuação do projeto. Esse projeto abiscoitou
uma nova roupagem associado as Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs. No turno da
manhã, toda semana, os ex-alunos e ex-alunas, entusiastas do projeto no ano de 2017, dão
seguimento a proposta. No turno da tarde, alunos e alunas, d as turmas dos anos inicias dos ciclos de
formação podem participar do projeto. A idade das crianças varia entre seis a doze anos. Usado as
TICs os pequenos mostram sua realidade e desconstroem estereótipos.
P oesia na Classe

O projeto “Poesia na Classe” foi entusiasmado nas leituras de poemas nos livros de poesia. O
livro “Boi da Cara Preta”, de Sérgio Caparelli, foi a primeira inspiração para as quíntuplas poéticas
das turmas. Nessa prática, os alunos e alunas escolhem uma temática e criam poesias na sala de aula.
No início os estudantes mostravam brando interesse pela elaboração de poemas. Mas, no decorrer do
semestre, começaram sentir afeição por poesia e aguardavam com ansiedade o momento da leitura e
criação de poesias mostrando seu fascínio pela narrativa poética.
Q ualidade Literária
R
iqueza oral indígena e africana
S emáforo da Alimentação

(...) observamos que os estudantes se alimentam com muitos produtos


industrializados, principalmente os ultra processados. Salgadinhos, bolachas
recheadas, balas, gomas de mascar, chocolates, refrigerantes e sucos de caixinhas
são os lanches prediletos dos alunos comem. Muitas vezes os alunos e alunas
desperdiçam o almoço e lanche que a escola oferece e consomem comidas que não
alimentam e causam muitas doenças. É recorrente ver alunos e alunas tomando
sucos de caixinhas ou de pó e acreditarem que estão tomando uma bebida saudável.
Na maioria das vezes as crianças menosprezavam lanches saudáveis porque
achavam que era coisa de quem não tinha dinheiro.

(Texto coletivo B25)

O “Semáforo da Alimentação” é um projeto que propõe que os estudantes parem, pensem e


busquem ações para uma alimentação saudável, evitando o desperdício de alimentos e rompendo
com estereótipos da alimentação. Esse projeto foi motivado pela leitura das tabelas de desperdício
alimentos oferecidos pela escola.

(...) é importante conscientizar a comunidade escolar para uma alimentação saudável e


também contra o desperdício de alimentos. Deixar de comer uma fruta para não ser
considerado pobre é errado...

(Texto coletivo B25)

Os alunos e alunas ficaram perplexos com a quantidade de alimentos que vão para o lixo e
decidiram criar ações para modificar essa realidade:

(...) assistimos palestra com técnica de Nutrição da Escola sobre


alimentação saudável. Pesquisamos nas revistas e na internet sobre o
semáforo na alimentação. Assistimos o filme "Muito além do peso" e
ficamos sensibilizados com a necessidade de alertamos os educandos
para uma alimentação adequada. Pesquisamos receitas gostosas e
saudáveis para organizar uma oficina de alimentação. Criamos uma
campanha de alimentação saudável. Investigamos o desperdício de
alimentos no refeitório da Escola. Tabulamos a informações do desperdício
e fizemos ações de conscientização para evitar desperdício. Criamos um
fôlder sobre alimentação saudável.
(Texto coletivo B25)

Nessa proposta os alunos realizaram oficinas de alimentação, desconstruíram estereótipos da


alimentação e deram dicas de alimentação saudável para as turmas dos anos iniciais dos ciclos de
formação.
T ICS

As Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs - aumentam com a crescente


necessidade do homem de ocupar e explorar espaços sociais. Constantemente, as pessoas usam as
mídias para seu trabalho, sua comunicação, obtenção de informação e educação.

As tecnologias são instâncias de representação da realidade que auxiliam na formação do


sujeito crítico. Elas contribuem para que os alunos desenvolvam suas potencialidades e evoluam na
sua aprendizagem de forma integral. As mídias, além de serem recursos de acesso à informação,
também são mecanismos que os educandos podem utilizar para se expressar com criticidade, usando
a palavra como instrumento para modificar a sua realidade. Nesse sentido, o uso da leitura, da escrita e
das Tecnologias da Informação e Comunicação se apresentam como instâncias que possibilitam o
conhecer para o mundo.

Nesse projeto todas as propostas envolviam contato com a multiplicidade de linguagens de


expressão e comunicação. O uso das Tecnologias de informação e comunicação foi constante tanto
para registro como para elaboração de atividades midiáticas, como entrevistas, jornal escolar, vídeos,
propagandas educativas, cartazes dentre outros. As ferramentas tecnológicas modernas, como
celulares, aplicativos, redes sociais foram utilizadas amplamente para divulgar, anunciar e denunciar
o contexto social e a necessidade de modificação da realidade. Nesse sentido, as propostas
“Desconstruir Estereótipos”, “Semáforo da Alimentação” revelam que os alunos tinham interesse em
publicizar seus estudos científicos e como eles se relacionavam com a realidade. Além disso, o uso
dos diversos gêneros literários textuais, verbais ou extraverbaias, estiveram presentes em várias
atividades. Essas propostas de multiletramento possibilitam que os alunos dialogassem com a
pluralidade linguística da atualidade. É perceptível que os educandos demonstram inteligência no uso
das ferramentas das TICS e tem apreço pelas práticas desafiadoras e reflexivas e estabeleceram uma
relação amplamente democrática com o conhecimento e as diferentes formas de expressão e
comunicação que consolidam ferramentas de luta para tomada de consciência, para a libertação e
emancipação.
U
FRGS
Voz
GENTE

TÔ FICANDO IMPACIENTE

DE TODA COR

DE TODA GENTE

NO PASSADO E NO PRESENTE

PRECONCEITO NÃO É COM A GENTE!


(Paródia música Fome Come, Palavra cantada)
W onder Womam
XERETAR LIVROS
Yo soy del Sur
Zarpar pelo mundo

.
Referências Bibiográficas

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